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O ESPÍRITO MILITAR
Um antropólogo na caserna
2ª edição revista
Sumário
Introdução
1. Militares e Paisanos
2. Os Espíritos das Armas
3. Digressão: Uma História da Academia Militar
4. Os Cadetes e o Mundo de Fora
5. Um Antropólogo na Caserna
Notas
Referências Bibliográficas
Agradecimentos
Mas é bom lembrar que sempre existe o
reverso da medalha e que o que podemos
captar, dentro da precariedade de nosso
conhecimento, sempre é uma aparência
ou, pelo menos, um lado, uma versão de
um todo muito mais complexo, cujos mis-
térios se sucedem ininterruptamente, à
medida que temos a ilusão de tê-los
desvendado.
GILBERTO VELHO
Prefácio à 2ª edição
Almoço 12:45
2ª parte do expediente 14:00-17:30
Jantar 17:45
Revista do recolher 19:00
Estudo 19:30-21:30
Ceia (não obrigatória) 21:30
Silêncio 22:00
*Nos finais de semana sem atividades e nos feriados não há
expediente, mas os horários previstos são basicamente os
mesmos; a alvorada é às 7:00.
QUADRO 1
Distribuição dos cadetes matriculados no 1o ano da
Aman em 1985, pela origem escolar
ORIGEM Nº %
Concurso de admissão 59 14,5%
Colégios militares 125 30,8%
EsPCEx 218 53,7%
Colégio Naval e EPCAr 4 1,0%
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QUADRO 2
Distribuição dos cadetes matriculados no 1o ano da
Aman entre 1976 e 1985, pela origem escolar
ORIGEM Nº %
Concurso de admissão 318 8,7%
Colégios militares 1.425 38,9%
EsPCEx 1.873 51%
Colégio Naval e EPCAr 53 1,4%
total 3.669 100,0%
QUADRO 3
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* Inclui repetentes.
Eu acho que têm certas coisas que o militar tem que ter
mais firme do que o civil, certas coisas que a carreira exige
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mais. Como, por exemplo, a cola. A cola em prova, aí fora o
pessoal todo … é normal. E se eu estivesse estudando aí fora
naturalmente eu estaria colando, assim como eu colava
antes de entrar pra cá. Aí, quando você tá entrando [na
Aman] o pessoal: “Não, colou é desligado.” Entendeu? Um
troço assim … um senso de honestidade que tem que ser
levado a sério.
Você luta por você, mas não pra prejudicar o outro, você en-
tendeu? Você tenta dar o máximo de você… mas com o ob-
jetivo de conseguir para você, não com o objetivo de tirar do
outro. A gente tem que conseguir fazer isso: ser amigo,
amigo seu que estuda junto, mas ao mesmo tempo você
batalhando… Pô, você tem uma dúvida, eu vou lá, tiro a sua
dúvida, eu explico, não tem problema. Mesmo que você es-
teja concorrendo comigo. A gente não tá preocupado com
isso, não tá ligando pra isso. A preocupação nossa é fazer o
máximo possível: eu consigo até aqui, meu limite é esse; fu-
lano consegue até mais um pouco; sicrano já consegue
menos. E os três são unidos, sem problema nenhum… …
Cada qual tentando se superar, não superar o outro, você
tentando aumentar o seu horizonte, sem querer que o outro
limite o dele, deixando o caminho dele tranqüilo. Agora, se o
outro conseguir te passar, meus parabéns! Claro que você
preferia estar na frente, mas aqui não tem esse espírito de
competição acirrada. (4º ano) Aqui dentro a colocação é im-
portante, … mas até um minuto antes da prova nós estamos
estudando juntos…. [A competição] só existe na hora que
você senta. Então se você tira um grau 7 e o companheiro
tira um grau 10, você bate palmas pra ele, você chega e diz:
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“fulano é um cara inteligente”…. Mérito dele, entendeu? … E
quando eu fazia faculdade lá fora era cada um por si, Deus
por todos. (4º ano)
Eu vou render o que tenho que render mesmo e não vou
ficar preocupado com o outro. O que eu estudar vai sair. E
cada um vai se classificar na medida de suas capacidades, o
cara vai ficar na colocação dele normal. (3º ano)
A competição que há não tem aquele caráter pessoal, de vi-
giar a pessoa porque tá na minha frente. Tem muito mais
autocrítica. Quando alguém tá na minha frente, por um
motivo ou por outro, eu olho muito mais para mim do que
pro outro cara…. Não sinto a competição que pudesse gerar
uma desunião. Já me falaram que acontece, mas eu não
posso te dizer de experiência própria. (1º ano)
QUADRO 4
Efetivo de cadetes por Arma e por ano no início do ano
letivo de 1987
COMBATE
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Eu acho que eles têm até uma certa inveja da Cavalaria. Por
exemplo, sábado passado a gente fez um “corredor polonês”
na boca da ala…. Aí veio o tenente, acho que de Infantaria:
“Isso não pode ficar assim! Vou comunicar ao capitão de vo-
cês!” Aí, de repente, sai o nosso capitão do meio da
muvuca! Aí o tenente ficou todo sem graça, puxou outro
assunto…
… não que nosso espírito seja civil, mas nós temos uma
formação técnica mais próxima de uma faculdade aí fora,
enquanto que a formação profissional das outras Armas …
não tem nada a ver com nada aí fora. É lógico que dentro da
profissão militar eles são importantes, não tem Arma mais
importante do que as outras, mas eles, realmente, não são
formados em nada. Então digamos que se um capitão de In-
fantaria, que só se dedique à Infantaria, seja reformado por
doença ou outro motivo, ele vai ficar mais na mão que um
capitão de Engenharia que esteja na mesma situação,
porque este vai poder se virar. Nem que tenha que pegar [a
função de] mestre-de-obras por aí, ele se vira. Nesse ponto
então, nós temos formação técnica bem diferente das outras
Armas.11
O cara não precisa ser vibrador, o cara tem que ser exato,
tem que fazer as coisas certas, não pode errar. O infante, se
ele errar, ele morre, o problema é dele. Se o intendente er-
rar, morre um batalhão inteiro…. É um trabalho diferente,
mas é um trabalho que não pára. Porque, em tempo de paz,
se um infante não fizer nada, tá safo. Agora, se o intendente
não fizer, ninguém come, ninguém se veste. Se o intendente
errar, falta comida, ou então se joga comida fora. Então,
tem que ser aquele negócio certinho.
ação estudo
físico mental
união competição
sentimento de conjunto individualismo
(egoísmo)
menor contato com o maior contato com o
meio civil meio civil
tradição grande tradição pequena
continuidade mudança
espírito forte espírito fraco
dos anos que vão de 1919 a 1930 não se poderia dizer, sem
injustiça e sem faltar à verdade, que foram tempos carentes
de bom enquadramento militar. Mas agora estamos em
1931, e para o general José Pessoa tal situação não é sufi-
ciente. Porque não se contenta ele com o clima da correção
militar feita de rigores simples e de atitudes tranqüilas, sob
fundamentos da lógica comum. Ele reclama coisa diferente,
quer um clima de exaltação, num plano de sublimações
místicas. Não lhe basta a figura do aluno, seja ela
militarmente bem-posta; ele almeja a figura do cadete, com
suas conotações de distinção social, enriquecida de místicos
fervores, ante o altar da Pátria.65
QUADRO 5
Porcentagem de cadetes filhos de civil e militares, em
quatro períodos
QUADRO 6
Porcentagem de cadetes filhos de oficiais superiores e de
oficiais subalternos e praças, em 1970, 1985 e 2000-2002
Não te conto o que uma garota falou pra mim uma vez!
Disse brincando, mas… Eu conheci uma garota, falei com ela
que era da Academia Militar, aí depois eu contei como é que
era mais ou menos o esquema, assim. Aí ela falou pra mim
assim: “Mas você não vai ser carrasco, vai?” Acho que ela
falou brincando, ela falou isso pelo telefone, não tive opor-
tunidade de falar pessoalmente com ela. (3º ano)
QUADRO 7
Naturalidade dos cadetes matriculados na Aman, em três
períodos
QUADRO 8
Naturalidade dos cadetes matriculados
na Aman, em três períodos, computados apenas os oito
estados de maior participação percentual
Prefácio à 2ª edição
Introdução
• O RISO E O RISÍVEL
Verena Alberti
• ANTROPOLOGIA CULTURAL
Franz Boas
• O ESPÍRITO MILITAR
• OS MILITARES E A REPÚBLICA
Celso Castro
• DA VIDA NERVOSA
Luiz Fernando Duarte
• GAROTAS DE PROGRAMA
Maria Dulce Gaspar
• O COTIDIANO DA POLÍTICA
Karina Kuschnir
244/247
• CULTURA: UM CONCEITO
• ANTROPOLÓGICO
Roque de Barros Laraia
• GUERRA DE ORIXÁ
Yvonne Maggie
• OS MANDARINS MILAGROSOS
Elizabeth Travassos
• ANTROPOLOGIA URBANA
• DESVIO E DIVERGÊNCIA
• INDIVIDUALISMO E CULTURA
• PROJETO E METAMORFOSE
• SUBJETIVIDADE E SOCIEDADE
• A UTOPIA URBANA
Gilberto Velho
• PESQUISAS URBANAS
Gilberto Velho e Karina Kuschnir
• BEZERRA DA SILVA:
• PRODUTO DO MORRO
Letícia Vianna
• O MUNDO DA ASTROLOGIA
Luís Rodolfo Vilhena
Copyright © 1990, Celso Castro