Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MÓDULO 2 - AULA 23
Introdução
f (x0 )
Pn (x) := f (x0 ) + f (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 )2 (23.1)
2!
f (n) (x0 )
+ ··· + (x − x0 )n (23.2)
n!
67 CEDERJ
O Teorema de Taylor
ANÁLISE REAL
tem a propriedade de que ele e suas derivadas até a ordem n no ponto x0
coincidem com a função f e suas derivadas até a ordem n quando avaliadas
nesse mesmo ponto.
Esse polinômio Pn é chamado o polinômio de Taylor de grau n para f
em x0 e seu estudo remonta ao matemático inglês Brook Taylor (1683–1731),
embora a fórmula para o resto Rn := f − Pn só tenha sido obtida muito
mais tarde por Joseph-Louis Lagrange (1736–1813). A fórmula ou Teorema
de Taylor (com resto de Lagrange) e suas aplicações constituem o tema desta
aula que passamos a estudar em detalhes a seguir.
A fórmula de Taylor
Essa equação nos diz que o valor f (x) pode ser aproximado pelo valor f (x0 )
e que ao fazermos essa aproximação estaremos cometendo um erro dado por
R0 (x) := f (x) − f (x0 ) = f (x̄)(x − x0 ).
Para podermos estimar o erro R0 (x) é preciso ter alguma informação
sobre o comportamento da derivada f (x̄) para x num intervalo Iδ := (x0 −
δ, x0 + δ) ∩ I, para algum δ > 0. Por exemplo, se para algum C > 0 tivermos
|f (x̄)| ≤ C para x ∈ Iδ , então teremos |R0 (x)| ≤ C|x − x0 | para x ∈ Iδ .
Em particular, se existe f (x0 ), então temos que |f (x̄)| é limitado para
x ∈ Iδ , para δ > 0 suficientemente pequeno, já que de (23.3) obtemos
f (x) − f (x0 )
lim f (x̄(x)) = lim = f (x0 ). (23.4)
x→x0 x→x0 x − x0
Mais ainda, nesse caso é possı́vel escrever (23.3) na forma
CEDERJ 68
O Teorema de Taylor
MÓDULO 2 - AULA 23
(i)
r(x0 ) = r (x0 ) = · · · = r (n) (x0 ) = 0. (23.8)
(ii)
r(x)
lim = 0. (23.9)
x→x0 (x − x0 )n
Prova: (i)⇒(ii) Vamos usar Indução Matemática. Mostremos primeiro que
a implicação vale para n = 1. Suponhamos então que r(x0 ) = r (x0 ) = 0.
Usando essas hipóteses e a definição de derivada obtemos
r(x) r(x) − r(x0 )
lim = lim = r (x0 ) = 0,
x→x0 x − x0 x→x0 x − x0
o que prova que a implicação vale para n = 1. Suponhamos que a implicação
valha para n = k. Temos que mostrar que nesse caso ela vale também para
n = k + 1 e, para isso, assumimos agora que r(x0 ) = · · · = r (k) (x0 ) =
r(k+1) (x0 ) = 0. A função φ := r satisfaz φ(x0 ) = φ (x0 ) = · · · = φ(k) (x0 ) = 0.
Pela hipótese de indução temos
r (x) φ(x)
lim = lim = 0.
x→x0 (x − x0 )k x→x0 (x − x0 )k
r(x) r (x̄)(x − x0 )
lim = lim
x→x0 (x − x0 )k+1 x→x0 (x − x0 )k+1
r (x̄) (x̄ − x0 )k
= lim = 0,
x→x0 (x̄ − x0 )k (x − x0 )k
69 CEDERJ
O Teorema de Taylor
ANÁLISE REAL
já que (x̄ − x0 )k /(x − x0 )k ≤ 1 e
r (x̄)
lim =0 (por quê?),
x→x0 (x̄ − x0 )k
o que conclui a prova por indução.
(ii)⇒(i) Provaremos também essa implicação usando Indução Matemática.
Vejamos incialmente o caso n = 1, para o qual supomos que
r(x)
lim = 0.
x→x0 x − x0
Como r(x) é contı́nua em x0 , já que é diferenciável nesse ponto, então
r(x)
r(x0 ) = lim r(x) = lim (x − x0 ) = 0.
x→x0 x→x0 x − x0
Por outro lado,
r(x) − r(x0 ) r(x)
r (x0 ) = lim = lim = 0,
x→x0 x − x0 x→x0 x − x0
r(x) r(x)
lim = lim (x − x0 ) = 0,
x→x0 (x − x0 )k x→x0 (x − x0 )k+1
CEDERJ 70
O Teorema de Taylor
MÓDULO 2 - AULA 23
f (n) (x̄)
f (x) = Pn−1 (x) + (x − x0 )n . (23.10)
n!
Temos que mostrar que n!M = f (n) (x̄) para algum x̄ entre x0 e x. Conside-
remos a função
Portanto, a prova estará completa se pudermos mostrar que g (n) (x̄) = 0 para
algum x̄ entre x0 e x.
71 CEDERJ
O Teorema de Taylor
ANÁLISE REAL
(k)
Como Pn−1 (x0 ) = f (k) (x0 ) para k = 0, . . . , n − 1, temos
Exemplos 23.1
(a) (Regra de L’Hôpital para derivadas de ordem n) Sejam I := [a, b] e
f, g : I → R n vezes diferenciáveis no ponto x0 ∈ I com derivadas até
ordem n − 1 nulas em x0 . Se g (n) (x0 ) = 0 então
CEDERJ 72
O Teorema de Taylor
MÓDULO 2 - AULA 23
com
rnf (x) rng (x)
lim = lim = 0.
x→x0 (x − x0 )n x→x0 (x − x0 )n
Portanto,
f (n) (x0 ) rnf (x)
+
f (x) n! (x − x0 )n f (n) (x0 )
lim = lim (n) = (n) .
x→x0 g(x) x→x0 g (x0 ) rng (x) g (x0 )
+
n! (x − x0 )n
2
(b) A função definida por f (x) := e−1/x para x = 0 e f (0) := 0 satisfaz
f (k) (0) = 0 para todo k ∈ N. Em particular, o n-ésimo polinômio de
Taylor para f em 0 é Pn (x) ≡ 0 para todo n ∈ N.
De fato, pelo Teorema do Valor Médio aplicado repetidamente a f e às
suas derivadas, basta mostrar que existem os limites lim f (n) (x) e que
x→0
esses são iguais a 0. Com efeito, pelo Teorema do Valor Médio temos
f (k−1) (x)−f (k−1) (0) = f (k) (x̄)x, para algum x̄ entre 0 e x. Como x̄ → 0
quando x → 0, vemos que
f (k−1) (x) − f (k−1) (0)
lim f (k) (x) = lim f (k) (x̄) = lim = f (k) (0),
x→0 x→0 x→0 x
onde também usamos a definição de derivada. Agora, usando seus
conhecimentos de Cálculo, você poderá verificar que para x = 0 temos
1 2
f (k) (x) = pk ( )e−1/x ,
x
onde pk (y) é um polinômio de grau 3k. Portanto, a afirmação estará
provada se mostrarmos que para todo m ∈ N vale
2
e−1/x
lim = 0. (23.19)
x→0 xm
73 CEDERJ
O Teorema de Taylor
ANÁLISE REAL
(c) Vamos aproximar o número e com erro menor que 10−5 .
Consideremos a função f (x) := ex e tomemos x0 = 0 e x = 1 na fórmula
de Taylor (23.10). Precisamos determinar n tal que |Rn (1)| < 10−5
onde
f (n+1) (x̄)
Rn (x) := f (x) − Pn (x) = (x − x0 )n ,
(n + 1)!
por (23.10). Para isso usaremos o fato de que f (x) = ex e a limitação
inicial ex ≤ 3 para 0 ≤ x ≤ 1.
Claramente, de f (x) = f (x) = ex segue que f (k) (x) = ex para todo
k ∈ N. Em particular, f (k) (0) = 1 para todo k ∈ N. Consequentemente
o n-ésimo polinômio de Taylor é dado por
x2 xn
Pn (x) := 1 + x + + ··· +
2! n!
e o resto para x = 1 é Rn (1) = ex̄ /(n + 1)! para algum x̄ satisfazendo
0 < x̄ < 1. Como ex̄ < 3, devemos buscar um valor de n tal que
3/(n + 1)! < 10−5 . Um cálculo revela que 9! = 362880 > 3 × 105 de
modo que o valor n = 8 nos dará a desejada acurácia. Mais ainda,
como 8! = 40320 nenhum valor menor de n será satisfatório. Assim,
obtemos
1 1
e ≈ P8 (1) = 1 + 1 + + · · · + = 2 · 71828
2! 8!
com erro menor do que 10−5 .
Exemplos 23.2
1 1 1
(a) 1 − x2 ≤ cos x ≤ 1 − x2 + |x|3 para todo x ∈ R. Em particular,
2 2 6
temos
1 − cos x 1
lim 2
= . (23.21)
x→0 x 2
Apliquemos o Teorema de Taylor 23.1(A) à função f (x) := cos x em
x0 = 0 e n = 3 para obter
1
cos x = 1 − x2 + R2 (x),
2
com
f (x̄) 3 sen x̄ 3
R2 (x) = x = x,
3! 6
CEDERJ 74