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Revista CEFAC

Speech, Language, Hearing Sciences and Education Journal

Rev. CEFAC. 2016 Jan-Fev; 18(1):263-272 doi: 10.1590/1982-021620161810115

Relatos de casos

Terapia vocal e sons nasais:


efeitos sobre disfonias hiperfuncionais
Vocal therapy and nasal sounds: effects on Hyperfunctional dysphonia
Simone Rattay Andrade(1)
Carla Aparecida Cielo(2)
Karine Schwarz(3)
Vanessa Veis Ribeiro(4)

(1)
Universidade Federal de Santa Maria/ RESUMO
UFSM, Santa Maria, RS, Brasil.
(2)
Departamento de Fonoaudiologia
Buscou-se verificar os efeitos de um programa fonoterapêutico que incluiu orientação vocal e postural,
e Programa de Pós-Graduação em adequação da função respiratória e a técnica de sons nasais em disfonias hiperfuncionais. Foi realizado
Distúrbios da Comunicação Humana da um estudo de casos clínicos, observacional, longitudinal, não controlado, de caráter quantitativo que
Universidade Federal de Santa Maria/ analisou três sujeitos do sexo feminino com idade média de 31,33 anos que apresentavam disfonias
UFSM, Santa Maria, RS, Brasil. hiperfuncionais. Os sujeitos foram submetidos a: videolaringoscopia, avaliação vocal perceptivoauditiva
(3)
Hospital de Clínicas de Porto Alegre/ e acústica, coleta de tempos máximos de fonação, triagem postural e determinação do tipo respiratório
HCPA, Porto Alegre, RS, Brasil. durante a fala, antes e após um programa terapêutico composto por orientação, conscientização e treina-
(4)
Universidade de São Paulo FOB/USP, mento vocal com sons nasais durante 16 sessões de fonoterapia, uma vez na semana com treinamento
Bauru, SP, Brasil. em domicílio. Os dados foram analisados por meio dos testes não-paramétricos Mann-Whitney e Qui-
Fontes de auxílio à pesquisa: CAPES quadrado, com nível de significância de 5%. Pós-terapia, observou-se que a postura corporal passou
de desalinhada para alinhada e o tipo respiratório de superior para costodiafragmático abdominal; houve
Conflito de interesses: inexistente diminuição das medidas acústicas em relação ao grau e número de subharmônicos na maioria signifi-
cante dos sujeitos, além de melhoras teciduais e diminuição do edema na mucosa das pregas vocais e
na região aritenoide, e melhora da coaptação glótica. Após a execução de um programa fonoterapêutico
com orientação vocal e postural, adequação da função respiratória e uso da técnica de sons nasais em
disfonias hiperfuncionais, observou-se melhora significante da postura corporal, do tipo respiratório, das
medidas acústicas sugestivas de ruído à emissão vocal, e efeitos positivos sobre o tecido e o fechamento
das pregas vocais.
Descritores: Avaliação em Saúde; Distúrbios da Voz; Diagnóstico; Treinamento da Voz; Voz

ABSTRACT
We sought to evaluate the effects of a phonotherapy program that included vocal and postural orientation,
respiratory function adequation and the technique of nasal sounds in hyperfunctional dysphonia. It was
carried out an observational, longitudinal and non-controlled study of clinical cases with quantitative cha-
racter that analyzed three female subjects with mean age of 31,33 years who had hyperfunctional dys-
phonia. The subjects were submitted to: laryngoscopy, perceptual voice assessment and acoustic col-
lection of maximum phonation time, postural screening and determination of the respiratory tract during
speech before and after a therapeutic program. This consists of orientation, awareness and vocal training
with nasal sounds during 16 speech therapy sessions, once a week at patient home. Data were analyzed
using the non-parametric Mann-Whitney and Chi-square, with 5% significance level. Post-treatment, it
was observed that the posture passed aligned and misaligned to the upper respiratory tract to costodia-
Recebido em: 20/01/2015 phragmatic abdominal; there was a decrease in the acoustic measurement degrees and in the number of
Aceito em: 16/03/2015 significant subharmonics in most subjects. Furthermore, were identified tissue improvements and edema
Endereço para correspondência:
remission in the mucosa of the vocal folds and arytenoid region, besides improved glottal closure. After
Vanessa Veis Ribeiro the execution of a phonotherapy program with vocal and postural orientation, respiratory function ade-
Rua Professor Vitor do Amaral, 1142, quation and use of the technique of nasal sounds in hyperfunctional dysphonia, we observed significant
Centro improvement of body posture, of respiratory type, of acoustic measurements related to vocal noise pro-
Irati – PR – Brasil duction and positive effects on the tissue and the closure of the vocal folds.
CEP: 84500-000
E-mail: vanessaribeirooo@hotmail.com Keywords: Health Evaluation; Voice Disorders; Diagnosis; Voice Training; Voice
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INTRODUÇÃO Considerando-se o exposto, o objetivo do estudo


foi verificar os efeitos de um programa fonoterapêutico
A técnica dos sons nasais é um exercício de trato
que incluiu orientação vocal e postural com adequação
vocal semiocluído, considerada facilitadora do equilíbrio
da função respiratória e a técnica de sons nasais em
fonatório, propiciando a interação fonte e filtro, visto
casos de disfonias hiperfuncionais.
que a energia sonora retroflexa, além de minimizar o
impacto sofrido pelas pregas vocais durante a fonação
e reduzir os riscos de trauma, melhora a ressonância APRESENTAÇÃO DO CASO
e a projeção vocal1,2. Essa técnica, também chamada Estudo de casos clínicos, observacional, longitu-
de humming, técnica de ressonância ou de colocação dinal, não controlado, de caráter quantitativo, aprovado
da voz na máscara e é também utilizada no método pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
de voz ressonante, sendo indicada para o tratamento Federal de Santa Maria sob o protocolo nº 100/05. O
das disfonias, principalmente as hiperfuncionais, estudo teve como população-alvo professores com
caracterizadas por excesso de tensão muscular1-6. características de disfonia hiperfuncional.
Os principais benefícios da técnica de som nasal são Para a seleção dos casos, 11 instituições de
o equilíbrio ressonantal; enriquecimento da energia ensino foram contatadas, informadas e esclarecidas
harmônica do sinal glótico; redução e equilíbrio da sobre a proposta por meio de reuniões nas quais
hipertensão laríngea, mandibular e de todo o aparato o responsável era convidado a assinar o Termo de
fonador; suavização da emissão; melhora da projeção Autorização Institucional. Após a autorização da insti-
vocal; equilíbrio do ataque vocal; aumento dos tempos tuição de ensino, para a divulgação e o contato com
máximos de fonação (TMF); melhora do automonitora- os professores, foram efetuadas reuniões com o corpo
mento vocal1-5. docente, realizados esclarecimentos sobre a pesquisa
A terapia fonoaudiológica caracteriza-se como e convite a assinar o Termo de Consentimento Livre e
um processo em que estão envolvidos determinados Esclarecido (TCLE). Além disso, a divulgação também
objetivos e etapas a serem realizados para uma reper- foi realizada junto a alguns médicos otorrinolaringolo-
cussão positiva, assim, a fonoterapia deve contemplar gistas e diretamente junto às pessoas conhecidas.
orientação, conscientização e treinamento vocal com Foram estabelecidos os seguintes critérios de
exercícios mais específicos3,4,7. Considerando-se a inclusão: sexo feminino por ser maioria na docência,
participação dos usos incorretos da voz nas disfonias por se caracterizar por maior busca de tratamentos em
hiperfuncionais ou comportamentais, o trabalho de saúde e por tratar-se do sexo com maior incidência de
orientação tem o objetivo de oferecer ao paciente o disfonias por uso incorreto da voz, fendas vocais trian-
entendimento quanto aos princípios básicos de anato- gulares médio-posteriores e nódulos vocais; faixa etária
mofisiologia e saúde vocal. Nesta etapa também são entre 19 e 60 anos para exclusão de período de muda
incluídas as orientações sobre adequações da postura vocal e de presbifonia; apresentar laudo médico otorri-
e da respiração, aspectos que influenciam o desen- nolaringológico de laringe normal ou com afecções de
volvimento de uma fonação apropriada. A conscienti- origem hiperfuncional como edemas, pólipos, cistos,
zação deve mostrar como a voz pode ser interpretada nódulos e/ou fenda vocal triangular médio-posterior,
pelo ouvinte, já que não pode ser separada do corpo e dentre outras; presença de queixas vocais relacio-
das emoções3,4,7-10. nadas a comportamentos de usos vocais incorretos ou
Podem-se considerar estas etapas como uma hiperfuncionais; adesão ao TCLE3,4,8,10,12-17.
fonoterapia de base, pois com o trabalho inicial de Os critérios de exclusão estabelecidos foram:
explicação e prevenção o paciente poderá, sistema- relato de crises alérgicas, respiratórias ou gástricas ou
ticamente, tentar reverter os comportamentos vocais disfunções hormonais decorrentes de gravidez ou de
inadequados. Na literatura, há relatos que indicam período menstrual no durante a coleta de dados de
que o trabalho de orientação ao paciente demonstra avaliação e reavaliação, pois podem produzir desvios
ser uma abordagem valiosa para a terapia vocal, visto nos parâmetros vocais; modo respiratório misto ou oral
que, em vários casos, ocorre a superação do problema em repouso; relato de doenças neurológicas, metabó-
vocal apenas com a utilização desse recurso, sem a licas, endócrinas, sindrômicas e/ou psiquiátricas; ser
necessidade de qualquer outra abordagem terapêutica, fumante e/ou alcoolista, pois esses agentes são agres-
mostrando efetividade e eliminação dos ajustes vocais sivos à laringe e podem levar à formação de patologias
inadequados11,12. laríngeas; possuir histórico de cirurgia laríngea e/

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ou qualquer procedimento cirúrgico de cabeça e incluindo a hidratoterapia e aspectos sobre respiração


pescoço; ter realizado tratamento fonoaudiológico e/ou e postura. A segunda parte consistiu na realização da
otorrinolaringológico para a voz; apresentar disfunções técnica de sons nasais.
auditivas previamente detectadas em triagem auditiva, A anatomofisiologia e a produção vocal foram
pois elas podem modificar o automonitoramento da explicadas com o auxílio de desenhos e gravuras
voz, comprometendo a qualidade vocal; fazer uso ilustrativas. A saúde vocal foi abordada por intermédio
da voz cantada de forma profissional ou amadora; de orientações sobre os danos da voz frente a certos
presença de alterações de sistema estomatognático hábitos vocais e comportamentais nocivos, bem
que pudessem impedir a adequada execução do como sobre orientações de condutas que promovem
programa fonoterapêutico proposto3,4,8,13,14. benefícios vocais. Tais explicações foram comple-
Para a aplicação dos critérios de seleção foi utilizado mentadas com textos explicativos que contemplavam
um questionário; uma avaliação completa incluindo os seguintes tópicos: hábito de fumar; exposição
videolaringoscopia com médico otorrinolaringologista, frequente à poluição e ar condicionado; hábitos vocais
com um telescópio rígido, que foi gravada em fita VHS; abusivos como o pigarro, a tosse, a competição sonora,
uma triagem auditiva por meio de varredura dos tons o grito, o cochicho; a ingestão excessiva de bebidas
puros nas frequências de 500, 1000, 2000 e 4000Hz em alcoólicas; o uso de soluções caseiras; a influência
25dB, somente por via aérea; uma avaliação fonoau- das alterações hormonais; o consumo inadequado
diológica orofacial que examinou tônus e função de de alimentos muito condimentados, de bebidas com
órgãos fonoarticulatórios, oclusão, articulação e modo cafeína e derivados do leite; o consumo de maçã e mel;
respiratório3,8. o uso de medicamentos sem prescrição médica, bem
Dos 12 voluntários que se candidataram à pesquisa, como de pastilhas e sprays; a exposição a mudanças
foram excluídos: três por tabagismo; dois por utilização bruscas de temperatura; o vestuário; o repouso; e
de voz cantada amadora; dois por realização prévia questões sobre o refluxo gastresofágico3,4,8,9.
de tratamento fonoaudiológico para a voz; um por Além dos aspectos gerais de saúde vocal, a hidra-
diagnóstico Otorrinolaringológico de refluxo laringofa- toterapia também foi discutida junto aos sujeitos
ríngeo. Ainda, um docente foi perdido no decorrer da da pesquisa, ou seja, o aconselhamento à ingestão
pesquisa, solicitando seu desligamento por problemas adequada de líquidos (aproximadamente oito copos de
pessoais. Salienta-se que não foram divulgados os água por dia), tendo em vista a promoção da eficiência
resultados das avaliações individuais às escolas vocal pelo aumento da hidratação laríngea indireta3,4.
preservando, assim, o direito à privacidade dos profes- No trabalho de orientação de adequação da postura
sores envolvidos. para a fonação objetivou-se desativar os ajustes
O grupo para estudo constituiu-se, então, de três musculares inadequados que ocasionam má postura
sujeitos do sexo feminino com queixas vocais, com com a utilização de um espelho, mostrando e fazendo
idades de 23, 40 e 51 anos (média de 31,33 anos), o paciente perceber que uma postura ereta favorece o
professoras, que apresentaram, respectivamente, funcionamento do aparato fonador por proporcionar,
diagnósticos otorrinolaringológicos de: 1) edema na principalmente, a livre excursão da laringe no sentido
região aritenoide, pequeno nódulo na prega vocal vertical e a livre movimentação diafragmática e da caixa
direita, fenda triangular médio-posterior e pontos torácica, favorecendo uma respiração mais adequada
hemorrágicos em ambas as pregas vocais; 2) nódulo à vocalização3,4,9.
na prega vocal esquerda e fenda no terço médio; 3) O trabalho de adequação do tipo respiratório
laringe sem alterações. foi realizado com explicações e monitoramento da
Os sujeitos foram submetidos à caracterização movimentação das estruturas envolvidas na manobra
vocal por meio da avaliação vocal perceptivoauditiva respiratória. Houve a execução de exercícios especí-
e acústica, coleta de TMF, triagem postural e determi- ficos para a promoção do padrão costodiafragmático-
nação do tipo respiratório durante a fala e avaliação abdominal, com a inspiração expandindo esta região
otorrinolaringológica, antes e após um programa e o controle expiratório da saída do ar, prolongando-
terapêutico descrito adiante. -a, visando ao condicionamento e fortalecimento da
O programa terapêutico foi composto por duas musculatura respiratória3,4,9.
partes, a fonoterapia de base com orientações sobre Após o cumprimento desta etapa de fonoterapia de
anatomofisiologia do aparato fonador; saúde vocal, base, houve a inclusão da técnica de sons de apoio

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nasais, sendo selecionado para realização o exercício pitch e loudness habituais, após inspiração profunda,
do som nasal /m/ sustentado2-4. emitindo em TMF8,9,13,14. As emissões foram captadas
O som nasal foi emitido da seguinte forma: emissão por gravador digital do tipo media player 3 (MP3)
contínua do som, com utilização de respiração costo- DVR, da marca Centon®, mantendo-se a distância de
diafragmáticoabdominal, em pitch e loudness habituais, quatro centímetros entre o microfone e a boca para
posição ortostática em frente a um espelho, sem deslo- as emissões18. Cada vogal e fricativa foi emitida três
camentos de cabeça, sem aumento de contração vezes, considerando-se para análise a de maior tempo
muscular de cintura escapular e região supra-hioidea, em segundos; em seguida, foi realizada a média do
sem hipertensão muscular de lábios, língua, mandíbula maior TMF das três vogais8,9.
e ou faringe, mandíbula rebaixada sem oclusão dos Para a análise acústica de fonte glótica foi utilizada
dentes, lábios unidos, emissão dividida entre cavidade a emissão sustentada da vogal /a/, eliminando-se o
oral e nasal para o equilíbrio ressonantal, percepção ataque vocal e descartando-se o final da emissão, a fim
de vibração da face na região do nariz e boca, além de de evitar a influência dos períodos naturais de instabi-
evitar a elevação de pitch ou loudness3,4. lidade da voz4,18. Desta forma, o menor tempo editado
Os sujeitos também deveriam evitar os ataques dentre todos os sujeitos foi padronizado para análise.
vocais bruscos ao iniciar a sonorização do som nasal
Utilizou-se o software Multi-Dimensional Voice
e deveriam emitir o /m:/ cuidando para que a laringe
Program Advanced da Kay Pentax® (MDVPA), com
permanecesse baixa no pescoço, buscando a redução
taxa de amostragem de 44kHz e 16bits. As medidas
de tensão e melhora da qualidade vocal. Procurou-se,
extraídas foram: frequência fundamental (f0); quociente
ao longo deste treinamento, oferecer às pacientes
de perturbação do pitch (PPQ); coeficiente da variação
pistas visuais, auditivas e proprioceptivas, que
da f0 (vf0); coeficiente de variação da amplitude
pudessem favorecer a emissão correta do som nasal,
(vAm); quociente de perturbação da amplitude (APQ);
como a percepção da intensificação das vibrações
proporção ruído-harmônico (NHR); índice de fonação
na região da face, principalmente nariz, lábios e
suave (SPI); índice de turbulência da voz (VTI); número
bochechas ou uma “coceirinha” nessas regiões3,4.
de quebras vocais (NVB); grau de quebra da voz (DVB);
Os sujeitos realizaram três séries de dez minutos
grau de segmentos não sonorizados (DUV); número
de emissão do som nasal, totalizando 30 minutos de
de segmentos não sonorizados (NUV); números de
fonoterapia por sessão. O intervalo entre cada uma
segmentos sub-harmônicos (NSH), e grau dos compo-
das três séries foi de um minuto de repouso vocal
nentes sub-harmônicos (DSH). Na avaliação acústica,
absoluto, ou seja, silêncio absoluto. Foram realizadas
foram utilizados os parâmetros de normalidade para o
16 sessões de fonoterapia, uma por vez na semana,
sexo feminino, propostos pelo próprio programa18.
totalizando quatro meses. As orientações e exercícios
trabalhados nas sessões também deveriam ser reali- A avaliação vocal perceptivoauditiva foi realizada
zados no domicílio pelo sujeito por mais quatro dias da por meio de um protocolo elaborado pelas autoras
semana, uma vez ao dia2,4. com base na literatura4,8,9. Para essa análise, utilizou-
Nos momentos pré e pós-terapia, foi realizada -se a amostra de voz do TMF /a/ dos sujeitos, inves-
uma triagem postural, com o indivíduo posicionado tigando-se os parâmetros perceptivoauditivos de tipo
em pé, observando-se o posicionamento da cabeça vocal (rouco, soproso, comprimido, áspero, bitonal
(em pé e sentado), dos ombros, do quadril, dos ou outro), foco ressonantal (equilibrado, alto ou hiper-
joelhos, dos pés, e dos desvios da coluna vertebral, nasal, faríngeo, laríngeo ou laringofaríngeo), pitch
na posição frontal, de costas e de perfil. Realizou-se, (adequado, grave ou agudo) e loudness (adequada,
ainda, a determinação do tipo respiratório durante a aumentada ou reduzida).
fala pela observação visual do local do tronco onde se As amostras de voz foram convertidas para
concentrava o movimento da expansão das estruturas extensão waveform e enviadas por e-mail para três
torácicas no momento inspiratório, com o indivíduo em fonoaudiólogos, não autores do estudo, com experi-
pé, podendo-se classificar em superior, abdominal, ência de pelo menos cinco anos na área. Os juízes
costodiafragmáticoabdominal ou misto8,9. foram cegados quanto aos objetivos da pesquisa, à
Para a coleta dos TMF, as participantes foram replicação das emissões, às avaliações dos demais
orientadas a emitir de forma sustentada as vogais /a/, juízes e ao momento de gravação (pré ou pós-terapia),
/i/ e /u/ e as fricativas /s/ e /z/ em posição ortostática, sendo informados apenas sobre a faixa etária

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média dos sujeitos. Cada juiz recebeu 12 amostras, A avaliação otorrinolaringológica, que foi consi-
correspondentes ao momento pré e pós-terapia dos derada como critério de inclusão, foi realizada
sujeitos, que foram duplicadas e dispostas aleatoria- novamente pelo mesmo médico pós-fonoterapia, por
mente no material entregue para análise. Os juízes meio do exame de videolaringoscopia para a visua-
foram orientados a escutar as vozes quantas vezes lização das condições laríngeas e das estruturas
fossem necessárias em ambiente silencioso, com fone adjacentes. Os resultados obtidos nessas avaliações
foram descritos em laudos médicos e entregues aos
de ouvido e as análises foram realizadas por meio do
pacientes (Figura 1).
protocolo proposto. Realizou-se, então, a análise por
Os dados foram analisados descritivamente e por
concordância ou predominância entre os achados
meio dos testes não-paramétricos Mann-Whitney e
dos três juízes para todas as respostas atribuídas aos
Qui-quadrado, adotando-se o nível de significância de
parâmetros vocais do mesmo sujeito14. 5%.

Paciente Momento Laudo Otorrinolaringológico


Edema na região aritenoide; pequeno nódulo na prega vocal direita; fenda médio-posterior;
PRÉ
Paciente 01 pontos hemorrágicos em ambas as pregas vocais
PÓS Pequeno nódulo na prega vocal direita com diminuição da fenda vocal
PRÉ Nódulo na prega vocal esquerda; fenda no terço médio
Paciente 02
PÓS Diminuição da fenda e do nódulo da prega vocal esquerda
PRÉ Laringe sem alterações
Paciente 03
PÓS Laringe sem alterações, com melhora da onda mucosa das pregas vocais
Legenda: PRÉ=momento pré-terapia; PÓS=momento pós-terapia

Figura 1. Descrição do laudo otorrinolaringológico dos pacientes

RESULTADOS A Tabela 3 mostra a comparação da avaliação vocal


Na Tabela 1, observa-se a comparação dos resul- perceptivoauditiva pré e pós-terapia.
tados da triagem pré e pós-terapia quanto ao tipo A comparação dos resultados da análise acústica
respiratório e à postura corporal. de fonte glótica pré e pós-terapia pode ser observada
Visualiza-se na Tabela 2 a comparação dos resul- na Tabela 4.
tados da avaliação de TMF pré e pós-terapia.

Tabela 1. Comparação dos resultados da triagem corporal e do tipo respiratório pré e pós-terapia

Momentos
Tipo de avaliação Variável Classificações PRÉ PÓS Valor de p
n (%) n (%)
Superior 2 (66,67) 0 (0,00)
Tipo respiratório Misto 1 (33,33) 0 (0,00) 0,049*
Triagem corporal CDA 0 (0,00) 3 (100,00)
Alinhada 0 (0,00) 3 (100,00)
Postura corporal 0,049*
Desalinhada 3 (100,00) 0 (0,00)
*p>0,005 – Teste Qui-quadrado
Legenda: PRÉ=momento pré-terapia; PÓS=momento pós-terapia; n=número de sujeitos; %=porcentagem de sujeitos; CDA=costodiafragmáticoabdominal.

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Tabela 2. Comparação dos resultados da avaliação de tempos máximos de fonação pré e pós-terapia

TMF Momento Média Mediana Desvio Padrão Valor de p


PRÉ 9,93 12,83 3,22
TMF/a,i,u/ (s) 0,275
PÓS 11,30 14,33 3,22
PRÉ 11,63 12,65 1,84
TMF/s/ (s) 0,512
PÓS 12,75 12,79 1,84
PRÉ 10,31 10,57 2,51
TMF/z/ (s) 0,827
PÓS 11,07 12,50 2,51
*p>0,005 – Teste de Mann-Whitney
Legenda: PRÉ=momento pré-terapia; PÓS=momento pós-terapia; s=segundos; TMF=tempos máximos de fonação.

Tabela 3. Comparação dos resultados da avaliação vocal perceptivoauditiva pré e pós-terapia

Momentos
Tipo de avaliação Variável Classificações PRÉ PÓS Valor de p
n (%) n (%)
Rouca, Soprosa e Áspera 1 (33,33) 1 (33,33)
Tipo vocal Rouca e Soprosa 2 (66,67) 0 (0,00) 0,135
Soprosa 0 (0,00) 2 (66,67)
Laringofaríngeo 2 (66,67) 0 (0,00)
Foco ressonantal Hipernasal 0 (0,00) 2 (66,67) 0,135
Adequado 1 (33,33) 1 (33,33)
Avaliação Vocal
Agudizado 1 (33,33) 3 (100,00)
Perceptivoauditiva
Agravado 0 (00,00) 0 (0,00)
Pitch 0,083
Adequado 2 (66,67) 0 (0,00)
Intenso 0 (0,00) 0 (0,00)
Adequada 1 (33,33) 2 (66,67)
Loudness Aumentada 0 (0,00) 1 (33,33) 0,188
Reduzida 2 (66,67) 0 (0,00)
*p>0,005 – Teste Qui-quadrado
Legenda: PRÉ=momento pré-terapia; PÓS=momento pós-terapia; n=número de sujeitos; %=porcentagem de sujeitos.

DISCUSSÃO som nasal que também é relaxante possa ter oferecido


aos sujeitos a melhora da hipertensão e o equilíbrio
A hiperfunção vocal ou hipertensão é uma das
corporal, auxiliando também na liberação das tensões
principais características das disfonias funcionais e
do aparato vocal, da musculatura cervical e da cintura
organofuncionais, ela gera aumento de tensão na
musculatura laríngea e afeta também os músculos escapular. A desarmonia da postura geralmente tem
extrínsecos3,4,8,9. De modo geral, o prejuízo na produção relação com a alteração vocal de caráter hiperfun-
vocal está relacionado à inadequação da função respi- cional, podendo a alteração vocal ser consequência de
ratória, uso incorreto das caixas de ressonância, hiper- desequilíbrios da musculatura craniocervical3,4,6,8,9,19,21.
tensão lingual, laríngea e perilaríngea e da musculatura Assim, a postura ereta permite maior liberdade dos
cervical6,19,20. Nesses casos, são comuns a presença movimentos verticais da laringe, além de evitar o
de edemas ou nódulos, fendas glóticas e laringe tensionamento da musculatura cervical e da cintura
elevada, sendo essas características mais comumente escapular, melhorando a produção vocal como um
presentes em mulheres15-17. todo3,4,6-8,9,21.
Neste estudo, observou-se que a postura corporal Estudo que buscou identificar a influência da
passou de desalinhada para alinhada em todos os postura corporal sobre a produção vocal de profes-
sujeitos (Tabela 1). Acredita-se que o trabalho de sores analisou o TMF da vogal /a/ em três diferentes
orientação quanto à adequação postural associado ao posturas corporais: ortostática (A), com anteriorização

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Tabela 4. Comparação dos resultados da análise acústica de fonte glótica pré e pós-terapia

Análise acútica Momento Média Mediana Desvio Padrão Valor de p


PRÉ 237,30 204,20 33,58
f0 0,512
PÓS 254,93 252,51 33,58
PRÉ 2,20 1,40 0,71
PPQ 0,275
PÓS 1,07 0,93 0,71
PRÉ 23,00 4,25 14,12
vf0 0,275
PÓS 2,13 1,89 14,12
PRÉ 8,30 8,91 1,82
APQ 0,275
PÓS 4,44 5,23 1,82
PRÉ 31,05 25,29 7,30
vAm 0,126
PÓS 15,31 17,42 7,30
PRÉ 0,36 0,27 0,11
NHR 0,184
PÓS 0,14 0,14 0,11
PRÉ 0,07 0,07 0,00
VTI 0,261
PÓS 0,05 0,06 0,00
PRÉ 8,65 10,44 2,88
SPI 0,512
PÓS 6,99 4,00 2,88
PRÉ 0,33 0,00 0,23
DVB 0,317
PÓS 0,00 0,00 0,23
PRÉ 9,81 9,23 3,38
DSH 0,049*
PÓS 0,70 0,63 3,38
PRÉ 0,66 0,00 0,47
NVB 0,317
PÓS 0,00 0,00 0,47
PRÉ 15,53 19,75 5,67
DUV 0,121
PÓS 0,00 0,00 5,67
PRÉ 11,66 12,00 3,49
NSH 0,049*
PÓS 1,00 1,00 3,49
PRÉ 24,00 32,00 8,64
NUV 0,121
PÓS 0,00 0,00 8,64
*p>0,005 – Teste de Mann-Whitney
Legenda: f0=frequência fundamental; PRÉ=momento pré-terapia; PÓS=momento pós-terapia; PPQ=quociente de perturbação do pitch; vf0=coeficiente da variação
da f0; vAm=coeficiente de variação da amplitude; APQ=quociente de perturbação da amplitude; NHR=proporção ruído-harmônico; SPI=índice de fonação suave;
VTI=índice de turbulência da voz; NVB=número de quebras vocais; DVB=grau de quebra da voz; DUV=grau de segmentos não sonorizados; NUV=número de
segmentos não sonorizados; NSH=números de segmentos sub-harmônicos; DSH=grau dos componentes sub-harmônicos.

da cabeça associada à extensão da coluna cervical (B) toda área pulmonar e do domínio do controle sobre a
e com aumento da cifose torácica associada à anterio- musculatura respiratória3,4,8,9 parece também ter influen-
rização da cabeça (C), por meio de fotogrametria, ciado a melhora da produção vocal constatada.
avaliação vocal perceptivoauditiva e acústica. Os resul- Verificou-se na avaliação que o tipo respiratório era
tados mostraram variação de jitter entre as posturas A superior em dois dos três sujeitos pré-terapia e passou
e B e modificações vocais perceptivoauditivas entre a costodiafragmáticoabdominal em todos pós-terapia
as posturas A-B e A-C quanto à ressonância, pitch e (Tabela 1), resultado decorrente do trabalho com
qualidade vocal, concluindo que a postura ereta é a explicações e monitoramento da movimentação das
mais adequada à produção vocal21, sendo que tais estruturas envolvidas na respiração, com a execução
resultados que vão ao encontro desta pesquisa. de exercícios específicos para a promoção do padrão
Em geral, na presença de alteração postural também costodiafragmáticoabdominal que consiste na abertura
pode ocorrer prejuízo do mecanismo respiratório. das costelas, projeção do osso externo, rebaixamento
Assim, o processo de adequação postural associado da musculatura diafragmática e expansão abdominal,
ao de adequação respiratória realizado durante este para maior controle aéreo da fonação4,8,9. Em conjunto
estudo, com base na promoção de aproveitamento de com alterações posturais, os padrões respiratórios

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270 | Andrade SR, Cielo CA, Schwarz K, Ribeiro VV

ineficientes podem conduzir à hiperfunção laríngea, de Na maioria dos sujeitos da pesquisa, verificou-
acordo com os achados da presente pesquisa e em -se que o foco ressonantal passou de laringofaríngeo
conformidade com a literatura4,8,9. para hipernasal, o que pode ser considerado como
Apesar da melhora dos TMF, não houve diferença benefício da fonoterapia com a utilização de sons
significante quanto à média das vogais e às fricativas nasais pela dissipação da hipertensão da área laríngea
surdas e sonoras pré e pós-terapia (Tabela 2). No e faríngea, prejudicial a uma boa emissão vocal2. Além
entanto, todos os TMF apresentaram aumento que, disso, acredita-se que houve esta passagem para
comparados aos ganhos de postura e tipo respiratório, um foco de ressonância mais alto em decorrência de
mostram que a fonoterapia foi favorável no que se uma hipercorreção dos sujeitos, pela forma como foi
refere à melhora da coordenação pneumofonoarticu- utilizado som nasal, direcionando a emissão vocal
latória dos sujeitos deste estudo. Porém, acredita-se para a “máscara”, saindo de um foco baixo para um
que o tempo de realização de terapia não tenha sido superior e automatizando este padrão para a fala
espontânea, uma vez que os sons nasais melhoram a
suficiente para aumentar significantemente os TMF dos
propriocepção, aumentando as sensações durante e
sujeitos pesquisados e normalizá-los, visto que perma-
após os exercícios2.
neceram abaixo do recomendado pela literatura para o
sexo feminino8. Acredita-se que a utilização de um foco de resso-
nância mais elevado não seja prejudicial para a saúde
Na avaliação vocal perceptivoauditiva não houve
vocal, pois em alguns idiomas as pessoas utilizam
resultados significantes relacionados ao tipo vocal, foco
mais a nasalidade como padrão de voz, não sendo
ressonantal, pitch e loudness (Tabela 3). No entanto,
isto um fator indicativo de disfonia. Considera-se que o
em análise qualitativa, observou-se modificação no
tempo de terapia com sons nasais realizados de forma
foco ressonantal de laringofaríngeo para hipernasal,
isolada, possa ter influenciado os sujeitos, que transfe-
no pitch que passou a ser agudizado, diminuição da
riram as novas possibilidades de ajustes motores para
rouquidão e modificação da loudness de reduzida para
a fala gerando aumento de nasalidade na voz2,4.
adequada.
Quanto à agudização do pitch, como os indivíduos
O foco ressonantal está diretamente relacionado
apresentavam disfonias oriundas de usos vocais incor-
com a área do trato vocal onde há prevalência da ampli-
retos que se manifestavam por hiperfunção e foco
ficação da voz. Deste modo, a interação fonte-filtro é ressonantal laringofaríngeo, que confirmam o excesso
menos eficiente quando há concentração excessiva de de tensão, seria possível considerar essa elevação de
energia em uma área específica, podendo ocasionar pitch, aliada à discreta elevação acústica de f0, como
pobreza na amplificação e nos harmônicos, prejudi- um aspecto positivo obtido pelo programa fonotera-
cando a realização de uma fonação adequada4,7-9,18. No pêutico implementado pelo presente estudo, uma vez
foco laringofaríngeo ocorre a concentração de sobre- que o pitch discretamente mais agudo, desde que sem
carga muscular na região cervical (laringe e faringe), hiperfunção e realizado em registro vocal modal, não
gerando um som comprimido ou tenso-estrangulado e representa problema para a musculatura laríngea e, no
sem projeção22. caso de mulheres, pode ser considerado adequado2,9.
Pode-se pensar que a utilização da fonoterapia de Apesar de não significante, observou-se que os
base aliada à sistemática execução dos sons nasais dois casos que possuíam qualidade vocal rouco-
promoveu a dissipação de tensão laríngea verificada -soprosa eliminaram a rouquidão e mantiveram apenas
nesta avaliação. Além de suavizar a emissão, os sons a soprosidade. Esses achados corroboram os de um
nasais provocam uma ressonância retroflexa, decor- estudo internacional que analisou o efeito do humming
rente da oclusão articulatória na cavidade oral, provo- sobre a qualidade vocal e observou eliminação da
cando um fluxo de energia para a cavidade nasal e um rugosidade, e manutenção da soprosidade na voz,
refluxo para a laringe. A impedância refletida quebra atribuindo essa mudança à configuração glótica
a tensão laríngea, ajuda a relaxar essa musculatura, produzida pelo som nasal, que relaxa a musculatura e
suaviza o som, melhora a ressonância e a projeção torna o início da fonação mais fácil e sem presença de
vocal1,2,4,9. A melhora ressonantal também pode ter tensão excessiva, resultando em vibração glótica mais
relação com a energia espectral produzida pelo som periódica e rica em harmônicos2,8. A manutenção da
nasal que influencia na sensação perceptivoauditiva, e soprosidade foi atribuída pelos autores ao curto tempo
é decorrente de um novo ajuste do trato vocal2,5. de terapia que não permitiu a reabsorção completa da

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Terapia vocal e sons nasais | 271

lesão e a presença de edema que podem ter atrapa- Estudo randomizado que analisou o uso da voz
lhado a completa coaptação glótica5. ressonante, método que se utiliza primordialmente
Observou-se diminuição das medidas acústicas de de sons nasais, em indivíduos com edema agudo de
NSH e DSH pós-terapia, em comparação ao momento pregas vocais, mostrou efetividade do som nasal na
pré-terapia (Tabela 4), respectivamente número e grau diminuição do edema24, convergindo com os achados
dos componentes sub-harmônicos, podendo corres- da presente pesquisa sobre as melhoras teciduais
ponder a vozes ruidosas, diplofônicas ou emissões laríngeas e de fechamento glótico constatados por
em som basal quando elevadas13,14,18. A melhora avaliação médica.
dessas medidas sugere diminuição da irregularidade Ainda, torna-se necessária a realização de novos
da vibração das pregas vocais, ou seja, diminuição de estudos longitudinais que implantem este programa
energia aperiódica da voz2,13,14,18, concordando com os terapêutico com amostras maiores para averiguar
achados da qualidade vocal, que apesar de não signi- se os achados do presente estudo de casos clínicos
ficantes, mostram a eliminação da rouquidão em dois se confirmam em outras populações e em ambos os
casos que passaram de rouco-soprosa para soprosa, sexos, acrescentando-se instrumentos de autoava-
bem como com as melhoras teciduais constatadas liação vocal.
pela avaliação otorrinolaringológica.
Estudo de casos clínicos que buscou verificar as CONCLUSÃO
mudanças a curto-prazo na qualidade vocal após a
execução de duas semanas de terapia com humming Nos três sujeitos do sexo feminino estudados,
em um grupo de disfônicos e não-disfônicos observou após a execução de um programa fonoterapêutico
diminuição da rugosidade pós-terapia em ambos os que incluiu orientação vocal e postural, adequação
grupos, porém, não foram analisadas as medidas de da função respiratória e aplicação da técnica de sons
subharmônicos, apenas jitter, shimmer, f0 e da relação nasais em disfonias hiperfuncionais, observou-se
harmônico-ruído. Apesar disso os resultados mostram adequação da postura corporal e do tipo respiratório,
diminuição do ruído e confirmam a eficiência do uso da melhoras das medidas acústicas sugestivas de ruído
técnica de sons nasais nos casos de disfonias hiper- à emissão vocal e efeitos positivos sobre o tecido e o
funcionais5, corroborando os achados da presente fechamento das pregas vocais.
pesquisa.
Nos casos das disfonias hiperfuncionais estudados, REFERÊNCIAS
essas melhoras parecem decorrer do benefício da 1. Pereira EC, Silvério KCA, Marques JM, Camargo
fonoterapia com ênfase nos sons nasais que suavizam PAM. Efeito imediato de técnicas vocais em
a emissão e aumentam o número de harmônicos e mulheres sem queixa vocal. Rev CEFAC.
consequentemente diminuem o ruído presente na 2011;13(5):886-95.
voz1,2,5.
2. Cielo CA, Lima JPM, Christmann MK, Brum R.
Reforçando os achados vocais perceptivoauditivos e
Exercícios de trato vocal semiocluído: revisão de
acústicos que mostram diminuição de ruído, observou-
literatura. Rev CEFAC. 2013;15(6):1679-89.
-se na videolaringoscopia que houve diminuição de
3. Pinho SMR. Terapia Vocal. In: Pinho SMR. (Org.).
edema na região aritenoide e nas pregas vocais com
Tópicos em voz. Rio de Janeiro: Guanabara
reabsorção parcial de nódulo, melhora na coaptação
Koogan, 2001.P. 1-17.
glótica e na onda mucosa com diminuição da fenda
vocal e melhora tecidual com o desaparecimento 4. Behlau M. Voz: o livro do especialista. 2. Ed. Rio de
dos pontos hemorrágicos (Figura 1). A literatura2,23 Janeiro: Revinter, 2005.
mostra que os ETVSO, como os sons nasais, podem 5. Yiu EM-L, Ho EY-Y. Short-term effect of humming
ocasionar mudanças no trato vocal, no coeficiente de on vocal quality. Asia Pacific Journal of Speech,
fechamento glótico, aumento da vibração de todo o Language and Hearing. 2002;7(1):123-37.
arcabouço laríngeo, maior atividade do músculo tiroari- 6. Cielo CA, Christmann MK, Ribeiro VV, Hoffmann
tenoideo, diminuição da constrição medial do vestíbulo CF, Padilha JF, Steidl EMS et al. Síndrome de
laríngeo, diminuição da sobrecarga durante a adução tensão musculoesquelética, musculatura laríngea
das pregas vocais, o que pode justificar as melhoras extrínseca e postura corporal: considerações
otorrinolaringológicas encontradas. teóricas. Rev CEFAC. 2014; 16(5):1639-49.

Rev. CEFAC. 2016 Jan-Fev; 18(1):263-272


272 | Andrade SR, Cielo CA, Schwarz K, Ribeiro VV

7. Behlau M, Pontes P, Vieira VP, Yamasaki R, 21. Carneiro PR, Teles LCS. Influência de alterações
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