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Capítulo I- O Estabelecimento Penintenciário Do Ndlavela

1. A Mulher e a Criminalidade

A ideia da mulher criminosa nos leva sempre a concepção de lidarmos com uma
excepção, a mulher sempre foi marcada pelo estigma da honestidade, a imagem de mãe,
dona de casa, esposa . Contudo, o crescimento da inserção da mulher na criminalidade
demonstra mudança em um universo considerado tipicamente masculino até pouco
tempo, contudo, ainda a sua participação é proporcionalmente menor que a dos homens.

Pode-se elucidar o crime como sendo uma acção típica, ilícita, culposa e punível.
Segundo Teresa Beleza. Desta definição, extrai-se 4 elementos principais,
nomeadamente: acção típica, ilícita, culposa e punível.

O primeiro elemento da definição: Acção quer isto dizer, que em primeiro lugar tem de
haver uma acção humana, isto é, tem de haver da parte de uma pessoa uma acção, um
comportamento que seja dominado pela vontade ou que possa ser dominado pela
vontade, isto porque o direito penal se dirige a pessoas, no sentido de tentar que elas se
decidam pela obediência e não pela desobediência, pelo que a vontade tem de estar
presente nessa decisão. Se um acto não foi dominado pela vontade, nem pôde sê-lo,
desde logo para ai a discussão em relação à sua criminalidade, pois não há sequer uma
acção humana, nao fazendo sentido discutir se se cometeu um crime. O acto tem de ser
dominado pela vontade ou dominavel pela vontade.

A criminalidade sempre esteve fortemente associada aos homens, devido,


principalmente, a associação do sexo masculino à violência, virilidade e transgressão,
frutos de produções discursivas que reforçam habilidades masculinas associadas a essas
práticas e características. Contudo, essa realidade está em transição, pois na sociedade
contemporânea, há o aumento da incidência de mulheres envolvidas no cometimento de
atos ilícitos e práticas de violência.

Os mais antigos relatos históricos descrevem as mulheres na prática de crimes como


autoras de adultérios, feitiçarias, envenenamento, e infanticídios.
Na Grécia, o berço da democracia dos grandes pensadores, não tem sequer uma única
Filósofia, já que o papel feminino era o de dona de casa, o entendimento científico
moderno é proveniente de pensadores, organizadores e pensadores de uma época, na
qual diziam o que são as outras esferas da sua sociedade: diziam o que eram as
mulheres, e, sobretudo que deviam fazer seu lugar e seus deveres ao se ler pouco mais
sobre a época, notamos que as mulheres estavam em contextos verdadeiros ou lendas
pois sempre apareciam associadas ao papel da Heroína, que guarda o lar a espera do seu
marido ou se for criminosa, num contexto passional de crimes por ciúmes , um
infanticídio.
Na Idade Media os primeiros sinais de desobediência das mulheres a lei surgem por
volta do Século XI ocorre que por volta de 1210 surgem tipos específicos de
delinquência feminina. A lei preservou e positivou determinadas condutas como certas
e erradas separando tipicamente masculinas e femininas, mas a conduta feminina estava
sempre vinculada a sexualidade e ao mundo privado.
As primeiras noticias da criminalidade estão estritamente relacionadas com a bruxaria e
a prostituição.
A prostituta passa a compor o revel e o oposto da mulher ideal, da mãe de família da
esposa submissa passando a despertar admiração, uma vez considerada mulher publica e
refinada, a cortesã.
A partir do Século XVI com a Reforma e a contra Reforma, passa a condenar a
fornicação masculina.
A prostituição deixa de ser espetáculo e passa a ter sua prática normalizada.
De acordo com Carvalhaes, "na construção social dos sexos e gêneros, a mulher tem se
apresentado de forma invisivel, pois, historicamente, seu gênero sempre foi negado ou
excluido, e associada a imagem de sensibilidade e guardiã do lar e a reprodução,
enquanto que o homem sempre esteve associado a um ser activo, forte, e inteligente".
Cada vez mais familias moçambicanas são chefiadas por mulheres, ganham seu sustento
através da comercialização nos mercados informais, ainda ganham menos que os
homens mesmo tendo na maioria das vezes uma jornada dupla de trabalho.

Ao longo da historia a desvalorização da mulher enquanto identidade do feminino


esteve vinculada na diferença sexual e biológica . A mulher era reservada a beleza e não
ao mundo das ciências, da inferioridade sexual, e intelectual da mulher esta tinha a
função de mulher esposa, mulher mãe e guardiã da casa.

Nestes termos, a menor incidência de mulheres no mundo do crime é entendida como


especificamente relacionada com um contexto social, pautado em um determinismo
ideológico, que, via de regra, reflete toda uma cultura social de que a mulher pertence a
uma esfera doméstica, privada e não pública. Ao longo da história, a desvalorização da
mulher, esteve enraizada no argumento da diferença anatômica sexual, sendo o papel
social da mulher restrito. Contudo, recentemente o número de mulheres adultas e
adolescentes no crime aumenta, o que justifica a presente proposta.

Nos últimos anos temos assistido um crescimento exorbitante da criminalidade no nosso


pais, um aspeto que tem despertado atenção de estudiosos no assunto que é o aumento
considerável de numero de mulheres condenadas ou acusadas de envolvimento com a
criminalidade. Embora o número da população prisional feminina tenha aumentado na
ultima década o sistema prisional feito para os homens não se adapta para elas.
Uma grande parte das mulheres que ingressam no sistema prisional traz uma historia de
violência sofrida, por vezes em suas próprias casas, normalmente vitima de maus tratos
e de violência doméstica. Este ciclo de violência iniciado na família, constitui˗se de um
elo sequêncial de múltiplos acontecimentos que acabam delineando a trajectoria da
parte da população feminina.

Muitas meninas acabam saindo de casa muito cedo para se livrar de abusos sexuais e
maus tratos ocorridos dentro dos seus próprios lares. Parte das meninas convive, desde
muito cedo, com a violência, sendo a construção de suas subjetividades atravessada por
diversos fatores de risco e produção de sofrimento.

Com o desenvolvimento social no mundo contemporâneo, ocorreu também o aumento


excepcional da carga de violência em todos os ramos, e desconsiderar a presença da
mulher neste panorama, seria uma análise preconceituosa e reducionista.

Capítulo II- Normas Constitucionais Sobre o Direito dos Reclusas

1. Direito Constitucionais das Reclusas


A constituição da República de Moçambique foi aprovada na Assembleia da
República em 16 de Novembro de 2004, esta constituição traz em seu escopo,
garantias fundamentais que asseguram os direitos dos presos/as e arguidos.
Logo no capitulo III no que concerne aos direitos, liberdades e garantias
individuais contempla-se mais garantias aos presos e arguidos, registrando
preceitos quanto a execução das sanções tratamentos e prazos que lhe são
impostas.
A restrição aos direitos fundamentais em prol da manutençã da ordem e da paz
no estabelecimento peniténciario deve ocorrer em harmonia com os fins da
pena, sendo o único meio de viabilizar o funcionamento das instituições
prisionais.
Incumbe ao estado velar para que sejam evitadas condições desumanas as
reclusas, e assim propiciar um ambiente favorável ao tratamento do delinquente.
É cedido que a reclusa mantêm a titularidade dos direitos fundamentais, bem
como os direitos sociais e culturais essênciais, ou seja, o direito a percepção,
pelo seu labor dos beneficios da segurança social e, naturalmente o individuo
submetido a essa relação de privaçã de liberdade fica sujeita as limitações
resultantes das sentenças condenatórias e das que forem impostas em nome da
ordem e segurança do estabelecimento prisional.
Assim é de salientar, que o exercicio dos direitos pelas reclusas durante o
internamento encontra-se subordinado a vários tipos de restrições decorrentes
da sentença condenatória e do decreto-lei da politica prisional de cada
estabelecimento.
Com tudo, mesmo diante destas privações existem alguns direitos que não são
restringidos durante o tempo de execução da pena privativa de liberdade. Dentre
os quais podemos destacar:
 Direito a vida e a integridade fisica1.
 Direito a assistência juridica e patrocinio judiciario2.
 Direito de informação das razões e dos seus outros direitos3.
 Direito de comunicar reservadamente com o seu advogado4
 Direito a alimentação suficiente e vestuário, pois a reclusa no
momento do seu ingresso no estabelecimento peniténciario têm
direito de tomar refeições convenientemente preperadas e
apresentadas em qualidade para lhes manter saúdavel e força fisica5.
 Direito de atribuição de trabalho as reclusas no momento do seu
ingresso no estabelecimento peniténciario tem o direito de trabalhar
na medida das suas forças e aptidões, devendo ser sempre uma

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ocupação produtiva, observando-se as normas do estabelecimento
prisional que protegem a vida e a saúde das reclusas podendo
receber um salário fixado pelo director geral dos servicos
prisionais6.
 Direito a defesa e a julgamento em processo criminal7.
 Direito a assistência religiosa e moral, as reclusas tem liberdade
religiosa podendo participar de vários cultos e de praticar a religião
que pertencem e a sua assistência moral é exercida pelo director do
estabelecimento penitenciário bem como das outras entidades que a
lei prevê8.
 Direito a educaçã e profissionalização, as reclusas têm o direito de
frequentar cursos do ensino elementar e de aperfeiçoamento e
profissionalismo9.
 Direito de assistência médica e medicamentosa, as reclusas têm o
direito de serem examinadas periòdicamente pelo médico do
estabelecimento e de receberem tratamento assim como a sua
medicação10.
 Direito de assistência familiar, as reclusas mesmo dentro do
estabelecimento prisional, tem o direito de receber visitas,
mantimentos11.

Portanto a reclusa deve participar activamente no cumprimento da sua


pena, ajudando a manter a ordem e a segurança no estabelecimento
penitenciario, na condição de detentora de seus direitos, com intuito de
alcançar a sua reinserção na sociedade.

Dentre estas obrigações compete as reclusas, manter o respeito e obedecer


aos funcionarios do estabelecimento penitenciario respeitando as normas e
os horarios predeterminados na lei que é regulada no estabelecimento
prisional.

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Mesmo com todos os direitos assegurados, nas leis acima mencionadas,
diariamente, em todo pais, ocorrem as mais diversas formas de
violações dos presos. São situações que cheguem a ser desumanas e
degradantes.

2. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana e a Reclusa


A palavra Dignidade vem do Latim “Dignitasˮ que significa honra, virtude, ou
consideração, ou ainda, tudo aquilo que merece respeito, razão porque se
entender que dignidade é uma qualidade moral inata e é a base do respeito que
lhe é devido.
De acordo com Nunes “a dignidade nasce com a pessoa. É-lhe inata. Inerente à
sua essênciaˮ.12
Conforme defende Sarlet “Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade
intrinseca e distintiva de cada ser humano, que o faz merecedor do mesmo
respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, nesse
sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a
pessoa tanto contra todo e qualquer acto de cunho degradante e desumano, como
venham a lhe garantir as condições existênciais minimas para uma vida
saudavel, além de propiciar e promover sua participação activa corresponsavel
nos destinos da propria existência e da vida em comunhão dos demais seres
humanosˮ.13
A Declaração Universal dos Direitos Humanos trás no seu conteúdo o conceito
actual de direitos humanos e, pela primeira vez, ocorre a acolhida da dignidade
da pessoa humana como centro orientativo dos direitos e fonte de inspiração de
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textos constitucionais posteriores: " art 3º- todos homens nascem livres e iguais
em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência devem agir em
relação uns aos outros com espirito de faternidade"14
Pode se definir, dignidade da pessoa humana como um conjunto de direitos
fundamentais, que visam assegurar aos cidadãos um minimo para subsistência.
Pode se alencar por exemplo, o acesso amplo e irrestrito aos servicos de saúde,
educação, habitação entre tantos que poderiam ser citados.
No campo do direito Civil, a dignidade da pessoa humana também é tutelada,
no qual se resguardam os direitos da personalidade, a valoração juridica da
pessoa e sua protecção juridica, propriedade direitos autorais entre os demais. A
personalidade é tutelada pelo direito no sentido de reconhecer-lhe a autonomia
plena e de proteger-lhe a integridade pessoal em suas amplas dimensões.
A constituição da República é a base norteadora do ordenamento e do estado
Moçambicano, é nela que todas as regras e normas devem se pautar. A
interpretação constitucional é de toda a ordem infraconstitucional deve observar
os principios e regras constitucionais, para que haja efectividade na aplicação
das normas juridicas vigentes, ainda mais, para a prevalência da própria
constituição, atendendo-se assim ao principio da supremacia da constituição.
Os impactos da globalização na vida do homem têm acontecido de forma
imensurável. Eles refletem não apenas nas práticas politicas e sociais,
redefinindo conceitos como também provocando mudanças substâncias que
podem tornar-se irreversiveis para o homem, para a natureza e para a sociedade.
Os processos de globalização têm ameaçado a autonomia individual, a dignidade
humana e a soberania do Estado, em sociedades democráticas como a nossa.
A evolução tecnológia intrisecamente ligada à evolução da humanidade
representa não só o ápice do desenvolvimento cìentifico, como também está
vinculada a aspectos econômicos, culturais, politicos e sociais,e, mais
especificamente ao proprio homem, a seu comportamento, a suas habilidades,
atitudes, estilos de vida, a seu "proprio ser". Os valores universais foram
substituidos pelos individuais provocando uma grande inversão dos valores
fundamentais da existência humana.

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O individualismo passou a imperar nas relações sociais, acentuando o cenario de
caos social e nexte contexto não existe nenhuma garantia de que a dignidade
humana seja preservada.
O pensamento de Kant torna-se imperativo na busca da dignidade perdida neste
momento histórico em que estabelecem as condições concretas para sua
desvitualização. A questão não é rejeitar o progresso científico, tecnologico, mas
cuidar para que este se incorpore na sociedade sem destruir os valores
fundamentais da existência humana.
Kant, deu grande contribuição à filosofia ao reconhecer no homem a liberdade
que o torna sujeito de seu próprio existir, responsavel por sua dignidade.
Conforme Kant, a liberdade é o fio condutor de todas as ações humanas; único
caminho pelo qual é possivel fazer uso da razão em nossas ações. A liberdade
faz com que o homem aja segundo as leis da razão e não ao instinto. Por mais
que o mundo exterior ofereça estimulos que o seduzam a agir fora dos padrões
morais, ele é capaz de negá-los por ser dotado da faculdade de agir como
inteligência.
A dignidade humana não é um atributo divino, mas se relaciona à capacidade
racional e autônoma de cada um. É o maior valor que o homem possa ter e faz
com que se diferencie dos demais seres.
Para Kant, o que faz com que o homem se torne fim em si mesmo é o fato de,
como legislador, tornar suas maximas em maximas universais, tornar seus os
fins seus semelhantes, considerà-los como extensão de si próprio. A moralidade
requisita a universalização da ação humana para que haja acordo de
pensamentos e ações, interesse igual de todos e não apenas de alguns. A lei
moral tem valor para todos igualmente.

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