O texto que se segue é uma reprodução escrita, com
pequenas adaptações e esclarecimentos, do programa exibido pela Rádio e Televisão de Portugal, “1980 – Morte de Francisco Sá Carneiro” integrado na série “50 Anos 50 Notícias”, de 2007.
Como tal, cumpre-me esclarecer que toda a informação
constante deste documento foi apresentada pela citada estação de televisão portuguesa, aquando da exibição do documentário referido.
Resta-me recordar, em último lugar, que no ano de 2007 a
Rádio e Televisão de Portugal celebrou o seu quinquagésimo aniversário. MORTE DE FRANCISCO SÁ CARNEIRO (1980)
1980, 4 de Dezembro, campanha eleitoral para a Presidência
da República. Num comício de candidatura do General Ramalho Eanes, José Fialho Gouveia anuncia a tragédia:
«Acaba de se confirmar a notícia de que, num desastre,
ocorrido há instantes, perdeu a vida o Primeiro-Ministro e outros dirigentes da Aliança Democrática (AD)»
Pouco depois, a segunda figura do Governo, Diogo Freitas do
Amaral, confirma a notícia perante as câmaras da RTP:
«Num horrível acidente de aviação, morreu hoje, ao princípio
da noite, o Primeiro-Ministro de Portugal, Dr. Francisco Sá Carneiro. Ignoramos ainda as causas do acidente, que serão apuradas no mais rigoroso inquérito, de que se procederá de imediato.»
O inquérito atribui a queda do aparelho a causas acidentais,
mas rapidamente se torna alvo de críticas dos quadrantes mais diversos. Ganha força a tese do atentado.
(Diogo Freitas do Amaral, Vice-Primeiro-Ministro em 1980)
“Ainda hoje, quando se lêem os documentos da época, têm-se a noção clara que não foi feita uma investigação completa e bem conduzida.”
José Manuel Barata Feyo, na altura, responsável pelo
programa da RTP “Grande Reportagem”, critica igualmente o trabalho da Comissão de Inquérito, mas daí não parte para a tese do atentado. (José Manuel Barata Feyo, jornalista RTP em 1980) “Com base e com o pretexto de alguns erros cometidos nos relatórios e que constam dos relatórios iniciais feitos, na altura, pelas autoridades portuguesas, a partir daí, com esse pretexto, começaram a inventar-se provas.”
Alguns factos esquecidos, com frequência, no debate público
devem estar presentes em qualquer análise do despenhamento. O estado em que se encontrava o aparelho é um dos vários temas de controvérsia.
(Soares Carneiro, candidato a Presidente da República, em
1980) “Andei nesse avião sempre, tinha chegado nesse avião, do Porto, às quatro horas da manhã, nesse dia do acidente…”
(José Manuel Barata Feyo) “Esse avião foi comprado na
Venezuela, em segunda mão, já velho, demorou 41 dias a chegar a Portugal e, durante esses 41 dias, teve nada mais, nem menos que 17 avarias.”
A polarização política do país condicionou, na altura, a
apreciação técnica do “Caso Camarate”. Também o funeral das vítimas foi um momento de emotividade e de tensão. O confronto entre partidários e adversários da tese de atentado dura até hoje.
(Augusto Cid, Comissão de Inquérito do “Caso Camarate”) “O
que nós podemos concluir, hoje em dia, é que, por razões políticas ou razões de Estado, se quiser, se resolveu, na altura, apelidar a tragédia de Camarate de “acidente”.”
(José Manuel Barata Feyo) “Embora os dossiês sejam
complexos, eu penso que o que está em causa, em última análise, aqui, e bem mais do que Camarate “acidente” ou “sabotagem”, é a dignidade das instituições, da Democracia, é a credibilidade do Estado de Direito.”