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Darei exemplos para evitar que os ínscios e levianos, ao se deixarem levar pela
mania de classificar, que às vezes resulta de uma teoria paracientífica, cometam
injustiças irreparáveis. Pois a verdade é que mulheres que podem parecer em
princípio "ácidas", como as louras (conf. com a expressão corrente: "branca azeda",
etc.), podem apresentar tipos da maior basicidade. Não é possível haver mulher mais
"básica" que Marylin Monroe,* por exemplo; enquanto que Grace Kelly, que muita
gente pode tomar por "básica", é a mulher mais cítrica dos dias que correm. Podia-
se fazer com Grace Kelly a maior limonada de todos os tempos, e nem todo o açúcar
de Cuba seria capaz de adoçá-la.
Como um homem prevenido vale por dois, dou aqui, por alto, noções
geográficas e fisiológicas dos dois tipos, de modo que não chupe tamarindo aquele
que gosta de manga, e vice-versa. A vol d'oiseau se pode dizer que as regiões
escandinavas, certas regiões balcânicas e a América do Norte são infestadas de
mulheres "ácidas", no caso da América, sobretudo o Sul e Middlewest, onde há
predominância do tipo one hundred per cent American. Ingrid Bergman é uma "ácida
escandinava" típica e é preciso ir procurar uma Greta Garbo para achar a famosa
exceção comum a toda a regra. As Ilhas Britânicas em si não são "ácidas"; mas há
que ter cuidado com certas regiões da Escócia e da Irlanda, onde o limão come solto.
Na França, com exceção de Paris e Île-de-France, e naturalmente da Côte d'Azur,
reina uma certa acidez, sobretudo na Bretanha, Alsácia e Normandia. A Itália é
"básica", tirante, talvez, o Veneto e a Sicília. Os Países Baixos são o que há de mais
"ácido", Flandres ainda mais que a região flamenga. A Alemanha é à base do araque.
Há, aí, que ir mais pelo padrão psicofisiológico que pelo geográfico.
OUTRA ANÁLISE
Johann Sebastian era ainda uma criança quando deixou a cidade natal para percorrer
os tortuosos caminhos que o levariam à imortalidade...
Quanto ao nosso poeta, foi em 1913, na cidade do Rio de Janeiro, que nasceu, em
meio a um forte temporal, Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes, filho de Clodoaldo
Pereira da Silva Moraes, funcionário da Prefeitura, poeta (amigo deOlavo Bilac),
violonista e cantor de modinhas, que iniciaria Vinicius na música. O tio mais moço,
boêmio e seresteiro, também exerceu forte influência sobre ele. Além de sua mãe,
Lydia Cruz, e o avô, que eram hábeis pianistas.
Além dessas semelhanças, no mínimo curiosas, há algo maior que o liga ao mestre
de Eisenach. Dentre os parceiros de Vinicius (...e eles não são poucos. Só para citar
os mais conhecidos: irmãos Tapajós, Paulinho Soledade, Vadico, Pixinguinha,Adoniran
Barbosa, Carlos Lyra, Baden Powell, Francis Hime, Villa-Lobos, Chico Buarque, Tom
Jobim, Toquinho etc.), Bach foi o mais inusitado de todos porque, obviamente, já
estava morto e jamais tomou conhecimento de tal negócio! Em 1961, a Banda do
Corpo de Bombeiros fluminense gravou "Rancho das Flores", marcha-rancho com
versos do poeta sobre tema de "Jesus, Alegria dos Homens", do compositor clássico
alemão.
Um crítico certa vez disse que Vinicius era um homem plural, e que essa pluralidade
era percebida nas várias atividades que o poeta desenvolveu, nos vários amores que
teve (seus biógrafos afirmam que teve, oficialmente, 9 mulheres), e no próprio
nome: Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes.
A importância de se ler uma obra como esta ("Antologia Poética") está no fato de
que estamos tendo contato com uma seleção de poemas feita pelo próprio autor.
A segunda fase (ou como se costuma dizer: o segundo Vinicius) tem início emCinco
Elegias, de 1943. O novo tom, a nova linguagem, as novas formas e temas, que
vinham desde Novos poemas, de 1933, intensificam-se e diversificam-se nos livros
posteriores - Poemas, sonetos e baladas (1946) e Novos poemas II (1959) -, em que
se mostram tanto as formas clássicas (soneto de tradição camoniana e
shakespeariana) quanto a poesia livre (em "A última elegia", os versos têm forma de
serpente). O poeta sente-se à vontade para inventar palavras, muitas vezes
bilíngues, ou praticar a oralidade maliciosa.
Por haver nessa fase uma renúncia à superstição e ao purismo fortemente presentes
na primeira, bem como um direcionamento para uma atitude mais brincalhona e
amorosa perante a poesia, essa segunda fase ficou conhecida como "O encontro do
cotidiano pelo poeta".
Embora a crítica fizesse (faça) tal divisão, colocando de um lado o poeta e de outro
o showman, Vinicius nunca concordou que houvesse diferença entre seus sambas e
seus poemas escritos, pois para ele tudo era igual.