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ESCOLA DO LEGISLATIVO PROF. WILSON BRANDÃO


FACULDADE ADELMAR ROSADO - FAR
ESPECIALIZAÇÃO EM MODA, CULTURA E CONSUMO

DÁLETE COSTA SANTOS


IONE LIMA DOS SANTOS SOARES

MICROEMPREENDEDORISMO CRIATIVO NA MODA AUTORAL

TERESINA
2020
ESCOLA DO LEGISLATIVO PROF. WILSON BRANDÃO
FACULDADE ADELMAR ROSADO - FAR
1

ESPECIALIZAÇÃO EM MODA, CULTURA E CONSUMO

MICROEMPREENDEDORISMO CRIATIVO NA MODA AUTORAL1

Dálete Costa Santos2


Ione Lima dos Santos Soares3

RESUMO: O principal objetivo deste trabalho é pesquisar sobre o


microempreendedorismo na moda autoral, para buscar formas e exemplos de
empresas que criem as peças e que tenham começado com um baixo valor de
investimento inicial. Foi necessário apresentar a marca autoral Vendem-se cores
como exemplo de microempreendedorismo criativo dentro de Teresina, Piauí.
Realiza-se, então, uma pesquisa de base bibliográfica, documental e exploratória
que utiliza o método descritivo, com a abordagem hipotético-dedutivo de base
qualitativa. Diante disso, verifica-se que a empresa apesar das dificuldades em ser
pequena segue os conceitos apresentados e caminhos dentro da moda autoral, o
que impõe a constatação de que existe um caminho a ser percorrido, mas que existe
a possibilidade de empreender criativamente, mesmo com apenas uma pessoa
envolvida diretamente.

Palavras-chave: Empreendedorismo; Microempreendedorismo criativo; Moda


autoral;

Abstract:The main goal of this project is to research about micro entrepreneurship in


authorial fashion, in order to seek ways and examples of companies that started with
a very low investment in the beginning. For that, it’s necessary to present the brand
Vendem-se cores as example of creative micro entrepreneurship in Teresina, Piauí.
Then, carry out a bibliographic, documentary and exploratory research that uses the
descriptive method, with a qualitative hypothetical-deductive approach. Therefore, we
check that the company, despite the difficulties in being small, follows the concepts
and paths within the authorial fashion, which imposes a realization that there is a
path to be followed, but that there is a possibility to undertake creatively, even with
just one. person directly involved.

Keywords: Entrepreneurship; Creative Micro Entrepreneurship; Authorial fashion.

1 Trabalho elaborado como critério obrigatório para a obtenção do título de especialista em Moda,
Cultura e Consumo pela Faculdade Adelmar Rosado em parceria com a Escola do Legislativo Wilson
Brandão, sob a orientação do Prof. Me. Adauto de Galiza Dantas Filho e coorientação do Profa Ma
Carol de Araújo Barbosa.
2 Formada em Moda, Design e Estilismo pela Universidade Federal do Piauí - UFPI. Email:
santos.dalete@gmail.com
3 Formada em Moda, Design e Estilismo pela Universidade Federal do Piauí - UFPI. Email:
ione.i@hotmail.com
2

INTRODUÇÃO

A criação de moda se dá pela relação do criador com o meio que ele está
inserido e esse meio pode ser de ordem material ou imaterial. Quando se fala sobre
essa relação do designer com as suas criações é preciso levar em consideração a
subjetividade acerca delas, assim como um artista é preciso um retorno a si, pois de
acordo com Gonçalves (2014), o design autoral foge das fórmulas prontas
encontradas nas pesquisas de tendências e se apropria de referências globais e
locais dentro da sua construção subjetiva, acompanha a zeitgeist4, mas não é refém
dela.
Uma das principais causas do baixo avanço mercadológico é a falta de
investimento ao fomento de empresas locais, que por sua vez faltam também com
capacitação adequada para os diversos segmentos.
As matérias-primas exportadas, ocasionam uma disparidade no preço dos
produtos, visto que as taxações em cima de commodities aumentam o valor final do
produto pelo alto custo das peças, acarretando no resfriamento do mercado local. A
produção acaba por ficar retida a regiões mais próximas do nicho de funcionamento
das empresas.
Dentro do contexto regional, o Nordeste, e o Piauí em específico, de acordo
com Miranda (2014), possuem uma crescente importância dentro do cenário
econômico local, porém os problemas enfrentados pelo mercado de moda, em
Teresina, são principalmente a falta de qualificação dos profissionais com uma
microprodução familiar, onde o valor de saída dos insumos importados de outras
regiões, a desvalorização da produção local pelo processo de homogeneização do
sistema globalizado, a falta de políticas públicas que fomentem o crescimento
econômico e criativo das empresas locais acarreta em uma estagnação da
Economia Criativa local (SINDVEST, 2015).
A pesquisa parte do questionamento (como desenvolver uma marca criativa
autoral com um baixo valor de investimento inicial) e tem como objetivo contribuir no
desenvolvimento das marcas de moda autoral com qualidade. O primeiro objetivo é
apontar caminhos epistemológicos para a criação autoral das pequenas empresas
de moda, verificando a sua relação com o diálogo da criação autêntica e comercial

4 Zeitgeist:Espírito do tempo.
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de produtos com pequena produção. O segundo objetivo é explicar o


desenvolvimento de marcas autorais de baixo custo de investimento inicial através
de uma marca de moda chamada Vendem-se cores.
O empreendedorismo está em alta no Brasil. Segundo dados da Secretaria
Especial de Micro e Pequenas Empresas (SEMPE) e pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), 80% das vagas de trabalho hoje são geradas através
do empreendedorismo. Essa é uma forma de pensar e agir com inovação, buscando
e criando oportunidades dentro do mercado. Essa prática está inserida na base do
desenvolvimento da economia nacional, porém é preciso discutir sobre formas e
impactos dessas produções empreendedoras na sociedade e no meio ambiente para
não resultar em mais acúmulo, degradação e sistemas de trabalho análogos à
escravidão. É necessário reavaliar o cenário contemporâneo da moda.
Assim, justifica-se a pesquisa, apresentando sua relevância em ser uma
possível resposta à necessidade de expansão do mercado local aliado com práticas
mais sustentáveis dos meios de produção.
O trabalho aborda uma contextualização conceitual das Indústrias Culturais,
da Economia Criativa e o empreendedorismo para que interajam acerca do
desenvolvimento da moda autoral em Teresina.

2 CONCEITOS PARA UM NOVO CAMINHO NA MODA AUTORAL DE TERESINA-


PI

2.1 INDÚSTRIAS CULTURAIS

Os estudos do termo Indústria Cultural, cunhado por Adorno e Horkheimer,


em Dialética do Esclarecimento (1985), partiram da Escola de Frankfurt sobre a
produção cultural no mundo moderno e industrial, em que se torna símbolo em
representação do resultado de influências externas geradas. As relações de poder e
controle que regem os sistemas de mercado dão forma a todo conteúdo produzido,
distribuído, inserido e criado dentro de sociedades que são dominadas pelo controle
cultural gerado a partir das indústrias para o social.
Posteriormente, os pesquisadores dos campos sociológicos deram uma nova
forma ao arquétipo criado por Adorno e Horkheimer, colocando uma característica
plural ao termo que dentro da sua evolução acabou perdendo o sentido contestatório
4

inicial. E com a representação desse modelo teórico em manutenção, encontra-se


diversos segmentos que geram produtos culturais. Como as indústrias: fonográfica,
cinema, artes, moda, artes cênicas, publicidade, entre outros (BRITTOS, 2001).
Adorno e Horkheimer alertam para a violência da sociedade industrial com os
produtos sendo consumidos indiscriminadamente e sem a real percepção de que
quanto mais se usa, mais se trabalha e menos tem folga. As jornadas de trabalho
com a nova onda da uberização5 não respeitam as leis trabalhistas, fato
exemplificado no documentário Estou me guardando para quando o Carnaval
chegar de Marcelo Gomes, que mostra a vida e a história de uma pequena cidade
no agreste do Pernambuco, conhecida como a capital do jeans no Brasil e como a
relação do trabalho feito em Toritama 2019, se aproxima da realidade exposta em
1944 por Adorno e Horkheimer, ao mostrar o sistema construído pela cidade para a
alta produção do jeans, sem ter muita noção do motivo senão apenas a produção
para o consumo imediato e o descarte como consequência.
A sociedade industrial atual ressignificou o termo de forma negativa e
intimidadora, sendo necessário a vinda da expressão Economia Criativa (EC) como
uma nova abordagem à situação operacional dos produtos culturais. Assim a EC,
busca com fins de rentabilidade propostas que respeitem os limites e regimentos
trabalhistas e ter uma produção que interfira minimamente no meio ambiente, o que
cria uma abertura para pequenos empreendedores possam entrar e permanecer no
mercado, mesmo sem um grande aporte inicial.

2.2 ECONOMIA CRIATIVA

Segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e


Desenvolvimento (UNCTAD), a EC mistura valores econômicos e culturais, com o
diferencial composto por um conjunto de atividades ligadas ao uso de criatividade
que cruza as artes, a cultura, os negócios e à tecnologia, produzido por forças de
trabalho com habilidades especiais e que leva em consideração todo o processo do

5 Palavra derivada da empresa de transporte Uber, o termo é novo e utilizado para descrever
pessoas que trabalham prestando serviços para aplicativos de transporte, sendo considerados como
Microempreendedores individuais, a partir da indexação do serviço como na lista de serviços
prestados pelo MEI. A crítica a esse tipo de serviço é ligado nas longas jornadas de trabalho, com
poucos direitos trabalhistas e quase nenhuma regulamentação, pois as empresas que precisam
desses tipos de trabalhadores (classe baixa, pouca escolaridade e desempregados, como mostra x
matéria) se fazem valer de uma cobrança abusiva pelo sistema inovador dos aplicativos).
5

ciclo de criação, produção e distribuição de bens e serviços que utilizam o


conhecimento como força motriz (SERRA; FERNANDEZ, 2014, pp 356).
A Organização das Nações Unidas (ONU), através das secretarias da
Organização da Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
e da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento
(UNCTAD) levou o conceito a um patamar global, que traz vasta pesquisa sobre o
setor cultural e criativo, como por exemplo, o Framework for Cultural Statistics,
produzido e atualizado desde 1986, pela UNESCO, e definiu como atividades
culturais as artes performáticas, música, artes visuais, artesanato, audiovisual, mídia
interativa, design e serviços criativos (como arquitetura, publicidade e moda), livros e
preservação do patrimônio cultural e natural.
De acordo com Serra e Fernandez (2014), a EC por sua vez traz ao campo de
estudos, o desenvolvimento individual pelos talentos e a sua relação nas estruturas
de criação e produção com geração de valores dentro das propriedades intelectuais
relacionadas com arte e tecnologia.
Um dos principais desafios é lidar com a lógica econômica atual pontuada no
preceito da escassez, onde a ideia é não ter recursos suficientes para todos.
Contudo, uma das principais características da economia criativa é o valor cultural
atrelado a ela juntamente com a revolução digital, onde a reprodução de alguns
produtos criativos não precisam estar necessariamente atrelados a um objeto físico,
tornando, desse modo, o processo mais acessível a outras camadas da sociedade.
Isso implica na necessidade de inovação das indústrias às suas formas de produção.
Para que esses produtos criativos sejam inseridos no mercado, precisam
estar necessariamente atados com esta inovação, o que acarreta no crescimento
das indústrias. Porém, para haver uma real evolução John Howkins (2001)
argumenta sobre a necessidade de revisão do conceito da EC. A ligação entre a
criatividade e a inovação, uma reestruturação em medidas de urgência à regulação
da propriedade intelectual e uma elaboração de políticas públicas que respeitem as
características e minuciosidades das demandas dentro da EC.
O Plano Setorial da Economia Criativa (2011) delimita a Economia Criativa
como a economia do simbolismo intangível, a partir da análise dos processos de
criação e produção, ao invés dos insumos e da propriedade intelectual. Desse modo,
chega-se à definição de que os setores criativos são aqueles que têm em sua
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geração de renda, a criatividade como elemento simbólico e central na formação do


preço, produzindo riquezas culturais e econômicas.
A Economia Criativa Brasileira só se desenvolve quando apoiado ao
entendimento da diversidade cultural nacional, e tem a sustentabilidade como fator
decisivo no desenvolvimento local e regional ambos conectados à inovação e a
inclusão social.
Para destravar o potencial brasileiro da Economia Criativa, é preciso conhecer
os resultados da miscigenação nacional desde a invasão Portuguesa ao território
nacional, o embate com os índios, a vinda dos negros e todo o processo de
escravidão, onde a cultura deles foi negada (e ainda é), sendo obrigados a se
anexarem à cultura opressora da igreja católica e das monarquias europeias.
A diversidade cultural do país se dá a partir do embate supracitado, mas para
que a nação possa continuar avançando é necessário, sobretudo, o contínuo
reconhecimento e reparo histórico, para que as minorias alcancem o mesmo
patamar. Por isso, a real importância da inclusão social. Para Miranda (2014), a EC
quando associada à cultura gera riqueza e se torna instrumento fomentador do
desenvolvimento socioeconômico.

2.3 EMPREENDEDORISMO

O empreendedorismo para Dornellas (2012, p. 356), é o “envolvimento de


pessoas e processos que, em conjunto, levam à transformação de ideias em
oportunidades”. O primeiro passo precisa ser o da criação de novidades e a
sensibilidade na mensuração dos riscos, pois as investidas empreendedoras podem
muitas vezes dar errado antes de dar certo.
Dentro desse processo existem alguns fatores apontados por Dornellas que
provocam o ímpeto empreendedor e que são fundamentais para o sucesso. Dentre
eles, temos: os fatores pessoais que buscam a auto realização provocados por uma
demissão ou insatisfação com o trabalho, onde a idade e a educação são levados
em consideração; os fatores sociológicos têm relação com a influência familiar,
network e as pessoas consideradas modelos de sucesso; os fatores organizacionais
são relacionados com a equipe, a estratégia, a cultura, a estrutura e os produtos; e
fatores presentes no ambiente como as oportunidades, os modelos, a criatividade, a
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competição, os recursos, as incubadoras, os clientes, a rede de fornecimento, os


investidores e as políticas públicas.
Dentro do processo empreendedor Dornellas aponta um caminho a ser
traçado com quatro pontos fundamentais: a identificação e avaliação das
oportunidades, tem-se a diferenciação entre os valores percebidos e reais, os riscos
e retornos são avaliados, é colocado em cheque a habilidade e meta do
empreendedor e por fim é traçada a situação dos competidores; o segundo ponto
fundamental é o desenvolvimento do plano de negócios, onde os conceitos e valores
da empresa são determinados; o terceiro ponto é a determinação e captação dos
recursos necessários, humanos ou financeiros; o quarto e último ponto é a gerência
da empresa criada com a percepção real dos problemas, necessitando a constante
avaliação se o insucesso é determinado pelo projeto ou pela não sintonia da equipe.

2.4 MICROEMPREENDEDORISMO INDIVIDUAL - MEI

Diante do acima exposto sobre o empreendedorismo, o microempreendedor é


o tipo de empresário que começa individualmente e de forma pequena e local, e o
sucesso do negócio está atrelado diretamente à pessoa que está trabalhando por
conta própria.
O microempreendedor, por vezes, começa o negócio de maneira informal e
tende a permanecer dessa forma até que a empresa esteja mais consolidada. Desde
a criação da Lei Complementar n° 128/2008, o poder público possui iniciativas para
a orientação e mobilização para que haja a formalização por parte dessas empresas
para que exista um estímulo na economia e se evite prejuízos (SEBRAE, 2012).
Nesta lei, o microempreendedor é definido como “o empresário individual, a
que se refere o artigo nº. 966 da lei nº. 10.406/2002 do Código Civil, que tenha
auferido receita bruta, no ano-calendário anterior, de até R$ 60.000,00 (sessenta mil
reais)”. O Portal do empreendedor é responsável por criar de uma forma gratuita o
CNPJ de microempreendedor individual e após o preenchimento de todos os
documentos o MEI passa a ser enquadrado no regime tributário do Simples
Nacional, com isenção de tributos federais, onde apenas é pago o valor fixo sobre o
salário mínimo, que corresponde ao INSS. Com isso, o empreendedor tem acesso à
benefícios como auxílio doença, aposentadoria e salário maternidade. Outra
obrigação além do pagamento mensal é o preenchimento do Relatório Mensal das
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Receitas e declaração do valor faturado no ano anterior. O MEI pode ter um


empregado que receba um salário mínimo ou o piso da categoria, onde o custo
desse funcionário é de 11% do salário. O esperado pela Lei Complementar n°
128/2008, de acordo com SEBRAE (2012), os incentivos e o fato de serem
empresas legalizadas aumentem as chances das empresas se tornarem pequenas,
médias ou grandes empresas, de modo que a expectativa é uma expansão das
atividades e que seja necessário um desenquadramento.
O exposto acima é a situação das empresas que se planejaram com
antecedência à formalização da empresa. No entanto, é preciso levar em
consideração que para uma empresa ter sucesso é preciso muito mais do que
apenas a formalização. faz-se necessário diversos cursos de aprimoramento para
que esses MEI não sejam encerrados no período de maturação considerado pelo
SEBRAE a duração de dois anos. De acordo com o portal Pequenas empresas e
grandes negócios (2016), as facilidades na hora da criação representaram um
aumento de 5,3% em 2015 em relação ao ano anterior e 20% desde a criação da Lei
Complementar. Porém, houve crescimento nas inadimplências e falências das
empresas.
Os micro negócios criativos, por sua vez, tem como motivação a falta de
liberdade criativa nos setores, sendo esse um fator crucial para o empreendedor. No
entanto, Bulgacov et al (2011) diz que, a “própria atividade empreendedora, a
depender das características e das condições, pode, por um lado, garantir
realização, por outro, vulnerabilidade.” Diante disso, é refutado a teoria behaviorista,
orientada pelo comportamento “na medida em que concebe o homem como reativo,
influenciado pelo meio externo, encapsulado em um modelo reducionista e
determinista externo.”
Em contrapartida, Bulgacov et al (2011), adotam a concepção sócio-histórica
e cultural, onde “a atividade empreendedora será compreendida como uma atividade
dirigida por um sujeito, situado e enraizado no social, onde o indivíduo, embora não
se subordine às condições, delas não se separa.”
Outro fator presente no empreendedorismo é o desemprego como um dos
principais motores para o empreendedorismo por necessidade. Para que as
necessidades básicas sejam atendidas é necessário empreender e diante da
necessidade entra o trabalho precário, definido por Cattani e Holzmann (2006:203)
“a ausência ou redução de direitos e garantias do trabalho e a qualidade no
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exercício da atividade”, considerado para Bulgacov et al (2011) como um retrocesso


em relação aos direitos trabalhistas, onde essa precarização produz a redução da
perspectiva profissional e a supressão dos direitos trabalhistas fundamentais,
situação enfrentada por “diversos tipos de trabalhadores, a exemplo de autônomos,
ambulantes, artistas e os que desenvolvem atividades nas feiras”, fato que provoca
um aprofundamento entre os abismos sociais, que por sua vez, empreende pela
necessidade de sobrevivência em um espaço com oportunidades reduzidas. Apesar
dos conhecimentos e formações, sem o capital o empreendedor apenas cria formas
para fugir da exclusão, sendo necessária a construção de políticas públicas que
atendam essa camada da sociedade (BULGACOV et al, 2011).

2.5 MODA AUTORAL


Dentro do contexto econômico social, a moda é uma das principais atividades
desenvolvidas no país, que de acordo com a ABIT (2015), concentra a maior
quantidade de elos produtivos têxteis que vai do plantio até a confecção. A moda
autoral, por sua vez, possui a característica de ser feita em pequena escala por
microempresas e possui um custo de produção maior do que as produções em larga
escala. Porém, a possibilidade de se construir de forma circular é maior.
O mercado de moda autoral possui algumas estratégias competitivas
pertinentes a esse nicho, como apontado por Gaspar e Nascimento (2018). A
primeira estratégia é a de nicho de mercado, onde a empresa conhece a fundo um
segmento estreito e satisfaz as necessidades e desejos dos clientes de uma forma
mais completa e possui uma margem de lucro maior, por conta da personalização
dos serviços para os clientes. A segunda estratégia é a da diferenciação que foca
nos segmentos menores, com produtos diferenciados que possuem estilo, design,
desempenho, conforto, durabilidade e que possui um pós-venda de qualidade e com
foco no cliente.
A estratégia de diferenciação aplicada na moda autoral, tendo a cultura local
como base, tem como objetivo de tornar a indústria brasileira em um cenário
competitivo, com a utilização sustentável e ética dos recursos naturais, da identidade
local e da criatividade.
Um ponto relevante acerca da cultura levantado por Stuart Hall (2006) que se
encaixa nas estratégias de nicho e de diferenciação, é o efeito de “Tradição” que
traz o resgate e pureza da identidade. A outra é o efeito da “Tradução” que trabalha
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a identidade local como um organismo vivo sujeito às mudanças provocadas pela


história, política, diferenças e representações. Esses efeitos podem servir de
diferenciação dentro do contexto globalizado dos produtos.
A moda autoral leva em consideração as vivências do criador e as exigências
mercadológicas na construção das peças. Para Howkins (2001), o design autoral
surge como uma contraproposta aos efeitos negativos da superprodução em larga
escala e possui referências locais e globais, onde o consumidor final é visto como
parte do processo de criação.

3 METODOLOGIA

O procedimento metodológico foi de base bibliográfica e documental. Para


iniciar a pesquisa, foi realizado o levantamento bibliográfico no campo da EC,
tomando como ponto de partida o Plano da Secretaria da Economia Criativa, dentro
dos estudos que serviu como base para o relatório de Fleming (2018).
A pesquisa seguiu o método descritivo-qualitativo, onde para Triviños (1987),
a abordagem descritiva relata os fatos e fenômenos de um determinado tema e a
pesquisa qualitativa, de acordo com Gerhardt et al (2009), “não se preocupa com
representatividade numérica, mas com o aprofundamento da compreensão de um
grupo social, de uma organização”, em que os pesquisadores buscam explicar os
motivos dos acontecimentos, sem que haja uma prova de que os dados não são
quantificáveis por conta da sua natureza subjetiva.
O roteiro foi feito de forma semiestruturada, onde de acordo com Gerhardt et
al (2009), é quando o pesquisador organiza questões sobre o tema estudado e
incentiva que o entrevistado fale livremente sobre os assuntos referentes ao tema
principal. O método de abordagem foi o hipotético-dedutivo de base qualitativa, que
de acordo com Quivy e Campenhoudt 1995), é a construção de um conceito como
modelo de interpretação do objeto estudado através das hipóteses, conceitos e
indicadores.
Para essa abordagem foi aplicada e analisada com uma amostragem
composta por uma entrevista, feita com Felícia Mendes proprietária da marca de
roupas infantis artesanais, Vendem-se cores, como exemplo de sucesso dentro da
ótica da economia criativa e micro empreendedora em Teresina, Piauí.
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A entrevista com a empresária e empreendedora dessa empresa foi realizada


para verificar a relação entre o desenvolvimento da moda autoral, da economia
criativa, o empreendedorismo como forma de organização dos
microempreendimentos e da política de desenvolvimento da empresa, sem perder o
caráter manual e artístico.

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

O questionamento inicial da pesquisa é relacionado às possibilidades de


criação da moda autoral dentro das micro empresas individuais. Para tal, foi
desenvolvido uma pesquisa a partir da entrevista e de análises da comunicação
externa da empresa escolhida por conta do trabalho autoral, possuindo um retorno
ao abordar temas relevantes ao Piauí.
A análise dos dados coletados foi realizada a partir de categorias e
subcategorias criadas pela sintetização dos principais temas e conceitos abordados
no capítulo teórico do presente trabalho, em que a empresa Vendem-se Cores cria
de forma pequena, criativa e autoral através de encomendas.
Dentro da entrevista foi relatado que o trabalho é realizado em um cômodo
dedicado à empresa na casa da proprietária, onde todo o trabalho desenvolvido por
ela, já supre as necessidades básicas e que é possível obter lucro sem que ela
explore a costureira que auxilia nas peças. Isso mostra congruência com a pesquisa
teórica ao suprir as necessidades básicas, gerando um lucro que consiga trazer
conforto para a vida dela e das pessoas diretamente relacionadas com o trabalho
realizado na empresa.
Felícia, assim como muitas microempresárias, cria sozinha, mas precisa de
uma boa comunidade de apoio às suas atividades, como a costureira de confiança e
a terceirização das entregas pelo irmão.
O aporte inicial da empresa foi a aquisição de tecidos e tintas feitos através do
empréstimo do cartão de crédito de sua sogra, para que a compra fosse efetuada e
as peças produzidas. Porém, boa parte dos maiores materiais como a máquina de
costura e as habilidades manuais a microempreendedora já possuía, porque sempre
12

trabalhou com arte manual, mas apenas na criação de peças infantis encontrou a
liberdade necessária para criar.
As coleções são feitas em pequenas quantidades, com estampas criadas
através de carimbos que podem ser reproduzidos em outras peças e estilos. Isso faz
com que a criação seja realizada em conjunto com a cliente, onde na sua maioria
são mães. A discussão proposta por Howkins (2001), coloca o cliente como um
personagem do processo de criação, confirmando as estratégias utilizadas pela
empreendedora. Abaixo exemplos das peças produzidas pela empresa.

Figura 1 - Body infantil Vendem-se cores

Fonte: Instagram da marca @vendemsecores

Figura 2 - Embalagem feita à mão


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Fonte: Instagram da marca @vendemsecores

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando se iniciou o trabalho, constatou-se que a pesquisa se mostra


relevante por ser uma possível resposta a necessidade de expansão do mercado
local de moda autoral aliado com práticas mais sustentáveis dos meios de produção.
Para isso, era importante estudar a economia criativa e o empreendedorismo pela
importância e relevância dos temas.
A pesquisa partiu dos problemas enfrentados pelas micro e pequenas
empresas em se manterem vivas, lucrando dentro do viés autoral na cidade de
Teresina. Durante o trabalho, descobriu-se que se as empresas se dedicarem e
organizarem os modos de produção é possível criar e manter uma empresa
saudável que faça produtos que levem em consideração a sustentabilidade e a
história local.
A metodologia deste trabalho foi uma pesquisa de base bibliográfica,
documental e exploratória que utilizou o método descritivo, com a abordagem
hipotético-dedutivo de base qualitativa.
Uma dificuldade encontrada na parte da pesquisa, foi apresentar uma
empresa de moda autoral que se encaixassem no perfil procurado para ilustrar os
14

conceitos trabalhados. A entrevistada foi encontrada e contactada através da rede


social Instagram.

REFERÊNCIAS

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