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CONSERVAÇÃO DE ACERVOS

FOTOGRÁFICOS
FUNDAMENTOS DA PRESERVAÇÃO DE DOCUMENTOS
PROFESSORA LUCIANA BRITO
A maioria dos tipos de fotografia consiste de uma estrutura
laminada, ou em camadas:
• uma camada de suporte primário;
• uma camada aglutinante;
• o material da imagem final.

O material formador da imagem final está geralmente impregnado


na camada aglutinante que repousa sobre o suporte primário.
Daguerreótipo (1839-
1865): uso de uma placa de
cobre como suporte e
formação da imagem numa
fina camada de prata,
revelada com vapores de
mercúrio. Não possibilita a
produção de cópias.
Calótipo ou talbótipo (1841-
1855): papel salgado usado
para confeccionar o negativo;
permitia a cópia de várias
imagens. Antecessor da atual
fotografia empregando
negativo/positivo.

Woman, 1844. Antoine François Claudet.


Ambrótipo (1854-1870): tem
como suporte uma placa de
vidro e como emulsão o colódio.
Ferrótipo (1856-1890):
imagem formada em
colódio e sais de prata;
consiste na criação de uma
imagem positiva sem
negativo, diretamente
sobre uma chapa fina de
ferro.
Placa de vidro à base de
colódio e sais de prata
(1850-1900): placa de vidro
emulsionada com colódio e
sais de prata e, em estado
ainda úmido, deveria ser
exposta e revelada.
Fotografia albuminada
(1847-1910): fotografia feita
com solução à base de
albumina, cloreto de sódio e
nitrato de prata. A partir de
negativos em placa de
colódio, era feito o contato
com o papel albuminado. O
albúmen tornou-se o
material mais popular no
século XIX.
Negativo de chapa de vidro em gelatina
(1871 - até hoje): tem como emulsão a
gelatina e sais de prata. Entrou no
mercado para substituir o negativo de
placa de vidro em colódio úmido. Sendo
seco, dava ao fotógrafo mais agilidade e
rapidez. Marca a transição para a era da
fotografia. A gelatina se transforma no
veículo de sustentação dos cristais de
prata e passa para uma escala de
produção industrial. Passa a ser
empregada, mais tarde, na fabricação de
papéis fotográficos e filmes flexíveis.
Uma ampla variedade de materiais de suporte primário tem sido usada
historicamente para fotografias, entre os quais:
• Metal - placas de cobre recobertas com prata para os daguerreótipos;
folhas de ferro laqueado para ferrótipos;
• Vidro - para ambrótipos, negativos de vidro, positivos lantern slides;
• Papel - positivos de todos os tipos e alguns dos primeiros negativos
do século XIX;
• Plásticos - negativos em filme, como acetato, nitrato, poliéster etc.;
• Papéis resinados - estão muito difundidos e cada vez mais presentes
nas coleções arquivísticas.
A camada aglutinante contém dentro dela o material que forma a
imagem visual.
• os aglutinantes mais comuns consistiram de albúmen, colódio ou
gelatina;
• a estabilidade destes aglutinantes protetores é essencial para garantir
uma imagem duradoura e inalterada;
• para fotografias em papel, o albúmen foi o aglutinante de uso
predominante durante a maior parte do século XIX;
• a gelatina tem predominado nos últimos cem anos para ambos os
materiais positivos e negativos.
A parte da fotografia que se transforma em imagem visível constitui-se
de partículas metálicas finamente divididas, ou, no caso de fotografias
coloridas, de corantes ou pigmentos. Os materiais que formam a
imagem podem ser prata metálica, platina, ferro.
DEGRADAÇÃO DE ACERVOS FOTOGRÁFICOS
• Ambientes de armazenamento: as principais considerações se
referem à temperatura e à umidade relativa do ar. A presença da água
é necessária para que ocorra a maioria das reações químicas que
causam a deterioração dos materiais fotográficos. Assim, altos níveis
de UR geralmente estimulam reações químicas prejudiciais. Acima de
60% UR, aumenta a probabilidade da germinação de esporos de
fungos.
• Níveis de UR elevados causam inchamento e amolecimento de alguns
aglutinantes. Fotografias à base de gelatina são particularmente
susceptíveis ao inchamento e, quando amolecidas, podem aderir a
qualquer superfície com que estejam em contato.
• Níveis muito baixos de UR, embora teoricamente desacelerem as
reações químicas, também devem ser evitados pois podem causar a
deformação física das fotografias. Com uma UR muito baixa (inferior a
30%), a camada aglutinante e o suporte podem ressecar, causando
rachaduras, delaminação ou um estado quebradiço generalizado.
• Em coleções formadas por uma grande variedade de materiais
fotográficos torna-se quase impossível a tarefa de proporcionar as
condições específicas ideais para cada processo. Os parâmetros
recomendados são: temperatura de 20° C (variação de até 2°C) e
umidade relativa do ar entre 35 e 45% (variação de até 5%).
• Fatores de degradação biológicos: a variedade de agentes biológicos
que podem danificar fotografias abrange desde simples fungos,
passando por insetos e até roedores. A natureza orgânica dos
materiais aglutinantes e dos suportes de papel fornecem nutrientes
suficientes para permitir que esses organismos vivos se desenvolvam,
quando encontram condições ideais.
• Estas condições incluem: UR superior a 60%, altas temperaturas e ar
estagnado. O acúmulo de poeira e de partículas também tendem a
atrair insetos.
• Tipos de danos: manchas e deteriorações causadas pelo crescimento
de fungos; perdas causadas por roedores que mastigam o suporte
fotográfico; manchas por material defecado por insetos.
• Qualidade do ar: fotografias são particularmente susceptíveis aos
inúmeros compostos químicos transportados pelo ar, comumente
encontrados nos ambientes urbanos. Os compostos incluem dióxidos
de nitrogênio e de enxofre, ozônio e peróxidos que, combinados com
a umidade atmosférica, geram compostos que podem deteriorar os
materiais fotográficos.
• Outras fontes de compostos químicos prejudiciais: tintas à base de
óleo, aglomerados e laminados de madeira, vernizes, móveis de
escritório, colas de carpete, vários produtos de limpeza e até
copiadoras eletrostáticas (produzem ozônio em quantidade suficiente
para danificar fotografias).
• Particulados: a simples poeira ou fuligem pode causar abrasão às
macias camadas aglutinantes e trazer para a área visual sujeira
desfiguradora. Eles também atraem os compostos químicos presentes
no ar, colocando estes contaminantes em contato direto com a
fotografia.
• Soluções: instalação de telas de filtros de ar instaladas na entrada de
ar; purificadores de ar de ambiente.
• Luz: a exposição à luz pode contribuir consideravelmente para o
esmaecimento e a deterioração de muitos tipos de fotografias.
Dependendo dos componentes, alguns processos fotográficos são
mais vulneráveis aos danos causados pela luz que outros.
• As imagens de prata bem processadas não esmaecem com exposição
à luz, enquanto os corantes usados em outros processos são
susceptíveis ao esmaecimento tanto em sua presença quanto no
escuro.
• Dentre as camadas aglutinantes mais sensíveis está o albúmen,
seguido pela gelatina. Os suportes de papel também deterioram
quando expostos à luz.
• Embora a exposição a qualquer tipo de radiação seja prejudicial às
fotografias, os raios ultravioleta são os que mais danificam. A luz solar
e as lâmpadas fluorescentes são as principais fontes de radiação UV.
• Exposição = Duração x Intensidade
• Materiais de acondicionamento: muitas fotografias (e negativos)
passam a maioria de suas vidas em contato direto com papéis ou
plásticos usados nos envelopes, jaquetas, pastas, cartões etc.
Invólucros feitos com materiais de pouca qualidade e/ou mal
projetados podem causar sérias danos aos acervos fotográficos.
• Papéis ácidos são nocivos, mas as fotografias também são
susceptíveis à deterioração causada por peróxidos, lignina, corantes,
aditivos e outras impurezas.
• Materiais plásticos: a transparência pode minimizar os danos
causados pela remoção de fotografias dos invólucros, com a
finalidade de identificá-las.
• Como desvantagem, eles são geralmente mais caros, mais pesados e
podem gerar cargas eletrostáticas, atraindo sujeira e partículas. Os
plásticos geralmente recomendados são poliéster (PET –
politereftalato de Etileno) , polipropileno e polietileno (mais simples).
• Eles são transparentes, inertes, têm estabilidade dimensional e
podem ser facilmente encontrados em uma grande variedade de
formatos.
• Não lacrar fotos nesses invólucros; fotos precisam “respirar”.
• Não utilizar o cloreto de polivinil (PVC).
POLIÉSTER
• POLIÉSTER: boa resistência à tração, excelente estabilidade
dimensional, excelente estabilidade dimensional, excelente barreira a
gases, boa resistência química a óleos e gorduras, alta transparência e
brilho, boa resistência térmica, ausência de odor.
• O poliéster possui algumas desvantagens como dificuldades de
selagem a quente e também alta eletricidade estática (atrai sujeiras e
partículas).
• Aplicações: invólucros para armazenagem de livros, documentos e
fotografias; encapsulamento; jaquetas transparentes para livros;
forração de gavetas; filmes fotográficos; base de microfilme e rolo.
POLIPROPILENO
• Polipropileno: excelente barreira à umidade, inerte, excelentes
propriedades óticas (transparência e brilho), boa resistência
mecânica, boa estabilidade dimensional, média barreira a gases, boa
barreira ao vapor de água e permissão de selagem a quente.
• Aplicações: utilizado em invólucros para armazenagem de livros,
documentos e fotografias, plástico alveolar (Polionda®).
POLIETILENO
• Polietileno: apresenta boa resistência mecânica e transparência. As
principais características são excelente barreira à umidade, boa
resistência química, baixo custo, boa selagem a quente e alta
permeabilidade a gases e vapores.
• Aplicações: invólucros para armazenagem de livros, documentos e
fotografias.
• Invólucros de papel: jaquetas, pastas, envelopes e entrefolhados de
papel de boa qualidade, com reserva alcalina ou não, são facilmente
encontrados em vários modelos e formatos. Como desvantagem, as
jaquetas de papel são opacas, sendo necessária a remoção das
fotografias para serem vistas.
• Papéis de pH neutro e com reserva alcalina: papéis neutros têm o pH
aproximado de 7.0, enquanto os papéis alcalinos variam de 7.5 a 8.5.
Os materiais com reserva alcalina têm um componente, em geral
carbonato de cálcio ou de magnésio, adicionado durante sua
produção, para combater a degradação por acidez das fibras do
papel.
Caixa em cruz com abas
Caixa uma peça
com abas
Jaqueta de poliéster: utilizado em livros e
fotografias para proteger da poeira
Envelope ofício:
para acondicionar
diversos materiais
cujo suporte é o
papel (fotos,
obras de arte,
documentos
textuais, entre
outros).
• Entre os processos que exigem invólucros de materiais sem reserva
alcalina estão os cianótipos (blueprints) e as fotografias coloridas por
transferência de corantes.
• Materiais fotográficos que exalam ativamente gases ácidos como os
negativos de acetato ou nitrato ao se deteriorarem, os materiais
montados em suportes secundários em cartões ácidos estarão melhor
acondicionados em invólucros com reserva alcalina.
• Características intrínsecas de deterioração: algumas fotografias
carregam dentro de si as sementes de sua destruição.
• Talvez o exemplo mais evidente de defeito inerente seja o conhecido
problema dos negativos de nitrato. Primeiro suporte flexível de
plástico viável para imagens fotográficas, os negativos de nitrato
estiveram em uso da década de 1880 até a década de 1920. O nitrato
de celulose como material de suporte primário continuou a ser usado
na indústria cinematográfica até o início dos anos 50.
• Os filmes de nitrato são altamente inflamáveis; uma vez que o fogo
tenha começado, torna-se praticamente impossível extingui-lo, pois
os filmes de nitrato geram seu próprio oxigênio, abastecendo,
portanto, sua própria combustão. Em condições inferiores às ideais,
os filmes de nitrato entram em um processo lento e irreversível de
deterioração, atravessando estágios graduais até sua destruição final.
• Introdução do acetato de celulose como base para os filmes
negativos: considerados um avanço sobre o potencialmente perigoso
suporte de nitrato, acabaram se mostrando bastante problemáticos.
Numerosas coleções apresentam ampla evidência do que se tornou
conhecido como a “síndrome do vinagre”, assim denominada devido
ao cheiro de ácido acético exalado pelos negativos quando os
mesmos se deterioram.
• Durante o envelhecimento, os filmes de acetato sofrem tanto uma
deterioração química, quanto uma distorção física. As várias camadas
desses filmes se expandem e se contraem em proporções diferentes.
Os danos causados por esse tipo de envelhecimento são, em geral,
devastadores e irreversíveis.
• O armazenamento seco, a frio, a longo prazo poderá diminuir o
processo de deterioração e um extenso programa de duplicação
poderá preservar essas imagens.
• Ação humana: danos causados por manuseio, falta de cuidado,
negligência, acidentes evitáveis, tentativas de conservação
desastradas e até mesmo danos intencionais.
• A esses exemplos devemos acrescentar os casos de superexposição
causados por exibições prolongadas, perdas catastróficas devido às
péssimas condições de armazenamento e à ocorrência de desastres,
sem que haja um plano de emergência satisfatoriamente elaborado.
• Armazenamento: em mobiliário de aço; não é aconselhável o
armazenamento em mobiliário de madeira. Os revestimentos não
devem liberar gases tóxicos.
• Não armazenar acervos fotográficos em sótãos e porões, devido às
temperaturas e às altas taxas de umidade relativa do ar. Manter o
acervo em locais livres de poluição e evitar a exposição à luz.
• A temperatura recomendada deve estar entre 15°C e 20°C. Nunca
deve estar acima de 30°C. A oscilação permitida é de 2°C.
• O índice de UR deve estar entre 30% e 50%, nunca acima de 60%. A
oscilação permitida é de 2%.
• Fotografias em grandes formatos devem ser embaladas
individualmente e arquivadas horizontalmente.
• Álbuns devem ser guardados na posição horizontal dentro de caixas
acomodadas em prateleiras.
• Se for um grande volume de fotografias, podem ser guardadas na
posição vertical, individualmente, em envelopes; ou em pastas
suspensas e protegidas individualmente com entrefolhamento.
• Anotações em fotografias devem ser feitas no verso com lápis de
grafite macio (6B).
REFERÊNCIAS:

BRITO, Fernanda. Confecção de embalagens para acondicionamento


de documentos. São Paulo: Associação de Arquivistas de São Paulo,
2010.

MUSTARDO, Peter; KENNEDY, Nora. Preservação de fotografias:


métodos básicos para salvaguardar suas coleções. Rio de Janeiro:
Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos: Arquivo
Nacional, 2001.

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