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COMARCA DE CAICÓ/CE
Em face da EMPRESA GUARARAPES ADM LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita
no CNPJ sob o n. xxxxxx com sede no endereço xxxxxxxxx; e o MUNICÍPIO DE CAICÓ, pessoa
jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ sob o n. xxxxxxxxxx, com sede no endereço,
requerendo, após as formalidades legais, a remessa do presente recurso ao Egrégio Tribunal de Justiça
para processamento e julgamento.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Advogado
OAB/CE
EGRÉGIO TRIBUNAL JUSTIÇA DO ESTADO DO CEARA,
COLENDA TURMA
DOUTA PROCURADORIA
DOS FATOS
Ocorre que a empresa Guararapes Ltda, ora apelada, tem contrato com a administração
pública local para administrar e realizar manutenção na ruína mais famosa da cidade do município,
conhecida como “Colosseu”, a qual se trata de importante ponto turístico local.
Fato é que, conforme informado nos autos, das fls (...), entre os meses elencados a
empresa deixou de realizar a manutenção contratada, o que tem contribuído para a ocorrência de grave
deterioração deste patrimônio.
Por tal exposto a Associação, ora apelante, que tem como finalidade insculpida em seus
atos constitutivos a guarda e fiscalização do patrimônio histórico-cultural do município, resolveu agir
para fazer garantir a manutenção do referido sítio histórico, vez que sua deterioração impactaria
significativamente no trânsito turístico da cidade, dilapidando a renda daqueles que vivem desta
atividade, bem como destruindo importante ponto de contato com o passado do município.
Fora enviado ofício para o Município, conforme consta das fls. (...), solicitando que
fossem retomadas as atividades de manutenção do “Colosseu”, cobrando que o contrato firmado entre
a administração pública e a empresa Guararapes fosse cumprido com o objetivo de continuidade dos
cuidados necessários para a preservação do espaço citado, inclusive solicitando prazo para que este
fosse retomado, porém, informa o responsável que em contato com a empresa contratada, também
cobrou a retomada das atividades de manutenção, conforme documento das fls. (...), e que a
Guararapes Ltda, prometendo a retomada das atividades, não adimpliu com o firmado até o momento.
O r. Juízo extinguiu a ação sem a resolução do mérito, por entender que as partes
arroladas na inicial não são legitimadas passivamente, com sentença publicada na data de 10/11/2017,
fundamentando que há repartição de responsabilidade entre os entes federativos conforme previsto na
Constituição Federal.
É informado pela Constituição pátria, no Art. 23 que não há somente um ente político
competente para a proteção do patrimônio histórico cultural, sendo certo que esta responsabilidade é
compartilhada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, conforme intelecção de seus incisos
III e IV.
Porém insta ressaltar que em seu Art. 30, o diploma máximo enumera dentro das
competências do Município, em seu inciso IX, poder e dever para garantir e fazer cumprir a proteção
deste patrimônio histórico-cultural local. Conclui-se desta forma que a competência de um não exclui
a do outro no que tange a esta matéria.
Por se tratar o sítio referido na inicial qual seja, o “Colosseu”, de patrimônio local,
pertinente é que se trate no polo passivo desta demanda o Município de Caicó localizado no Estado do
Ceará.
Em que pese o notório saber jurídico da MM Juízo a quo, maneja-se o presente recurso,
com fundamento nos artigos 996 e 1.009 do Código de Processo Civil, no tocante à sentença de
extinguiu a Ação Civil Pública extinguiu a ação sem resolução de mérito, por entender que as partes
que ocupam o polo passivo da ação são ilegítimas.
DA TEMPESTIVIDADE
Que o faz dentro do prazo legal nos termos do Art. 1.003, § 3º do Código de Processo
Civil, requerendo que o juízo receba o presente recurso, nos seus efeitos suspensivos, devolutivos e
consequentemente o remeta para o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará para que dele conheça,
dando-lhe provimento.
CABIMENTO DO RECURSO
O art. 1.009 do Código de Processo Civil dispõe que o recurso de apelação será cabível
contra sentença (art. 203, § 1º do CPC), por meio da qual, o magistrado com fundamento no art. 487
do CPC, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum. Este é o caso dos autos. Cabível, portanto,
a interposição do recurso.
Nos termos do art. 5 º, inciso V, alínea A e alínea B, a parte Apelante possui legitimidade
ativa para propor a ação, pois, é uma associação que possui mais de 1 ano de fundação e tem por
objeto a preservação do patrimônio histórico, cultural e meio ambiente do município.
Caso a restauração ocorra de modo direto pelo Poder Público, este tem o dever de
indenizar os danos, morais e materiais, sofridos pela coletividade em seu patrimônio histórico e
cultural. A responsabilidade do Estado, neste caso, será objetiva, conforme com o disposto no art. 37,
§ 6º, da Constituição Federal.
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial,
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os
monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
O art. 996 do Código de Processo Civil, autoriza que a parte Apelante venha inter
recurso, bastando demonstrar a possibilidade de a decisão submetida à apreciação judicial atingir seus
direitos, in verbis:
Art. 996. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo
Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica.
Logo, para interpor o recurso, a parte prejudicada deve demonstrar que a sentença afetará
o seu direito. No caso, a parte Apelante busca a reparação de um patrimonio histórico de sua cidade,
ao qual não foi realizado pelas apeladas. Nesse sentir, há a demonstração clara e precisa de que a
questão posta à apreciação judicial atinge direito de uma coletividade na lide, fato que
irremediavelmente autoriza que a parte Apelante interponha o presente recurso.
Mesmo diante do parecer favoravel do Ministério Público, e das provas trazidas aos
autos, o magistrado extinguiu o processo sem resolução de mérito, por entender que as partes que
ocupam o polo passivo da ação são ilegítimas. Ou seja, seria possível ao Parquet, como fiscal da lei,
dar um parecer favoravel na presente demanda, e o magistrado determinar a extinção do processo, sem
se atentar as provas e ao parecer.
Nos moldes do artigo 1º da Lei 7.347/85 (lei da ação civil pública) é cabível a Ação Civil
Pública para conter ou proteger os bens protegidos quais sejam: danos causados ao meio ambiente, ao
consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico e paisagístico, a qualquer interesse
difuso ou coletivo, por infração econômica, à ordem, urbanística, à honra e à dignidade de grupos
sociais, étnicos ou religiosos e ao patrimônio público e social, que define a sujeição dos infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de
reparar os danos causados.
Ainda que a coisa julgada formada em Ação Civil Pública seja oponível contra todos, e a
responsabilidade civil seja solidária, podendo a parte Autora da Ação escolher contra quem vai
demandar, o regime da coisa julgada nas ações em defesa de interesses difusos não dispensa a
formação do litisconsórcio necessário quando a decisão atingir diretamente a esfera individual de
pessoas que podem ser identificadas, a afastar a facultatividade do litisconsórcio.
Medida constritiva, por mais grave que seja a conduta atribuída a alguém, pressupõe o
devido processo legal, nos termos do artigo 5º, inciso LVI da Constituição Federal ("ninguém será
privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal"). O caso, portanto, é de
litisconsórcio passivo necessário, dada a natureza da relação jurídica ora analisada, nos termos do art.
114 do Código de Processo Civil.
De rigor, portanto, que o processo seja anulado, extinguindo-se o feito sem resolução de
mérito, ou, alternativamente, anule-se a sentença determinando a baixa dos autos à origem para que
seja o Ministério Público Federal intimado a emendar a inicial, promovendo a citação dos
litisconsortes passivos necessários, nos termos do art. 114 do Código de Processo Civil.
Por tanto, resta que a Lei 7.347/85 fornece respaldo para suscitar que haja o seguimento desta ação,
motivo pelo o qual a sentença merece reforma.
DO PEDIDO
a) O recebimento do recurso;
Nestes termos,
Pede deferimento.
Advogado
OAB/CE