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Capitulo 3

3.1. Implicações da Primavera Árabe na Tunísia e Síria

3.2 Implicações da Primavera Árabe na Tunísia


A Tunísia alcançou a sua independência em 1956 do domínio francês, mas apenas em 1959 é que
Habib Bourguiba foi eleito presidente da república e logo no início estabeleceu um governo
totalitário e unipartidário a partir de 1964. Os anos 80 foram marcados por greves e
manifestações populares, reflexo da crescente insatisfação popular e da crise económica que
assolava o país. Em 1987 Bourguiba é retirado do poder através de um golpe de estado, chefiado,
pelo recém-nomeado primeiro-ministro Zine El Abidine Ben (Junior, 2012:20-21).

Para evitar associações com o regime anterior, Ben Ali revoga a presidência vitalícia e estabelece
a liberdade partidária. No entanto preocupado com o crescimento do Fundamentalismo Islâmico
e sofrendo uma forte oposição por parte desse grupo, o presidente bane o partido islâmico, o
partido Al Nahda, sob o pretexto de que os mesmos eram uma organização terrorista e que
ameaçavam a segurança do país (Ibid). Este movimento foi desmantelado, os líderes foram
colocados em exílio e muitos activistas foram aprisionados e torturados pelas forcas do governo
(Paciello, 2011:3). Porém, apesar de ter abolido a presidência vitalícia, através de manobras
ilícitas, Ben Ali consegui reeleger em 1989, 1994 e 1999, mas não sem levantar suspeitas sobre a
corrupção sobre tudo nos altos postos do governo, as violações em massa dos direitos humanos,
somadas a desemprego, a corrupção e o completo descanso das instituições democráticas.
(Junior, 2012:21).

A revolução na Tunísia, teve inicio em Dezembro de 2010, com a auto imolação de Mohammad
Bouazize, o que levou a uma camada de jovens tunisianos a reivindicar a situação, porem após
alguns dias os protestos continuaram e estes já eram contra a corrupção da família da esposa do
presidente Bem ali, Leila. Logo que os protestos atingiram a maior parte das regiões e a capital
estes já exigiam a deposição do presidente Ben Ali, exigiam os manifestantes “Liberdade e
Democracia” (Schiller, 2011:12). Sendo que, após anos de abuso e perseguições impunes pelas
autoridades policiais, um movimento de protestos em prol da justiça e das liberdades políticas se
verificou em todo o país, milhares de pessoas, estudantes, sindicatos e partidos da oposição,
protestaram sobre os altos índices desemprego, desigualdades sociais, perseguições politicas
entre outras questões. As forças do governo promoveram um massacre contra os protestantes o
que gerou um colapso do regime, visto que com a situação tornou-se insustentável. (Junior,
2012:22).

Numa tentativa de se proteger Ben Ali, promete um conjunto de concessões, prometendo em 11


de Janeiro de 2011, a criação de 300,00 postos de trabalho, o que não acalmou as populações o
levando ainda em 13 de Janeiro a prometer que não iria mudar a constituição esta que previa um
máximo de 75 anos de idade aos candidatos a presidência, afirmando desta forma que ele não iria
se reeleger as eleições de 2014, nesta mesma ordem também ordenou que as forças policias não
usassem a violência contra os manifestantes (Schiller, 2011:13)

Quase um mês depois de seu início, a Revolução de Jasmim, que já contabilizava mais de 300
mortos viu o Presidente Zine El Abidine Ben Ali renunciando ao poder e se exilando na Arábia
Saudita. Com a queda do regime de Ben Ali, um governo transitório composto pelo Presidente
Fouad Mebazaâ e o Primeiro-ministro Mohamed Ghannouch assumiu o poder. A continuação de
Ghannouch como Primeiro-ministro, gerou intensos protestos no país, muito pelo facto dele estar
intimamente ligado ao governo de Ben Ali e ser apontado como o nome que o ex-presidente
desejava que lhe sucedesse. Beji Caid el Sebsi, assume o posto de Ghannouch e junto com
Mebazaâ governam a Tunísia até a realização da eleição geral em 23 de Outubro de 2011. Com
41% dos votos o Ennahda (partido de orientação islâmica) obtém a maioria das cadeiras do
parlamento (Lima, 2014:63).

Porém, pode-se afirmar que na Tunísia haviam as condições criadas para uma mudança de
regime, primeiro, o facto de haver claramente uma tradição de expressão autónoma na Tunísia,
que não fora esmagada pelo regime de Ben Ali. O movimento sindicalista, a UGTT, é um
exemplo, uma vez que, apesar de a sua administração central ter sido sucessivamente controlada
pelo regime, tanto durante a presidência de Habib Bourgiba como durante o regime de Ben Ali,
os seus órgãos locais preservaram um grau de autonomia de acção considerável. Ao mesmo,
haviam organizações de defesa dos direitos humanos do país – a Ligue Tunisienne des Droits de
l’Homme (LTDH) e, mais tarde, o Comité National des Libertés en Tunisie (CNLT), que, apesar
de ter sido enfraquecido nos anos 1990, continuou a desempenhar um papel semiclandestino. Foi
apoiado por advogados, jornalistas independentes e, mais tarde, por bloguistas e jornalistas on-
line (Joffé, 2011:101).
Em segundo lugar, há uma tradição muito forte de constitucionalismo na Tunísia. Todos os
grandes movimentos políticos do país, desde o início do século XX o Destour, o Neo-Destour, o
Parti Socialiste Destourien (PSD) e o Rassemblement Constitutionnel Démocratique (RCD) –
baseiam a sua legitimidade no facto de situarem as suas origens num movimento o Destour
“Constituição” criado para persuadir as autoridades ocupantes francesas a honrar os termos do
Tratado de Bardo, que introduziu o protectorado francês em 1881 e a Constituição tunisina,
promulgada em 1890, que foi a primeira constituição do mundo árabe. Esta tradição sempre
refreou o regime, impedindo-o de ser tão repressivo como gostaria, e assegurava que o poder
permitia um pluralismo político limitado, desde que isso nunca ameaçasse a hegemonia do RCD.
De facto, os partidos políticos seculares que foram autorizados depois de 1980 colaboraram
várias vezes com o regime devido ao seu receio do islamismo. Quando a presidência quebrou
este princípio ao alterar a Constituição de modo a permitir que o Presidente em funções se
candidatasse por mais de dois mandatos e ao instituir uma assembleia parlamentar bicamaral
para salvaguardar o controlo do RCD, a sua base de apoio começou a fragmentar-se, tal como
aconteceu com o seu antecessor por motivos semelhantes nos anos 1980 (Joffé, 2011:101).

Em terceiro lugar, embora o regime tenha procurado assegurar a sua hegemonia através das
coligações sociais que construiu e do controlo dos serviços de segurança também marginalizou o
Exército tunisino para se certificar de que este nunca constituiria uma ameaça. Por isso, o
Exército só participou em assuntos políticos em 1984 quando foi chamado pelo Presidente
Bourguiba para restabelecer a ordem na sequência de vários tumultos graves provocados pelo
preço dos alimentos. De um modo geral, os oficiais do Exército eram profundamente apolíticos e
nunca eram incentivados a participar em assuntos políticos, mesmo no seio do RCD, que era,
efectivamente, o único partido político da Tunísia. Paralelamente, os deveres de segurança
interna eram levados a cabo pela Polícia e pelos serviços de segurança, a que se recorria cada vez
mais para intimidar a população e dissuadi-la de se envolver na política. Para a classe média
tunisina isto significava que a prosperidade económica era oferecida como uma alternativa, ao
passo que a classe trabalhadora e o campesinato, ambos empobrecidos, eram reprimidos quando
necessário. Afinal de contas, havia o espectro do que tinha acontecido no início dos anos 1990
quando o movimento islamita do país, a An-Nahda, foi brutalmente desmantelada depois de ter
tentado participar na política pluralista que o regime de Ben Ali tinha prometido em 1989, pouco
depois da sua chegada ao poder (Ibid:102).
O exército também desempenhou um papel importante na dissolução do regime da Tunísia,
tendo em conta que os líderes desenvolviam políticas que marginalizam e neutralizavam as
forcas armadas ao mesmo tempo em que os chefes de estado desenvolviam um sistema complexo
e sostificado de segurança com a missão única de proteger o regime e não o Estado. Para o caso
da Tunísia, o exército encontrava-se frustrado, visto que Ben Ali ao subir em 1987, reduziu
substancialmente o exercito além de ter eliminado vários dos seus líderes, temos o exemplo da
morte do general Abdel Aziz Sikik numa explosão de um helicóptero do exército em 2002 o que
levou a uma animosidade entre os militares e o palácio presidencial de Gortage, e por causa deste
tipo de desavença verificamos o motivo de as forcas armados não terem apoiado o regime,
podendo se afirmar que o regime pode ter caído porque sempre afastou o Exército tunisino de
qualquer papel político (Salih, 2013,190-191). De facto, quando deram a ordem, o Exército
recusou-se a disparar sobre os manifestantes, e, em face da incapacidade da Polícia e das forças
de segurança para controlar os manifestantes foi a liderança do RCD que decidiu que, para
preservar o seu poder, o Presidente e a família tinham de ser sacrificados. Só nessa altura é que
os manifestantes viraram a sua fúria contra o próprio partido quando viram que ele tentava
manter-se no poder. Seguiu-se uma longa luta entre as manifestações contínuas e o partido,
enquanto este tentava reconstruir o governo sob o seu controlo. Foi apenas a 6 de Fevereiro de
2011, três semanas após a demissão do Presidente, que o partido foi formalmente dissolvido por
um tribunal tunisino. A revolução tunisina tinha atingido o seu objectivo fundamental: a
dissolução de um regime que tinha estado no poder desde 1956. (Joffé, 2011:102).

3.3. Síria
A República Árabe da Síria, tal como a conhecemos nos nossos dias, é o resultado do Acordo
Sykes-Picot (1916), em que britânicos e franceses dividiram entre si os territórios do antigo
Império Otomano. Em 1920, a França adquiriu um Mandato sobre a região. Durante o Mandato,
o receio em torno do nacionalismo árabe da maioria sunita, levou os franceses a favorecer a
minoria shiita alauita (Guidère, 2012: 169-170).

O período que se seguiu à independência, em 1946, foi marcado pela instabilidade política,
consequência das guerras israelo-árabes e dos sucessivos golpes de Estado onde, de 1961 a 1970,
sete presidentes ocuparam o cargo mais alto do executivo Sírio. Por fim, em 22 de Fevereiro de
1971, o oficial da aeronáutica, com fortes laços com a União Soviética, Hafez al Assad, toma o
poder por meio de outro golpe militar. Porém, ao contrário dos antecessores, consegue manter-se
no poder até 10 de Junho de 2000, ano de sua morte. A transição política de seu governo foi feita
através de seu filho, Bashar al Assad, naquele mesmo ano, permanecendo no poder até 2013
(Zahreddine, 2013:12), instaurando um sistema inédito no Médio Oriente – a República
hereditária. Apesar da população síria ser chamada às urnas, o país tem sido uma democracia de
fachada, em que o partido único Baath e a minoria alauita detêm o monopólio do poder (Guidère,
2012:170).

A subida ao poder de Bashar Al-Assad representou um processo de concentração do poder,


dentro do partido Baath, que consistiu na eliminação de qualquer centro de poder dentro e fora
do partido que pudessem ameaçar o regime. Na prática, isto significou a concentração do poder
nas mãos do presidente e no seu conjunto de aliados (Delmonte, 2011: 224). Porem o Bashar Al-
Assad procurou trazer mudanças reais para o regime Sírio. Algumas pequenas transformações
foram percebidas nos primeiros anos, como maior acesso à informação (por meio da internet) e
tentativas do presidente em retirar a Síria de seu forte isolamento político, reconhecendo assim a
necessidade de estabelecer o diálogo e debate com a sociedade, todavia, isto pouco ao nada
significou em termos de abertura política, pois a repressão manteve-se, aniquilando os
movimentos da sociedade civil (Ibid:226).

Na economia, sob o lema “economia social de mercado”, foram aplicadas um conjunto de


medidas liberalizantes da economia, que tinham como objectivo o desenvolvimento comercial e
industrial, sem que o mesmo significasse o abandono das políticas de promoção de igualdade
social do partido Baath. Contudo, o que se verificou foi o controlo económico por membros do
regime e de actores ligados ao mesmo, configurando o que se denomina por “capitalismo dos
amigos” (Ibid: 226-227).

Paralelamente, assistiu-se ao aumento da corrupção e ao surgimento de verdadeiros impérios


económicos controlados por agentes afectos ao regime. A isto se soma a progressiva
marginalização das áreas rurais (inclusive nas regiões de maioria alauita), e a deterioração dos
serviços públicos e instituições sociais. O aumento do custo de vida teve como efeito o aumento
da pobreza, e a abertura económica traduziu-se no crescimento do desemprego, sobretudo jovem.
Por fim, a estes factores junta-se o regime de partido único e militarizado, a pressão policial, a
falta de liberdades de expressão (Ramos, 2013:52).
A Síria, também é marcada por uma diversidade étnica e religiosa. Em 2000, o grupo religioso
predominante eram os Sunitas, com 68,4% da população, sendo os Alauitas o segundo maior
grupo, com 11,3%, seguidos pelos Cristãos com 11,2%, os Drusos com 3,2% e os Xiitas com
3,2%. É importante destacar que esta sociedade também é caracterizada por minorias étnicas,
como os curdos e arménios, que possuem um papel importante no país. Este quadro se torna
ainda mais complexo em virtude do conflito palestino israelense, pois desde 1948 com a
independência ou proclamação da independência do Estado de Israel, o país tem recebido um
alto fluxo de refugiados palestinos (Zahreddine, 2013:13). Sendo assim difícil adequar as
aspirações de todas estas comunidades, pois o próprio governo beneficia certos grupos étnicos
em detrimento de outros (Ibid).

Implicações da Primavera Árabe na Síria


As manifestações na Síria despontaram a 26 de Janeiro de 2011. Inicialmente sem qualquer
motivação religiosa ou contra o regime em particular, estas contestações visavam expor as
estruturas obsoletas do sistema político, a falta de liberdade no país, versando ainda sobre as
condições socioeconómicas vividas na época (Bastos, 2014:3). Porem foi em Março de 2011,
onde a Síria passou a ser palco de manifestações mais sangrentas e violentas do Médio Oriente
(Ibid).

Face aos acontecimentos, o governo Sírio retorquiu com brutalidade às manifestações pacíficas
do povo, originando uma onda de violência sem precedentes. A tentativa do regime para reprimir
os protestos do povo sírio resultou na morte, tortura e prisão de milhares de cidadãos. A
crueldade das acções levadas a cabo por Bashar al-Assad, conjuntamente com as mais altas
patentes das forças armadas e de segurança, e alguns membros do governo sírio, levaram a que
estes fossem acusados de crimes de guerra e crimes contra a Humanidade. Também os grupos
armados da oposição síria foram acusados da prática de crimes de guerra e violações dos direitos
humanos.

Num primeiro momento o combate a corrupção e a necessidade de reformas politicas e sociais,


foram as principais exigências populares, mas rapidamente o fim do regime e as liberdades civis
foram incluídos no conjunto de reivindicações. Neste sentido, o serviço militar foi reduzido; os
jovens presos em Deraa e alguns presos políticos foram libertados; o salário dos funcionários
públicos foi aumentado; a lei da excepção em vigor desde 1963 foi levantada; anunciou-se o
diálogo com a oposição e um projecto lei que permitiu a formação de partidos políticos, bem
como medidas de combate à corrupção e liberdade de imprensa, sendo estas algumas concessões
que Bashar fez como forma de ganhar tempo para reprimir o povo (Ramos, 2013:53).

Contudo, estas medidas tiveram pouco impacto sobre os manifestantes. A violência intensificou-
se, tanto do lado dos manifestantes como do regime, e instaurou-se uma situação de impasse, na
qual os manifestantes não tiveram a unidade, coordenação e apoio nacional suficiente para
derrubar o regime, e, por sua vez, o regime não conseguiu controlar extensas áreas sem recorrer
às forças militares. Aliás, uma característica bastante particular que distingue a revolta síria das
demais, é o caráter móvel e fragmentado, as revoltas têm-se realizado em diferentes locais e
quando a repressão do regime esmaga um foco de revolta, logo surge outro (Ibid).

As mortes, a violência e a repressão são memórias muito presentes nas consciências populares,
por outro lado, o país está completamente destruído, sendo fundamental a ajuda económica e
financeira do ocidente, cenário bastante distante enquanto Bashar não se demitir. A Síria está
actualmente num impasse em que o regime não consegue controlar a rebelião sem o recurso à
extrema brutalidade, e as milícias revolucionárias não têm os meios, os apoios internos e
externos, e a unidade suficientes para derrubar o regime (Ramos, 2013:54).

O surgimento de grupos jihadistas como o grupo Tajamo Ansar al-Islam (Congregação dos
Seguidores do Islão) e Jabhat al-Nusra (Frente de Socorro) apontam para uma tendência de
radicalização em torno do movimento revolucionário sírio, o que tem sido motivo de
preocupação para as minorias e para a comunidade internacional, que receiam que o armamento
entregue aos rebeldes possa cair em mãos erradas (Barthe, 2012: 38).

A Frente al-Nusra, impregnada de fundamentalismo sunita, acusa os países ocidentais de


ajudarem o regime de Damasco contra os sunitas e apela à revolta dos muçulmanos contra as
atrocidades do “inimigo alauita”, e à criação de um Estado islâmico salafita ultraortodoxo (Ibid).

Esta situação tem favorecido a divisão da sociedade síria, já por si muito dividida, e pode
transformar, a Síria num palco de terrorismo internacional, impedindo a reconstrução do país e
reduzindo o grau de simpatia pela revolução junto da opinião pública mundial, a única que
poderá obrigar os governos ocidentais a intervir no sentido de resolução do conflito. O
radicalismo islâmico promovido por este grupo afasta, também, as minorias e os sunitas
partidários de um Estado laico (Saghieh 2013:34). Estas divisões e divergências têm um impacto
bastante negativo no já atribulado panorama sírio, contribuem para a falta de unidade e
coordenação das forças revolucionárias, o que beneficia o regime.

3.4. Análise comparativa das Implicações da Primavera Árabe na Tunísia e na Síria:


Diferenças e Similaridades

As manifestações no contexto da Primavera Árabe tanto na Tunísia como na Síria, no seu início
não visavam uma mudança nos regimes já implantados, para ambos os casos no princípio as
manifestações apenas visavam uma melhoria nas condições de vida das sociedades,
reivindicavam desta forma as faltas de liberdades civis que se viviam na época, porem com o seu
alastrar por varias cidades dos respectivos países, verificou-se um aumento das exigências por
parte dos manifestantes, estes exigindo já a deposição dos líderes em causa, Ben Ali na Tunísia e
Bashar al-Assad na Síria. Por exemplo na Tunísia as manifestações começaram nas cidades de
Sidi Bouzid, Thala e Kasserine e só depois de alguns dias chegaram a capital Túnis onde já se
exigia a deposição de Ben Ali (Schiller, 2011:12). E na Síria os protestos iniciaram na cidade de
Deera esta que era uma cidade marginalizada das políticas de liberalização e de seguida se
estenderam por todo o país: Harasta, Hama, Homs, Latakia, Baniyas, Qamishi, Dayr al-Zor, Tal
Kalakh, Damasco e Aleepo foram pouco afectadas com as manifestações (Ramos, 2013:53-54).
Outra similaridade que se verifica é a resposta dada as manifestações pelos dirigentes, ambos
responderam com violência o que aumentou a euforia das populações, estes regimes empregaram
o excesso do uso da forca numa tentativa de controlar as manifestações mas o seu resultado foi o
oposto.

Com a Primavera Árabe verificou-se um surgimento de grupos terroristas na Síria, devido a já


fragmentação do estado que lá se verificava, neste contexto as manifestações foram
essencialmente a expressão de questões locais ou particulares, em que cada região ou grupos em
protesto tinham os seus próprios projectos políticos, estes apenas concordando com o fim do
partido Baath e a destruição de Assad (Ramos,2013:60). Diferente da Tunísia que existia uma
coesão e estabilidade social, esta era vista como um exemplo devido a seu crescimento
económico, também era vista como um destino turístico principalmente a ilha de Djerba , como
também os Resorts situados na costa tunisina como Hammamet e Sousse, que são grandes
destinos para os Europeus, a sociedade tunisina também detinha altos níveis de educação o que
facilitava aos investidores estrangeiros na procura de mão-de-obra, fazendo assim com que a
comunidade internacional e o povo esquecesse da repressão que provinha por parte do regime
(Schiller, 2011:9). Não possibilitando assim a existência de vários grupos que reivindicavam o
poder.

A maior diferença que se verificou entre a Tunísia e a Síria foi o resultado da Primavera árabe, as
manifestações tinham o objectivo de derrubar os líderes dos estados, Ben Ali e Assad
respectivamente, o que só sucedeu na Tunísia onde se viu a queda de Ben Ali. O regime de
Assad manteou-se no poder por várias razões. Primeiro os pilares do regime continuaram
intactos, devido as 4 sobrepostas agencias de inteligência que não permitiram movimentos por
parte da polução, as forcas militares e de segurança no seu mais alto escalão estavam dispostas a
matar os seus próprios pela sobrevivência do regime, o que não aconteceu na Tunísia (Phillips,
2012:39). O regime também recebeu apoio de algumas partes da sociedade, as minorias que eram
cépticas do domínio sunita maioritário - os Alawis, os cristãos e os drusos - e alguns membros
das classes médias sunitas, particularmente no Aleppo com sucesso comercial, ajudando o
regime a se manter no poder (Ibid). Na Síria houve a eclosão de um conflito, sendo que desta
forma a Primavera Árabe não atingiu o seu objectivo de derrubar o regime de Assad. A eclosão
do conflito armado, deveu-se a presença de vários grupos organizados que formaram órgãos
políticos (Conselho Nacional Sírio) com o objectivo de coordenar as actividades dos movimentos
de oposição ao regime e alcançar apoio externo (Ramos, 2013:61).
Capitulo 4

4.1 Conflito Sírio

Para analisar o conflito sírio utilizar-se-á a estrutura básica de análise de conflito que contara
com problema, onde procura-se saber em que tipo de conflito encontra-se na Síria. De seguida
versar-se-á sobre as partes estas que dividem-se em partes primárias, secundárias e terciárias.

4.2. Problema

Após a Primavera Árabe na Síria surgiram muitos grupos insurgentes como Tajamo Ansar al-
Islam, Jabhat al-Nusra, além dos já existentes como Conselho Nacional Sírio (CNS), Free Syrian
Army, também houve informações de alguns militantes do Al-quaeda que lutavam contra o
regime, estes grupos divergem nos seus objectivos (Joya, 2012:32), o que traz uma nova
dinâmica ao conflito, podendo-se assim afirmar que se trata de uma guerra civil.

Visto que um conflito para ser denominado guerra civil segundo Bhardwaj (2012, 77-78),
necessita de 3 características principais, primeira deve estar fechado as fronteiras territoriais de
um estado com reconhecimento internacional. Segundo os actores de uma guerra civil devem
estar claramente definidos, de um lado temos o governo que vai tentar assegurar o controlo do
território e por outro os rebeldes que devem obter uma hierarquia militar para fazer face as forças
do governo, também esta oposição deve ter objectivos claros, estes devem se fazer da violência
para atingir um fim político ou ideológico e não apenas desejar o controlo de recursos
económicos, devem também obter fontes sólidas de financiamento para poder fazer face as
forças governamentais.

Para o caso da Síria verificam-se as características acima mencionadas, apesar da fragmentação e


a existência de vários grupos com agendas distintas, surgiu o CNS quem vem com objectivo de
coordenar as actividades dos movimentos de oposição ao regime e alcançar o apoio externo,
tornando desta forma a oposição mais coesa.
4.3. Partes Primárias

O conflito sírio detém uma particularidade em especial, a sua fragmentação, o que leva com que
existam vários grupos que detém os seus próprios objectivos a reivindicar, com isso para a
presente análise foram identificados os principais grupos opositores da Síria. Neste contexto
vamos ter como partes primárias: o Governo de Bashar al Assad versus Conselho Nacional Sírio,
Irmandade muçulmana, Exercito Livre da Síria e por fim Estado Islâmico.

O Conselho Nacional Sírio e a Irmandade Muçulmana

O grupo mais forte e organizada da oposição tem sido, a irmandade muçulmana e este é
representado pelo CNS, formada na Turquia em Setembro de 2011. O CNS tem o objectivo de
derrubar o regime Bath utilizando todos os meios inclusive a intervenção militar, este grupo tem
recebido apoios de Qatar, Líbia, Tunísia e pelas nações ocidentais (Joya, 2012:32). O grupo
também busca uma legitimidade a nível internacional promovendo conferencias dos amigos da
Síria, na Tunísia, Turquia e na França (Ibid).

Exercito Livre da Síria

O ELS foi criado em Julho de 2011, este que vem com o objectivo de derrubar o regime da
Assad, esta é uma organização formada por desertores militares sírios que tinham fugido para
Turquia, na sua maioria encontramos árabes sunitas (Phillips, 2012:40). A sede da ELS se
encontra na Turquia e esta organização recebe armas e dinheiro dos estados do golfo, Líbia e
treina os seus militares na Tunísia, esta organização está associada a vários grupos dentro da
Síria o que levou Haytham Manna, a declarar que a ELS é um grupo solto que não tem o poder
centralizado, mas com potencial para contribuir na guerra civil (Joya, 2012:33).

Estado Islâmico

O Estado Islâmico surgiu como uma terceira grande força no conflito e avançou tanto sobre as
Forças Armadas quanto os grupos rebeldes, chegando a ocupar 35% do território sírio e a
controlar 60% do petróleo do país em Julho de 2014, a organização fundamentalista, tem como
base religiosa e ideológica o salafismo, movimento ultraconservador que defende uma
interpretação literal do Alcorão e o retorno dos muçulmanos às práticas do Islã do século sétimo.
Diferentemente dos demais grupos que se opõem ao governo sírio, o EI não tem como objectivo
primordial a derrubada de Assad, tendendo a priorizar a conquista territorial e, nessa perspectiva,
todos os demais beligerantes são considerados inimigos (Fujii, 2015:12).

Partes secundárias

O governo de Assad é apoiado pela Rússia e pelo Irão, sendo estes consideradas partes
secundarias do conflito, visto que apoiam de forma material e detem interesses concretos na
região. E do lado da oposição temos os EUA, Turquia, países do golfo representados pela Arabia
Saudita.

Rússia

Rússia tem bloqueado a aprovação de resoluções contra o regime Assad no Conselho de


Segurança das Nações Unidas, vetando iniciativas do órgão que buscam aprovar medidas severas
contra Damasco. No front interno, Moscou é o maior fornecedor de ajuda militar à Síria
juntamente com o Irão, tendo actuado, também, no sentido de dissuadir o governo sírio de usar
armas químicas contra os rebeldes em grande escala, o que provavelmente teria acarretado uma
intervenção militar directa dos Estados Unidos (Casey-Maslem, 2013:449).

Irão

O Irão colabora com Damasco no conflito contra as forças rebeldes. Na perspectiva de Teerã, a
manutenção de Assad no poder é essencial para sua estratégia no Oriente Médio, que consiste
prioritariamente na contenção dos Estados Unidos e na disputa com a Arábia Saudita, além do
confronto com Israel, não necessariamente directo, mas por meio de apoio a grupos como Hamas
e Hezbollah (Fujii, 2015:10). Nessa óptica, a Síria de Assad aparece como uma peça-chave para
os iranianos, pois o presidente sírio representa um bastião contra o fundamentalismo sunita no
país, além de contribuir para evitar o isolamento do Irã no mundo árabe (Ibid). Assim, o Irão tem
fornecido ajuda financeira, militar e de inteligência ao regime Assad, embora negue o
envolvimento directo de suas tropas no campo de batalha (Ibid:11).

Estados Unidos de América

Os Estados Unidos mostraram-se um dos países mais críticos ao governo Assad desde o início
das hostilidades, demandando repetidamente o fim do regime e a instalação de um governo de
transição. Seguindo essa lógica e com o intuito de derrubar Assad, os Estados Unidos
inicialmente ofereceram ajuda não letal aos rebeldes na resistência contra as Forças Armadas
sírias, passando a fornecer armas em um segundo momento. Contudo, a ajuda aos rebeldes sírios
não é livre de preocupações para os Estados Unidos, já que existe o risco de as mesmas caírem
em mãos de grupos considerados não confiáveis, dado o carácter heterogéneo da oposição síria
(Fujii, 2015:11). Os EUA têm o interesse de instalar um regime a seu favor na Síria, a fim de
aumentar a sua influência na região e isolar o Irão.

Turquia

A posição da Turquia contra o regime Baath tem se tornado mais hostil a nível que o conflito vai
se intensificando. A Turquia apoia os grupos de oposição albergando primeiro a sede do exército
livre da síria e organizando varias reuniões e buscar apoios para os grupos de oposição,
aproximando-os desta forma dos países do golfo, especialmente Qatar e Arabia Saudita (Joya,
2012:40). A Turquia tem o interesse comum com os EUA, Qatar e Arabia Saudita, que e de
remover o regime de Assad e colocar um regime pro-ocidental, para poder obter influência e
reduzir o poder do Irão na região, visto que a síria apoia o Irão.

Arabia Saudita

A Arabia Saudita vê a possibilidade de derrocada do Partido Baath como uma oportunidade para
tirar de cena um regime secular liderado por alauítas, vistos como hereges pela liderança saudita,
e de ver um regime sunita instalado em Damasco, hipótese mais provável num eventual cenário
pós-Assad. Mais importante para o País, no entanto, é a diminuição da influência do Irã que a
queda de Assad representaria, visto que os dois países formam a aliança mais sólida e duradoura
entre os países da região (Fujii, 2015:11 citando Goordazi, 2009).

Partes Terciarias

As partes terciarias deviam ser as que não tem envolvimento directo, porem participam na
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