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Copyright desta edição © Boitempo Editorial, 2006

Copyright © lstván Mészáros, 1970


l' edição em português publicada pela Zahar Edirores
em 1981 com o círulo Ma,x: a teoria da alienação

Coordenação editorial
lvana J i nkin gs
Ana Paula Caste llani
Tradução
Isa Tavares
Revisão de tradução
Ed ison Urbano
Revisão de texto
Marina Ruivo
Editoração eletrônica
Gapp Design
Capa
Anroni o Kehl
Produção
Marcel lha
Impressão e acabamento
Ferrari Editora e Artes Gráficas

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
M55t
Mészáros, lst ván, 1930-
A teoria da alienação em Marx/ lsrván Mészáros ; tradução Isa
Tavares. - São Paulo : Boitempo, 2006
296p. : (M und o do trabalho)
Tradução de : Marx's theory of alienation (5t h ed)
Inclui bibliografia
ISBN 85-7559-080-4
l. Marx, Karl, 1818-1883. 2. Alienação (F ilosofia). 1. Título. 06-
1340. CDD 335.41
CDU 330.85

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utilizada ou reproduzida sem a expressa autorização da editora.

J • edição: maio de 2006

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X

A ALIENAÇÃO E A CRISE DA EDUCAÇÃO

Nenhuma sociedade pode perdurar sem seu sistema próprio de educação. Apont ar
apenas os mecanismos de produção e troca para explicar o funcionamento real da socie-
dade capitalista seria bastante inadequado. As sociedad es existem por int ermédio dos
atos dos indivíduos particulares que buscam realizar seus próprios fins. Em co nseqüên-
cia, a questão crucial, para qualquer sociedade estabelecida, é a reproduç ão bem-sucedida
de cais indi víduos, cujos "fins próprios" não negam as potencialidad es do sistema de
produção dominante. Essa é a verdadeira dimensão do problema educacional : a "ed uca-
ção formal" não é mais do que um pequeno segmento dele. Como Gramsci ressaltou:
Não há nenhuma atividade humana da qual se possa excluir qualquer intervenção int electual - o
Homo faber não pode ser separado do Homo sapiens. Além disso, fora do trabalho, todo
homem desenvolve alguma atividade intelectual; ele é, em outras palavras, um "filósofo", um
artista, um homem com sensibilidade; ele partilha uma concepção do mundo, tem uma linha
consciente de conduta moral, e portamo contribui para manter ou mudar a concepção do mundo ,
isto é, para estimular novas formas de pensamento.1

Assim, além da reprodução, numa escala ampliada, das múltiplas habilidades sem as
quais a atividade produtiva não poderia ser levada a cabo, o complexo sistema educacional
da sociedade é também responsável pela produção e reprodução da estrutura de valores no
interior da qual os indivíduos definem seus próprios objetivos e fins específicos. As rela-
ções sociais de produção reificadas sob o capitalismo não se perpetuam automaticamente.
Elas só o fazem porque os indivíduos particulares interiorizam as pressões externas: eles
adotam as perspectivas gerais da sociedade de mercadorias como os limites inquestionáveis

1
Antonio Gramsci, "The formation ofintelectuals", em The modem princeand other writings (Londres, Lawrence
& W ishart, 1957), p. 121 [ a edição brasileira desse artigo pode ser encontrada em Os intelectuaise aorganização
da cultura, trad. Carlos Nelson Coutinho, 7. ed., Ri de Janeiro, Civilização Brasileira, 1989].
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Assim , a t ranscendência p ositiv a d a alie nação é, ' lt l ül ri m::i :11d l is ·, 11111;1 111 1 l ,1
O homem a band ona os frutos que lhe poderiam ser fáceis
educacional, exigindo uma "revolução cultural" radical p a ra :1 sua r ·n li za<;, o. () 11111
Se atrás de um a sombra impalpável se lança .
está em jogo não é apenas a modificação política das institui ões de cd u :1 fo li11 11 11il
Como já vimos, Marx ressaltou vigorosamente a contin uidade on ro ló gi a ohj ·d v11 d11 Ele imagina uma era de glórias,
desenvolvimento do capital, materializado em todas as form as e in titui õ ·s d · i11 11 1 Regozijando-se na honra e no direito,
câmbio social, e não apenas nas mediações de segunda ordem, direta men t · nt1 111 Mas essas conquistas certamenre dependem
cas, do capitalismo. É por isso que a tarefa de transcend er as relaçõe s so ·i a d, De um inimigo que não se cansa de lutar.
produção alienadas sob o capitalismo deve ser concebida no quadro glo bal d · 1111 11 estratégia Cumpre capturá-lo no ar, pois o contato com a terra
Dá às forças do adversário um renovado impulso.
educacional socialista. Esta última, porém, não deve ser confundi l:i 1111 11 nenhuma
forma de utopismo educacional.
Enquanto pensar que o sucesso virá
Da nobreza de conduta e dos altos objetivos,
1. UTOPIAS EDUCACIONAIS Ainda precisará compreender que o mundo aprecia o erro,
Que o mundo rejeita o que é digno.
O conceito de "educação estéticà' tornou-se famoso com as Cartas sobre a ed111'1/ pl fl Andarilho é o homem, seu dever é vagar
estética do homem, de Schi ller 2, escritas em 1793-4 e publicad as em 1795. Evid ·111 1 Para descobrir em outro lugar um lar imutável.
mente, a idéia de Schiller - formulada como um possível antídoto à "racio nali d11d1 "
daninha do desenvolvimento capitalista - continuou sendo apenas uma idéia: não p I l1 Enquanto o homem achar, em sonhos, que sua razão
encontrar um lugar significativo nos sistemas de educação predominantes. Pode haver-se com todas as verdades.
Em seu ensaio A estética de Schiller, Lukács ressalta que a concepção schill ·l'i1111 i1 Verá um abismo que nenhum mortal vence;
da educação estética pretendia oferecer um modelo estético que permitisse à AI ·1111 nha obter Só nos é dado fazer suposições.
Numa palavra, é impossível prender o espírito:
as conquistas sociais da Revolução Francesa, sem uma revolução. Segu11 d11 Lukács,
Ele se vai nas asas do vento.
"Schiller ressalta acima de tudo a transformação interior da vida espi r i11 11 1 do homem"
3
• Mas, poucos anos depois da publicação de suas Cartas sobre a ed1m l('i/ 11 estética do
Afasta portanto tua alma das ilusões,
homem, a autocrítica de Schiller sobre seu período revolucionário de 11 ventude - expressa E procura uma religião mais alta.
no princípio ético-estético de sua idéia de uma educação cst111 O que o ouvido nunca ouviu, o olho nunca viu,
ca, em lugar de preocupações sociais mais imediatas - torna-se ainda mais rad i u d Co ntinua sendo o que é belo e verdadeiro!
Se antes ele insistia "acima de tudo" (vor aliem) na transformação interior da v i tl t Não é no exterior, como pretende o tolo,
espiritual do homem, agora formula a mesma observação com exclusividade G il '!',' É dentro de ti, que o encontrarás.4
rica, rejeitando toda possível alternativa à absolutização do mundo interior do i11d Se é "loucur à ' e "ilusão " buscar as soluções "do lado de fora", isto é, nas inter-
víduo. Com esse passo, o utopismo pessimista de sua concepção original de 1111 11 relações h umanas, que sentido pode ter uma "educação estéticà', que necessariam ent e
educação estética do homem se transforma numa forma extrema de pessimis n111, pressupõe essas inter-relaç ões? Significativamente, na síntese final, apenas duas das "três
Não h á mais lugar para um ideal educacional autêntico na concepção de Schille r, ( ) homem palavras de loucu rà ' surgem: "das Wahre" (o verdadeiro) e "das Schone" (o belo). A
já não é considerado membro de uma comunidade. "Homem" torna-se si n nimo do terceira - "das Rechte" (o direito): um termo inerentemente "público" - não pode ser
"indivíduo" isolado, confrontado com o "espírito" (Geist) e com sua pró prl 1 inserida no "mundo interior" imaginário do indivíduo absolutizado. Não que "das Wahre"
"almà' (Seele). Podemos ver isso no pessimismo estratégico de Die Worte des Wr,/.111 e "das Schone" não sejam indicativos de relações objetivas - na verdade, o. são. É por
[As palavras da loucura] - escrito em 1799: isso que Schiller teve de redefini-los como "O que o ouvido nunca ouviu, o olho nunca
viu". (Sua diferença em relação a "das Rechte" está em que este último resiste a essa

' Ü ber die asthetische Erziehung des Menschen, in einer Reihe von Briefen.
4
3
Georg Lukács, Zur Ásthetik Schillers, em Werke (Ne uwied u. Berlin, Luchterhand, 1969), v. 10, p. 47, Traduzido para o inglês por Arnold-Forster.
111
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criado pela Revolução Fran cesa. i nais na so i ·d:id · t,1 pi1,il l.,1.1; ·, m cal, é um asp I I · u 1m Tis· q11 ,• , i1111 11 111 1
Teria sido realmente um milagre se essa idéia ele um a "e lu a 5o ·st 1 1 i ·:i d11 1111 mem" cada vez ma is. Ê 11 · ·ss:irio , port anto, inv estigar, m u i to rap idam ·n 1 ·, :i rn11 1111·1 .i d1 11
tivesse encontrado um destino diferente, num mund o domin ado J d a :il i ·11 11, 111 c rise, que remonta a um passado distante.
capitalista. Pois No alvorecer da idade moderna, Paracelso falou nos segui nt es term os wlll · 11 1·d111 11
ção: "A aprendizagem é a nossa própria vida, desde a juventud e até a v •l h i ·, 1 • 1:1111 1111
o sentido constrangido à carência prática rude também tem apenas um sent id taca nh o, 1 '" 1 1 J

homem carente, cheio de preocupações, não tem nenhum sentido para o mais belo ·sp1:1:I 111111 11 quase a morte; ninguém passa dez horas sem nada aprencle r"9• Em ni ca lo, d o s1' 11 d11
comerciante de minerais vê apenas o valor mercantil, mas não a beleza e a natureza p ··11li111 :111 XVIII, porém, as coisas se modificaram significativament e. Ada m Smi rh , •mh m.i 111
mineral; ele não cem sentido mineralógico algum. 5 um grande defensor do "espírito comercial", assinalou vigorosamen te qu · :1 li vl 111 ,111
trabalho é duplamente prejudicial à educação. De um lado, ela empobr · o lio111 •111 ,1 1 ,tl
E a "rudeza" não é uma fatalidade da natureza; ao contrário, nas concli i -. d11
ponto que seria necessário um esforço educacional especial para repa ra r as ·o is11,,. M ,1
capitalismo, esta rudeza é artificialmente prod uzida, pela sobreposição de l o ,lo, 11
nenhum esforço desse tipo é feito. Ao contrário - e esse é o segundo asp lO do i111 p111 111
sentidos físicos e mentais "pelo simples estranhamento de todos esses s ·n1 i d11 ,
negativo do "espírito comercial" sobre a educação-, uma vez que a divisão d n 111I Hil l111
pelo sentido do ter»G. Em conseqüência, o remédio não pode estar num íi ·1 /1 11
simplifica de forma extrema o processo de trabalho, diminui de muito a n .. -. Nid.1111• rl1
"mundo interior", divorciado do mundo real dos homens e a ele oposto. s l 1'1111
wna educação adequada, em lugar de intensificá-la. Assim, de acordo 0 111 :1s JH' •N 111
cionais opostos filosóficos,
des do sistema de produção dominante, o nível geral de educação não é m ·ll1o r:id11, 11111
subjetivismo e objetivismo, espiritualismo e materialismo, atividade e sofrimento perclc111 .1 111111 piorado: os processos de trabalho extremamente simplificados possibili ta m a d ili1, 111 d tt
oposição apenas quando no estado social; [...] a resolução das oposições teóricas só é possívd 111 trabalho infantil e, por conseguinte, é negada às crianças a possibilidad e 1 · 11111,1 · rl111 11
um modo prático, só pela energia prática do homem e, por isso, a sua solução de 111:11 H• 111
ção equilibrada. O "espírito comercial" - isto é, o espírito do capital ismo q1t · 11 ,1111,11
alguma é apenas uma tarefa do conhecimento, mas uma efetiva tarefa vital que a filoso}Jr1 11 11
vitoriosamente -
pôde resolver, precisamente porque a tomou apenas como tarefa teórica.7
limita as visões do homem. Na situação em que a divisão do trabalho é levada até à p ·1-1'·11,1111, 1111111
Por isso, a educação estética só é possível numa sociedade autenticamente soci: il i. 111,
homem tem apenas uma operação simples para realizar; a isso se limita toda a sua at ·11 . o, t'1 H 1111 ,1
que - no quadro global de uma estratégia educacional socialista - já tenha superad o 11 idéias passam pela sua cabeça, com exceção daquelas que com ela têm ligação imerli111t1, 0 111111,l,1
"alienação capitalista de todos os sentidos", e com isso tenha produzido o home1 n 1111 "total a mente é empregada numa diversidade de assuntos, ela é de certa forma amp lia da :111 111 •111i1d11, 1
riqueza da sua essência, o homem plenamente rico e profundo enquanto sua 1w1 devido a isso geralmente se reconhece que um artista do campo cem uma variedad e 1 · p ·n, 1111 •11
manente efetividade"8. Uma educação estética adequada para o ser humano não pod L" Nl' I tos bastante superior à de um citadino. Aquele calvez seja simultaneamente um a rp i111 · lt o 1• 11111
limitada a um "mundo interior" imaginário do indivíduo isolado, nem a um ab ril',11 marceneiro, e sua atenção certamente deve estar voltada para vários objetos, de d i t.'1' ·111 •. 1 p11
utópico da sociedade alienada. Sua realização envolve necessariamente a totalidad e do Este calvez seja apenas um marceneiro; esse tipo específico de trabalho ocupa 1 0 loN m 111
processos sociais em sua complexa reciprocidade dialética. É por isso que o progra11111 pensamentos, e como ele não teve a oportunidade de comparar vários objetos sua vi ·:io d!I 111 11
que não estejam relacionadas com seu trabalho jamais será cão ampla como a do artista. l )t •vt 1 , , 1
isolado de uma "educaç ão estética do homem", como antídoto para a difu são d11
esse o caso sobretudo quando toda a atenção de uma pessoa é dedicada a uma dentre dezrssr/r/ 111 /// , 1 1

"racionalidade" capitalista, está condenado ao utopismo sem esperanças, em condi o·


de um a(finete ou a uma dentre oitenta partes de um botão, de cão dividida que está a fol)l'i 'Ili, 11 1I
nas quais as mediações de segunda ordem incontroláveis das relações sociais de prod u cais produtos. [...] A regra é geral; nas cidades eles não são cão inteligentes quanto no a n,p o, 111111
ção reificadas determinam - numa estrutura estreitamente utilitária - os processos ed11 tão inteligentes num país rico quanto num país pobre. Outra inconveniência cio com ir -io q111
cacionais, tal como todos os outros aspectos da sociedade de mercadorias. a educação é muito negligecniada.10
De fato, examinando os problemas intimamente relacionados com o fracasso dos esÍ<>I'
E, algumas páginas adiante, Adam Smith conclui:
ços que visavam à "educação estética do homem'', vemos que esse fracasso não pode s ·1
compreendido senão como um aspecto de wna questão mais fundamental: o caráter in · Essas são as desvantagens de um espírito comercial. As mentes dos homens fi :1111 //111 /111
das, tornam-se incapazes de se elevar. A educação é desprezada, ou no mínimo neg fige11t lr1d11, • 11

5 Karl Marx, Manuscritos econômico-filosóficos,cit., p. 11O.


6
Ibidem, p. 108. 9
Paracelso, Selected writings, cit., p. 181.
7 Ibidem, p. 111. 10
Adam Smith, Lectures on justice, police, revenue and arms (I 963), em A. Smith's moral and p(J litirttl pl, //11111/ ,/111 1
8
Idem. (org. Herbert W Schneider, Nova York, Hafner, 1948), p. 318-9.
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dr/ 1 11tt ·nç o.1 1 Íc11ô111 ·11 ok 1·11 lt .1d11, ,', pod · ser vislumbrada na forma de um "dever" utóp ico.
É evidente que Adam Smi th pôdt: apenas id ·n cifi :i r o probl · n1a, se1 n s ·1• · 11 1111 , d, I ob rt Ow •11 , cr n data posterior, descreve com realismo gráfico a forma pela qual
e ncon trar um remédio adequado para ele. Ele observa que ::i a u cu ri l:,d · l o d i ,d 11 1 111 tudo é dominado pelo poder do dinheiro:
solapa a autorid ade tradicional do pai na família; entreta nto, h,ga a 0 11 l us •s 1111 li1 O homem assim circunscrito vê todos ao redor dele correndo, em alta velocidad e, para adqui rir
terais a partir de sua observação: riqueza individu al, a despeito dele, seu conforto, suas necessidades, ou mesmo de seu sofrime nto,
exceto por meio de uma degradante caridade paroquial, que serve apenas para endurecer o coração
Mas além dessa falta de educação há outra grande perda decorrente do fato de s jov ·ns . 11111
do homem contra seus semelhantes, ou formar o tirano e o escravo. Hoje, ele trabalha para um
postos a trabalhar demasiado cedo. Eles começam a achar que o pai está em d ívida p, n •11 111111
eles; e, portanto, não mais se submetem à sua autoridade. Q uando o rapaz se torna :t l u l t11, 11 111 senhor, amanhã para outro, depois para um terceiro e um quarto, até que todos os elos entre
tem idéias de como possa se divertir. Portanto, quando estiver fora de seu trabal ho é prnv1 VI 1 que empregadores e empregados são reduzidos à consideração dos ganhos imediatos que um possa obter
do out ro. O empregador vê o empregado como um mero instrumento de ganho.13
se entregue à embriaguez e à intemperança. Conseqüentemente, concluím os, no lorn l N ili
comércio da Inglaterra os comerciantes geralmente se encontram nesse estado despr 1.lv1•l1 11 Seria difícil encontr ar uma descrição mais adequ ada de como todas as relações
que recebem do trabalho de metade da semana é suficiente para seu sustento, e 1 ·vldn 1 ignorância humanas se subordi nam à autoridade impessoal do dinheiro e da busca do lucro. E
eles não se divertem senão na intemperança e na libertinagem. Pode-se, p, o ·111111 11, dizer com ainda assim, mesmo O wen, embora mais prático em seus esforços de realizar um
justeza que as pessoas que vestem o mundo estão, elas próprias, em farra pos.1 '
experimento educacional, espera a cura dos males denunciados por intermédio do
Podemos ignorar aqui a irrealidade total da sugestão de que, se as pessoas q111 impacto da "razão" e do "esclarecimen to":
vestem o mundo estão em farrapos, só têm a culpar, por isso, a sua falta de ' d11111
Devemos então continuar a obstar a instrução nacional dos nossos camaradas, que, como foi
ção. Mais importante é, nesse contexto, que o ideal educacional surge como 11111 simples mostrado, podem facilmente ser treinados para serem diligentes, inteligentes, virtuosos e mem-
meio para o fim de "ter idéias de como os rapazes crescidos possam dit , 11• bros valiosos do Estado?
tir-se" (em seus "momentos de lazer", é claro) - de modo que eles se abst enha m d, De fato, a verdade é que todas as medidas agora propostas são apenas uma transigência com os
"embriaguez e intemperançà' e, acima de tudo, se abstenham de desperdiçar 10 d 11 aquele erros do sistema atual. Mas considerando que esses erros agora existem quase universalmente, e
precioso dinheiro que poderia ser empregado no uso produtivo da acu n111 lação têm de ser ultrapassados apenas por meio da força da razão; e como a razão, para produzir um efeito
capitalista. O fato de que fatores econômicos se fazem sentir, não só • 111 "serem os sobre os objetivos mais benéficos, faz avanços passo a passo, e consubstancia progressiva-
jovens postos a trabalhar demasiado cedo", mas também na explo rns'. 11 da mente verdades de alto significado, uma após out ra, será evidente, para mentes abertas e
acuradas, que apenas com essas e outras similares transigências pode-se esperar, racionalmente, ter-se
"embriaguez e intemperançà' dos trabalhadores, não podia, é claro, ser obj · l n da
sucesso na prática. Pois tais transigências apresentam a verdade e o erro ao público, e, sempre
atenção do moralista Adam Smith. O "ponto de vista da economia polf ci u1" que esses são exibidos em conjunto de um modo razoável, no final das contas a verdade cem de
impede o reconhecimento da situação real, sob esse aspecto também. Como Ada111 prevalecer. [...] Espera-se, confiantemente, que esteja próximo o tempo em que o homem, por
Smith não pode questionar a estrutura econômica do capitalismo, cujo pont o d1• ignorância, não mais infligirá um sofrimento desnecessário sobre o homem; porque a maioria da
vista ele representa, deve procurar os remédios para os efeitos negativos do "esp / humanidade se tornará esc!drecida, e irá discernir claramente que ao agir assim inevitavelmente criará
rito comercial" fora da esfera econômica. Acaba, assim, com uma defesa moraliza1111• sofrimento a si própri a.14
de um antídoto educacional pouco realista. (Como já vimos, ele não está só, qua n
Essa citação é também altamente significativa sob um outro aspecto. Ela revela a
to a isso, entre seus contemporâneos, ou mesmo na linha dos pensadores e escri1 0
íntima relação entre o utopismo e a defesa da atuação "passo a passo", "por meio de
res burgueses que vieram depois dele.)
transigências", e a defesa da superação dos problemas existentes "apenas por meio da
E aqui uma contradição interna passa ao primeiro plano. Se o diagnóstico de Ad:1111
força da razão" (hoje diríamos: por meio da "engenharia social", da "engenharia huma-
Smith está correto, isto é, se a "negligêncià' e o "desprezo pela educação" são conseqü ' 11
na" e, naturalmente, "pelos acordos formulados em torno da mesa de negociações"
cias do poder do "espírito comercial" avassalador, como esperar então que um rem 1•
etc.). Na verdade, as limitações necessárias do horizonte burguês determinam a
dio efetivo para todos os efeitos negativos observados possa resultar de um simpl ·s
metodologia do "gradualismo" e das "transigências" como um axioma do "pensamento
apelo a uma "educação como deveria ser"? Precisamente por se tratar de uma contra•
crítico". Como, porém, os problemas em jogo são muito abrangentes, a contradição
<lição interna do ponto de vista burguês - envolvendo necessariamente tanto a negação
que existe entre o caráter global dos fenômenos sociais criticados e a parcialidade e o

13
' ' Ibidem, p. 321. Robert Owen, A new view ofsociety and other writings (introd. G. D. Cole, ed. Everyman), p. 124.
12 14
Ibidem, p. 319-20. Ibidem, p. 88-9.
1
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ti :i", d ·v · s ·r falsam ·11t · r · on i li :1d a p ·l n g •n ·r:1li d11d • 11 b:1 r ·11111 · d • 11 lg11111 '' d t·v 1•1 " ·nsan 1 ·111 0 l,1111 •,11 r111 g ·r:11 é i nerentemen te u tópi a t: grad ualista. ' omo as b:is ·s l:i
u tóp i o. E ass i m, o fenômeno social especifico, an tes observa d o d · 111:111 · i r:1 L u > :111• •111.1 (11 sociedade ·:i pi1: il ista devem ser aceit as axiomat ica ment e, sem discussão, os efeitos
impacto desumanizado r do "espíri to comercial", que tra nsfo rma os hom ·ns ·m " rn •111 i desumanizadores do "espírito comercial" só podem ser "transcend ido s" na forma de
nstrumento de ganho" etc.) - agora examinado do â ngu lo das so l u ó ·s int ·1 · ·1 11.1 um "dever" utópico, que, tão logo traduzido em medidas práticas, revela-se invariavel-
imaginárias - perde seu caráter social específico e se transform a em vagos e a tcm po111 mente um fracasso: algum tipo de "medida gradual" que - em sua defesa prática da
"erro" e "ignorância''. De modo que, no final, o filóso fo soc ial p ode onclui r, w111 ordem capitalista da sociedade - só pode intensificar as contradições inerentes às
circularidade triunfante, que o problema da "verdade contra o erro e a ignorâ n i:1" relações sociais de produção alienadas, em vez de superá-las. Daí a ironia trágica da
que é o problema da "razão" e do "esclarecimento" - pode ser resolvid o "ape nas pw morte de Fausto: o ruído da abertura da cova, avidamente saudado, numa realização
meio da força da razão". (A única garantia que ele pode dar para o êxito de seu r ·111 fantasiosa, como a concretização real do grande sonho faustiano. Isso porque a aliena-
dio educacional é, mais uma vez, circular: a afirmação de que "a verd ade telll d1 ção e reificação capitalista de todo caráter humano "tem de ser ultrapassada apenas
prevalecer, porque a maioria da humanidade se tornará esclarecida".) pela força da razão" - por uma "razão" estruturada de acordo com as premissas neces-
Os adversários contemporâneos de Marx denunciam, com freqüência, o car:i l t 1 sárias da sociedade burguesa - e a razão, é claro, não é suficiente. E ainda mais porque
supostamente "utópico" e "ideológico" do seu pensamento - em nome da "engc11 li,1 uma força social real - desafiando na prática a "razão" do gradualismo utópico - surge
ria social", da "atuação por acordos", "passo a passo" etc. As críticas desse tipo, 1111 no horizonte. Daí o temor e o desespero de um Schiller, que, num poema irmão de
entanto, não podem ser levadas a sério; pois a utopia é incompatível com a abrang 1 H i t "The words of folly" [As palavras da loucura], escrito em 1797 e intitulado "The words
dialética da abordagem marxiana, que não atribui poder exclusivo a nenhum f: 11 OI of faith" [As palavras da fé], volta as costas à "ralé", que mostrara seu poder na
social particular, já que pressupõe a reciprocidade dialética de todos eles. A utopi:1 e Revolução Francesa, e se entrincheira no reino interior de um "dever" transcendental:
inerente a todas as tentativas que oferecem remédios meramente parciais para I r11 Que o grito da ralé passe por cima de ti
blemas globais - de acordo com as limitações sócio -históricas do horizonte burgu s E o grunhir dos porcos extravagantes!
encurtando a distância entre a parcialidade das medidas ad hoc defendid as · 11 De nenhum homem livre tens medo,
resultados gerais, antecipando arbitrariamente um resultado ao seu próprio gosto. I • Nem do escravo que conquistou a liberdade.
precisamente isso que caracteriza os esforços ideológicos da "engenharia soci: d '' ,
Como esta, por definição, não pode ter uma estratégia de conjunto, não tem dir ·i111 E há um Deus, cuja vontade compele
A mente indecisa do homem;
a antecipar o impacto geral das medidas particulares. No entanto é isso o que ela f: 11.,
A lembrança dos céus supera
defendendo sua própria abordagem em oposição a alternativas amplas, espera ndo ,
Toda possibilidade de conhecimento.
confiante, que o sistema social estabelecido será capaz de enfrentar seus problemas pw meio Embora o mundo viva em eternas vicisstiudes
do gradualismo da "engenharia social". A utopia velada dessa abordagem consis te no Hd sempre repouso para a alma tranqüila.1 5
postulado arbitrário da forma existente, capitalista, de sociedade, como a mold u ra
necessária de toda modificação concebível - ou de qualquer modo, "razoável" - • pressupõe O gradualismo utópico de Owen é motivado também pelo medo da alternativa sócio-
uma fé totalment e infundada, utópica, na capacidade de as medidas parcia i,\ cabíveis histórica emergente. Ele insiste em que, nas condições em que vivem, os traba- lhadores
"adquirem ferocidade de caráter que, sem medidas legislativas judiciosamen- te
alcançarem o resultado geral desejado. As medidas "racionais" da "engenha ri.1 social
concebidas para impedir seu aumento e melhorar a condição dessa classe, mais cedo ou
gradual" são apresentadas como representações da realidade ("o que é"), co11 > raízes
mais tarde mergulharão o país num estado de emergência foriniddvel e, talvez, insolúvel. O
firmes no solo, em oposição ao caráter normativo ("o que deve ser") das "utopi as" e
"ideologias" gerais denunciadas. De fato, porém, a defesa do "gradualismo" e da "medidas objetivo direto das nossas observações é o de efetivar a melhoria e evitar o perigo"1 6 •
parciais" é apenas uma ferina negativa da normatividade, em defesa d:1s posições Tendo isso em vista, não é de surpreender que as grandes utopias educacionais do
passado - que originalmente visavam contrabalançar a força do poder alienante e
estabelecidas de poder, contra o crescente desafio sócio-histór ico das fo r- ças
socialistas. Não é de surpreender, portanto, que os ideólogos da "engenh a ri:i social" desumanizador do "espírito comercial" - fossem totalmente ineficazes contra a difusão
rejeitem o desafio marxiano a suas perspectivas fantasiosas, considerand o-o "utópico" e da alienação e da reificação em todas as esferas da vida. Mesmo no campo da educa-
ção superior, que por muito tempo se pôde proteger sob a fachada glorificada de sua
"ideológico".
É evidente que há diferenças muito substanciais entre o "utopismo heróico" dos
primórdios da burguesia - cujos representantes, os Rousseaus, Kants, Goethes, Schillers,
1 5 Traduzido para o inglês por Arnold-Forster.
Adam Smiths e Owens, são verdadeiramente Titanenartig [colossais], em comparação
16
com os atuais defensores da ordem burguesa - e a "utopia velada", apologética, das Robert Owen, A new view of society, cit., p. 124.
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foi grad ualmente aba ndonado e a mai s limitada ·sp · i:1l izt1 . o pr • lomi11011 •111 11 l Essa " i n1<: ri o riz:1 :ao", desnecessário dizer, não pode ocorrer sem o efeit om-
ugar, passan d o a prod.uzir "conse11.1e1ros", " per·itos" ''espe ·w 1·iscas ' p:i ra a 111111q 11 1 IHI binado de várias formas de "falsa consciênciá', que representam as relações soc1a1s
burocr ática do capitalismo moderno, que cresce como um cân r. alienadas de produção de mercadorias como a expressão direta, "natural", dos
Todos nós temos consciência da desintegração do pensamento e do conh eci menro nun, 11!1'1111• objetivos e desejos dos indivíduos. "Normalmente" - isto é, quando a produção
ro crescente de sistemas à parte, cada qual mais ou menos aut o-suficiente, com sua I rôp1 ,1 de mercadorias se processa tranqüilamente, apoiada por uma demanda individ ual
linguagem, e não assumindo a responsabilidade de saber ou preocupar-se com o que va i 11 li 1 1 em expansão - a "ideologi a do consumidor", refletindo a estrutura material da
de suas fronteiras [...] A história da Torre de Babel pode ter sido uma visão proféric:1 d11 sociedade, predomina na forma de criação do "consenso" necessário: a fácil acei-
universidade moderna; e a fragmentação que focalizamos aqui afeta a totalidade da socicdacl •,' tação de pseudo-alternativas como escolhas genuínas, com as quais o indivíd uo
O "espírito comercial", para a sua plena realização, exige a fragmentação, a me :11 il manipulado é confrontado tanto no mercado econômico como no político. Sérias
zação e a reificação de todas as relações humanas. É por isso que o destino do ideal d1• complicações aparecem, no entanto, em épocas de crises econômicas. Nos Esta-
"universalidade", expresso nas grandes utopias educacionais do passado, teve d· Nt ' I dos Unidos, por exemplo, na época da última recessão econômica, os art igo s de
selado na forma que todos conhecemos. O que decidiu a sorte·d essasutopias no mom ·11111 jornais e as frases publicitárias estavam cheios de referências a um suposto "dever
mesmo de sua concepção foi o fato de pretenderem produzir seus efeitos no lugar l:1 N patriótico" de comprar até mesmo os objetos menos desejados, com a ad missão
transformações sociais necessárias, e não por meio delas. implícita - um afastamento claro da prática normal da publicidade cotidiana, ba-
seada no axioma "não-ideológico" da "naturalidade" do capitalismo - de que tai s
2. A CRISE DA EDUCAÇÃO mercadorias eram realmente indesejadas e não tinham nenhuma relação com os
apetites "espontâneos" do indivíduo. O que se pedia ao público que comprass e
Nenhuma pessoa em sã consciência negaria que a educação está, hoje, em cris ·1 11 , eram as "apólices patrióticas", irresgatáveis, do capitalismo norte-am eric ano . .A
No entanto, a natureza dessa crise, como é compreensível, está longe de ser objeto d:1 principal função das operações tipo Vietnã para o sistema de incentivos no r te-
concordância de todos. Os ideólogos profissionais da guerra fria estão perdidos. Con111 americanos é que a participação militar direta proporciona a moldura para a pu-
observa Chomsky: blicidade "patriótica" e o impulso multimilionário à economia intensifica o apet i t ·
Tendo resolvido a questão da irrelevância política do movimento de protesto, Kristol vol t:i do sistema - ao modo autoconsumidor da produção de guerra - sem ter de expa n -
se para a questão de suas motivações - ou mais em geral, o que levou os estudantes e jove11. dir o apetite, já muito saturado, do consumidor-individ ual2°.
professores a "irem à Esquerda'', como diz ele, em meio à prosperidade geral e sob a adm ini-s Na verdade, devido às contradições econômicas do capitalismo, a estrutura da e o-
tração de um Estado liberal de bem-estar social. Trata-se, escreve ele, de "um enigma q11r nomia modificou-se significativamente há muito tempo, no que concerne à relação en t:r ·
nenhum sociólogo solucionou ainda". Como esses jovens estão em boa situação, têm 6 0 111 os ramos consumidor e não-consumidor da indústria. Como escreve Robert H eilbron T:
futuro etc., seu protesto deve ser irra cional. Deve ser o resultado do tédio, de um excesso d ·
segurança, ou algo semelhante. 19 um aspecto central de nossa experiência de crescimento nas duas últimas décadas só é discu rido
honestamente por poucos porta-vozes do futuro. Trata-se do fato de que nosso grande sur ro k:
Outros, embora admitindo a existência de aspectos negativos menores (relaciona- prosperidade não começou antes do início da Segunda Guerra Mundial; e sua con ti n1rn .: o,
dos com "instalações de pesquisa", "tamanho das classes" e coisas afins), insistem em desde então, esteve sempre ligada a uma procura econômica muito mais militar do que I ur :1-
que apenas "um punhado de agitadores" e "arruaceiros acadêmicos" são responsáveis mente civil.21
pelos distúrbios. A persistência e a intensidade crescente da crise da educação nos E S. M. Rosen acrescenta, corretamente: "A economia das armas foi o principal instr11-
principais países capitalistas, sem uma única exceção, apontam, no entanto, para uma mento keynesiano de nosso tempo. Mas seu uso foi mascarado como 'interesse na cional ''N .
conclusão muito diferente. Resumindo-a numa frase: a crise de hoje não é simplesmente Todavia, enquanto a participação das indústrias de consumo não surgiu novamente OJn o

20
17
Há, é claro, vários outros métodos de "absorção de excedente". Ver capítulos 4 a 7 deMonopoly capital, 1 · l' nul
Montagu V. C. Jeffreys, Personal values in the modern world (Penguin, 1962), p. 79. A Baran e Paul M. Sweezy (Nova York/Londres, Monthly Review Press, 1966) [ed. bras.: Capi111li J'11111
18
As proporções dessa crise são bem ilustradas pelo fato de que centenas de volumes foram publicados sobre o monopolista, 3. ed., Rio de Janeiro, Zahar, 1978].
assunto nos últimos anos, em rodo o mundo. 21 Robert Heilbroner,The fature as history (Nova York, Harper & Row, 1960), p. 133, citado em . Mt 1<1•1•
19
Noam Chomsky, "The responsibility of the intellectuals", em The dissenting academy (org. Theodore Roszak, Rosen, "Keynes without Gadflies", em The dissenting academy, cit., p. 79.
Penguin, 1969), p. 240. 22
Ibidem, p. 81.
11 11// 1111111 111,1, 11 111 11 t/ 11 1 •,/ 11111, 1111 11 7h

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mo<l i fi a r a id ologia trad i i na l d o n un, id or. N:ío só J h )l'q11 • ·ssn id ·<11 0 11, i.1 do t<,;rna i ndt • p •11d 1•111 1 , q lll ' t•11 ·c rrnri a em si o perigo d· provo nr uma 1 ' I' • · i1·: 1 1•,11 •11 1
cons umismo adq uiriu uma nova sign ificação como med id a da "su p ·riorida 1 ·" do . i N mundial.) A lm ro r1·1 11 ti il,tlf lüJ monstruosa da socied ade, de a rd o 0 111 as n · · ·s. id:1, d •,
tema sobre as econom ias pós-c apita listas (que tiveram de mar har p e l o a m i11 ho d r d e um sistem a ada vez mais complexo de prod uç ão de m er ad ori as, 011st·1•11 i11
uma "acumulação socialista" a partir de um nível muito atrasado), mas também p ü l'll l • esvaziar as "instituições democráticas" de toda a sua sign ificação anteri or, n:du zi11d11
as alegações de representar o "interesse nacion al" foram sempre part e da ideologi , até mesmo o Parlamento - esse "pináculo das insti tuições democrát ica s" - 011di
burguesa. Não obstante, à medida que se multiplicam as com plicações do si,sc 1 n:1 ção de uma associação de debates de segunda categori a, graças ao "co ns<.:11s0" (q ll •
econômico, cresce também a necessidade de uma "desmaterialização" significativ a do equivale de fato, se não necessariamente em intenção, ao "conluio" puro si n1pk · )
sistema de incentivos individuais, exigindo necessariamente, também, um reaju sf t• que predomina em todas as questões de política mais importantes. Além d isso, ll
maior dos mecanismos de "interiorização". E ainda mais porque a "distância tecnológi a" várias estruturas hierdrquicas da socied ade, que no passado tiveram im por1. 11 i.1
entre os Estados Unidos e outros países capitalistas importantes está diminuind o, o vital na determinação da orientação da geração mais jovem, agora, por várias ra:r, ll' , a que
que intensifica a concorrência e coloca em risco a elevada taxa de lucro, sob a pressfio voltaremos adiante, mostram-se não só ineficazes em sua função estabili za 101·.i
de custos salariais relativamente elevados 23 • A isso devemos acrescentar outro facor e moralmente orientadora, mas também se constituem em alvos claros para a d is i
que, em perspectiva, possui a maior significação: a impossibilidade de buscar a so.111- ciência ativa e a oposição radical.
ção da grave crise estrutural da sociedade por meio de uma terceira guerra mundi al. O Devemos considerar a crise da educação formal no marco desse quad ro n1 ti
impacto potencial dessa dificuldade, do bloqueio desse caminho, pode ser comp reen- amplo; pois - como Paracelso sabia muito bem - a educação é "nossa próp ri a vi da ,
dido lembrando-se que as "Grandes Guerras" do passado: (1) "desmaterializaram" a u- desde a juventude até a velhice, de fato quase até a morte", e portant o a sua :1 v:tl ii1 ção
tomaticamente o sistema de incentivos, ajustando, dessa forma, também os mecan is- adequada não pode ser restringida ao exame de apenas uma fração dos ·n111
mos da "interiorização"; (2) impuseram subitamente um padrão de vida radicalm ent · plexos fenômenos em causa. A educação formal está profundamente in tegrada 11[1
mais baixo às massas do povo, que o aceitaram voluntariamente, dadas as circun stân - totalidade dos processos sociais, e mesmo em relação à consciência do in li vld111i
cias; (3) também subitamente (em íntima relação com o ponto anterior, é claro) amplia- particular suas funções são julgadas de acordo com sua raison d'être id en t i f,'i · lv •I
ram radicalmente a margem de lucro; (4) introduziram um elemento vital de raciona- na sociedade como um todo. Nesse sentido, a crise atual da educação fornial <1
lização e coordenação no sistema; e, finalmente, (5) deram um enorme impulso apenas a "ponta do iceberg'. O sistema educacional formal da socied ade n5o pod ·
tecnológico à economia como um todo, numa ampla frente. A atual demanda milita r, funcionar tranqüilamente se não estiver de acordo com a estrutura educa i o111d
embora maciça, simplesmente não pode ser comparada a essa série de fatores econô- geral - isto é, com o sistema específico de "interiorização" efetiva - da so ei · l a d •
micos e ideológico-morais-educacionais cuja eliminação o sistema mundial do capita- em questão. A crise das instituições educacionais é então indicativa do con ju 111 0
lismo talvez não possa suportar. de processos dos quais a educação formal é uma parte constituti va. A gu s tu o
A necessidade de reajustar os mecanismos de "interiorização" é grande, e está em central da atual "contestação" das instituições educacionais estab elecida s n o r
expansão. Não há, porém, nenhuma ideologia aceitável para apoiá-la. As "autori da- simplesmente o "tamanho das salas de aula", a "inadequação das insta la 6 ' S 1 ·
des" tradicionais da democracia burguesa estão hoje no meio de uma crise que fa,. pesquisa" etc., mas a razão de ser da própria educação. Desnecessário diz -r: t a l
parecer insignificante a "crise da democracia" que antes provocou o fascismo como questão envolve inevitavelmente não só a totalidade dos processos ed uca ion:1i s,
"solução" para garantir as necessidades da produção de mercadorias. (Hoje, porém, "desde a juventude até a velhice", mas também a razão de ser dos inst rume n tos ·
os grupos de poder capitalistas não podem adotar facilmente a solução fascista; não instituições do intercâmbio humano em geral. Se essas instituições - incluindo 11s
só porque tal escolha acarretaria necessariamente uma terceira guerra mundial, como educacionais - foram feitas para os homens, ou se os homens devem continuar 11
também porque a atual estrutura da produção de mercadorias - que exige um servir às relações sociais de produção alienadas - esse é o verdadeiro tem a do
superconsumo sempre crescente de produtos em grande parte indesejados - não o debate . A "contestação" da educação, nesse sentido mais amplo, é o maior d sa /10 ao
permite. Simplesmente, não é possível provocar o superconsumo sob a mira de um capitalismo em geral, pois afeta diretamente os processos mesmos de "int ·ri o
revólver. Os países que, sob a tutela dos Estados Unidos - de Espanha e Portugal até rização" por meio dos quais a alienação e a reificação puderam, até agora, pr ·do
a Grécia e vários países latino-americanos -, puderam adotar um tipo de soluçã o minar sobre a consciência dos indivíduos.
fascista para seus problemas, são, sem uma única exceção, não somente economi - A educação tem duas funções principais numa sociedade capitalista: (1) a prod u , o
das qualificações necessárias ao funcionamento da economia, e (2) a form aç:fo do ,
quadros e a elaboração dos métodos de controle político. Como Gramsci ressaltou:
23 No mundo moderno, a categoria dos intelectuais [...] foi excepcionalmente ala rg d:1. JI.I <• foram
Ver Ernest Mandei, "Where is America going?", New Left Revíew, n 54, p. 3-15.
produzidos em números imponentes pelo sistema social burocrático - democrático, mu it 11
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io n:i li zn\ ,111 1111,d dn ,1 pi1:1l ismo, operando om ba ·e nos int ' r ·ss ·s gemls lo ·:1 pi1,1I ,
Por isso, a rise d a ed u açã.o ta mb ém se manifi sta om v.ig r u1111o 11o pl a no • ,011 trans end nd o ·0111 pl · Lam ent e os in teresses pa rti c ula res dos cap it alisrns indi 11ldn11l,1• ,
m ic_o c o m o no político. Robert Owen já havia observado qu seus p rogr:1111:1s ·Ju ·:i ·lo implica necessariam en te a liquidação efetiva da burguesia como força so ia!, o qu · sô
na1s enco n tra ram a resistência tanto dos in t e resses políticos co m o dos o n mi ' ON , é concebível com a derrubada do Estado burguês26• Assim, por mais agudos que s j:1111
E l e tentou tranqüilizá-los, afirmando que as medidas por ele defendidas, os perigos políticos existentes em certas tendências do desenvolvimento econômi o, o
capitalismo é em princípio incapaz de encont rar um remédio radical para eles.
quando não influenciadas por sentimentos partiddrios ou estreitas noçõeserrô neas de int11 rrs.r
próprio imediato, mas consideradas apenas no interesse nacional, mostrar-se-iam benéfica p111 11 os Com relação à superprodução estrutural de intelectuais, o fundamental é que u 111:1
filhos, para os pais, para os empregadores, para o país. Tal como somos hoje edu ado . , parte crescente da máquina econômica está sendo ligad a ao campo educacional, p ro -
entretanto, muitas pessoas não podem separar os objetivos gerais das considerações partidrlri1,1 ,' duzindo não só um número crescente de graduados e pós-graduados, como tam b '-111
enquanto outras só os podem ver pela perspectiva do ganho pecunidrio. 25 toda uma rede de companhias diretamente interessadas na expansão da "cultu ra". O
fato de que na produção de intelectuais - ao contrário da produção de automóv is - o
Esses fatores econômicos e políticos não mantêm, é claro, relações harm on io ,-
lim it e superior não é o céu, mas a disponibilidade de oportunidades significa ti vas d ·
entre si. Pelo contrário, são manifestações de uma estrutura antagônica da sociedad •;
a tentativa de síntese - por exemplo, no apelo "racional" de Owen ao "interesse na io-
nal" - só pode proporcionar soluções temporárias, e as medidas propostas só sfío
26 Em princípio, deveria ser possível racionalizar a produção capitalista ao ponto em que todos os in1 ' l'l',<Nl 'N
aceitáveis na medida em que estão de acordo com os interesses parciais da b ur gu es ia ,
individuais burgueses ficassem completamen te subordinados aos interesses da classe como u 111 rodo, 1 H 1
As questões, porém, se complicam ainda mais por força de uma contradição no int erior
quadro de um sistema de produção capitalista "amplamente planificado". Na realidade, porém, css:i rn i11
dessa parcialidade. Ou seja: a contradição entre os interesses particulares dos capital is- nalização é apenas um desejo, embora algumas pessoas- por exemplo, John Kenneth Galbraith - i nsisi.1111
ta i divi ua (nas pal vras de wen: "as estreitas noções errôneas do interesse pró- em que ela está sendo realizada e que com isso, os "dois sistemas" efetivamente "convergem" para 11111,1
pno imediato ) e os mais amplos mteresses da burguesia enquanto classe. (Esta última "tecnoestrutura'', deixando apenas algumas "diferençasideológicas" anacrônicas a serem resolvi das. (V ·1·1,
é ap resent aà a co m o "o interesse nacional".) De modo geral, as "necessidades políti c//J' K. Galbraith, The new industrial State, Londres, Hamish Hamilton, 1967 - e a resenh a crít ica de Ra l pl1
Miliband sobre esse livro, em The socialist register, 1968, p. 215-29.) É bastante significativo q11 · 11
da classe dominante fundamental" são os interesses da burguesia como um todo, :io passo que
Comissão Presidencial sobre as Metas Nacionais só tenha podido, em suas conclusões, formul ar os l ug:i r ·s
as necessidades econômicas da produção têm uma relação muito mais direL a com os comuns bomb ásticosdo liberalismo burguês. Por exemplo: "Nossas mais profundas convicções nos 1 · v11111
interesses dos capitalistas individuais. a estimular a realização individual. Desejamos todos realizar a promessa que existe em nós. Deseja m os Sl' I'
Evidentemente, não estamos falando aqui de uma relação estdtica: as várias séries de dignos de um a sociedade livre, capaz de fortalecer uma sociedade livre" (G oals for Americam, p. 8 1, i1:ido
em Baran e Sweezy, Monopoly capital, cit., p. 306). Lendo nas entrelinhas dessaretórica hipócrita, pod ·n111s
necessidades políticas e econômicas interagem umas com as outras. De maneira seme-
ver que o ideal de "realização individual" é limitado pelo objetivo de "fortalecimento de uma sociedade l ivr ·"
lhante, deve-se ressaltar também que o impacto de uma série ou outra nem sempre é 0 (isto é, o capitalismo) e a "promessa em cada indivíduo" só é reconhecida como legítima se for "digna d · u,n .1
mesmo no sistema de determinações sociais gerais. Na época de Gramsci, a superprodu- sociedade livre", isto é, se for capaz de fortalecer o capitalismo. Assim, as "metas nacionai s", num a so i ·d,111<·
ção de intelectuais, por ele observada, devia-se principalmente "às necessidades políti c;1s capitalista, só podem consistir na reali zação individual imediata, de acordo com as exigências do si.,, ·11111
da classe dominante fundamental". A situação é hoje muito diferente. A causa princip a l capitalistade produção. Em outras palavras, o sistema capitalista de produção não pode funcionar ., · 11, 11
puder proporcionar a realização individual imediata aos membros dos grupo s de interesse domin a n1 ·s, I •,
da superprodução intelectual é hoje econômica, e não política; na verdade , ela existe a
esse mesmo fator que limita os poderes do Estado burguês. Não importam as idéias que John F. Kenn ·d ,
despeito da instabilidade política à qual está necessariamente associada. possa ter tido quando reuniu o seu "Brains-Trust" - com o objetivo de elabor ar as "metas nac iona is" · .,s
Essa é uma questão muito importante, porque revela os limites dentro dos quais o "políticas nacio nais" capazes de implementar os interesses do capitalismo dos Estados Unidos em gera l ,
capitalismo é capaz de dominar suas contradições internas. Os chamados "interesses na realidade só podiam ser adotadas as políticas que estivessem em perfeito acordo com os int en,·.,·,,,.,
ime diatos da "realização individual" dos memb ros dos grupos capitalistas dominantes. O Estado bur g11 ,
nacionais" - os interesses gerais da classe dominante como um todo, desenvolvidos
zela cuidado samente por uma estrutura específica de relações nas quais os interesseseconômicos imcd i:i1 0.s
por meio do mecanismo político, muito idealizado, dos "compromissos" - são deter- dos grupos mais poderosos predominam. Postular uma sociedade capitalista "amplamente plan ejada l'
minados em sintonia com os interesses imediatos da maioria dos capitalistas individ uais. racionalizada" é, portanto, algo absolutamente absurdo. (Além de ser uma contradição em termo s, e0 101
(A palavra "maioria" não significa, é claro, simples maioria numérica de acionistas micamente falando.) Só a comunidade como um todo é capazde assumir as funçõ es de "capitalista univ ersttl''.
individuais, mas os representantes dos grupos de interesses econômicos mais pod ero- Essa forma de sociedadepressupõe o "trabalho como a determinação na qual cada um está posto, o capi1nl
enquanto a universalidade reconhecida e como poder da comunidade" (Karl Marx, Manuscritos econômico
filosóficos, cit., p. 104) . Nenhum Estado burguês é compatível com um siste ma de relações desse ri po,
Imaginar que a "universa lidade" da racionalização capitalista pode ser conseguid a simplesmente pela d i111 i
2
' Antonio Gramsci, "The formation ofintelectuals", cit., p. 125. naçãoda concorrênciaentre os capitalistas por meio de algum tipo de "super tecnoestrutura" é uma teim u,; i,t
25
Robert Owen, A new view of society, cit., p. 125. elementar, nascida do solo da especulação fantasiosa. Os que a praticam esquecem (ou ignoram ) qu · n
contradição bdsica da sociedade capitalista não é entre capitalistas e capitalistas, mas entre capital e trabt1!h 11 ,
'/11 1 1, 11111,, "'' 11//1 •1111 11111 •111 ni,1, \ í\ ll /11•1111 1 tlil 1• 11 11,/ 1• ,/11 1•d t11'1 I dil '7 1

11 11111 ·g11 (11 q11c• d · p c 1 u l , 1 l.11 0, d,1 ( ' Sl 1 t1 l 111.1 lu . o i ·dad ' ·0 11111 lllll lo d o , 1 ,illº', l)l ll' 11 111 1 d.1 td ·11l11gi11 b11r u sn d hoj·, pod ·mos obs rva r o a madur · i m ·n t o
( 11.111111 1 11
111 11 11 1 1 i uN iid11 1111 siNt ,·1 rn 1 • , l •1tlo. d11 pl'Odll(;,10 1 • 111 ·r ·:1do riaN. A 1·xp1111 N,ít 1 •11 l11 , o a • uç :111H·111 0 d · 111n:1 v ·l ha oncradição. Vimos que utopismo e gradualismo e ra m
11111 ,1 1 xll',I' 11111:1 produ\,lO i n t ·1 • · t ua! ·111 · x p:lllsfo (qu:iisqu ·r qu · s ·j:1111 . 11:1 q11:il id11d1· 1 ap enas os do is bdos de u ma mesma moeda. O utro aspecto desse problema relaciona-se
1•11N •li-•itrn I',,•1, iN) · i. so o bast:1111· para 111:1111 ·r as r das m movirn ·111 0. (l•'.vidc n t ·m 11 com a oposição entre especialização e abrangência. A especialização, orientada de maneira
11 , llh , II II Ol ' l' N 11u i.>w1 ·s os qu · q u •r •m, r solv r ·sse pr bl ·ma 0111 111 ·Ji las pol lt i ':I. • ideologicamente neopositivista, só poderia predominar na estrutura social de uma esta-
1•11111 111i ·a. 1· '8tr i tiv, s não cl:m id in do ti po de sociedad e capi tali srn m qu viv ·m.) bilidade capitalista relativa - realizada por meio do estabelecimento de mecanismos
() p1·o bl · m a s · to rn a a i nd n ma is grave com o u tra o ntr adi 5o do sistem a: a monetários keynesianos e do seu sustentáculo econômico maciço: a indústria de armas
1111dtipli ·11• • o l o "lazer", em onseq iH:ncia dos progressos tec nol ógic os espc:ca u l:t do capital monopolista -, a qual tinha como necessidade ideológica imediata a produção
, q11 · cst. 1110s testem u nh an do. Até ce rto pon to, o sistema é capaz não só d • de técnicas manipulatórias de "engenharia social", "comunicações", "engenharia huma-
,ti, 0 1 v •1· o "Lc:m p li vre" recém- prod uzid o, e o desemprego que ele encerra p t ·11 na'', "relações públicas ", "pesquisa de mercado", "levantamentos de opinião", "estruturação
1 i1il1n ·11t ·, mas tam bém de tra nsform á-los num instrumento de maior expa nsfio de empregos" etc. Indiretamente, esse culto da "especialização" também serviu como
l't 1111 111i ;i sur to de prosperidad e. (A florescente "ind ústr ia da cultura", a expan• uma forma de autopublicidade ideológica, ',:'.m oposição a "utopia", "ideologia",
,l o l os s rvi o pa rasit ár ios etc. ) Mas tam bém aqui os limi tes n ão devem s • r "metafísica'', "messianismo", "milenarismo" etc. - todos dirigidos maciçamente contra o
i1',1111 r:id os. Não só porque o ritmo do progresso tecnológico é tu multu ado, e n51> marxismo, mesmo que as pretensões "científicas" e "meta-ideológicas objetivas" com
111 porqu • os gr upo s de poder capitalistas não podem evitar, a longo prazo, :1s freqüência não tenham permitido aos autores em questão tornar isso explícito. Quando
1 ll ll N ·q O 11 i as do enfraqueciment o estrutural de sua posição competitiva (dev ido 11111•1 ·la os ideólogos que se ocuparam do "fim da ideologia'' acusaram o marxismo de prometer
·r ·s en te dos fatores parasitári os na economia como um todo) em rela fo 111s sist · o milênio, estavam na verdade ocultando sua própria rejeição de toda historicidade,
ma s pós-cap italistas que surgem, mas também porque uma expansão tra n - q l li I disfarçando com isso um culto deformado e hipócrita do milênio capitalista. Como
do "lazer" é inconcebível sem uma superação radical do caráter sem-sent idu q t1 · observou Marx, o campeão da "democracia vê o milênio da república democrática e não
·ssa ·xpa nsão vem assumindo. desconfia que é precisamente nessa última forma de Estado da sociedade burguesa que a
Sl'l'in il usório esperar modificações significativas, nesse aspecto. A única forma d · luta de classes tem de ser travada até a sua conclusão"27 .
t 1111 rn hili dade con hecida do capitalismo é uma estreita contabilidade monetdria, e o exa- A diferença em relação aos apologistas atuais da "democracia'' burguesa é que eles
11 w N rio los problemas do "tempo livre" (não do "lazer" ocioso) exige uma abordagem não podem deixar de, pelo menos, ter algumas suspeitas quanto à realidade da luta de
11u l ,i ·: l m n te diferente: a instituição de uma contabilidade social, numa sociedade qu · (( classes. Contudo, no recente período de expansão e relativa estabilidade interna do
11lw ·011segu id o emancipar-se das pressões mutiladoras das mediações de segunda or- d1 capitalismo, a glorificação da especialização manipuladora como "ciência social" e
lll d11 prod ução de mercadorias. Como vimos, a ideologia burguesa, já desde Adam "ciência políticà' (e só Deus sabe quantas outras: em certas universidades dos Estados
, '111it h, 8Ó podia examinar o problema da educação e do lazer em termos limitadament · Unidos há mesmo um departamento de "ciência apiária" e de "ciência mortuária'',
111 /llth ios: c omo "diversão da mente", destinada em parte a restabelecer as energias do ensinando criação de abelhas e serviços funerários) foi para eles uma forma convenien-
11 ,1l i:tl hncl or para a monótona rotina do dia seguinte, e em parte para mantê-lo longe dos te de tratar "objetivamente" do adversário ideológico e, ao mesmo tempo, criar tam-
d( Np • rdí ios da "libertinagem". A concepção do "tempo livre" como veículo que trans- bém a impressão, "cientificamente fundamentada'', de permanência absoluta para a
' 11de n oposição entre o trabalho mental e o físico, entre teoria e prática, entre criatividade sociedade capitalista. Não obstante, como diz com acerto S. M. Rosen,
t oiin n mecânica, e entre fins e meios, sempre ficou muito longe do horizonte burguês. At<
a ênfase no cient ificismo é, ela própria, uma forma de ideologia; sugere que os valores centrais
m smo Goethe insistiu, em seu Fausto, com profunda ambigüidade, em que, "para da tradição econômica no Ocidente - mer ados livres, eficiência, crescimento - são ainda
1 •1ili'.l,:ir a rande Obra, Um Espírito é suficiente para mil mãos": suficientemente válidos em nossos tempos para não exigir um exame mais sério. São aceitos
1 )ri s· sic h das grosste Werk vollende, como a base sobre a qual se devem construir todas as técnicas eficientes. 28
(: •nl\gt Ein Ge ist für tausend Hande. Numa época de instabilidade e crise, porém, as técnicas manipulatórias, por mais
A visão marxiana, em agudo contraste com o "lazer" cegamente subordinado às "científicas" que sejam consideradas, não bastam. Daí que são necessários novos es-
11 vessidades da produção de mercadorias, implica não só a substituição da contabili- forços para desenvolver "teorias gerais", "modelos abrangentes", "metáforas flexíveis"
il,HI · m netária "a varejo", por uma contabilidade social abrangente, mas ao mesmo etc. - por meio da Comissão Presidencial sobre as Metas Nacionais, de instituições de
11•111 po o aproveitamento prático da cultura adquirida por meio do "tempo livre", na
1111111.1 de uma integração entre a "execução" e a elaboração política e tomada de deci-
l(• . ú n i a forma de lhe dar um senso de finalidade - graças à transcendência positiva 27
Karl Marx, Critique ofthe Gotha Program, em Selected works, cir., v. II, p. 31.
cl,1 h i · r:u q uias sociais existentes. 28 S. M. Rosen, "Keynes wirhour Gadflies", cir., p. 83.
1111 1 (111,/11 i/ 1 1 11/11 11111 1 l11 1 111 A/11/ 1 li 11 /11•1111 11!1 1• 11 1 11 1 1• t /11 1•i/111 1111; 1l 11 " 11 1

1 1 111d11 i/ 11 ,11 1 1,i,,11, , d t· 1·111 p1· •,q., t 11111 p ,1 lt 111d C 111 po1 i1ti11 n t· ,1Mi111 p111 d i,1111 ,· , 1 (, 11 n ·11 h1rn1,1 l1111d111111'111 111; 11 s ·qu ·r su • Tid n. 1 .. . 1 nod vcl é que pcss as sérias pr · cem accn ã
l111 Nt111 111 Nign il11, 1 tiv11, 1111 111< 1111·. 111 0 (1•111:a tiv;1s d • " r ·:1bili1 :ir l' 0 11 1 i. . o ,\,il v111 ess ' R :1hsw•d11, ; N ·111 d1'1 vi da i. ·s a ontcce devido à aparência de ponderação e pseudociência. .12
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11

Seria sur p reend ente, na verdade, se os resultados fossem diferentes, pois as contr a-
1 111 ,,, 1 >,111i 1•I li •11 ·s · 1· ·v •: dições que determinam a parcialidade do ponto de vista ideológico burguês são muito
( 1 1 111 d,1 id ·olo!),Ín n. o - · 11: r - fim da u topia, 1a m bé111. '6 pod ·111 s rc om '\' 11 mais agudas hoje - quando o capital monopolista é vigorosamente contestado, interna
11,1· 111do lii 111 opia 1 · nd o 0 11s i n ia da a rm adil ha da ide logia: [/\ nova u topia cm plrir11l 11•111 e internacionalmente - do que na época do fracasso das grandes "utopias heróicas".
, d 'NP • ·ili ·ar (l(Jllr/e qn r m s i r, como hcgar hí, o usco do emp reend i mento, e um a ·1·11 Uma teoria sócio-histórica abrangente e dinâmica é inconcebível sem uma força, inte-
111111 pr · ·11s. o, b ·m omo um a justi ficaci va, da determ i nação de quem vai pagar [...] s prohk ressada positivamente na transformação social, como seu terreno prático de apoio. A
11,1 11, (I ll l ' ·n ír ·n wm os i n r ·rna ment:c, e no mund o i n tei ro, resistem aos velh os cerm os do dcb:11 • parcialidade do interesse burguês, que evidentemente não está interessado em uma tal
d •olc11gico •111 r '' ·squc rda" e "di rei ta'; e, se a "id eologia" é hoje, com boas razões, uma pa l:t v r,1 transformação, pode oferecer apenas variações sobre um modelo estdtico: a projeção
11 •111 •d in v ·l m ·11t · omp romecida, não é necessário que a "utopia' venha a ter a mesma son •. "1
da ordem social estabelecida como um tipo de "milênio empírico", sujeito a "melhorias
A t',S I t< · i · ,d "utopia", q ue pode ser semant icamente resgatada do estado de "con ,. graduais", e "reformas setoriais", aplicadas aos seus detalhes meno res.
pt o1111· ti111 · n co i rremediável da id eologia" é a "utop ia empírica do custo-benefício" lo A crise ideológica de hoje é apenas uma expressão específica da crise estrutural
1 1q i i1 ,1l is1 n o norte-amer icano. (Vimos como ele aplaudiu a afirmação tranqüilizado r:i geral das instituições capitalistas. Não temos espaço, aqui, para um exame detalhado
d,• ' l \1 ·lwr, d q ue o conceit o de comunismo, de Marx, está sendo realizado nos Esta• desse assunto complexo. Devemos limit ar-nos a simplesmente observar alguns de
d11 l lni dos d· ho je.) Os critérios que apresenta para distinguir as "utopias empíricas" d11 " seus aspectos mais importantes. A questão mais im portante é que as in stit uiçõ es do
id ·olcSgi as" são igualmente reveladores: (1) a rejeição da "retórica da revolução" d t capitalismo são inerentemente violentas e agressivas; são construídas sobre a seg uin -
Nnv:i I•'. ' q uerda (a "velha" é considerada como definitivamente enterrada, jun ta- 111 te premissa: "guerra, se os métodos 'normais' falharem ". A cega "lei natu ral " do
•111 · · om s ·us "conceitos ideológicos"); (2) a condenação do "pan-africanismo ou q11,ilqll mecanismo de mercado, a realização do princípio do beilu m omnium contra om n es,
·1· ou tra id eologia" dos Estados africanos independentes; e (3) a denúncia d "c'u l io, i n rnl · râ significa que os problemas sociais não são nunca solucionados, mas ape nas adiados;
ncia e destruição do terreno intermediário", que supostamente caract - ou, na verdade - como o adiamento não pode prosseguir indefinidame nte - transfe-
1 wrin o 1 ·senvolvimento de Cuba. É um critério mais "objetivo, científico e meta- l l11 nlógi ridos ao plano militar. O "sentido" das instituições hierarquicamente estruturadas do
o" do que o outro. Na verdade, é um critério mais digno da "Grande Socie- d,u l r " capitalismo é dado, portanto, nesse recurso final à solução violenta dos problem as,
d:1s " Novas Fronteiras", da excelente utopia empírica do custo-benefíc io do 1 ,q , 1 nl na arena internacional, pois as unidades socioeconômicas - seguindo a lógica in ter-
111o nopolista; um critério que demonstra sua superioridade não só no Vietnã, 11111N t.11 na de seu .desenvo lvimento - tornam-se cada vez maiores e seus problemas e contr a-
n b 111 em outros 48 países30• dições cada vez mais intensos e graves. Crescimento e expansão são necessidades
M 1s, q uando se trata de desenvolver concretamente as "teorias gerais", e não só internas do sistema capitalista de produção; e, quando os limites locais são atingi-
d, 111111 · iar o advers ário "ideologicamente amarrado" por oferecer "pouca definição do dos, não há outra saída a não ser o rearranjo violento da relação de forças existente.
1111111•0 " 11 , os resultados são na realidade muito reduzidos. Como disse Chomsky sobre A relativa estabilidade interna dos principais países capitalistas - Grã-Bretanha, França
11111 " l rlssi o" muito festejado dessa nova onda de "pensamento estratégico", o livro de e Estados Unido s - foi, no passado, inseparável da capacidade de eles exportarem a
11 •i 111:111 1. ::i hn On thermonuclear war (considerado por muitos como "uma das grandes agressividade e a violência, geradas internamente pelos seus sistemas. Os membros
1111111. 1 • nossa época"): mais fracos do sistema - Alemanha, Itália e outros - depois da Primeira Guerra
, , ·111 dúvida, uma das obras mais ocas de nossa época. [...] Kahn não oferece nenhuma teoria,
Mundial viram-se em meio a uma grave crise social, e só a promessa fascista de um
11 · 11 hum a explica ção, nenhuma suposição baseada em fatos, ou hipóteses que possam ser reajuste radical da relação de forças estabelecida pôde representar uma solu ção tem-
1 ' SHI la · na prática, como fazem as ciências que ele está tent ando imi car. Simplesmeme sugere porária aceitável à burguesia, desviando as pressões da agressividade e da violência
11111:1 L ·rm i nologia e improvisa uma fachada de racionalidade. Quando chega a conclusõe s internas para a preparação de uma nova guerra mundial. Por outro lado, os pequenos
pol iii n ment e elaborad as, elas são apoiadas apenas por observações ex cathedra, para as quais países capitalistas simplesmente tiveram de subordinar-se a uma das grandes potên-
cias e seguir a política por ela ditada, mesmo ao preço de instabilidade crônica.
Por mais "irracional" que esse mecanismo de adiamento possa parecer, levando ine-
"' l )11 ni · 1 B ·li , The end of ideology, cit., p. 405-6. vitavelmente a colisões periódicas, ele foi um modelo de "racionalidade", se comparado
111 " ! ) podçr dos combat entes norte-americanos é visível em 48 países, o poder de nossos investidores é sentido 1 com a situação atual. Ele era racional nos sentidos limitados de: (1) oferecer aos indivíduo s
111 v,lr ins dezenas de outros" (Paul Booch, "The crisis of cold war ideology", em The new student left, org. M
li, h •li o hen e Dennis Hale, Boston , Beacon Press, 1967, p. 323).
11
1 >1111 ll'I Bcl l, The end of ideology, cit., p. 405. 32 Noam Chomsky, The responsability of the int ellectuals, cit., p. 241-2.
282 A teoria da alienação em Marx

certos objetivos específicos a serem atingidos, por mais monstruosos que eles possam ter
sido (por exemplo, a política fascista); (2) estruturar as várias instituições do capitalismo
num padrão hierárquico funcional, atribuindo-lhes as tarefas definidas de perseguir os
objetivos gerais de crescimento e expansão. Hoje - já que o sistema foi decapitado com
a eliminação de sua sanção final - uma guerra total contra seus adversários reais ou
potenciais - até mesmo a aparência de racionalidade desapareceu. A exportação da
violência interna já não é possível na escala maciça exigida. (As tentativas de fazê-lo em
escala limitada - por exemplo, a guerra do Vietnã - não só não são substitutivos para o
velho mecanismo, como até mesmo aceleram as explosões internas inevitáveis, agravan-
do as contradições internas do sistema.) Nem é possível apelar indefinidamente para as
mistificações ideológicas que representaram o desafio interno do socialismo (a única
solução possível para a crise atual) como um inimigo externo (uma "subversão" dirigida
do exterior por um inimigo "monolítico"). Pela primeira ve:z na história o capitalismo é
confrontado globalmente por seus próprios problemas, que não podem ser "adiados" por
muito mais tempo, nem transferidos para o plano militar, a fim de serem "exportados" na
forma de guerras totais33 • Tanto as instituições quanto a ideologia do capitalismo
monopolista são estruturalmente incapazes de resolver esse problema radicalmente novo.
A intensidade e a gravidade da crise educacional-ideológica do capitalismo de hoje é
inseparável desse grande desafio histórico.

33 É claro que essa guerra pode ocorrer; mas seu planejamento real e sua preparação ativa já não podem funcionar
abertamente como um estabilizador interno.

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