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1.4 CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL

O Código Tributário Nacional (CTN) é a Lei norteadora, no Brasil, da aplicabilidade


dos tributos, extensão, alcance, limites, direitos e deveres dos contribuintes, atuação dos agentes
fiscalizadores e demais normas tributárias.

1.4.1 Princípio da Recepção

A aplicabilidade atual do CTN, sob a égide da Constituição de 1988 decorre do


fenômeno, teoria ou princípio da recepção (art. 34, §5 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias). Através do princípio da recepção, todas as normas jurídicas em vigência
anteriores a um ordenamento constitucional e que não entrem em conflito com este último, são
absorvidas pelo sistema jurídico, permanecendo em vigor.
Convém lembrar que o CTN - Lei 5.172, de 25 de outubro de 1966, foi formalmente Lei
ordinária, elaborada na vigência da Constituição de 1946, quando ainda não se distinguia Lei
ordinária de Lei complementar. Sendo posteriormente recepcionada pela Constituição de 1967
e de 1988, materialmente como Lei complementar.

1.4.2 Características do Código Tributário Nacional

O CTN cumpre as funções de Lei complementar exigida pela Constituição Federal de


1988 para tratar de obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários; no art.
150, parágrafo quarto; no art. 156, inciso V; no art. 173 e no art. 174 do texto constitucional.
Portanto, além da Constituição, temos o Código Tributário Nacional, com suas
alterações, como complementação ou instrumento de explicitação da ordem constitucional
tributária e de garantias do cidadão-contribuinte.

QUESTÃO PARA PRATICAR:


(CS-UFG - 2019 – GO) A Lei n. 5.172/1966, conhecida como Código Tributário Nacional,
que institui normas gerais em direito tributário aplicável a todos os entes políticos, foi
elaborado na vigência da Constituição de 1946 que não previa distinção entre Lei ordinária
e Lei complementar. Todavia, recepcionada pela Constituição de 1988, que prevê tal
distinção, em matéria tributária caberá à Lei complementar, dentre outras, estabelecer
normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente, para
determinar a competência tributária de cada ente político.
dispor sobre obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários.
instituir taxas e contribuições.
regular a repartição de receitas tributárias entre os entes políticos.

1.4.3 Definições de importantes elementos tributários

Tanto a Constituição como o CTN e a legislação complementar, ora por normas gerais,
ora especiais e mesmo específicas, traçam a ordenação do Sistema Tributário Nacional. Assim,
ao definirem o tributo, oferecem o modelo geral para impedir que a título de tributo o poder
público possa requisitar prestações que não sejam ou que por confusão se apliquem regras
tributárias, por exemplo, aos preços públicos.
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1.4.3.1 Diferença entre tributos e preços públicos

Enquanto o preço público (tarifa) é fruto de regime contratual, passível de flexibilização


e de pagamento facultativo; o tributo (taxa) é espécie tributária constitucionalmente definida,
que se submete às regras do Direito Público.
Existem também definições muito importantes, ligadas ao tributo, estabelecidas através
de normas pelo CTN, tais como: fato gerador, base de cálculo e alíquota.

1.4.3.2 Definição de Fato Gerador

É uma expressão jurídico-contábil, que representa um fato ou conjunto de fatos a que o


legislador vincula o nascimento da obrigação jurídica de pagar um tributo determinado. Em
obediência aos princípios contábeis da oportunidade e da competência, as despesas e receitas
devem ser reconhecidas no momento da ocorrência do fato gerador, independentemente de seu
pagamento.
O Código Tributário Nacional do Brasil (CTN) utiliza a expressão fato gerador tanto no
momento que se refere a hipótese de incidência tanto quanto ao fato imponível, deixando para
que o intérprete da norma reconheça o significado referido segundo o contexto em que se
encontra.
O CTN faz menção ao fato gerador nos artigos 114 e 115. De acordo com o texto do
artigo 114 do CTN, fato gerador da obrigação principal é a hipótese definida em lei como
necessária e suficiente para o surgimento da obrigação tributária.
Por sua vez, o artigo 115 diz que fato gerador da obrigação acessória é a hipótese que,
na forma da legislação aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que não configure
obrigação principal.
O fato gerador tem 3 elementos básicos, a saber:
1) Legalidade – que se refere à exigibilidade do cumprimento do princípio
constitucional da legalidade;
2) Economicidade – que se refere ao aspecto econômico do fato tributável (como regra
geral, envolvendo a base de cálculo e alíquota do tributo) e à capacidade contributiva
do sujeito passivo;
3) Causalidade – que corresponde à consequência ao efeito, do fato gerador; enfim, ao
nascimento da obrigação tributária.

1.4.3.3 Definição de Base de Cálculo

É a grandeza econômica sobre a qual se aplica a alíquota para calcular a quantia a pagar.
Por exemplo, na venda de imóveis, a base de cálculo do Imposto de Renda é a diferença entre
o valor da venda e o valor declarado do imóvel na declaração anual de renda e patrimônio. Já
no ICMS, a base de cálculo geralmente é o valor da venda da mercadoria.
A base de cálculo do IPTU está prevista no artigo 33 do CTN, sendo o valor venal do
imóvel, considerando o valor do terreno mais o valor da construção, sendo, portanto, o valor do
bem se posto à venda, neste sentindo aponta Kiyoshi Harada (2012, p.122):

Em termos doutrinários, o “valor venal é o preço que determinado imóvel alcançaria


em uma operação de compra e venda a vista, segundo as condições usuais do mercado
imobiliário, administrando-se a variação de dez por cento para mais ou para menos.
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1.4.3.4 Definição de Alíquota

É o percentual ou valor fixo que será aplicado para o cálculo do valor de um tributo. A
alíquota será um percentual quando a base de cálculo for um valor econômico, e será um valor
quando a base de cálculo for uma unidade não monetária (Ex: CIDE). As alíquotas em
percentual são mais comuns em impostos e as alíquotas em valor ocorrem mais em tributos
como empréstimo compulsório, taxas e contribuição de melhoria.
A Alíquota é um dos elementos da matriz tributária de um tributo. Assim, há a exigência
de que, seu valor ou percentual, seja estabelecido em lei. A alíquota pode ser classificada em:

a) Fixa – quantia determinada para todos os contribuintes.


b) Variável – estipulada de acordo com a base de cálculo. Geralmente é progressiva
(ou seja, alíquota é positivamente proporcional à base de cálculo).

Quando a alíquota é zero (geralmente em impostos de alíquota variável), dizemos que


há isenção total. É o caso do Imposto de Renda, onde a alíquota para rendimentos até
determinado valor, é zero.
Em linhas gerais, O CTN, por lei complementar, visa a disciplina jurídica do Sistema
Tributário Nacional, em seu Livro I e traça as normas gerais de Direito Tributário no Livro II.
O Código Tributário Nacional tem como conteúdo “regras jurídicas sobre tributos e sobre
conflitos de competência entre as entidades estatais, bem como sobre limites constitucionais do
poder tributário”.
O Código Tributário Nacional não é lei de tributação, mas lei sobre leis de tributação, e
em relação aos conflitos de competência tributária, como lei complementar, tem a alta missão
de afastar dúvidas ou interpretações discordantes.

2 COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA

A Competência tributária é o poder de criar tributos, sendo esse poder conferido pela
Constituição Federal à União, aos Estados-membros, ao DF e aos Municípios.
É importante não confundir Competência Tributária com Capacidade Tributária Ativa.
A competência tributária é formada por três capacidades: de legislar, fiscalizar e arrecadar
tributos. O art. 7º do CTN estabelece que a competência como um todo, ou seja, as três
capacidades, é indelegável, permitindo apenas a delegação das capacidades de fiscalizar e
arrecadar a outra pessoa jurídica de direito público, conforme segue:
CTN. Art. 7º A competência tributária é indelegável, salvo atribuição das funções de
arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou decisões
administrativas em matéria tributária, conferida por uma pessoa jurídica de direito
público a outra, nos termos do § 3º do artigo 18 da Constituição.

A capacidade tributária ativa é a aptidão para ser colocado, por lei, na posição de sujeito
ativo da relação tributária, ou seja, na posição de credor, com as prerrogativas que lhe são
inerentes de fiscalizar o cumprimento das obrigações pelos contribuintes, lançar e cobrar os
respectivos créditos tributários.
Porém, o art. 6º, parágrafo único do CTN prever que o fato da arrecadação de
determinado tributo, seja repartida a outro ente público não afeta a competência tributária:
CTN. Art. 6º, Parágrafo único. Os tributos cuja receita seja distribuída, no todo ou em
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parte, a outras pessoas jurídicas de direito público pertencerá à competência


legislativa daquela a que tenham sido atribuídos.

Apenas as pessoas jurídicas de direito público é que têm capacidade tributária ativa,
podendo, pois, ser colocadas na posição de sujeito ativo de obrigações tributárias (art. 119 do
CTN); aliás só as pessoas políticas de direito público desenvolvem atividade administrativa
plenamente vinculada (art. 3º do CTN).
Quanto à capacidade de concessão de isenção, só pode conceder isenção de um tributo
aquela pessoa jurídica competente para instituí-lo, nos termos do art. 150, § 6º da CF.
No entanto existem as isenções heterônomas, que são situações nas quais a União,
mediante lei complementar, pode conceder isenção do ICMS e do ISS na exportação de
mercadorias ou serviços para o exterior, conforme arts. 155, § 2º. XII, e 156, § 3º, II da CF.
Importante também lembrar que o STF entende que a União, mediante tratado
internacional, no exercício da sua soberania, pode conceder isenções de tributos de competência
dos outros entes da Federação.

QUESTÃO PARA PRATICAR:


(ESAF - 2012 - MDIC) Competência Tributária é a parcela de poder Fiscal que as pessoas
políticas que compõem a Federação recebem diretamente da Constituição para instituir,
cobrar e administrar os tributos a ela atribuídos. Sobre a Competência Tributária, julgue os
itens abaixo, e em seguida assinale a opção correspondente.
I. Embora tal competência seja indelegável, a lei permite a delegação das funções de
arrecadar ou fiscalizar tributos a outras pessoas jurídicas de direito público.
II. O produto da arrecadação do Imposto de Renda retido na fonte dos servidores estaduais
e municipais, embora pertença aos respectivos Estados e Municípios, não retira da União
sua competência legislativa e regulamentadora em relação a este tributo, tampouco as
funções de fiscalizar e exigir o pagamento quando não tenha havido retenção.
III. A mesma pessoa política detentora da competência de instituir, arrecadar e administrar
determinado tributo é também aquela competente para conceder isenções dele, sem
exceções.
IV. O não exercício da competência tributária por determinada pessoa política autoriza a
União a exercitar tal competência.
Há apenas um item correto.
Há apenas dois itens corretos.
Há apenas três itens corretos.
Todos os itens estão corretos.
Todos os itens estão incorretos.

Assim, sujeito ativo será o próprio ente político do qual a lei instituidora do tributo
emana ou, se a lei expressamente designar, outras pessoas jurídicas de direito público, ou seja,
uma autarquia ou uma fundação. O INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) é uma autarquia
federal colocada, por lei, na condição de sujeito ativo de diversas contribuições especiais.
Como exemplo podemos citar as contribuições sociais da seguridade social que são de
competência da União (art. 149, 1ª parte, CF combinado com art. 195, I, II, III e IV e § 4º da
CF), que as criou, mas o sujeito ativo da relação jurídica tributária é o INSS, o qual realiza a
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cobrança e fiscalização, bem como aplica o produto da arrecadação em suas finalidades.


Em síntese, a Competência tributária é uma das parcelas entre as prerrogativas
legiferantes de que são portadoras as pessoas políticas, consubstanciada na possibilidade para
a produção de normas jurídicas sobre tributos.
Também é importante destacar, a compreensão de que a competência tributária é a
competência legislativa que os entes políticos possuem de criar tributos, e competência
legislativa é a competência de criar leis. Logo, é o poder de criar tributos através de leis.
O legislador constitucional determinou quais tributos cada ente político pode criar, bem
como limitou esse poder de criação, impondo limites.

2.1 LIMITAÇÕES

É através da atribuição de competência, feita pela CF, que os entes federativos recebem
autorização para instituir e cobrar seus tributos. Essa competência, no entanto, não é plena. A
própria Constituição criou diversas hipóteses limitativas à competência tributária.
Algumas dessas hipóteses limitativas já foram abordadas anteriormente, quando se
abordou os princípios tributários. Disso se conclui que o artigo 150 apresenta, ao mesmo tempo,
princípios e limitações constitucionais ao poder de tributar.
Os princípios, enquanto garantias em benefício do contribuinte, implicam em nítida
limitação ao poder de tributar. Mas as limitações constitucionais à tributação não são formadas
apenas por princípios. Além do artigo 150, também encontramos limitações constitucionais ao
poder de tributar no artigo 151 da Constituição Federal, conforme podemos constatar abaixo:
Art. 151. É vedado à União:

I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique
distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em
detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover
o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País;
II - tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, bem como a remuneração e os proventos dos respectivos agentes
públicos, em níveis superiores aos que fixar para suas obrigações e para seus agentes;
III - instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou
dos Municípios.

Enquanto o citado artigo 151 enumera limitações à União, o artigo 152 institui
limitações ao poder de tributar dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Veja:
Art. 152. É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer
diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua
procedência ou destino.

Qualquer ato que desconsidere as citadas vedações será considerado inconstitucional e


deverá ser excluído da realidade normativa brasileira através da atuação do Poder Judiciário.
Um exemplo disso, foi a constatação de violação desse Artigo, pela Redução da carga tributária
condicionada à origem da industrialização da mercadoria.
O Decreto 35.528/2004, do Estado do Rio de Janeiro, ao estabelecer um regime
diferenciado de tributação para as operações das quais resultem a saída interna de café torrado
ou moído, em função da procedência ou do destino de tal operação, viola o art. 152 da
Constituição Federal." (ADI 3.389 e ADI 3.673, rel. min. Joaquim Barbosa, julgamento em 6-
9-2007, Plenário, DJ de 1º-2-2008).
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QUESTÃO PARA PRATICAR:


(FEPESE - 2018 - VISAN – SC) Assinale a alternativa correta acerca das limitações ao
poder de tributar.
É vedado à União taxar a remuneração e os proventos dos agentes públicos dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em níveis inferiores aos que fixar para
os seus agentes.
Os Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios poderão estabelecer, por meio de
lei, diferença tributária entre bens e serviços em razão de sua procedência ou destino.
Por meio de Lei Complementar, a União poderá instituir isenções de tributos da
competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios.
É vedado à União tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios.
É vedado à União instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional
ou que admita a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio
do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País.

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