Você está na página 1de 13

SÍNDROME DE BURNOUT

O termo "Síndrome de Burnout" foi desenvolvido na década de


setenta nos Estados Unidos por FREUNDERBERGER (1974). Ele
observou que muitos voluntários com os quais trabalhava,
apresentavam um processo gradual de desgaste no humor e ou
desmotivação. Geralmente, esse processo durava aproximadamente
um ano, e era acompanhado de sintomas físicos e psíquicos que
denotavam um particular estado de estar "exausto".
Posteriormente, a psicóloga social CHRISTINA MASLACH
(1981, 1984, 1986) estudou a forma como as pessoas enfrentavam a
estimulação emocional em seu trabalho, chegando a conclusões
similares às de Freunderberger. Ela estava interessada nas
estratégias cognitivas denominadas despersonalização. Estas
estratégias se referem a como os profissionais da saúde (enfermeiras
e médicos) misturam a compaixão com o distanciamento emocional,
evitando o envolvimento com a enfermidade ou patologia que o
paciente apresenta e utilizando a "desumanização em defesa
própria", isto é, o processo de proteger-se a si mesmo frente a
situações estressoras, respondendo aos pacientes de forma
despersonalizada.
DEFINIÇÃO DA SÍNDROME DE BURNOUT

O desenvolvimento do conceito de Síndrome de Burnout


apresenta duas fases em sua evolução histórica: uma fase pioneira,
onde o foco esteve na descrição clínica da "Síndrome de Burnout", e
uma fase empírica em que se sistematizaram as distintas
investigações para assentar a descrição conceitual do fenômeno.
Na década de setenta se desenvolveu o conceito de
Síndrome de Burnout a partir da suposição de que existe una
tendência individual na sociedade moderna a incrementar a pressão
e estresse ocupacional, sobretudo nos serviços sociais. Os
profissionais ligados ao atendimento de pessoas doentes,
necessidade ou carência material deveriam resolver mais problemas
e, portanto, se produziria neles um conflito entre a mística
profissional, a satisfação ocupacional e a responsabilidade frente ao
cliente(CHERNISS,1980).
Na década de oitenta, as investigações sobre Síndrome de
Burnout se deram nos Estados Unidos e, posteriormente, o conceito
começou a ser investigado no Canadá, Inglaterra, França, Alemanha,
Israel, Itália, Espanha, Suécia e Polônia. Em cada país, se adotou e
se aplicou o instrumento criado nos Estados Unidos, especialmente o
Maslach Burnout Inventory, de Maslach e Jackson (MASLACH &
SCHAUFELI,1993).
Outras investigações empíricas se centraram em variáveis
pessoais tais como locus de controle, saúde pessoal, relações com a
família, amigos e apoio social. Os fatores materiais e humanos
associados foram utilizados também como fontes de investigação
junto com as biografias pessoais dos trabalhadores que apresentam a
Síndrome de Burnout (MASLACH, 1993).
Ainda, foram incorporados outras variáveis, e.g., satisfação
ocupacional, estresse ocupacional, carga de trabalho, demissões,
conflito e ambigüidade de papéis e expectativas no emprego
(HERRERA E LEÓN, 1999). Também se investigou a relação da
Síndrome de Burnout com variáveis demográficas como idade, sexo
e estado civil.(GARCÉS DE LOS FAYOS 2000).
De acordo com MASLACH (2001), grande parte dos aportes
utilizados para o estudo do construto são investigações transversais e
há escassos estudos longitudinais. Assinala ainda que nas
investigações efetuadas nos últimos 25 anos teria predominado a
hipótese que as pessoas idealistas têm um risco maior para o
Burnout. Uma segunda hipótese estudada é que a Síndrome de
Burnout resulta da exposição a estressores crônicos.
Segundo Maslach, a Síndrome de Burnout estaria composta
por três dimensões (MASLACH,2001):
1- O cansaço emocional ou esgotamento emocional.
Refere-se às sensações de sobre- esforço e fastio emocional que se
produz como conseqüência das continuas interações que os
trabalhadores devem manter com os clientes e entre eles.

2- A despersonalização. Supõe o desenvolvimento de


atitudes cínicas frente às pessoas a quem os trabalhadores prestam
serviços. GIL MONTE & PEIRÓ (1997) especificam que esta
dimensão se associa com o excessivo distanciamento frente a
pessoas, silêncio, uso de atitudes despectivas e tentativas de culpar
aos usuários pela própria frustração.

3- Reduzida realização pessoal. Também levaria à perda de


confiança na realização pessoal e à presença de um auto-conceito
negativo.

MASLACH (2001) assinala que o esgotamento emocional


representa a dimensão de tensão básica da Síndrome de Burnout; a
despersonalização expressa o contexto interpessoal onde se
desenvolve o trabalho do sujeito, e a diminuição das conquistas
pessoais, representa a auto-avaliação que o indivíduo realiza de seu
desempenho ocupacional e pessoal.
DESENVOLVIMENTO DA SÍNDROME DE BURNOUT

O Burnout não aparece repentinamente como resposta a


um estressor determinado, mas emerge em uma seqüência
determinada de tempo. Na atualidade foram produzidos modelos
mais complexos com os mesmos componentes básicos propostos por
Freunderberger e Maslach, das três dimensões mencionadas
anteriormente aparecendo no tempo, de maneira seqüencial.
Assim FARBER (1991) propôs um modelo hierárquico
composto por diversos estados sucessivos no qual, cada um deles
desencadeia o seguinte: entusiasmo e dedicação, frustração e ira, e
inconseqüência (percepção de falta de correspondência no trabalho,
abandono de compromisso e implicação no trabalho, vulnerabilidade
pessoal, esgotamento e descuido, o estágio final se não receberem
um tratamento adequado (MANASSERO, FORNÉS,
FERNÁNDEZ, VÁZQUEZ, & FERRER, 1995).

Por sua vez, EDELWICH & BRODSKY (citados por


MANASSERO, et al., 1995) referem que seria cíclico e se
apresentaria através da repetição de vários estágios sucessivos:
entusiasmo, arrefecimento, frustração e apatia.
MASLACH (2001) conclui que não existe acordo sobre a
evolução da síndrome e, que, de acordo com as investigações de
GOLEMBIESWSKI e MUNZENRIDER (1998) existem oito
possíveis combinações para a Síndrome de Burnout, sendo a
primeira fase a despersonalização, logo a reduzida realização pessoal
e finalmente o esgotamento emocional. Uma segunda alternativa é
que as dimensões se desenvolvam simultaneamente, mas de forma
independente.

PERSPECTIVAS SOB AS QUAIS A SÍNDROME DE


BURNOUT TEM SIDO ESTUDADA

MANASSERO et al. (1995) propõem que existem três


perspectivas diferentes a partir das quais a Síndrome de Burnout tem
sido estudada:

1) A perspectiva psicossocial: adotada por Maslach e Pines, que


pretende explicar as condições ambientais nas quais se origina
a Síndrome de Burnout, os fatores que ajudam a atenuá-la
(especialmente o apoio social) e os sintomas específicos que
caracterizariam a síndrome, fundamentalmente de tipo
emocional, nas distintas profissões. Além disso, neste
enfoque se desenvolveu o instrumento de medidas mais
amplamente utilizado para avaliar a síndrome, o Maslach
Burnout Inventory (MBI). Cabe ressaltar que em relação ao
instrumento, sua validade de construto demonstra que o
mesmo mede as três dimensões assinaladas na literatura:
esgotamento emocional, despersonalização e reduzido ganho
pessoal. GIL-MONTE e PEIRÓ (1999) mencionam que o
instrumento continua tendo deficiências psicométricas devido
ao fato de que em distintas investigações foram obtidos
diferentes níveis de validade interna e externa. Concordamos
com GARCÉS DE LOS FAYOS (2000) que o instrumento
não permite medir os processos individuais no
desencadeamento do Burnout e de sua evolução, já que o
individuo só se dá conta quando está esgotado excessivamente
e apresenta problemas com seu rendimento ocupacional.

2) A perspectiva organizacional: que se centra em que as causas da


Síndrome de Burnout se originam em três níveis distintos, o
individual, o organizacional e o social (CHERNISS, 1980). O
desenvolvimento da Síndrome de Burnout gera nos profissionais,
respostas ao trabalho, que não têm que aparecer sempre, nem juntas,
como a perda do sentido do trabalho, idealismo e otimismo, ou a
ausência de simpatia e tolerância frente aos clientes e a
incapacidade para apreciar o trabalho como desenvolvimento
pessoal.

3) A perspectiva histórica: é fruto dos estudos realizados por


SARANSON (1982) sobre as conseqüências das rápidas mudanças
sociais nos Estados Unidos depois da Segunda Guerra Mundial no
trabalho e das condições de trabalho.

O DIAGNÓSTICO DA SÍNDROME DE BURNOUT

De acordo com CHERNISS (citado por MASLACH, 1993), a


Síndrome de Burnout é um processo que começa com um excessivo
e prolongado nível de tensão ou "estresse" que produz a fadiga no
trabalho, sentimento de estar exausto, irritabilidade. Similarmente a
Síndrome de Burnout tem sido caracterizada como uma progressiva
perda do idealismo e da energia e o propósito de ajudar aos usuários
dos serviços.
FREUDENBERGER (1974) descreve os seguintes sintomas:
impaciência e grande irritabilidade, sensação de onipotência,
paranóia, cansaço emocional e desorientação

Por sua vez, CABALLERO e MILLÁN (1999) propõem que a


Síndrome de Burnout apresenta sintomas de ordem:
1. Fisiológica: falta de apetite, cansaço, insônia, dor cervical,
úlceras.
2. Psicológica: irritabilidade ocasional ou instantânea, gritos,
ansiedade, depressão, frustração, respostas rígidas e
inflexíveis.

2. De conduta: expressões de hostilidade ou irritabilidade,


incapacidade para poder concentrar-se no trabalho, aumento
das relações conflitivas com os demais colegas, chegar tarde
ao trabalho ou sair mais cedo, estar com freqüência fora da
área de trabalho e fazer longas pausas de descanso no
trabalho.

3. Outros: aumento do absenteísmo, apatia face à


organização, isolamento, empobrecimento da qualidade do
trabalho, atitude cínica e fadiga emocional, aumento do
consumo de café, álcool, barbitúricos e, cigarros.

EFEITOS DA SÍNDROME DE BURNOUT NO INDIVÍDUO

A Síndrome de Burnout se apresenta como uma


síndrome complexa que acarreta conseqüências muito variáveis, já
que estas estão presentes a nível psicológico, físico e de conduta.
Entre os sintomas mais comuns relatados pela literatura, em nível
individual estariam os problemas psicossomáticos, a diminuição do
rendimento e as atitudes negativas frente à vida em geral (GARCÉS
DE LOS FAYOS, 2000).

O Quadro 1, a seguir, apresenta uma lista de diferentes


conseqüências que a Síndrome de Burnout produz:

Quadro 1- Conseqüências da Síndrome de Burnout por Grupo

MCCORNNELL (1982) propõe um esquema de sinais e sintomas


presentes na Síndrome de Burnout, que podem ser apresentados pelo
indivíduo:

1. Sinais e sintomas físicos: são sintomas e sinais físicos similares


aos do estresse ocupacional. Alguns sintomas que podem se
apresentar são: a fadiga, a sensação exaustão (cansaço crônico),
indiferença ou frieza, sensação de baixo rendimento profissional,
freqüentes dores de cabeça, distúrbios gastrintestinais, alterações
do sono (insônia) e dificuldades respiratórias.
2. Sintomas de conduta: existem graves alterações no
comportamento que usualmente afetam aos colegas, pacientes,
familiares de pacientes e inclusive seus próprios familiares.

3. Sintomas psicológicos: podem aparecer mudanças, tais como,


trabalhar cada vez de forma mais intensa, sentimento de
impotência frente a situações de vida ocupacional, sentimento de
confusão e inutilidade, irritabilidade, pouca atenção a detalhes,
aumento do absenteísmo ocupacional, aumento do sentimento de
responsabilidade exagerada ou fora de contexto frente à situação
de enfermidade do paciente, atitude negativa, rigidez, baixo nível
de entusiasmo, e levar para casa os problemas do trabalho. Além
disso, SODERFELDT et al. (1995) assinalam o consumo de
álcool e drogas, como uma forma de amortecer os efeitos do
cansaço e esgotamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assume-se neste estudo as indicações de GIL-MONTE e


PEIRÓ (1999) e MASLACH (2001) que o modelo conceitual da
Síndrome de Burnout mantém problemas de delimitação e de
diferenciação com outros conceitos, tais como: depressão, tédio,
alienação, ansiedade, insatisfação laboral, neurose existencial e
desencanto e que a DEPRESSÃO possa aparecer frente a qualquer
contexto, mas o BURNOUT tem sua etiologia no contexto
ocupacional.
Concordamos com GARCÉS DE LOS FAYOS (2000) e GIL
MONTE e PEIRÓ (1997, 1999) quando assinalam que o Burnout é
essencialmente um construto social que se desenvolve a partir das
relações laborais e organizacionais, ao contrário, a depressão é um
conjunto de emoções e cognições que repercute nestas relações.
Burnout é uma Síndrome Depressiva específica ligada ao trabalho
(GUIMARÃES & FERREIRA JUNIOR, 2000).

(GUIMARÃES, L.A.M. & CARDOSO, W.L.C.D. Atualizações da


Síndrome de Burnout. São Paulo: Ed. Casa do Psicólogo, 2004. =
Texto modificado para sala de aula - EEL - USP - LORENA/SP)

Você também pode gostar