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"La nacion latinoamericana" de Manuel Ugarte

Neste livro, Manuel Ugarte se debruça sobre vários temas, temas que até mais de um
século depois continuam tão presentes e se afunilando no corredor da luta de
classes, mesmo os intelectuais convencionais fazendo de tudo para ocultá-los.

Ugarte deixa claro que sempre virá de nós a força fabricante de nossa própria
história e que quando depende de nós "a história não se chora, nem se modifica" ela
"se faz"

"Chegou a hora de reconsiderar. Até agora, fizemos o que convinha para estranhos.
Vamos começar a ser e a pensar de acordo com nossas necessidades." rompendo com o
eurocentrismo desde o início do livro.

Damos pouco ou nenhum mérito ao inimigo interno. A esquerda, tida como


revolucionária, por anos enxergava governos déspotas como méritos exclusivos do
exterior, mas isso sempre foi falso. Sabemos que sem a cumplicidade interna não
seria tão fácil para o imperialismo.

[imagem com frase de René Depestre]

"É pela incapacidade dessas classes dominantes, quando não por sua deslealdade, que
o invasor tomou os primeiros elementos para estabelecer seu domínio [...] 
ignoraram os mais elementares preceitos da economia política e abriram [...] amplas
portas para a irrupção de estrangeiros."

Há alguns temas especialmente importantes pela presença nos nossos dias. "a
economia de nossas nações parece organizada por loucos, em um delírio suicida que
os leva à oferenda e renúncia". O quê mais atual que isso?

A única alternativa capitalista permitida à América-Latina é sempre a mesma, o


livre-comércio arcaico.

Sobre isso, Ugarte escreve que "um estranho idealismo de livre comércio levou
certos homens públicos a advogar, através do teoricismo, os brotos que surgem com a
saúde de nossa terra...

esquecendo que as cidades que não fabricam os produtos nunca são verdadeiramente
ricas, mas cidades onde a riqueza passa, pois, longe de ser deixada no país,
precisa-se ir ao exterior em troca do essencial para sobreviver."

Lima Barreto dizia que o ufanismo é o amor acrítico a pátria. Ugarte também
discorre sobre isso definindo três tipos de patriotismos que precisam ser
extirpados:
1 - patriotismo brutal
2 - patriotismo orgulhoso
3 - patriotismo ancestral

***
"yo también soy enemigo del patriotismo brutal y egoista que arrastra a las
multitudes a la frontera para sojuzgar a otros pueblos y extender dominaciones
injustas a la sombra de una bandera ensangrentada; yo también soy enemigo del
patriotismo orgulloso que consiste en considerarnos superiores a los otros grupos,
en admirar los propios vicios y en desdeñar lo que viene del extranjero; yo también
soy enemigo del patriotismo ancestal, del de las supervivencias bárbaras, del que
equivale al instinto de tribu o de rebaiño. Pero hay otro patriotismo superior, más
conforme con los ideales modernos y con la conciencia contemporánea. Y ese
patriotismo es el que nos hace defender contra las intervenciones extranjeras, la
autonomía de la ciudad, de la provincia, del Estado, la libre disposición de
nosotros mismos, el derecho de vivir y gobernarnos como mejor nos parezca."
***

Pelo o que sabemos hoje, fica claro que nenhum estado socialista colocou o
internacionalismo à frente do nacionalismo.

Também podemos ler e ver que todos os chefes de estados socialistas tinham um
sólido viés nacionalista, que nunca foi confundido com o nacionalismo burguês pelo
o fato de mostrarem que há como ser nacionalista sem ser xenófobo, por isso chama-
se nacionalismo revolucionário.

Tendo isso em mente, Ugarte comenta "eu creio que pelos momentos que passamos o
socialismo tem de ser nacional. O internacionalismo é um ideal tão charmoso como
distante que está em seu verdadeiro plano no fundo dos horizontes."

Assim como estamos sempre anistiando os inimigos internos também nunca vemos forças
internas capazes de nos emancipar. Muitos levantam os braços aos céus e outros aos
russos, chineses e até mesmo franceses.

Não só se ignora as forças internas, se recusa-as por completo "nunca se pergunta:


"o que é necessário fazer?" mas sim "o que os outros fizeram?" e assim surge uma
"civilização fastuosa às vezes surpreendente por seu vigor, mas desprovida de
personalidade"

Ugarte absorve muito da obra política do francês Jean Jaurés, como de outros
europeus, mas não de forma acrítica e colonizada.

Ugarte, como tantos outros, praticavam o método de assimilação crítica (anos


depois, teorizada pelo grande sociólogo baiano Alberto Guerrero Ramos em seu
clássico "redução sociológica")

Porque "o pensador e o artista não são mais que um produto da ebulição comum, como
a flor é uma manifestação da vitalidade do solo. Se perde contato com o solo que
lhe nutre, morre"

No último capítulo, que são as memórias de Ugarte, há algumas notas


autobiográficas, contando como manteve-se fiel as suas convicções em cenários
extremamente perigosos e na péssima situação financeira em que vivia.

Apesar de ter nascido em berço de ouro, após a morte dos seus pais passou a viver
quase que exclusivamente de publicações em pequenos jornais.

Ugarte faleceu em 2 de Dezembro de 1951, em uma casa modesta, com suspeita de ter
cometido suicidio fruto da imensa tristeza e isolamento em que vivia devido a
decepções e a morte de grandes camaradas de anos.

Enfim, traçamos apenas alguns pontos da obra que é uma introdução ao pensamento de
Ugarte, pois é uma compilação de diversos artigos e manifestos escritos por ele
passando por toda sua evolução política.

Não só esse livro como toda a sua obra são leitura obrigatória para entender,
interpretar e principalmente FAZER uma nova realidade em Nuestra América.

Principais obras do autor (pdfs): https://drive.google.com/folderview?


id=1MBQr5FBYE18QjPqkV7D6Y0idNsNF4feQ
Outros trabalhos do autor: http://www.cervantesvirtual.com/obras/autor/ugarte-
manuel-1875-1951-13055/0

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