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Inventário e Classificação de
Estratégias de Arrefecimento Passivo na
Arquitectura Vernácula do Médio Oriente
Fewzi Fardeheb
UCLA Graduate School of Architecture and Urban Planning
405 Hilgard Avenue, Los Angeles, California 90024
Resumo
Introdução
Quem construiu cidades como Fez, Cairo, Bagdade e Teerão em climas áridos e
quentes, conseguiu criar condições de vida confortáveis, para centenas de milhares de
pessoas, compreendendo as formas pelas quais essas populações se poderiam adaptar
ao respectivo ambiente.
Os países do médio Oriente estão situados nas regiões áridas e desérticas mais
importantes do mundo. Estas situam-se entre os paralelos 15º e 30º de latitude Norte e
no Hemisfério Sul (Figura 1). A área de estudo no âmbito deste trabalho inclui, no
continente africano, o deserto do Sahara, o maior deserto do mundo (com 9 milhões
de Km2), na península Arábica, o deserto Arábico (com 2,5 milhões de Km2), e nas
regiões Centrais do Irão, o deserto Iraniano (com 388.000 de Km2).
O Norte de África e o Médio Oriente não se estendem somente por regiões desérticas;
ainda que prevaleçam os climas quentes e áridos. Efectivamente, verifica-se a
ocorrência de climas de tipo Semi-Árido e Sub-Tropical Mediterrâneo em algumas
partes do Norte de África, Arábia Saudita, Irão, Iraque e Paquistão. O clima destas
regiões caracteriza-se por Verões quentes e secos (Figura 2).
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Temperaturas do Ar
As temperaturas de Verão variam entre 40°C e 50°C durante o dia e entre 15°C e
25°C durante a noite. As temperaturas da superfície do solo chegam a atingir 37°C e a
diferença entre temperatura máxima e mínima durante o mesmo dia pode variar 20°C.
Esta leveada variação é o resultado da acção conjunta do baixo teor de humidade do
ar e da ocorrência frequente de situações de céu limpo (Givoni 1981).
Precipitação
A precipitação é baixa e varia desde 50 até 150 mm anuais. Enquanto algumas regiões
poderão não ter chuva durante vários anos, noutras poderão ocorrer tempestades com
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Radiação Solar
Porque o céu está virtualmente sem nuvens, a radiação solar é muito intensa atingindo
valores de 300 kcal/m2.h numa superfície horizontal (Givoni 1981).
Vento
Givoni e Milne demonstraram na sua carta psicrométrica que durante a estação mais
quente, as condições de conforto só são atingidas com recurso a meios mecânicos;
contudo este pressuposto nem sempre é verdadeiro conforme será demonstrado nos
exemplos deste artigo. As condições de conforto são conseguidas por utilização de
estratégias simples na construção dos edifícios e por alterações nos hábitos de vida.
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A forma arquitectónica optimizada, num clima quente e árido, é aquela que possui um
mínimo de ganho de calor no Verão e um máximo de perda de calor no Inverno.
Algumas edificações do Médio Oriente seguem este princípio e caracterizam-se por
um padrão compacto segundo uma direcção horizontal ou vertical com reduzida área
de exposição ao sol no Verão e aos ventos frios no Inverno. As casas pátio são típicas
destes climas e estão densamente agrupadas por forma a restringir as áreas expostas à
radiação solar.
Este tipo de agrupamento urbano apresenta vantagens térmicas e religiosas (figura 4).
Dado que as paredes que delimitam as habitações ou são cegas ou são adjacentes a
outras casas, a ligação com o espaço exterior faz-se por meio de pátios interiores que
é o centro das actividades dos ocupantes. A maioria dos espaços habitacionais está
voltada para os pátios e possui aberturas reduzidas para a rua. As poucas aberturas
existentes são localizadas junto ao tecto por motivos de iluminação e ventilação. Esta
configuração é muito apropriada em climas típicos de regiões desérticas.
Aberturas
No clima muito seco de Damasco, o ar penetra nas casas através do pátio interior,
depois de ter sido arrefecido por processos de evaporação no contacto com água e
plantas. O ar assim arrefecido empurra o ar mais quente, acumulado na casa, para o
exterior através das aberturas situadas sobre as portas e janelas. Nalguns exemplos do
Cairo, Bagdade e Irão o ar exterior é captado por um colector de vento para depois ser
arrefecido na sua passagem por um espelho de água ou por uma fonte. Nas zonas onde
a humidade é superior não existe a fonte dado que os compartimentos são abertos para
todos os lados de modo a permitir o máximo de ventilação transversal. Esta estratégia
é utilizada na Argélia. Em certos "Ksars" do Sul de Marrocos, o ar quente é extraído
naturalmente por pequenas aberturas situadas nos tectos.
O colector de vento tem a sua origem no Egipto, tendo sido encontradas referências
em manustrícos da era faraónica (Lezine, 1971). Também foi encontrado em
Bagdade, Iraque, em Hyredabad, Paquistão e em Herat, Paquistão. Distingue-se da
torre de vento pela sua forma e altura. Em Bagdade o Colector de ar tem uma largura
de cerca de 90 cm a 1,20 m e 60 cm de profundidade. A abertura exterior tem cerca de
90 cm de altura e eleva-se 90 cm a 1,20 m acima do nível do telhado (Al-Azzawi,
1969) (Figura 7). Um colector de ar ou de vento está voltado para uma única
orientação de vento e não se eleva tão alto, acima do telhado, como a torre de vento.
Também chamado "milqaf" ou "malqaf" no Egipto e no Iraque respectivamente, o
colector de vento é constituído por uma abertura de captação executada em tijolo,
madeira, ou metal com uma inclinação de 45º voltada para os ventos dominantes.
Com este ângulo o vento entra no colector na sua máxima intensidade, atravessa os
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As temperaturas diurnas das paredes interiores nos edifícios equipados com torres de
vento são sempre inferiores às que se verificam no exterior devido ao facto de nunca
receberem radiação solar directa bem como às temperaturas do ar ambiente interior
uma vez que essas paredes foram arrefecidas pelo ar frio da noite anterior. Assim, a
brisa dominante é captada e forçada a descer o poço o qual é arrefecido por condução
devido ao contacto com as paredes interiores que lhe são adjacentes.
sesta (Figura 7). Em Bagdade, onde os colectores de vento são ainda largamente
utilizados, cada compartimento tem o seu próprio "milqaf" e, dependendo da sua área
e função, um compartimento poderá ter um, dois, ou mais colectores de ar. Com este
sistema podem ser conseguidas temperaturas interiores 10º mais frias do que as
exteriores (Lezine, 1971).
Torres de Vento
As primeiras torres de vento que se conhecem são relatadas por Marco Polo e
referem-se ao século XIII, na cidade Persa de Mormoz. Também se podem encontrar
torres de vendo na zona do Golfo Pérsico tendo sido provavelmente trazidas da Pérsia
através de rotas comerciais (Michel, 1978) (Figura 9).
Na zonas Sul e Central do Irão donde são originárias, as torres de vento são chamadas
de "badgeer" e representam uma construção típica da arquitectura local. Verificam-se
diferenças no desenho, decoração, altura, aberturas, e nos cortes. As torres de vento
são construídas geralmente com tijolos de barro seco ao sol ou tijolos de lama
cozidos. As torres de vento mais altas são reforçadas com vigas de madeira visíveis e
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salientes. Estas pequenas vigas de madeira são também utilizadas como andaimes
para limpeza e manutenção. A torre de vento assemelha-se a uma chaminé, subindo
bem acima das casas de modo a captar as brisas dominantes para depois as canalizar
para os compartimentos e para o pátio interior.
As torres de vento estão sempre sujeitas à circulação do ar, com ou sem o vento,
devido ao efeito causado pelas diferenças de densidade do ar. Poderá ainda aumentar-
se o efeito de arrefecimento se pequenos lagos de água forem colocados directamente
abaixo da torre de vento para arrefecimento por evaporação.
Em dias quentes e sem vento, o ar quente exterior é arrefecido por contacto com as
paredes de separação da torre que foram previamente arrefecidas durante a noite. Este
ar exterior torna-se mais denso à medida que é arrefecido sendo deste modo obrigado
a descer a torre. Trata-se de um fenómeno oposto ao efeito de chaminé. Deste modo o
ar frio entra no edifício através das janelas e das portas. Em dias de muito vento a taxa
de arrefecimento é aumentada com ar frio que chega a quase todos os
compartimentos.
Em noites sem vento, a torre de vento funciona como uma chaminé. As paredes de
separação que foram aquecidas durante o dia radiam calor para o ar frio da noite e o ar
quente, dos compartimentos e da torre, é extraído para o exterior devido ao seu
desenho. A pressão do ar no topo da torre é menor devido ao ar quente e menos denso
que é empurrado para o exterior. Quando há vento, o ar exterior é forçado a descer e
arrefece os compartimentos.
Outro tipo de desenho pode ser encontrado em Bam, no Irão, onde a torre é colocada
50 m acima da base da casa e ligada a ele por um túnel de alvenaria enterrado. As
paredes deste túnel são mantidas húmidas por água de rega que se difunde através do
solo.
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Mashrabiya
Arrefecimento Evaporativo
No clima muito seco como o das terras do Alto Egipto, a taxa de arrefecimento do
jarro pode ser aumentada se este for colocado num local onde exista maior
movimento do ar.
Figura 12 - Planta, corte e vista de um silsabils numa casa do século XI, em Fustat,
Iraque (Badawy, 1958).
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Cisternas de Água
Arrefecimento Radiativo
Outra alternativa menos comum é o conceito dos dois pátios interiores (Figura 15).
Um pátio é mais estreito e está ensombrado durante a maior parte do dia, portanto
mantém uma atmosfera fresca. O outro pátio interior é de maiores dimensões e está
aberto à radiação solar. A temperatura do ar apresenta valores diferentes em cada um
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dos pátios devido à densidade do ar. No pátio interior pequeno o ar é frio e mais
denso; no pátio interior grande o ar é quente e tende a subir. Se existirem aberturas
que façam a comunicação entre os dois pátios são geradas correntes de ar convectivas
devido a estas diferenças de pressão. Se essas aberturas forem bem desenhadas e
controladas possibilitam um agradável espaço de descanso. Por vezes são colocados
jarros de água porosos para incrementar a capacidade de arrefecimento. Nas casas
com este sistema os habitantes passam as horas mais quentes dos dias de Verão neste
espaço arrefecido entre os dois pátios (Cain et al., 1976).
No extremo Sul da Tunísia, os Verões são muito quentes e os Invernos muito frios. O
vento Sirocco (vento muito forte que sopra de sudeste e sudoeste) trás consigo
grandes quantidades de poeira. Cerca de 20 Km a sudoeste de Gabes está situada,
numa região montanhosa, a aldeia de Matmata, onde uma população de berberes vive
em abrigos subterrâneas para se defender destas condições extremas de clima (Figuras
18 e 19).
Matmata foi construída por volta dos séculos X ou XI e na sua origem alojava cerca
de sete mil habitantes. Famílias alargadas faziam a sua vida à volta de pátios
escavados pelos homens. As dimensões desses pátios eram de aproximadamente 6 a
12 m de largura por 12 a 60 m de profundidade. Os compartimentos, dispostos
segundo um eixo longitudinal possuíam nestas construções os cantos arredondados e
estão geralmente bem isolados devido à espessa camada de terra que os envolve
(Petherbridge, 1976).
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A entrada para este abrigo faz-se através de um túnel inclinado, com rampa ou
escadas. Perto da entrada existe por vezes um quarto de hóspedes ou um
compartimento para animais. Os compartimentos do piso superior são onde se
concentram as actividades da vida do dia a dia, sendo as actividades sociais destinadas
ao pátio. No piso superior existem também celeiros e áreas de armazém. Esta unidade
de habitação expande-se de acordo com o número de compartimentos e pátios
escavados. Nesta tipologia as casas unem-se entre si por meio de túneis pertencendo o
conjunto geralmente a uma família alargada.
Nos climas quentes e áridos do médio oriente Islâmico encontram-se muitos casos da
tipologia “Casa Pátio”. Porém, também é possível encontrá-los nos climas temperados
mediterrânicos do Sul da Europa, bem como em todo o Norte de África e nos países
do Golfo Pérsico. Desde Marrocos até à Índia a “casa pátio” apresenta-se com a
mesma configuração típica mas apresentando pequenas variações devidas a factores
culturais e de microclima. No mundo Árabe o pátio é o elemento central da casa e
gera um espaço íntimo que proporciona privacidade e segurança.
A “casa pátio” é uma herança da era pre-islâmica tendo-se tornado uma entidade
autónoma com o advento de uma nova sociedade. Escavações efectuadas por Sir
Leonard Wooley em 1927 na cidade de Ur, uma cidade mesoptâmica do século XX
A.C., mostram não existirem, nem ruas direitas nem passagem amplas, mas apenas
ruelas estreitas e ventosas e becos sem saída. As casas têm pátios interiores para os
quais se abrem todos os compartimentos das habitações (Figura 22).
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A casa pátio tem uma elevada massa estrutural, mas com pequenas aberturas, ou
mesmo sem quaisquer aberturas para o exterior, a cobertura é plana de cor clara e é
também usada no Verão como local para dormir e para secar alimentos. Nos climas
quentes e áridos de condições mais extremas é frequente encontrar-se uma fonte ou
uma palmeira dentro de casa, que são consideradas como símbolos de vida.
Orientação
O princípio da “casa pátio” tem a qualidade de proteger o espaço privado e aberto dos
efeitos extremos da temperatura, de poeiras, e dos ventos que se fazem sentir fora do
povoado. Numa escala maior, as muralhas exteriores que muitas vezes envolvem as
povoações islâmicas têm a função de proteger os seus habitantes das difíceis
condições impostas pelo ambiente (Roberts, 1979). Um vista aérea da Medina de
Tunis (Figura 24) ou as aldeias de Mzab evidenciam este princípio cujas
características são bem visíveis: aqui todos os pátios são orientados segundo uma
direcção determinada.
A orientação de um edifício num clima quente e árido é crítica dado que pode
verificar-se uma diferença de 3 ºC entre a melhor e a pior orientação. As paredes
voltadas para Este e Oeste são, depois da cobertura, os elementos construtivos que
recebem maior intensidade de radiação solar. Em face deste condicionamento, as
povoações tradicionais estão geralmente orientadas segundo um eixo Norte-Sul de
modo a que as Paredes Este e Oeste estejam encostadas e recebam pouca radiação
solar (Konya, 1980).
A maior parte dos pátios de "Medina" ou as partes antigas de Tunis estão orientados
de Nordeste para Sudoeste ou de Sudeste para Noroeste. Esta orientação de 45º
relativamente aos pontos cardeais permite um maior sombreamento no Verão,
exceptuo pelo meio dia, mas também permite uma maior exposição solar durante o
Inverno (Ellouze, 1985).
Devido ao facto de a altura ser superior à largura, o pátio interior é sempre sombreado
durante o Verão, excepto quando o Sol têm uma direcção vertical. As paredes mais
recuadas do pátio minimizam a superfície de exposição solar. A cobertura é a maior
fonte de absorção de calor solar, por isso é sombreada pelos parapeitos das paredes
que a circundam construídos também com objectivos de segurança e privacidade. De
modo semelhante as paredes exteriores são sombreadas pelo outro lado das ruas,
sempre estreitas.
Migrações Internas
O interior das habitações é grandemente afectado pelo clima, tal como a envolvente
exterior. As temperaturas variam no mesmo compartimento de acordo com a estação e
com as horas do dia, isto é de acordo com a posição relativa do Sol. Em consequência
deste fenómeno, os habitantes deslocam-se no interior das habitações à procura das
melhores condições de conforto. A este procedimento poderá chamar-se nomadismo
ou migração interna, quer se dê ao longo de um dia, quer se processe ao longo de uma
estação, quando certos compartimentos são usados durante o Inverno e não são
durante o Verão (Figura 25). Este tipo de nomadismo aparece muito evidente no
Iraque, na Síria e no Vale de Mzab, na Argélia. Durante o Verão verifica-se um
nomadismo diário quando os habitantes utilizam diferentes pisos da casa, passando a
maior parte do dia no primeiro andar, fazem a sesta no piso térreo e à noite dormem
na cobertura. Em Bagdad durante o Inverno, a família vive no primeiro andar, devido
à excessiva humidade do piso térreo e às baixas temperaturas que se verificam na
cobertura. A galeria exterior situada entre os compartimentos de habitação e o pátio é
utilizada como zona de dormir durante a Primavera e o Outono, quando já está muito
calor para se dormir no interior da casa, mas ainda está muito frio para se dormir na
cobertura.
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A maior parte das actividades diárias exercem-se perto do piso térreo devido à sua
temperatura mais fresca. Este tipo de comportamentos difere bastante do típico modo
de vida ocidental, em que cada compartimento de habitação possui a sua própria
função e respectivo mobiliário.
Massa Térmica
se aquecido durante a noite devido à transmissão de calor que se realiza das paredes
para o ar. Numa noite de Verão em que o ar exterior esteja a uma temperatura mais
fria do que o ar interior, poderão ser abertas as janelas de modo a manter uma
temperatura interior mais confortável. Ao mesmo tempo a massa do edifício é
refrescada pelas correntes de ar frio nocturno que será utilizado durante o dia quando
a temperatura exterior se situar a cima dos níveis de conforto.
As coberturas e as paredes são elementos através dos quais o calor pode penetrar. O
desempenho térmico da cobertura é fundamental dado que é a sua superfície
horizontal que recebe as maiores intensidades de radiação solar.
No Iraque as paredes exteriores eram construídas no piso térreo com tijolos leves
cozidos de 24 a 40 cm de espessura, de modo a se verificasse um desfasamento de
tempo do efeito do calor proveniente da radiação no interior da casa. As paredes
interiores eram pintadas em cores claras de modo a promover uma maior reflexão e
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Experimentação e Medições
Os resultados obtidos nas medições que se apresentam de seguida fazem prova dos
efeitos de arrefecimento das tecnologias tradicionais utilizadas na arquitectura
vernácula.
Teria sido mais vantajoso que a monitorização tivesse sido efectuada durante o Verão,
quando o arrefecimento natural é utilizado numa grande escala. O próprio Reynolds
fez perguntas que ficaram sem resposta: como se movimenta o ar no interior do pátio?
Será a existência de árvores realmente vantajosa no pátio? Sem ela poderia o
pavimento do pátio ter um efeito de radiação nocturna para a abóbada celeste mais
eficaz? Como se comportam estes pátios durante o Verão? Qual o efeito da ventilação
nocturna durante o Verão?
Reynolds conclui que existem muitos factores que podem promover o arrefecimento.
Cada um dos sistemas de arrefecimento actuando separadamente apenas contribui, de
forma pouco significativa, para melhorar as condições existentes. No entanto a sua
utilização conjugada transforma o pátio num espaço muito mais agradável.
Nour também concluiu que a temperatura no pátio era inferior à da cobertura entre 4º
e 5ºC entre o meio-dia e as 16:00 horas e que geralmente era mais fresco durante um
período de 10-12h durante o dia. O pátio é arrefecido durante o dia devido ao facto de
o ar frio ser mais denso entrando na casa proveniente da rua por diferentes processos
de convecção que empurram o ar quente para cima sendo criado deste modo um ciclo
de arrefecimento entre a rua, o pátio e os compartimentos circundantes deste.
Nour esclarece que o pátio é apenas um factor entre outros que contribuem para
melhorar as condições de arrefecimento das habitações. Entre esses outros factores de
melhoria encontram-se o tipo de construção, a orientação de certas partes da
habitação, a disposição das aberturas, a utilização de colectores de vento, as fontes de
água e a vegetação existente no pátio.
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Conclusão
Muito pouca investigação tem sido feita com o objectivo de estudar o desempenho
das técnicas de arrefecimento passivo utilizadas na arquitectura tradicional. Esta
sistematização resulta da actual tendência da tecnologia para dar um grande ênfase a
sofisticados sistemas de ventilação e ar condicionado. Outra motivação para este
trabalho de investigação foi que nos países em desenvolvimento onde estas
tecnologias predominam a investigação é praticamente inexistente. O resultado tem
sido o de investigadores das universidades ocidentais com dificuldades em
conduzirem, monitorizarem, compilarem e interpretarem os dados serem enviados
para desenvolver os estudos.
O termo de Arquitectura Bioclimática aparece pela primeira vez no livro dos irmãos Victor e Aladar
Olgyay com o nome "Design with Climate". Os irmãos Olgyay foram sem dúvida os primeiros teóricos
deste tipo de arquitectura (ou deste aspecto importante da arquitectura) como assinala Rafael Serra
Florensa no prefácio da recente edição espanhola deste extraordinário livro. "Quando em consequência
da crise de energia da década de setenta, se começou a investigar a relação entre arquitectura e
energia descobriu-se rapidamente um autor que, 20 anos antes já houvera aprofundado a interacção
entre os edifícios e o meio natural envolvente, postulando nos seus escritos como são e como deverão
ser as relações entre arquitectura e lugar, entre forma e clima, ou entre urbanismo e regionalismo..."1
Outra expressão que também se utiliza quando se trata destes assuntos é a de Tecnologias Solares
Passivas, a qual parece colocar uma ênfase maior em certo tipo de sistemas construtivos que recorrendo
a processos naturais e quando utilizados e aplicados de forma correcta promovem uma maior eficiência
energética dos edifícios.
Pessoalmente parece-me que a ênfase colocada nos sistemas poderá não ser tão rica como a colocada
na arquitectura. Isto porque por um lado a designação de solares passivos parece ser um pouco restrita
uma vez que está mais associada a sistemas de aquecimento a ser utilizados no Inverno e por outro,
pode fazer passar a ideia que a simples utilização dos tais sistemas solares passivos, resolve a questão
da adaptação ao clima dos edifícios. Efectivamente julgo que a utilização dos sistemas passivos pode
ser um grande contributo para o desempenho energético dos edifícios, porém também considero que
um conhecimento profundo dos fenómenos físicos de transmissão de calor conjugado com uma
experiência das relações dos edifícios com os fenómenos de conforto térmico pode conduzir a
resultados muito mais ricos em termos arquitectónicos e de conforto.
No entanto, considero a questão das razões que estão por trás destas designações bastante irrelevante. O
único interesse que pode ter o seu esclarecimento e debate é o de poder dar um pouco de luz sobre o
enquadramento que a prática da arquitectura bioclimática poderá ter no contexto mais lato da própria
arquitectura.
Os conceitos que aparecem mais vezes associados à arquitectura bioclimática são os de estratégias
bioclimáticas e de sistemas passivos (solares ou não). O conceito de arquitectura bioclimática deve
abarcar também outros sistemas naturais como por exemplo os de arrefecimento. A distinção entre
estratégia e sistema passivo parece-me importante porque a ela estão implícitas diferentes tipos de
abordagens. Coloca uma questão de metodologia relativamente à arquitectura bioclimática.
1
Olgyay, Victor; “Arquitectura y Clima – Manual de diseño Bioclimático para Arquitectos y
Urbanistas”, Gustavo Gili, Barcelona, 1998.
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Uma estratégia bioclimática faz apenas referência a um fenómeno térmico porque deriva directamente
desse fenómeno - são exemplos de estratégias, as de ventilação, de arrefecimento evaporativo, de
promoção ou de restrição dos ganhos solares.
Um sistema passivo é já um dispositivo construtivo onde se podem conjugar um ou mais fenómenos de
transmissão de calor - são exemplos de sistemas as paredes de Trombe, as estufas, os átrios, as parede
de água. Ou; evocando a Arquitectura Árabe (já apresentada em números anteriores desta revista) e
cuja enorme riqueza bioclimática foi aí demonstrada; temos sistemas como as torres e os colectores de
vento, os “serdabs”, os pátios, as “maziaras”, entre outros.
Caminhando do geral para o particular, existem depois os casos e exemplos de tipologias concretas
onde foram utilizadas certas estratégias bioclimáticas e/ou sistemas passivos cujo desempenho já foi
devidamente avaliado e servem de referência para materializar a arquitectura bioclimática em casos
concretos. É também o caso da arquitectura popular onde encontramos bons exemplos dos quais
podemos tirar importantes lições, sendo os casos mais evidentes os dos climas de condições extremas.
O desempenho de certos sistemas de aquecimento passivo, como o ganho directo, a parede de Trombe,
a estufa, entre outros, encontra-se amplamente investigado. A maior necessidade na utilização destes
sistemas por parte dos países do Norte do planeta, que são também os de maior potencial, tecnológico
motivou uma maior preocupação por parte das entidades científicas, existindo assim numerosos
métodos de cálculo que estimam o contributo energético destes sistemas, quer de uma forma mais ou
menos simplificada, quer de uma forma extremamente detalhada. Infelizmente o desempenho de certos
sistemas de arrefecimento passivo não está tratado a nível do conhecimento teórico com o mesmo
rigor. Sabe-se que são bons, que resultam, que são os mais adequados para certas regiões e para certos
climas, porém não há métodos de cálculo capazes de quantificar os seus efeitos energéticos na prática.
A supressão desta carência ajudaria sem dúvida imenso na sua disseminação de uma forma correcta.
Quando a mancha do registo dos estados do ar se situa no interior da área representada na figura 1 a
cinzento é porque o clima é muito quente e húmido e caracteriza-se do seguinte modo:
⎯ temperaturas efectivas superiores a 25,6°C (78°F);
⎯ volume específico do ar inferior a 1,128Kg/m3 (0,0704lb/ft3);
⎯ humidade relativa inferior a 80 % e superior a 20% e;
⎯ temperatura seca inferior a 31,9°C (89,5°F).
Givoni identifica dois casos: Clima Equatorial Marítimo e Clima Tropical Marítimo:
Observa-se assim que em casos extremos de climas tropicais e equatoriais as habitações devem ter
grandes ensombramentos, serem de inércia fraca (materiais leves) e permitirem a franca ventilação
(muitas vezes não deve haver sequer janelas envidraçadas).
2
Baruch Givoni, “Man Climate & Architecture”, Applied Science Publishers, 2nd Edition London
1976.
3
Diagrama psicrométrico obtido a partir de:
Watson, Donald and Labs, Kenneth. "Climatic Design. Energy Efficient Building Principles and
Pratices".
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Nestes climas, com elevados valores de temperatura e humidade relativa, a reacção natural do corpo é
dissipar o excesso de calor latente através do suor. A mais pequena aragem ou movimento de ar produz
um efeito de conforto. Isto deve-se ao facto de a água no estado líquido, para evaporar, absorver calor
do nosso corpo. É aquela sensação de arrefecimento que todos conhecemos quando o vento atravessa o
nosso corpo molhado.
Assim, a grande diferença entre arquitectura bioclimática de regiões tropicais húmidas e a das
regiões quentes e secas (Arquitectura Árabe) prende-se com as velocidades de ar que devem ser
promovidas e com os níveis de inércia térmica que deve possuir a construção.
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CONCLUSÕES
Não é necessário que a adaptação ao clima da arquitectura nestas regiões se faça segundo determinados
formalismos e materiais conforme exemplos das figuras 2 e 3. Outras formas são possíveis e igualmente
adequadas assim como outros materiais construtivos podem surtir os mesmos efeitos. As únicas exigências
prendem-se com certas estratégias e princípios, que se enunciam de seguida: O edifício deve ter inércia
fraca, promover a franca ventilação e possuir ensombramentos de molde a criar diferenças de pressão que
induzam movimentos do ar.
A arquitectura bioclimática pode portanto assumir todos os tipos de edifícios bem como todos os
estilos arquitectónicos. Assim como a arquitectura bioclimática não poderá ter um estilo próprio ou
ser conotada com qualquer tipo de formalismo.