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Livro - Temas Contemporaneos em Educacao PDF
Livro - Temas Contemporaneos em Educacao PDF
da Educação
Ana Cristina Gipiela Pienta
Curitiba
2014
Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária - Cassiana de Souza CRB9/1501
EDITORA FAEL
Gerente Editorial Denise Gassenferth
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Revisão Ieda Maria Janz Woitowicz
Revisão Técnica Ieda Maria Janz Woitowicz
Diagramação Katia Cristina Santos Mendes
Capa Katia Cristina Santos Mendes
Imagem capa Shutterstock.com/horoscope
Sumário
Apresentação | 5
1.1 Multicultuarismo | 9
Referências | 279
Apresentação
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1
Temas contemporâneos
da educação
Luciana de Luca Dalla Valle
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1.1
Multiculturalismo
isso acabaram formando uma diversidade cultural que veio a ser uma das
maiores características da população deste país. Dessa forma, temos no Brasil
um exemplo de multiculturalismo, que se reflete na educação, visto que as
escolas acolhem alunos de diferentes culturas, que convivem lado a lado, o
que possibilita afirmar que o multiculturalismo é a base da escola e portanto,
um tema presente nas escolas brasileiras.
Porém, ao olharmos com apuro para o tema, podemos destacar alguns
pontos e aumentar a reflexão: primeiro: a relação entre diferentes culturas não
é tão harmônica no campo escolar (que em última instância reflete também
os interesses, valores e necessidades da sociedade em que se insere) e segundo
tema multiculturalismo é relativamente novo no universo da escola, como
objeto de estudo como afirma Fleuri, p.123
O debate sobre as relações multiculturais e interculturais na educação
e nos movimentos sociais é bastante recente no Brasil, [...] trata-se de
um debate complexo, em que interagem diferentes vertentes teóricas
e políticas e em que é preciso manter o foco sobre a especificidade das
relações culturais em nosso contexto brasileiro.
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Multiculturalismo
1.2 Inclusão
Não há como tratar o tema educação contemporânea, sem uma
abordagem que contemple a inclusão. O termo inclusão remete à ideia de um
processo social em que
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Educar com tecnologia, sob este ponto de vista, indica que as mudanças
que podem acontecer com a inserção da tecnologia na escola, não dependem
somente do recurso em si, mas sim do que o recurso pode proporcionar ao
processo de ensino-aprendizagem.
Com relação a isso, Gadotti (1994, p. 273), enfatiza que “é preciso
mudar profundamente nossos métodos (de ensinar) para reservar ao cérebro
humano o que lhe é peculiar: a capacidade de pensar, a dominar a linguagem
(inclusive a eletrônica), ensinar a pensar criticamente”.
Concordamos com Demo (1998, p. 33) quando ele afirma que
“reconstruir a forma de ensinar e aprender é o caminho para alcançarmos o
verdadeiro sentido de educação”.
Assim, o desafio que se faz presente à educação não está somente em
aprender a utilizar a tecnologia, como lembrou Moran, como ferramenta de
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Multiculturalismo
ensino, pois não é apenas a sua inserção que deve ser encarada como priori-
tária, e sim a compreensão de que ela pode representar uma nova forma de
ensinar e aprender.
Uma discussão corrente nas escolas da atualidade é a de que é preciso
uma adequação da escola para educar a geração que está interagindo nesse
mundo. Dessa forma, compreendemos porque muitas das práticas educati-
vas desenvolvidas ao longo dos anos tornaram-se obsoletas na medida em
que não respondem mais às necessidades de uma sociedade cujos paradigmas
alteraram-se radicalmente nos últimos anos.
Os desafios de hoje residem em criar e avançar a infraestrutura e os ser-
viços educacionais necessários para colocar a educação em um patamar mais
próximo e condizente com os avanços. O desenvolvimento social exige que
a escola ofereça uma formação sólida, ampla e profunda de seus membros.
Alves (2001), ao citar a escola da Ponte, que visitou em Portugal,
corrobora a visão de repensar a função da escola, o que ela ensina e de
que forma o faz, apontando para o caminho da reconstrução na forma de
educar, sob sua ótica: centrar o ensino no aluno, em suas expectativas,
projetos, ambições:
[...] naquela escola o currículo não é o professor, mas o aluno. A edu-
cação mais do que um caminho é um percurso – e um percurso feito à
medida de cada educando e, solidariamente partilhado por todos [...],
Parece simples e até romântico? Parece, mas funciona. [...]para imensa
surpresa dos observadores mais desprevenidos, o que aconteceu na
Escola da Ponte, significou uma verdadeira “revolução coperniana”
no modo como os professores se posicionam diante dos alunos e os
alunos diante dos professores” (ALVES, 2002, p. 17-18).
Esse autor descreve, a começar pelo título de seu livro A escola que sem-
pre sonhei sem imaginar que pudesse existir, que a reconstrução da escola, até
imaginariamente utópica, pode ser sonhada sob alguns pontos de vista, e que o
sonho é possível e traz resultados, como verificado na “Escola da Ponte”.
Se recorrermos a um dicionário para definir o verbete escola, teremos:
“estabelecimento de educação, público ou privado, no qual o ensino, geral ou
especializado, é ministrado de forma coletiva e segundo uma planificação sis-
tematizada; conjunto dos alunos, professores e pessoal auxiliar de um desses
estabelecimentos; edifício onde funciona um desses estabelecimentos”.
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Multiculturalismo
Síntese
Ao longo das páginas anteriores, tratamos de temas que estão
fortemente presentes na educação brasileira: multiculturalismo, inclusão, as
questões de gênero e sexualidade e a necessidade de formação continuada do
professor. Como explicitamos no início, apenas a leitura deste documento
não abrange a totalidade dos temas e sim, fortalece a necessidade de estudo
e reflexão por parte dos profissionais da escola acerca de temas educacionais
contemporâneos, vivenciados nas escolas onde desenvolvemos nossos
trabalhos educativos.
Tivemos o cuidado de, ao longo do desenvolvimento dos assuntos,
alinhavarmos de alguma maneira a questão da responsabilidade do profissional
professor por cada um desses temas. Não que estejamos, com isso, querendo
culpar o professor por essa ou aquela situação, por que verdadeiramente não há
culpados, mas sim, esperamos lembrar a cada profissional a responsabilidade
do ato educativo e a necessidade de a escola ser, mesmo num mundo tão
moderno e tecnológico, um espaço de aprendizagem que possa ressignificar o
mundo de muitos alunos.
Como destaca Becker (2001, p. 32)
para enfrentar esse desafio o professor deveria responder a seguinte
questão: que cidadão ele quer que seu aluno seja? Um indivíduo dócil,
subserviente, cumpridor de ordens sem questionar o significado das
mesmas, ou um indivíduo pensante, crítico, operativo, que perante
uma nova encruzilhada para e reflete, perguntando-se pelo significado
das suas ações futuras?
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2
Educação na atualidade:
multiculturalismo,
diversidade étnica-racial
e de gênero e inclusão
estar em constante formação sobre essas temáticas, para que não sejam
também responsáveis pela manutenção de preconceitos que a dinâmica
social vai produzindo em seu cotidiano.
Dada a importância de tornarmos frequente e contínua a discussão
sobre a garantia do respeito a todos os indivíduos, vale relembrar os dois
primeiros artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, importante
documento que norteia as políticas públicas em relação aos cidadãos e cidadãs:
Artigo I: Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e
direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação
umas as outras com espírito de fraternidade.
Artigo II: Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as
liberdades estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer
espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, política, opinião
pública ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza,
nascimento, ou qualquer outra condição. (ONU, 1948)
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2.1
Gênero e Cultura
(Maria de Lourdes Mazza de Farias)
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Gênero e Cultura
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Gênero e Cultura
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Gênero e Cultura
Sugestão de Leitura
No artigo “As duas Fridas: história e identidades transculturais”
foi feita uma análise do filme Frida (2003), dirigido por Julie
Taymor e protagonizado por Salma Hayek, que tem como tema
a relação amorosa entre o muralista Diego Rivera e a pintora Frida
Kahlo. Não se trata absolutamente de uma biografia fílmica, a
película enfoca apenas uma etapa da vida da pintora. De um
lado, são feitas algumas comparações com o filme mexicano
Frida, natureza viva (1983), de Paul Leduc, para contrastar
as diferentes visões dos acontecimentos de uma mesma vida,
por exemplo, com relação à política sexual. Por outro lado,
explora-se até que ponto o polêmico filme de Taymor é
histórico, baseado na realidade, ou uma história contada pela
imagem e pelo som a partir de uma biografia escrita.
BARTRA, E.; MRAZ, J. As duas Fridas: história e identidades
transculturais Rev. Estud. Fem., v. 13, n. 1, 2005, p. 69-79.
No livro O segundo sexo, Simone de Beauvoir (1970) afirma que não era a
natureza feminina que limitava as mulheres, tornando-as seres inferiores, mas,
sim, um conjunto de preconceitos, costumes e leis arcaicas das quais elas eram
mais ou menos cúmplices, e podemos dizer que ainda o são em grande medida.
As ideias feministas, em que pesem suas várias interpretações, desencadeiam um
processo de crise no interior de partidos e organizações de esquerda, de ques-
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Gênero e Cultura
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Gênero e Cultura
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Temas Contemporâneos da Educação
Síntese
A intenção do texto não é fazer uma exaustiva revisão bibliográfica,
tampouco um estudo de gênero no Brasil, mas refletir sobre essas relações
entre nós, se há indicadores de novas formas de relações, novas formas de
pensar a política e definir espaços de participação. Apesar da ênfase no
universo feminino, tratamos o gênero em sua dimensão relacional, dinâmica,
em transformação, por entendermos que homens e mulheres são forjados
socialmente. Portanto, gênero não é nascer macho ou fêmea, mas se refere
às construções culturais e históricas, às representações que a sociedade faz do
masculino e do feminino.
Optamos pelo caminho das mudanças cotidianas: o momento da
ruptura, o da solidariedade e o da competição, que divide mulheres e
homens. As mulheres fazem um diagnóstico amargo sobre a hierarquia nas
qualificações masculinas e femininas: entre o trabalho das carregadoras de
piano e o efeito do discurso, na maioria das vezes, feito por outro em seu
nome. Enfim, é uma contribuição para que possamos discutir as relações de
gênero, que são tão essenciais à medida em que sensibilizam não só a nossa
vida, as nossas relações, mas alguns temas, ideias e palavras que as significam,
que muitas vezes têm um significado ambíguo e até contraditório na história
da cultura humana, como identidade, igualdade e diferença.
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2.2
Gênero, uma
construção social
(Maria de Lourdes Mazza de Farias)
3 A esse respeito, ler o texto: LOURO, G. L. Nas redes do conceito de gênero. In:
LOPES, M. J. M.; MEYER, D. E.; WALDOW, V. R. Gênero e saúde. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1996.
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Gênero, uma construção social
6 Lembramos que as pessoas podem ser homossexuais, heterossexuais, bissexuais, podem viver
a sua sexualidade de diversas formas, ao mesmo tempo em que podem ser de uma ou outra
classe, negras, brancas ou índias. O que significa dizer que as pessoas são atravessadas por várias
e múltiplas identidades.
7 Louro destaca que “desconstruir a polaridade rígida dos gêneros significaria problematizar
tanto a oposição entre eles quanto a unidade interna de cada um. Implicaria observar que o
polo masculino contém o feminino (de modo desviado, postergado, reprimido) e vice-versa;
implicaria também perceber que cada um desses polos é internamente fragmentado e dividido”
(1997, p. 32).
8 Berman (1996, p. 23) questiona: “o que aconteceu, no século XX, ao modernismo do
séc. XIX? A modernidade é um vir a ser, uma aventura a que estamos predestinados desde o
início dos tempos?”. O pós-modernismo, para o autor, se esforça para cultivar a ignorância da
história e da cultura moderna e se manifesta como se todos os sentimentos humanos, toda a
expressividade, atividade, sexualidade, subjetividade, etc. acabassem de ser inventados pelos(as)
pós-modernos(as) – e fossem desconhecidos, ou mesmo inconcebíveis, até a semana passada.
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2.2.2.1 Família
A família é um lugar fundamental de reprodução de relações sexistas.
É no seio da família que os meninos e meninas recebem uma educação
diferenciada, aprendendo diferentes papéis. O menino aprende a ser agressivo,
racional, seguro, independente, frio, forte e polígamo, características
identificadas à masculinidade. A menina aprende a ser dócil, emocional,
insegura, dependente, frágil, bela e monógama, símbolos da feminilidade. A
divisão do trabalho entre os pais de acordo com o sexo também reforça essa
identificação, uma vez que os homens não são socializados para a vida no lar.
A questão do desemprego é um exemplo interessante. A mulher pode, entre
aspas, ficar desempregada sem culpa, afinal, ela volta ao lar, onde é “o seu
lugar”, e ainda pode aproveitar para ter mais um filho.
Atualmente, sabemos que a família monogâmica aparece em cena com a
finalidade primeira de procriar filhos de paternidade incontestável. Portanto,
a monogamia não surge na história como uma espécie de reconciliação
entre o homem e a mulher, e menos ainda como a forma mais elevada de
família. Comparece em cena sob a forma da sujeição de um sexo ao outro, da
proclamação de um conflito entre os sexos até aquele momento desconhecido
na história. A primeira opressão de classe manifesta-se com a opressão do sexo
feminino por parte do masculino (ENGELS, 1984).
Os historiadores têm observado que a tendência a relegar a mulher
ao espaço privado data do final do século XVIII. Na Europa, a Revolução
Francesa impulsiona essa evolução nas relações entre os homens e as mulheres
e na concepção de família, “[...] porque a revolução tinha demonstrado os
resultados possíveis (e o perigo para os homens) de uma inversão da ordem
‘natural’” (HUNT, 1995, p. 51). Contudo, é no século XIX que as mulheres
são relegadas à esfera privada de uma forma bem mais profunda. Cada gênero
era diferenciado por natureza, e por isso com características muito próprias.
A mulher, então considerada muito frágil pela sua natureza, devia ser
protegida do mundo público e, assim, foi convertida no símbolo do privado;
cumpridora de seus deveres familiares, cuidando do marido e dos filhos,
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9 Sobre o assunto, ver: História social da criança e da família (ARIÈS, 1991). Nessa obra,
o autor desenvolve o quadro de transformação pelo qual foi passando a criança e a família.
Outra leitura fundamental, também sobre esse tema, é O sexo e o ocidente (FLANDRIN, 1988),
especificamente o capítulo 3.
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Sugestão de Leitura
O texto “Corporalidade e desejo: tudo sobre minha mãe e o
gênero na margem” analisa o filme Tudo sobre minha mãe, do cine-
asta espanhol Pedro Almodóvar, que enfoca a personagem travesti
Agrado. Depois de uma comparação com outros filmes que abor-
dam o fenômeno transgênero, é feita uma discussão em torno da
noção de corporalidade e da construção do sujeito, dialogando,
sobretudo, com as teorias do corpo da etnologia ameríndia brasileira.
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O ser humano tem um potencial enorme para a diferença, que não pode
fazer parte de uma criação em diferenciada, pois isso gera uma dualidade
de pensamento que violenta, desde a mais tenra idade, tanto meninas
como meninos.
2.2.2.2 Escola
Depois da família, a escola é o lugar mais importante de socialização
da criança, é a primeira experiência de relações fora do círculo familiar. Pela
influência que a escola exerce sobre a pessoa, é importante compreendermos
o papel que ela desempenha no reforço ao sexismo, porque nela se transmitem
valores da cultura, da sociedade, pois o mesmo esquema hierárquico
(autoritário-burocrático) da sociedade é o que informa a escola.
O sexismo aparece logo que se faça uma análise, mesmo que superficial,
na conformação do espaço/tempo, no tipo de ensino, nos textos e livros
didáticos, nas atividades, na divisão do trabalho, nas relações de trabalho, nas
relações professor (a) e alunos(as), nos jogos.
Há uma resistência em relação às questões que dizem respeito à sexuação,
especialmente no ensino fundamental e na educação infantil, em que a teia de
representações de identidades de gênero na constituição da infância se estabelece,
é duradoura e define valores, comportamentos e atitudes na vida da pessoa. É
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Temas Contemporâneos da Educação
Não vamos nos aprofundar nas questões religiosas, pois o importante aqui
é destacar que a Igreja também cumpre um importante papel no reforço ao
sexismo, à visão de mulher “santa” ou “prostituta”. Não foi à toa que o movimento
feminista adotou algumas palavras de ordem como “nem santas nem prostitutas,
agora somos mulheres” ou “as boas vão para o céu, as más a qualquer parte”.
Apesar de a escola ser um ambiente propício à troca, são raras as iniciativas
que têm proporcionado aos (às) alunos(as), por meio de debates, conversas,
jogos e brincadeiras em sala, momentos de reflexão sobre a sexualidade, suas
relações, seus conflitos e contradições. No entanto, a escola tem sido chamada
a intervir, pois os alunos cada vez mais expõem suas questões, suas dúvidas.
Porém, muitas vezes, essa forma de intervenção é conservadora, calcada na
reprodução, enfocando apenas o corpo biológico, descolado de sua dimensão
social, cultural, afetiva, em que se prende efetivamente esse corpo.
Enguita (1989) argumenta que as acusações, sem dúvida justas,
que podem ser feitas contra a educação formal, se dão no sentido de que
contribuem para reproduzir o sexismo – através do conteúdo do ensino,
dos estereótipos presentes na interação informal, da orientação escolar e
profissional indicada por preconceitos de gênero, etc. Isso não deve ocultar
o fato de que, com a generalização da educação, o espaço cotidiano das salas
de aula, provavelmente, tem sido o cenário em que menos se discriminam as
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Síntese
De que maneira abordar um campo que pretende conhecer, compreender
e transformar as relações existentes entre homens e mulheres, mulheres e
mulheres homens e homens? É necessário, inicialmente, criar ou reforçar
nas instituições as instâncias que elaboram propostas políticas de atuação
sobre as relações de gênero. Esse é um instrumento fundamental para que se
possam criar bases sólidas de argumentação em defesa das questões trazidas
pelas relações desiguais entre os gêneros e que mantenham um processo
permanente de produção dessas políticas.
Estamos em um momento de grande avanço em relação às questões que
abordam as discriminações. No que tange à questão do sexismo, da opressão
e discriminação baseada no sexo/gênero, é importante o fortalecimento da
solidariedade entre as trabalhadoras, ampliando o leque de resistência às
posturas sexistas dentro do movimento sindical. Isso não significa criar
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2.3
Relações étnico-raciais e
diversidade na escola
(Claudemira Vieira Gusmão Lopes)
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2.3.2 Indígenas
A denominação índio ou indígena, dada aos povos que habitavam o Brasil
desde a invasão dos europeus, persiste até a data de hoje. De uma maneira
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deixou de ser pejorativo e hoje serve para enaltecer os membros das mais
diversas etnias existentes no Brasil.
Sobre esse assunto, Luciano (2006, p. 28) esclarece que:
Com o surgimento do movimento indígena organizado a partir da
década de 1970, os povos indígenas do Brasil chegaram à conclu-
são de que era importante manter, aceitar e promover a denomi-
nação genérica de índio ou indígena, como uma identidade que
une, articula, visibiliza e fortalece todos os povos originários do
atual território brasileiro, e principalmente para demarcar a fron-
teira étnica e identitária entre eles, enquanto habitantes nativos
e originários dessas terras, e aqueles com procedência de outros
continentes, como os europeus, os africanos e os asiáticos. A partir
disso, o sentido pejorativo de índio foi sendo mudado para outro
positivo de identidade multiétnica e de todos os povos nativos
do continente.
Saiba mais
Etnogênese é um termo referente a um fenômeno que vem
acontecendo no Brasil desde a última década do século XX.
Os povos indígenas, devido a pressões políticas, religiosas ou
econômicas, foram forçados a esconder seus costumes tradicio-
nais e a negar suas identidades tribais, na tentativa de amenizar
o preconceito e a discriminação de que eram vítimas. Hoje,
muitos desses povos estão reassumindo e recriando suas tra-
dições, fenômeno chamado de etnogênese ou reetinização
(LUCIANO, 2006).
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da língua, dos trajes e das suas profissões tradicionais, como a feira, além da
apropriação legal dos seus bens e mercadorias.
Dessa forma, a etnia dos primeiros ciganos que chegaram ao Brasil
deportados de Portugal, ainda no século XVI, era, em sua maioria, “Calon”
(MARSIGLIA, 2008). Essa deportação sistemática para o Brasil, na mesma
época da escravização dos africanos, reservou aos ciganos um novo lugar
social, e, pela primeira vez na história, eram os negros, e não os ciganos,
que ocupavam o nível mais baixo na hierarquia colonial brasileira (MELLO;
SOUZA; COUTO, 2004).
Não obstante, nem todos os ciganos chegaram de forma compulsória, os
Rom, por exemplo, vieram para o Brasil por vontade própria a partir da segunda
metade do século XIV. Para sobreviver, praticavam o comércio ambulante de
escravos, cavalos e artesanatos (MARSIGLIA, 2008). Quanto à sua inserção na
sociedade brasileira, Mello, Souza e Couto (2004, p. 3) afirmam que:
No Brasil, os ciganos gradualmente foram se incorporando à socie-
dade local, entre os brancos de classe baixa, diluindo fronteiras étnicas
e culturais. Não tiveram dificuldades em encontrar ocupação, par-
ticipando de atividades tanto da vida urbana quanto do comércio
interprovincial, sobretudo aquelas ligadas ao tráfico de escravos e de
animais de montaria.
Essa facilidade para encontrar ocupação no Brasil pode ter sido um dos
fatores responsáveis por estimular a vinda voluntária de outros ciganos para o
nosso país. Recentemente, em 1990, depois da queda do muro de Berlim, veio
para o Brasil um grupo de ciganos oriundo do Leste Europeu (MARSIGLIA,
2008), para se somar aos 500 mil que aqui vivem, de acordo com Pereira (2009).
Há divergências com relação a esse número, que, segundo estimativas, é possível
que esteja entre 800 mil a 1 milhão de pessoas. Pelo menos, é que nos informa
a Agência Brasil de Notícias, que vem publicando uma série de reportagens
especiais em comemoração ao dia 24 de maio, Dia Nacional do Cigano. Ivonete
Carvalho, da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Seppir):
[...] estima que a população cigana, no Brasil, ultrapasse os 800 mil,
uma vez que a cultura nômade ainda persiste em muitas comunidades.
Estima-se ainda que 90% dessa população sejam analfabetos.
O Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) constatou a existência de acampamentos em 291 dos 5.565
municípios brasileiros. “Precisamos verificar agora a quantidade
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Saiba mais
Entre os ciganos se pratica educação
Na página do Centro de Estudos e Resgate da Cultura Cigana
(Cerci), é possível descobrir o que estão fazendo pela educa-
ção e saúde de pessoas dessa etnia. A Cerci atua em parceria
com outras instituições, como o Coletivo de Ciganos Calon do
Brasil (CCB), a Associação de Preservação da Cultura Cigana
(Apreci), a Associação Brasileira de Ciganos, a União Cigana
do Brasil, a Defensoria Pública e o Governo Federal. Disponível
em: <http://www.fundodireitoshumanos.org.br/viewConteu-
doOut.no-filter?pager.offset=0&catTipo=PRO&conID=118&l
wYEAR=2009>.
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Saiba mais
A Rádio Senado produziu o maior radio-documentário sobre os
povos ciganos do país, realizado pelos jornalistas da rádio que, para
tanto, visitaram comunidades ciganas em seis estados brasileiros. O
programa O povo cigano no Brasil está disponível para transmissão
por todas as rádios não comerciais do país. O conteúdo pode
ser acessado pelo seguinte endereço: <http://www.arpub.org.br/
inscricao/index.php?option =com_content&view=article&id=9:o-
povo-cigano-no-brasil&catid=1:radiodocumentario&Itemid=1>.
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Qual a cor das mulheres brasileiras que se enquadram nas mais altas taxas de
mortalidade por falta de atendimento, com recorte étnico à saúde e, por fim,
qual a cor e a idade mais frequentes nas vítimas de assassinato em nosso país?
É possível encontrar dados estatísticos que respondem muitas das per-
guntas que fizemos (www.ibge.gov.br). Todavia, essas perguntas não param
por aí. Respondê-las implica uma profunda reflexão sobre a origem do
racismo e da discriminação praticados hoje no Brasil contra negros, indíge-
nas, ciganos, homossexuais e tantos outros. Implica também perceber que
essas questões constituem a base de uma estrutura profundamente desigual,
as quais devem ser discutidas em todos os espaços possíveis, notadamente na
escola, reconhecida na sociedade contemporânea como espaço social em que
se constroem identidades pessoais e sociais, objetivando a formação integral
do ser humano. Uma formação a partir da valorização das questões de gênero,
étnico-raciais, religiosas e multiculturais, em especial no que diz respeito à
contribuição das culturas negra, indígena, cigana e outras para a formação da
sociedade brasileira.
Esses dados também nos permitem inferir que a democracia racial no Brasil
é um mito que precisa ser desconstruído. Além disso, o racismo e o preconceito
brasileiro contra negros, indígenas e outras etnias é uma construção histórica,
oriunda de uma sociedade colonialista (ROMÃO, 2005). É importante
destacar que os negros e indígenas resistiram bravamente contra as iniquidades
que sofreram por meio de estratégias como formação de quilombos e diversas
revoltas. Com isso, ajudaram a construir a democracia nesse país.
Neste momento, cabe a pergunta: qual o papel da escola nesse processo
de desconstrução do mito da democracia racial, visando à promoção da
igualdade racial? No nosso entendimento, o papel histórico da escola é
muito importante nesse processo todo, pois ela pode ser um espaço de
construção de uma sociedade mais democrática, além de ser o principal
instrumento de ascensão social da classe trabalhadora e de construção de
uma sociedade civil forte.
Sugestão de Leitura
Fala-se sobre mito da democracia racial porque essa questão
reforça a ideia equivocada de que as relações estabelecidas
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Relações étnico-raciais e diversidade na escola
Saiba mais
Visitando a página A cor da cultura, através do endereço
<http://www.acordacultura.org.br/>, nas abas: “O projeto”;
“Kit a cor da cultura”; “Artigos”, será possível retomar e refletir
acerca da questão da discriminação e do preconceito.
– 93 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 94 –
Relações étnico-raciais e diversidade na escola
– 95 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 96 –
Relações étnico-raciais e diversidade na escola
– 97 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 98 –
Relações étnico-raciais e diversidade na escola
Da teoria à prática
O texto “Morte e violência. Um debate sobre a discriminação
contra os índios” trata-se de uma entrevista com o antropólogo
e padre jesuíta Aloir Pacini, concedida por e-mail para a IHU
– 99 –
Temas Contemporâneos da Educação
Síntese
A forma como os indígenas e os negros foram submetidos ao processo
de colonização pelo europeu deixou profundas sequelas na sociedade
brasileira. Entretanto, a história tradicionalmente ensinada nas escolas não
considera as contribuições dos negros e dos índios, além de colocá-los
em posições de subserviência e inferioridade. Isso tem promovido relações
étnico-raciais desiguais.
– 100 –
2.4
Inclusão: ensinando
e aprendendo na
diversidade
(Dinéia Urbanek e Paulo Ricardo Ross)
– 102 –
Inclusão: ensinando e aprendendo na diversidade
docentes devem ser remunerados com gratificação especial por sua ocupação
com pessoas que apresentam deficiências (SKLIAR, 1997, p. 40).
Ainda que se pregue hoje a exigência de libertação das pessoas com
deficiência, do cárcere da segregação ou mesmo da reclusão, tal cárcere
é mantido com relação às suas atitudes e decisões. À vida dessas pessoas é
reservado um destino funesto, a negação da alteridade é expressa a partir da
exigência de que sejam pacatas, normais, saudáveis e adequadas às melhores
relações sociais.
A sociedade atual proclama a liberdade e a igualdade como bases para
legitimar os empreendimentos capitalistas. O emprego das forças de trabalho
alimentam a ilusão e o sonho do enriquecimento, da ascensão social, tornando
as pessoas resignadas com o sofrimento, com a subserviência, o que evidencia
a desqualificação engendrada no próprio processo de trabalho.
As pessoas com deficiência eram consideradas, a priori, inferiores,
incapazes, indignas para travar as lutas pela liberdade, mas não lhes era
conferido um lugar digno para usufruírem dos benefícios humanos. Elas
constituíam a negação, a marginalidade, a invisibilidade. Eram negadas e
excluídas por fragilidade, empecilho aos propósitos de se formar uma sociedade
harmonicamente funcional. Elas não eram tomadas como sujeitos merecedores
de investimento de recursos e de atenção da sociedade para garantir-lhes a
promoção da vida, o compartilhar dos afetos e saberes humanos.
Assim, não basta concentrarmos todos os esforços em um diagnóstico
precoce, tratamento médico, reabilitação profissional e social dessas pessoas
se não provocarmos mudanças na esfera do trabalho, na pesquisa científica
e tecnológica, nas práticas educacionais e formativas, nas relações familiares
e humanas em geral. Hoje alguns campos da ciência e da atividade humana
se voltam para a seguinte questão: quais são os melhores procedimentos para
acolher a pessoa com deficiência?
Nesse momento, as políticas inclusivas proclamam o seguinte princípio:
toda pessoa tem o direito de ser ouvida, isto é, manifestar suas necessidades,
preferências, aspirações e fazer escolhas, tomando decisões e participando em
todos os projetos que afetem direta ou indiretamente suas vidas. Mas, para
obter o resultado de suas decisões, é necessário o segundo princípio: toda
pessoa tem o direito de usufruir do acesso aos ambientes, às ações, às práticas
culturais, econômicas e políticas que se organizam socialmente.
– 103 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 104 –
Inclusão: ensinando e aprendendo na diversidade
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Temas Contemporâneos da Educação
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Inclusão: ensinando e aprendendo na diversidade
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Temas Contemporâneos da Educação
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Inclusão: ensinando e aprendendo na diversidade
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Temas Contemporâneos da Educação
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Inclusão: ensinando e aprendendo na diversidade
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Temas Contemporâneos da Educação
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Inclusão: ensinando e aprendendo na diversidade
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Temas Contemporâneos da Educação
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Inclusão: ensinando e aprendendo na diversidade
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Temas Contemporâneos da Educação
– 116 –
Inclusão: ensinando e aprendendo na diversidade
Saiba mais
Em Portugal, há uma escola na qual não existem turmas sepa-
radas por idade ou grau de escolaridade, nem lugar fixo ou
sala de aula. Os alunos, organizados em pequenos grupos com
interesse comum, reúnem-se com o professor em grandes gal-
pões e desenvolvem programas de trabalho de quinze dias.
Avaliam o que aprendem e formam novos grupos. Saiba mais
acessando o site <http://www.escoladaponte.com.pt>.
– 117 –
Temas Contemporâneos da Educação
principal interessado e responsável por seu destino, esse direito que esteve na
mão dos especialistas durante décadas.
Outro aspecto a ser considerado é o de que as pessoas com deficiência
têm o direito de receber atendimento complementar, caso seja necessário.
A legislação prevê que é dever da rede pública de ensino oferecer
acompanhamento pedagógico aos alunos com deficiência que apresentarem
dificuldades de aprendizagem, sempre no período contrário ao das aulas na
classe regular. A ideia é manter abertas as escolas especiais e ressignificá-las
nessa tarefa. Assim, dentro do novo contexto da educação inclusiva, o papel
dessas escolas passa a ser, também, o de oferecer serviços complementares na
área pedagógica e/ou da saúde.
O processo de cooperação e organização deve respeitar as necessidades de
cada um, assim como de todo o grupo, sendo uma negociação aberta e dinâmica,
na qual o aluno se sente responsável e participante. Dessa forma, a ressignificação
compreende não só o atendimento especializado, a escola especial é o lugar onde
há preocupação com a prevenção, com a prestação de serviços no contexto da
educação regular, capaz de proporcionar aos alunos independência, autonomia e
empoderamento, com objetivos educacionais de caráter funcional.
Objetivamente, podemos concluir que os fatores elencados a seguir devem
estar presentes e que são essenciais para que a educação inclusiva ocorra:
ÙÙ flexibilidade no sistema educativo;
ÙÙ ensino e aprendizagem cooperativos;
ÙÙ projeto político-pedagógico coerente com a legislação do país;
ÙÙ gestão escolar defensora da política de inclusão;
ÙÙ sistema de avaliação processual do aluno sem retenção;
ÙÙ boa relação entre escola, família e comunidade;
ÙÙ diferenciação pedagógica a quem precisar;
ÙÙ atitudes solidárias, de respeito e de aceitação por parte do professor;
ÙÙ plano específico de ação para a sala de aula;
ÙÙ formação de professores;
– 118 –
Inclusão: ensinando e aprendendo na diversidade
Dica de Filme
– 119 –
Temas Contemporâneos da Educação
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Inclusão: ensinando e aprendendo na diversidade
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Temas Contemporâneos da Educação
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Inclusão: ensinando e aprendendo na diversidade
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Temas Contemporâneos da Educação
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Inclusão: ensinando e aprendendo na diversidade
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Inclusão: ensinando e aprendendo na diversidade
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Temas Contemporâneos da Educação
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Inclusão: ensinando e aprendendo na diversidade
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Temas Contemporâneos da Educação
Síntese
Vimos neste capítulo que a diversidade tem se configurado um elemento
essencial para o novo milênio, provocando mudanças significativas na
sociedade, embora ainda encontremos pessoas com deficiência sofrendo com
atitudes discriminatórias, evidenciando-se, assim, a falta de acesso à educação,
ao trabalho, à saúde e ao lazer. A educação inclusiva apresenta, como uma
de suas alternativas, a articulação de um mundo diferente que possibilite
mudanças significativas. A figura do professor assume maior responsabilidade
nesse processo, ainda que muitas vezes seja vítima de uma história excludente.
Vimos, ainda, que devem ser levados em conta os interesses, habilidades,
potencialidades e necessidades de cada aluno, criando condições para que
possam usufruir da comunidade da qual fazem parte.
– 130 –
3
Educação, trabalho e
cidadania
– 132 –
Educação, trabalho e cidadania
– 133 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 134 –
3.1
Mundo do trabalho e
educação
(Ana Lorena Bruel)
– 136 –
Mundo do trabalho e educação
– 137 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 138 –
Mundo do trabalho e educação
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Temas Contemporâneos da Educação
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Mundo do trabalho e educação
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Temas Contemporâneos da Educação
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Mundo do trabalho e educação
– 143 –
Temas Contemporâneos da Educação
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Mundo do trabalho e educação
Dica de Filme
O filme intitulado O nome da Rosa, baseado no romance
do mesmo nome, de Humberto Eco, apresenta uma história
fictícia desenrolada durante a Idade Média e envolve uma
trama de assassinatos ocorridos em um mosteiro beneditino.
O enredo apresenta alguns dos embates ideológicos entre
– 145 –
Temas Contemporâneos da Educação
Saiba mais
O termo burguês refere se ao habitante do burgo, da cidade,
que sobrevivia do trabalho com o comércio. Para conhecer mais
sobre esse período histórico e os demais períodos analisados
neste capítulo, o leitor pode buscar elementos para aprofundar a
reflexão com a leitura da obra História da riqueza do homem, de
Leo Hubermman (1986). Esse livro proporciona uma viagem pela
história da humanidade, com uma linguagem acessível e envolvente.
– 146 –
Mundo do trabalho e educação
– 147 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 148 –
Mundo do trabalho e educação
– 149 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 150 –
Mundo do trabalho e educação
ção dos homens sempre que busca a construção de uma consciência verdadeira,
através da qual o homem não se adapte simplesmente à realidade, mas princi-
palmente, resista a ela.
A escola é uma organização social de grande importância para o mundo
capitalista, sobretudo porque participa ativamente dos processos de formação
e conformação humana ao modelo de sociedade dominante. A escola como
instituição destinada a ensinar conhecimentos válidos para a vida cotidiana,
formando sujeitos para o convívio social e o trabalho, é uma necessidade
imposta pela sociedade capitalista moderna.
A ascensão do capitalismo e a consequente ampliação dos processos
de produção em massa, a industrialização e a urbanização tornaram neces-
sário um tipo de formação da população que a integrasse ao novo modelo
de sociedade, aos novos padrões de produção e de consumo, aos valores
mercantis que se tornavam paulatinamente predominantes. A educação no
e pelo processo de trabalho continuava existindo, mas já não era suficiente
para atender às demandas do novo modelo de produção.
A escolarização passou a ser compreendida, de um lado, como possibili-
dade de difusão da linguagem escrita, extremamente necessária à sociedade con-
tratual que se estabelecia em contraposição ao modelo baseado no direito here-
ditário e verbal, característico do período medieval; e de outro, como instru-
mento de consolidação dos elementos necessários ao modo de vida capitalista.
Sugestão de Leitura
FRIGOTTO, G. Educação e a crise do capitalismo real. São
Paulo: Cortez, 1995.
No livro, o autor incorpora traços relevantes da Teoria do Capi-
tal Humano, redimensionados com base na sociedade capita-
lista. Busca, ainda, destacar a visão reducionista de desenvolvi-
mento e os contextos históricos em que se formula a teoria do
capital humano e as noções de sociedade do conhecimento,
pedagogia das competências e de empregabilidade.
– 151 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 152 –
Mundo do trabalho e educação
Continuidade
CAPITA-LISMO do
capitalismo
FASE DO
Neoliberal Estado
Bemestar social
Liberal clássico. Monopolista. (Estado mínimo
(Estado forte).
mínimo). ou forte?
Crise do
petróleo da
Grande concen- década de 1970.
tração de capital Crise
Ascensão da econômica da Nova
substituindo a
ORIGEM À MUDANÇA
burguesia e
CONTEXTO QUE DEU
– 153 –
Temas Contemporâneos da Educação
Concentração Planejamento
Estado
do capital e macroeco-
mínimo,
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Síntese
Este capítulo apresentou definições conceituais para os termos educação
e trabalho, indicando sua relação com o processo de produção de cultura.
Demonstramos o processo de consolidação do modo de produção capitalista,
situando o historicamente, em contraposição aos modelos produtivos que o
antecederam. Concluímos o capítulo apresentando as características gerais
das etapas de desenvolvimento do capitalismo.
– 154 –
3.2
O trabalho como
princípio educativo
– 156 –
O trabalho como princípio educativo
epistêmicas das nossas perguntas estão inscritas no avesso dos conceitos que
utilizamos para lhes dar resposta.” (SANTOS, 1988, p. 47). Isso marca o
fim de um período hegemônico da ciência moderna, que durante os últimos
quatrocentos anos tem naturalizado a explicação da realidade.
O rigor científico, porque fundado no rigor matemático, é um rigor
que quantifica e que, ao quantificar, desqualifica, um rigor que, ao obje-
tivar os fenômenos, os objetualiza e os degrada, que, ao caracterizar os
fenômenos, os caricaturiza. [...] o conhecimento ganha em rigor o que
perde em riqueza e a retumbância dos êxitos da intervenção tecnológica
esconde os limites da nossa compreensão do mundo e reprime a per-
gunta pelo valor humano (SANTOS, 1988, p. 58).
– 157 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 158 –
O trabalho como princípio educativo
– 159 –
Temas Contemporâneos da Educação
Sugestão de Leitura
FORQUIN, J. C. Escola e cultura. As bases sociais e epis-
temológicas do conhecimento escolar. Porto Alegre: Artmed, 1993.
– 160 –
O trabalho como princípio educativo
Na concepção de Martí (apud MÉSZÁROS, 2005), o
objetivo maior da educação é garantir que cada sujeito
tenha acesso ao que a humanidade produziu como
um direito inalienável, para que essa humanidade
possa reviver em cada homem singular. Ou seja, o
reconhecimento da máxima de que o homem se faz
homem implica, necessariamente, no reconhecimento da
importância da educação nesse processo, pois, para fazer
se humano, é imprescindível que cada sujeito se aproprie
individualmente da cultura produzida socialmente.
– 161 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 162 –
O trabalho como princípio educativo
– 163 –
Temas Contemporâneos da Educação
por Saviani (2008) e outra por Paro (2006). As explicações dos dois autores
não são necessariamente excludentes, mas diferentes em alguns aspectos, que
veremos a seguir.
Saviani (2008)720 diferencia o trabalho não material, em que o produto não
se separa do produtor e do processo de produção, daquele tipo de trabalho não
material que permite essa separação, ou seja, não exige um consumo imediato.
No primeiro caso estão as peças teatrais, os concertos orquestrados ao
vivo, os shows de diferentes tipos, as aulas. Na educação, o produto não se
separa do produtor e do processo de produção porque ela exige a presença de
professor e aluno no mesmo espaço e ao mesmo tempo, para que a interação
e a aprendizagem possam se realizar. Ao mesmo tempo em que a aula é
produzida é, também, consumida. Obviamente, o autor trata do ensino
presencial e não do ensino a distância.
No segundo caso, encontramos os livros que podem ser lidos muitos
anos depois de escritos e até mesmo depois da morte de seus autores, as obras
de arte como pinturas e esculturas, as músicas, os filmes, etc.
Paro (2006) apresenta algumas reflexões com o objetivo de problematizar
as definições de Saviani (2008), defendendo que a educação pode se separar
do produtor e do processo de produção, na medida em que se prolonga para
além do momento da aula, nas reflexões e ações de alunos e professores,
provocadas durante a aula. Assim, Paro (2006) retoma a discussão sobre o
objetivo do trabalho educativo, na perspectiva de defender a transformação
do estudante para além dos muros da escola. O autor salienta, ainda, que
o aluno, nesse processo, assume um papel triplo: (co) produtor da aula,
consumidor e objeto do trabalho do professor.
As diferenças entre as explicações apresentadas pelos autores não as tornam
divergentes, ao contrário, ambas as teorizações corroboram a compreensão
da educação como trabalho não material. A partir da compreensão dessa
condição de trabalho não material, ambos os autores defendem a ideia de que
“a especificidade da atividade educativa escolar impede que aí se generalize
7 Essa reflexão pode ser encontrada no texto clássico produzido pelo autor, intitulado:
“Sobre a natureza e a especificidade da educação”, publicado no livro Pedagogia histórico crí-
tica: primeiras aproximações (SAVIANI, 2008).
– 164 –
O trabalho como princípio educativo
– 165 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 166 –
O trabalho como princípio educativo
21 Questão enunciada por Marx no texto intitulado “Teses sobre Feuerbach” (MARX;
ENGELS, 1998).
– 167 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 168 –
O trabalho como princípio educativo
– 169 –
Temas Contemporâneos da Educação
Dica de Filme
O filme A história de Ron Clark – o triunfo relata a história
de um professor que procura enfrentar novos desafios, com
o objetivo de elevar a aprendizagem dos alunos, sobretudo
aqueles estigmatizados pela sociedade. O professor demonstra
grande sensibilidade ao estabelecer relação com os alunos
e consegue resultados amplamente reconhecidos. É uma
história envolvente, que provoca e incentiva a reflexão sobre
a organização do trabalho escolar em múltiplas dimensões.
– 170 –
O trabalho como princípio educativo
– 171 –
Temas Contemporâneos da Educação
Dica de Filme
O filme Entre os muros da escola apresenta situações cotidianas das
relações entre jovens alunos e professores. O filme foi produzido
garantindo espaço para o improviso, o que lhe confere grande grau
de realismo. A trama não pretende apresentar heróis ou experiên-
cias fantásticas de superação das adversidades, mas centra se na
exploração de dilemas atuais e reais sobre o trabalho escolar. É um
filme que privilegia os diálogos e a reflexão.
– 172 –
O trabalho como princípio educativo
Sugestão de Leitura
SNYDERS, G. Alunos felizes. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
– 173 –
Temas Contemporâneos da Educação
Síntese
Neste capítulo, apresentamos a concepção de escola unitária como
perspectiva de superação dos limites do modo de produção capitalista
estudados nos capítulos anteriores. A partir da compreensão do trabalho
como princípio educativo, são estabelecidas possibilidades de organização
das instituições escolares para a promoção de uma educação omnilateral,
politécnica e emancipadora, que considere os alunos como sujeitos históricos.
Glossário
ÙÙ Cartesiano: O termo cartesiano é uma referência ao cientista e
filósofo francês René Descartes (1596–1650) e pode ser utilizado
em diferentes sentidos. O uso mais habitual é feito na matemática
e na geografia em relação ao “plano cartesiano”, sistema de
coordenadas organizado sobre um plano, formando a imagem de
um papel quadriculado. Outra forma de utilizar o termo pode ser
uma referência ao método científico enunciado por Descartes, por
meio do qual se pretende conhecer determinada realidade a partir
da sua subdivisão na menor partícula possível, a fim de proceder
à análise das partes e posteriormente reagrupá-las. Essa ideia está
baseada sobre o fundamento de construção do conhecimento a
partir das questões menos complexas para as mais complexas.
– 174 –
3.3
Cidadania, direitos
humanos e o direito
à educação
– 176 –
Cidadania, direitos humanos e o direito à educação
23 Para conhecer mais sobre esse processo, ver Cury (2007) e Bovero (2002).
24 Ver análises construídas no capítulo 1 desta obra.
– 177 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 178 –
Cidadania, direitos humanos e o direito à educação
– 179 –
Temas Contemporâneos da Educação
durante todo o século XIX. Verifica se que “a igualdade formal perante a lei
beneficia a princípio apenas aqueles cuja independência social e econômica os
habilita a tirar proveito de seus direitos legais [...]” (BENDIX, 1996, p. 135),
deixando a classe trabalhadora em situação de maior precariedade de vida do
que os servos medievais. A igualdade legalmente estabelecida pelos princípios
de cidadania se desenvolve ao mesmo tempo em que as desigualdades de
classe se fortalecem.
No processo de formação de cada Estado nação é possível identificar
movimentos dos diferentes grupos e classes sociais no sentido de reivindicar,
pressionar, negociar com os demais a extensão dos direitos para além das
classes privilegiadas. Nessa dinâmica, percebe-se a importância do direito de
associação (sindical, por exemplo) e de educação formal como fundamentais
para a entrada da classe trabalhadora na política nacional. Trataremos da
questão da educação mais à frente, mas é importante ressaltar que
Esses direitos são também um produto dos processos sociais levados
adiante pelos segmentos da classe trabalhadora, que viram nele um
meio de participação na vida econômica, social e política. Algumas ten-
dências afirmam a educação como um momento de reforma social em
cujo horizonte estaria a sociedade socialista. Para outras tendências, a
educação, própria da classe operária e conduzida por ela, indicava uma
contestação da sociedade capitalista e antecipação da nova sociedade.
– 180 –
Cidadania, direitos humanos e o direito à educação
Sugestão de Leitura
BOBBIO, N. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
– 181 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 182 –
Cidadania, direitos humanos e o direito à educação
dever. Assim, podemos afirmar que o direito à educação não pode ser
isolado do dever de frequentar a escola. Isso nos leva a compreender,
por um lado, o papel do Poder Público na oferta de escolarização para a
população1225 e, por outro, o papel das famílias na garantia de frequência e
permanência das crianças e adolescentes em idade escolar em instituições
de educação e ensino.
A Constituição Imperial brasileira, aprovada em 1824, foi uma das
primeiras no mundo a estabelecer o direito à educação para toda a população1326,
determinando em seu Art. 179 (BRASIL, 1824):
Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos
Brazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a
propriedade, é garantida pela Constituição do Imperio, pela maneira
seguinte.
[...] ddddd
XXXII. A Instrucção primaria, e gratuita a todos os Cidadãos.
– 183 –
Temas Contemporâneos da Educação
27 Constituição Federal
– 184 –
Cidadania, direitos humanos e o direito à educação
Disposição
Ano Conteúdo da legislação em relação à obrigatoriedade e gratuidade
legal
LDB Ensino fundamental obrigatório e gratuito até para os que não tiveram
1996 acesso na idade própria, com, no mínimo, oito anos de duração.
n. 9.394 Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais.
Lei Altera a LDB n. 9.394/96, estabelecendo o ensino fundamental
2006 com nove anos de duração, obrigatório e gratuito na
n. 11.274 escola pública, a partir dos seis anos de idade.
Educação básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade,
2009 EC n. 59 assegurada a gratuidade para os que não tiveram acesso na idade própria.
Fonte: Bruel (2010, p. 154 155).
Analisando o quadro pode se perceber que a primeira legislação a estabelecer
um tempo mínimo de obrigatoriedade de frequência, relacionada ao ensino
primário, foi a Constituição Federal de 1934, 110 anos depois da Constituição
Imperial, que estabeleceu a gratuidade da instrução primária. Verifica se, portanto,
que os princípios de gratuidade e obrigatoriedade não se estabelecem de forma
concomitante na história de expansão da educação brasileira.
Cabe ressaltar que as constituições aprovadas nos períodos ditatoriais,
em 1937 e 1967, não primavam pela manutenção da gratuidade do ensino,
garantindo a apenas aos alunos que alegassem escassez de recursos (CF de 1937,
aprovada durante o Estado Novo) ou, então, transformando-a em bolsas de
estudo (CF de 1967, aprovada durante a ditadura militar). A exceção está na
Lei n. 5.692/71, aprovada em plena ditadura, que define a extensão do período
de obrigatoriedade para oito anos e flexibiliza a gratuidade apenas aos níveis
posteriores ao obrigatório.
Sugestão de Leitura
BRUEL, A. L. Políticas e legislação da educação básica no
Brasil. Curitiba: Ibpex, 2010.
– 185 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 186 –
Cidadania, direitos humanos e o direito à educação
– 187 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 188 –
Cidadania, direitos humanos e o direito à educação
– 189 –
Temas Contemporâneos da Educação
Dica de Filme
O filme intitulado Sociedade dos poetas mortos apresenta uma his-
tória fictícia desenrolada em uma tradicional escola secundária. Um
professor com atitudes pouco convencionais procura mostrar aos
alunos que o conhecimento pode ser mais intrigante do que o cur-
rículo proposto pela escola. As consequências são desafiadoras e
inquietantes, tanto para os alunos quanto para quem assiste ao filme.
O filme, mostra que existem novas formas de ensinar.
SOCIEDADE dos poetas mortos. Direção de Peter Weir.
EUA: Buena Vista Pictures, 1989. 1 filme (129 min.).
– 190 –
Cidadania, direitos humanos e o direito à educação
Síntese
Neste capítulo discutimos a consolidação do direito à educação como um
direito de cidadania. A análise histórica do processo de definição de cidadania
mostra se de grande importância para a compreensão do movimento da
sociedade em torno da definição dos direitos sociais. Como a legislação é o
instrumento por excelência para a definição dos direitos, a reflexão sobre as
constituições federais do Brasil, em especial a aprovada em 1988, em vigor,
orientou a análise sobre elementos da política nacional voltados à realização
do direito à educação.
– 191 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 192 –
3.4
– 194 –
Educação como direito da criança
Saiba mais
A Convenção sobre os Direitos da Criança foi adotada pela Orga-
nização das Nações Unidas (ONU), em 1989, e 193 países ratifi-
caram o documento. O Fundo das Nações Unidas para a Infância
(Unicef) divulga que apenas dois países assinaram formalmente,
mas não ratificaram a convenção: Estados Unidos e Somália.
No site da ONU no Brasil é possível acessar o documento na
íntegra: <http://onu.org.br/a-onu-em-acao/a-onu-e-as-criancas/>.
– 195 –
Temas Contemporâneos da Educação
Sugestão de Leitura
ROCHA, R. Os direitos das crianças segundo Ruth Rocha.
São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002.
– 196 –
Educação como direito da criança
– 197 –
Temas Contemporâneos da Educação
Dica de Filme
– 198 –
Educação como direito da criança
§ 8º A lei estabelecerá:
I. o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos jovens;
II. o plano nacional de juventude, de duração decenal, visando à
articulação das várias esferas do poder público para a execução de
políticas públicas (BRASIL, 1988).
– 199 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 200 –
Educação como direito da criança
36 Para conhecer uma análise sobre a tramitação do ECA e da LDB, ver: Barría (2006).
– 201 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 202 –
Educação como direito da criança
Sugestão de Leitura
TONUCCI, F. Com olhos de criança. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1997.
– 203 –
Temas Contemporâneos da Educação
Dica de Filme
O documentário A invenção da infância apresenta uma intrigante
reflexão sobre o significado e as condições de realização da
infância no mundo contemporâneo e conclui que: “ser criança
não significa ter infância”.
A INVENÇÃO da infância. Produção de Monica Schmiedt.
Direção de Liliana Sulzbach. Brasil, 2000. 1 documentário (26
min). color. Disponível em: <http://www.portacurtas.com.br/
Filme.asp?Cod=672>. Acesso em: 9 mar. 2011.
– 204 –
Educação como direito da criança
Síntese
Neste capítulo estudamos os conceitos de sujeito de tutela e sujeito de
direito e suas implicações para a compreensão dos direitos da criança, do
adolescente e do jovem. Analisamos alguns dos dispositivos legais do ECA
e da LDB que se articulam em relação à garantia do direito à educação.
Concluímos o capítulo com reflexões sobre a importância da atuação da
sociedade civil no processo de definição, ampliação e garantia de realização
dos direitos sociais.
– 205 –
3.5
Saberes e fazeres
pedagógicos na
contemporaneidade
– 208 –
Saberes e fazeres pedagógicos na contemporaneidade
– 209 –
Temas Contemporâneos da Educação
Saiba mais
Quando falamos de um paradigma newtoniano-cartesiano,
nos referimos a um pensamento baseado nas teorias de Isaac
Newton e René Descartes, que falam de um mundo mecâ-
nico, em que a natureza funciona como um relógio, o tempo
é linear e o espaço tridimensional, ou seja, teorias que defen-
dem que a natureza e todos os fenômenos podem ser meca-
nicamente explicados.
– 210 –
Saberes e fazeres pedagógicos na contemporaneidade
Saiba mais
O filósofo e pedagogo norte-americano John Dewey (1859-
1952) foi, sem dúvida, um dos nomes mais marcantes na
divulgação dos princípios da Escola Nova. Marcado pelos
efeitos da Revolução Industrial e pelo ideal da democracia,
Dewey queria preparar o aluno para a sociedade do
desenvolvimento tecnológico e formar o cidadão para a
convivência democrática. Seus mais notórios seguidores e
difusores do ideário escolanovista foram William Kilpatrick,
Maria Montessori, Ovide Decroly e Celestin Freinet.
– 211 –
Temas Contemporâneos da Educação
Saiba mais
Holístico, na natureza da palavra que vem do grego holos,
pode ser comprendido como todo ou por inteiro. E é assim
que se entende o “paradigma holístico”, o estudo do todo,
dentro de uma metologia humanista e natural.
– 212 –
Saberes e fazeres pedagógicos na contemporaneidade
“esta deve se perguntar sobre si mesma sobre qual é seu papel numa sociedade
caracterizada pela globalização da economia, das comunicações, da educação
e cultura e do pluralismo político”. Isso requer uma redefinição do papel da
escola, da formação do professor e do próprio conhecimento mediante uma
sociedade cada vez mais interconectada e influenciada pelas novas tecnologias.
Para Stahl (2001, p. 299), “as exigências feitas à educação pela era da
informação constituem-se também em grandes e específicos desafios para os
professores”, destaca-se aqui a necessidade de entendermos a ordem social
dessa nova era da informação, exigente de habilidades que nem sempre
são desenvolvidas durante o processo de formação profissional. Assim, vale
destacar que a aquisição do conhecimento propiciada pelas novas tecnologias
implica numa prática diferenciada.
Segundo Libâneo (1998, p. 52), “há uma exigência visível de mudança
da identidade profissional e nas formas de trabalho dos professores”, o que
significa dizer que a formação de profissionais que atendam às exigências do
mundo contemporâneo requer, necessariamente, uma formação de qualidade
dos professores.
São essas inquietações contemporâneas que requerem a construção de uma
prática pedagógica permeada por condutas inovadoras, descortinando novos
caminhos e sentidos para as ações pedagógicas no campo da aprendizagem.
Para tanto, há a necessidade de se compreender que o aprender é um
processo contínuo e complexo. O ser humano deve ser considerado como
sujeito ativo na construção do conhecimento, e que esse aprender somente se
dá a partir da ação do sujeito sobre a realidade.
Diante desse quadro de mudanças no campo educacional e profissional,
Brunner (apud TEDESCO, 2004, p. 17) contribui na reflexão ao destacar que:
A educação vive um momento revolucionário, carregado, por isso
mesmo, de esperanças e incertezas. Isso se manifesta claramente na
aproximação entre educação e novas tecnologias da informação e da
comunicação [...] existe hoje um verdadeiro fervilhar de conceitos e
iniciativas, de políticas e práticas [...] as esperanças se misturam com as
frustrações, as utopias, com as realidades.
– 213 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 214 –
Saberes e fazeres pedagógicos na contemporaneidade
– 215 –
Temas Contemporâneos da Educação
Síntese
A prática pedagógica dos atores educacionais não é um fenômeno alheio
às transformações da sociedade contemporânea. Uma “nova sociedade”
– 216 –
Saberes e fazeres pedagógicos na contemporaneidade
– 217 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 218 –
4
Educação, meio
ambiente e
sustentabilidade
É praticamente consenso no discurso e na racionalidade da
atualidade a importância de nos preocuparmos em deixar um pla-
neta melhor para as gerações futuras, constatação que exige mudan-
ças de comportamento no presente. Já nos demos conta que nossa
existência não está separada do planeta, entretanto, vivemos em um
constante conflito, em que precisamos escolher entre uma vida de
consumo e exploração irresponsável do local de nossa existência ou
uma relação saudável e amistosa com o planeta.
Nesse capítulo apresentaremos textos que denotam a
importância da inserção das questões ambientais nos processos edu-
cacionais, deixando de lado a pedagogia da era industrial, que tem
uma visão produtivista e exploratória do planeta, assumindo assim
um novo paradigma em que o planeta é compreendido como um
ser vivo, e não apenas como um corpo astronômico.
Temas Contemporâneos da Educação
– 220 –
4.1
Educação ambiental:
definição e emergência
do tema
(Francisco Carlos Pierin Mendes)
– 222 –
Educação ambiental: definição e emergência do tema
– 223 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 224 –
Educação ambiental: definição e emergência do tema
Saiba mais
A Conferência de Copenhague criou uma expectativa muito
grande na comunidade mundial em relação a possíveis acordos
relacionados às questões ambientais, porém, ficou muito aquém
das expectativas. Os pontos principais do acordo preliminar
dessa conferência podem ser vistos no link: <http://www.cop-
15brasil.gov.br/pt-BR/?page=noticias/acordo-de-copenhague>.
– 225 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 226 –
Educação ambiental: definição e emergência do tema
Saiba mais
Nas discussões sobre a educação ambiental, um documento
que merece uma atenção especial é a Carta da Terra, publicada
em março de 2000, que nasce da colaboração do Conselho
da Terra – constituído a partir da Rio 92 – com a Cruz Verde
Internacional, com representantes de vários países. Procure fazer
a leitura desse documento, ele significa a ruptura cultural episte-
mológica com o antropocentrismo e alerta sobre a importância de
todos os seres sobre a Terra (FERRERO; HOLLAND, 2004).
– 227 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 228 –
Educação ambiental: definição e emergência do tema
– 229 –
Temas Contemporâneos da Educação
Síntese
Neste capítulo refletimos sobre a degradação ambiental que ocorre em
todos os continentes, sobre como os problemas ambientais criados por um
país distante interferem diretamente em regiões próximas, determinando o
caráter global das questões ambientais.
Conhecemos aspectos que determinaram a emergência internacional
do estudo da EA e também o surgimento da temática no Brasil, a partir da
abertura democrática e da participação do país em importantes conferências
sobre o tema, culminando com a organização da Rio 92.
As conferências criadas pela comunidade internacional se apresentam
como espaços importantes para a discussão dos problemas ambientais e para
a tomada de decisões coletivas, visto a abrangência do assunto.
Por meio dessas reflexões, procurou-se definir a educação ambiental no
contexto brasileiro, como processos coletivos e individuais, ações, habilidades,
atitudes e conhecimentos voltados à conservação do meio ambiente e à
melhoria nas condições de vida da população.
Podemos dizer, ainda, que a educação ambiental se apresenta como
um campo de estudo que jamais estará pronto, quanto à sua forma ou seu
conteúdo. No entanto, pesquisadores estarão à procura de caminhos para
atender às reais necessidades da temática, para contribuir para a melhoria das
questões ambientais do planeta.
Glossário
ÙÙ Antropocentrismo: Relativo a antropocêntrico, concepção que con-
sidera que a humanidade deve permanecer no centro do entendi-
mento dos humanos, isto é, o universo deve ser avaliado de acordo
com a sua relação com o homem. É normal se pensar na ideia de “o
homem no centro das atenções”.
ÙÙ Epistemológica: Relativo à epistemologia, que estuda a origem, a
estrutura, os métodos e a validade do conhecimento.
– 230 –
4.2
Desafios da educação
ambiental na sociedade
do conhecimento
4.2.1 O desafio
A educação ambiental, entendida como uma prática transformadora,
comprometida com a formação de cidadãos críticos e corresponsáveis por
um desenvolvimento que respeite o ambiente e as diferentes formas de vida,
enfrenta muitos desafios neste início de século (TRISTÃO, 2002).
O momento pede uma articulação de princípios teóricos que
fundamentam a educação ambiental com o pensamento contemporâneo.
“O respeito às diversidades cultural, social e biológica é o fio condutor das
relações estabelecidas com o contexto contemporâneo.” (TRISTÃO, 2002, p.
169). Vivenciamos uma nova fase, outra realidade, a que o autor denomina
de pós-modernidade ou modernidade tardia, em que uma ruptura com a
racionalidade instrumental – levando a um saber pertinente e significativo.
Nesse contexto, vemos a possibilidade de articulação entre diferentes
dimensões. Religar o que parece disjunto é o grande desafio da educa-
ção ambiental.
A complexidade ambiental vem ao encontro do que está sendo discutido,
o seu entendimento só ocorre a partir do conceito de diversas disciplinas,
é tecido a partir da convivência, do diálogo inter, trans e pluridisciplinar
(ARDOINO apud TRISTÃO, 2002).
Percebe-se que os conceitos que contribuem para discutir os desafios
da educação ambiental extrapolam o limite das disciplinas, são transversais,
multirreferenciais.
Com o objetivo de desvendar os desafios da educação ambiental na
sociedade contemporânea, Tristão (2002) pontua brevemente alguns deles.
– 232 –
Desafios da educação ambiental na sociedade do conhecimento
– 233 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 234 –
Desafios da educação ambiental na sociedade do conhecimento
Saiba mais
Considerado o pai da filosofia moderna, Descartes (1999), que
desenvolveu o método dedutivo, com inúmeras contribuições para
a matemática. Esse método pode ser dividido em quatro fases:
evidência, análise, síntese e remuneração. Descartes tornou possível,
assim, avanços significativos na ciência, porque possibilitou que os
problemas fossem abordados a partir de suas partes.
– 236 –
Desafios da educação ambiental na sociedade do conhecimento
Saiba mais
Um texto importante para ampliar seu conhecimento em rela-
ção às tecnologias e sua importância na sociedade do conhe-
cimento é: “As novas tecnologias na educação ambiental: ins-
trumentos para mudar o jeito de ensinar e aprender na escola”,
de Paulo Blikstein (2007). Disponível no link: <http://portal.
mec.gov.br/secad/CNIJMA/arquivos/educacao_ambiental/
novas_tecnologias.pdf>.
– 237 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 238 –
Desafios da educação ambiental na sociedade do conhecimento
Para Gouvêa (2006), essas tecnologias poderão contribuir para uma nova
visão do mundo, respeitando as relações homem-natureza, suas interações, e
visando a não destruição dos recursos naturais do planeta.
Finalmente, a introdução das tecnologias pode contribuir interligando
novos saberes na busca por uma compreensão maior desta complexa relação
entre homem-natureza-sociedade, dentro de um processo de autonomia,
liberdade e respeito ao ambiente.
Síntese
Neste capítulo, foi possível perceber alguns desafios enfrentados pela
educação ambiental na busca por uma prática transformadora e comprometida
com a formação de cidadãos críticos, responsáveis e que busquem um
desenvolvimento que respeite o ambiente e as diferentes formas de vida.
Como desafios a serem superados para que essa prática possa ser
implementada, temos: o enfrentamento da multiplicidade de visões, a
superação da visão do especialista, da pedagogia das certezas e da lógica
da exclusão.
Observamos, também, a importância das novas tecnologias da
informação e da comunicação como forma de conscientização acerca da
busca de alternativas para os problemas ambientais enfrentados pelo planeta.
– 239 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 240 –
4.3
A educação ambiental
e a formação de
professores
– 242 –
A educação ambiental e a formação de professores
Saiba mais
Segundo Os Parâmetros em Ação – Caderno Meio Ambiente
na Escola, apenas a qualificação profissional dos professores não
garante uma educação ambiental de qualidade, pois outras variáveis
podem interferir como:
Desenvolvimento profissional e condições institucionais para um
trabalho educativo sério.
Infraestrutura material: adequação do espaço físico e das instalações;
qualidade dos recursos didáticos disponíveis; entre outros.
– 243 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 244 –
A educação ambiental e a formação de professores
– 245 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 246 –
A educação ambiental e a formação de professores
Modelos de educadores
Técnico especialista Profissional reflexivo
Negociação e equilíbrio
Despolitização da
entre os distintos
prática. Aceitação das
Compromisso interesses sociais,
metas do sistema e
com a interpretando seu valor,
preocupação pela eficácia
comunidade mediando politicamente
e pela eficiência dos
e buscando resultados
resultados definidos.
Dimensões práticos concretos.
da profissio-
nalidade do Investigação/
reflexão sobre a
educador
prática. Deliberação
Domínio técnico dos
Competência da forma moral ou
métodos para alcançar
profissional educativamente mais
os resultados previstos.
correta de atuar em
cada caso nas situações
de incerteza.
– 247 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 248 –
A educação ambiental e a formação de professores
Assim, com o trabalho nessa dimensão, tem-se como meta contribuir para
a formação de cidadãos e a construção de uma sociedade mais democrática,
na qual as questões ambientais sejam vistas como fundamentais. A figura a
seguir sintetiza as diferentes dimensões presentes na formação do educador.
Dimensões para o desenvolvimento de atividades de educação
ambiental e para a formação de educadores.
A temática
ambiental e
o processo
Valores éticos e Participação
educativo
estéticos política
– 249 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 250 –
A educação ambiental e a formação de professores
Saiba mais
Procure saber mais sobre o assunto lendo: “A formação dos
professores em educação ambiental”, de Naná Mininni Medina
(2001). Disponível em: <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/
pdf/pol/panorama_educacao.pdf>.
Síntese
Neste capítulo, foi abordada a importância de uma formação permanente
e contínua na educação ambiental, por meio do aprofundamento do
conhecimento em relação à temática ambiental.
Procuramos refletir sobre a capacitação dos profissionais que irão atuar
no Ensino Fundamental, conhecer os modelos de educadores técnicos
– 251 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 252 –
4.4
Educação, meio
ambiente e
interdisciplinaridade
– 254 –
Educação, meio ambiente e interdisciplinaridade
– 255 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 256 –
Educação, meio ambiente e interdisciplinaridade
– 257 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 258 –
Educação, meio ambiente e interdisciplinaridade
– 259 –
Temas Contemporâneos da Educação
Síntese
Este capítulo nos permitiu uma reflexão sobre a educação de que precisamos
na era planetária: aquela que ensina a condição humana. Ao refletirmos sobre
complexidade e meio ambiente, vimos que “desenvolvimento” só é sinônimo
de “progresso” do ponto de vista do pensamento simplificador, tão presente na
educação tradicional. Assim, ficou evidente a contribuição da complexidade
que, por permitir a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade, possi-
bilita a compreensão dos atuais problemas socioambientais para além da
globalização neoliberal.
– 260 –
4.5
Ecopedagogia, ética e
sustentabilidade
Saiba mais
Para saber mais sobre o conceito de complexidade ou pensamento
complexo, é possível embasar-se nas palavras de Edgar Morin,
nascido em Paris no ano de 1921, considerado um dos maiores
pensadores do século XX. Com formação pluridisciplinar
(sociólogo, antropólogo, historiador, filósofo e geógrafo),
escreveu mais de quarenta livros nas áreas de Epistemologia,
Sociologia, Política e Antropologia; entre elas, um estudo sobre
a transformação das ciências e do seu impacto na sociedade
contemporânea (SÁTIRO, 2002).
Na formulação de Morin (2001), entender o paradigma da comple-
xidade implica, antes de tudo, em se tomar consciência do paradigma
da simplicidade que ora toma conta das instituições científicas.
Na obra Os sete saberes necessários à educação do futuro, Morin
(2001) apresenta uma visão de complexidade bastante simples ao
afirmar que significa o que foi tecido junto. Pensando, como exemplo,
em uma tapeçaria produzida a partir de um novelo de lã, é possível
dizer que esse tecido, produzido por fios de uma forma ordenada,
é complexo. Imaginando o mesmo novelo de lã, jogado ao chão
e sendo desenrolado por uma criança pequena e de maneira
desordenada, pode-se vislumbrar como resultado um emaranhado de
fios, ou seja, uma complicação. Dessa forma, é possível mostrar que
complexidade é diferente de complicação.
– 262 –
Ecopedagogia, ética e sustentabilidade
– 263 –
Temas Contemporâneos da Educação
4.5.2 Interdisciplinaridade
De acordo com Leff (1999), a emergência da crise ambiental como
resultado do modelo de desenvolvimento e a interdisciplinaridade como
método que possibilite um conhecimento mais integrado também devem ser
consideradas respostas complementares à crise da racionalidade moderna.
– 264 –
Ecopedagogia, ética e sustentabilidade
4.5.4 Planetaridade
Na proposição de Delors (1999), o fenômeno da globalização, além de
marcar o final do século XX, facilitado pelo avanço da tecnologia, influencia
e determina os rumos das pessoas no planeta. Assim,
[...] grande parte do destino de cada um de nós, joga-se num cenário de
escala mundial. Imposta pela abertura de fronteiras econômicas e finan-
ceiras, impelidas por teorias de livre comércio, [...], instrumentalizada
pelas novas tecnologias da informação, a interdependência planetária
não cessa de aumentar, no plano econômico, científico, cultural e polí-
tico (DELORS, 1999, p. 35).
– 265 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 266 –
Ecopedagogia, ética e sustentabilidade
uma Ecopedagogia precisa conhecer e refletir sobre a Carta da Terra, visto que
ela esclarece quais os sujeitos que se comprometem com essa nova proposta de
sustentabilidade e planetaridade.
Também se defende a ideia de que para desenvolver seu trabalho com
excelência, o professor e o pedagogo precisam refletir sobre questões do tipo:
“quem somos nós”? ou “como será que vivem os cidadãos planetários neste
início de século”? Alguns dados citados por Gadotti (2000, p. 156) podem
ajudar na reflexão dessas questões. Eles representam o sonho de se construir
uma nova civilização:
22 5,77 bilhões de pessoas habitam a Terra;
22 1,15 bilhão de pessoas vivem no hemisfério norte, nos países desen-
volvidos.
22 4,62 bilhões vivem no hemisfério sul, nos países pobres (em desenvol-
vimento).
22 1,44 bilhão vivem abaixo do nível da pobreza, quer dizer, 25% da
população do Planeta.
22 1,3 bilhão de pessoas nos países do sul vivem com menos de um dólar
por dia; 110 milhões na América; 220 milhões na África e 970 milhões
na Ásia.
22 1 bilhão de pessoas são analfabetas, dentre elas, 600 milhões são
mulheres.
22 1 bilhão de pessoas sobrevivem sem acesso à água potável.
22 800 milhões de pessoas sofrem com a desnutrição crônica.
22 500 milhões de mulheres de todo o mundo vivem na miséria.
22 Há um médico para cada 6 mil pessoas no hemisfério sul, enquanto que
no hemisfério norte há um médico para cada 350 pessoas.
22 Entre 1980 e 1993, 82% dos empregos novos na América Latina foram
gerados na economia informal.
22 As posses de 349 multimilionários de todo o mundo são maiores que a
renda de 45% da população mundial.
22 Segundo o Banco Mundial, um entre três latino-americanos é
pobre, e 18% da população da América Latina (86 milhões de pes-
soas) está na miséria, sobrevivendo com uma renda abaixo de um
dólar por dia.
– 267 –
Temas Contemporâneos da Educação
SÍNTESE
Refletiu-se sobre Ecopedagogia a partir do despojamento da visão linear de
mundo para compreender novas categorias como a ética, a sustentabilidade, a
complexidade, a planetaridade, entre outras. Observou-se, também, a necessidade
de se ver o outro com um novo olhar, para se compreender a necessidade de um
– 268 –
Ecopedagogia, ética e sustentabilidade
– 269 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 270 –
4.6
O papel da
ecopedagogia na
sustentabilidade
– 272 –
O papel da ecopedagogia na sustentabilidade
– 273 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 274 –
O papel da ecopedagogia na sustentabilidade
Saiba mais
Você sabe a diferença entre propaganda e publicidade?
Esses dois termos geralmente causam confusões. Propaganda
diz respeito à divulgação de ideias, podendo ter conteúdo
político, religioso ou social. Normalmente, é usada para
informar o público em campanhas de saúde, trânsito, entre
outras. A publicidade, por outro lado, é uma mensagem de
interesse comercial, pois visa a apresentar “vantagens” de certo
produto, na tentativa de convencer o público a comprá-lo
(BRASIL, 2002).
– 275 –
4.6.2 Os jovens e as crianças: alvos vulneráveis da
publicidade
São várias as consequências na publicidade dirigida para crianças e
adolescentes. que deveriam incomodar educadores, professores e pedagogos.
Geralmente, esses anúncios utilizam a ideia “todos têm e por isso eu também
devo ter”, procurando mantê-la viva na mente das crianças e dos jovens. O
problema reside em induzir as pessoas a agirem simplesmente por impulso,
sem se preocuparem com a real necessidade que teriam daquele produto.
Comprar coisas desnecessárias não prejudica só a renda das pessoas, mas
também o meio ambiente, pois aumenta a quantidade de lixo e poluição,
oriundos de uma produção nada sustentável (BRASIL, 2002).
A preocupação com as crianças e jovens deve ser grande, pois eles são
muito mais vulneráveis ao “bombardeio” publicitário que os adultos, tudo
isso porque ainda não desenvolveram a capacidade de perceber o que está
por trás de uma mensagem publicitária. Esse problema tem se agravado nos
últimos tempos pelo fato dos jovens constituírem um grupo cada vez maior
de consumidores, sendo, por isso mesmo, “bombardeados”.
Os professores podem trabalhar com a problemática do consumo
induzido pela publicidade. Podem ser abordadas questões que envolvam
a categoria globalização no contexto da cultura. Basta que observem, por
exemplo, a preferência das crianças por uma determinada boneca americana,
totalmente diferente dos padrões brasileiros, ou por guerreiros intergalácticos
e outros heróis estrangeiros.
É obrigação da escola, na luta por uma educação sustentável, perceber que
os anúncios dirigidos aos jovens alunos se aproveitam de uma personalidade
em formação, manipulando de tal forma os desejos mais comuns dos
indivíduos com esse perfil que é quase impossível que consigam resistir, o
que pode, nesse caso, significar ser diferente justamente em uma fase na qual
precisam se identificar com determinados grupos.
Saiba mais
O que diz a lei brasileira sobre publicidade?
O Artigo 37 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), Lei
O papel da ecopedagogia na sustentabilidade
– 277 –
Temas Contemporâneos da Educação
Síntese
Discutiu-se neste capítulo como a publicidade veiculada por diferentes
mídias pode estimular o consumo desnecessário de certos produtos,
inviabilizando um modelo de sociedade sustentável.
A Ecopedagogia, por trabalhar com categorias como a virtualidade,
poderá desenvolver um trabalho significativo a partir de temas como educação
e consumo e o papel das mídias nesse processo.
Foi evidenciado que professores e educadores podem trabalhar com a
problemática do consumo, abordando outras categorias da Ecopedagogia
como, por exemplo, a globalização. Dessa forma, ao se refletir sobre a
vulnerabilidade dos jovens ao “bombardeio” da publicidade, procurou-se
deixar evidente a necessidade do tema “educação e consumo” ser abordado
com bastante ênfase na Ecopedagogia.
– 278 –
Referências
Temas Contemporâneos da Educação
– 280 –
Referências
– 281 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 282 –
Referências
– 283 –
Temas Contemporâneos da Educação
– 284 –
Referências
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Referências
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Temas Contemporâneos da Educação
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Referências
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Temas Contemporâneos da Educação
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Referências
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Temas Contemporâneos da Educação
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Temas Contemporâneos da Educação
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