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A BIOGRAFIA DE CHICO XAVIER COMO AGENTE IMPULSIONADOR DA

CONVERGÊNCIA MIDIÁTICA NA PÓS-MODERNIDADE[1]

João Damasio da Silva Neto e Thaís Rocha Gomes[2]

Resumo
A biografia de Francisco Cândido Xavier está entre as mais vendidas no Brasil. O
principal motivo é sua difusão pelas várias mídias, impulsionando a tendência da
convergência midiática. “Biografia” e “convergência midiática” são dois termos que
fazem parte do campo semântico da pós-modernidade. Acredita-se que a biografia
citada é impulsionadora dessas tendências que contribuem para consolidar o termo
pós-modernidade.

Palavras-chave: Chico Xavier; Convergência midiática e Pós-modernidade.

Abstract: The biography of Francisco Cândido Xavier is among the most sold in Brazil.
The mainreason is its dissemination through the various media, boosting the trend of
media convergence. "Biography" and "media convergence"are two terms that are part
of the semantic field of post-modernity. It is believed that the biography quoted is driving
thesetrends that contribute to consolidate the term postmodernism.

Keywords: Chico Xavier, media convergence and Postmodernity.

Este artigo pretende iniciar um estudo eminentemente cultural que discutirá a


biografia do médium brasileiro Francisco Cândido Xavier (1910 – 2002) no processo de
convergência midiática como tendência contemporânea que pode contribuir para a
pormenorização dos estudos em torno do termo pós-modernidade.
Os seguintes teóricos serão utilizados: BAUMAN (2000), BERNARDET (1985),
EISENSTEIN (2002), HALL (2001), KELLNER (2001), KOTLER (1998), LEWGOY
(2001), RECUERO (2009), WOLTON (1996), Ismair Xavier, Marshal McLuhan, Michael
Minor.
Chico Xavier nasceu na cidade de Pedro Leopoldo (MG), tornou-se o mais
famoso médium brasileiro, conhecido mundialmente pelos 451 livros publicados sob
sua autoria, atribuída, por ele mesmo, a espíritos diversos. Em vida, desenvolvia
trabalhos assistencialistas e mediúnicos, mantendo, paralelamente, moradia de classe
média baixa.

Em qualquer leitura, trata-se de um personagem cercado de uma aura


paradigmática, depositário e modelo biográfico de uma proposta religiosa
de alta ressonância na sociedade brasileira, além de ter cumprido um
papel central na criação de um espiritismo "à brasileira". Maior
protagonista da história do kardecismo no Brasil moderno, sua trajetória
ilustra os dilemas enfrentados por esta alternativa religiosa ao longo do
século XX, principalmente no que tange ao sincretismo de sua proposta
com a "cultura católica brasileira" e com um certo modelo de Estado-
Nação. (LEWGOY, 2001)

Por constituir essa personalidade que o tornou famoso, Chico Xavier foi
biografado pelo jornalista Marcel Souto Maior, no livro intitulado “As vidas de Chico
Xavier” (Editora Planeta do Brasil – 2010). KOTLER (1998) indica que os fatores
culturais, sociais, pessoais e psicológicos influenciam diretamente o consumo de
qualquer produto. A biografia do médium, apresentada em diversas mídias, tais como
livro, filme, televisão e internet, é um produto cultural e, portanto, os aspectos culturais
são mais relevantes nesta análise de consumo.
Segundo ranking divulgado pelo jornal diário Folha de São Paulo, na edição de 3
de abril de 2010, a biografia “As vidas de Chico Xavier” foi o terceiro livro mais vendido
no Brasil. A divulgação do ranking coincidiu com a data de lançamento do longa-
metragem “Chico Xavier – o filme”, no dia 2 de abril de 2010, baseado na obra escrita
por Marcel Souto Maior.
O filme com cinco semanas nos cinemas já tinha sido assistido por 2.815.000
pessoas de pessoas, segundo http://www.chicoxavierofilme.com.br. Em “O que é
Cinema”, encontramos uma interessante definição do cinema, que nos induz a concluir
quão intuitivos e pouco reflexivos somos ao olhar para a telona:

[...] envolve mil e um elementos diferentes, a começar pelo seu gosto


para este tipo de espetáculo, a publicidade, pessoas e firmas
estrangeiras e nacionais que fazem e investem dinheiro em filmes, firmas
distribuidoras que encaminham os filmes para os donos das salas e,
finalmente, estes, os exibidores que os projetam para os espectadores
que pagaram para sentar numa poltrona e ficar olhando as imagens na
tela. Envolve também a censura, processos de adaptação do filme aos
espectadores que não falam a língua original. Mas em geral não
pensamos nesta complexa máquina internacional da indústria, comércio
e controle cinematográficos; para nós, cinema é apenas essa estória que
vimos na tela, de que gostamos ou não, cujas brigas ou lances amorosos
nos emocionaram ou não. (BERNARDET, 1985, p. 124).

A primeira exibição de cinema no Brasil ocorreu no ano de 1896 e, a partir de


então, o cinema foi se popularizando no Brasil (GONZAGA; GOMES, 1966). Até
outubro de 2010, quando foi lançado o longa-metragem “Tropa de Elite 2 – O inimigo
agora é outro”, o filme sobre Chico Xavier mantinha a maior bilheteria de todos os
tempos no país, conforme publicado no dia 5 de abril pelo Portal G1[3] (www.g1.com).
Entre os dias 25 e 28 de janeiro de 2011, a minissérie sobre a vida do médium
foi transmitida pela Rede Globo de Televisão. A minissérie transcendeu a produção
cinematográfica e publicou cenas inéditas. A Rede Globo estava em crise de audiência,
perdendo para a principal concorrente, Rede Record e esbarrando no Serviço Brasileiro
de Televisão (SBT). No dia exato da estréia da minissérie, a Rede Globo virou o placar
e distanciou-se dos concorrentes. O Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
(IBOPE) registrava 32 pontos na minissérie Chico Xavier, enquanto a Rede Record
estava com 12 pontos e o SBT com 7 pontos[4].
A televisão é de expressiva importância no processo de alcance de massa, que
permite formar e identificar opiniões coletivas e aspectos da cultura da mídia. A
televisão como meio de comunicação exerce papel similar ao papel do voto na urna,
que qualifica o Estado de democrático. O indivíduo que participa dessa democracia
como cidadão é, também, o telespectador que se senta no sofá da sala todos os dias
para ser cúmplice da TV como forma de comunicação coletiva (WOLTON, 1996, p. 15).
Portanto, o conteúdo disponibilizado e respaldado na TV, meio de comunicação
de massa por excelência, pode ser considerado como a opinião pública dominante ou o
reflexo da cultura midiática. No caso da biografia de Chico Xavier, nos baseamos na
virada positiva de audiência da Rede Globo de Televisão perante suas concorrentes
diretas no dia e horário da transmissão dos quatro capítulos da minissérie sobre a vida
do médium, para avaliar que a biografia ou a história de vida do médium brasileiro é
uma tendência que incute a ideia de um novo tempo, a chamada pós-modernidade,
com características próprias. A difusão de sua biografia por várias mídias exige análise
mais aprofundada nos aspectos culturais, como veremos a diante.
Em A identidade cultural na pós-modernidade, HALL (2001, p. 2) diz que, com o
volume de informações midiáticas, a vida social passa a ser mediada pelo mercado
global, o que faz com que a identidade do ser na sociedade “flutue livremente” - nas
palavras do autor. Isto quer dizer que falta-lhe um referencial comum a seguir, como
sempre ocorreu na história da humanidade.
Sendo assim, analisamos que biografias, como a do médium Chico Xavier, por
serem apresentadas como um exemplo de vida, trazem essa característica de
referencial para a sociedade. A “liquidez” (BAUMAN, 2000) da identidade no meio
social representa uma fragmentação de público e de meios de acesso à cultura.
Identificamos a biografia de Chico Xavier como um produto midiático que percorreu
grande diversidade de mídias e formou um público grande a partir do alcance dos
públicos fragmentados em cada meio, como TV, cinema, redes sociais ou livros. E isso
é um fenômeno que, portanto, deve ser estudado como uma mudança cultural na
sociedade. Mesclado ao produto midiático (forma) há um conteúdo, que é a própria
trajetória de Chico Xavier, acoplada às crenças religiosas em torno do mesmo, e isso
jamais pode ser desvinculado.
WOLTON (1996, p.15) brinca: “digam-me quais os programas assistidos e eu
lhes direi qual a concepção de público que existe na cabeça dos que os produziram”.
Refletindo o sucesso das mídias tradicionais, observamos que na rede social
Facebook, foi lançado o aplicativo “Frases de Chico Xavier”, atingindo, dessa vez maior
público jovem, conforme caracterizamos pelos critérios culturais estabelecidos por
KOTLER (1998, p. 169): Jovens solteiros que moram ou não com os pais dedicam-se
mais aos meios alternativos de informação, pois tem mais tempo e acreditam-se líderes
de moda e assuntos afins. Isso ocorre porque eles têm menos compromisses
financeiros.
Sites de redes sociais não são exatamente um elemento novo,
mas uma consequência da apropriação das ferramentas de
comunicação mediada pelo computador pelos atores sociais. (...)
Consideramos como Sites de redes sociais toda a ferramenta que
for utilizada de modo a permitir que se expressem as redes sociais
suportadas por ela (RECUERO, 2009).

Consumo da biografia em análise de marketing.

Referências:
BAUMAN, Zygmund. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
BERNARDET, Jean-Claude. O que é cinema. 2.ed. São Paulo: Brasiliense,
1985.
EISENSTEIN, Sergei. A forma do filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução: Tomás
Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro. 6.ed. Rio de Janeiro: DP&A: 2001.
GONZAGA, Adhemar; GOMES, Paulo Emílio Salles. 70 anos de cinema
brasileiro. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1966.
KELLNER, Douglas. A cultura da mídia. Bauru: Edusc, 2001.
KOTLER, Philip. Administração de marketing. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1998.
LEWGOY, Bernardo. Chico Xavier e a cultura brasileira. São Paulo: Revista
antropologia, vol. 44, n.1, 2001.
RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. 1. ed. Porto Alegre: Sulina, 2009.
191 p.
WOLTON, Dominique. Elogio do grande público – uma teoria crítica da televisão.
vol. 52. São Paulo: Ática, 1996.
[1] Artigo desenvolvido sob a orientação da Professora Ms. Sandra Regina Paro
para fins de avaliação parcial na disciplina de Seminários Temáticos Integradores IV.
[2] Acadêmicos do 4º período do curso de Comunicação Social com habilitação
em Jornalismo pela Faculdade Araguaia.
[3] Disponível em; http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2010/10/tropa-de-elite-2-
passa-dos-4-milhoes-e-ja-e-o-brasileiro-mais-visto-de-2010.html
[4] Disponível em: http://www.creio.com.br/2008/noticias01.asp?noticia=12225

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