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INDICE
As Reminiscências nos Idosos – Situação Particular na Depressão ..........................................2
Atitudes dos alunos face a si próprios e aos comportamentos de profissionalidade docente:
Um estudo com alunos do 5º e 7º anos de escolaridade ............................................................9
Atractividade e comportamento agressivo...............................................................................29
Atribuições Causais no Desporto: Estudo sobre os Motivos do Sucesso e Insucesso em
Função da Modalidade Praticada .............................................................................................50
Auto-Estima, Dilemas Implicativos e Adaptação Psicológica Na Adolescência: Um Estudo
Exploratório .............................................................................................................................71
Autoconceito profissional dos professores ..............................................................................90
Avaliação dos níveis de optimismo numa população sénior .................................................107
Avaliação da Inteligência Emocional das Crianças em Contexto Escolar: Estudo Exploratório
................................................................................................................................................116
Avaliação das Práticas em Intervenção Precoce....................................................................129
O Processo de Construção de Boas Práticas ..........................................................................147
Avaliação do Ambiente Institucional - Estudo Ecológico Comportamental dos Idosos .......164
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Palavras-chave:
Reminiscências; Depressão.
Resumo/Abstract:
INTRODUÇÃO
Este estudo pretendeu assim estudar as reminiscências em idosos deprimidos, uma área
onde aparentemente ainda parece não ser valorizado o contributo da terapia de
reminiscências.
população idosa, podemos também obter pistas relevantes sobre os processos e mecanismos
de “coping” que estão intrinsecamente presentes nos discursos ou nas reminiscências desta
faixa etária.
Dado actualmente ser geralmente aceite a concepção de que existem vários tipos de
reminiscências em termos do seu conteúdo, e dado que esses tipos parecem envolver causas,
efeitos e condicionantes particulares, este estudo, partindo da tipologia de reminiscências de
Wong & Watt (1991), procurou comparar a frequência de reminiscências em termos globais
nos dois grupos (sujeitos deprimidos e não deprimidos) e para os diferentes tipos de
reminiscências. De modo a analisar as frequências de reminiscências adoptaram-se duas
medidas conceptualmente diferentes: num primeiro momento foi proposto aos sujeitos o
Questionário de Reminiscências adaptado da versão original de Mayer e al (1996), este
questionário tem por base a tipologia de Wong & Watt (1991), e num 2º momento foi
proposto aos sujeitos participarem numa entrevista aberta, semi-estruturada.
Tendo em conta a abrangência do estudo, e mediante uma opção dos autores, o presente
trabalho irá focar os resultados que foram obtidos a partir do primeiro instrumento adoptado,
o Questionário de Reminiscências, deixando para uma posterior análise e apresentação futura
os resultados obtidos através da entrevista semi-estruturada.
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
Uma das taxinomias mais complexas foi apresentada também por Wong & Watt (1991)
e postula seis tipos de reminiscências: interpessoal, instrumental, transmissora, narrativa, de
escape e obsessiva. Os autores pretenderam através da sua taxionomia analisar a relação dos
tipos de reminiscência com uma medida de “Envelhecimento Bem Sucedido”. A tipologia
que Wong & Watt (1991) desenvolveram foi considerada como um avanço importante para o
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Como referido, Wong & Watt (1991) no seu trabalho identificaram seis tipos de
reminiscências, que aqui descrevemos sucintamente:
angústia acerca do passado. Buttler (1963, cit. in. Wong & watt, 1991) observou que este tipo
de reminiscências levava à depressão, agitação, pânico e mesmo suicídio.
ANÁLISE CONCEPTUAL
AS REMINISCÊNCIAS NA DEPRESSÃO
Para este trabalho optou-se por usar a versão integral do questionário de reminiscências,
classificando as questões não pertencentes a uma das escalas validadas como “outras
Reminiscências”. A cada questão o entrevistado teria de assinalar se o facto observado se
verificava Nunca / Raramente / Algumas Vezes / Frequentemente e Muito frequentemente
(graduado de 1 a 5).
RESULTADOS
REFLEXÕES FINAIS
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Com base nos resultados, denota-se claramente que um estudo particular das
reminiscências se justifica nos sujeitos deprimidos. No entanto, os resultados do corrente
estudo não são conclusivos, sendo necessárias mais investigações neste campo para que
melhor se possa compreender que espectro de tipos de reminiscências se pode verificar nos
sujeitos deprimidos.
Referências Bibliográficas
HENDRICKS, J. (1995). The meaning of reminiscence and life review. New York:
Baywood
MAYER, A. K., Filipp, S. H., Ferring, D.( 1996). Der Reminiszenzfragebogen:
Skalenkonstruktion und teststatistische Ueberpruefung. The Reminiscence Questionnaire:
A measure of the frequency of reminiscing: Scale construction and statistical testing.
Diagnostica, 42 (2), pp 175-189
WONG, P. T. P., & Watt, L. M. (1991). What types of reminiscence are associated with
successful aging? Psychology and Aging, 6, 272-279.
YANG, J. A. & Rehm, L.P. (1993). A study of autobiographical memories in depressed and
nondepressed elderly individuals. In: J., Hendricks, (1995).”Ed.”, The meaning of
reminiscence and life rewiew. (107-123). New York: Baywood
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Palavras-chave:
Atitudes face a si-próprio, autoconceito, profissionalidade docente.
Resumo/Abstract:
O presente estudo teve como objectivo geral analisar as atitudes dos alunos face a si-próprios
e aos comportamentos de profissionalidade docente. Especificamente, foram colocadas as
seguintes questões de estudo: Como se distribuem os alunos pelas atitudes face a si-próprios,
em termos de atitudes negativas ou positivas? Como se distribuem os alunos pelas avaliações
que fazem dos comportamentos de profissionalidade docente atribuídos aos professores, em
termos de avaliações baixas e elevadas? Que relação existe entre as dimensões das atitudes
dos alunos face a si-próprios e as avaliações que fazem dos comportamentos de
profissionalidade docente? Que relação existe entre factores escolares específicos
(rendimento escolar, percepção de apoio dos professores, aspirações escolares) e as atitudes
dos alunos, quer face a si-próprios quer face aos comportamentos de profissionalidade
docente? Quais as dimensões, quer do autoconceito quer da profissionalidade, que mais
contribuem para a explicação do rendimento escolar? Como se diferenciam os alunos do 5º e
do 7º ano, quer no autoconceito quer na avaliação da profissionalidade docente? Quais são as
dimensões, quer do autoconceito quer da profissionalidade, que mais contribuem para a
explicação do rendimento escolar dos alunos? A amostra foi constituída por 723 alunos, de
ambos os sexos, do 5º e do 7º anos. Foram utilizados, como instrumentos, o Piers-Harris
Children’s Self-concept Scale, a Escala de Representações dos Alunos acerca dos
Comportamentos de Profissionalidade Docente, e a Escala de Apoio Emocional dos
Professores. A análise dos resultados permitiu observar que a maioria dos alunos apresentava
atitudes positivas, quer face a si-próprios quer face aos comportamentos docentes, e encontrar
relações entre as dimensões do autoconceito, as dimensões dos comportamentos de
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Introdução
O autoconceito vai-se construindo ao longo de toda a vida e passa por várias etapas,
variando as suas estruturas e o grau de importância das suas dimensões (Burns, 1990;
Fontaine, 1991; Onãte, 1989; Veiga, 1995; Serra, 1986). O processo de desenvolvimento de
um indivíduo faz-se da interacção entre ele e o meio. As rápidas mudanças sociais e
tecnológicas e o movimento constante que visa a produtividade e a promoção da eficácia e
eficiência parecem constituir cada vez mais uma ameaça à identidade pessoal. O
conhecimento de si-próprio torna-se um factor importante na determinação do
comportamento do sujeito, ajudando a interpretar o passado, a definir perspectivas futuras e
permitindo a eleição crítica e consciente das condutas e das expectativas de vida (Onãte,
1989). Devido às evoluções sociais e à modificação do sistema de ensino português, muitas
têm sido as alterações sofridas a nível da profissionalidade docente, visto que na escola é o
professor que assume um papel de relevo neste processo de mudança. O professor
confronta-se com a evolução acelerada dos conhecimentos e das técnicas e com acentuadas
modificações na relação dos jovens com a informação, a cultura e o conhecimento. A
profissão docente não se confina às paredes da sala de aula, sendo os profissionais da
educação cada vez mais solicitados a configurar o futuro.
Neste âmbito, o objectivo fulcral deste estudo consistiu em analisar as atitudes dos
alunos face a si-próprios e aos comportamentos de profissionalidade docente, no 5º e 7º anos
de escolaridade, de diferentes níveis de rendimento escolar. Este objectivo principal pode
subdividir-se em objectivos específicos: analisar a relação entre as atitudes dos alunos face a
si-próprios e aos comportamentos de profissionalidade docente; analisar o autoconceito em
função de variáveis pessoais e escolares; analisar as representações acerca dos
comportamentos de profissionalidade docente, em função de variáveis pessoais e escolares e
analisar o efeito da interacção das variáveis autoconceito dos alunos e profissionalidade
docente ao longo da escolaridade.
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O Autoconceito
O autoconceito surge como um construto útil que permite que o indivíduo se conheça
a si-próprio, como também o ajuda a explicar a adequação sócio-ambiental dos seus próprios
comportamentos (Fontaine, 1991; Marsh, Byrne & Shavelson, 1988; Musitu, 1982; Veiga,
1995). O contínuo interesse pelo estudo do autoconceito poderia explicar-se por este
constituir o núcleo mais central da personalidade e da existência, e por ser ele o grande
“determinante dos pensamentos, sentimentos e comportamentos” (Rosenberg, 1965, p. 7).
Alguns teóricos sublinham que o autoconceito tem origem nas situações sociais, ou seja,
muda de acordo com o contexto dos sujeitos (Gecas, 1982; Musitu, 1982), e outros (Veiga,
1995, p. 33) destacam uma “conceptualização diferencial, isto é, a não existência de um
autoconceito, mas sim uma variedade de autoconceitos com diferentes graus de importância”.
O estudo das atitudes dos alunos face a si-próprios constituirá uma forma útil e pertinente
para a compreensão do seu desenvolvimento global. Por outro lado, permite também
conhecer e compreender a posição do aluno face à escola e aos professores, constituindo um
contributo fundamental para a construção e para o desenvolvimento das suas acções.
Conhecer e perceber as atitudes dos alunos poderá constituir um dos pontos de partida para
uma acção educativa e até para uma estruturação do processo ensino-aprendizagem mais
próximo dos alunos, tendo em conta os interesses e as preferências destes. O autoconceito
está associado a aspectos cognitivos, afectivos e comportamentais (Costa, 2001; Gecas, 1982;
Musitu, 1982; Peixoto, 2004). Na noção de autoconceito está implícita a valorização da
pessoa em si-mesmo como uma consequência lógica da sua própria imagem. O autoconceito
tem sido apontado como uma variável que tem influência no aproveitamento académico, na
motivação para o estudo e no comportamento na sala de aula. A formação do autoconceito é
um processo lento que se desenvolve nas experiências pessoais e na relação do indivíduo com
os outros. Deste modo, a maneira como os outros reagem ao seu comportamento, aprovando-
o ou desaprovando-o, influencia as características do autoconceito que o aluno desenvolverá.
Um aluno que vivencia várias experiências de fracasso escolar tem uma baixa expectativa de
sucesso, pouca persistência na realização das tarefas e apresenta um baixo autoconceito
(Burns, 1990; Fontaine, 1991; Onãte, 1989; Veiga, 2003, 2005)
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Metodologia
Sujeitos
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A amostra foi constituída por 723 alunos, dos quais 380 (52,6 %) são do 5º ano e 343
(47,4 %) são do 7º ano de escolaridade. A selecção das escolas foi feita por conveniência
tanto no distrito de Viseu como de Lisboa. Em cada um dos estabelecimentos de ensino
destes distritos, as turmas seleccionadas foram as disponíveis e não foram questionados
sujeitos individualmente. A amostra recolhida englobou sujeitos dos dois sexos, masculino e
feminino, com idade entre os 9 e os 17 anos.
Instrumentos
Procedimento
Questões de estudo
O presente trabalho teve como objectivo geral analisar as atitudes dos alunos face a
si-próprios e aos comportamentos de profissionalidade docente. Especificamente, foram
colocadas as seguintes questões de estudo: Como se distribuem os alunos pelas atitudes face a
si-próprios, em termos de atitudes negativas ou positivas? Como se distribuem os alunos
pelas avaliações que fazem dos comportamentos de profissionalidade docente atribuídos aos
professores, em termos de avaliações baixas e elevadas? Que relação existe entre as
dimensões das atitudes dos alunos face a si-próprios e as avaliações que fazem dos
comportamentos de profissionalidade docente? Que relação existe entre factores escolares
específicos (rendimento escolar, percepção de apoio dos professores, aspirações escolares) e
as atitudes dos alunos, quer face a si-próprios quer face aos comportamentos de
profissionalidade docente? Quais as dimensões, quer do autoconceito quer da
profissionalidade, que mais contribuem para a explicação do rendimento escolar? Como se
diferenciam os alunos do 5º e do 7º ano, quer no autoconceito quer na avaliação da
profissionalidade docente? Quais são as dimensões, quer do autoconceito quer da
profissionalidade docente, que mais contribuem para a explicação do rendimento escolar dos
alunos?
Resultados
Para responder à questão de estudo “como se distribuem os alunos pelas atitudes face
a si-próprios, em termos de atitudes negativas ou positivas?”, procedeu-se à análise dos
resultados em cada um dos itens do PHCSCS, tendo-se observado que os valores do qui-
quadrado apresentaram uma elevada significância estatística (p<0,001) em grande parte dos
itens, e que a percentagem de alunos com atitudes positivas foi notoriamente maior do que a
percentagem de alunos com atitudes negativas. Os três itens em que esta percentagem se
mostrou maior foram: 31 (gosto de ser como sou – 88,1%), 53 (dou-me bem com os outros –
90,4%) e 60 (sou uma boa pessoa – 93%). Não se observaram diferenças significativas na
distribuição dos alunos pelo tipo de atitudes (positivas versus negativas), nos seguintes itens:
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6 (sou uma pessoa tímida), 22 (sou um membro importante da minha turma), 23 (sou
nervoso) e 57 (sou diferente das outras pessoas). Uma percentagem de alunos com atitudes
negativas mais elevada do que a percentagem de alunos com atitudes positivas foi observada
nos itens: itens 9 (sou um chefe nas brincadeiras e no desporto), 10 (fico preocupado quando
temos testes na escola), 22 (sou um membro importante da minha turma), 29 (preocupo-me
muito), 30 (os meus pais esperam demasiado de mim), 34 (na escola, ofereço-me várias vezes
como voluntário) e 46 (sou popular entre os rapazes). Uma descrição mais pormenorizada dos
resultados nos itens do PHCSCS pode ser encontrada em recente estudo, em que os elementos
aqui apresentados se baseiam (Tavares, 2006).
Para responder à questão de estudo “que relação existe entre o rendimento escolar e as
atitudes dos alunos face a si próprios”, procedeu-se à determinação dos coeficientes de
correlação entre as várias dimensões do autoconceito e o rendimento nas disciplinas de
Matemática, Português, História e Ciências, como se pode verificar no quadro 1.
Quadro 2. Média e desvio-padrão (DP) nas dimensões do autoconceito, em função do ano de escolaridade.
Observa-se que os resultados dos sujeitos do 5º ano são mais elevados em três
dimensões do autoconceito, quando comparados com os sujeitos do 7º ano; nas dimensões
ansiedade e popularidade existem diferenças com elevado nível de significância estatística
(p<0,001); na dimensão satisfação-felicidade, o nível de significância, embora significativo,
foi menor (p<0,05).
O quadro 3 mostra a distribuição das respostas dos alunos pelos itens dos
comportamentos de profissionalidade docente em função da avaliação havida, baixa versus
elevada.
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Quadro 3. Distribuição dos alunos nos itens dos comportamentos de profissionalidade atribuídos aos
professores, em termos de avaliações baixas (AB) versus avaliações elevadas (AE).
Itens % %
X2 sig
AB AE
01 – Fomentam a participação dos alunos na aula. 32,5 67,5 77,4***
02 – Os exemplos que dão nas aulas são interessantes para a vida dos alunos. 16,9 83,1 280,0***
03 – Expõem a matéria de modo organizado. 14,3 85,7 325,9***
04 – Culpam os alunos pelos maus resultados. 43,9 56,1 9,5 ns
05 – Dialogam abertamente com os alunos. 21,9 78,1 200,8***
06 – Nas aulas, alertam para o sentido prático das coisas. 16,8 83,2 280,8***
07 – Nas aulas, não seguem um fio de pensamento claro, isto é, misturam tudo. 34,2 65,8 63,9***
08 – Marginalizam os alunos de que não gostam. 26,3 73,7 141,6***
09 – Quando pedem a opinião dos alunos, tomam as ideias deles em consideração. 20,7 79,3 219,2***
10 – Ilustram a exposição da matéria com exemplos práticos. 17,4 82,6 271,2***
11 – Preparam bem as aulas. 11,6 88,4 378,2***
12 – Tratam com indiferença os alunos menos bons. 34,0 66,0 64,8***
13 – Valorizam as iniciativas dos alunos. 20,4 79,6 224,9***
14 – Procuram que as aulas sejam teórico-práticas, e não apenas teóricas. 21,2 78,8 212,2***
15 – São metódicos na exposição da matéria. 34,9 65,1 57,6***
16 – Quando os alunos os abordam para tirar dúvidas, fazem troça dos erros cometidos. 30,9 69,1 92,9***
17 – Gostam de falar com os alunos. 15,0 85,0 313,6***
18 – Estabelecem um conjunto bem definido de regras que os alunos têm de seguir. 13,3 86,7 342,3***
19 – São mais uns amigos do que uma autoridade rígida. 24,8 75,2 162,5***
20 – As regras que estabelecem, nas aulas, parecem mudar bastante. 63,4 36,6 45,9***
21 – Interessam-se pelos alunos, como pessoas. 21,6 78,4 205,3***
22 – Explicam o que pode acontecer se o aluno transgredir uma regra. 16,9 83,1 280,9***
23 – Procuram ajudar os alunos. 10,2 89,8 406,4***
24 – Explicam quais as regras que se devem cumprir. 10,8 89,2 389,9***
Legenda: ***p<0,001; ns = não significativo
Procedeu-se, também, ao estudo das relações entre itens da escala AEP (Apoio
Emocional dos Professores) e as dimensões da profissionalidade docente. No quadro 4
observa-se a correlação entre os itens do apoio emocional dos professores e as várias
dimensões da profissionalidade docente (p<0,01). Existem correlações, todas elas positivas e
muito significativas (p<0,01), com as dimensões da profissionalidade docente. Não existe
correlação entre a dimensão cortesia e o item “os professores elogiam-me muitas vezes”.
Quadro 4. Correlações entre os itens relativos ao apoio emocional dos professores e as dimensões da
profissionalidade.
Apoio emocional dos Profissionalidade
professores Participação Prática Ensino Cortesia Interpessoalidade Normatividade
Sinto que os professores se
0,360** 0,364** 0,329** 0,124** 0,409** 0,296**
preocupam comigo.
Sinto que os professores
0,371** 0,429** 0,355** 0,214** 0,441** 0,395**
acreditam em mim.
Os professores são como bons
0,414** 0,470** 0,499** 0,294** 0,583** 0,406**
amigos.
Os professores ajudar-me-ão se
0,396** 0,476** 0,464** 0,253** 0,614** 0,450**
eu tiver problemas.
Os professores elogiam-me
0,183** 0,176** 0,231** 0,175** 0,091*
muitas vezes.
Os professores sabem quais são
0,218** 0,215** 0,267** 0,098* 0,258** 0,192**
os meus interesses.
Legenda: ** p<0,01 * p< 0,05
talvez porque são mais extrovertidos, privilegiando um maior contacto e afectividade com os
seus colegas. Estes resultados podem dever-se, também, ao facto de os alunos nesta faixa
etária darem maior importância à relação que estabelecem uns com os outros. A dimensão
ansiedade apresenta uma média mais elevada no 7º ano em relação ao 5º ano, talvez pelo
facto de os alunos do 7º ano terem mudado de ciclo (2º para o 3º ciclo) e esta mudança exigir
uma maior responsabilização por parte dos alunos, e visto também, neste ciclo, os alunos
começarem a pensar na área que querem para prossecução de estudos, o que poderá levar a
uma maior ansiedade dos mesmos. Outros estudos não encontraram diferenças no
autoconceito em função do ano de escolaridade (Silberman e Zigmond, 1983; Stopper, 1978,
citado por Veiga, 1995), talvez porque há uma estabilidade em dimensões específicas do
autoconceito ou, então, devido à homogeneidade escolar dos sujeitos da amostra. Outras
investigações referem que em certas áreas se pode registar um certo aumento, outras podem
apresentar uma diminuição estatisticamente significativa e outras permanecer “estáveis”
(Abramowitz e outros, 1984; Veiga, 1995).
Os resultados acerca dos comportamentos de profissionalidade docente apresentam
uma percentagem superior de avaliações elevadas relativamente às avaliações baixas, talvez
pelo facto de os comportamentos de profissionalidade docente serem muito valorizados pelos
alunos, dada a sua importância para um bom resultado nas avaliações. No item “as regras que
estabelecem, nas aulas, parecem mudar bastante”, a existência de uma percentagem notória
de alunos a concordar (cerca de 40%) poderá dever-se ao facto de as regras variarem de
professor para professor e isto originar alguma confusão ou ao facto de os alunos
interiorizarem regras que, por vezes, diferem das dos professores, havendo, assim, uma
menor objectividade na avaliação. Também poderá dever-se ao facto de os alunos darem
importância aos aspectos relacionados com a preparação das aulas por parte dos professores e
conhecerem as regras de conduta de uma sala de aula. Por outro lado, os alunos valorizam
também as conversas que os professores estabelecem com eles, fazendo com que os procurem
para pedir ajuda. Estes resultados vão ao encontro de um outro estudo onde se refere que “os
excelentes professores são os que adoptam comportamentos participativos, ilustram as
matérias com exemplos práticos, são conscienciosos no exercício da função e são corteses no
relacionamento com os estudantes” (Rego e Pereira, 2003, p. 3). Este estudo refere, ainda,
que a junção destas quatro categorias comportamentais são valorizadas pelos alunos, uma vez
que os comportamentos dos professores são passíveis de contribuir para a melhoria da
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qualidade do ensino em diversos níveis, exercendo efeitos positivos que se alastram sobre as
várias áreas.
Os dados obtidos no estudo da relação entre as dimensões da profissionalidade
docente e o rendimento nas disciplinas de Matemática, Português, História e Ciências
aproximam-se de investigações anteriores, feitas com professores universitários, que apontam
para o impacto positivo dos comportamentos de profissionalidade docente (Koh, Steers e
Terborg, 1995; Skarlicki e Latham, 1995, citados por Rego e Sousa, 1999), uma vez que estes
contribuem para a eficácia e para o sucesso dos alunos. Vão ao encontro, também, de estudos
que mostram o impacto dos comportamentos de profissionalidade docente sobre o
rendimento escolar dos alunos (Rego, 2004). A correlação existente, entre as dimensões
ensino e interpessoalidade e o rendimento escolar, prende-se com o facto de os alunos nesta
faixa etária privilegiarem a preparação das tarefas e a execução do acto de ensinar por parte
dos professores. Por outro lado, também privilegiam a disponibilidade para a relação e apoio
do professor.
Os resultados obtidos mostram também correlações significativas entre os itens
relacionados com o apoio emocional prestado pelos professores e as dimensões da
profissionalidade docente, indo ao encontro de alguns estudos que referem que o apoio e a
motivação prestados aos alunos pelos professores influenciam o rendimento escolar dos
alunos (González e Valle, 1998; Gonçalves, 1999). Os itens relativos ao apoio emocional dos
professores relacionam-se na sua maioria com as dimensões da profissionalidade docente,
talvez porque os alunos encontram esse apoio nos professores, pois há uma grande
disponibilidade por parte de alguns professores, e, também, pelo facto de muitas vezes
pertencerem a famílias com pouca disponibilidade e encontrarem esse apoio em alguém
externo à família (professores). Também poderá ser colocada a possibilidade de os estudantes
deste nível de ensino “desenvolverem relações de maior proximidade psicológica e afectiva
com os seus professores ao longo do período lectivo, assim os impelindo a maior
benevolência no momento de descreverem os seus comportamentos e respectivos
desempenhos” (Rego e Pereira, 2003, p. 9). Quanto às aspirações dos alunos no que respeita
ao ano de estudo que pretendem atingir, relaciona-se com a dimensão ensino, pelo facto de os
alunos considerarem que, para o prosseguimento de estudos, os aspectos de maior
importância estarem relacionados com a preparação de actividades e experiências
significativas para eles, permitindo, assim, um maior enriquecimento pessoal (Neto, 1984;
Osborne, 1996; Bachman e O’Malley, 1984; Campbell e Fehr, 1990, citado por Hay, 1998).
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Esta ideia vai ao encontro de outros estudos (Rego e outros, 2004) que referem que os
comportamentos docentes podem exercer elevados efeitos motivadores nos estudantes.
Na comparação dos alunos do 5º com os do 7º ano, observou-se uma diminuição
significativa em todas as dimensões da profissionalidade docente, excepto na normatividade,
podendo estar relacionada com o progressivo aumento da exigência dos jovens face aos
adultos ao longo da adolescência. Por outro lado, os adolescentes tendem a tornar-se mais
independentes e, consequentemente, como refere Veiga e outros (2005, p. 12), há “uma
objectividade maior na avaliação que deles fazem; é provável que tal declínio tenha a ver
com o progressivo aumento da exigência dos jovens face aos símbolos da autoridade adulta
(como os professores)”. Embora a diminuição na dimensão normatividade, do 5º para o 7º
ano, não tenha aqui sido estatisticamente significativa, o facto de ter ocorrido alguma
diminuição vai ao encontro de estudos já realizados, podendo dever-se ao prolongamento “da
relativização da autoridade adulta, no processo de autonomização dos jovens” (Veiga et al.,
2005, p. 12). A falta de correlações significativas entre o rendimento escolar e algumas
dimensões da profissionalidade (participação, prática, cortesia e normatividade) apresenta-se
parcialmente de acordo com os resultados obtidos em anteriores estudos (Rego, 2003, 2004;
Veiga et al., 2005). Os resultados nas dimensões da profissionalidade docente em função do
ano de escolaridade apresentaram-se mais elevados no 5º do que no 7º ano, talvez porque os
alunos mais novos revelem uma maior valorização dos comportamentos de profissionalidade
docente. Os resultados obtidos mostram que as dimensões do autoconceito estão associadas
às dimensões da profissionalidade docente, podendo dever-se ao facto de os alunos
valorizarem a preparação das tarefas e privilegiarem a disponibilidade para a relação e o
apoio, contribuindo, assim, para o autoconceito positivo dos alunos o que vai ao encontro de
alguns estudos revistos (Chapman e Boersma, 1979; González e Valle, 1998; Rego e Pereira,
2004).
Os dados obtidos na análise de regressão múltipla das dimensões do autoconceito no
rendimento escolar médio em disciplinas fundamentais (Matemática, Português, História e
Ciências) mostram que as dimensões estatuto intelectual e aparência física são as que mais
contribuem para a explicação do rendimento escolar, talvez pelo facto de os alunos se
encontrarem na adolescência e darem grande importância aos aspectos físicos e intelectuais.
Uma outra explicação possível para este facto é que essas alterações correspondam a
mudanças atribuíveis ao desenvolvimento, as quais levam o adolescente à construção da sua
identidade (Collins e Repinski, 1994; Marsh, Parker e Barnes, 1985). Estes dados corroboram
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outras investigações (Marsh, 1993; Marsh, Parker e Barnes, 1985; Marsh, 1996; Burns, 1990;
Veiga, 1995) que referem importantes correlações entre o autoconceito e o desempenho
escolar. Os resultados obtidos na análise de regressão múltipla das dimensões da
profissionalidade docente no rendimento escolar médio, também nas referidas disciplinas
fundamentais, referem que a normatividade foi a dimensão que contribuiu significativamente
para o rendimento escolar. Este resultado poderá mostrar que, para além da importância dos
professores dominarem os conteúdos que ensinam, é fundamental que tenham competências
para criar condições de ensino e de aprendizagem e, portanto, a formação psicopedagógica
dos professores seja de evidente importância.
Conclusões finais
acredita possuir em relação ao seu desempenho académico e que se desenvolve com base nas
avaliações que recebe dos seus professores, dos colegas e dos pais sobre o seu desempenho
na escola. O autoconceito escolar está relacionado com as experiências de sucesso ou
fracasso nas actividades académicas (Cubero e Moreno, 1995; Byrne, 1996a, Stevenato e
outros, 2003; Veiga, 1996, 2001). Sendo assim, o sucesso e/ou fracasso servem para
conformar um determinado autoconceito escolar e ele mesmo pode determinar, em grande
medida, as possibilidades que o aluno se concede, os riscos que enfrenta e os resultados que
obtém. De modo geral, alunos que apresentam conceitos mais positivos sobre as suas
capacidades, em relação às tarefas escolares, tendem a obter melhores resultados do que
aqueles que apresentam conceitos negativos ou duvidosos sobre si-mesmos e sobre as suas
habilidades (Peixoto, 2004; Senos, 1997; Veiga, 1996, 2005). Pelo contrário, o aluno que não
se sente bem na escola parece ter uma visão geral mais negativa sobre si-mesmo, evita
situações sociais, mantém um descrédito de si-mesmo, obtém resultados mais negativos. Em
suma, é válido salientar que os alunos com um autoconceito positivo tendem a acreditar mais
nas suas potencialidades, são mais confiantes em si-mesmos, mais perseverantes em
actividades, não temem o erro, pois vêem-no como parte da sua aprendizagem e relacionam-
se melhor com as outras pessoas.
Em estudos posteriores poderão ser estudadas as relações entre as atitudes dos alunos
face a si-próprio e os comportamentos de profissionalidade docente vistos pelos alunos, mas
incluindo novas amostras e variáveis. Por outro lado, e partindo dos elementos mais
pormenorizadamente apresentados no estudo em que o presente trabalho se baseia (Tavares,
2006), poderão ser utilizados outros métodos de recolha de dados, de natureza mais
qualitativa, para validar o presente estudo. Deverá ter-se em conta como é que as percepções
dos alunos sobre os comportamentos de profissionalidade dos professores podem interagir
com as características individuais dos alunos. Em futuros estudos poderá haver a inclusão de
outras variáveis pessoais e familiares, bem como incluir outros anos de escolaridade.
Poderão, ainda, utilizar-se outros instrumentos de avaliação para posterior comparação,
avaliar comportamentos mais específicos dos professores e dos alunos, não apenas através
das representações dos alunos, mas também através dos próprios professores. Também se
poderá estudar o que sucede em diferentes classes sociais e em alunos com diferentes
nacionalidades.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
26
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VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
29
Palavras-chave:
Resumo/Abstract:
O presente estudo experimental analisou o efeito da atractividade de um alvo no
comportamento agressivo de 120 estudantes universitários. Para avaliar a agressão usou-se
uma tarefa competitiva, baseada no paradigma da agressão de Taylor. Antes de iniciarem a
tarefa, os participantes conheceram o seu presumível adversário através de uma fotografia de
rosto. A apresentação das fotografias - previamente avaliadas - constituiu a forma de
manipular a atractividade (atraente ou não atraente) e o sexo do adversário. Verificou-se que
os homens são mais agressivos que as mulheres. Porém, a manifestação da agressão não
dependeu da Atractividade ou do Sexo do adversário.
são manifestados por crianças atraentes, por comparação com as pouco atraentes
relativamente às quais se presume serem de maior gravidade e mais estáveis (e.g., Adams &
Crane, 1980; Dion, 1972).
Em termos da dimensão dos efeitos, destaca-se a mais recente meta-análise efectuada
por Langlois e co-autores (2000) por incidir na atractividade facial. De um modo geral, os
resultados evidenciam semelhanças nos julgamentos sobre alvos crianças e adultos, no
sentido de alvos mais atraentes serem avaliados mais favoravelmente do que os não atraentes.
Porém, enquanto para alvos crianças, as dimensões são superiores em áreas que remetem para
o interesse social (e.g., sociabilidade, desejabilidade social, temperamento, bom
relacionamento interpessoal, estados de humor positivos) e a competência académica e
desenvolvimental (e.g., desempenho académico, aptidões, inteligência, capacidade de
concentração), seguindo-se avaliações sobre a adaptação psicológica (e.g., conforto em
contextos sociais, confiança, medos, agressividade) e a competência interpessoal (e.g.,
sucesso em situações sociais, liderança, poder). Para alvos adultos as de maior dimensão
manifestam-se em áreas como a competência profissional (e.g., desempenho no trabalho,
competência, motivação para o sucesso, adequação para um potencial emprego), seguida do
interesse social (e.g., desejabilidade social, amigável, graciosa, agradável), da competência
interpessoal (e.g., sucesso em situações sociais, assertividade, aptidões sociais gerais) e, por
último, da adaptação psicológica (conforto, ansiedade, solidão, adaptação em contextos
clínicos).
Acresce ainda que, se a propensão é para favorecer os mais atraentes, existe também
alguma investigação que mostra a sua associação a algumas características negativas, tais
como a vaidade, o egoísmo e a predisposição para problemas conjugais (Dermer & Thiel,
1975; Wheeler & Kim, 1997, cf. Lee-Manoel, Landgraf, Morais, Bussab, 2002).
A formação de juízos sociais baseados na atractividade pode ter consequências sérias,
na medida em que pode contribuir para que estes as internalizem e desenvolvam uma imagem
de si próprias em consonância com as perspectivas que lhe foram transmitidas pelos diversos
agentes de socialização. Por outro lado, os estudos empíricos também têm mostrado que a
forma como são tratados é distinta e que, em muitas situações, chega a ocorrer discriminação
social dos menos atraentes (Langlois et al., 2000).
Este tratamento diferencial baseado na atractividade tende a manifestar-se desde tenra
idade. Durante a infância, além da tendência para a atribuição de traços e comportamentos
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
32
efeito da atractividade tenha sido pouco investigado, o seu efeito tenha sido nulo ou oposto ao
que é habitualmente reportado. Por outro lado, como já foi referido, os efeitos da
atractividade e a própria avaliação da atractividade podem depender das características
individuais do avaliador e da sua história de aprendizagem (Zebrowitz & Rhodes, 2002), ser
mediadas pelos seus estados emocionais (White et al., 1981, cf. Alferes, 2000), e interagir
com outros atributos do alvo que sejam relevantes para o contexto social em que a avaliação é
feita. Se, no geral, os estudos de meta-análise evidenciem que o efeito da atractividade não
tende a ser moderado pelo sexo do avaliador, nem pelo sexo ou a idade do alvo (Eagly et al.,
1991; Feingold, 1992; Langlois et al., 2000), não se exclui que não haja excepções. Variáveis
como o sexo e a idade são habitualmente associadas a várias normas sociais e ao estatuto
(Dion, 2002), pelo que em certos contextos poderão ser indícios relevantes para diferenciar os
julgamentos e os comportamentos entre homens e mulheres.
Todavia, apesar de as conclusões reportadas alertarem para sérias consequências
sociais, a investigação mais profícua sobre a atractividade facial foi efectuada nas décadas de
70 e 80 do século passado, diminuindo acentuadamente desde essa época. Note-se que apenas
12% dos estudos incluídos na meta-análise de Langlois e co-autores (2000), sobre os juízos
sociais e o tratamento de que são alvo, foram posteriores a essas datas.
Uma das áreas em que o efeito da atractividade de adultos também recebeu até à data
pouca atenção foi a da agressão. A meta-análise de Langlois e co-autores (2000) refere
apenas seis estudos publicados que testaram a possibilidade de interacções negativas dirigidas
a alvos adultos baseados na sua atractividade facial, cujos resultados mostraram que o
tratamento foi mais favorável a 63% de adultos atraentes do que a um adulto médio, enquanto
apenas 37% de adultos não atraentes foram alvo de tratamentos mais favoráveis que um
adulto médio (d+ = -0,54). Todavia, entre estes estudos apenas foi incluída uma publicação –
da autoria de Alcock, Solano e Kayson (1998) – sobre o efeito da atractividade do alvo no
comportamento agressivo do agente.
Este último artigo é citado com alguma frequência na literatura mas, na nossa opinião,
apresenta várias limitações que põem em causa a validade das suas conclusões. Alcock e co-
autores (1998) procederam inicialmente à selecção de indivíduos, de ambos os sexos,
mediante uma avaliação prévia da sua atractividade, dispostos a colaborar como “cúmplices”
dos investigadores. Os cúmplices (atraentes e não atraentes) foram instruídos a provocarem
os participantes, entornando para cima das suas roupas um copo com água. Subsequente a
este “incidente”, foi avaliada a reacção agressiva dos participantes, quer por parte dos
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
34
Participantes
A experiência foi efectuada por cinco experimentadores do sexo feminino e contou
com a participação de 120 estudantes da Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias em Lisboa (61 do sexo masculino e 59 do sexo feminino), caucasianos, com
idades compreendidas entre os 17 e 36 anos (M = 23,70; DP = 3,38) e de orientação
heterossexual.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
37
Feminino 15 15 30
Atraente
Masculino 15 15 30
Total 30 30 60
Feminino 12 15 27
Não atraente
Masculino 17 16 33
Total 29 31 60
Medidas
Manipularam-se as variáveis independentes atractividade e sexo do alvo mostrando aos
participantes uma fotografia do rosto da pessoa-alvo1. Foram usadas quatro fotografias (duas
masculinas e duas femininas), seleccionadas previamente como as mais e menos atraentes
relativamente a um conjunto de 28 imagens de faces2. As duas imagens pouco atraentes
1
Fotografia tipo “passe”, com 3,5 cm de altura por 3 cm de largura.
2
Foi efectuado um estudo prévio com o intuito de seleccionar as faces mais e menos atraentes de elementos do
sexo masculino e feminino. Para este efeito foram avaliadas 28 fotografias, de 14 homens e de 14 mulheres, com
expressões faciais neutras. A maioria das imagens foi retirada da base de imagens “The AR Face Database”
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
38
foram retiradas da base de imagens “The AR Face Database” de Martinez e Benavente (1998)
e as duas imagens mais atraentes do trabalho de Braun, Gruendl, Marberger e Scherber
(Beauty Check, 2001).
A variável dependente agressão física foi medida através de uma tarefa competitiva
de tempo de resposta, correspondendo a uma versão modificada do Paradigma de Taylor
(1967), desenvolvida e validada por Arriaga, Esteves e Monteiro (2004). Trata-se de uma
tarefa de simulada competição com um adversário, largamente usada em estudos
experimentais que avaliam o comportamento agressivo (e.g., Bushman, 1995).
Nesta tarefa, os participantes são levados a acreditar que participam num conjunto de
“concursos” de tempo de resposta com um adversário. A tarefa dos participantes consiste em
tocarem numa tecla o mais rápido que conseguirem logo após um estímulo circular alterar a
sua cor do vermelho para o verde. O participante é informado que desempenhará a tarefa em
simultâneo com um parceiro. Antes de cada desafio, os participantes podem ajustar o nível de
ruído que pretendam administrar ao seu adversário. O ruído pode variar em termos de
intensidade (de zero a 95 décibéis) e de duração (de zero a quatro segundos), podendo os
participantes seleccionar estes níveis em escalas intervalares que variam entre zero e dez. Os
participantes perdem 12 e vencem 13 ensaios e, consequentemente, são também alvo de
ruídos, por um padrão de intensidade e duração pré-determinado pelo experimentador, cuja
finalidade é a de provocar o participante. O ruído que é administrado ao participante tem a
mesma média de intensidade e de duração (M = 6) em três blocos de ensaios, correspondendo
aos níveis 2, 9, 6 e 7 no primeiro bloco; níveis 6, 3, 10 e 5 no segundo bloco; e níveis 4, 8, 3 e
9 no terceiro bloco. Em cada bloco, estes níveis de intensidade e de duração do ruído
apresentam uma ordem aleatória para cada participante (ler Arriaga, Esteves & Monteiro,
2004).
construída por Martinez e Benavente (1998). No entanto, em virtude da necessidade de incluir imagens de faces
muito atraentes, foram acrescentadas duas imagens (uma masculina e uma feminina) seleccionadas a partir do
trabalho divulgado em Beautycheck (2001) que se refere ao estudo de Braun, Gruendl, Marberger e Scherber
(2001). Estas duas últimas imagens correspondem a faces geradas por computador, avaliadas por agências de
modelos como as mais atraentes. Cada face foi visionada durante seis segundos no software Powerpoint,
seguida pela sua avaliação em vários parâmetros, entre os quais a atractividade, mediante uma escala de resposta
com 10 cm, que variou entre 0 (nada) e 10 (muito). Participaram nesta avaliação 60 participantes (25 do sexo
masculino e 35 do sexo feminino), entre os 20 e os 38 anos de idade (M = 29,73; DP = 6,06). Entre estas 28
fotografias, seleccionou-se as duas mais atraentes (face feminina: M = 7,84 e DP = 2,18; face masculina: M =
6,67 e DP = 2,85) e as duas menos atraentes (face feminina: M = 1,43 e DP = 1,42; face masculina: M = 2,68;
DP = 1,84).
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
39
indicações pelo computador de que o adversário estaria pronto para iniciar a tarefa. A
experimentadora regressou após indicação do participante de que a tarefa havia terminado.
No final da tarefa, foi realizada uma entrevista pós-experimental com as seguintes
finalidades: detectar se os participantes desconfiaram das hipóteses da investigação, do real
objectivo da tarefa competitiva e da ausência de um adversário; estimar a percepção dos
participantes sobre a atractividade do adversário numa escala de resposta de cinco pontos que
variou entre 1 (nada atraente) e 5 (muito atraente); e avaliar as intenções dos participantes
em prejudicar o adversário durante a administração de ruído, com vista a garantir a validade
da avaliação da agressão - para este efeito além de inquiridos acerca das suas motivações, foi
avaliado o incómodo que pensam ter causado ao adversário, numa escala de resposta que
variou entre 0 (nada incomodado) e 10 (Muito incomodado). Usando a mesma escala de
resposta foi ainda avaliada a percepção de incómodo por parte dos participantes relativamente
ao ruído de que foram alvo durante a tarefa.
No final da entrevista, solicitou-se ao participante que entregasse a fotografia do
adversário e devolveu-se a fotografia do participante. A sessão terminou com o
agradecimento aos participantes pela colaboração voluntária. Em média, toda a sessão
demorou cerca de 20 minutos por participante.
Resultados
Percepção da atractividade do alvo pelos participantes
Como foi referido previamente, as imagens das faces dos alvos foram seleccionadas
com base numa avaliação prévia da sua atractividade por elementos de ambos os sexos.
Contudo, para tornar inequívoco que também houve diferenciação na atractividade entre as
imagens dos alvos pelos próprios participantes, solicitou-se-lhes que avaliassem a
atractividade do adversário durante a entrevista pós-experimental. Esta avaliação foi sujeita a
uma análise de variância (ANOVA), com os seguintes três factores inter-sujeitos: 2
(Atractividade do alvo: atraente, não atraente) X 2 (Sexo do alvo: masculino, feminino) 2
(Sexo participante: masculino, feminino) X 2 (Sexo participante: masculino, feminino). Tal
como se esperava, os resultados evidenciam um efeito principal da Atractividade do Alvo,
F(1, 112) =60.27, p<.001, ηp2=.35, mostrando que os alvos previamente classificados de
atraentes foram avaliados como mais atraentes (M=3.13) do que os não atraentes (M=2.16).
Ocorreram ainda efeitos de interacção entre a Atractividade e o Sexo do Alvo, F(1,
112)=12.16, p<.01, ηp2=.09, e entre Atractividade X Sexo do Alvo X Sexo do Participante,
F(1, 112)=4.09, p<.05, ηp2=.04. As análises simples do efeito de interacção duplo
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
41
Atractividade X Sexo do Alvo, com ajustamento Bonferroni, mostram que os alvos atraentes
foram avaliados como mais atraentes do que os alvos não atraentes por ambos os sexos,
embora para os alvos Atraentes, o sexo feminino tenha sido avaliado como mais atraente
(M=3.33) do que o sexo masculino (M=2.93), F(1, 112)=5.21, p<.05, e para os alvos Não
Atraentes foi o sexo feminino a ser avaliado como menos atraente (M=1.93) do que o sexo
masculino (M=2.40), F(1, 112) = 7, p<.01. O efeito de interacção triplo evidencia ainda que
esta diferenciação foi feita apenas pelos elementos do sexo masculino. Verificou-se, portanto,
que as fotografias usadas para manipular a atractividade do sexo do adversário foram
avaliadas de modo distinto, mesmo tendo esta avaliação sido efectuada após a interacção com
o adversário. Embora fosse possível que a percepção de provocação pudesse influir nesta
avaliação, os resultados mostram que a associação entre o incómodo sentido pelos
participantes e a avaliação da atractividade do alvo não foi significativa, r(120)=.12, p>.10.
Figura 1.
Respostas agressivas em função da atractividade do alvo, do sexo do alvo e do sexo do
participante
Feminino Masculino
10.00
9.00 7.28
8.00 6.37
6.08 6.04
7.00
Agressão
6.00 4.93
4.25 4.59 4.06
5.00
4.00
3.00
2.00
1.00
0.00
Feminino Masculino Feminino Masculino
Nota. R2 = 0,22; R2Ajust = 0,17; MSE = 470,68; FAtractividade(1, 112)=0,05, ns; FSexo
participante(1, 112)=24,91, p<0,001; FSexo alvo(1, 112)=1,10, ns; FAtractividade X Sexo participante(1,
112)=0,78, ns; FSexo participante X Sexo Alvo(1, 112)=0,74, ns; FAtractividade X Sexo alvo(1,
112)=0,03; FAtractividade X Sexo participante X Sexo alvo(1, 112)=1,82, ns.
agressão e contribuído para diluir o possível impacto inicial da atractividade do alvo. Deste
modo, para futuras investigações sobre a temática que aqui se apresenta, seria relevante
recorrer a uma medida alternativa de avaliação da agressão, reduzindo o número de
interacções e operacionalizando-a em condições de não provocação, para avaliar o impacto
inicial da atractividade do alvo.
Não obstante, é lícito concluir, com base nos resultados que este estudo apresenta, que
a atractividade do alvo não influi na agressão do participante quando estes interagem entre si
de modo provocatório numa tarefa competitiva.
Por outro lado, a hipótese do efeito da atractividade na agressão foi colocada tendo
como referência principal a meta-análise de Langlois et al. (2000). Seria, no entanto,
importante considerar que os “enviesamentos na publicação” (publication bias) podem
afectar as conclusões das meta-análises, quando estes apenas incidem nos trabalhos que são
publicados. É actualmente reconhecido que as investigações empíricas com resultados
significativos aparecem publicadas com maior frequência do que os estudos em que não se
rejeita a hipótese nula, fenómeno este designado “enviesamento da publicação”. Entre as
várias possíveis explicações para este fenómeno, é referido o problema do “arquivo” (“the
file-drawer” problem), que se refere à propensão dos investigadores para “arquivarem” os
seus trabalhos em que são obtidos resultados não significativos, em virtude de os
considerarem não merecedores de publicação (cf. Sigelman, 1999). Têm sido avançadas
algumas propostas para ultrapassar este problema, inclusive cálculos estatísticos específicos
que as meta-análises devem efectuar para garantir a validade das suas conclusões. Uma outra
via é a realização de novos estudos para testar as mesmas hipóteses de modo a avaliar o grau
de confiança nos resultados, podendo ser replicações, investigações que superem as
limitações das anteriores, ou extensões das mesmas (Hubbard & Armstrong, 1997).
Os resultados deste estudo mostraram ainda que os homens foram mais agressivos do
que as mulheres, embora, ao contrário do previsto, esse resultado não dependesse do sexo do
adversário. Este efeito principal do sexo do autor está de acordo a maioria das investigações
empíricas (e.g., Bettencourt & Miller, 1996; Hyde, 2005). Entre as várias interpretações que
têm sido propostas para explicar a maior predisposição dos elementos do sexo masculino para
a agressão realça-se a importância da aprendizagem das normas sociais que definem o papel
do género, sendo que, de um modo geral, quer a família quer os educadores, tendem a ser
mais tolerantes perante a agressão física que é manifestada por rapazes (e.g., Bjorkqvist &
Niemela, 1992). Por outro lado, foi interessante verificar que as mulheres sentiram maior
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
45
incómodo com o ruído de que foram alvo, o que poderá ser consistente com uma menor
habituação em lidarem com a agressão física (Bettencourt & Miller, 1996; Hyde, 2005). Os
julgamentos sobre o incómodo que os alvos poderão ter sentido também estão de acordo com
os estereótipos a este propósito, uma vez que os participantes também estimaram que os alvos
femininos sentiram maior incómodo do que os alvos masculinos.
O facto de a investigação realizada até ao momento apresentar-se como insuficiente, e
a não confirmação no presente estudo de um efeito da atractividade na agressão interpessoal,
leva-nos a ser prudentes quanto às conclusões a retirar. Porém, face às implicações sociais da
possível relação entre a atractividade e a agressão, justifica-se dar continuidade à análise
desta temática, averiguando a relevância de variáveis de natureza individual e contextual,
bem como de outras condicionantes sociais, de modo a garantir uma maior consistência nos
resultados e a extrair conclusões mais sólidas.
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VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
47
Palavras- chave:
Atribuição Causal, Sucesso e Insucesso Desportivo
INTRODUÇÃO
Controlar o que se passa à nossa volta, bem como o que nos acontece, a nós e aos
outros, todos os dias e a todo o momento, conduz, frequentemente, a um esforço de
compreensão dos indivíduos sobre o ambiente que os rodeia. Este esforço, não raras vezes,
traduz-se na procura de explicações para os acontecimentos vivenciados.
No campo da psicologia social, às explicações subjacentes ao raciocínio causal do
indivíduo, no seu dia a dia, convencionou-se designar atribuições causais.
Os processos de imputação de causalidade, isto é, a associação de causas aos
acontecimentos, são realizados a todo o momento quando nos reportamos a contextos de
realização (e.g., desportivo, académico, selecção de pessoal).
Na origem do estudo sobre as atribuições encontram-se os trabalhos de Heider (1944,
1958), unanimemente considerado como o autor pioneiro desta linha de investigação.
Outros lhe sucederam, entre os quais se destacam Jones e Davis (1965) e Kelley (1967,
1972), sendo estes os autores referidos na literatura como os principais nesta área.
Seguindo de perto a proposta teórica de Heider (1944, 1958), segundo a qual a
ocorrência das atribuições se verifica numa dimensão de internalidade/externalidade e ao
nível da estabilidade do efeito, Weiner (1972) com base em estudos sobre a motivação para a
realização, propôs uma taxonomia para o raciocínio causal.
O modelo racional e lógico apresentado por Weiner (Faria, 1996) sobre a produção de
atribuições causais para explicar os resultados e suas consequências, ao preconizar a
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
51
vejam-se os estudos de Lau & Russell, 1980; Sousa, Cunha & Ribeiro, 1992; Fonseca, 1993a;
1993b; Faria, 1996).
Sousa (1999) e Sousa e Ventura (2003), efectuaram um estudo que pretendeu avaliar a
auto-percepção de causalidade em situações de sucesso e fracasso desportivo com atletas
portugueses de alta competição. Os dados evidenciaram alguma convergência quando
comparados com estudos anteriores, isto é, de uma forma geral, os atletas consideram que os
seus sucessos se devem a causas internas, instáveis e passíveis de controlo pessoal, ao passo
que se desvinculam, de uma forma pronunciada, dos seus fracassos ao atribuírem as causas
que lhes deram origem a factores externos, instáveis e passíveis de controlo por parte de
outras pessoas.
Várias explicações têm sido avançadas para este tipo de comportamento. Assim,
enquanto uns consideram que ele decorre dos padrões de reforço a que o sujeito é exposto ao
longo da vida e que, em termos cognitivos, se podem transformar em crenças, outros
defendem, principalmente, uma explicação em termos de conformismo a uma norma social
que define, na sociedade, o caracter indesejável do fracasso e o caracter desejável do sucesso
(Sousa, 2004).
Estas duas explicações parecem estar relacionadas, isto porque, se, por um lado, os
indivíduos tendem a confirmar as suas expectativas mantendo a estrutura das suas crenças,
por outro, desejam encontrar explicações que se conformem com os seus próprios desejos e
aspirações (Amâncio, 1998).
Deste modo, a atribuição de resultados indesejáveis a factores externos
desresponsabiliza os sujeitos e atenua os efeitos nefastos do fracasso no sentimento de
competência própria (Faria, 1996) permitindo, igualmente, a protecção da auto-estima
(Sousa, 2004). Da mesma forma, também a percepção do sucesso, enquanto factor
disposicional, possibilita a preservação ou, mesmo, o acréscimo da auto-estima.
É nesta perspectiva que Biddle (1993) refere o “self-serving bias” ou egoísmo
atribucional como uma das possíveis fontes influenciadoras do processo de atribuição causal.
De acordo com o autor, o egoísmo atribuicional refere-se à tendência que as pessoas, de
forma geral, manifestam para se responsabilizarem apenas pelos bons resultados que obtêm.
Deste modo, ao efectuarem atribuições com o intuito de protegerem ou incrementarem a sua
auto-estima, os indivíduos utilizam este mecanismo para perceber as causas que levam ao seu
sucesso como mais internas do que as que foram responsáveis por eventuais insucessos.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
53
Em última análise, as causas que os sujeitos atribuem para justificar os seus resultados
bem como o modo como são percebidas, constituem factor determinante não só para as
emoções experienciadas após determinado resultado, mas, também, como veículo orientador
das expectativas de sucesso futuro e do nível de empenhamento que os sujeitos irão
demonstrar na prática subsequente da sua actividade.
Desta interacção, entre as emoções vivenciadas após determinado acontecimento e as
expectativas estruturadas em relação a futuras situações, depende o comportamento futuro
dos indivíduos.
Perante o exposto anteriormente, os objectivos gerais deste estudo consistem, então, em
caracterizar o papel das atribuições causais elaboradas em contexto desportivo.
Especificamente, pretende-se avaliar a auto-percepção das causas dos sucessos e
insucessos desportivos, bem como a sua influência em função da modalidade praticada pelos
atletas.
De acordo, portanto, com algumas das indicações veiculadas na literatura por diversos
autores, foi formulada a hipótese de que os atletas, de um modo geral, classificam as causas
dos seus melhores resultados de forma mais interna, estável e passível de controlo pessoal
quando comparadas com as causas subjacentes aos seus piores resultados.
Por outro lado, hipotetizamos, também, que os atletas federados praticantes de desportos
individuais (atletismo e esgrima) caracterizam as causas dos seus resultados mais
significativos de sempre (melhor e pior resultados) como mais internas, menos instáveis e
mais passíveis de controlo pessoal quando comparadas as suas respostas com as dos atletas
praticantes de desportos colectivos (futebol).
Em decorrência do atrás enunciado formalizamos, igualmente, a hipótese dos atletas
federados praticantes de esgrima tenderem a classificar as causas dos seus insucessos de
forma mais interna, menos instável e mais passível de controlo pessoal do que os seus colegas
da modalidade de atletismo.
MATERIAL E MÉTODOS
Participantes
As idades dos inquiridos estão compreendidas entre 16 e 38 anos (M= 23.73; DP=
5.86).
Variáveis em estudo
Foram utilizadas como variáveis independentes ou explicativas, numa primeira fase do
estudo, os resultados que os atletas evocaram como os mais significativos da sua carreira
(melhor e pior resultados de sempre), assumindo-se como uma situação de sucesso desportivo
o seu melhor resultado de sempre e, como um fracasso, a sua pior prestação desportiva até ao
presente momento.
Num segundo momento, ainda como variáveis independentes ou explicativas, foram
consideradas as modalidades praticadas pelos diferentes atletas (Futebol, Atletismo e
Esgrima).
Por outro lado, como variáveis dependentes, consideraram-se as dimensões referentes ao
locus de causalidade, nível de estabilidade e grau de controlabilidade do modelo atribuicional
tridimensional da motivação e emoção de Weiner (1979).
Instrumentos
Foi utilizada uma versão traduzida e adaptada para a população portuguesa por Fonseca
(1993b) da Causal Dimension Scalle II (CDSII: Mc Auley, Duncan & Russell, 1992). A
CDSII é uma escala que permite aos inquiridos indicarem a causa que consideram ter estado
na origem da ocorrência de um determinado resultado, sendo caracterizada ao longo de
quatro dimensões: locus de causalidade, estabilidade, controlo pessoal e controlo externo. A
cada dimensão correspondem três itens, respondíveis numa escala de Likert de 9 pontos
(ver Fonseca & Maia, 1994, 1995, para uma revisão detalhada da tradução e adaptação deste instrumento para a população
portuguesa).
Foram, ainda, formuladas questões relativas aos jogos/provas (tempo decorrido da sua
realização, nitidez de recordação, percepção da sua importância e grau de dificuldade) e aos
resultados (probabilidade da sua ocorrência, classificação e satisfação provocada) recordados
pelos atletas. Todas estas questões foram respondidas em escalas de Likert de 9 pontos (de 1
= nenhum ou péssimo a 9 = muitíssimo ou óptimo).
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
55
Procedimentos
Operacionais
Os questionários, foram distribuídos aos atletas, antes de uma sessão de treino. A sua
aplicação foi colectiva, nas instalações dos respectivos clubes, sendo a recolha efectuada pelo
investigador.
O questionário foi preenchido tendo como referência duas realidades diametralmente
opostas. Na primeira fase, os atletas recordaram o jogo/prova em que alcançaram o seu
melhor resultado de sempre, respondendo, de seguida, a diversas questões de forma a
caracterizarem, não só o jogo/prova e o resultado obtido, como também as causas subjacentes
a esse mesmo resultado. Numa segunda fase, os indivíduos responderam a um conjunto de
perguntas idênticas mas em que a referência passou a ser a competição em que atingiram o
seu pior resultado de sempre. O critério de escolha do melhor e pior resultado de sempre, bem
como a indicação e classificação das causas nas dimensões correspondentes foram da
exclusiva responsabilidade dos atletas, não se incorrendo, assim, no que Russell (1982)
denominou de “erro fundamental do investigador de atribuição” que consiste no facto de
serem os investigadores a caracterizarem dimensionalmente as causas indicadas pelos
respondentes.
Estatísticos
No que concerne à análise e tratamento estatístico, utilizou-se uma estatística paramétrica,
tendo sido efectuados T-Testes (para a caracterização das situações de sucesso e insucesso
desportivo) e Análises de Variância Univariada (Anovas) sobre os “scores” factoriais de cada
uma das dimensões (para comparações entre as modalidades em estudo).
À posteriori utilizou-se o Teste Tukey, que permite comparações múltiplas, na análise das
diferenças médias entre os pares das modalidades estudadas (Futebol e Atletismo; Atletismo
e Esgrima; Futebol e Esgrima).
APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS
AVALIAÇÃO DA RESULTADO
COMPETIÇÃO
(N= 338) SUCESSO INSUCESSO
M DP M DP
Tempo decorrido A 3.63 3.17 3.48 3.08
Nitidez da recordação B 7.88 1.37 6.98 2.04
B
Importância do jogo/prova 7.73 1.51 6.80 2.05
B
Dificuldade do jogo/prova 7.28 1.60 6.31 2.06
A= valores indicados em anos; B= valores compreendidos entre 1 e 9 (valores mais elevados indicam maior
nitidez, importância e dificuldade do jogo/prova).
AVALIAÇÃO DO RESULTADO
RESULTADO
(N= 338) SUCESSO INSUCESSO
M DP M DP
A
Probabilidade de ocorrência 5.55 1.99 4.28 2.22
Classificação A 7.91 1.43 1.75 1.35
Satisfação provocada A 8.41 1.14 1.41 1.20
A= valores compreendidos entre 1 e 9 (valores mais elevados indicam maior probabilidade de ocorrência,
classificação e satisfação provocada).
No que concerne à caracterização dos resultados obtidos, em todas as dimensões foram
encontradas diferenças estatisticamente significativas, com os desportistas a evidenciarem
valores superiores, quer na probabilidade de ocorrência do resultado (t = 8.234; p = .000),
quer ainda na classificação (t = 55.921; p = .000) e satisfação provocada (t = 76.235; p =
.000), no que respeita à forma como avaliaram os resultados que deram origem aos sucessos,
em prejuízo das situações de fracasso.
Na avaliação das causas atribuídas aos melhor e pior resultados de sempre, a tabela seguinte
sintetiza a comparação entre ambos.
Tabela 3 - Avaliação das causas (no que concerne às dimensões de locus de causalidade, estabilidade, controlo
pessoal e controlo externo) indicadas como fundamentais para o resultado obtido. Médias e desvios-padrão das
respostas dadas pelos atletas, em função do tipo de resultado. A= valores compreendidos entre 3 e 27 (valores
mais elevados indicam auto-percepção de maior internalidade, estabilidade e passibilidade de controlo pessoal e
externo).
M DP M DP M DP
A= valores compreendidos entre 1 e 9 (valores mais elevados indicam maior probabilidade de ocorrência,
classificação e satisfação provocada).
Tabela 6 - Avaliação das causas (no que concerne às dimensões de locus de causalidade, estabilidade e
passibilidade de controlo pessoal e externo) indicadas como fundamentais para a obtenção do resultado
recordado. Médias e desvios-padrão das respostas dadas pelos atletas, em função da modalidade praticada e do
tipo de resultado.
DISCUSSÃO
uma explicação causal mais afastada da esfera pessoal do atleta, embora ainda englobada na
vertente relacionada com a sua própria equipa.
As indicações de Larry e Forsyth (1987) apontam precisamente neste sentido, com os
autores a defenderem que nos desportos colectivos a interdependência funcional dos vários
membros da equipa cria nos atletas o sentimento de que os sucessos ou fracassos alcançados
não podem ser atribuíveis apenas a factores causais que se prendem com o desempenho de
cada atleta.
Esta interdependência funcional poderá, então, equiparar os colegas de equipa a
factores menos internos, mais instáveis e menos controláveis pelo próprio atleta
possibilitando, assim, a partilha de responsabilização pelos resultados conjuntos.
Contrariamente às nossas expectativas iniciais, os resultados deste estudo evidenciaram,
nas situações de sucesso, uma clara tendência dos futebolistas para classificarem de forma
mais interna, menos instável e mais controlável por si próprios as causas dos seus resultados
em comparação com os dois grupos de praticantes de desportos individuais (atletismo e
esgrima).
Ao invés, nas situações de insucesso, embora a tendência de resposta dos futebolistas
em relação ao grupo do atletismo se mantenha inalterável, o mesmo já não acontece em
relação aos esgrimistas. De facto, este último grupo classificou como mais interna e mais
passível de controlo pessoal as causas dos seus piores resultados em comparação directa com
os futebolistas, o que poderá sugerir uma desresponsabilização individual dos praticantes de
desportos colectivos (e.g., futebol), no sentido de uma tendência para a uma ligeira diluição
dos fracassos da equipa pelos restantes colegas do grupo de trabalho.
No entanto, surpreendentemente, os resultados do nosso estudo apenas coincidem com
os de investigações anteriores quando comparamos, nas situações de insucesso desportivo, os
esgrimistas e os futebolistas.
Com efeito, um estudo realizado em Portugal por Fonseca (1993b) envolvendo
voleibolistas (desporto colectivo) e nadadores e ginastas (representantes de desportos
individuais) confirmou a tendência que, já antes, uma investigação efectuada por Tenenbaum
e Furst (1985) tinha evidenciado: os praticantes de desportos individuais percepcionam as
causas dos seus resultados (tanto sucessos como insucessos) de modo mais interno, menos
instável e mais controlável pelos próprios do que os atletas de desportos colectivos.
Uma possível justificação para a inconsistência verificada entre os nossos resultados e
os destes autores, poderá remeter para o facto de, na sociedade portuguesa, o futebol estar
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
66
um conhecimento infalível das causas dos seus comportamentos, fazendo assim atribuições
espontâneas, sempre com o intuito de procurar, sistemáticamente, explicações mais
elaboradas quando os efeitos são negativos ou não estão em consonância com as expectativas
criadas.
Em última análise, a forma como são percebidas as causas que os atletas atribuem para
justificar os seus resultados, constitui-se como um aspecto fundamental, não só para as
emoções experienciadas após determinado resultado, mas, fundamentalmente, como veículo
orientador de expectativas de sucesso e nível de empenhamento em relação a competições
vindouras.
Esta considerações reforçam a importância da implementação de uma intervenção
psicológica deliberada e eficaz, no sentido de promover o desenvolvimento de estratégias
mais adequadas para lidar com as situações de sucesso e de fracasso, bem como com a
pressão avaliativa inerente ao contexto desportivo.
Neste sentido, conclui-se e perspectiva-se que os estudos sobre atribuição causal,
embora tendo uma longa e influenciadora história no domínio da psicologia social, continuam
a assumir-se como uma área temática importante, contudo, paradoxalmente, ainda não
amplamente explorada pelos investigadores da psicologia do desporto.
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VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
71
Palavras-Chave:
Adolescência; Auto-estima; Conflito cognitivo.
Resumo/Abstract:
Este estudo explora as relações entre duas variáveis do auto-conhecimento (AC) (auto-estima
e dilemas implicativos, um tipo de conflito cognitivo) e a adaptação psicológica na
adolescência. A técnica da grelha de repertório de Kelly é utilizada para avaliar as duas
variáveis do AC em duas amostras de adolescentes (fases inicial e avançada da adolescência);
uma medida subjectiva de adaptação psicológica é também obtida. Os resultados são
discutidos à luz da investigação existente sobre auto-estima e conflitos do AC na
adolescência, e dilemas implicativos na grelha de repertório.
INTRODUÇÃO
A Teoria dos Construtos Pessoais (TCP) e a técnica da grelha de repertório (Repgrid) (Kelly,
1955) têm proporcionado contributos importantes para a compreensão dos aspectos
organizacionais do auto-conhecimento (entre outros) e sua relação com a adaptação
psicológica em adultos (sobre a TCP e a Repgrid, ver por exemplo, Feixas e Besora, 2000;
Botella e Feixas, 1998; Feixas e Cornejo, 1996).); com algumas excepções (por exemplo:
Adams-Webber, 1999; Oosterwegel e Oppenheimer, 1993), pouca investigação (mas
encorajadora) foi dedicada à adolescência ou até à infância. Neste estudo visamos explorar
alguns contributos da TCP e da Repgrid para a compreensão do auto-conhecimento na
adolescência e sua relação com a adaptação psicológica; presente estará também a
perspectiva cognitivo-desenvolvimental (Harter, 1999; Glick e Zigler, 1985).
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
72
O objectivo central deste novo projecto, do âmbito da TCP, tem a ver com a investigação de
um tipo de conflito cognitivo identificável a partir da grelha de repertório, o dilema
implicativo. Os dilemas implicativos são conflitos envolvendo atributos do Eu Actual e do Eu
Ideal (ver Figura 2). Em primeiro lugar, os dilemas implicativos supõem a existência de
construtos congruentes e de construtos discrepantes numa grelha de repertório. Um construto
é congruente se os Eus Actual e Ideal são pontuados de modo semelhante; por exemplo, o
construto sonhador - realista seria congruente se ambos, Eu Actual e Ideal, fossem vistos
pela pessoa como sonhadores. Um construto é discrepante se o Eu Actual e o Ideal forem
pontuados em pólos opostos do construto; seria o caso, por exemplo, do construto frágil –
forte à luz do qual o mesmo sujeito pontuaria o Eu Actual como frágil e o Ideal como forte.
Por fim, a definição de dilemas implicativos supõe a existência de uma correlação superior a
.35 entre os construtos congruente e discrepante, como se mostra na Figura 2.
Construto
Sonhador Realista
congruente
Eu Actual e
r ≥.35 Ideal r ≥.35
Construto
Frágil Forte
Discrepante
Eu Actual Eu Ideal
O interesse por estes dilemas tem-se prendido até aqui com a compreensão de situações
clínicas e da mudança em psicoterapia, em adultos (Feixas e Saúl, 2004). Todavia, embora a
prevalência de dilemas em amostras clínicas seja significativamente superior à sua
prevalência em amostras da população adulta normal (respectivamente 52,4 % e 34 %) os
dilemas implicativos não são um exclusivo das situações de psicopatologia; eventualmente,
eles tingem a vida de um grande número de pessoas durante alguns períodos da sua vida. Não
há dados sobre a sua presença em adolescentes.
adolescência, bem como a sua relação com a adaptação psicológica, usando a técnica da
grelha de repertório como instrumento principal.
MÉTODO
Participantes
No total, participaram 68 adolescentes (Quadro 1), distribuídos por duas amostras ou Fases
da Adolescência: 33 sujeitos na amostra da Fase Inicial da Adolescência (In) (alunos do 7º
ano de escolaridade, idade média 12,24), e 35 na Fase Avançada da Adolescência (Av)
(alunos do 12º ano de escolaridade, idade média 17,29). Estes adolescentes eram alunos de
cinco escolas públicas de Braga, e a sua participação foi voluntária. Foi solicitado o
consentimento informado dos Conselhos Executivos das escolas e dos encarregados de
educação dos adolescentes. Os instrumentos foram administrados em pequenos grupos, na
escola, fora do horário escolar.
Instrumentos e Procedimento
Dois instrumentos permitiram a recolha de dados para quatro variáveis (Sexo, Adapatção
Psicológica, Auto-estima e conflitos cognitivos).
Consideramos para este estudo uma grelha com 15 elementos do Eu e dos Outros (Eu Actual,
Pai, Mãe, Irmã/o, Amigo/a do Mesmo Sexo, Amigo/a do Sexo Oposto, Namorado/a, Pessoa
de que Gosto ou Admiro, Eu Visto/a pelo Meu Pai, Eu Visto pela Minha Mãe, Eu Visto por
Amigo/a, Eu Devido, Eu Provável, Eu Ideal) e 12 construtos (um deles era fornecido como
exemplo, triste – alegre). Os passos na administração da grelha seguiram um guião previsto:
(a) Identificação dos Elementos (especialmente dos Outros); (b) elicitação dos construtos
mediante o método diádico e o procedimento de auto-identificação (Kelly, 1955); os sujeitos
são convidados a identificar semelhanças e diferenças entre o Eu Actual e cada um dos
Outros, até serem obtidos 12 construtos bipolares; (c) usando uma escala de Likert de 7
pontos, todos os elementos são pontuados em cada um dos construtos; o ponto intermédio (4)
significa que o construto não se aplica a esse elemento; os extremos da escala significam a
pontuação máxima em cada um dos pólos do constructo (Ex.: de 1 – Muito Feliz a 7 – Muito
Infeliz).
que em amostras sem queixas clínicas (Neimeyer e Feixas, 1992; Feixas, Erazo-
Caicedo, Harter e Bach, para publicação).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Percepção de Dilemas Ac – Id
Fase da
Sexo N Problemas Pessoais Implicativos
Adolescência
(SPP) (%) (SDil) (%) Média DP
F 25 36 36 0,23 0,15
Inicial (In) M 8 75 50 0,56 0,32
F+M 33 45,5 39,4 0,31 0,25
F 22 90,9 68,2 0,43 0,16
Avançada (Av) M 13 53,8 46,2 0,42 0,35
F+M 35 77,1 60 0,43 0,24
100
90 90,9
80
% de Sujeitos com PP
75
70
60
53,8 F
50
M
40
36
30
20
10
0
In Av
Fase da Adolescência
Em suma, em Av as raparigas referem PP mais frequentemente que em In; por outro lado, é
em Av que rapazes e raparigas mostram uma incidência diferente de PP, elas referindo mais
frequentemente que eles. Estes resultados vão ao encontro de alguma investigação que indica
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
81
80
70 68,2
% Sujeitos com Dilemas
60
50 50
46,2
F
40
36 M
30
20
10
0
In Av
Fase da Adolescência
Dentro de cada Fase da Adolescência parecem não ser significativas as diferenças entre
rapazes e raparigas (Testes Exactos de Fisher - In: n.s.; Av: n.s.; testes bilaterais), embora em
In pareça ser mais frequente a presença de dilemas nos rapazes do que nas raparigas, e em Av
o contrário.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
82
Em suma, os dilemas têm uma maior prevalência em Av que em In, mas só para as raparigas.
De resto, em cada Fase da Adolescência rapazes e raparigas apresentam uma prevalência de
Dilemas que é semelhante.
70
63
60
% Sujeitos com Dilemas
52,4
50 50
44,4
40
NPP
33,3 34
SPP
30
20
10
0
In Av Ad
Fase do Desenvolvimento
rapazes Ac –Id diminuir de In para Av (e portanto a auto-estima a aumentar). Por outro lado,
em In, rapazes e raparigas apresentam médias distintas (rapazes com Ac – Id mais elevada, e
portanto auto-estima mais baixa, do que as raparigas) enquanto que em Av rapazes e
raparigas apresentam auto-estimas semelhantes.
0,6 0,56
0,5
0,44
0,42
Ac - Id (média)
0,4
In
0,3
0,23 Av
0,2
0,1
0
F M
Sexo
Em suma, coloca-se a hipótese de, tal como Galambos e colegas (2006) referem, no final da
adolescência se iniciar uma aproximação entre a auto-estima de rapazes e de raparigas; por
outro lado, o desenvolvimento de sentido oposto entre rapazes e raparigas é intrigante. Os
resultados das raparigas são concordantes com alguma da investigação que revimos na
Introdução: Ac – Id aumenta de In para Av (e portanto a auto-estima diminui), a referência a
PP é menos frequente em In que em Av. Portanto o modelo que relaciona negativamente
auto-estima e adaptação psicológica, verifica-se para o sexo feminino. Vendo Ac - Id como
um factor motivacional, encontramos as adolescentes mais velhas mais empenhadas na
mudança pessoal, o que está de acordo com o contexto sociocultural em que as estudantes se
encontram. E de acordo com a perspectiva cognitivo-desenvolvimentista, as adolescentes
mais velhas revelam-se mais maduras cognitivamente, capazes de uma maior diferenciação
Ac – Id.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
85
Por outro lado, comparando com o perfil das raparigas, o perfil dos rapazes é intrigante, pelas
semelhanças entre In e Av, aparentemente um perfil de não-mudança: a frequência de SPP
não é significativamente diferente em In e Av, a distância Ac – Id também não.
O Gráfico 5 (ver também Quadro 1) ilustra o efeito principal da Dil (F=11,745, p=0,001): os
adolescentes que apresentam dilemas (SDil) têm uma distância Ac – Id média
significativamente mais alta (mais baixa auto-estima) do que os adolescentes que não os
apresentam (NDil), independentemente da Fase da Adolescência (o mesmo se poderá dizer
em relação ao Sexo ou à percepção de PP).
0,6
0,5 0,5
0,47
Ac - Id (média)
0,4
0,32 Ndil
0,3
0,27 Sdil
0,2
0,1
0
In Av
Fase da Adolescência
Os sujeitos que referem a presença de PP (SPP) (Gráfico 6; Quadro 1) têm sempre uma
distância Ac – Id mais elevada (auto-estima mais baixa) do que os sujeitos que referem a
ausência de PP (NPP), independentemente do Sexo, Fase da Adolescência ou da presença de
Dilemas Implicativos. Todavia, o efeito de PP em Ac – Id não é estatisticamente significativo
pelo que temos de concluir que a percepção de Problemas Pessoais não mostrou efeitos
significativos na distância Ac – Id (auto-estima); este resultado pode estar relacionado com
algumas limitações da variável PP enquanto medida de adaptação psicológica.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
86
0,5 0,45
0,45
0,4 0,35
0,34
0,35
Ac - Id (média)
0,28
0,3
NPP
0,25
SPP
0,2
0,15
0,1
0,05
0
In Av
Fase da Adolescência
Apesar de globalmente a PP não ter efeito em Ac – Id, não deixa de ser curioso o perfil de
resultados que o Gráfico 7 mostra e de que faremos uma breve análise qualitativa.
Genericamente, o gráfico sugere padrões diferentes para cada Sexo.
0,7 0,7
0,6
Ac - Id (média)
0,54 0,53
0,5 0,51
0,42 F
0,4
M
0,3 0,29
0,23 0,23
0,2
0,1
0
In.NPP In.SPP Av.NPP Av.SPP
Em In, a auto-estima das raparigas parece não relacionada com a presença de problemas de
adaptação; a auto-estima dos rapazes parece ser mais elevada (Ac – Id mais baixo) quando
referem PP; isto é, os rapazes mais novos que referem não ter PP são aqueles que têm uma
auto-estima mais baixa. Em Av, a auto-estima de rapazes e raparigas parece relacionar-se
diferentemente com a percepção de PP: as raparigas que referem NPP têm a auto-estima mais
baixa (Ac – Id mais alta) do que aquelas que referem PP; com os rapazes passa-se o inverso:
os que referem NPP têm uma auto-estima mais alta (Ac – Id mais baixa) do que os que
referem SPP. Especialmente estes resultados de Av revelam-se interessantes e justificam um
estudo mais aprofundado.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
89
Palavras-chave:
autoconceito; autoconceito profissional dos professores; cidadania docente; profissionalidade
docente
Resumo/Abstract:
Este estudo tem como objectivo geral analisar a percepção que os docentes têm de si-mesmo
como profissionais e a relação desta mesma percepção com os seus comportamentos de
cidadania docente. Foram formuladas várias questões de estudo com o objectivo de analisar:
a relação do autoconceito com variáveis escolares, pessoais e sociais; a relação entre o
autoconceito e os comportamentos de cidadania docente; os factores escolares que mais
contribuem para a explicação da variância do autoconceito profissional dos professores e dos
comportamentos de cidadania docente; as dimensões do autoconceito profissional que mais
contribuem para a explicação da variância dos comportamentos de cidadania docente. O
quadro conceptual deste estudo foi estruturado tendo por base as perspectivas diferencial,
cognitivo-social e desenvolvimentista. Os sujeitos da amostra foram professores de ambos os
sexos, de diferentes idades, em diferentes fases de desenvolvimento da sua carreira, com
diferentes tipos de formação profissional e de diferentes escolas. Para a avaliação do
autoconceito profissional dos professores foi utilizada a escala Teacher self-concept
evaluation scale (TSCES). Para a avaliação dos comportamentos de cidadania docente
utilizou-se a Escala de representação dos professores acerca da sua
cidadania/profissionalidade docente (ERP-CCID), com duas psicologias novas dimensões —
a normatividade e a interpessoalidade. Os resultados evidenciaram a relação entre as
dimensões do autoconceito profissional dos professores e variáveis escolares e pessoais;
evidenciaram correlações estatisticamente significativas entre o autoconceito profissional dos
professores e os seus comportamentos de cidadania docente. A generalidade dos resultados
aproxima-se de estudos prévios e destaca a importância de contextos facilitadores do
desenvolvimento do autoconceito profissional dos professores. O estudo termina com
sugestões de futuras investigações.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
91
Introdução
Cada vez mais se exige ao indivíduo, tanto a nível pessoal como profissional. A
sociedade está em constante mudança. A produtividade, a eficácia e a criatividade são
palavras de ordem no meio laboral. Estas circunstâncias tornam a sociedade mais tecnológica
e impessoal, pelo que o conhecimento de si-próprio poderá tornar-se um factor de relevante
importância (Alexander, 2000; Calixto, 2002; Niedenthal & Beike, 1997; Organ, 1997;
Roque, 2004; Villa & Calvete, 2001). Fazendo a transposição do descrito para a profissão
docente, que está em constante evolução, a possibilidade de frequentar acções de formação na
área específica, a promoção de uma maior abertura à comunidade educativa e uma gestão
mais eficiente pode afectar o desenvolvimento do autoconceito profissional dos docentes.
Pelo descrito, emerge a necessidade de melhor compreendermos o significado de
autoconceito. O autoconceito poderá constituir o núcleo mais central da personalidade e da
existência (Marsh, 1989; Villa & Calvete, 2001; Roque, 2004; Veiga, 1996), assumindo-se
como o grande determinante dos pensamentos, sentimentos e comportamentos. O
autoconceito constrói-se ao longo da vida e por várias etapas, decorrentes da interacção do
sujeito com o meio, sendo influenciadas pelas estruturas de referência dos indivíduos.
Importa clarificar como foi entendido, neste trabalho, o autoconceito. Neste sentido, este
construto entende-se como sendo a percepção que o indivíduo tem de si próprio como tal e de
si-mesmo em relação com os outros. No que diz respeito ao autoconceito profissional é
conceptualizado como um construto consciente, multidimensional, evolutivo, autodescritivo e
avaliativo (Marsh, 1989; Villa & Calvete, 2001; Veiga, 1996). O construto de cidadania
docente advém dos comportamentos de cidadania organizacional (Organ, 1988). Tendo em
conta que os comportamentos de cidadania organizacional contribuem para a eficácia
organizacional (Organ, 1988), Rego (2003: p. 55), partindo desta teoria, adoptou a seguinte
definição de comportamentos de cidadania docente: “comportamentos tendencialmente
discricionários (não obrigatórios), não directa ou explicitamente reconhecidos pelo sistema de
recompensa formal, e que contribuem para o funcionamento eficaz da organização escolar,
designadamente no que concerne ao desempenho académico dos estudantes”.
O principal objectivo deste estudo foi analisar a percepção que os docentes (que
leccionam desde o 1º ao 12º ano de escolaridade) têm de si-mesmo como profissionais e a
relação desta mesma percepção com os seus comportamentos de cidadania docente. Foi no
âmbito dos elementos referidos que as questões do estudo surgiram, às quais se procurou
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
92
O autoconceito
Metodologia
Amostra
Instrumentos
Procedimentos
Questões de estudo
Resultados
(96,4%) é o 28 (Não aguento mais ficar na minha profissão). Os itens 2, 4, 7, 8, 12, 16, 19, 24
e 29 são os que revelam maior percentagem de concordância, sendo o item 29 (Acho que
estou sempre a aprender) o que apresenta maior percentagem (86,9%).
Quadro 1 Percentagens dos diferentes parâmetros do Autoconceito Profissional, em termos de discordância elevada (1),
discordância e concordância (2) ou concordância elevada (3) com o conteúdo do item.
Teacher self-concept evaluation scale 1 2 3 x² Sig.
01. Sinto-me como muito competente na minha profissão. 0,8 32,3 66,9 164,81 ***
02. Sinto-me integrado na relação com os meus colegas. 4,0 24,3 71,7 181,92 ***
03. Gosto de pensar em novos projectos. 3,6 28,3 68,1 159,71 ***
04. Sinto segurança na maneira como me relaciono com os alunos. 2,8 19,5 77,7 232,08 ***
05. Sinto-me frustrado no trabalho. 84,5 11,2 4,4 143,08 ***
06. Sinto-me livre e sem medo de ser eu próprio a assumir as consequências. 16,7 28,7 54,6 56,38 ***
07. Penso que, em geral, sou bom professor. 0,8 21,9 77,3 235,04 ***
08. Gosto das relações que estabeleço com os outros no meu trabalho. 3,2 26,7 70,1 173,65 ***
09. As mudanças não me perturbam. 21,5 33,5 45,0 20,81 ***
10. Tenho toda a confiança nos meus alunos. 26,7 37,5 35,9 5,08 NS
11. Nas minhas actuais circunstâncias, é difícil ter sucesso. 58,6 21,5 19,9 12,44 **
12. Sinto-me bem comigo mesmo, apesar de não ser perfeito. 1,6 23,1 75,3 216,34 ***
13. Penso que tenho elevadas competências para ensinar. 4,4 33,1 62,5 127,39 ***
14. Sinto-me estimado pelas outras pessoas. 4,0 39,4 56,6 108,34 ***
15. Tenho dificuldade em tomar iniciativas. 76,9 12,7 10,4 49,11 ***
16. Gosto habitualmente das relações que tenho com as minhas turmas. 2,0 25,9 72,1 191,36 ***
17. O meu trabalho como professor não me dá satisfação. 90,4 5,6 4,0 196,50 ***
18. Sei muito bem o que quero e aquilo que posso fazer. 6,8 29,1 64,1 125,96 ***
19. Acredito nas minhas próprias competências. 0,8 24,7 74,5 212,95 ***
20. Tenho facilidade em partilhar e cooperar com outros. 10,4 23,9 65,7 125,51 ***
21. Gosto de correr riscos. 49,0 27,9 23,1 28,60 ***
22. Em geral, os alunos têm muita estima por mim. 2,8 44,2 53,0 108,27 ***
23. Se me fosse possível, mudaria de profissão. 91,6 2,8 5,6 177,71 ***
24. Aprendo muito com os meus próprios erros. 2,8 25,9 71,3 183,04 ***
25. Sinto confiança nas minhas próprias capacidades. 0,0 29,9 69,7 40,00 ***
26. Sinto que sou bem aceite pelas outras pessoas. 1,2 36,7 62,2 141,14 ***
27. As críticas, sejam de colegas ou de alunos, não me metem medo. 12,4 37,5 50,2 55,85 ***
28. Não aguento mais ficar na minha profissão. 96,4 2,0 1,6 358,50 ***
29. Acho que estou sempre a aprender. 0,8 12,4 86,9 328,56 ***
30. Tenho fama de ser um professor eficiente. 5,2 45,0 49,8 90,40 ***
31. Sinto que sou uma pessoa com valor. 1,6 29,5 68,9 172,36 ***
32. Sou pouco confiante nas minhas próprias ideias e capacidades. 83,3 9,2 7,6 110,16 ***
33. Os meus colegas vêem-me como um professor competente. 1,2 44,2 54,6 120,70 ***
*p<0,5; **p<0,1; ***p<0,001; NS = não significativa
verificar que não existem diferenças significativas, nas dimensões relação com os alunos
(Real), relação com os colegas (ReCo) e aceitação de riscos e iniciativas (AcRi).
Algo semelhante ocorreu na comparação entre grupos mais extremos quanto ao tempo
de serviço, especificamente entre os grupos: menos de 6 anos (N = 32), entre 6 e 24 anos (N
= 185) e com mais de 24 (N = 23) (Quadro 3). No autoconceito total, embora o grupo com
tempo de serviço entre 6 e 24 anos tenha apresentado menor valor que os restantes, a
diferenciação não chegou a ser estatisticamente significativa.
Este mesmo tipo de análises foi realizado em função da idade, observando-se, também
aqui, a ausência de qualquer diferenciação significativa ao longo do tempo, qualquer que
fosse a dimensão do autoconceito profissional.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
99
Quadro 5 - Análise de regressão múltipla das dimensões do autoconceito profissional nos comportamentos
de cidadania dos professores (ErpccidTOT).
nos a informação de que apenas dois terços dos professores (71,7%) se situam num nível
muito positivo. Isto poderá ter a ver com a pouca estabilidade existente ao nível do corpo
docente. O facto de os professores mudarem de escola constantemente pode fazer com que as
relações entre colegas recomecem ano após ano. Por outro lado, no item 5 (sinto-me frustrado
no trabalho) 84,5% dos professores afirmam não concordar com a afirmação, o que poderá
indicar que apesar de todas as contingências negativas da profissão os docentes gostam do
que fazem. As respostas ao item 10 (tenho toda a confiança nos meus alunos) informam-nos
que os professores se reportam em percentagens relativamente próximas pelos três níveis:
autoconceito negativo, positivo e muito positivo. É possível que isto se fique a dever aos
casos conhecidos e amplamente estudados de violência e indisciplina na escola (Roque, 2004;
Veiga, 2001). O item 14 (sinto-me estimado pelas outras pessoas) apresenta resultados
interessantes; apenas 56,6% dos professores revelam um autoconceito muito positivo; aqui
poderemos reportar-nos também à explicação utilizada para o item 2 uma vez que os
professores para se sentirem estimados necessitam de estabelecer laços de amizade e empatia,
o que dificilmente acontece quando se verificam mudanças de escola todos os anos. O item
21 (gosto de correr riscos) informa que 49% dos professores discordam desta afirmação; estes
resultados podem ter a ver com o facto de os professores assumirem algum receio em encetar
novos projectos, novas dinâmicas de trabalho; é possível, ainda, que estes resultados possam
estar interligados com a fraca propensão que os docentes manifestam em abrir a escola à
restante comunidade educativa.
Em relação à variável género e no que diz respeito às dimensões do autoconceito
(relação com os alunos, relação com os colegas e aceitação de riscos e iniciativas), não se
encontraram diferenças estatisticamente significativas. Contudo, no que diz respeito às
dimensões competência, satisfação, auto-aceitação e total na escala do autoconceito, os
indivíduos do género masculino revelam um autoconceito mais elevado. O facto de os
indivíduos do género masculino apresentarem maior autoconceito nas dimensões satisfação e
auto-aceitação poderá indicar que estes denotam maior percepção acerca de si-mesmos, como
é referido nos estudos de Wilgenbusch e Merrel (1999). Estes dados indicam um grau mais
elevado de adaptação pessoal, o que poderá ter a ver, segundo alguns estudos (Rothenberg,
1997; Pichardo, 2000), com uma maior vivência de ansiedade ou depressão nos indivíduos do
género feminino. Os resultados indicam, ainda, maior autoconceito dos indivíduos do género
masculino na dimensão competência. Estes resultados surgem na linha de outras
investigações (Backes, 1994; Hilke e Conway, 1994). As diferenças estatisticamente
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
101
elementos que relacionassem estes dois construtos, através dos resultados obtidos e de acordo
com a nossa amostra, verifica-se que os professores com níveis elevados de autoconceito e
que se sentem competentes nas suas funções profissionais apresentam melhores
comportamentos de cidadania docente, o que traz benefícios para a eficácia da organização
escolar (Niedenthal & Beike, 1997; Organ, 1997; Roque, 2004; Villa & Calvete, 2001; Rego,
2003; Veiga et al., 2006). O autoconceito profissional dos professores explica a variância dos
comportamentos de cidadania docente. Esta asserção é válida para o total da escala do
autoconceito e para as dimensões satisfação e aceitação de riscos e iniciativas. Pode, assim,
destacar-se que os aspectos específicos do autoconceito profissional que mais explicam a
variância dos comportamentos de cidadania docente são: os professores que mostrem
satisfação profissional, que queiram permanecer na sua profissão, que não indiciem sinais de
frustração, que admitam ser possível ter sucesso, que não receiem críticas, que tomem
iniciativas, que gostem de correr riscos e que pensem em novos projectos.
Conclusões finais
Referências
Palavras Chave:
Optimismo; seniores; LOT
Resumo/Abstract
Presentemente assiste-se a uma vaga que incentiva ao estudo dos aspectos positivos do
comportamento humano na tentativa de os balancear com os negativos centrando-se esta
perspectiva mais no bem-estar do que na patologia. Neste sentido, a designada Psicologia
Positiva tem avaliado nomeadamente o afecto positivo, a satisfação, a inteligência emocional
e o optimismo, admitindo que as características positivas da personalidade podem ser
vantajosas no enfrentar dos problemas do quotidiano e do stress com implicações claras ao
nível da saúde. Admite-se ainda que níveis mais elevados de optimismo disposicional,
avaliado a partir do Teste de Orientação de Vida (LOT) se relacionam com o facto de os
indivíduos evitarem acontecimentos negativos e apresentarem, normalmente,
comportamentos mais salutares. Neste sentido, avaliaram-se indivíduos seniores que
participaram no Programa de Estudos Universitários para Seniores realizado na Universidade
do Porto em 2005-2006. Como esperado, obtiveram-se níveis de optimismo elevados não se
tendo encontrado diferenças entre homens e mulheres. Os resultados são discutidos em
termos dos níveis de optimismo dos indivíduos seniores (média de idades 63 anos)
comparativamente com os de sujeitos mais jovens, a partir dos dados do estudo de adaptação
portuguesa deste teste (Faria, 1999). Discutem-se também as possíveis implicações da relação
entre os níveis de optimismo e a motivação para a participação em actividades nesta faixa
etária.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
108
Introdução
uma vida longa entre outros aspectos (Peterson, 2000). Saber como é que o optimismo e a
esperança podem influenciar a saúde, o bem-estar e a longevidade é uma questão de relevo.
O optimismo é um conceito relevante e com muito potencial explicativo relativamente à
saúde e à longevidade das pessoas. Taylor et al. (2000) baseados numa investigação feita
com pacientes que sofriam de doenças mortais (e.g. SIDA) mostraram que crenças irrealistas
e optimistas relativamente ao futuro podiam proteger as pessoas da doença e conduzi-las a
uma maior longevidade. O optimismo pode ter uma acção directa num estilo de vida
saudável e através disso influenciar melhores resultados de saúde mas pode também
influenciar a longevidade e a saúde por intermédio do sistema imunológico e fisiológico
(Salovey et al., 2000). Neste sentido, ser optimista ajudará as pessoas a manterem-se
empenhadas na vida, não obstante a existência de problemas. Uma visão mais optimista da
vida é provavelmente a estratégia que as pessoas mais velhas usam para manter a integridade
do Eu apesar de poderem sentir a ameaça de perda de autonomia.
As condições psicológicas das pessoas parecem influenciar a longevidade.
Relativamente aos indivíduos mais velhos, com percepções mais positivas sobre o
envelhecimento, constata-se que vivem mais, mesmo depois de se controlar o estado
funcional e o efeito da idade, do género, do estatuto sócio económico e dos níveis de solidão
(Levy, Slade & Kunkel, 2002). Mulheres velhas com incapacidade mas com “vitalidade
emocional”, ou seja, que têm emoções positivas e elevado sentido de domínio, eram mais
felizes e estavam mais livres de depressão e de ansiedade. Do mesmo modo, apresentavam
um risco reduzido de novas incapacidades subsequentes e de mortalidade (Penninx et al.,
2000). De forma semelhante, Krause e Shaw (2000) mostraram a importância que tinha o
sentimento de controlo em relação a um único papel específico da sua vida, seleccionado
pelos indivíduos, na redução significativa da probabilidade de morrer.
Actualmente o optimismo é uma área de interesse dentro da Psicologia, mais
especificamente da Psicologia Positiva. Pretende-se mudar o foco da Psicologia, centrado na
reparação das coisas erradas na vida, para a construção de qualidades positivas, consideradas
mais úteis para a prevenção e o cuidado (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000).
Quando se pensa em pessoas adultas em processo de envelhecimento, a prioridade é
conhecer o papel que o optimismo pode ter no sucesso do processo, quer em termos de
longevidade, por ligação directa à saúde, quer em termos de envelhecimento activo (OMS,
2002), de acordo com as propostas para a primeira década do século XXI, apresentadas na II
Conferência Mundial sobre o Envelhecimento. O envelhecimento activo define-se como um
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
111
Metodologia
Participantes
A população estudada é constituída por indivíduos que participaram no primeiro
Programa de Estudos Universitários para Seniores da Universidade do Porto realizado na
Faculdade de Letras com início em 2006. Todos os indivíduos possuem uma licenciatura ou
equivalência a licenciatura sendo esta uma das condições de frequência deste Programa de
Estudos. Os cursos e profissões anteriormente exercidas são os mais diversos: Arquitectura
(1), Ciências Biológicas (1), Ciências Matemáticas (1), Ciências Jurídicas e Direito (2),
Economia (3), Enfermagem (3), Engenharia de vários Ramos (4), Farmácia (1), Filologia
Românica (4), Filosofia (1), Finanças (1), História de vários Ramos (7), Humanidades (1),
Medicina (3), Psicologia (1) e Serviço Social (2).
inscritos (37) nem todos estavam presentes na aula em que se realizou esta actividade, tendo
este estudo abrangido um total de 27, sendo 12 do sexo feminino e 15 do sexo masculino. A
média de idades é de 63 anos para um mínimo de 55 e um máximo de 75.
Instrumento:
O Life Orientation Test –R (L.O.T. - R.) (Scheier, Carver & Bridges, 1994) é um
instrumento que visa avaliar o optimismo disposicional. Esta escala é constituída por 10
itens, dos quais apenas seis são utilizados na avaliação do optimismo. As respostas são
dadas numa escala de tipo Likert de 5 pontos (0 = discordo bastante; 1 = discordo; 2 =
neutro; 3 = concordo; 4 = concordo bastante). Uma análise da consistência interna mostrou
um alpha de Cronbach de .78. A análise factorial efectuada revelou um só factor que
explicava 48.1% do total da variância.
Procedimento
No âmbito da disciplina de Psicologia das Emoções integrada no Programa de
Estudos referido e a propósito do módulo sobre Emoções, Bem-estar e Qualidade de Vida, os
participantes foram convidados a, neste contexto de sala de aula e de forma voluntária,
preencherem o LOT. Foram ainda informados de que estava assegurado o anonimato. Refira-
se que dos presentes todos o quiseram preencher, não havendo também a registar qualquer
constrangimento durante o preenchimento nem desistência posterior.
Resultados
mulheres constatou-se que a média de idades das mulheres (M = 60.25, DP = 3.52) e a dos
homens (M = 65.2, DP = 5.96) são significativamente diferentes (t(25) = 2.54, p = .018).
Analisada a totalidade dos itens cotados, a média dos valores encontrados situa-se
acima de 10, valor médio da escala (M = 13.04, DP = 2.55), variando entre um mínimo de
8 e um máximo de 18.
A média dos valores para o grupo dos homens (n = 15) foi de 12.80, DP = 2.21,
para um mínimo de 10 e um máximo de 16 e para o grupo das mulheres (n = 12) de 13.17,
DP = 3.04 variando entre um mínimo de 8 e um máximo de 18. A comparação entre o
grupo de homens e o de mulheres revelou que não existem diferenças significativas entre
os dois grupos de sujeitos (t(25) = -.36, p = .720).
Criaram-se ainda dois grupos de idades, um até aos 65 anos (n = 17) e um para
indivíduos com idade superior a 65 anos (n = 10) não se verificando existirem diferenças
significativas entre os valores totais dos mais novos (M = 12.65, DP = 2.78) e dos mais
velhos (M = 13.5, DP = 2.17) (t(25) = -.83, p = .415).
Discussão e conclusões
Neste estudo a média global do optimismo medido pelo LOT na sua versão
portuguesa (Faria, 1999), calculada a partir de 5 itens ao contrário dos 6 da versão
original, apresentou-se superior (M = 13.04, DP = 2.55) à da adaptação do instrumento (M
= 12.45, DP = 3.48).
Apesar de as diferenças dos resultados globais entre homens e mulheres não serem
significativas os resultados são tendencialmente superiores nas mulheres da amostra deste
estudo quando comparados com os dos homens. Verifica-se tendência idêntica no que
concerne à comparação entre os mais velhos e os mais novos, o que de resto se confirma
noutros estudos que integram, nomeadamente, pessoas muito idosas (com 85 ou mais
anos), embora neste caso o optimismo apareça associado a uma melhor saúde. O papel do
optimismo relativamente à saúde terá, contudo, que ser confirmado em investigações
futuras, de carácter longitudinal, que permitam determinar se as pessoas mais optimistas
são mais saudáveis, ou se são as pessoas mais saudáveis que são mais optimistas (e.g.
Paúl, Ayis and Ebrahim, in press; Samuelsson et al., 1997).
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VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
116
Palavras-Chave:
Inteligência Emocional, Avaliação Psicológica; Psicologia da Educação
Resumo/Abstract:
Cada vez mais se fala de uma sociedade globalizada, em rede, na qual a comunicação,
o saber ser e o saber estar, são aspectos essenciais.
Esta investigação consistiu na avaliação da inteligência emocional de crianças do 4º
ano de escolaridade, do concelho de Braga, provenientes de diversos meios sócio-económicos
e culturais, utilizando o questionário BarOn Emotional Quotient Inventory: Youth Version
(Bar-On & Parker, 2000).
A inteligência emocional revela-se importante na adaptação ao meio escolar,
principalmente quando este é constituído por uma população heterogénea.
Objectivo do Estudo
A presente investigação parte da constatação que a Inteligência Emocional (IE)
interfere significativamente nas competências intelectuais. Todo o desenvolvimento da IE
baseia-se na compreensão da natureza emocional e racional, no seu reconhecimento em nós
mesmos e nos outros e no modo de gestão de pensamentos, emoções e comportamentos.
Assim, o desenvolvimento promove uma melhoria das relações sociais e do desempenho das
competências de aprendizagem.
Deste modo, pretende-se com este estudo exploratório realizar um estudo piloto sobre
Inteligência Emocional, em contexto escolar, com base no teste de BarOn Emotional
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
117
Quotient Inventory: Youth Version (Bar-On & Parker, 2000), em crianças do 4º ano de
escolaridade de modo a explorar a consciência emocional, através da identificação e análise
das componentes que implicam um desenvolvimento intelectual e emocional adaptativo.
Abordagem Teórica:
A escola pode vir a constituir um poderoso meio de flexibilização e congruência do “eu”
(McAdams, 1993, pp. 34-65). A sua principal função é preparar os indivíduos para se
moverem adaptativamente na sociedade, o que implica uma gestão adequada do mundo
interno (e.g.: emoções, pensamentos, projectos de vida). Desta forma, merece tanto destaque,
dedicação e intencionalização o ensino dos conteúdos cognitivos como a promoção do
desenvolvimento emocional. Esta importância é ainda mais evidente e dramática em casos de
crianças cujos pais não são bons reguladores emocionais e não favorecem a alfabetização
emocional. Nestes casos, o professor pode ser a única hipótese destas crianças desenvolverem
e trabalharem aspectos relacionados com a gestão adaptativa do mundo interno, de um modo
emocional. Os colegas também são importantes elementos no desenvolvimento emocional,
quer devido à exploração do meio que fazem em conjunto, o que constitui uma fonte de
emoções, quer devido à influência que alguns poderão ter sobre os outros na alfabetização
emocional.
Uma das mais recentes "revoluções" em ciências humanas e sociais foi o resultado da
investigação de Peter Salovey e John Mayer (1989-90), quando sugeriram a ideia de uma
“Inteligência Emocional” (IE), que não se manifesta nos testes de inteligência. Este tipo de
inteligência foi definido por estes autores como “a capacidade para gerir e discriminar
sentimentos e emoções em si e em outros e para usar essa informação como guia das
próprias acções e pensamentos” (p. 189). Posteriormente, indicaram os componentes do
constructo IE (Mayer & Salovey, 1997): (a) percepção, appraisal e expressão emocional; (b)
facilitação da emoção no pensamento; (c) compreensão e análise de emoção e aplicação do
conhecimento emocional; (d) regulação reflexiva das emoções na promoção do
desenvolvimento cognitivo e emocional.
Também António Damásio (1994) refutou a visão puramente racionalista do cérebro,
porque o “nosso coração pode dominar a cabeça”. Salientou também que “a sermos máquinas,
somos máquinas que sentem”. A compreensão das próprias emoções e sentimentos, a
compreensão e empatia face aos outros e, até mesmo, "a regulação da emoção, de uma forma
que melhore a vida" são condições de existência relacionadas com a psicologia das emoções
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
118
(Strongman, 1996), com impacto a partir do livro de Daniel Goleman Emotional Intelligence
(1995, edição espanhola 1996), seguido de “Trabalhar com a inteligência emocional” e de
“Emoções que curam: diálogos com Dalai Lama sobre consciencialização, emoções e saúde”
(Goleman, 1997).
As emoções constituem mecanismos de sobrevivência e não são, necessariamente,
irracionais (LeDoux, 1996; trad. port. 2000). Elas são as responsáveis pela activação dos
vários sistemas do organismo (fisiológico, motor, emocional, cognitivo,
volitivo/motivacional), que vão permitir aos indivíduos lidarem com diferentes situações. As
emoções são o principal sistema e fonte de motivação do comportamento humano. Cada
emoção organiza a percepção, o pensamento, os comportamentos e as estratégias de coping
para a gestão das situações e a forma como ocorre esta organização irá contribuir para o
desenvolvimento da personalidade. A relação entre emoção e comportamento começa desde
cedo e tende estabilizar-se ao longo do tempo. Com o desenvolvimento, e com novas
experiências, podem ocorrer alterações na forma como as emoções organizam as percepções,
os pensamentos, os comportamentos e as estratégias de coping, mas para tal estas
experiências devem ser continuadas e consistentes.
O cérebro emocional identifica-se como desinibido e afectuoso. Existem para
manipular, seduzir, influenciar os outros. A IE integra a auto-consciência, a empatia, a auto-
regulação do stress, a auto-eficácia, a persistência e a destreza face a outros, uma forma de
competência social e de liderança.
Conjuntamente com a importância atribuída à inteligência emocional, também o
optimismo passou a estar integrado no estudo das ciências sociais e humanas. A partir do
momento em que a comunidade científica percebeu a importância de uma atitude que permite
transformar a nossa vida de uma forma quase imediata, os sentimentos que estão associados
ao optimismo têm ganho terreno dentro do campo da psicologia e, até, da neurociência.
Mesmo os racionalistas mais cépticos já se aperceberam de que a qualidade de vida depende
em grande parte do modo como encaramos a realidade. Ou seja, a forma como interpretamos
os acontecimentos determina o nosso comportamento e as nossas acções. E condiciona o
nosso futuro, portanto.
se ser um líder, ou seja, alguém a quem o povo segue (Martin & Broeck, 1996, trad. port.
1997, p. 9).
A palavra cognição ou, no passado, intelecto, opõe-se a emoção ou a comportamento.
No início do século XX, impuseram-se teorias psicanalíticas, reportadas à emoção, e teoria
behavioristas ou comportamentalistas (relacionadas com o agir e o comportamento). Nas
últimas décadas, reconhece-se a aliança entre o pensar (cognição), o sentir (a emoção) e o
agir (comportamento), facetas do script cognitivo emergente e alargado de estruturas
cognitivas básicas.
Os psicólogos cognitivos do século XXI, como Howard Gardner (1995, trad. bras.
1996), “examinam como novas ideias se desenvolvem e como são armazenadas
(memorizadas), acedidas, combinadas, lembradas e (com muita frequência) reorganizadas ou
distorcidas, pelas operações do mecanismo mental humano” (pp. 15-16).
mais nestes domínios todos os dias tendem a compreender algo mais complexo, a formularem
ideias e imitirem juízos mais ousados, o que elevaria o sucesso escolar e a sensação de bem-
estar psicológico. Sabe-se que a ausência de diálogo encontra-se, por um lado, na base da
falha das relações pedagógicas em contexto escolar.
Metodologia
a) Amostra
A amostra é constituída por 173 crianças do Concelho de Braga, com idades
compreendidas entre os 8 e os 11 anos, a frequentarem o quarto de escolaridade, provenientes
das escolas EB1 do Carandá, Fujacal, Ponte Pedrinha, do Concelho de Braga e oriundas de
diferentes meios socio-económicos e de diferentes culturas e etnias.
A escola foi e é um local privilegiado de aplicação desta investigação, porque é onde
as crianças passam a maior parte do dia, sendo um espaço de relacionamento interpessoal, de
aprendizagem e de aquisição e desenvolvimento de competências.
Para além da nacionalidade Portuguesa (maioritária) haviam crianças com a
nacionalidade Romena (3), Brasileira (1), Espanhola (1), Luxemburguesa (1), Francesa (1),
Angolana (1).
Amostra
160
140
120
100
80
60
40
20
0
feminino masculino total
b) Instrumento
O questionário BarOn Emotional Quotient Inventory: Youth Version (Bar-On &
Parker, 2000), utilizado nesta investigação, integra perguntas directas, mas abertas, a serem
respondidas dos 7 aos 18 anos. A escala tem o formato Likert para 4 tipos de resposta – de
“Muito frequentemente verdadeiro para mim” (4 pontos) a “Muito raramente verdadeiro
para mim” (0 pontos) – o que permite obter notas brutas, convertíveis em notas
estandardizadas. Este instrumento é constituído pelas seguintes escalas: Escala Intrapessoal,
que abrange a compreensão expressão e comunicação das próprias emoções; Escala
Interpessoal, que avalia a assertividade no relacionamento com os outros; Escala de
Adaptabilidade, que engloba flexibilidade, realismo e eficácia na gestão da mudança; Escala
da Gestão do Stress, que avalia se os indivíduos são geralmente calmos e trabalham bem sob
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
123
pressão; Escala de Humor Geral, Escala do Coeficiente Emocional Total, que analisa a
capacidade e eficácia em lidar com as exigências quotidianas e Escala de Impressão Positiva.
Foi igualmente utilizado um questionário sócio-demográfico, desenvolvido
especialmente para a investigação em causa, de modo a permitir realizar uma caracterização
das variáveis pessoais, escolares, sociais, familiares e económicas, mais aprofundada. Este
questionário aborda dados de identificação pessoal do aluno, como a idade, sexo,
nacionalidade, naturalidade; o Agregado Familiar (com quem vivem, idade, habilitações e
profissão do agregado); o Percurso Escolar; e Motivação e Expectativas do aluno.
c) Procedimentos
Este é um estudo experimental piloto que consistiu numa pré-avaliação da Inteligência
Emocional e do sucesso escolar de alunos a frequentarem o 4º ano de escolaridade. Ou seja,
em contexto escolar, nomeadamente nas Escolas EB1 do Carandá, Fujacal e Ponte Pedrinha,
pertencentes ao Concelho de Braga, e após consentimento prévio, foi aplicado um
questionário sócio-demográfico e o instrumento BarOn Emotional Quotient Inventory: Youth
Version (Bar-On & Parker, 2000) a crianças com idades compreendidas entre os 9 e os 11
anos. As investigadoras procederam a aplicação destes instrumentos em horário escolar, na
própria sala de aula e com a presença e colaboração do professor responsável pela turma. Os
questionários foram lidos e explicados aos alunos, de modo, a esclarecer dúvidas e evitar
erros de preenchimento.
Simultaneamente, recolheu-se informação junto dos professores, de forma a
complementar a informação sobre aquisições de capacidades cognitivas, competências
emocionais da população-alvo e caracterização da ideologia e funcionamento da instituição.
Após a recolha dos instrumentos, procedeu-se à codificação e análise dos mesmos, de
forma a correlacionar os dados para uma posterior interpretação e discussão dos resultados. O
tratamento estatístico dos dados obtidos nos vários questionários será efectuado através do
programa estatístico SPSS, versão 14.
Resultados
Este é um primeiro estudo sobre a Inteligência Emocional em crianças em pleno
processo desenvolvimental. Trata-se de um estudo piloto, cujo objectivo principal não incide
tanto na análise puramente quantitativa dos resultados, mas numa análise global e qualitativa
do desenvolvimento da inteligência emocional nas crianças.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
124
Pelas tabelas apresentadas, podemos verificar que, de um modo geral, o grupo etário
dos 10 aos 12 anos apresenta valores mais elevados nas várias escalas. A maior diferença de
valores verifica-se quando se compara os dados obtidos pelas raparigas (dos 7 aos 9 e dos 10
aos 12 anos).
Deste modo, os dados apontaram, neste primeiro estudo, que as maiores diferenças
verificam-se não tanto entre géneros mas sim entre faixas etárias.
Os dados obtidos através das conversas junto dos profissionais educativos, vieram
correborar os resultados dos questionários, ao nível das diferenças desenvolvimentais
constatadas nos alunos mais velhos e, principalmente, nas raparigas, que são descritas,
geralmente, como mais práticas, mais responsáveis, mais motivadas e mais adaptadas ao
meio circundante.
Conclusão
Em suma, e como se pode verificar pela apresentação do estudo, trata-se de um estudo
que, nesta primeira fase, primou por a obtenção de uma análise global sobre a inteligência
emocional em crianças do quarto ano e, e não se centrou tanto na quantificação dos dados.
Pode-se afirmar que este é um estudo inacabado face a complexidade do tema e a
necessidade de se explorar de um modo mais específico e completo estes e outros dados a
recolher sobre a temática.
O facto de termos encontrado valores mais elevados na faixa etária dos 10 aos 12
anos, pode revelar uma maior percepção, compreensão e gestão das emoções neste grupo
etário. A diferença de resultados entre as faixas etárias é mais notória nas raparigas, o que se
pode dever-se ao facto do processo de desenvolvimento, estar mais avançado no sexo
feminino.
Este estudo piloto incidiu, em crianças do quarto ano, com idades compreendidas
entre os 8 aos 11 anos. As crianças que transitarem para o quinto ano de escolaridade vão
passar por um importante período de transição. Deste modo, revela-se crucial investigar a
Inteligência Emocional, nesta faixa etária, e dotar estas crianças de competências, tendo por
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
126
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VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
128
Palavras-chave:
intervenção precoce, avaliação de programas, qualidade das práticas.
Resumo/Abstract:
Enquadramento
Vários autores consideram que a avaliação das práticas em intervenção precoce não deverá
limitar-se a responder a questões relativas às acções que os programas desenvolvem e à
identificação das percepções de pais e profissionais, mas deverá avaliar também eventuais
discrepâncias entre os objectivos delineados e a forma como estão a ser efectivamente
implementados, e se o programa cumpre as recomendações e legislação em vigor (Bailey,
2001; Dunst e Bruder, 2002).
De acordo com Bairrão (2003), os modelos teóricos relativos à intervenção precoce devem
adequar-se à realidade e cultura do nosso país, tal como as práticas dos diferentes programas
se devem adequar às comunidades que servem, promovendo a participação das famílias e
uma efectiva coordenação entre serviços e recursos locais.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
130
A publicação do referido normativo legal foi efectuada, tal como referem Bairrão e Almeida
(2002), sem ter havido um trabalho prévio no sentido de se perceber qual o estado da arte no
nosso país e qual a melhor forma de operacionalizar o modelo em vigor nos EUA, e sem ter
sido avaliado se seria este o modelo mais adequado à realidade Portuguesa.
Objectivos
Método
Os trabalhos efectuados por Hauser-Cram, Warfield, Upshur e Weisner (2000), revelam que a
realização de um estudo avaliativo deve corresponder a um desejo dos profissionais
envolvidos a diferentes níveis, os financiadores e gestores do programa e os profissionais que
prestam serviços directos, devendo estar de acordo relativamente ao tipo e objectivos da
avaliação.
Participantes
As equipas estão agregadas a quatro entidades promotoras e são constituídas pelos seguintes
profissionais:
Entidade EID Educ Psic SSoc TFal TOcu TSer Fisio Pedi Enf Total
APPACDM Portalegre e 2 2 1 2 1 0 1 0 0 9
Portalegre Crato
C. Vide e Marvão 1 1 1 1 1 0 1 0 0 6
Nisa 1 1 1 1 1 0 0 0 0 5
CRIPS Ponte Sor 2 1 1 1 1 0 0 0 2 8
Ponte de Sor Avis 2 2 2 1 1 1 0 0 1 10
Sousel 1 1 1 1 1 0 0 1 1 7
Fronteira e Alter 1 1 1 1 1 0 0 0 1 6
Gavião 1 1 3 1 1 0 0 0 1 8
APPACDM Elvas 2 2 2 1 0 1 1 1 0 10
Coração C. Maior 1 1 1 1 1 0 0 0 0 5
DELTA Arronches e 1 1 1 1 1 0 0 0 0 5
Monf
Totais 15 14 15 12 10 2 3 2 6 79
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
132
Quadro 2 – Número de casos apoiados por tipo de situação de risco e por idade
C. R. R. Total
Estabelecida Biológico Ambiental
0 a 3 anos 53 (44%) 18 (15%) 49 (41%) 120 (100%)
4 a 6 anos 149 (80%) 9 (5%) 27 (15%) 185 (100%)
Adiamento 8 (89%) 1 (1%) 0 (0%) 9 (100%)
Total 210 (67%) 28 (9%) 76 (24%) 314 (100%)
Especificando os factores que determinam a situação de risco em cada uma das categorias
consideradas, temos para a totalidade dos casos atendidos:
- Condição Estabelecida: Comunicação – 65 (31%); Emocional – 54 (26%); Perturbação
do Desenvolvimento – 45 (21%); Cognição – 18 (9%); Motor – 17 (8%); Audição – 7
(3%); Multideficiência – 4 (2%);
- Risco Biológico: Prematuridade – 9 (31%); Saúde Física – 8 (29%); Disfunção
Neurológica – 5 (18%); Síndroma Mal-formativo – 4 (14%); Alterações Metabólicas –
1 (4%); Hidrocefalia – 1 (4%);
- Risco Ambiental: Família Disfuncional – 36 (46%); Competências Parentais – 12
(16%); Privação Económica – 8 (11%); Mãe Adolescente – 7 (9%); Pais com
Deficiência – 5 (7%); Maus-tratos – 3 (4%); Isolamento Social – 3 (4%);
Alcoolismo/Toxicodependência – 2 (3%).
Os critérios de classificação dos casos por tipo de problemática e situação de risco foram
baseados nas categorias definidas por Guralnick (2004): deficiência estabelecida da criança,
risco biológico e risco familiar ambiental; e, tiveram também como referência os factores de
risco biológico e social descritos pelo Grupo de Atención Temprana (2000).
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
133
Instrumentos
Procedimentos
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
135
A implementação deste estudo avaliativo corresponde, tal como referido, a um desejo dos
profissionais envolvidos nos programas de intervenção precoce do distrito, quer ao nível da
coordenação quer da intervenção directa, tendo havido acordo relativamente ao tipo e
objectivos da avaliação. Assim, o estudo iniciou-se com o processo de autoavaliação
realizado por cada uma das equipas de intervenção directa e será complementado por dados
de natureza qualitativa e quantitativa: análise documental e observação participada; estando
ainda planeada a realização no final do estudo, de entrevistas/questionários às famílias
seleccionadas e respectivos responsáveis de caso.
O estudo foi apresentado às equipas de intervenção directa, após o aval da equipa de
coordenação distrital, em reuniões calendarizadas para o efeito. Nessas reuniões, analisaram-
se os objectivos, procedimentos e instrumentos a usar no processo de avaliação, e clarificou-
se o tipo de colaboração necessária por parte das famílias e dos profissionais. Em seguida, foi
distribuída a “ficha de caracterização dos serviços” a cada uma das equipas, a qual foi
posteriormente preenchida e enviada pelos seus coordenadores.
Também em reunião com as equipas, as quais foram organizadas por entidade promotora
(visto alguns dos profissionais desempenharem simultaneamente funções em diferentes
equipas), foi apresentado o “formulário de autoavaliação de padrões de qualidade em
intervenção precoce”, o qual foi preenchido individualmente por cada um dos profissionais
presentes.
Tal como refere Pimentel (2005), a relação que se estabelece entre o programa, os seus
utentes directos e a comunidade, só pode ser correctamente avaliada pela observação
cuidadosa das práticas que são implementadas. Nesse sentido, o avaliador deve reunir
documentação escrita e recolher informações dos coordenadores do programa (ao nível da
filosofia e modelos do programa e forma como estes reflectem um enfoque na família
partilhado por todos os elementos da equipa), dos profissionais que prestam serviços às
famílias (ao nível das práticas de trabalho, forma como reflectem a natureza da relação
família/profissional, necessidades de formação e grau de satisfação) e ao nível da família
(satisfação com o programa, aumento da sua competência relativamente ao ambiente
estimulante que deve ser proporcionado à criança, e qualidade da vida familiar em função das
mudanças necessárias para fazer face às necessidades da criança).
Assim, o procedimento seguinte diz respeito à selecção das crianças/famílias para a análise
documental dos processos e observação das práticas. Esta selecção será efectuada em estreita
colaboração com os coordenadores das equipas, em função de critérios de situação de risco
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
136
Resultados
Os resultados aqui analisados foram recolhidos entre Maio e Julho de 2006, são relativos a
oito das equipas de intervenção directa do distrito de Portalegre, e irão ser apresentados com
referência aos instrumentos anteriormente descritos, procurando salientar quer dados
quantitativos, quer qualitativos relativos às características dos programas, modelos em que se
fundamentam, e práticas implementadas.
Verificamos que todas as equipas têm parcerias formais estabelecidas com parte significativa
dos recursos das comunidades onde estão inseridas a nível da: saúde (centros de saúde e
hospitais), educação (creches, jardins de infância e equipas de coordenação dos apoios
educativos), segurança social (serviços locais de acção social); sendo que algumas delas têm
também parcerias formais com as autarquias; existindo também parcerias não formais com
outras organizações não governamentais e com as comissões de protecção de crianças e
jovens. A sua capacidade de atendimento varia entre os 20 e os 70 casos, sendo de referir que
quatro das equipas têm casos sinalizados ainda sem atendimento, num total de 28 famílias.
Verifica-se que o vínculo laboral dos profissionais não é na maioria dos casos definitivo,
havendo 30% de pessoal destacado, 38% contratado e 28% em regime de prestação de
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
137
serviços, o que poderá implicar maior mobilidade dos profissionais com repercussões na
dinâmica das equipa e na consolidação das práticas implementadas, circunstância ainda
agravada pelo facto de apenas 30% dos profissionais trabalhar nas equipas a tempo completo.
Caracterização da Intervenção
No que diz respeito aos locais em que é realizada a intervenção, constatamos que o contexto
educativo tem a primazia (47% creche ou jardim de infância), seguindo-se o domicílio (24%),
situações mistas (22% domicilio e creche), havendo ainda alguns casos apoiados na sede do
serviço (7%). Relativamente à periodicidade em que é efectuada a intervenção, verifica-se
que a maioria dos casos são apoiados semanalmente (71%) e que 18% têm apoio bissemanal,
7% quinzenal, 2% trissemanal e mensal.
Caracterização da Supervisão
- Comunidade
Quadro 3 – Frequência de respostas para o Nível 1. Comunidade em cada um dos indicadores de qualidade
- Família
Os resultados obtidos neste nível de actuação, revelam que os padrões em que os
profissionais consideram implementar práticas de maior qualidade são os relativos a uma
abordagem multidimensional das necessidades da criança e família (classificação 5 no Padrão
2.1 - os Serviços de Intervenção Precoce proporcionam uma abordagem multidimensional e
holística que compreende o conhecimento das necessidades da criança, da família e dos seus
contextos de vida), à implementação de procedimentos de avaliação (classificação 5 no
Padrão 2.2 - os Serviços de Intervenção Precoce proporcionam uma avaliação interdisciplinar
continua) e à promoção da participação activa da família (classificação 5 no Padrão 2.3 - a
intervenção precoce promove a participação e o envolvimento familiar); no que se refere à
elaboração de um plano individualizado de apoio, o procedimento ainda não está consolidado
em todas as equipas (classificação 4 e 3 no Padrão 2.4 - o Plano Individualizado de Apoio à
Família é elaborado com a participação da família em reunião de aconselhamento).
A avaliação dos restantes padrões indica práticas mais heterogéneas nas várias equipas
(Padrão 2.5 - para cada família é nomeado um membro da equipa como sendo o responsável
de caso; Padrão 2.7 - o PIAF inclui aspectos educativos que são delineados com a
colaboração dos serviços de educação; Padrão 2.8 - o PIAF inclui aspectos de apoio à saúde,
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
140
Quadro 4 – Frequência de respostas para o Nível 2. Família em cada um dos indicadores de qualidade
IQ Abordagem Avaliação Participação e Normalização Plano Individualizado de
Multidimensiona Interdisciplinar Vida Familiar Apoio à Família
GD 2.1a 2.1b 2.1c 2.2a 2.2b 2.2c 2.3a 2.3b 2.3c 2.3d 2.3e 2.3f 2.3g 2.4a 2.4b 2.4c 2.4d 2.4e 2.4f 2.4g
1 0 0 0 2 2 1 1 0 0 0 0 2 1 2 1 1 2 1 3 10
2 1 2 1 3 5 2 0 3 1 0 0 0 0 3 4 2 1 2 1 9
3 2 2 5 7 3 9 2 1 8 2 6 3 5 11 15 10 9 13 6 11
4 15 15 17 10 8 9 12 8 14 13 13 12 15 14 10 15 15 15 4 7
5 22 21 17 18 20 17 24 28 17 25 21 23 19 9 9 10 11 8 23 2
- Criança
Relativamente aos padrões de qualidade avaliados neste domínio de actuação: todas as
crianças com perturbações do desenvolvimento ou em situações de risco têm direito a
alcançar uma plena participação na vida social (Padrão 3.1); todas as crianças com
perturbações de desenvolvimento ou em situações de risco, têm direito a receber ajudas
desenvolvimentais apropriadas – apoios terapêuticos, técnicos e educativos, que fortaleçam a
sua autonomia (Padrão 3.2); implementação de alterações apropriadas no contexto, de modo
a satisfazer as necessidades especiais das crianças (Padrão 3.3); revisão dos casos, com
particular atenção aos resultados do PIAF, ao progresso do desenvolvimento da criança e à
situação de inclusão social, realizada regularmente (Padrão 3.4); os profissionais consideram
implementar procedimentos de forma programada e sistematizada, embora nem sempre sejam
avaliados (classificação 4).
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
141
Apenas no que diz respeito à revisão anual dos casos, com a participação de toda a equipa,
da família e com a colaboração de um supervisor externo, se constata que a actividade não se
realiza (classificação 1 no Padrão 3.5).
Quadro 5 – Frequência de respostas para o Nível 3. Criança em cada um dos indicadores de qualidade
IQ Plena Participação Autonomia Adapt. Contexto Controlo Evolutivo Revisão Anual
GD 3.1a 3.1b 3.1c 3.1d 3.1e 3.2a 3.2b 3.2c 3.2d 3.3a 3.3b 3.3c 3.4a 3.4b 3.4c 3.4d 3.5a 3.5b 3.5c 3.5d 3.5e
1 0 0 4 0 0 1 1 2 3 1 1 0 1 2 0 4 10 22 7 6 13
2 0 1 1 5 2 0 2 2 2 1 3 2 0 4 3 5 5 5 3 4 2
3 4 7 9 8 6 3 5 3 5 4 4 2 6 11 16 10 4 5 7 7 10
4 24 25 18 23 21 19 27 22 12 26 25 18 21 15 15 13 13 3 11 12 8
5 12 7 7 4 8 16 4 10 17 8 7 18 12 8 6 8 7 3 9 4 4
- Serviço
Os resultados obtidos nos diferentes padrões e indicadores de qualidade a este nível de
actuação são aqueles em que se verifica maior discrepância entre os profissionais, referindo
muitas vezes desconhecer alguns dos procedimentos implementados pelo serviço (Padrão 4.1
– a coordenação do programa do SIP tem disponível um organograma com as unidades
funcionais, estratégias de gestão e circuitos de comunicação; Padrão 4.2 – a equipa
multiprofissional do SIP trabalha em colaboração para desenvolver programas de Intervenção
Precoce de base comunitária específicos e para cada “caso”; Padrão 4.4 – os profissionais
participam activamente na avaliação do serviço; Padrão 4.6 – o Serviço de Intervenção
Precoce dispõe de contabilidade organizada que reflecte, com exactidão, os recursos
financeiros e distribuição orçamental; Padrão 4.7 – o espaço do SIP cumpre os requisitos de
segurança dos equipamentos para prestação de cuidados a crianças; Padrão 4.8 – o SIP
proporciona informação escrita relacionada com os objectivos, população alvo, serviços
prestados, instituição e local, horários e números de contacto telefónico).
Quadro 6 – Frequência de respostas para o Nível 4. Serviço em cada um dos indicadores de qualidade
Constata-se que não estão previstos meios para a avaliação externa dos serviços (classificação
1 no Padrão 5.3 – autoridades legalmente reconhecidas disponibilizam os meios financeiros
necessários para realizar uma avaliação externa do programa de intervenção precoce) e que
as equipas não têm dotação financeira para formação dos profissionais (Padrão 5.4); não
estando também sistematizados procedimentos no que concerne à avaliação da satisfação das
famílias (classificação 1 no Padrão 5.5 – o programa contempla o registo periódico do grau
de satisfação da família).
Quadro 7 – Frequência de respostas para o Nível 4. Programa em cada um dos indicadores de qualidade
Plano de Activ. Relatório Anual Avaliação Ext. Formação Profissionais Satisf. Família
5.1a 5.1b 5.1c 5.2a 5.2b 5.2c 5.3a 5.3b 5.3c 5.4a 5.4b 5.4c 5.4d 5.4e 5.5a 5.5b 5.5c
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
143
1 2 2 2 2 4 6 26 26 28 3 5 0 21 3 29 25 30
2 1 1 2 1 2 2 3 3 1 7 4 4 4 6 3 4 1
3 1 0 0 7 4 3 4 4 5 5 10 6 2 8 3 3 3
4 12 10 12 10 10 8 1 2 1 12 13 18 6 9 0 3 2
5 24 27 24 19 19 20 3 2 2 12 7 11 2 13 1 2 0
Conclusões
O presente estudo tem como principal objectivo contribuir para um conhecimento mais
aprofundado das práticas em intervenção precoce numa das regiões do nosso país. Os
resultados obtidos poderão contribuir para incrementar a qualidade dos serviços já
implementados, assim como de outros a implementar futuramente, quer ao nível das Equipas
de Intervenção Directa do distrito de Portalegre e dos respectivos parceiros, quer ao nível de
outras organizações que desenvolvem serviços de intervenção precoce noutras áreas
geográficas.
Considerando que a realização de uma investigação participada, tal como proposto por
Turnbull, Friesen e Ramirez (1998), poderá diminuir a distância que, neste momento, separa
os “investigadores” dos “práticos” e contribuir para uma melhoria efectiva da prestação de
serviços em intervenção precoce, a utilização dos dados deste estudo, nomeadamente os
referentes à avaliação da qualidade dos programas, pode ser uma estratégia eficaz para a
formação em serviço dos profissionais e contribuirá certamente, para a melhoria das suas
práticas.
As práticas recomendadas constituem orientações que resultam em grande parte da pesquisa
efectuada sobre os indicadores de qualidade dos programas de intervenção precoce e do
consenso que se gerou em torno de alguns desses indicadores. De entre essas práticas
salientam-se: a abordagem centrada na família; as práticas desenvolvimentalmente
adequadas; o trabalho de equipa com uma abordagem transdisciplinar; a coordenação inter-
serviços e a inclusão (Bailey & McWilliam; Bowe, 1995; citados por Gamelas, 2003). O
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
144
Referências
Bailey, D.B. (2001). Evaluating parent involvement and family support in early intervention
and preschool programs. Journal of Early Intervention, vol. 24 (1), 1-14.
Bairrão, J. (2003). Nota de Apresentação: Tendências actuais em investigação precoce.
Psicologia, XVII (1), 7-13.
Bairrão, J.; Almeida, I.C. (2002). Contributos para o estudo das práticas de intervenção
precoce em Portugal. Lisboa: Ministério da Educação.
Bairrão, J.; Almeida, I.C. (2003). Questões actuais em intervenção precoce. Psicologia, XVII
(1), 15-29.
Cruz, A.I. (Coord.) (2003). Avaliação da satisfação das famílias apoiadas pelo PIIP:
resultados da aplicação da ESFIP. Lisboa: Secretariado Nacional para a Reabilitação e
Integração das Pessoas com Deficiência.
Dunst, C.; Bruder, M.B. (2002). Valued outcomes of service coordination, early intervention
Turnbull, A.P.; Friesen, B.Y.; Ramirez, C. (1998). Participatory action research as a model
for conducting family research. Journal of the Association for Severely Handicapped, vol. 23,
nº 3, 178-188.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
147
Joaquim Gronita
Torreguia - torreguia@iol.pt
Ana Cristina Bernardo
Joana Marques
Cátia Matos
Palavras-chave:
intervenção precoce, avaliação de programas, qualidade
Resumo/Abstract:
Apresenta-se o design do processo de selecção, recolha e interpretação de informação
que permite emitir juízos ou tomar decisões, com vista a identificar procedimentos e
respostas de qualidade e adequados à realidade portuguesa e às características da população
atendida, analisando a acção efectiva de uma equipa de I.P. e identificando os seus
procedimentos.
Os objectivos traçados, implicaram diferentes métodos, instrumentos e participantes.
São partilhados os primeiros resultados que contribuem para a definição de directrizes
políticas e medidas de gestão eficazes neste domínio de intervenção.
Introdução
Os primeiros estudos de avaliação no âmbito da intervenção precoce desenvolvidos
em Portugal têm-se focado fundamentalmente nas percepções de profissionais e por vezes nas
percepções e grau de satisfação dos pais ou dos principais prestadores de cuidados à criança.
Sendo o seu número ainda diminuto, importa continuar e aprofundar este tipo de estudos. No
entanto, importa ter em conta que a avaliação em intervenção precoce tem-se vindo a
desenhar numa multidimensionalidade de aspectos correspondentes às características
multifacetadas deste tipo de intervenção.
Uma vez que a legislação portuguesa nesta matéria define orientações inspiradas no
modelo norte-americano, sem se ter procedido à avaliação da sua adequalibidade à realidade
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
148
e cultura portuguesa (Bairrão e Almeida, 2002), este aspecto deverá constituir também uma
preocupação nas avaliações a desenvolver em Portugal.
O presente estudo insere-se num projecto mais alargado que se consolidou numa
parceria entre a Cooperativa TorreGuia, a Fundação Calouste Gulbenkian, a Cercizimbra-
Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados de Sesimbra, a Câmara
Municipal de Sesimbra e o Rotary Club de Sesimbra e que visa dar resposta às necessidades
manifestadas pelos diferentes parceiros: consolidar e intensificar parcerias, atender um maior
número de crianças/famílias, melhorar a qualidade do apoio prestado, aumentar o número de
actividades de carácter preventivo, avaliar todo o processo e a construção de boas práticas.
Para além de responder às questões relativas às acções que o programa de intervenção
precoce desenvolve, com o estudo intitulado O Processo de Construção de Boas Práticas,
pretende-se desenvolver um processo de selecção, recolha e interpretação de informação que
nos permita emitir juízos ou tomar decisões, com vista a identificar modelos, procedimentos e
respostas de qualidade, adequados à realidade e características da população atendida.
Pretende-se, assim, ao longo de três anos, e de acordo com as recomendações de
Bailey (2001) e Hauser-Cram Warfield, Upshur e Weisner (2000), analisar, compreender e
aprender com o trabalho que está a ser implementado por um serviço de intervenção precoce;
identificar as eventuais discrepâncias entre os objectivos delineados e a forma como estão a
ser efectivamente implementados; focar-se no que se passa efectivamente no decorrer do
programa e não somente nas percepções dos profissionais e grau de satisfação dos pais;
avaliar as práticas efectivamente implementadas ao nível da criança, da família e da gestão de
recursos humanos; identificar se o programa cumpre os objectivos para os quais foi
concebido bem como a legislação em vigor; e identificar a adequação dos modelos teóricos
do programa às necessidades das crianças, famílias e comunidades.
Face a esta diversidade, importou definir diferentes métodos, diferentes instrumentos
e diferentes participantes (profissionais, famílias e crianças).
De acordo com o desenvolvimento actual do estudo, proceder-se-á à apresentação das
principais conclusões da auto-avaliação dos profissionais do serviço de intervenção precoce,
assim como ao processo de integração destes resultados na dinâmica e planificação da equipa.
Da análise documental efectuada, serão partilhadas as conclusões emergentes, apesar de
ainda parciais e incipientes.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
149
Será ainda possível explanar as expectativas face ao serviço, por parte das famílias
que iniciaram o atendimento no ano lectivo 2005/06 e o grau de satisfação dos serviços
recebidos, pelas famílias que deixaram o programa naquele ano lectivo.
Apesar de constituírem resultados parciais, serão analisadas as percepções dos profissionais e
dos principais prestadores de cuidados às crianças relativamente aos serviços prestados que
serão, posteriormente, confrontadas com as observações das práticas desenvolvidas e com as
práticas recomendadas internacionalmente.
Em suma, pretende-se partilhar o design de um estudo sobre a acção efectiva de uma
equipa de intervenção precoce e sobre a identificação dos procedimentos que facilitam a
construção de um modelo adaptado à realidade Portuguesa.
Serão partilhados resultados parciais que começam a constituir orientações para a
formação em serviço dos profissionais de Intervenção Precoce e que contribuem para a
definição de directrizes políticas que permitem uma maior eficácia na gestão dos recursos
humanos e financeiros, disponíveis para este domínio de intervenção.
Material e Método
Dados os objectivos a que nos propomos e a escassez de estudos neste campo,
pretendemos realizar um estudo exploratório e descritivo, no intuito de estudar, compreender
e explicar o nosso objecto de estudo.
Sendo este estudo avaliativo uma resposta às necessidades manifestadas por dois dos
parceiros acima referidos, entre os quais a entidade promotora do serviço e tendo merecido a
aprovação e financiamento dos restantes parceiros, poderemos considerar que um dos itens
decorrente dos trabalhos efectuados por Hauser-Cram, Warfield, Upshur e Weisner (2000),
que revela que a realização de um estudo avaliativo deve corresponder a um desejo dos
financiadores e gestores do programa fica assegurado. Os outros itens também foram
assegurados, consistindo na certificação de que os profissionais envolvidos, a coordenadora
do serviço e os profissionais que prestam serviços directos partilhavam este desejo de realizar
este estudo avaliativo, tanto mais que a sua intenção estava expressa no seu Plano de
actividades. Por ultimo, foi ainda possível confirmar a existência de acordo relativamente ao
tipo e objectivos da avaliação.
Numa perspectiva ecológica, foram delineados diferentes aspectos enquanto
objectivos de estudo: crianças, famílias, serviço, programa e comunidade. Face a esta
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
150
Participantes
O estudo incide sobre o Serviço Técnico de Intervenção Precoce da Cercizimbra
(STIP), cuja área de abrangência é o concelho de Sesimbra e zonas limítrofes, em
funcionamento desde 1993, ao abrigo de um acordo atípico com o Ministério do Trabalho e
Segurança Social, assim como alguns apoios anuais do Ministério da Educação.
Face à sua envolvência no processo de intervenção junto das famílias, crianças e respectiva
comunidade, foram identificados como participantes do estudo as próprias famílias e crianças
apoiadas pelo STIP, os seus profissionais e os profissionais parceiros do serviço e programa,
pertencentes a outros recursos da comunidade.
- Caracterização da Equipa
A equipa do Serviço Técnico de Intervenção Precoce da Cercizimbra - STIP é constituída por
12 profissionais:
Quadro 1 Categorias Profissionais que compõem a Equipa do STIP
Enti- Educa- Psicó- Pol. T. T. Ocupa- TSSER Anim. Total
dade dora logo Social Fala cional Sóc.
Cult.
STIP 1 3 * 1 * 3 1 2 * 1 12
* Dos profissionais assinalados, quatro têm formação em Terapia Familiar
cada ano lectivo verifica-se uma alteração acentuada da população atendida pelo serviço, isto
é, algumas famílias dão início ao atendimento pelo serviço e outras deixam de ser
acompanhadas pelo mesmo.
No ano lectivo de 2005-2006, foram atendidas no STIP 60 crianças e respectivas
famílias (59 famílias). Destas, 3 não foram abrangidas pelo estudo – mortalidade da amostra
– uma família desistiu do atendimento, uma mudou de residência e outra teve um
atendimento de curta duração, sem tempo para aplicação de instrumentos.
Seguidamente, é apresentado o número de famílias com crianças atendidas pelo STIP,
segundo a situação que determina maior limitação ou situação de risco para o nível do
desenvolvimento da criança:
Quadro 2 Número de famílias apoiadas por tipo de situação de risco e por idade da sua criança
C. R. R. Envolvimental Em Total
Estabelecida Biológico avaliação
0 a 3 anos 8 2 1 0 11
4 a 6 anos 12 5 18 3 38
7 anos 3 2 3 0 8
Total 23 9 22 3 57
Instrumentos
Os instrumentos de avaliação a utilizar foram definidos e construídos de acordo com a
nossa preferência pela adaptação de instrumentos validados internacionalmente que permitam
análises comparativas e pela adaptação de instrumentos recentes e cujo método de aplicação
se considerou inovador, no que respeita à sua utilização no âmbito de estudos na área de
Intervenção Precoce.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
152
Intervenção Precoce identificadas pela Division for Early Childhood (DEC), USA e na
“Entrevista/Questionário para Pais e para Técnicos” elaborado por Pimentel (2005).
Estes guiões estão pensados como suporte uniformizado das entrevistas com famílias,
de forma a permitirem a análise das questões relacionadas com a Família e com o Programa,
mais especificamente sobre as declarações, satisfação, expectativas e pontos de vistas de
famílias face ao programa de intervenção precoce prestado à família e criança.
Estes guiões são usados individualmente, em situação de entrevista, a todos os principais
prestadores de cuidados das crianças no momento em que iniciam o atendimento
(Expectativas) e no final do mesmo (Satisfação).
Procedimentos
Consolidando o desejo dos financiadores e gestores do programa, relativamente à
realização do presente estudo, a definição do projecto de investigação resultou do processo de
discussão entre os diferentes parceiros. Numa fase de preparação do projecto, a entidade
promotora do serviço de intervenção precoce procedeu a um levantamento de necessidades,
inquirindo, para além da sua equipa técnica, os representantes dos parceiros sociais daquela
comunidade, de forma a serem criados consensos, relativamente às alterações necessárias em
termos de funcionamento do serviço e à identificação de necessidades, ao nível dos recursos
materiais e humanos, para a promoção de um serviço eficaz e de qualidade.
Para eliminar a variável “falta de recursos”, aquando da avaliação dos resultados do
estudo, foram envolvidos diferentes parceiros no projecto de forma a financiarem e,
consequentemente, colmatarem aquelas lacunas. Com o início do projecto, a equipa do STIP
viu assim, esbatidas ou mesmo eliminadas as suas dificuldades financeiras em termos de
formação, de recursos materiais e pedagógicos e ainda em termos de recursos humanos.
Mais uma vez, consolidando o desejo dos financiadores e gestores do programa,
relativamente à realização do presente estudo, foram concretizadas reuniões com a direcção
da Cercizimbra e a coordenação do STIP no sentido de serem acordados procedimentos de
articulação, papéis e funções, nomeadamente a entidade contratante dos três novos
profissionais a afectar à equipa do STIP, a sua coordenação e supervisão, as regras de
utilização do espaço e recursos do STIP pela equipa de avaliação, a regularidade de reuniões,
a passagem de informação, periodicidade de devolução dos dados recolhidos e conclusões
obtidas e as formas de registo e apresentação de contas à entidade promotora do projecto, a
Torreguia.
No que respeita aos recursos humanos e para colmatar as necessidades identificadas,
foram contratadas uma psicóloga, uma terapeuta da fala e uma animadora social a tempo
inteiro e procedeu-se à aquisição de serviços de um supervisor das dinâmicas da equipa.
No âmbito do processo de implementação da avaliação e acompanhamento da equipa
do STIP, após a definição das questões de investigação, a equipa de avaliação, dedicou-se
numa fase inicial à pesquisa, apropriação e definição das metodologias, estratégias e
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
156
instrumentos que mais se adequam às necessidades do projecto, tendo para tal procedido à
articulação com docentes do Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Instituo Superior de
Ciências do Trabalho e da Empresa e da Universidade Aberta.
Seguidamente, procedeu-se à identificação dos participantes e à definição de um
cronograma de acção, com o envolvimento da coordenadora do STIP.
Uma vez concluído, o projecto de avaliação foi apresentado a todos os profissionais
do STIP, reforçando a sua apropriação e interesse na realização do mesmo. Num momento
posterior, realizou-se a apresentação do mesmo a todos os parceiros e à comunidade.
Uma vez que, pela metodologia STIP, se previa que o contacto com os pais fosse efectuado
pelos diferentes profissionais responsáveis de caso, foi ainda distribuído um memorando,
“Guião para os Técnicos de Intervenção Precoce”, no sentido de garantir uma uniformidade
da informação passada às famílias, relativamente ao conhecimento dos objectivos do estudo e
solicitando o seu consentimento informado.
A elaboração do cronograma permitiu dar início à recolha de dados, paralelamente à
ultimação de construção ou adaptação de instrumentos a utilizar numa fase posterior.
O Questionário de Auto-avaliação de Padrões de Qualidade em Intervenção Precoce
foi o primeiro instrumento a ser aplicado a todos os membros da equipa. O instrumento foi
utilizado em simultaneamente para todos os profissionais da equipa, sendo os mesmos
convidados a não trocar impressões entre si. Os profissionais assinalaram verbalmente
algumas dificuldades no preenchimento do instrumento devido à disparidade de conceitos,
estratégias e às diferenças entre a descrição dos padrões e indicadores do instrumento e a
realidade social da comunidade onde o serviço se desenvolve.
Uma vez analisados, os resultados foram apresentados à equipa do STIP antes desta
elaborar o seu Plano de Actividades para o ano lectivo seguinte.
Este instrumento será novamente aplicado a todos os profissionais, no final do estudo,
afim de aferir eventuais alterações nas suas percepções.
Foi dado início à análise dos processos individuais de cada caso, com a aplicação da
Grelha de Análise Documental. Face à divergência de conteúdo dos processos foi necessário
reformular várias vezes o instrumento utilizado.
Após os pais manifestarem o seu consentimento para colaborar no estudo, e de acordo
com os critérios de funcionamento do programa, os profissionais promoveram o encontro
entre as famílias e o investigador. Frequentemente, recorreu-se ao contacto telefónico para
aferir o local, sempre escolhido pelo familiar, como o mais facilitador para os mesmos, pelo
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
157
que variou entre o seu domicílio e a sede do programa. O dia e a hora foram também objecto
de negociação, visando corresponder, sempre que possível, à preferência da família.
Em primeiro lugar procedeu-se à recolha dos dados através do Questionário de
Expectativas das Famílias e de seguida à Entrevista de Expectativas da Família para os casos
que ingressaram em atendimento neste ano lectivo. Este procedimento repetir-se-á nos
próximos anos lectivos.
Procedeu-se também à aplicação do questionário e Entrevista de Satisfação das
Famílias para os casos que tiveram alta do serviço ao longo do presente ano lectivo. Este
procedimento repetir-se-á nos anos lectivos seguintes e, assim como para todos os casos no
final do estudo.
De acordo com o cronograma, os restantes instrumentos ainda não foram aplicados,
sendo, seguidamente, explanado qual o grupo de participantes a que se destinam.
Resultados
Os procedimentos acima descritos, assentam no estabelecimento de parcerias
efectivas. Do envolvimento dos parceiros vislumbra-se um processo construtivo de boas
práticas, do qual o primeiro resultado consiste no próprio design experimental descrito no
quadro 3.
A apresentação de resultados do questionário de auto-avaliação à equipa do STIP
constituiu um dos primeiros momentos do processo de construção de boas práticas. Após a
reflexão em equipa, o seu plano de actividades incorporará as alterações consideradas pela
mesma como facilitadoras e promotoras de práticas de qualidade.
Dos resultados obtidos, evidencia-se a heterogeneidade da percepção dos
profissionais, relativamente ao grau de realização, planificação e avaliação dos diferentes
padrões. Nenhum dos padrões reuniu uma percepção consensual de todos os profissionais. No
entanto, foi possível agrupá-los em duas categorias: Convergentes e Divergentes.
Quanto aos padrões Convergentes, apresentam tendências diferentes, relativamente ao
pondo de convergência: para os padrões (1.2) Observatório para a Infância e (5.3) Avaliação
Externa do Programa de Intervenção Precoce o ponto de convergência é 1, pelo que,
tendencialmente, a percepção dos profissionais é que as actividades descritas nos indicadores
destes padrões não são realizadas actualmente; o ponto de convergência para o padrão (1.5)
Encaminhamento Eficaz é 3, isto é, tendencialmente, a percepção dos profissionais é que as
actividades descritas nos indicadores destes padrões são Parcialmente planificado e realizado
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ou seja, uma parte da actividade é programada por iniciativa da equipa ou outros recursos; e
para o ponto 5, isto é Planificado e realizado sistematicamente (as actividades são
programadas por iniciativa da equipa ou outros recursos), convergem os padrões (2.3)
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159
Conclusões
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161
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VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
163
Palavras-Chave:
Idoso, meio, comportamento
Resumo/Abstract:
Este estudo visa estudar a influência do meio e dos factores sociais no comportamento
do idoso institucionalizado. Conta com a aplicação do SERA - “Sistema de Evaluación de
Residencias de Ancianos” de Fernández - Ballesteros (1998) em contexto ecológico
institucional. Tem como objectivos (1) averiguar a relação entre variáveis individuais (como
saúde objectiva e subjectiva) e variáveis subjectivas (avaliação do conforto físico); (2)
predizer o poder das características ambientais (como a possibilidade de interferir nas
políticas institucionais) na influência das capacidades funcionais (como nível de actividades)
dos idosos e por fim (3) verificar quais as relações entre o clima social e outros factores
ambientais experienciados no contexto institucional.
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
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i)Caracterização da Amostra
Para se estudar as relações ambientais foi necessário uma recolha exaustiva de dados
acerca das características individuais de cada idoso a residir em contexto institucional, bem
como do ambiente social. Para tal, recorreu-se a instrumentos de avaliação que fazem parte
do SERA - Sistema de Evaluación de Residencias de Ancianos, de Fernández-Ballesteros,
(1998). Este é um denso instrumento multidimensional, de avaliação ambiental composto por
9 escalas (as primeiras 5 retiradas do instrumento original MEAP- “Multiphasic
Enviornmental Assessment Procedure” de Moos & Lemke (1984) - e mais 4 escalas
acrescentadas) que são: (1) Inventário das Características Arquitectónicas e Físicas (ICAF);
(2) Inventário das Características Organizativas - Funcionamento ( ICOF); Inventário das
Características do Pessoal e Residente (ICPR); Escala do Clima Social (ECS); Escala de
Avaliação (EA); Lista das Necessidades (LN); Questionário de Informação Pessoal (QIP);
Questionário de Satisfação (QS) e Mapa de Interacção Ambiental do Comportamento
(MICA).
Esta investigação contou com a aplicação do QIP (Questionário de Informação Pessoal)
em que se exploraram as condições específicas de cada idoso. Esta escala tem como objectivo
avaliar variáveis pessoais dos residentes, inclui 44 elementos, divididos por 4 dimensões
relevantes: “ Habilidades Funcionais” (N= 9) – mede o nível de independência, autonomia
dos residentes no desempenho de actividades de vida diária; “ Actividade Pessoal” (N= 13); –
avalia o índice de actividades levadas a cabo pela própria iniciativa dos residentes; “
Integração na Comunidade” (N= 13) – avalia o índice de actividades fora da instituição e por
fim questões relacionadas com a “ Saúde” (N=9) dos residentes, nomeadamente a (1) Saúde
Objectiva: é avaliada através de indicadores objectivos da saúde, tais como o número de
doenças que são diagnosticadas (no presente), número de vezes que foi ao médico (durante o
ultimo mês), número de medicamentos que toma actualmente, ect. a (2) Saúde Subjectiva:
avalia o sentimento de se sentir saudável, de acordo com uma escala de “1” a “5” (mau,
regular, normal, boa, excelente), (3) Queixas de memória: avalia se o sujeito se queixa de
problemas associadas à funcionalidade da memória, bem como de (4) Queixas associadas à
Depressão (Sintomatologia Depressiva).
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
168
Através das análises de regressão linear por passos (SPSS. Versão 14.0) as variáveis
pessoais, como variáveis dependentes, foram relacionadas, uma a uma, com todas as
características pessoais dos residentes (sexo; estado civil; escolaridade, tempo de
permanência da instituição; motivos de ingresso; capacidades funcionais; nível de
actividades; integração na comunidade; saúde física - número de medicamentos tomados,
queixas relacionadas com problemas de saúde actuais, queixas relacionadas com a memória e
com a depressão, bem como com problemas em relação à capacidade visual e auditiva - a
saúde percepcionada pelos mesmos) e com todas as variáveis ambientais (a coesão vivida na
instituição; o conflito experenciado; a independência dos residentes; a auto-exploração; a
organização geral do equipamento; a influência dos residentes e o conforto físico avaliado)
considerando-as variáveis independentes.
Seguidamente, a totalidade destas dimensões sociais foram consideradas variáveis
dependentes e relacionadas com todas as variáveis pessoais e ambientais (independentes).
Conclusão
Globalmente, observa-se uma íntima relação entre variáveis pessoais, tais como:
saúde percepcionada; nível de actividades e independência como é postulado em alguns
modelos teóricos, (Lawton, 1977, Baltes, 1982; Fernandez – Ballesteros, 1983; Moos e
Lemke, 1996) citados anteriormente.
O estudo da avaliação da saúde (tanto a objectiva como a subjectiva) do idoso
institucionalizado é um importante factor que influencia não só aspectos subjectivos,
como queixas de memória e nível de actividades como a própria noção de conforto
físico.
Ressalta-se a influência do ambiente residencial sobre factores pessoais, como
muitos autores afirmam (Kahana, 1975; Lawton, 1997; Carp e Carp, 1984; Kodama,
1988). Especificamente, neste estudo, os resultados mostram que as seguintes
características ambientais: 1) capacidade de influência no meio (políticas de escolha); 2)
características organizacionais; 3) grau de apoio canalizado para os residentes e 4) a
noção de conforto físico predizem o comportamento do idoso a residir em contexto
institucional. Outras relações encontradas, são exemplos interessantes da influência
ambiental na conduta comportamental do idoso.
De facto, as condições do ambiente predizem a auto declaração da depressão nos
residentes. É importante salientar que um ambiente que proporcione a partilha de
sentimentos e emoções acaba por ser um meio que potencia a exteriorização de
sentimentos de tristeza e angústia vividos pelo idoso. Assim, cada unidade ecológica
deve ter em atenção, que para além de prestarem cuidados formais, acompanhamento
nas actividades de vida diária (AVD) e nas actividades instrumentais de vida diária
(AIVD), devem assegurar um ambiente facilitador à exploração afectiva e emocional do
“eu” do idoso.
Outro aspecto importante a salientar, diz respeito à promoção da independência
que acarreta um relacionamento próximo com o nível de actividades dos residentes, no
seu meio habitacional. Como tem sido realçado por vários autores, a influência de
características ambientais num estilo de vida saudável (tal como o elevado nível de
actividades e independência) conduz à promoção de um envelhecimento saudável
(WHO, 1990). Neste estudo constatamos que a intenção do idoso participar nas
actividades sócio – recreativas e de lazer levadas a cabo na instituição depende da sua
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176
condição física (estado funcional). Por sua vez, o idoso que participa dinamicamente é
aquele que se sente melhor com o seu estilo de vida e com a sua saúde. Assim, o meio
institucional ao optimizar a independência dos residentes, dando-lhes oportunidade para
desenvolverem determinadas tarefas (concedendo o tempo necessário para tal) e ao
potenciar a participação nas actividades, está a contribuir para um processo de
envelhecimento activo, e por isso saudável.
Em relação à saúde percepcionada pelo idoso institucionalizado, concluímos que
esta é compreensível à luz de dois tipos de variáveis, considerando-se as condições
pessoais: queixas de memória e actividade pessoal, bem como por condições
ambientais, como as características organizacionais do equipamento. Segundo Little
(1988), as expectativas do ambiente social e a forma como este se apresenta predizem a
saúde subjectiva dos intervenientes ambientais. Assim, salienta-se a importância de uma
boa gestão organizacional, pois esta interfere no comportamento adaptativo do idoso. É
importante que o equipamento tenha presente esta interacção, porque todos os membros
da equipe institucional contribuem de algum modo, para a percepção de saúde do idoso,
que é por outro lado, um critério crucial para a saúde e bem-estar do mesmo
(Fillenbaum, 1984).
No que diz respeito, à interacção entre dimensões psicossociais, a relação mais
evidente prende-se com o conflito e com a coesão. Isto significa que o apoio que o
pessoal funcionário despende para os residentes é um factor importante para minimizar
o descontentamento, os comportamentos agressivos, desafiadores e destrutivos entre os
residentes. Desta forma, apela-se à informação e ao conhecimento do staff para a
pertinência destas questões, pois o desempenho dos agentes de geriatria contribui para a
estabilidade do ambiente vivido entre os idosos institucionalizados.
Posteriormente, estudadas as dimensões do clima social, constatamos que a
avaliação do conforto bem como da coesão entre residentes são prenunciadas por outros
factores, também ambientais, ao contrário dos estudos de Izal (1992), em que as várias
dimensões do clima social eram apenas associadas ao tamanho das instalações da
instituição, e não com outras características ambientais.
Assim sendo, a avaliação do conforto físico feito por um idoso institucionalizado
depende do tempo que ele reside na instituição. Pois à medida que o idoso permanece
mais tempo na instituição, mais negativamente avalia os aspectos físicos do meio onde
reside. Por outro lado, esta mesma avaliação do conforto depende do auto – percepção
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
177
de saúde do idoso institucionalizado. Isto significa que se o sujeito se sentir bem com a
sua saúde física e psicológica, tende a estimar melhor o seu meio físico envolvente. Por
fim, a postura activa do sujeito no seu meio residencial, também interfere na sua
avaliação de conforto físico. Desta forma, o idoso que participa activamente na
implementação de normas e políticas na instituição onde reside, avalia mais
satisfatoriamente este aspecto físico do ambiente em que está inserido. Estas relações
tornam-se bastante importantes para percebermos que sendo o contexto físico sempre o
mesmo, a avaliação deste depende bastante de variáveis temporais, pessoais e
ambientais.
Outra dimensão do clima social, importante para este estudo, refere-se à coesão
observada em contexto institucional. O desempenho do pessoal funcionário depende do
estado funcional (autonomia) dos residentes e da organização da instituição. Isto quer
dizer que quanto mais dependentes forem os idosos mais disponibilidade apresenta o
pessoal funcionário para o acompanhamento ao idoso. Este acompanhamento técnico
qualificado é importante para potenciar a independência dos idosos residentes. Estas
relações tornam-se cruciais, pois de alguma forma apelam para a importância da
informação e do conhecimento que o agente de geriatria deve assegurar. Isto porque o
desempenho da sua conduta profissional tem impacto no idoso, ao nível físico e
emocional. Outro ponto importante, diz respeito à própria organização da instituição.
Ressalva-se que quanto melhor estiver organizado o equipamento, melhor é gerido este
apoio dado aos residentes, em função das suas características físicas, mentais e
emocionais. Assim sendo, os modelos de gestão de um equipamento para a terceira
idade têm de ter em atenção questões tão importantes como esta. Uma administração
que lide com método e ordem acaba por promover, de alguma forma, uma intervenção
ajustada aos residentes.
REFERÊNCIAS