Você está na página 1de 64

CAPÍTULO INTRODUTÓRIO

A GARANTIA E FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO1

1.1. SENTIDO DA GARANTIA E FISCALIZAÇÃO CONSTITUCIONAL

1.1.1. Origem da constitucionalidade

O Caso "Marbury contra Madison" foi decidido em 1803 pelo Supremo Tribunal
dos Estados Unidos, sendo considerado a principal referência para a fiscalização da
constitucionalidade exercido pelo Poder Judiciário.

Nesse julgado firmou-se uma evidência de imaculável clareza, mas tantas vezes
questionada por força de interesses de momento, isto é, o princípio da supremacia
da decisão judicial, abrindo caminho para a chamada "Judicial Review", a
possibilidade de o Judiciário rever os actos do Congresso praticados em ofensa à
Constituição. A decisão envolveu o equilíbrio dos Poderes naquele país.

Ainda estamos, em nosso país, à espera de uma decisão que divida as águas com
essa força, como ocorreu com Marbury versus Madison, mas é preciso constatar que
o Poder Judiciário no Angola se afirma progressivamente e é acatado, a despeito
das névoas dos mais diversos matizes político – económico – ideológicos que
sempre surgem diante das decisões judiciais fortes, as quais sempre tiveram e terão
o dom de incomodar".

Na eleição presidencial dos EUA de 1800, Thomas Jefferson derrotou John Adams.
Após a derrota, John Adams resolveu nomear vários juízes em cargos relevantes,
para manter certo fiscalização sobre o Estado. Entre eles se encontrava William
Marbury, nomeado Juiz de Paz. O secretário de justiça de John Adams, devido ao
curto espaço de tempo, não entregou o diploma de nomeação a Marbury.

Já com Jefferson presidente, seu novo secretário de justiça James Madison, se


negou, a pedido de Jefferson, a intitular Marbury.

Marbury apresentou um writ of mandamus (Mandado de Segurança) perante a


Suprema Corte Norte-Americana exigindo a entrega do diploma. O processo foi
relatado pelo Presidente da Suprema Corte, Juiz John Marshall, em 1803 e concluiu,
segundo interpretação própria, que a lei federal que dava competência à Suprema
Corte para emitir mandamus contrariava a Constituição Federal. Como a lei que

1
Ou fiscalização da constitucionalidade na terminologia dalguns autores.
1
dava competência a Suprema Corte era inconstitucional, não cabia à Suprema Corte
decidir o pedido do mandamus.

A decisão tem muitas falhas, por exemplo:

 O Juiz John Marshall, que decidiu o julgado, tinha atuado como Secretário de
John Adams e fora o responsável pela não titulação de Marbury.

 Marshall podia adotar várias soluções mais plausíveis, mas fez um raciocínio
complexo no intuito de contrariar o Poder Executivo e confirmar o poder dos
Tribunais em deixarem de aplicar leis federais inconstitucionais.

Por ser a primeria decisão de um Tribunal a proclamar a competência de afastar leis


inconstitucionais mesmo sem previsão constitucional nesse sentido, o caso é
mundialmente célebre e sempre estudado nos cursos de direito constitucional.

Surge assim o que hoje se chama de sistema difuso de fiscalização da


constitucionalidade das leis. Difuso por poder ser realizado por todo e qualquer juiz
no momento de julgar a questão concreta.

1.1.2. Meios e Institutos de defesa da Constituição 2

A defesa da constituição pressupõe a existência de garantia da constituição, isto é,


meios e institutos destinados a assegurar a observância, aplicação, estabilidade e
conservação da lei fundamental. Como se trata de garantias de existência da própria
constituição, costuma dizer-se que elas são a “constituição da própria constituição”.

As garantias da constituição não devem confundir-se com as garantias


constitucionais. Estas têm um alcance substancialmente subjectivo, pois
reconduzem-se ao direito e o reconhecimento e consagração dos meios processuais
adequados a essa finalidade.

Noção e tipos de inconstitucionalidade (formal material e orgânica).


constitucionalidade por acção e por omissão. A inconstitucionalidade é a
desconformidade de uma norma ou de um acto praticado por órgãos do poder
político com o texto da Constituição.

2
São, no geral, os seguintes meios e institutos de defesa da Constituição:
A vinculação constitucional dos poderes públicos;
Os limites da revisão constitucional;
A fiscalização judicial da constituição;
A separação e interdependência dos órgãos de soberania;
GOMES CANOTILHO, ob. cit. pág. 888 – 889.
2
No sistema de fiscalização angolano actual, só a desconformidade de actos
normativos, actos produtores de normas jurídicas com a Constituição revela, e não
de actos políticos ou administrativos. Há vícios qualificados de ilegalidade
apreciados pelo tribunal Constitucional.

Se uma norma regulamentar violar directamente a Lei (vicio de ilegalidade) 3 e a


Constituição (vicio de inconstitucionalidade), a parte interessada pode invocar o vicio
mais gravoso ou cuja arguição lhe seja mais favorável (inconstitucionalidade).

1.1.3. O fundamento da Fiscalização de constitucionalidade das normas e a


jurisdição constitucional.

O fundamento da fiscalização da constitucionalidade encontra-se na ideia de


supremacia da Constituição escrita, da existência de uma lei maior que se sobrepõe
a todas as demais normas jurídicas existentes no País.

A supremacia decorre da própria rigidez das Constituições escritas. Por exigir a


norma constitucional um procedimento especial de alteração mais rigoroso que o
das normas infraconstitucionais, todos os demais actos legislativos e administrativos
são hierarquicamente inferiores.

O que estiver em desacordo com a Constituição, vértice de todo o sistema jurídico,


deve ser declarado inconstitucional. Dois pressupostos são indispensáveis para que
a fiscalização de constitucionalidade seja exercido:

a) A presença de uma Constituição rígida, da qual resulte a superioridade das


normas constitucionais sobre as demais; e

b) A existência de um órgão que efectivamente assegure a supremacia do texto


constitucional.

Jorge Miranda observou, com precoce acuidade, que qualquer teoria acerca da
inconstitucionalidade das normas deveria partir de uma das três perspectivas a de
ser:

a) A Constituição uma norma fundamental;


b) A da validade das normas que derivam da Constituição; e, finalmente,
3
Não são susceptíveis de apreciação quanto à sua constitucionalidade os actos de entidades
privadas vinculadas ao cumprimento da Constituição, mas apenas os actos ou omissões dos órgãos
do poder político.
A fiscalização da constitucionalidade pode fazer-se tanto quanto a actos normativos anteriores como
posteriores à Constituição em vigor. Pode fazer-se quanto aos aspectos formal e orgânico, pela
anterior Constituição (principio tempus regit actum).
3
c) A ineficácia das normas contrárias ao texto constitucional 4

O fundamento maior da existência de uma Fiscalização de constitucionalidade das


normas é o de permitir a garantia que o texto constitucional oferece e que, por isso,
deve ser mantido íntegro. Essa perspectiva remete ao conteúdo da jurisdição
constitucional que, por sua vez, conduz à existência mesma do Direito Processual
Constitucional, que tem por objecto a defesa do próprio texto constitucional.

1.2. Fiscalização de constitucionalidade

1.2.1. Formas de fiscalização.

Para referir que as formas de Fiscalização podem ser: quanto ao órgão (quem
exercita a Fiscalização); quanto ao modo ou à maneira como se exercita a
Fiscalização e quanto ao momento em que se realiza.

1.2.2. Quem que fiscaliza: forma de fiscalização quanto ao órgão

A Fiscalização pode ser política, jurisdicional ou mista.

A. Fiscalização pode ser político

Será político – como ocorre na França – quando for realizado por órgão político e
não jurisdicional. Observa-se que a Fiscalização de constitucionalidade, realizado
nas Casas Legislativas, como uma fase do respectivo processo, e a possibilidade de
veto a ser oposto pelo Executivo também se enquadram nessa categoria.

B. Fiscalização pode ser Jurisdicional

Será jurisdicional se a Fiscalização for exercido por órgão do Poder Judiciário ou por
Tribunal Constitucional, ainda que considerada fora desse Poder e pode ser difuso
(também chamado americano); e concentrado (denominado também de “austríaco”);
e, finalmente,

4
MIRANDA, 1996, p. 12- 14
4
C. O Fiscalização ser misto.

1.2.3. Como se fiscaliza: o modo de fiscalização

A. fiscalização por via incidental5

Neste a inconstitucionalidade do acto normativo só pode ser invocado no decurso


de uma acção submetida à apreciação dos tribunais. A aquisição da
inconstitucionalidade é levantada, por via de incidente, por ocasião e no decurso de
um processo comum, e é discutida na medida em que seria relevante para a
solução do caso concreto.

Esta fiscalização chama-se também por via de excepção, porque a


inconstitucionalidade não se deduz como alvo da acção, mas apenas como
subsídio da justificação do direito, cuja reivindicação se discute 6.

B. Fiscalização por via principal

É o quanto as questões de inconstitucionalidade podem ser levantadas, a título


principal, mediante processo constitucional autónomo, junto de um Tribunal 7 com
competência para julgar da desconformidade dos actos – sobretudo normativos – de
autoridades públicas. Neste tipo é consentido a certas e determinadas entidades a
impugnação de uma norma inconstitucional, independentemente da existência de
qualquer controvérsia8.

1.2.4. Quem pede a fiscalização: a Legitimidade activa

Legitimidade «ex officio», das partes e de órgãos públicos.

5
Esta fiscalização anda geralmente associado ao controlo difuso. O incidente da inconstitucionalidade
pode suscitar-se em qualquer tribunal para efeitos de desaplicação da norma inconstitucional ao caso
concreto. Mas é incorrecto dizer-se hoje que o controlo por via incidental se identifica com o controlo
difuso. Em Angola, o controlo difuso pode conduzir a um controlo concentrado através do Tribunal
Supremo da sua veste de Tribunal Constitucional.
6
Cfr. Rui Barbosa, Os Actos Inconstitucionais do Congresso e do Executivo, pág. 82.

7
Tribunal Constitucional, entre o Supremo.
8
Entre nós, a última experiência resulta da propositura pelo PR ao Tribunal Supremo da Lei Eleitoral,
para que este Tribunal se pronunciasse sobre a constitucionalidade da disposição relativa à eleição
do PR. Não é menos importante também, a pratica pelos deputados da UNITA e da oposição no geral
que têm pedido ao Tribunal Supremo, na veste de Tribunal Constitucional para que se pronuncie
sobre várias matérias que lhe sejam submetidas para aprovação.
No entanto, o controlo por via principal tanto pode reconduzir-se a um controlo abstracto de leis ou
actos normativos como uma garantia concreta de direitos fundamentais. Este último caso é que se
observa na constituição alemã que lhe chama acção constitucional de defesa e no recurso de amparo
da constituição mexicana e espanhol.
5
CAPÍTULO I .

A FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO.

1.1. Supremacia normativa da Constituição e a garantia da


constitucionalidade

A Constituição é a mais elevada expressão jurídica da soberania do povo e de uma


nação. É o instrumento jurídico mais estável para a conservação do Estado de
Direito Democrático. Daí esta realidade jurídica significar a submissão de todos os
cidadãos e dos próprios titulares dos órgãos do Estado ao Direito, à lei, restaurando,
em última instância, à submissão à Magna Lei. A Grande Carta é a lei fundamental,
o meio mediante o qual uma sociedade se organiza e restringe actos ou exige
prestações estatais, quer prescrevendo direitos, deveres e garantias, querem
conferindo o fundamento de validade de todas as leis e actos normativos.

Neste contexto, e segundo explica o Prof. GOMES CANOTILHO, a constituição


hodierna é “a ordenação sistemática e racional da comunidade política através de
um documento escrito no qual se declaram as liberdades e os direitos e se fixam os
limites do poder político9”. Os preceitos ou normas que a integram, em razão de suas
características e objectivos, acham-se num grau hierárquico supremo em face de
todas as demais normas jurídicas que compõem determinado ordenamento jurídico.
Desta forma, a Constituição encontra-se no ápice do sistema jurídico de qualquer
nação, nela se encontrando a própria estrutura e as normas fundamentais do Estado
que a acolhe.

A supremacia da Constituição é a especial característica que lhe confere


predominância sobre as demais normas jurídicas, subordinando-as aos seus
comandos. É justamente tal qualidade de supremacia que atribui à determinada
norma jurídica a denominação de lei constitucional ou preceito constitucional. Sendo
assim, todas as normas devem adequar-se aos parâmetros constitucionais, sob
pena de resultarem inconstitucionais e não poderem pertencer ao ordenamento
jurídico vigente10. Isto é, o sistema jurídico que se apresenta nessa estrutura
escalonada tendo em seu vértice a Constituição, deve ser coerente e racional.
Qualquer conflito ou contradição que agrida o postulado da primazia da Carta Magna

9
CANOTILHO, José Gomes, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 7.ª edição, Coimbra,
Almedina, 2003, p. 52.
10
O n.º 2 e 3 do artigo 6.º da Constituição da República de Angola de 2010 consagra a prevalência
das normas constitucionais sobre todas as demais normas do nosso ordenamento jurídico
6
viola pelo menos um princípio essencial, o da Supremacia da Constituição,
comprometendo assim a harmonia do ordenamento jurídico. Desde logo, a
compreensão da Constituição como lei fundamental implica o reconhecimento da
supremacia na ordem jurídica, bem como a existência de mecanismos suficientes
para garanti-la juridicamente contra agressões.

Para assegurar tal supremacia, necessário se mostra um controlo sobre as leis e os


actos normativos, o denominado controlo de constitucionalidade. Controlar a
Constituição significa impedir a eficácia de normas contrárias à Constituição e, para
tanto, a defesa da Carta Maior pressupõe a existência de garantias e institutos
destinados a assegurar a observância, a aplicação, a estabilidade e a conservação
das suas normas. A ideia de controlo está intimamente conexionada à de rigidez
constitucional, como é o caso de Angola (artigo 234.º da CRA).

Somente em constituições rígidas, em relação às quais se entende que nenhum acto


normativo delas decorrentes pode modificá-las, é possível verificar-se a
superioridade da norma constitucional em face das demais normas. O controlo de
constitucionalidade é definido como o acto de submeter à verificação de
compatibilidade normas de um determinado ordenamento jurídico com os comandos
do parâmetro constitucional em vigor, formal e materialmente, retirando do sistema
jurídico (tornando nulo ou anulado) aquelas que com elas forem inconciliáveis.

Assim, o controlo de constitucionalidade caracteriza-se como a concretização e um


desenvolvimento do direito constitucional, mediante a fiscalização da observância e
cumprimento das normas e princípios vigentes. Tal assertiva propicia a percepção
de que os actos normativos devem ser subordinados, formal, procedimental, e
substancialmente, ao parâmetro constitucional. Portanto, de nada adiantaria a
existência da soberania constitucional se não fosse realizado um sistema eficiente
de defesa da Constituição, para que ela prevalecesse sempre soberana diante das
leis e de outros actos normativos que eventualmente a contrariasse. Para tal, o
controlo de constitucionalidade é o principal mecanismo, o meio de reacção mais
eficiente nos países de Constituição rígida. Por ele é possível garantir a unidade e
eliminar os factores de desarmonia, que são as leis e actos normativos que se
opõem à lei fundamental, conflituando com os seus princípios e demais normas.
Vale dizer ainda, com o Prof. GOMES CANOTILHO, “à ideia de controlo anda
geralmente associado um pensamento negativo: o juiz ordinário controla a

7
constitucionalidade dos actos normativos, desaplicando as normas eventualmente
não conformes com a constituição; o Tribunal Constitucional «controla» a
legitimidade constitucional, anulando os actos legislativos contrários à lei
fundamental. Se não se pode contestar que o princípio da judicial review reconhece
apenas aos tribunais o poder de constatar a nulidade de uma norma legal contrária à
constituição e desaplica-la no caso concreto, e que o controlo concentrado abastrato
é fundamentalmente uma «legislação negativa» eliminadora das normas não
compatíveis com a constituição, nem por isso se pode deixar de reconhecer
constituir a tarefa de controlo também uma tarefa de concretização e
desenvolvimento constitucional11”. Quais então os sistemas existentes na Teoria
Constitucional para a concretização da garantia da constituição? Existem dois: o
controlo (ou fiscalização) político e o jurisdicional. O controlo da constitucionalidade
define-se pelo comportamento, positivo ou negativo, sujeito a apreciação em face da
Constituição12.

O princípio da supremacia da constituição

O princípio da supremacia da constituição consagra a prevalência das normas


constitucionais sobre todas as outras regras existentes no sistema jurídico, em
virtude de sua superioridade hierárquica constituição.

Não se olvide ainda que a constituição além de reger a confecção das normas
jurídicas, também impõe limites ao seu teor. O operador do Direito deve buscar a
aplicação do direito ao caso concreto, sempre tendo como pressuposto o exame da
constituição. Depois, sim, deve ser consultada a legislação infraconstitucional a
respeito do tema.

O princípio da supremacia constitucional significa encontrar-se a Constituição no


vértice do sistema normativo. Ela é o fundamento de validade de todas as demais
normas, pois estabelece em seu corpo a forma pela qual a normatividade
infraconstitucional será produzida. Todas as demais leis e actos normativos são
hierarquicamente inferiores à Constituição. E se com ela incompatíveis, não têm
lugar no sistema jurídico, por não haver possibilidade de coexistência entre a
Constituição e a norma inconstitucional13.

11
CANOTILHO, José Gomes, Direito Constitucional ob. cit., p. 891.
12
MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional – Inconstitucionalidade e Garantia da
Constituição, Tomo VI, 4.ª edição, Coimbra, Coimbra Editora, 2013
13
NALINI, José Renato. Constituição e estado democrático. São Paulo: FTD, 1998.
8
Com relação à importância de se destacar a superioridade das normas
constitucionais com relação às demais, necessário frisar que:’’a disposição
hierárquica cumpre a importante função de conferir coerência e coesão ao
ordenamento estatal.
A Constituição é o patamar último de determinado ordenamento positivo, com o que
a importância em seu cumprimento se exige com mais intensidade do que aquela
normalmente exigida para os demais textos normativos.
A supremacia das normas constitucionais ainda encontra supedâneo na questão
relativa à rigidez atribuída à Constituição: nada mais é do que a impossibilidade de
mudança das normas constitucionais pelo mesmo procedimento adoptado para
revitalização da legislação de cunho infraconstitucional. Em outras palavras, as
normas que regulam a revisão da Constituição são diversas daquelas previstas para
a revisão da legislação em geral, tendo como principal critério discriminador a
dificuldade, que é mais intensificada com relação às primeiras. Assim se propicia um
maior grau de proteção dessas normas.
Com relação à obediência que deve ser devotada às normas constitucionais, essas
normas limitam os poderes públicos, que só podem agir como e quando elas
determinam, e mais, disciplinam como e por quem vão ser elaboradas as demais
normas.
Esses limites que restringem a acção dos poderes estatais garantem o Estado de
Direito, atuando, principalmente, no que diz respeito aos direitos e garantias
fundamentais. Assim, qualquer norma, seja de direito público, seja de direito privado,
deve estar adequada às normas constitucionais e isto no sentido de não poder
contrariá-las, sob pena de ser declarada inconstitucional pelo Poder Judiciário.
O princípio da supremacia da ordem constitucional consectário da rigidez normativa
que ostentam os preceitos de nossa Constituição impõe ao Poder Judiciário,
qualquer que seja a sede processual, que se recuse a aplicar leis ou actos estatais
reputados em conflito com a Constituição
1.2. A conformidade dos actos jurídico-públicos com a constituição
A função da justiça constitucional em controlar o bom funcionamento dos poderes
públicos e de suas respectivas competências.
Este bom funcionamento para J.J.Gomes Canotilho é feito através da conformação
do que é efectivado na prática do agir institucional com o dado como forma pela

9
Constituição, ou seja, a Constituição é uma lei proeminente que comforma o
Estado14.
O doutrinador Oswaldo Luiz Palu é enfático ao dispor sobre o controle jurisdicional
dos actos do Poder Executivo, lembrando que tal controle recebe a denominação de
controle de conformidade constitucional15.
O controlo de conformidade abrange actos outros que não a lei formal e funda-se
nas leis e também na Constituição. Sua conseqüência não é a
insconstitucionalidade, mas a desconformidade constitucional, muito mais que
simples legalidade. Atinge inclusive os actos de governo, actos normativos que não
são leis, actos de efeito concreto e as omissões estatais.
Assim dirige-se à:
a) omissão governamental ou administrativa;
b) o poder regulamentar “autônomo”; e
c) a execução das leis pelo governo”.

1.3. Os diferentes sistemas de fiscalização 

1.3.1. O Modelo Inglês

Na Inglaterra, exemplo de democracia consolidada, de delineamentos


constitucionalidade. O que prepondera, no sistema inglês, até pela própria
essencialidade do Direito adoptado, sem Constituição escrita, não é a supremacia
da Constituição, mas a preeminência do Parlamento.

A explicação para a falta de fiscalização judicial de constitucionalidade à


semelhança das Constituições escritas, formais e rígidas. A Constituição Clèmerson
Merlin Clève, sobre a temática, acentua que “se a vontade do Parlamento,
expressada pela maioria, é ilimitada, inexistindo constituição escrita na Inglaterra,
então não há lugar para a instituição de um mecanismo 16´

Ressaltando os traços do Direito Inglês em sede de constitucionalismo, Mauro


Cappelletti, na sua Fiscalização Judicial de Constitucionalidade, inseriu: “O
Parlamento pode fazer tudo excepto transformar a mulher em homem ou vice-
versa17”.
14
CANOTILHO, José Gomes, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 7.ª edição, Coimbra,
Almedina, 2003, p. 52.
15

16

17
CAPPELLETTI, Mauro. Controle Judicial de Constitucionalidade das Leis no Direito
Comparado.
10
1.3.2. O modelo francês - fiscalização política, comitè constitucional e
conselho constitucional.

No tríplice conceito de inconstitucionalidade, entelhado por Ernst Freund, de três


tipos são O tipo inglês, caracterizado pela ausência de constituição escrita e
supremacia do Parlamento. O tipo francês, ou a fiscalização política e o tipo
americano, de revisão judicial, fiscalização jurisdicional dos actos do parlamento.

No primeiro, a inconstitucionalidade não tem conteúdo. No segundo, revela uma


censura. No terceiro, a consequência da inconstitucionalidade declarada é a
nulidade do acto normativo afrontoso.

O modelo francês, pós-revolucionário, plantado na rigidez da separação dos


poderes, constitui o tipo intermédio. Em França, o Poder Judiciário 1789, não podia
interferir nos chamados negócios de Estado. A correção de abusos e ilegalidades do
Executivo era cometida ao Conselho de Estado, cabendo ao Poder Judiciário, tão-
somente, em exercício de jurisdição ordinária, aplicar a lei.

O modelo francês, do tipo continental, adopta uma fiscalização de


constitucionalidade política, não judicial. Primeiro com o Conselho de Estado, depois
com a instituição do Comitê Constitucional, pela Constituição de 1946, e desde
1958, tal mister passou para o Conselho Constitucional.

O jure constitutionnaire de Sieyès, sugestão de mecanismo de política, apesar da


distinção que empreendeu entre poder constituinte e poder constituído. O poder
constituinte não deve nenhuma obediência à ordem jurídica anterior. Todavia, não a
deixa totalmente livre, posto que acima dele, entronou o direito natural, como um
verdadeiro supradireito18.

Na França, segundo consistente lição do professor José Alfredo de Oliveira Baracho,


“o problema da constitucionalidade surge com intensidade no período revolucionário.
O projecto mais bem elaborado e mais complexo é de Sieyès. O órgão denominado
Senado seria uma espécie de poder moderador que preveniria ou reprimiria todos os
abusos de autoridade. Seria organizado para assegurar a todos os indivíduos
perfeita igualdade de proteção por parte da ordem social, isto é, de todas as leis e
de todas as instituições nacionais. As discussões a respeito das Constituições, ali

Sérgio Antonio Fabris Editor, 1984, p. 53


18

11
surgidas, enfrentaram, assim, as questões referentes à constitucionalidade das leis.
Chegou-se até a falar em corte constitucional”.

Como já aludido, o Sistema francês contempla a fiscalização de constitucionalidade


das leis, mas com feição não jurisdicional. Fiscalização política, fora do Poder
Judiciário.

Clèmerson Merlin Clève, escrevendo sobre a forma de fiscalização adoptada pelo


Direito francês, assinala que: “somente com a Constituição de 1958 o País passou a
experimentar uma autêntica fiscalização de constitucionalidade das leis. Embora o
Conselho Constitucional seja dotado de caráter político, não função jurisdicional, ele
foi organizado de modo a alcançar uma importância, hoje, pouco contestada no
quadro das instituições francesas. Sua atuação, por outro lado, vem permitindo a
emergência de uma respeitabilidade sem precedentes no meio jurídico e político
francês19.

1.3.3. O modelo austríaco de fiscalização - concepção kelseniana

O Sistema austríaco, implantado pelo Constituição de 1920, e aperfeiçoado na


Reforma de 1929, é tipicamente concentrado. Tal aspecto o distingue do judicial
review norte-americano. A competência de fiscalização é atribuída e reservada a
um único órgão, com função constitucional autônoma.

Na verdade, o órgão a quem é cometida a função de fiscalização não exerce


actividade judicial estricta, posto que não julga em decorrência de negativa. Gomes
Canotilho, ao tratar dos modelos de justiça constitucional, esclarece que “o juízo
acerca da compatibilidade ou incompatibilidade de uma lei ou norma com a
Constituição não se discutiria qualquer caso concreto (reservado a apreciação do
tribunal a quo) nem se desenvolveria uma atividade judicial 20”.

O modelo de fiscalização adotado pelo Direito austríaco, autônomo e concentrado,


inspirou-se na doutrina de Hans Kelsen. A partir da Constituição da Áustria, foi
concebida outra função de jurisdição. Fala-se em jurisdição constitucional. Conforme
acentuado por Canotilho, emérito constitucionalista lusitano, “a concepção
kelseniana diverge substancialmente do judicial review americano: a fiscalização
constitucional não é propriamente jurisdicional pode – se concretizar como função de
legislação negativa”.
19
CLÈVE, Clèmerson Merlin
20
CANOTILHO Gomes JJ, Teoria da constituição,
12
A doutrina de Kelsen, que serviu de suporte para a inscrição do sistema de
fiscalização autônomo, acomoda-se com os seguintes postulados: a lei
inconstitucional não é nula, mas anulável, e vigora até a declaração. A função de
fiscalização da constitucionalidade não é própria do Poder Judiciário, mas função
comparável à função legislativa. Necessidade de criação de um tribunal
constitucional para o exercício do mister. A revogação de uma lei pode se dar pelo
princípio lex derogat priori, e em razão da fiscalização.

tituição. A norma constitucional é fundamento de validade das demais que compõem


o ordenamento.

1.3.4. Fiscalização autônoma - modelo alemão.

As concepções de Kelsen, mormente quanto à necessidade de criação de uma


Corte com competência em matéria constitucional, fiscalização de validade das
normas ordinárias frente às normas constitucionais.

O Tribunal Federal Constitucional Alemão não faz parte da chamada jurisdição


ordinária. Introduzido pela Lei Fundamental, a competência do referido órgão
jurisdicional circunscreve-se às questões constitucionais, seja as advindas de
provocação para exame em tese, fiscalização abstrata, seja as decorrentes de casos
concretos, via recurso constitucional.

A Corte Constitucional não é uma instância de julgamento do complexo das


jurisdições ordinárias, conforme conclui Gilmar Ferreira Martins. Leciona o citado
autor: “Ao revés, desempenha uma função especial - a jurisdição constitucional. Ele
não actua como uma instância de revisão ou como um tribunal ou um super tribunal
de revisão, destinado a examinar a legitimidade dos julgados de tribunais
inferiores21.

Aspecto de relevo vem à lume, através da doutrina do mestre José Alfredo de


Oliveira Baracho, o qual esclarece: “A lei que regula o Tribunal Constitucional
Federal preceitua, como condição de sua utilização, a existência de lesão dos
direitos fundamentais, acarretada pelo poder público. Esta circunstância determina a
possibilidade processual de provocação do Tribunal Constitucional Federal. A
expressão poder público compreende o Legislativo, o Judiciário e a Administração
Pública.

21
MARTINS, Gilmar Ferreira. Jurisdição Constitucional. Saraiva, 2. ed. 1988, p. 14
13
A Corte Constitucional alemã, órgão proeminente, e desta forma tratado pela Lei
Fundamental, exerce papel político de relevo. O professor Baracho, citando Wilhelm
Buerstedde, acerca do papel da Corte, alinhou suas competências, como segue:

a) “Competência quase penal, que permite à Corte sancionar as omissões,


quanto às regras constitucionais;
b) Os poderes de jurisdição constitucional stricto sensu, ou poder de
interpretação autêntica, por ocasião de divergência de opiniões entre os
órgãos constitucionais e a fiscalização abstrata das normas;
c) A fiscalização judiciária da constitucionalidade das leis, por requerimento de
um tribunal, por ocasião de um processo colocado diante dele, conforme a
expressão alemã, acarreta o fiscalização concreta das normas;
d) A garantia dos direitos fundamentais, contra os atentados causados por atos,
de qualquer dos poderes públicos, efetua-se por meio de requerimento
dirigido à Corte, por um simples cidadão e, em certos casos, a pedido dos
comuns, por meio do recurso constitucional;
e) A competência consultiva e avisos jurídicos da Corte”.

1.3.5. O Modelo Português

O Sistema português de fiscalização de constitucionalidade dos actos normativos


frente à Constituição é do tipo mista ou complexa. Há a fiscalização concentrada, a
cargo do Tribunal Constitucional, pela via directa, e a fiscalização difusa, incidental
ou por exceção, desenvolvido por qualquer órgão jurisdicional, diante de caso
concreto submetido a julgamento.

Na realidade, e assim esclarece Gomes Canotilho, “No actual sistema jurídico


português, todos os tribunais, sem excepção, são órgãos da Justiça
Constitucional22”.

A jurisdição constitucional provocada pela via directa, fiscalização abstrata e


concentrada, é função do Tribunal Constitucional, órgão de soberania, com
competência para administrar a justiça, em nome do povo (artigo 202 da
Constituição da República Portuguesa). O artigo 221, do mesmo diploma, sua
natureza de órgão jurisdicional, incumbido de administrar a justiça, mormente em
matéria de cunho jurídico e constitucional.

22
CANOTINHO Gomes, op. cit
14
Interessante registrar, além de oportuno, que a fiscalização difusa adoptada pela
República Portuguesa tem base no próprio texto da Carta Magna, onde, sobre a
apreciação da inconstitucionalidade, concretiza o artigo 204, da CRP: “Nos feitos
submetidos a julgamento não podem os Tribunais aplicar normas que infrinjam o
disposto na Constituição ou os princípios nela consignados”.

É a consagração da supremacia da Constituição, normas fundamentais

1.4. Critério de fiscalização

1.4.1. Fiscalização jurisdicional da constitucionalidade (modelo difuso e


concentrado).

A. Introdução

Como assinalou Jorge Miranda, com propriedade, essa fiscalização – que


denominou de “modelo judicialista” – baseia-se no poder normal que o juiz tem de
recusar a aplicação de leis inconstitucionais às lides que tenha de dirimir 23. Para
muitos, somente esse tipo de fiscalização oferece ao magistrado a plena dignidade
de órgãos de soberania, por atribuírem ao juiz o importante papel de cumprir, antes
de tudo, a Constituição, definindo-se a questão da inconstitucionalidade como uma
questão jurídica.

Não se pode desvincular, porém, o papel político exercido com essa fiscalização,
porque o magistrado recusa a aplicação de uma lei, na apreciação do caso concreto,
porque o fundamento de validade dessa norma é o próprio texto constitucional que,
por sua vez, se apresenta como fundamento do poder político, substancial e formal,
de todos e de cada um dos actos de seus órgãos 24.

O sistema apresenta inconvenientes, sendo o mais grave o de permitir decisões


contraditórias25.
23
MIRANDA, 1996a, p. 382
24
25 Nesse sentido, Jorge de Miranda (1996a, p. 362). Como se reconhece, resulta do clássico
pronunciamento do Chief of Justice John Marshall, quando, em 1803, sob a égide do art. 6º, cláusula
2ª da Constituição Federal americanade 1787, proclamou, no célebre caso Marbury/Madison:
principle, supposed to be essential to all written constitutions, that a law repugnant tothe constitution is
void, and that courts, as well as other departments, are bound by that instrument. (CAPPELLETTI,
1984, p. 63).
25
Mauro Cappelletti refere-se a esses inconvenientes ao assinalar que a introdução do sistema difuso
em países sem essa tradição [...] levaria à consequência de uma mesma lei ou disposição de lei
poderia não se aplicada, porque julgada inconstitucional, por alguns juízes, enquanto poderia, ao
invés ser aplicada, porque não julgada em contraste com a Constituição, por outros, insistindo que
esse comportamento forma verdadeiros contrastes de tendências, para concluir com a observação de
que a consequência extremamente perigosa, de tudo isso, poderia ser uma grave situação de conflito
entre os órgãos e de incerteza do direito, situação perniciosa quer para os indivíduos como para a
15
B. Características

Essa fiscalização apresenta as seguintes características:

a. O objecto da acção é a satisfação de um direito individual ou colectivo.


b. A inconstitucionalidade do acto legislativo ou normativo é arguida
incidentalmente [incidentur tantum] por qualquer uma (das partes, autor ou réu
(via incidental ou de defesa). Pelo autor, pode ser arguida em sede de
mandado de segurança, habeas corpus ou qualquer outra acção. Pelo réu, em
sua defesa judicial.
c. A questão pode ser arguida perante qualquer juiz ou tribunal (controle difuso).
Dessa forma, pela via difusa, há possibilidade de decisões conflituosas,
conforme o entendimento de cada órgão judicial.
d. A decisão produz efeitos inter partes. Só vincula e produz coisa julgada para as
partes da relação processual.
e. A questão só pode ser arguida pelo titular do direito individual ou colectivo.

a. Legitimidade a suscitar essa fiscalização

Embora a fiscalização incidental houvesse sido provocado apenas pelo réu, o que
deu origem a denominá-lo “fiscalização por via de excepção”, que corresponde à
defesa, também é reconhecido ao autor quando vem postular, em seu pedido inicial
ou em momento posterior, a declaração de inconstitucionalidade de uma norma,
para que não tenha de se sujeitar a seus efeitos.

Por fim, também o Ministério Público, quer funcione como parte, quer funcione como
custos legis, bem como terceiros que tenham intervindo legitimamente (assistente,
litisconsorte, o poente) e, ainda, o juiz ou o tribunal de ofício, quando as partes
tenham silenciado a respeito.

b. Processo em que cabe suscitar-se a fiscalização.

A questão incidental de inconstitucionalidade da lei pode ser levantada em


processos de qualquer natureza: conhecimento, execução ou cautelar. O que se
exige é que haja, no processo, um conflito de interesses, uma pretensão resistida,
um acto concreto de autoridade ou a ameaça de que venha a ser praticado.
Importante ressaltar, porém, que é uma fiscalização incidental de

colectividade e o Estado. (CAPPELLETTI, 1984, p. 77-78)

16
inconstitucionalidade que somente pode operar na tutela de uma pretensão
subjectiva.

O objecto do pedido não pode ser um ataque frontal à lei, que acontece principal
eter, mas a protecção de um direito que seria afectado pela aplicação de uma lei
reputada inconstitucional e, portanto, de cognição incidenter tantum.

A arguição de inconstitucionalidade, portanto, pode se dar em acção de rito


ordinário, sumário, especial, em acção constitucional 26.

A. Normas objecto da fiscalização

Essa fiscalização pode ser exercido em respeito às normas emanadas de qualquer


nível de poder, inclusive às normas anteriores à Constituição – o que não é possível
pela via abstracta/concentrada, com excepção da Acção de Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental.

B. Questão prejudicial

Como já se disse, não se promove, na fiscalização difusa, uma arguição direita de


inconstitucionalidade da lei. Não se pede, pois, objectivamente, como pedido
próprio, específico, da acção, que se declare inconstitucional. Postula-se um direito
que somente poderá ser atendido se se afastar a incidência de uma norma, reputada
inconstitucional. Diz-se então que o órgão julgador necessitará formar um juízo
prévio sobre a constitucionalidade da lei, ainda que incidentalmente. O exame da
questão de inconstitucionalidade da lei dá-se, pois, como uma questão prejudicial,
isto é, como uma questão decidida previamente, como pressupostos lógicos e
indispensáveis para a solução da questão principal. A esse respeito, a que distinguir
a prejudicialidade lógica da prejudicialidade jurídica.

Somente existirá prejudicialidade jurídica se a questão prejudicial puder ser


objecto de um processo independente 27. Penso que, a questão prejudicial de
inconstitucionalidade se revela como questão prejudicial jurídica, porque não há
nada que impeça que a alegação incidental de inconstitucionalidade não possa ser
suscitada por meio de uma acção directa de inconstitucionalidade, mediante pedido
próprio específico ou, dito de outro modo, pela via principal.

26
Art. 2º da Lei 3/08 de 17 de Agosto, Lei orgânica do processo constitucional ‘’LOPC’’
27
Mauro Cappelletti (1972, p. 12).
17
1.4.2. Fiscalização jurisdicional da constitucionalidade (modelo
abstracto/concentrado)

A. Características

As características gerais da fiscalização de constitucionalidade


abstracta/concentrada, também denominada, entre nós, de “ fiscalização de
constitucionalidade por via de acção directa”, que acaba por ser uma de suas
características mais marcantes, ou seja, a fiscalização somente é exercido por uma
acção própria, directa.

As características da fiscalização abstracta são as seguintes: pronunciamento em


abstracto da validade da norma; julgamento de uma questão principal; exercício de
uma fiscalização concentrado; competência para o processo e julgamento;
legitimação para figurar na relação processual; e, finalmente, o objecto da acção.

c. Pronunciamento em abstracto

Essa característica diz respeito a que essa fiscalização, ao contrário do que


acontece com a fiscalização difusa, de natureza incidental, se revela como uma
fiscalização directo. Nesse caso – explica, então – impugna-se perante determinado
tribunal uma lei, que poder perder sua validade constitucional e consequentemente
ser anulada erga omnes (com relação a todos) 28..

d. Julgamento de uma questão principal

Diferentemente da fiscalização difusa, com quem sempre será comparado, a


fiscalização abstracta/concentrada não se pronuncia sobre uma questão prejudicial.
A questão prejudicial é aquela que se põe como antecedente lógico necessário e
indispensável na apreciação de outra questão que se tem por principaleter.

O juiz a terá de – no juízo lógico que desenvolve –, necessária e de modo


indispensável, apreciar a questão de inconstitucionalidade para decidir sobre a
questão de direito material posta à sua apreciação 29.

Aponta – se como característica fundamental a de que ela se apresenta em


determinado juízo como uma questão secundária, muito embora possa transformar-
se em uma questão principaleter em outro processo, tendo em vista que, no

28
BONAVIDES Paulo, 2008, p. 307
29
MOREIRA, 1967, p. 54
18
processo em que atua como questão prejudicial, ela não integra o thema
decidendum30.

No processo de fiscalização abstracta/concentrada de constitucionalidade, a alegada


inconstitucionalidade da norma é a questão mesma do processo, apreciada como
thema decidendum, ou seja, examinada e decidida principaleter, como questão
principal.

B. Exercício de uma fiscalização

Concentrado Por exercer-se uma fiscalização atribuída a um órgão específico, que


pode ou não integrar o Poder Judiciário, diz-se que se trata de um fiscalização
concentrada. Essa fiscalização é concentrado porque, ele é exercido pelo Tribunal
Constitucional.

a. Competência para julgamento

Prosseguindo na síntese do pensamento do autor acima mencionado, tem-se que,


no sistema angolano, a fiscalização de constitucionalidade abstracta/concentrada é
atribuída, constitucionalmente, ao tribunal constitucional no que se entende como
inconstitucionalidade de leis ou actos normativos art.16º LOPC.

b. Legitimação para a acção

Como já se acentuou, a construção do processo constitucional não foi desprovida de


dificuldades, tendo em vista que se procurou adaptar os institutos criados pelo
processo civil comum, que prefiro denominar de “clássico”, e, sobretudo, que o
processo jurisdicional da fiscalização de constitucionalidade é um processo
objectivo, isto é, um processo sem partes. Como a legitimação se apresenta como
uma das condições da acção que decorre da particular situação do titular de um
direito subjectivo, o que não acontece com o processo constitucional de fiscalização
de constitucionalidade, tornou-se imperioso construir-se uma legitimação própria,
específica, para as acções destinadas a fiscalização de constitucionalidade.

Assim é que se tem ressaltado que a disciplina do processo objectivo com institutos
próprios do processo civil clássico, que tem por objecto a tutela do direito subjectivo,
imperiosamente deve ser feita cum grano salis. A legitimação passiva – contra quem
se deverá propor a acção destinada a fiscalização de constitucionalidade – recai
sobre os órgãos ou autoridades responsáveis pela criação da lei ou do acto
30
CAPPELLETTI, 1972, p. 34
19
normativo, objecto da acção, aos quais caberá prestar informações ao relator do
processo.

Em respeito à legitimação activa, reconhece-se que se operou profunda


transformação no trato da jurisdição constitucional em nosso País, por haver-se
alargado o rol de legitimados à propositura da acção, com a definitiva quebra do
monopólio do procurador-geral da República..

c. Objecto da acção

O objecto da acção destinada a fiscalização abstracta/concentrada de


constitucionalidade é a lei ou o acto normativo. Inclui-se, nessa rubrica, uma série de
actos que forma a multiplicidade normativa angolana, sobre a qual não se discorrerá
– emenda constitucional, lei complementar, lei ordinária, decretos executivos e
resoluções, decretos Lei, tratados internacionais, descabendo, no entanto, o
exercício da fiscalização de constitucionalidade por essa via, em respeito aos actos
normativos secundários, às leis e actos de efeitos concretos, às leis anteriores à
Constituição, às leis que já tenham sido revogadas.

CAPÍTULO II .

O TRIBUNAL CONSTITUCIONAL.

2.1. Composição e Definição

2.1.1. Definição

“O Tribunal Constitucional é o órgão de soberania, ao qual compete, especialmente


administrar a justiça em matéria de natureza-jurídico constitucional 31”. Na vigência da
31
Art. 180, nº1, da CRA.
20
Constituição de 1991, Câmara Constitucional, do Tribunal Supremo, era definido
“órgão de competência especializada no domínio das questões jurídico-
constitucionais”, destacando-se, com a aprovação da Constituição de 2010,
fundamentalmente, o poder de “administrar justiça”, qualificando-o como órgão com
função jurisdicional, embora distinto dos órgãos judiciais, porque não se acha
integrado no rol dos tribunais enunciados no art. 176 da CRA 32. Daqui decorre que, o
Tribunal Constitucional, independentemente da terminologia adoptada pelo
legislador constituinte, é um verdadeiro Tribunal supremo e exerce competências
judiciais33, que “exerce a função jurisdicional do Estado 34” porquanto, “tal deve-se,
justamente, à adstrição às normas jurídicas, à necessária fundamentação das
decisões, à garantia de independência e isenção dos seus juízes 35”. Para reforçar o
entendimento segundo o qual o Tribunal Constitucional é um tribunal supremo, basta
verificar, pelas alíneas h), j) e l), do art. 16º da Lei nº2/08 de 17 de Junho, que a este
órgão compete “julgar acções”, expressões que, quanto a nós, revela que estamos
em presença de órgão jurisdicional por excelência, criado para administrar justiça
em matéria jurídico-constitucional. E mais, revestindo as suas decisões a
designação de “acórdãos” e “deliberações” (art. 7 da Lei nº2/08) é inegável que
estamos em presença de designação própria das decisões dos tribunais da ordem
judiciais.

2.1.2. Composição.

A Constituição, no artigo 180º nº3, define as regras gerais da composição do


Tribunal Constitucional.

O Tribunal Constitucional é composto por onze juízes, dos quais:

1) quatro juízes conselheiros indicado pelo Presidente da República incluindo o


presidente do tribunal,
2) quatro juízes conselheiros eleitos por maioria qualificada de 2/3 dos
deputados em efectividade de funções incluindo o vice presidente.
3) dois juizes eleitos pelo conselho superior da magistratura judicial
4) um juiz selectionado pelo concurso público.

32
GOUVEIA, Jorge Bacelar, Direito Constitucional de Moçambique, Editora IDiLP, Lisboa/Maputo,
2015, p. 533.
33
Idem.
34
MIRANDA, Jorge e MEDEIROS, Rui, Constituição Portuguesa Anotada, Tomo III, Coimbra Editora,
2007, p. 250
35
Idem
21
As regras constitucionais sobre a composição do Tribunal Constitucional e o estatuto
dos juízes são, depois, pormenorizados na Lei Orgânica do Tribunal, em termos dos
quais se destacam os seguintes:

Os candidatos a juízes têm de ser cidadãos angolanos no pleno gozo dos seus
direitos civis e políticos com idade não inferior a 35 anos e deve ser pelo menos
licenciados em direito.(artigo 12º, LOTC);

Os juízes do Tribunal Constitucional são independentes e inamovíveis, não podendo


as suas funções cessar antes do termo do mandato para que foram designados,
excepto nos casos previstos no artigo 34º LOTC (morte, impossibilidade física
permanente, renúncia, aceitação de lugar ou prática de acto legalmente incompatível
com o exercício das suas funções, demissão ou aposentação compulsiva, em
consequência de processo disciplinar ou criminal);

1) Os juízes do Tribunal Constitucional não podem ser responsabilizados


pelas suas decisões, excepto nos termos e limites em que o são os juízes
dos tribunais judiciais (artigo 35º LOTC);
2) Os juízes do Tribunal Constitucional são responsabilizados civil e
criminalmente segundo as “normas que regulam a efectivação da
responsabilidade civil e criminal dos juízes do Supremo Tribunal de
Justiça”,

O exercício de funções como juiz do Tribunal Constitucional é incompatível com o


exercício de qualquer cargo ou função de natureza pública ou privada e, em
especial, é incompatível com o exercício de funções em órgãos de soberania ou do
poder local (LOTC, artigo 36º, nº 1).

Os juízes do Tribunal Constitucional estão impedidos de exercer quaisquer funções


em órgãos de partidos, de associações políticas ou de funções com eles conexas, e
de desenvolver actividades político-partidárias de carácter público (artigo 36º, nº 2,
Durante o exercício do cargo, suspende-se o estatuto decorrente da filiação em
partidos ou associações políticas (artigo 36º, nº 2, LOTC).

2.2. Organização e funcionamento.

2.2.1. Generalidade sobre o funcionamento do Tribunal Constitucional

O art.45º, da Lei nº2/08, de 17 de Junho, que aprova a Lei Orgânica do Tribunal


Constitucional (LOTC), estabelece que o Tribunal Constitucional funciona, em
22
sessões do Plenário dos Juízes e em sessões dos juízes de Câmaras, podendo
reunir-se ordinariamente segundo a periodicidade a definir no regulamento interno e
extraordinariamente sempre que o seu Presidente o convocar, por iniciativa própria
ou a requerimento, pelo menos, de dois dos juízes 36. Fica, assim, descartada a
possibilidade do Tribunal Constitucional funcionar em secções especializadas,
mesmo quando seja para decidir sobre questões simples, entendidas como aquelas
que já foram objecto de tratamentos anteriores, cuja jurisprudência é,
manifestamente assente.

O Tribunal Constitucional só pode reunir-se estando presente, a maioria dos seus


membros em efectividade de funções, incluindo o Presidente ou o seu substituto,
pressupondo que a validade dos acórdãos e deliberações depende da formação de
um quórum de, pelo menos, seis juízes, incluindo o presidente do Tribunal
Constitucional.

Esta forma de funcionamento, limitando as matérias ao crivo da plenária do Tribunal


Constitucional pode constituir em situações de denegação de justiça, dada a
impossibilidade de interposição de recurso das decisões do órgão, quer sobre o
fundo, quer sobre questões de ordem adjectiva. Quer nos parecer que o legislador
quis vedar a possibilidade de criação de secções de modo a que os julgamentos
decorram em plenário por se considerar necessária à uniformização da
jurisprudência, evitando-se, por conseguinte, divergências de julgados. “É esta uma
solução de economia e celeridade processual possível 37”.

Daqui decorre que, a adopção do funcionamento do Tribunal Constitucional em


plenário constitui uma regra que não comporta qualquer excepção quanto à
possibilidade de impugnação das decisões deste órgão fiscalizador da
constitucionalidade e legalidade dos actos normativos.

Afasta-se, pois, a possibilidade de funcionamento especializado de secções em


razão das matérias e, consequentemente, exclui-se expressamente de

36
O direito constitucional português (art. 224, nº2) prevê que o Tribunal Constitucional possa
funcionar em sessões plenárias (na presença de todos os juízes conselheiros) ou em secções,
compostas por quatro juízes e um presidente ou vicepresidente, excepto para efeito de fiscalização
abstracta da constitucionalidade. Esta possibilidade de funcionamento também ocorre no Supremo
Tribunal Federal brasileiro, a quem compete, “precipuamente, a guarda da Constituição, competindo-
lhe julgar, originariamente a acção directa de constitucionalidade da lei ou de acto normativo federal
ou estadual, sob forma de lei (art. 102, I, a) e § 1º da Constituição brasileira)
37
MIRANDA, Jorge e MEDEIROS, Rui, Constituição Portuguesa Anotada, Tomo III, Coimbra Editora,
2007, p. 268.
23
susceptibilidade de recorrer-se das suas decisões que já foram emanadas, em 1ª,
única e última instância pelo plenário, órgão de garantia da justiça constitucional
angolana, no que concerne à própria garantia, direitos e liberdades fundamentais.

2.2.2. O Consensualismo e (in)falibilidade das decisões do T. Constitucional.

Os acórdãos do Tribunal Constitucional são, em regra, tomadas por consenso dos


juízes conselheiros e, faltando tal consentimento, pela pluralidade dos juízes, não
inferior a maioria dos juízes em efectividade de funções, incluindo o Presidente,
como condição para a validade das deliberações – artigos 47 nºs 1, 2 e 3 da LOTC.

Como se pode constatar, o consensualismo é a regra que permite que as


deliberações e acórdãos do TC possam ser livremente acolhidas pelos seus
destinatários, legitimando, quiçá, o conteúdo uniformemente acolhido pelos juízes
conselheiros que a lavraram.

O princípio do consensualismo dos acórdãos e deliberações do Conselho


Constitucional não é absoluto e, como tal, não significa falta de divergência entre os
juízes, tal como, aliás, é admitido pelas normas acima mencionadas, na medida em
que, faltando consenso, a sua validade é dependente de aprovação de, pelo menos,
seis juízes conselheiros. Assim, “a adopção duma decisão tem sido precedida de um
amplo debate, que, sem, prejuízo de respeitar os prazos processuais, dura o tempo
necessário para alcançar consenso.

No debate, cada Juiz tem a possibilidade de manifestar livremente opiniões pessoais


sobre as questões objecto de decisão, as quais podem não coincidir com as
opiniões dos demais colegas. Mesmo assim ainda se consegue alcançar o
consenso, através de um esforço de conciliação38”.

Parece-nos que o esforço tendente à conciliação tem a ver com a premência de


tornar a decisão do órgão constitucional irrecorrível, aproximando-o, cada vez mais,
aos interesses das partes (face ao princípio do pedido que norteiam as acções
constitucionais). Mas, tal não deve significar a infalibilidade das decisões, mormente
porque o ser humano está sujeito a falhas, a erros pela sua natureza imperfeita.
Como já se fez referência, o Tribunal Constitucional é composto por onze juízes
conselheiros juristas, dos quais apenas dois, que são designados pelo Conselho
Superior da Magistratura Judicial, e que são magistrados judiciais de carreira. Os

38

24
demais juristas apesar de possuírem experiências académicas na área de docência
ou exercícios forenses ou mesmo sem experiência, pois, a lei não fez da experiência
professional requisitos para nomeação, não nos parece que possuam um notável
saber inquestionável em matéria jurídico-constitucionais.

Aliás, note-se que a designação dos membros do TC é feita pela confiança política e
em respeito à representação proporcional parlamentar a quem representam. É
inquestionável que as decisões colegiais visam garantir certa coerência e segurança
jurídica, mas não se pode ignorar, em absoluto, a possibilidade de sujeição a falhas
no exercício da actividade interpretativa. E mais, inexiste, até ao pressente
momento, regras de apuramento do magistrado judicial designado pelo Conselho
Superior da Magistratura Judicial para compor o TC, que, embora seja juiz de
carreira, o único requisito constitucionalmente exigido é a sua experiência alcançada
durante dez anos de exercício na judicatura.

Esta designação desacompanhada de critérios rigorosos e claros conduz ao risco de


optar se pela indicação de magistrados judiciais cuja reputação e elevado saber
jurídico sejam questionáveis39, suscitando-se, por isso, dúvidas sobre a infalibilidade
das decisões do Tribunal Constitucional. É, portanto, previsível que os Juízes
Conselheiros do TC possam sujeitar-se a erros de interpretação, algo que não é
contrária à natureza humana, daí que, é necessária a possibilidade de revisão das
suas decisões.

2.2.3. A declaração de voto.

Quando um ou vários juízes conselheiros discordam de uma decisão tomada por


maioria, ou quando concordem com a decisão, mas com base numa fundamentação
diferente da expressa no acórdão, podem fazer juntar ao texto da decisão uma
declaração onde expõem e justificam a sua posição – esta manifestação é
designada declaração de voto discordante ou vencido. Assim, “os juízes dos
tribunais colectivos podem votar de vencido relativamente à decisão ou seus
fundamentos, ficando o seu voto lavrado no respectivo acórdão após as
assinaturas40”, sempre que não se alcance consenso sobre os fundamentos ou a
decisão objecto de discórdia. Não faltam casos de juízes que discordam da posição
maioritária, podendo exercer o direito de lavrar voto vencido fundamentado, como

39

40
PRATA, Ana, Dicionário jurídico, 5ª ed., Almedina, 2013, p. 1543.
25
corolário da independência dos juízes conselheiros do Tribunal Constitucional – art.
47, nº4 da LOTC. Entretanto, mais do que uma manifestação de independência do
juiz constitucional, trata-se de uma questão mais ampla e profunda do papel da
jurisdição constitucional, entanto que órgão de soberania, ao qual compete
especialmente administrar justiça em matérias de natureza jurídico-constitucionais –
art. 180 nº1 da CRA de 2010 – que, na interpretação e aplicação das normas
constitucionais, abdicam do consensualismo para expressar uma posição mais
consentânea com o direito aplicável ao caso. Em se tratando de um órgão com
função jurisdicional, o esforço pela conciliação para o alcance de consenso das
decisões, limita a independência do juiz que, pretendendo fazer a demonstração
jurídica do seu ponto de vista, pode sentir-se coartado.

2.3. Competências principais: A fiscalização normativa

2.3.1. Noção e espécies

A competência de fiscalização da constitucionalidade de normas pelo Tribunal


Constitucional encontra- se regulada na Constituição e na Lei do Tribunal
Constitucional (LOTC). Esta competência é muito diversificada e completa,
abrangendo a fiscalização preventiva, a fiscalização abstracta sucessiva, a
fiscalização concreta e, finalmente, o fiscalização da inconstitucionalidade por
omissão. Além da fiscalização de constitucionalidade, prevê-se ainda a fiscalização
de certas formas de ilegalidade qualificada. Assim:

1. A fiscalização preventiva da constitucionalidade (CRA, artigo 180º b)) incide


sobre normas constantes de convenções internacionais que o Estado angolano
vá subscrever ou de decretos a ser promulgados como leis ou como Decretos-
Lei,
2. A fiscalização abstracta sucessiva da constitucionalidade (CRA, artigo 180º
c)) incide sobre todas e quaisquer normas do ordenamento jurídico,
3. A fiscalização concreto (CRA, artigo 180º) reveste, essencialmente, duas
grandes modalidades:
a) Os recursos das decisões dos tribunais que recusem a aplicação de normas
com fundamento em inconstitucionalidade - artigo 180º, nº 1, alínea d);
b) Os recursos das decisões dos tribunais que apliquem normas arguidas de
inconstitucionais pelas partes ou que o Tribunal tenha já julgado
inconstitucionais - artigo 280º, nº 1, alínea e);
26
4. A fiscalização da inconstitucionalidade por omissão, art.19º LOTC

2.3.2. Objecto de fiscalização preventiva: actos normativos

Os actos normativos caracterizam-se pela concorrência das notas da generalidade e da


abstração. A primeira traduz-se na indeterminação dos respectivos destinatários, que não
são identificados no respectivo texto, já a segunda implica que o comando não se esgote
num único acto de aplicação, e seja, antes, susceptível de ser aplicado a um número
indeterminado de casos41.

Ao acto geral e abstrato contrapõe-se o acto individual – que se aplica a pessoa ou pessoas
determinadas – concreto – que se aplica apenas numa situação concreta determinada –,
sendo estas duas perspectivas que caracterizam o conceito de acto administrativo 42. Em
regra, a generalidade e a abstracção são as duas notas típicas definidoras de uma norma
jurídica em sentido material, e necessários (entre outros critérios) na distinção entre
regulamentos e actos administrativos.

No entanto, alguns actos do poder político que contenham regras de conduta são também
aceites como norma para efeitos de fiscalização da constitucionalidade, pois o conceito de
norma é tomado em duplo sentido: por um lado, normas são disposições constantes de
actos legislativos, qualquer que seja o seu conteúdo; e por outro, normas são as disposições
de natureza geral e abstracta, qualquer que seja a sua forma43.

O artigo 227.º da CRA estabelece o seguinte: são passíveis de fiscalização da


constitucionalidade todos os actos que consubstanciem violações de princípios e normas,
constitucionais, nomeadamente:

a) São actos normativos;


b) Os tratados, convenções e acordos internacionais;
c) A revisão constitucional;
d) O referendo

A norma, para valer como norma juridicamente vinculante, deve ser criada por um poder
normativo legitimado para criar padrões de comportamento e regras de decisão de conflitos.
No quadro do conceito de norma para efeitos da sua submissão ao controlo da justiça
constitucional, a jurisprudência constitucional portuguesa adoptou um conceito funcional de
norma, supondo, esse conceito funcional, que a mesma norma seja oriunda de uma
manifestação de autoridade pública; se encontre investida num poder de eficácia externa 44.
Neste contexto, a noção de norma jurídica abarca qualquer acto do poder público que
41
ALMEIDA, Mário Aroso, CADILHA, Carlos Alberto Fernandes, Comentário ao Código de Processo nos Tribunais
Administrativos, artigo 72, nota 4, Almedina, 2007, p. 435.
42
Ibidem, p. 435.
43
17 MEDEIROS, Rui, A Decisão de Inconstitucionalidade. Os Autores, o Conteúdo e os Efeitos da Decisão de
Inconstitucionalidade da Lei, Universidade Católica Editora, 1999, p. 94.
27
contiver uma regra de conduta para os particulares ou para a administração, sendo que este
conceito formal e funcional de norma abrange somente os preceitos de natureza geral e
abstracta, incluindo quaisquer normas públicas, de eficácia externa, independentemente do
seu carácter geral e abstracto ou individual e concreto e, bem assim, de possuírem, nesta
última situação, eficácia consumptiva (quando seja dispensável um acto de aplicação) 45, a
partir do momento em que se esteja ante um preceito de um acto normativo público
(principalmente, lei ou regulamento), e não um acto administrativo propriamente dito, ou um
acto político, ou uma decisão judicial. Para que haja uma manifestação pública de
autoridade é imperioso que o autor do acto normativo desenvolva imperiosamente a sua
actividade normativa na prossecução do interesse público e, de igual modo, se posicione
ante os destinatários dos seus comandos normativos numa situação de supra-ordenação.
Como facilmente se compreende, uma manifestação pública de autoridade não exige
necessariamente que o autor da norma seja um órgão de uma entidade pública. Assim
posto, os actos normativos do Estado e das demais entidades públicas bem como entidades
privadas, no desempenho de funções públicas, editam numa posição superior sobre
terceiros normas jurídicas dotadas de eficácia externa, ficando assim preenchido dois
pressupostos fundamentais à existência do sentido formal de norma jurídico-pública, para
efeito do seu controlo constitucional. A jurisprudência constitucional portuguesa admite que
o Tribunal Constitucional possa igualmente conhecer as manifestações normativas
decorrentes da atribuição de poderes ou funções públicas de autoridade a entes privados 46.
Por consequência do acima exposto, dúvidas não subsistem de que os actos normativos
constituem objecto do controlo preventivo da constitucionalidade.

2.3.3. Exclusão dos actos políticos, dos actos administrativos, das decisões
jurisdicionais e dos actos jurídico-privados

Estão igualmente arredados do controlo preventivo de constitucionalidade os actos políticos


ou do Governo, enquanto actividade desenvolvida pelos órgãos do poder político do Estado
com vista a realização dos objectivos que se lhes encontram constitucionalmente cometidos,
a função política, do ponto de vista do Prof. MARCELO REBELO DE SOUSA, “ (…) traduz-
se na definição e prossecução pelos órgãos do poder político dos interesses essenciais da
colectividade, realizando, em cada momento, as opções para o efeito consideradas
convenientes47”. Ou seja, actos que manifestam essencialmente “a sua eficácia e a

44
Cfr., sobre esta problemática, o Acórdão n.º 156/88 de 22 de Outubro – DR, II Série, de 22 de Outubro de
1988; Acórdão n.º 179/93, de 15 de Junho – DR, II Série, de 25 de Junho de 1993; e Acórdão n.º 1058/96, de 16
de Outubro – DR, II Série, de 16 de Outubro, respectivamente
45
CORREIA, Fernandes Alves, Direito Constitucional. Justiça Constitucional, Almedina, Coimbra, p. 69
46
Cfr. Acórdão n.º 172/93 de 25 de Maio de 1995 – DR, Série II, de 24 de Maio de 1995
47
SOUSA, Marcelo Rebelo de, e Galvão, Sofia, Introdução ao Estudo de Direito, 4.ª edição, Lisboa,
Publicações EuropaAmérica, p. 30.
28
imperatividade dos respectivos comandos no circuito interno das relações institucionais
entre os órgãos do poder político, não projectando directamente as suas consequências
jurídicas na esfera dos cidadãos 48”. Veja-se, verbi gratia, os decretos presidenciais de
nomeação ou exoneração dos Reitores das Universidades Públicas ou do Ministro do
pelouro das Finanças e todos os actos políticos de conteúdo não normativo. O controlo
possível é aquele que ocorre na Assembleia da Nacional no quadro da competência geral
de fiscalização desta relativamente aos actos dos órgãos que detém o poder público. De
igual modo, está fora do âmbito da fiscalização prévia da constitucionalidade os actos
administrativos que não entrelaçam uma relação directa com a Constituição. Actos jurídico-
públicos que não revestem carácter normativo. Sem contudo deixar de acentuar a admissão
de fiscalização sucessiva da constitucionalidade de actos administrativos contidos em lei,
situação que não tem (e nem terá) tratamento em sede do presente trabalho.

Em relação às decisões judiciais, importa referir que estamos perante a função jurisdicional
do Estado que se traduz, na perspectiva do Prof. MARCELO REBELO DE SOUSA, “ (…) no
julgamento de litígios, resultantes de conflitos de interesses privados, bem como a punição
da violação da Constituição e das leis, através de órgãos entre si independentes, colocados
numa posição de passividade e imparcialidade, e cujos titulares (os juízes) são inamovíveis
e, em princípio, não podem ser sancionados pela forma como exercem a sua actividade 49”.
As decisões jurisdicionais em si mesmas são insusceptíveis de verificação preventiva da
constitucionalidade, sendo os tribunais superiores competentes para a sua impugnação e
em sede de recurso.

Estão igualmente excluídos do controlo prévio da constitucionalidade os actos jurídico-


privados, aqueles que decorrem dos contratos e dos compromissos arbitrais; dos estatutos
de associações, fundações, pactos sociais, regulamentos internos de pessoas colectivas
privadas; e os que resultam da autonomia colectiva – contratos colectivos de trabalho.

No entanto, estão sob alçada da fiscalização de constitucionalidade (mas não na


modalidade preventiva) as normas emanadas de sujeitos jurídico-privados no exercício de
poderes públicos. É o que ocorre com os regulamentos emitidos por concessionários de
obras ou serviços públicos.

2.4. Outras competências 

Ao lado da sua função primordial de fiscalização da constitucionalidade - e das


formas de “ilegalidade qualificada” atrás referidas -, ao Tribunal Constitucional

48
25 MORAIS, Carlos Blanco de, Justiça Constit … ob. cit. p. 529.

49
26 SOUSA, Marcelo Rebelo de, e Galvão, Sofia, Introdução …, ob. cit., p. 31.
29
angolano são ainda atribuídas certas outras competências, as quais podem
basicamente agrupar-se nos seguintes domínios processuais:

a) processos relativos ao Presidente da República [artigo 130º, nº 2 CRA, artigos


7º e 86º a 91º LTC]: trata-se de verificar a morte do Presidente da República,
declarar a sua incapacidade física permanente, verificar o impedimento
temporário para o exercício das suas funções (e, bem assim, a cessação de
tal impedimento) ou verificar a perda do cargo de Presidente, nos casos
previstos no artigo 129º, nº 4 e 5 alínea c, da Constituição;
b) processos eleitorais: nos termos do artigo 16º, al. f), LOTC, trata-se, em
termos genéricos, de “julgar em última instância a regularidade e a validade
dos actos de processo eleitoral, nos termos da lei ”; mas, além desta
competência, estritamente contenciosa, ao Tribunal são ainda cometidas
outras, no próprio iter de certos procedimentos eleitorais.
c) processos de contencioso parlamentar (artigos 16º, LOTC): trata-se da
competência para julgar a requerimento dos deputados, nos termos da lei, os
recursos relativos à perda do mandato e às eleições (para determinados
outros órgãos) realizadas na Assembleia da República e nas assembleias
legislativas regionais;
d) processos relativos a partidos políticos e coligações (artigo 16º al. i) LOTC,

2.4.1. Competências que o Tribunal Constitucional exerce em única e em


última instância

O Tribunal Constitucional decide, como única instância, nos seguintes processos:

1) Processos de fiscalização preventiva da constitucionalidade;


2) Processos de fiscalização abstracta sucessiva da constitucionalidade;
3) Processos de fiscalização da inconstitucionalidade por omissão;
4) Processos relativos ao Presidente da República;
5) Processos relativos a partidos políticos;
6) Processos relativos a referendos nacionais, regionais e locais;
7) Processos relativos á fiscalização das contas dos partidos políticos;

No exercício das demais competências, ou seja, nos processos de fiscalização


concreta e nos processos eleitorais, o Tribunal Constitucional decide em última
instância.

30
O ordenamento jurídico angolano não prevê, em nenhum caso, a existência de
recurso para qualquer outra instância (nacional) das decisões do Tribunal
Constitucional.

CAPÍTULO III.

A FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE E DA LEGALIDADE DOS


ACTOS JURÍDICO-PÚBLICOS.

3.1. A construção clássica da teoria da inconstitucionalidade.

3.1.1. Pressupostos

O controlo da constitucionalidade das normas assenta na afirmação da Constituição


como lei superior e não apenas como declaração de intenções ou programas
políticos Da sua qualidade de lei superior do ordenamento jurídico decorrem as
suas funções de garantia de direitos fundamentais, de garantia da democracia
política, de conformação material da ordem jurídica, de regulação da produção e
articulação jurídico-normativa e como norma de equilíbrio político-institucional. Isso
significa, naturalmente, que à justiça constitucional compete realizar uma importante
função de proteção dos direitos fundamentais, de garantia da integridade do
processo político-democrático, de afirmação da constitucionalidade e da legalidade
no ordenamento jurídico, de estabilização do esquema constitucional de repartição
de funções e competências.

31
Quando devidamente enquadrada, do ponto de vista jurídico, político, cívico e
institucional, a jurisdição constitucional pode dar um contributo do maior relevo para
a construção efectiva de um Estado de Direito democrático de direitos
fundamentais.

3.1.2. Áreas problemáticas típicas

Podemos destacar como áreas problemáticas típicas no domínio jurídico-


constitucional as seguintes:

 Funcionamento constitucional do Estado (litígios entre órgãos do Estado);

 Litígios entre órgãos supremos do Estado (Organstreitigkeiten);

 Litígios emergentes da separação vertical de poderes;

 Litígios envolvendo partidos políticos; prevenção de infrações à Constituição

3.1.3. Controlo da constitucionalidade das leis

Existem diversas modalidades de controlo da constitucionalidade das leis. O


controlo pode ser preventivo ou sucessivo, consoante ocorra antes ou depois da
entrada em vigor da lei objecto de controlo. Por sua vez, o controlo sucessivo pode
ser abstrato ou concreto.

O controlo abstrato é um controlo por via principal que incide sobre uma norma ou
conjunto de normas independentemente de qualquer caso concrecto, pelo que uma
eventual declaração de inconstitucionalidade, pela jurisdição especializada (Tribunal
Constitucional) produz efeitos erga omnes. Já o controlo concreto é realizado por via
incidental no decurso de um caso concreto a correr em qualquer tribunal, cabendo a
este decidir sobre a conformidade ou desconformidade constitucional das normas
em causa, sem prejuízo da possibilidade de recurso para o Tribunal Constitucional.

Todos os controlos mencionados supra dizem respeito à inconstitucionalidade por


acção. Mas existe também o controlo da inconstitucionalidade por omissão. Esta
modalidade de controlo tem por objecto abstenções de comportamentos a que,
pretensamente, deter- minados órgão públicos se encontrariam obrigados pela
Constituição.

Cada uma das referidas modalidades de controlo obedece a regras específicas,


32
designadamente as que dizem respeito à legitimidade processual, aos tipos de
decisão possíveis e aos respetivos efeitos.

Veremos mais adiante qual é o enquadramento normativo, na CRA, das diversas


modalidades de controlo da constitucionalidade.

3.1.4. Proteção autónoma dos direitos fundamentais.

Em alguns ordenamentos jurídicos a lei fundamental prevê a possibilidade de


proteção autófona de direitos fundamentais, através de acções constitucionais de
defesa e recurso de amparo (Alemanha e Brasil).

Em Angola, tal como em Portugal, a lei fundamental não consagra um instrumento


com esta natureza, não se permitindo o acesso directo dos cidadãos à jurisdição
constitucional. A reação contra actos ou omissões inconstitucionais lesivos de
direitos fundamentais dos cidadãos poderá apenas ser assegurada através de um
processo de fiscalização sucessiva concreta, suscitado por via incidental no âmbito
de um processo a correr no tribunal competente, havendo a possibilidade de recurso
para o Tribunal Constitucional. Paralelamente, qualquer cidadão ou grupo de
cidadãos pode exercer o direito de petição junto de qualquer dos órgãos com
legitimidade processual activa para requerer a fiscalização sucessiva abstrata da
inconstitucionalidade das leis, no sentido de solicitar a este órgão que requeira ao
Tribunal Constitucional a declaração da inconstitucionalidade tom força obrigatória
geral da lei pretensamente violadora de direitos fundamentais dos cidadãos.

O mesmo é válido relativamente à fiscalização da inconstitucionalidade por omissão.

3.1.5. Controlo da regularidade da formação dos órgãos constitucionais

Um importante domínio de atuação da jurisdição constitucional é o que se refere ao


controlo da regularidade da formação dos órgãos constitucionais; Na verdade, um
importante conjunto de normas constitucionais tem por objecto a formação dos
órgãos constitucionais, pelo que a sua observância deve ser sujeita a controlo por
parte do Tribunal Constitucional.

Neste sentido, o contencioso eleitoral constitui um instrumento de defesa de


princípios constitucionais estruturantes como são, designadamente, o princípio do
Estado de Direito e o princípio democrático.
33
3.1.6. Modelos de Justiça Constitucional

A doutrina identifica como modelos organizatórios de justiça constitucional os


chamados modelo unitário e modelo de separação 50.

 O modelo unitário é aquele em que não se consagra a existência de uma


jurisdição constitucional autónoma, cabendo a qualquer tribunal a apreciação
das questões jurídico-constitucionais nos processos a eles submetidos 51. Este
modelo é também designado por modelo de fiscalização judicial (judicial
review)52.

 No modelo de separação, ou modelo de fiscalização jurisdicional


concentrada, consagra-se a existência de uma jurisdição constitucional
autónoma, especializada em assuntos jurídico-constitucionais, traduzindo-se
num modelo de Tribunal Constitucional. É este o modelo vigente em Angola,
tal como em Portugal e em países como Alemanha, Áustria, Itália e Espanha,
entre outros53.

3.1.7. A actividade de controlo

Importa analisar com alguma atenção os vários elementos que consubstanciam a


actividade de controlo da constitucionalidade e da legalidade reforçada tal como se
encontram consagrados na CRA. Os mesmos dizem respeito ao parâmetro de
controlo, ao objecto de controlo, às operações do controlo, aos vícios do controlo e
às sanções do controlo.

A. O parâmetro de controlo

O primeiro elemento do controlo refere-se ao respetivo parâmetro. É necessário


identificar o padrão ou a medida normativa com base na qual os tribunais realizam a
sua função de fiscalização. Daí que se imponha avançar com algumas
considerações ordenadas à sua determinação.

A Constituição prevê a existência de um controlo de constitucionalidade, mas não


um controlo da legalidade reforçada, isto é, da observância das chamadas leis com
valor reforçado. Importa, ainda assim, abordar esta problemática.

50
Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, ed., Coimbra, Almedina, 2003,
pp. 895-896.
51
Idem
52
Jorge Miranda, Teoria do Estado e da Constituição, Coimbra, Coimbra Editora, 2002, pp. 760 e 55.
53
Gomes Canotilho, Direito Constitucional. .. , cit., pp. 895-896; Jorge Miranda, op. cit., pp. 760 e 55
34
Começaremos pela determinação do parâmetro de controlo da constitucionalidade,
para em seguida nos debruçarmos sobre a questão do controlo da legalidade
reforçada.

B. Parâmetro geral de controlo da constitucionalidade.

Nos termos do art. 226.°, nº2, da CRA, são inconstitucionais as leis e os actos que
violem regras e princípios constitucionais.

Este preceito afirma o princípio da primazia normativa da Constituição, ao mesmo


tempo que aponta para a respetiva leitura principial. A Constituição é tomada na
sua natureza de sistema aberto de valores, princípios e regras.

Esta concepção da lei fundamental está na base da construção de uma retórica


argumentativa, por parte da jurisdição constitucional, orientada para a explicitação
dos conteúdos normativos inerentes à Constituição, na plenitude da normatividade
axiológico-principial, para além da mera consideração do teor literal dos preceitos
jurídicos.

C. Parârnetro de controlo da constitucionalidade nos casos de


legalidade reforçada

A CRA não prevê a existência de um controlo de legalidade visando aferir da violação, por
parte de um ato legislativo, de uma lei com valor reforçado.

Contudo, a violação de uma lei com valor reforçado por norma constante de acto
legislativo configura, em si mesma, uma inconstitucionalidade. Assim sendo, a
conformidade de normas legais com leis de valor reforçado pode ser fiscalizada
pelo Tribunal Constitucional angolano.

Deve sublinhar-se que o objeto deste tipo de controlo é sempre um acto legislativo,
não uma norma de natureza regulamentar ou outra, O parâmetro deste controlo é
constituído pelas normas interpostos e pressupostas, cuja existência transforma o
bloco de legalidade num acervo complexo de actos legislativos com relações de
parametricidade gerais e específicas entre eles. Assim, as leis de autorização
legislativa servem de parâmetro aos decretos legislativos presidenciais autorizados.
Por sua vez, as leis de bases servem de parâmetro aos actos normativos de
desenvolvimento.

35
As leis de autorização podem servir para autorizar o Executivo a elaborar decretos
legislativos presidenciais autorizados de bases, que por sua vez constituirão
parâmetro de controlo aos atos legislativos de desenvolvimento.

Existem ainda outros casos de leis materialmente determinantes de outras leis e


que, por esse motivo, lhes servem de parâmetro de legalidade; como sucede cam a
Lei do Orçamento Geral do Estado relativamente a todos os atos legislativos que
tenham implicações na execução orçamental.

Refira-se, igualmente, que a parametricidade pode dar-se pela via procedi mental,
devendo controlar-se a legalidade procedimental das leis da Assembleia Nacional.

3.2. Tipos de inconstitucionalidade.

3.2.1. Inconstitucionalidade formal

Os vícios relativos à formalidade afectam o acto normativo sem atingir seu conteúdo,
referindo-se aos procedimentos e pressupostos relativos às feições que formam a
lei. Os vícios formais traduzem defeito de formação do acto normativo, pela
inobservância de princípio de ordem técnica ou procedimental ou pela violação de
regras de competência54”.

O controle formal confere ao órgão que o exerce a competência de examinar se as


leis foram elaboradas de conformidade com a Constituição, se houve correcta
observância das formas estatuídas, se a regra normativa não fere uma competência
deferida constitucionalmente a um dos poderes, enfim, se a obra do legislador
ordinário não contravém preceitos constitucionais pertinentes à organização técnica
dos poderes. A primeira possibilidade a se considerar, quanto ao vício de forma, é a
denominada inconstitucionalidade orgânica, que se traduz na inobservância da regra
de competência para a edição do acto.

De outra parte, haverá inconstitucionalidade formal propriamente dita se


determinada espécie normativa for produzida sem a observância do processo
legislativo próprio55”.

54
BRANCO; COELHO; MENDES, Gilmar Ferreira. Controle de constitucionalidade, Curso de Direito
Constitucional. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 1170
55
BARROSO Roberto BARROSO, Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro:
exposição sistemática da doutrina e análise crítica da jurisprudência. 2. ed. rev. e atual. São Paulo:
Saraiva 2006, 26-27
36
Do exposto, fica claro que a inconstitucionalidade formal faz referência ao erro na
observância da competência ou nas regras relativa ao processo definido na
Constituição.

Tipos dos vícios formais

Existe dois tipos dos vícios formais, que são o vício formal subjectivo e o vício formal
objectivo.

A. Vício formal subjectivo

O vício formal subjectivo verifica-se na fase de iniciativa. Tomemos um exemplo:


algumas leis são de iniciativa exclusiva (reservada) do Presidente da República. Em
hipótese contrária um Deputado dando início, estaremos diante de um vício formal
subjectivo insanável, e a lei será inconstitucional.

B. Vício formal objectivo

O vício objectivo por seu turno, o vício formal objectivo será verificado nas demais
fases do processo legislativo, posteriores à fase de iniciativa. Como exemplo
citamos uma lei complementar sendo votada por um quorum de maioria relativa.
«Existe um vício formal objectivo, na medida em que a lei complementar deveria ter
sido aprovada por maioria absoluta».

3.2.2. Inconstitucionalidade material 

Os vícios materiais, diferentemente dos formais, estão ligados ao próprio mérito do


acto, referindo-se a conflitos de regras e princípios estabelecidos na Constituição. A
inconstitucionalidade material envolve, porém, não só o contraste directo do acto
legislativo com o parâmetro constitucional, mas também a aferição do desvio de
poder ou do excesso de poder legislativo.

É possível que o vício de inconstitucionalidade substancial decorrente do excesso de


poder legislativo constitua um dos mais tormentosos temas da fiscalização de
constitucionalidade hodierno. Cuida-se de aferir a compatibilidade da lei com os fins
constitucionalmente previstos ou de constatar a observância do princípio da
proporcionalidade, isto é, de se proceder à censura sobre a adequação e a
necessidade do ato legislativo56”.

56
BRANCO; COELHO; MENDES, 2010, p. 1172
37
A inconstitucionalidade material expressa uma incompatibilidade de conteúdo,
substantiva entre a lei ou o acto normativo e a Constituição. Pode traduzir-se no
confronto com uma regra constitucional.

A fiscalização material de constitucionalidade pode ter como parâmetro todas as


categorias de normas constitucionais: de organização, definidoras de direitos e
programáticas.

Destarte, a inconstitucionalidade material se dá quando a norma vai contra os


parâmetros explícitos da Constituição ou contra o as vertentes do princípio da
proporcionalidade (adequação e necessidade).

3.2.3. Constitucionalidade originária e superveniente

O momento da edição das normas constitucionais é que procede a distinção entre


inconstitucionalidade originária e inconstitucionalidade superveniente.

Se uma norma legal vem depois da Constituição e com essa é incompatível, tem-se
um caso típico de inconstitucionalidade. Se a contradição, no entanto, for entre
norma constitucional superveniente e o direito ordinário pré-constitucional, indaga-se
se seria caso de inconstitucionalidade ou de mera revogação.

Nos dizeres de Canotilho “a inconstitucionalidade superveniente refere-se, em


princípio, à contradição dos actos normativos com as normas e princípios materiais
da Constituição e não à contradição com as regras formais ou processuais do tempo
da sua elaboração57”. A inconstitucionalidade superveniente há de referir-se
precisamente à contradição dos princípios materiais da Constituição, e, não, às
regras formais da elaboração das leis que a Constituição estabelece no momento
presente”.

3.2.4. Inconstitucionalidade por acção e inconstitucionalidade por omissão

Além das formas de inconstitucionalidade até então vistas, temos, por fim, também a
inconstitucionalidade por ação e a inconstitucionalidade por omissão.

A inconstitucionalidade por acção é aquela advinda da incompatibilidade entre uma


norma e a Constituição, enquanto que a omissão legislativa inconstitucional
pressupõe a “inobservância de um dever constitucional de legislar, que resulta tanto
de comando explícitos da Lei como de decisões fundamentais da Constituição
identificadas no processo de interpretação”
57
CANOTILHO, J. J. apud MENDES In: BRANCO; COELHO; MENDES, 2010, p. 1180
38
“A referência a inconstitucionalidade por acção, portanto, abrange os actos
legislativos incompatíveis com o texto constitucional. Os múltiplos modelos de
controle de constitucionalidade foram concebidos para lidar com o fenômeno dos
actos normativos que ingressam no mundo jurídico com um vício de validade”.
A inconstitucionalidade por acção: “Este tipo de inconstitucionalidade pressupõe
uma conduta positiva do legislador, que se não compatibiliza com os princípios
constitucionalmente consagrados. Envolve um facere do Estado, e compreende os
actos legislativos incompatíveis com a Constituição. A inconstitucionalidade por
acção acarreta a invalidação de um acto que existe, que foi praticado”.
a. Omissão legislativa absoluta
Temos omissão legislativa absoluta quando não são empregadas pelo legislador as
diretrizes constitucionais reclamadas. Já a omissão parcial acontece quando a
norma criada atende parcialmente a vontade constitucional ou de modo insuficiente.
“a omissão inconstitucional total ou absoluta estará configurada quando o legislador,
tendo o dever jurídico de atuar, abstenha-se inteiramente de fazê-lo, deixando um
vazio normativo na matéria58”.
b. Omissão legislativa absoluta
Caso clássico de omissão parcial é a chamada exclusão de benefício incompatível
com o princípio da igualdade. Tem-se a exclusão de benefício incompatível com o
princípio da igualdade se a norma afronta o princípio da isonomia, concedendo
vantagens ou benefícios a determinados segmentos ou grupos sem contemplar
outros que se encontram em condições idênticas59”.
Pelo exposto, nota-se que a inconstitucionalidade não se dá apenas pela ação do
legislador ao editar lei que vai contra os mandamentos da Constituição, mas também
quando descumprir suas obrigações constitucionalmente descritas, simplesmente
por não legislar ou por legislar de forma incompleta.
3.3. Objecto da fiscalização
Nos termos constitucionais, o objecto de controlo compreende, em princípio, as
normas jurídicas independentemente das suas fontes formais e da respetiva
hierarquia. Isto significa que caem dentro do âmbito do controlo da
constitucionalidade os actos dos poderes públicos que estabeleçam padrões de
58
BARROSO, Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro: exposição sistemática
da doutrina e análise crítica da jurisprudência. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva 2006, p. 35
59
BRANCO; COELHO; MENDES, 2010, p. 1186
39
acção e critérios de decisão, para entidades públicas (administração; tribunais) e
privadas.
Diferentemente se passam as coisas no controlo da constitucionalidade nos casos
de legalidade reforçada, na medida em que aí, como se referiu, o objeto de controlo
é dado apenas por actos legislativos sujeitos a um parâmetro geral ou especial de
legalidade reforçada.
Com base neste critério, ficam excluídos do controlo da constitucionalidade, ao
menos prima facie, os actos políticos, os actos administrativos, as sentenças judiciais
e a norma privada..

 No caso dos actos políticos, é sustentável que, em face do princípio do


Estado de Direito, esta instância superior possa e deva considerar-se
competente para controlar os elementos constitucionalmente vinculados
destes actos (v. g. prazos e datas para a marcação de eleições). Tal
entendimento, não pondo em causa os elementos politicamente
discricionários dos actos políticos, é perfeitamente consentâneo com os
princípios da primazia da Constituição e com o interesse público
constitucional no regular funcionamento das instituições democráticas.

 Já no que toca ao controlo das sentenças judiciais, tem-se observado que as


mesmas podem constituir, indirectamente, objecto de controlo da
constitucionalidade, na medida em que o conceito de norma compreende, na
fiscalização concreta, a interpretação que à mesma é feita pelos tribunais nas
suas decisões.
O conceito funcionalmente adequado à fiscalização da constitucionalidade inclui
todo e qualquer acto dos poderes públicos que contenha uma "regra de conduta"
para os particulares ou para a Administração, um "critério de decisão" para esta
última ou para o juiz ou, em geral, um "padrão de valoração de comportamento"
As normas convencionais de direito internacional podem ser objecto de controlo da
constitucionalidade, como de resto resulta expressamente dos arts. 227. 0 e
seguintes da CRA. Só assim não será quando se considerar que se trata de normas
materialmente constitucionais ou de direito internacional imperativo, caso em que as
mesmas podem ser legitimamente consideradas parâmetro, que não objecto, de
controlo.
Objeto de controlo da constitucionalidade são, igualmente, todos os actos
40
legislativos. Nos casos de legalidade reforçada só actos legislativos é que podem
ser objecto de controlo.
Também estão compreendidos no conceito de objecto de controlo da
constitucionalidade os regimentos das assembleias, os regulamentos, as resoluções
de conteúdo normativo e as normas referendárias.

CAPÍTULO IV.

O PROCESSO JURISDICIONAL DE FISCALIZAÇÃO.

4.1. A fiscalização Abstracta.

4.1.1. Fiscalização abstracta preventiva

A. Aspetos gerais da fiscalização preventiva em Angola

O controlo preventivo da constitucionalidade é frequentemente referido como


ecografia da norma ou controlo pré-natal da norma, na medida em que tem lugar no
processo de perfeição da norma.

O mesmo inspira-se no modelo francês de controlo da constitucionalidade, orientado


para prevenir a entrada em vigor de normas imperfeitas. Na França, a existência do
controlo da constitucionalidade preventiva das normas jurídicas pretende constituir
um sucedâneo do controlo sucessivo.

A existência de um controlo preventivo da constitucionalidade das normas afigura-se


inteiramente razoável, na medida em que pretende evitar a consumação de
situações de inconstitucionalidade e, mais especificamente, de violação dos direitos
fundamentais.

A fiscalização preventiva da constitucionalidade parte do princípio de que não se

41
deve exigir que exista já uma norma perfeita para que o controlo seja possível, na
medida em que tal exigência aumenta a pro- babilidade de inconstitucionalidade em
vez de a diminuir.

B. Características do controlo preventivo

O controlo em presença é preventivo, na medida em que ocorre antes de a norma


ser promulgada e publicada e, geralmente, "antes de a norma entrar em vigor. O
mesmo é abstrato, pois é independente de qualquer caso concreto, o que se
compreende, na medida em que a norma ainda não entrou em vigor. Trata-se,
ainda, de uma fiscalização concentrada, feita apenas pelo Tribunal Constitucional.

C. Legitimidade processual activa no controlo preventivo

Em alternativa à promulgação, ratificação e assinatura, o Presidente da República


tem legitimidade processual activa para requerer ao Tribunal Constitucional a
fiscalização preventiva da constitucionalidade de:

1) qualquer norma constante de diploma legal,

2) de tratado internacional ou

3) de acordo internacional (228°, nº 1, da CRA).

A CRA reconhece, ainda, legitimidade processual ativa para requer a fiscalização


preventiva da constitucional idade a um décimo dos Deputados à Assembleia
Nacional em efetividade de funções, relativamente a qualquer norma constante de
diploma legal que tenha sido submetido ao Presidente da República para
promulgação.

D. Prazos

A fiscalização preventiva da constitucionalidade deve ser requerida ao Tribunal


Constitucional no prazo de vinte dias a contar da data da receção do diploma legal
pelo Presidente da República (are 228.°, nº 3, da CRA).

O Tribunal Constitucional dispõe de 45 dias para se pronunciar acerca da


inconstitucionalidade. Este prazo pode ser encurtado em caso de urgência, através
de solicitação do Presidente da República ou de um décimo dos Deputados em
efectividade de funções (art, 228.°, nº4, da CRA).

42
E. Decisões do Tribunal Constitucional na fiscalização preventiva

As decisões do Tribunal Constitucional em fiscalização preventiva podem ser


negativas, caso em que o Tribunal Constitucional não se pronuncia no sentido da
inconstitucionalidade, ou positivas, em que o mesmo se pronuncia no sentido da
inconstitucionalidade.

As decisões negativas de inconstitucionalidade têm como efeito a possibilidade de


promulgação pelo Presidente da República do diploma legal em causa, ou a
ratificação ou assinatura do tratado ou do acordo internacional, respetivamente.

A decisão negativa de inconstitucionalidade não preclude a possibilidade de, após a


entrada em vigor do diploma legal, ser requerida ao Tribunal Constitucional a
respetiva fiscalização abstracta sucessiva.

Já as decisões positivas de inconstitucionalidade têm como consequência, no caso


dos diplomas a promulgar como leis, o veto por inconstitucionalidade, de natureza
obrigatória e objetiva, do diploma, tratado ou acordo internacional objeto da
fiscalização, seguido da sua devolução ao órgão que o aprovou, tendo em vista a
expurgação da norma inconstitucional (art. 229.°,n.º1, da CRA). Em caso de.
reformulação do
diploma pelo órgão que o aprovou, podem o Presidente da República ou os
Deputados que requereram a fiscalização da constitucionalidade voltar a requerê-la,
tendo por objecto qualquer das normas do diploma (art, 229.°, nº 2, da CRA).

4.1.2. Fiscalização abstrata sucessiva

A. Aspectos gerais da fiscalização abstracta sucessiva

A CRA consagra ainda um processo de controlo sucessivo, abstrato, da


constitucionalidade das normas jurídicas. Trata-se de um controlo sucessivo, na
medida em que ocorre depois da entrada em vigor das normas; abstrato, na
medida em que é realizado independentemente da decisão de qualquer caso
concreto; concentrado,
uma vez que é feito apenas pelo Tribunal Constitucional.

Por outro lado, é um controlo por via principal, já que a questão de


inconstitucionalidade é colocada a título principal.

43
B. Legitimidade processual activa

Nos termos da CRA, a legitimidade processual ativa para desencadear o processo


de fiscalização abstrata sucessiva é restrita, não havendo qualquer ação popular de
impugnação de normas com fundamento na respetiva inconstitucionalidade. Foi
neste sentido, de resto, a manifestação do Tribunal Supremo em 2008, quando
exercia a competência material de controlo da constitucionalidade por inexistência
do Tribunal Constitucional, entretanto criado no mesmo ano (266l.

Nos termos do art. 230.°, n.v 2, da CRA, a mesma cabe ao Presidente da


República, a 1/10 dos Deputados à Assembleia Nacional em efetividade de
funções, aos Grupos Parlamentares, ao Procurador-Geral da República, ao
Provedor de Justiça e à Ordem dos Advogados de Angola.

C. Legitimidade processual passiva?

O processo de fiscalização da constitucionalidade não é uma ação de impugnação,


não sendo configurado como processo de partes em que existe um autor e uma
entidade demandada, sujeitos ao princípio da igualdade de armas e do
contraditório.

Em todo o caso, exigências mínimas de due process e de funcionalidade, já que


também está em causa o desiderato de facilitar a própria realização do controlo das
normas por parte do Tribunal Constitucional, estão na base do estabelecimento da
audição do órgão autor da norma (art. 16.° da LOPC), que desse modo pode
apresentar as suas razões em defesa da constitucionalidade da norma,
defendendo-se do estigma social de vir a ser considerado, diante da opinião
pública, autor de uma norma inconstitucional.

Esta audição contribui, além do mais, para esclarecer melhor o conteúdo da norma,
desse modo ajudando o Tribunal Constitucional a definir o objecto do processo e a
balizar os respetivos poderes de cognição. Ainda assim, não se está aqui perante
uma plena consagração do princípio do contraditório.

D. Pressupostos objectivos

A fiscalização abstrata sucessiva da constitucionalidade tem como pressuposto a


existência de um acto normativo de direito público do qual conste a norma

44
relativamente à qual se requer a fiscalização (art.230°n.º1 conjugação com os arts.
226° e 227.°, todos da CRA).

Para além disso, tem que haver uma alegada violação da Constituição ou de norma
paramétrica interposta ou pressuposta.

E. Decisões do Tribunal Constitucional

a. Aspetos gerais

As decisões do Tribunal Constitucional em fiscalização abstracta de constitucionalidade


podem ser negativas, ou de rejeição da inconstitucionalidade, ou positivas, de declaração da
inconstitucionalidade com força obrigatória geral. Os efeitos das decisões variam
significativamente consoante se trate de um caso ou de outro.

b. Decisões negativas de inconstitucionalidade

No caso de decisões negativas de inconstitucionalidade, as mesmas não têm


efeitos preclusivos, no sentido que não impedem que a questão da
inconstitucionalidade venha de novo a ser suscitada a título incidental em
fiscalização concreta, ou apresentada de novo a título principal diante do Tribunal
Constitucional.

Em qualquer dos casos, e porque qualquer decisão do Tribunal Constitucional é um


elemento de estabilização de expectativas, deve considerar-se que só faz sentido
recolocar a mesma questão se entretanto tiverem surgido novos argumentos que o
Tribunal Constitucional não haja conhecido, nomeadamente a violação de outras
normas constitucionais ou a existência de fundamentos novos para a violação das
mesmas
normas constitucionais. Nestes casos, deve entender-se que quem coloca de novo
a questão da inconstitucionalidade tem o ónus da contra-argumentação.

c. Decisões positivas de inconstitucionalidade

As decisões positivas de inconstitucionalidade são entendidas como declarações


com força obrigatória geral (art, 230 nº1, da CRA). Isso significa, desde logo, que se
trata de decisões de natureza declarativa, não constitutiva, Assim, as normas
objecto de controlo não são inconstitucionais por serem declaradas
inconstitucionais, antes, são declaradas inconstitucionais por serem

45
inconstitucionais,

A declaração nada acrescenta ao vício pré-existente, o qual, a existir, pode afectar


a norma na sua totalidade ou em parte, e desde a sua entrada em vigor ou a partir
de um momento posterior. Além disso, trata-se de decisões dotadas de força
obrigat6ria geral, na medida em que vinculam entidades públicas e privadas, com
efeito preclusivo.

O carácter meramente declarativo desta decisão, associado ao vício da nulidade


que sanciona a inconstitucionalidade em presença, justifica que, tratando-se de um
vício congénito, que afecta a norma desde a sua entrada em vigor, a declaração
afirme a nulidade originária da norma em causa, com a consequência óbvia de que
a decisão do Tribunal Constitucional deve produzir efeitos retroativos, ex tunc (art.
231 nº1,
da CRA), desde a data da entrada em vigor da norma declarada inconstirucional. O
objectivo desta solução consiste, não apenas na eliminação da norma declarada
inconstitucional, mas também de todos os efeitos que a mesma haja produzido na
ordem jurídica. Dessa forma, são vindicados os princípios da primazia da
constituição e da força normativa da constituição.

4.2. A fiscalização concreta.

4.2.1. Controlo concreto.

A CRA consagra o controlo concreto da constitucionalidade. Esta designação é


inteiramente apropriada, na medida em que a validade das normas é aferida diante
de um caso concreto, e não em abstrato.

Para alguma doutrina esta é a melhor maneira de proceder ao controlo da


constitucionalidade das normas, na medida em que o confronto com um caso
concreto, com a inerente complexidade fáctica e normativa, permite uma melhor
compreensão do sentido e do alcance de uma norma, bem como das respetivas
falhas ou debilidades normativas diante dos problemas da vida.

O controlo concreto da constitucionalidade assume o maior relevo do ponto de vista


jurídico-constitucional, na medida em que afirma a subordinação de todos os
tribunais à Constituição e transforma todos os indivíduos e entidades envolvidos em
processos judiciais em guardiões da Constituição e do Estado de Direito.

Do mesmo modo, o controlo concreto assenta no reconhecimento de que a violação


46
dos direitos fundamentais e dos direitos humanos em geral é frequentemente o
resultado, da atividade normativa do Executivo, devendo ser dada li, possibilidade
aos particulares de suscitarem a questão da inconstitucionalidade das normas que
violem os seus direitos no caso concreto. O controlo concreto da constitucionalidade
permite a irradiação da normatividade desde o "coração" até aos "vasos capilares"
do ordenamento jurídico.

4.2.2. Controlo difuso

Nos termos do art. 177°, n° 1, da CRA, cabe aos tribunais, designadamente,


assegurar a observância da Constituição.

Por seu lado, o art. 180.°, nº 2, als. d) e e), da CRA, determina que compete ao
Tribunal Constitucional "apreciar em recurso a constitucionalidade das decisões dos
demais Tribunais que recusem a aplicação de qualquer norma com fundamento na
sua inconstitucionalidade".

Da conjugação destes dois preceitos constitucionais resulta um dever de


desaplicação ao caso concreto, pelos tribunais, de normas julgadas
inconstitucionais, cabendo recurso para o Tribunal Constitucional da respetiva
decisão.

Esta referência às "decisões dos demais Tribunais" é um elemento estruturante do


controlo concreto da constitucionalidade, que é construído no ordenamento jurídico
angolano como um controlo difuso, ou seja, levado a cabo por todos os tribunais, e
apenas pelos tribunais.

Os tribunais nacionais, pela sua maior proximidade dos cidadãos e pela aura de
legitimidade de que gozam diante dos mesmos, constituem o meio mais eficaz de
proteção dos direitos humanos.

Renuncia-se, portanto, à atribuição ao Tribunal Constitucional do monopólio da


competência de rejeição de normas com fundamento na sua inconstitucionalidade,
desse modo realizando o ideal da "comunidade aberta dos intérpretes da
Constituição".

Remete-se para as partes no caso concreto um papel relevante na dinamização


semântica deste instrumento norrnativo fundamental. Entendeu-se que desta forma
é afirmada a primazia da Constituição e o seu vigor irradiante para toda a ordem
jurídica. Aos juízes cabe, em cada caso concreto, aferir da medida em que a
47
Constituição pode e deve ser chamada a decidir o desfecho do caso concreto,
obrigando, por exemplo,
à desaplicação de uma norma com fundamento na respetiva inconstitucionalidade.

Importa salientar, no âmbito dos direitos, liberdades e garantias, que a aplicação de


normas contrárias às disposições constitucionais ou de normas internacionais
incorporadas no direito interno consagradoras destes direitos constitui os tribunais
numa violação dos direitos em presença.

No sistema de controlo concreto previsto na CRA, os juízes têm competência para


decidirem sobre a questão da constitucionalidade, solução que difere da adoptada
noutros quadrantes (v. g. Espanha, Itália, Alemanha), em que aos juízes cabe
apenas uma apreciação preliminar sobre o reenvio da questão de
constitucionalidade para o Tribunal Constitucional.

Em Angola, a questão de inconstitucionalidade chega ao Tribunal Constitucional,


não através do mecanismo do reenvio, mas sim por via de recurso, da iniciativa das
partes ou do Ministério Público (art. 37. o da LOPC).

4.3. O processo de declaração de inconstitucionalidade com base na


fiscalização concreto.

4.3.1. O recurso para o Tribunal Constitucional

A. Aspetos gerais

Como anteriormente se disse, das decisões dos tribunais sobre questões de


inconstitucionalidade cabe recurso para o Tribunal Constitucional. O recurso para o
Tribunal Constitucional, o tribunal ad quem, encontra-se disciplinado nos arts. 36.°
e seguintes da LOPC.

O Recurso Ordinário de Inconstitucionalidade tem uma dupla natureza:

 OBJECTIVA: integra componente de defesa da primazia da Constituição,

 SUBJECTIVA: engloba a componente de tutela dos direitos fundamentais e


demais interesses legítimos das partes

O Recurso Ordinário de Inconstitucionalidade tem natureza incidental e é restrito à


questão da inconstitucionalidade suscitada (artigo 36º nº 2). É interposto, APENAS,
após sentença final proferida pelo tribunal da causa.

48
B. Âmbito do o recurso ordinário de inconstitucionalidade :

O âmbito do recurso circunscreve-se à questão da inconstitucionalidade suscitada


(art. 36.°, nº 2, da LOPC).

 Decisões dos tribunais comuns que recusem a aplicação de qualquer norma


com fundamento em inconstitucionalidade;

 Decisões que apliquem norma cuja inconstitucionalidade tenha sido


suscitada durante o processo;

 Decisões que apliquem norma já anteriormente julgada inconstitucional pelo


Tribunal Constitucional:

 Decisões que recusem a aplicação de normas com fundamento na violação


pela norma de uma Convenção internacional de que Angola faça parte;

 Decisões que apliquem norma constante de convenção internacional em


desconformidade com acórdão proferido pelo Tribunal Constitucional

C. Legitimidade processual e tramitação

São decisões positivas de inconstitucionalidade, ou de acolhimento, as decisões que


recusem a aplicação de uma norma com fundamento na sua inconstitucionalidade. A recusa
da aplicação de uma norma é uma decisão particularmente dramática, num ordenamento
jurídico, na medida em que se entende existir uma presunção de constitucionalidade, ao
menos das normas superiores do ordenamento jurídico (fàvor legis).
Tanto mais, quanto é certo que os juizes têm sempre a possibilidade de tentar salvar uma
norma recorrendo à sua interpretação em conformidade com a Constituição. Ou seja, dos
vários sentidos possíveis os juízes podem e deve escolher aquele que melhor se adequa ao
parâmetro constitucional.

A recusa de aplicação de uma norma com fundamento na sua inconstitucionalidade


é considerada como um dado anómalo, suscetível de perturbar a coerência e
consistência do ordenamento jurídico e o equilíbrio institucional entrem dos
diferentes órgãos constitucionais.

Já as decisões negativas de inconstitucionalidade são consideradas como as mais


"normais" no quadro do ordenamento jurídico, em perfeita consonância com a
mencionada presunção de constitucionalidade das normas, ao menos das
emanadas pelos órgãos com competências normativas superiores no quadro
institucional constitucionalmente previsto.
49
Em qualquer caso isso só se admite recurso para o Tribunal Constitucional de
sentença final proferida pelo Tribunal em causa (art, 36° nº3, da CRA).

Têm legitimidade para recorrer o Ministério Público e as pessoas que, nos termos
da lei, tenham legitimidade para dela interpor recurso ordinário, desde que tenham
suscitado a inconstitucionalidade perante o tribunal que proferiu a decisão
recorrida, e em termos que este estivesse obrigada a dela conhecer, sendo, neste
caso, obrigatória a constituição de advogado (arts. 37.° e 40.° da LOPC).

 Têm legitimidade para interpor o recurso ordinário de inconstitucionalidade: -


Ministério Público e

 As pessoas que tenham legitimidade para interpor o recurso ordinário


(comum), desde que tenham suscitado a inconstitucionalidade perante o
tribunal que proferiu a decisão recorrida. (art. 37.°, n.v 2, da LOPC)

O Recurso Ordinário de Inconstitucionalidade pressupõe uma acção principal… S é


obrigatório para o Ministério Público (artigo 21º da Lei nº2/08 de 17 de Junho) S se
interposto pelo Ministério Público aproveita a todos as partes no processo… resulta
da ideia do MP ser o guardião da Legalidade …

 O prazo de interposição do recurso é de oito dias, contados a partir da data


da notificação da sentença (art. 38.° da LOPC).

O requerimento do recurso deve indicar:

 A decisão concreta de que se recorre,

 A norma ou princípio cuja constitucionalidade tenha sido suscitada e se


pretende que o Tribunal Constitucional aprecie e (31 peça ou diligência
processual em que o recorrente suscitou a questão da inconstitucionalidade
(art. 41°, nº 1, da LOPC).

Na hipótese de: recurso ter por objeto a aplicação de norma anteriormente julgada
inconstitucional pelo Tribunal Constitucional deve ainda o requerente identificar a
decisão deste tribunal na qual foi julgada a inconstitucionalidade (art, 41.°, nº 2, da
LOPC). Faltando algum dos referidos elementos, o juiz da causa deve convidar o
requerente a apresentã-lo no prazo de dez dias (art. 41.°, n-3, da LOPC). Se o
requerente não apresentar os elementos em falta, o recurso é julgado deserto (art,
41°, nº 3, da LOPC).

50
É ao tribunal a quo que compete apreciar a admissão do recurso, devendo o juiz da
causa decidir sobre a mesma no prazo máximo de cinco dias contados da data da
entrada do requerimento respetivo (art, 42°, nº 1 e 2)

O recurso deve ser indeferido nos casos de:

a. O requerimento não preencher os requisitos supramencionados;

b. Extemporaneidade da interposição do recurso;

c. Falta de legitimidade do requerente (art. 42°, n.? 3, da LOpe).

Do despacho de indeferimento do recurso cabe reclamação a interpor diretamente


junto do Tribunal Constitucional, com conhecimento ao juiz da causa (art. 42°, nº5,
da LOPC).

O recurso de inconstitucionalidade tem efeito suspensivo, sobe-nos próprios autos e


suspende os prazos dos demais recursos previstos na lei (art, 44° da LOPC).

As alegações do recurso são apresentadas no Tribunal Constitucional (art. 45.° da


LOPC).

A LOPC admite recurso para o Plenário do Tribunal Constitucional quando a


questão da inconstitucionalidade tenha sido decidida pela Câmara respetiva e a
mesma contrarie anteriores decisões deste tribunal relativamente à mesma norma
(art. 46.° da LOPC).

D. A decisão do Tribunal Constitucional

A decisão do Tribunal Constitucional em fiscalização concreta pode ser de acolhimento ou


rejeição da inconstitucionalidade. Em ambos os casos isso pode significar a confirmação ou
revogação da decisão do Tribunal a quo.

Para, além disso, o Tribunal Constitucional pode proferir sentenças interpretativas,


determinando aos outros tribunais que certa norma seja interpretada, e aplicada, no
julgamento do caso, com o sentido que ele definir como sendo conforme à
Constituição (art, 47.°, nº 3, da LOPC).

Em causa está a aplicação do princípio da interpretação das normas jurídicas em


conformidade com a Constituição, segundo o qual, diante de duas interpretações
semanticamente possíveis - uma compatível e ourra incompatível com a
Constituição - os tribunais devem preferir a interpretação que for compatível com a
Constituição ou que permita maximizar e optimizar os diferentes bens jurídicos em
51
presença.

A decisão do recurso pelo Tribunal Constitucional tem efeitos inter partes, isto é,
circunscritos ao processo em presença (art, 47.°, nº1, da LOPC).

Se o Tribunal Constitucional der provimento ao recurso os autos baixam ao tribunal


a quo, para que este reforme a decisão em conformidade com o julgamento sobre a
questão da inconstitucionalidade (art, 47.°, nº 2, da LOPC).

E. Efeitos da interposição do Recurso Ordinário de


Inconstitucionalidade

A interposição do Recurso Ordinário de Inconstitucionalidade (artigo 44.º): tem


efeitos suspensivos; sobe-nos próprios autos; suspende os prazos dos demais
recursos previstos no CPC.

Efeitos da decisão proferida no Recurso Ordinário de Inconstitucionalidade (artigo


47.º LPC) são;

a. Faz caso julgado no processo apenas no processo em que foi levantada e


quanto à questão da inconstitucionalidade suscitada.

b. Os autos baixam ao tribunal de onde provieram, a fim de que este reforme a


decisão em conformidade com o julgamento sobre a questão da
inconstitucionalidade;

c. No caso de o juízo de constitucionalidade sobre a norma que a decisão


recorrida tiver aplicado ou que tiver recusado aplicação, se fundar em
determinada interpretação da mesma norma, essa deve ser aplicada com tal
interpretação no processo em causa.

F. Atitudes do tribunal constitucional

Quanto à concreta questão de inconstitucionalidade o tribunal constitucional assume


três posições:

a. Conceder provimento ao recurso, revogando total ou parcialmente a decisão


recorrida.

b. Negar total ou parcialmente provimento ao recurso ou não tomar dele


conhecimento (caso julgado a decisão do TC)

52
c. “Proferir um juízo de (in)constitucionalidade fundado em determinada
interpretação, ou seja condiciona a questão de (in)constitucionalidade a certa
interpretação. Sa decisão do Tribunal Constitucional não produz efeito directo
fora do processo em que é proferida.

4.3.2. O recurso para o Tribunal Constitucional: recurso extraordinário

A. Aspectos gerais.

Para além do recurso ordinário habitualmente inserido no domínio da fiscalização


concreta. A Lei 03/08 consagrou o recurso extraordinário de inconstitucionalidade
(art, 49º a 53º), assim o âmbito do recurso são:

1) Decisões dos demais tribunais que contenham fundamentos de direito e


decisões que contrariem princípios direitos liberdades e garantias previstos
na Constituição da República de Angola,

2) Actos administrativos definitivos e executórios que contrariem princípios,


direitos, liberdades e garantias consagrados na Constituição da República
de Angola.

Em termo do seu estabelecimento legal, o recurso extraordinário de


inconstitucionalidade encontra-se lado a lado com o recurso ordinário sob a comum
qualificação de fiscalização concreta.

Apesar desta inclusão do recurso extraordinário no âmbito da fiscalização concreta,


o Recurso Ordinário de Inconstitucionalidade e o Recurso Extraordinário de
Inconstitucionalidade apresentam, para lá de alguns traços comuns, assinaláveis
diferenças tanto quanto ao seu objecto como quanto a sua tramitação quer ainda
quanto ao seus efeitos.

B. Legitimidade de interposição.

O artigo 50º LOPC atribui legitimidade para este recurso ao Ministério Público e aos
particulares que nos termos da lei do processo em que a sentença foi proferida têm
legitimidade para interpor recurso ordinário em relação ás sentenças.

No que tange aos actos administrativos, têm legitimidade para interpor este recurso
às pessaos que tiverem legitimidade para impugnar contenciosamente o acto
administrativo.

53
C. Prazos de interposição

Os prazos para interposição do recurso quanto às sentenças é de oito dias a


contados da data da notificação da sentença. Quanto aos actos administrativos é
de 60 dias contados da data do conhecimento do acto objecto de impugnação.

D. Regime aplicável

O regime aplicável ao recurso extraordinário difere: quando estamos diante de


sentenças, o regime é o mesmo que é aplicado ao recurso ordinário de
inconstitucionalidade; quando estamos perante os actos administrativos o regime
aplicável é o estabelecido no Decreto-Lei 4- A/96 de 5 de Abril.

E. Competência – admissão.

A competência para analisar sobre a procedência, admissibilidade do recurso cabe


ao Presidente do Tribunal Constitucional, depois de deferido pelo tribunal a quo e
da decisão que o indefere liminarmente cabe recurso para o Plenário do Tribunal
Constitucional.

A competência para apreciar, julgar o recurso extraordinário de


inconstitucionalidade é do Plenário do Tribunal Constitucional. Tal como o recurso
ordinário, o recurso extraordinário também só pode caber de decisões judiciais
finais e não de despachos interlocutórios.

EXEMPLO: um despacho de não abertura injustificada de uma instrução


contraditória ou da prisão arbitrária de um arguido num processo crime – não cabe
Recurso Extraordinário de Inconstitucionalidade.

Tal como se refere nos termos do n.º 3 do artigo 36.º e do (artigo 49º al. a) e
parágrafo único). LPC em relação aos recursos ordinários de inconstitucionalidade
(Recurso Ordinário de Inconstitucionalidade e Recurso extraordinário de
Inconstitucionalidade) “só pode interpor-se (Recurso Ordinário de
Inconstitucionalidade e Recurso extraordinário de Inconstitucionalidade) de
sentença final proferida pelo tribunal da causa”. O mesmo acontece com o recurso
extraordinário da inconstitucionalidade, nos termos da disposição já citada (artigo
49º al. a) e parágrafo único.

Uma das mais importantes distinções entre os dois tipos de fiscalização concreta é:

1) No recurso ordinário, a questão da inconstitucionalidade é sempre uma


54
norma (ou a sua interpretação);

2) No recurso extraordinário essa questão é sempre uma decisão, uma decisão


judicial ou um acto administrativo, em qualquer caso uma decisão final e
definitiva.

No Recurso Extraordinário de Inconstitucionalidade o critério não é, pois, a


inconstitucionalidade da norma, mas a violação de um direito, liberdade, garantia
ou princípio fundamental. Um recurso tem a ver com norma, para é a violação de
um direito, liberdade, garantia ou princípio fundamental. O Recurso Ordinário de
Inconstitucionalidade tem a ver com normas (função fiscalizadora do TC), o
Recurso Extraordinário de Inconstitucionalidade tem a ver com decisões ou actos e
com a violação em concreto de direitos fundamentais, uma actuação susceptível de
produzir uma lesão (intervenção restritiva), ilícita em si mesma independentemente
de ser inconstitucional (função reparadora ou Tribunal de Direitos Fundamentais)

Por isso se pode dizer com propriedade que, enquanto o recurso ordinário de
inconstitucionalidade tem a ver com a função fiscalizadora do Tribunal
Constitucional, o recurso extraordinário tem muito mais a ver com a sua função
reparadora e com a sua também desejável qualificação como Tribunal de Direito
Fundamentais

Uma outra distinção assinalável a este dois recurso decorre das recentes
alterações introduzidas da Lei Orgânica do Tribunal Constitucional e na lei do
Processo Constitucional (Lei nº24 e 25/10, de 3 Dezembro), que tem a ver com a
existência da exaustão dos recursos para efeitos da interposição do recurso
extraordinário.

 Enquanto no Recurso Ordinário de Inconstitucionalidade, este só pode ser


interposto de sentença final mas não se exige que tenham sido esgotadas as
instâncias de recurso ordinário;

 O Recurso Extraordinário de Inconstitucionalidade “só pode ser interposto


após prévio esgotamento nos tribunais comuns e demais tribunais, dos
recursos legalmente previstos (§único do artigo 49 da LPC e al. m) do artigo
16º e nº 5 do artigo 21º ambos da LOTC

55
4.4. Fiscalização da incostitucionalidade por omissão

4.4.1. Aspetos gerais

A CRA estabelece um controlo da inconstitucionalidade por omissão circunscrita às


omissões legislativas suscetíveis de afetar a exequibilidade das normas
constitucionais.

Subjacente a esta figura está a ideia de que a Constituição desempenha, além do


mais, uma função dirigente que tem como destinatário o poder legislativo,
nomeadamente nos domínios económico, social e cultural.

4.4.2. As omissões constitucionalmente relevantes.

Importa saber quais são as omissões constitucionalmente relevantes, uma vez que
nem todas as abstenções de comportamento dos órgãos constitucionais violam a
Constituição.

Em primeiro lugar importa delimitar o âmbito das omissões constitucionalmente


relevantes. Nos termos da CRA, os processos de fiscalização da
constitucionalidade têm por objeto omissões legislativas. É esse o sentido que
resulta do preceituado nº 2 do art. 232.°, onde se estabelece que sequência da
verificação da inconstitucionalidade por omissão o Tribunal Constitucional dá
conhecimento da mesma ao "órgão legislativo competente".

Mas para que se possa concluir pela existência de uma omissão inconstitucional
importa saber se há violação de um concreto dever constitucional de legislar.

A doutrina distingue habitualmente entre três tipos de deveres constitucionais de


legislar: deveres abstratos e permanentes; deveres concretos e permanentes;
deveres concretos e não permanentes (ordens de legislar).

Só os deveres concretos de legislar podem, em princípio, dar origem a processos


de inconstitucionalidade por omissão. Dito de outro modo, para efeitos de controlo
da inconstitucionalidade por omissão não se considera atendível o dever geral e
abstrato de legislar.

Ainda assim, a doutrina tem vindo a entender que configuram também omissões
inconstitucionais as situações em que o legislador se abstém de densificar normas
constitucionais que careçam dessa densificação para serem exequíveis 60.
60
J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 7.a ed., Coimbra, Almedina,
2003, p. 1034
56
Do mesmo modo podem considerar-se inconstitucionais as omissóes de atualização
ou aperfeiçoamento de normas, partindo da ideia de que existe a obrigação
constitucional de o legislador "melhorar ou corrigir as normas de prognose 61".

Refira-se, ainda, que a omissão inconstitucional pode ser parcial, quando o


legislador cumpre de forma incompleta o dever de legislar a que está vinculado 62.

4.4.3. Legitimidade processual ativa

Dispõem de legitimidade processual para requerer ao Tribunal Constitucional a


fiscalização da inconstitucionalidade por omissão.

4.4.4. Decisões do Tribunal Constitucional

Nas decisões negativas de inconstitucionalidade, o Tribunal Constitucional conclui


pela não verificação da inconstitucionalidade; nas decisões positivas de
inconstitucionalidade, o Tribunal Constitucional verifica a inconstitucionalidade da
norma (art. 232°, nº2, da CRA).

4.4.5. Efeitos da decisão

Ê de assinalar a irrelevância da decisão negativa de inconstitucionalidade. Havendo


uma decisão positiva de inconsritucionalidade, o Tribunal Constitucional dá
conhecimento da existência de uma omissão inconstitucional ao órgão legislativo
competente, tendo em vista a supressão da lacuna (art. 232.°, nº 2, da CRA).

Note-se que a decisão positiva de inconstitucionalidade apenas assume relevância


no plano político e político-legislativo, uma vez que a CRA não consagra um
mandato de injunção (writ de mandamus). O Tribunal Constitucional não se pode
substituir ao legislador de forma temporária, para suprimir imediatamente a
omissão verificada. Esta
solução advém da obediência ao princípio da separação de poderes, que foi, neste
caso, levado até às últimas consequências. No caso português, semelhante
controlo de inconstitucionalidade por omissão tem-se mostrado praticamente
inócuo, o que não contribui para a sua credibilidade nem para a das imposições
legiferantes concretas.
Algumas orientações mais extremas, típicas do chamado novo processo legal (new
legal process), defendem que da primazia da Constituição decorre, para o órgão de

61
Idem, p. 1035
62
Idem, pp. 1035-1036
57
jurisdição constitucional, um dever de fixar um prazo ao legislador para suprir a
omissão inconstitucional e uma vez transcorrida esse prazo, substituir-se ao
legislador e adotar as necessárias medidas legislativas através de injunções
judiciais (writs). Justifica-se isto dizendo que se o órgão competente não cumpre os
seus deveres constitucionais, alguém tem que o fazer em vez dele. Nalguns casos,
este entendimento é reservado para a garantia de determinados direitos
fundamentais, nomeadamente quando estejam em causa dimensões essenciais da
vida e da integridade física. Para este entendimento, a força normativa da
Constituição e dos direitos humanos sobrepor-se-ia às objeções que se pudessem
formular contra esta expressão de ativismo judicial, em nome da separação de
poderes ou do princípio democrático.
Outras correntes, menos radicais, sustentam que ainda que não se substituísse ao
legislador, o Tribunal Constitucional teria a possibilidade ou mesmo o dever de
escolher um outro órgão com poderes normativos (v. g. executivo, administração
local) para suprir a inconstitucionalidade por omissão do órgão legislativo
constitucionalmente competente. Neste caso, a separação de poderes não seria
necessariamente posta em causa pela intervenção direta do Tribunal
Constitucional, embora houvesse que proceder a ajustamentos pontuais no
esquema constitucional de competências e funções.
Posições mais moderadas sustentam que o Tribunal Constitucional deveria pelo
menos entrar em diálogo ativo com o órgão legislativo competente, interpretando a
Constituição e formulando linhas de orientação ou mesmo recomendações sobre o
conteúdo positivo das medidas que este está constitucionalmente obrigado a
adotar.
Naturalmente que a resposta a dar a estas questões depende largamente das
possibilidades interpretativas abertas pelo texto constitucional e pela orientação
mais ou menos activa adotada pela jurisdição constitucional num determinado
contexto. Porém, em nosso entender, a última orientação referida afigura-se mais
realista e produtiva, do ponto de vista constitucional, quando comparada com as
que advogam a assunção de um poder político-legislativo (judicial policymaking)
pelo órgão jurisdicional de controlo ou o exercício de um poder de substituição do
órgão legislativo. Além disso, ela parece-nos preferível às teses que sustentam que
o Tribunal Constitucional se deve limitar, com toda a passividade, a verificar a
inconstitucionalidade por omissão e a dar dela conhecimento ao órgão legislativo
58
competente.

CAPÍTULO V.

A DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE

O ordenamento angolano adoptou a tese da nulidade da norma inconstitucional,


fazendo com a decisão que pronuncie a inconstitucionalidade em sede de controle
concentrado tenha natureza declaratória, sendo a norma considerada nula desde a
sua entrada em vigor em razão de sua incompatibilidade com a constituição (seja
incompatibilidade material ou formal).

Os efeitos produzidos pela declaração de inconstitucionalidade de uma norma vão


variar conforme se trate de decisão proferida em sede de controle concentrado
(quando a inconstitucionalidade é o próprio pedido da acção, alcançando a coisa
julgada) ou difuso (a inconstitucionalidade é a causa de pedir da demanda, sendo
mencionada nos fundamentos da decisão, e não no dispositivo, não alcançando a
autoridade da coisa julgada).

5.1. Efeitos da Decisão de Inconstitucionalidade em sede de Controle Difuso


de Constitucionalidade

No sistema difuso, a constitucionalidade da norma é verificada com base em um


caso concreto levado ao poder judiciário, razão pela qual a decisão proferida

59
declarando a inconstitucionalidade da norma produz efeitos inter partes, alcançando
tão somente aqueles que participaram da relação processual.

No momento em que a sentença declara que a lei é inconstitucional (controle difuso-


incidental), são produzidos efeitos pretéritos, que atingem a lei desde a sua edição,
tornando-a nula de pleno direito.

Portanto, os efeitos, em regra, são retroativos (ex tunc) e intra partes.


Posteriormente será abordada com maior profundidade a possibilidade de efeito ex
nunc, pela modulação temporal em sede de controle difuso.

Assim, em regra, a decisão que declara a inconstitucionalidade da norma em sede


de controle de constitucionalidade deflagrado na via difusa tem sua produção de
efeitos restrita as partes (inter partes), não produzindo efeitos jurídicos vinculantes
extra processuais (efeitos erga omnes), não alcançando terceiros que não
participaram do processo.

5.2. Efeitos da Decisão de Inconstitucionalidade em sede de Controle


Concentrado de Constitucionalidade

As decisões proferidas em sede de controle concentrado que declaram a


inconstitucionalidade da norma produzem, de modo geral, efeito erga omnes
(alcançando a todos), e também efeito ex tunc, ou seja, retroativo ao momento da
data de produção da norma, retirando do ordenamento jurídico o ato normativo ou lei
incompatível com a Constituição Federal, pois sendo inconstitucional , a norma é
considerada nula de pleno direito.

60
ÍNDICE
CAPÍTULO INTRODUTÓRIO.................................................................................................................... 1
A GARANTIA E FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO...................................................................................1
1.1. SENTIDO DA GARANTIA E FISCALIZAÇÃO CONSTITUCIONAL............................................1
1.2. Fiscalização de constitucionalidade..................................................................................................4
CAPÍTULO I ...................................................................................................................................................... 6
A FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO................................................................................. 6
1.1. Supremacia normativa da Constituição e a garantia da constitucionalidade..................................6
O princípio da supremacia da constituição....................................................................................................8
1.2. A conformidade dos actos jurídico-públicos com a constituição.......................................................9
1.3. Os diferentes sistemas de fiscalização...............................................................................................10
1.3.1. O Modelo Inglês..............................................................................................................................10
1.3.2. O modelo francês - fiscalização política, comitè constitucional e conselho constitucional.
11
1.3.3. O modelo austríaco de fiscalização - concepção kelseniana................................................12
1.3.4. Fiscalização autônoma - modelo alemão...................................................................................13
1.3.5. O Modelo Português......................................................................................................................14
1.4. Critério de fiscalização...........................................................................................................................15
1.4.1. Fiscalização jurisdicional da constitucionalidade (modelo difuso e concentrado)...............15
1.4.2. Fiscalização jurisdicional da constitucionalidade (modelo abstracto/concentrado)............18
CAPÍTULO II .................................................................................................................................................. 21
O TRIBUNAL CONSTITUCIONAL....................................................................................................... 21
2.1. Composição e Definição..............................................................................................................................21
2.1.1. Definição..........................................................................................................................................21
2.1.2. Composição....................................................................................................................................21
2.2. Organização e funcionamento..............................................................................................................23

61
2.2.1. Generalidade sobre o funcionamento do Tribunal Constitucional..........................................23
2.2.2. O Consensualismo e (in)falibilidade das decisões do T. Constitucional...............................24
2.2.3. A declaração de voto.....................................................................................................................26
2.3. Competências principais: A fiscalização normativa...........................................................................26
2.3.1. Noção e espécies...........................................................................................................................26
2.3.2. Objecto de fiscalização preventiva: actos normativos..............................................................27
2.3.3. Exclusão dos actos políticos, dos actos administrativos, das decisões jurisdicionais e dos
actos jurídico-privados....................................................................................................................................29
2.4. Outras competências..............................................................................................................................30
2.4.1. Competências que o Tribunal Constitucional exerce em única e em última instância.......31
CAPÍTULO III.................................................................................................................................................. 32
A FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE E DA LEGALIDADE DOS ACTOS
JURÍDICO-PÚBLICOS............................................................................................................................... 32
3.1. A construção clássica da teoria da inconstitucionalidade................................................................32
3.1.1. Pressupostos.................................................................................................................................32
3.1.2. Áreas problemáticas típicas.......................................................................................................32
3.1.3. Controlo da constitucionalidade das leis.................................................................................32
3.1.4. Proteção autónoma dos direitos fundamentais.....................................................................33
3.1.5. Controlo da regularidade da formação dos órgãos constitucionais.................................34
3.1.6. Modelos de Justiça Constitucional...........................................................................................34
3.1.7. A actividade de controlo..............................................................................................................35
3.2. Tipos de inconstitucionalidade..............................................................................................................36
3.2.1. Inconstitucionalidade formal.........................................................................................................36
3.2.2. Inconstitucionalidade material......................................................................................................38
3.2.3. Constitucionalidade originária e superveniente.........................................................................38
3.2.4. Inconstitucionalidade por acção e inconstitucionalidade por omissão..................................39
3.3. Objecto da fiscalização..........................................................................................................................40
CAPÍTULO IV................................................................................................................................................. 42
O PROCESSO JURISDICIONAL DE FISCALIZAÇÃO.............................................................42
4.1. A fiscalização Abstracta.........................................................................................................................42
4.1.1. Fiscalização abstracta preventiva................................................................................................42
4.1.2. Fiscalização abstrata sucessiva..................................................................................................44
4.2. A fiscalização concreta..........................................................................................................................47
4.2.1. Controlo concreto...........................................................................................................................47
4.2.2. Controlo difuso................................................................................................................................47
4.3. O processo de declaração de inconstitucionalidade com base na fiscalização concreto...........49
4.3.1. O recurso para o Tribunal Constitucional...................................................................................49
4.3.2. O recurso para o Tribunal Constitucional: recurso extraordinário..........................................53
4.4. Fiscalização da incostitucionalidade por omissão.............................................................................56
4.4.1. Aspetos gerais...............................................................................................................................56
4.4.2. As omissões constitucionalmente relevantes.......................................................................56
4.4.3. Legitimidade processual ativa...................................................................................................57
4.4.4. Decisões do Tribunal Constitucional.......................................................................................57
4.4.5. Efeitos da decisão........................................................................................................................58
CAPÍTULO V................................................................................................................................................... 60
A DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE...................................................................60
62
5.1. Efeitos da Decisão de Inconstitucionalidade em sede de Controle Difuso de
Constitucionalidade..............................................................................................................................................60
5.2. Efeitos da Decisão de Inconstitucionalidade em sede de Controle Concentrado de
Constitucionalidade..............................................................................................................................................61
ÍNDICE............................................................................................................................................................... 62

UNIVERSIDADE KIMPA VITA


Faculdade de Direito

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS DE
DIREITO CONSTITUCIONAL II: Justiça
Constitucional

63
Organizado por:
Mestre Jaime M. D. Yamba
Doutorando em Direito Penal Internacional
Professor auxiliar

2017

64

Você também pode gostar