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Unidade I Aspectos Legais


do Direito Tributário
e Competência Tributária
INTRODUÇÃO

A primeira Unidade da disciplina Legislação Tributária versa sobre as bases do Direito


Tributário, iniciando pelos seus aspectos legais contidos tanto na CF - Constituição Federal
quanto no CTN - Código Tributário Nacional e outras legislações atinentes; e finalizando
também como base do estudo da Legislação Tributária, com as definições da Competência
Tributária de cada Ente federativo.

1 ASPECTOS LEGAIS DO DIREITO TRIBUTÁRIO

Serão abordados os princípios da Ordem Econômica e Financeira; a definição de


Sistema Tributário Nacional e sua hierarquia legislativa; os princípios constitucionais
tributários; e por fim o conceito de Código Tributário Nacional e algumas definições de
importantes elementos tributários.

1.1 ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA

Define-se Ordem econômica e financeira como a regulação da intervenção do Estado na


atividade econômica de um país. No Brasil, ela é apresentada na Constituição Federal de 1988,
sendo observados os Princípios Gerais da Atividade Econômica, abaixo relacionados:

I – Soberania nacional;
II – Propriedade privada;
III – Função social da propriedade;
IV – Livre concorrência;
V – Defesa do consumidor;
VI – Defesa do meio ambiente;
VII – Redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII – Busca do pleno emprego;
IX – Tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte.

Segundo o texto constitucional que abrange os artigos 170 a 192, a ordem econômica
tem sua base na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, com a finalidade de
assegurar a todos uma vida digna, através dos ditames da justiça social expressos nesses
princípios.
Para tanto, é dever do Estado, impor normas e regular as atividades econômicas por
meio da fiscalização, do incentivo e planejamento em conjunto com as normas que regem o
sistema econômico nacional, atuando assim de forma indireta para promover a segurança do
Estado e dos interesses coletivos. É de se entender que a intervenção do Poder Público é
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fundamental para resolver questões que possam comprometer a ordem econômica do País.
Ademais, o Art. 175 da CF, “Incumbe ao poder público, na forma da lei, diretamente ou
sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços
públicos.”
Apesar do sistema econômico adotado no Brasil, ser um modelo de produção capitalista
e neoliberal, a carta magna permite que o Estado intervenha para que os agentes que atuam no
mercado cumpram os elementos sócio ideológicos expressos na CF, ao quais foram
apresentados especialmente em forma de princípios.

1.1.1 Princípio da Soberania Nacional

A soberania nacional é um dos principais fundamentos da República. Entende-se por


soberania, a autoridade superior que diz respeito à autonomia, ao poder político e de decisão
dentro de seu respectivo território nacional.
O princípio da soberania nacional apresenta particularidade específica quanto ao poder
do Estado, para interferir e dirigir a ordem econômica, nos aspectos em que for de seu interesse
ou da coletividade.
A soberania deve ordenar a busca pela efetivação do desenvolvimento do País, atingindo
a finalidade das atividades econômicas, bem como propiciando meios para que o Estado
desenvolva políticas públicas com o objetivo de colocar o Brasil em condições iguais perante
outras nações no contexto atual da economia global.

QUESTÃO PARA PRATICAR:


(CESGRANRIO - 2012 – EPE) A Constituição brasileira veda a exploração de atividade
econômica diretamente pelo Estado.
PORQUE
A ordem econômica na Constituição é fundada, dentre outros, na livre iniciativa.

Analisando-se as afirmações acima, à luz da ordem constitucional brasileira, conclui-se que:


as duas afirmações são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira.
as duas afirmações são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira.
a primeira afirmação é verdadeira, e a segunda é falsa.
a primeira afirmação é falsa, e a segunda é verdadeira.
as duas afirmações são falsas.

1.1.2 Princípio da Propriedade Privada

O princípio da propriedade privada, garante aos indivíduos, que sua propriedade é de


responsabilidade de cada um, não tendo o Estado poderes para interferir, na atividade
econômica do País, desde que cumpra sua função social.
A propriedade mencionada no artigo 170 da Constituição de 1988, se refere a um
conjunto de bens componentes do estabelecimento empresarial, que de acordo com o artigo
1.142 do Código Civil (2002), conceitua: “considera-se estabelecimento todo o complexo de
bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária”.
Assim, a ordem econômica resguarda especificamente a propriedade dos meios de produção,
que sustenta o sistema capitalista.
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A Constituição Federal aborda de forma mais específica este princípio, sob o aspecto
dos meios de produção, inseridos na ordem econômica e financeira. Apesar da visão capitalista,
o princípio do respeito à propriedade privada, especialmente dos fatores de produção, se
fundamenta pela necessária observância à função social.

1.1.3 Princípio da Função Social da Propriedade

A função social da propriedade, prevista no inciso III do artigo 170 da Constituição


Federal, se apresenta como uma restrição ao princípio da propriedade privada, abordado
anteriormente, permitindo a intervenção do Estado sobre a propriedade que deixa de cumprir
sua função social.
Através desse princípio, a propriedade deve exercer sua função econômica, ou seja, deve
ser utilizada para geração de riqueza, garantia de trabalho, recolhimento de tributos ao Estado,
e principalmente, a promover o desenvolvimento econômico.
O proprietário tem o direito de uso e gozo de sua propriedade, mas em compensação,
essa propriedade deve exercer a função social, estabelecida pela lei.

QUESTÃO PARA PRATICAR:


(GUALIMP - 2018 - Câmara de Nova Venécia – ES) A ordem econômica, fundada na
valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos,
existência digna, conforme os ditames da justiça social. Neste sentido, são princípios da
atividade econômica, EXCETO:
Propriedade privada.
Propriedade pública.
Livre concorrência.
Função social da propriedade.

1.1.4 O Princípio da Livre Concorrência

A livre concorrência é garantida pela Constituição Federal e se estrutura na economia


nacional. O constituinte observou a importância de esforços no sentido de estimular a presença
contínua das empresas particulares, além da vontade de participar conjuntamente com o País,
do desenvolvimento, do progresso, oferecendo condições para garantir força para atuar, sem
esquecer a livre concorrência, representada pelas micro e pequenas empresas.
A livre iniciativa se relaciona com o ideal de liberdade econômica, e seu reconhecimento
pela ordem jurídica visa assegurar aos indivíduos a livre escolha da atividade que queiram
desenvolver para seu sustento, e limitar a atuação do Estado no campo das opções econômicas
dos agentes.
O princípio da livre concorrência prevê que a todos se assegura o livre exercício de
qualquer atividade econômica, independentemente de autorização dos órgãos públicos, salvo
nos casos previstos em lei.
A liberdade de iniciativa compreende tanto o direito de acesso ao mercado, como o de
cessação da atividade econômica. Os agentes econômicos devem ser livres para produzir e
colocar seus produtos no mercado. Ações estas, que conseguem desenvolver graças ao princípio
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da livre concorrência, que a todos assegura a liberdade dos mercados.

1.1.5 Princípio da Defesa do Consumidor

O princípio da defesa do consumidor assevera que nas relações de consumo, a atividade


econômica deve proteger o consumidor. Assim, o Estado dita as leis, atos e sentenças, e os
agentes econômicos são regulados por princípios e regras estatais.
O aumento das relações de consumo gerou a necessidade de se aperfeiçoar o regime
jurídico que tratava desse aspecto, estabelecendo normas de proteção e defesa do indivíduo,
constituindo um importante instrumento de cidadania.
Em 1990, um importante passo foi dado para a proteção do consumidor no Brasil. A Lei
nº. 8078/1990 instituiu o Código de Defesa do Consumidor, que demonstrou o Estado
preocupado com os direitos do consumidor, que passaram a ser assegurados
constitucionalmente. O código de defesa de o consumidor objetiva constituir um equilíbrio
entre os atores econômicos, na medida em que atestam a vulnerabilidade e fragilidade do
consumidor.
Portanto, a instituição do princípio constitucional de defesa do consumidor,
fundamenta-se, na igualdade de oportunidades e igualdade de tratamento entre os indivíduos.

1.1.6 Princípio da Defesa do Meio Ambiente

O crescimento econômico como consequência de esforços pelo desenvolvimento das


nações é um aspecto atual, contudo, os meios utilizados para o alcance das metas de crescimento
vêm degradando o meio ambiente, indispensável para a sobrevivência dos seres humanos e um
direito da coletividade.
É de grande importância o crescimento de uma nação, desde que se realize de maneira
sustentável e consciente, aliando o desenvolvimento socioeconômico com a preservação do
meio ambiente.
Sob esse aspecto, as políticas públicas voltadas para o meio ambiente devem ser
observadas como ferramentas para gestão consciente dos recursos naturais, e não como
inibidoras de desenvolvimento.
Com isso, torna-se necessário analisar a eficácia da proteção do Direito Brasileiro ao
meio ambiente, no que concernem as ações lesivas, do dano e do nexo com a fonte poluidora
do meio ambiente, tendo como base o que assegura o art. 225 da Carta Magna brasileira, no
qual todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Eros Roberto Grau (2012, p. 251), a respeito ao princípio da defesa do meio ambiente
menciona que:
[...] o princípio da defesa do meio ambiente conforma a ordem econômica (mundo do
ser), informando substancialmente os princípios da garantia do desenvolvimento e do
pleno emprego. Além de objetivo, em si, é instrumento necessário – e indispensável
– à realização do fim dessa ordem, o de assegurar a todos existência digna. Nutre
também, ademais, os ditames da justiça social.

A defesa do meio ambiente é de suma importância, e como princípio, caracteriza o que


se pode chamar de desenvolvimento sustentável, “inclusive mediante tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
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prestação.” (Art. 170, VI).

1.1.7 Princípio da Redução das Desigualdades Regionais e Sociais

De acordo com o princípio da redução das desigualdades regionais e sociais, a


Constituição Federal responsabiliza também os atores da atividade econômica.
Nesse sentido, os atores econômicos têm o dever de evitar as desigualdades,
especialmente quando o Estado designou e orientou tal ação. Este princípio de ordem
econômica, no qual a redução de desigualdades sugere que o desenvolvimento econômico atue
na redução desse problema no País, faz observar um paradoxo, pois de acordo com a economia
baseada em um sistema capitalista, tem-se como objetivo maior a acumulação de capital, ou
seja, muito nas mãos de poucos. Para a redução das desigualdades seria necessário a melhor
distribuição de renda, o que não ocorre na economia capitalista.
Ressalta-se que o problema da redução das desigualdades existentes no País é de
responsabilidade principal do Estado, pois conforme dispõe o § 1º do artigo 174 da
Constituição Federal: “A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do
desenvolvimento nacional equilibrado, o qual incorporará e compatibilizará os planos
nacionais e regionais de desenvolvimento”.
No caso do turismo, por exemplo, o Estado brasileiro intervém na direção da ordem
econômica, por intermédio do Sistema Nacional do Turismo, implementando assim, a política
nacional de turismo, que visa planejar, fomentar, regulamentar, coordenar e fiscalizar a
atividade turística. Lembrando que conforme o Artigo 180 da CF, todos os entes, são
responsáveis pela promoção e incentivo do turismo como fator de desenvolvimento social e
econômico.
A redução das desigualdades como princípio constitucional tem como objetivo principal
da ordem econômica a busca para uma existência digna.

QUESTÃO PARA PRATICAR:


(UFMT - 2018 - Prefeitura de Várzea Grande - MT) Em relação aos princípios gerais da
atividade econômica previstos na Constituição Federal de 1988, marque V para as
afirmativas verdadeiras e F para as falsas.
( ) É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, desde que
previamente autorizado pelos órgãos públicos competentes, salvo os casos previstos em lei.
( ) A defesa do meio ambiente é princípio constitucional da ordem econômica, inclusive
mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e
de seus processos de elaboração e prestação.
( ) Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou
permissão, sempre por meio de licitação, a prestação de serviços públicos.
( ) A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios promoverão e incentivarão o
turismo como fator de desenvolvimento social e econômico.
Assinale a sequência correta.
V, V, F, V
F, V, V, V
F, F, V, F
V, F, V, F
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1.1.8 Princípio da Busca do Pleno Emprego

Em uma sociedade fundada em valores sociais, o direito ao trabalho remunerado e digno


relaciona-se intrinsecamente com o direito à vida, pois para grande parte da população, da
remuneração obtida pelo trabalho prestado é que se obtêm os recursos para a aquisição dos bens
indispensáveis à sobrevivência.
O pleno emprego decorre de uma democratização das relações de trabalho e pode ser
definido como uma condição do mercado onde todos os que são aptos a trabalhar, e estão
dispostos a fazê-lo, encontram trabalho remunerado.
Uma política de pleno emprego resulta na progressiva eliminação das desigualdades
socioeconômicas, da pobreza e o aumento dos salários reais. Indiretamente, contribuindo para
a melhoria das condições de trabalho, a recuperação da infraestrutura econômica, a melhora das
finanças públicas, o incremento na competitividade externa e o aumento de qualidade nos
serviços públicos essenciais.
Nesse contexto, de acordo com o art. 170 da Constituição Federal, a ordem econômica
tem o fim de assegurar a todos a existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os princípios indicados, dentre eles, o princípio da busca do pleno emprego. É
importante observar a ressalva que a Constituição fez a este princípio social. Não se trata da
confirmação do princípio do pleno emprego, mas do princípio da “busca” do pleno emprego.
Talvez o constituinte estivesse admitindo apenas a possibilidade de se alcançar uma situação
próxima de pleno emprego, e não, a possibilidade de se alcançar uma situação concreta de pleno
emprego.
O êxito de uma política de pleno emprego depende diretamente da atuação de agentes
desenvolvedores de atividade econômica – empresários, sendo assim, um programa de
promoção de pleno emprego requer a intervenção estatal no sentido de remover entraves
econômicos e em especial aqueles que contribuem para a grande vulnerabilidade econômica.
A busca pelo pleno emprego, princípio da ordem econômica constitucional, é uma forma
de garantir a função social da propriedade (empresa), e especialmente, para direcionar o
estabelecimento de políticas públicas do Estado, não apenas de oferta de emprego e criação de
postos de trabalho, mas parte de um planejamento econômico que contribua com o
desenvolvimento do País e com os preceitos de justiça social e existência digna dos indivíduos.

1.1.9 Princípio do Tratamento Favorecido para as Empresas de Pequeno Porte

As empresas de pequeno porte, inclusive as microempresas representam nos dias de hoje


um dos mais importantes sustentáculos da economia brasileira, por serem as responsáveis pela
grande parcela de geração de empregos e renda do País.
O inciso IX, do artigo 170, da Constituição Federal, com redação inicial: “tratamento
favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham
sua sede e administração no País”, teve alteração através da Emenda Constitucional nº. 6, que
resolveu estender benefício do tratamento diferenciado para micro, pequenas empresas, desde
que constituídas sob os princípios da legislação brasileira e que mantém sua sede e
administração no País.
Com base nesse princípio constitucional houve a instituição da Lei Complementar nº.
123, de 14 de dezembro de 2006, a qual estabeleceu o "Estatuto Nacional das Microempresas e
Empresas de Pequeno Porte", com um rol de normas para favorecer o tratamento diferenciado
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às empresas de pequeno porte.


O princípio do tratamento diferenciado tem o fim de distinguir as inúmeras empresas do
País, de acordo com seu nível de faturamento, sendo possível a criação de condições para um
melhor equilíbrio do mercado.

QUESTÃO PARA PRATICAR:


(Instituto Águia - 2018 - CEAGESP) A ordem econômica, fundada na valorização do
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios, exceto:
Soberania nacional; propriedade privada; e função social da propriedade.
Livre concorrência; defesa do consumidor; e defesa do meio ambiente, inclusive
mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e
serviços e de seus processos de elaboração e prestação.
Defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o
impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
prestação; tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob
as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no país; e do investimento
mais benéfico.
Redução das desigualdades regionais e sociais; busca do pleno emprego; e
tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis
brasileiras e que tenham sua sede e administração no país.

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