Você está na página 1de 5

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CÍVEL DA

COMARCA DE CAICÓ/CE

AÇÃO CIVIL PÚBLICA: xxxxxxxxxxxxxxxxxxx

ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES UNIDOS DE CAICÓ, organização não governamental,


legalmente constituída como personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, com sede
no endereço xxxxxx, cidade de Caicó, representado por seu DEFENSOR legalmente constituído, vem
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fundamento no art. 996 e art. 1009 do Código
de Processo Civil, interpor:

RECURSO DE APELAÇÃO E REFORMA SENTENÇA.

Em face da EMPRESA GUARARAPES ADM LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita
no CNPJ sob o n. xxxxxx com sede no endereço xxxxxxxxx; e o MUNICÍPIO DE CAICÓ, pessoa
jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ sob o n. xxxxxxxxxx, com sede no endereço,
requerendo, após as formalidades legais, a remessa do presente recurso ao Egrégio Tribunal de Justiça
para processamento e julgamento.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Caicó/CE 15 de novembro de 2017

Advogado

OAB/CE
EGRÉGIO TRIBUNAL JUSTIÇA DO ESTADO DO CEARA,

AÇÃO CIVIL PÚBLICA nº xxxxxxxxxxxxxxxx.

ORIGEM: VARA CÍVEL DA COMARCA DE CAICÓ

APELANTE: ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES UNIDOS DE CAICÓ

APELADOS: EMPRESA GUARARAPES ADM LTDA e Outros.

COLENDA TURMA

ÍNCLITO DESEMBARGADOR RELATOR

DOUTA PROCURADORIA

DOS FATOS

Ocorre que a empresa Guararapes Ltda, ora apelada, tem contrato com a administração
pública local para administrar e realizar manutenção na ruína mais famosa da cidade do município,
conhecida como “Colosseu”, a qual se trata de importante ponto turístico local.

Fato é que, conforme informado nos autos, das fls (...), entre os meses elencados a
empresa deixou de realizar a manutenção contratada, o que tem contribuído para a ocorrência de grave
deterioração deste patrimônio.

Por tal exposto a Associação, ora apelante, que tem como finalidade insculpida em seus
atos constitutivos a guarda e fiscalização do patrimônio histórico-cultural do município, resolveu agir
para fazer garantir a manutenção do referido sítio histórico, vez que sua deterioração impactaria
significativamente no trânsito turístico da cidade, dilapidando a renda daqueles que vivem desta
atividade, bem como destruindo importante ponto de contato com o passado do município.

Fora enviado ofício para o Município, conforme consta das fls. (...), solicitando que
fossem retomadas as atividades de manutenção do “Colosseu”, cobrando que o contrato firmado entre
a administração pública e a empresa Guararapes fosse cumprido com o objetivo de continuidade dos
cuidados necessários para a preservação do espaço citado, inclusive solicitando prazo para que este
fosse retomado, porém, informa o responsável que em contato com a empresa contratada, também
cobrou a retomada das atividades de manutenção, conforme documento das fls. (...), e que a
Guararapes Ltda, prometendo a retomada das atividades, não adimpliu com o firmado até o momento.

O r. Juízo extinguiu a ação sem a resolução do mérito, por entender que as partes
arroladas na inicial não são legitimadas passivamente, com sentença publicada na data de 10/11/2017,
fundamentando que há repartição de responsabilidade entre os entes federativos conforme previsto na
Constituição Federal.

RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO

É informado pela Constituição pátria, no Art. 23 que não há somente um ente político
competente para a proteção do patrimônio histórico cultural, sendo certo que esta responsabilidade é
compartilhada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, conforme intelecção de seus incisos
III e IV.
Porém insta ressaltar que em seu Art. 30, o diploma máximo enumera dentro das
competências do Município, em seu inciso IX, poder e dever para garantir e fazer cumprir a proteção
deste patrimônio histórico-cultural local. Conclui-se desta forma que a competência de um não exclui
a do outro no que tange a esta matéria.

Por se tratar o sítio referido na inicial qual seja, o “Colosseu”, de patrimônio local,
pertinente é que se trate no polo passivo desta demanda o Município de Caicó localizado no Estado do
Ceará.

Em que pese o notório saber jurídico da MM Juízo a quo, maneja-se o presente recurso,
com fundamento nos artigos 996 e 1.009 do Código de Processo Civil, no tocante à sentença de
extinguiu a Ação Civil Pública extinguiu a ação sem resolução de mérito, por entender que as partes
que ocupam o polo passivo da ação são ilegítimas.

Contudo, a r. sentença deve ser reformada, pois com fundamento na repartição de


responsabilidade entre os entes federativos prevista na Constituição Federal, o Juiz, sem julgar o
mérito da demanda, extinguiu o processo por entender que as partes alocadas no polo passivo não
possuíam legitimidade, aduzindo que a matéria é de competência comum da União, Estados e
Municípios, por isso, os três entes, União, Estado do Ceará e Município de Caicó deveriam estar no
polo passivo da demanda. Fundamentando sua decisão de acordo com o art. 23, incisos III e IV, da
Constituição Federal.

DA TEMPESTIVIDADE

Que o faz dentro do prazo legal nos termos do Art. 1.003, § 3º do Código de Processo
Civil, requerendo que o juízo receba o presente recurso, nos seus efeitos suspensivos, devolutivos e
consequentemente o remeta para o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará para que dele conheça,
dando-lhe provimento.

CABIMENTO DO RECURSO

O art. 1.009 do Código de Processo Civil dispõe que o recurso de apelação será cabível
contra sentença (art. 203, § 1º do CPC), por meio da qual, o magistrado com fundamento no art. 487
do CPC, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum. Este é o caso dos autos. Cabível, portanto,
a interposição do recurso.

REQUISITO DO RECURSO INTERPOSTO – LEGITIMIDADE DOS APELANTES

Nos termos do art. 5 º, inciso V, alínea A e alínea B, a parte Apelante possui legitimidade
ativa para propor a ação, pois, é uma associação que possui mais de 1 ano de fundação e tem por
objeto a preservação do patrimônio histórico, cultural e meio ambiente do município.

Caso a restauração ocorra de modo direto pelo Poder Público, este tem o dever de
indenizar os danos, morais e materiais, sofridos pela coletividade em seu patrimônio histórico e
cultural. A responsabilidade do Estado, neste caso, será objetiva, conforme com o disposto no art. 37,
§ 6º, da Constituição Federal.

A proteção do patrimônio cultural é uma obrigação imposta ao poder público, com a


colaboração da comunidade, por força do que dispõe a Constituição Federal em seus artigos 216,
parágrafo 1º e 23, III e IV. Dessa forma, a ação protetiva em prol do patrimônio cultural não se trata de
mera opção ou de faculdade discricionária do poder público, mas, sim, de imposição cogente, que
obriga juridicamente todos os entes federativos.

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial,
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio


cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação,
e de outras formas de acautelamento e preservação.

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os
monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;

IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de


valor histórico, artístico ou cultural;

O art. 996 do Código de Processo Civil, autoriza que a parte Apelante venha inter
recurso, bastando demonstrar a possibilidade de a decisão submetida à apreciação judicial atingir seus
direitos, in verbis:

Art. 996. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo
Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica.

Logo, para interpor o recurso, a parte prejudicada deve demonstrar que a sentença afetará
o seu direito. No caso, a parte Apelante busca a reparação de um patrimonio histórico de sua cidade,
ao qual não foi realizado pelas apeladas. Nesse sentir, há a demonstração clara e precisa de que a
questão posta à apreciação judicial atinge direito de uma coletividade na lide, fato que
irremediavelmente autoriza que a parte Apelante interponha o presente recurso.

RAZÕES PARA DECRETAÇÃO DE NULIDADE DA SENTENÇA

No caso em tela, a lide versa sobre os interesses transindividuais, são os coletivos em


sentido lato, e se situam em posição intermediária entre os interesses públicos e o estritamente
individual. Importante mencionar que, foi ouvido o representante do Ministério Público, o qual exarou
parecer favorável a Associação pugnando pela condenação das requeridas à reparação de danos e à
obrigação de fazer.

Mesmo diante do parecer favoravel do Ministério Público, e das provas trazidas aos
autos, o magistrado extinguiu o processo sem resolução de mérito, por entender que as partes que
ocupam o polo passivo da ação são ilegítimas. Ou seja, seria possível ao Parquet, como fiscal da lei,
dar um parecer favoravel na presente demanda, e o magistrado determinar a extinção do processo, sem
se atentar as provas e ao parecer.

Nos moldes do artigo 1º da Lei 7.347/85 (lei da ação civil pública) é cabível a Ação Civil
Pública para conter ou proteger os bens protegidos quais sejam: danos causados ao meio ambiente, ao
consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico e paisagístico, a qualquer interesse
difuso ou coletivo, por infração econômica, à ordem, urbanística, à honra e à dignidade de grupos
sociais, étnicos ou religiosos e ao patrimônio público e social, que define a sujeição dos infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de
reparar os danos causados.
Ainda que a coisa julgada formada em Ação Civil Pública seja oponível contra todos, e a
responsabilidade civil seja solidária, podendo a parte Autora da Ação escolher contra quem vai
demandar, o regime da coisa julgada nas ações em defesa de interesses difusos não dispensa a
formação do litisconsórcio necessário quando a decisão atingir diretamente a esfera individual de
pessoas que podem ser identificadas, a afastar a facultatividade do litisconsórcio.

Medida constritiva, por mais grave que seja a conduta atribuída a alguém, pressupõe o
devido processo legal, nos termos do artigo 5º, inciso LVI da Constituição Federal ("ninguém será
privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal"). O caso, portanto, é de
litisconsórcio passivo necessário, dada a natureza da relação jurídica ora analisada, nos termos do art.
114 do Código de Processo Civil.

De rigor, portanto, que o processo seja anulado, extinguindo-se o feito sem resolução de
mérito, ou, alternativamente, anule-se a sentença determinando a baixa dos autos à origem para que
seja o Ministério Público Federal intimado a emendar a inicial, promovendo a citação dos
litisconsortes passivos necessários, nos termos do art. 114 do Código de Processo Civil.

Por tanto, resta que a Lei 7.347/85 fornece respaldo para suscitar que haja o seguimento desta ação,
motivo pelo o qual a sentença merece reforma.

DO PEDIDO

Diante do exposto, requer:

a) O recebimento do recurso;

b) Provimento para a reforma da sentença;

c) Reconhecimento da legitimidade das partes para compor o polo passivo;

d) Proferir nova sentença;

e) Receber o presente recurso em seus efeitos suspensivos e devolutivos.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Caicó/CE 15 de novembro de 2017

Advogado

OAB/CE

Você também pode gostar