Você está na página 1de 2

O sentimento de um ocidental

 Encontra-se dividido em 4 partes com 11 quadras cada uma.


 Cada quadra é composta por um primeiro verso decassílabo, seguido de 3 alexandrinos
 Esquema rimático abba, rima emparelhada e interpolada.

Avé-Maria

Nas nossas ruas, ao anoitecer,


Inicia-se ao anoitecer
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

O céu parece baixo e de neblina,


O gás extravasado enjoa-me, perturba;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.

Batem carros de aluguer, ao fundo,


Levando à via-férrea os que se vão. Felizes! Exalta aqueles que tem coragem para sair
Ocorrem-me em revista, exposições, países: da cidade e viajar para a Europa, onde
Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo! existem cidades modernas e progressistas

Semelham-se a gaiolas, com viveiros, Vê a cidade como uma “gaiola” gigante,


As edificações somente emadeiradas: isto é, como uma prisão que não deixa os
Como morcegos, ao cair das badaladas,
seus habitantes progredir e sair das suas
Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.
condições miseráveis de trabalho,
Comparação Metáfora comparando-os a morcegos

Voltam os calafates, aos magotes,


O fim de tarde incomoda ao observar os
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos;
Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por operários, magros (secos) e sujos
becos, ( enfarruscados) a regressar a suas casas
Ou erro pelos cais a que se atracam botes. sem quaisquer condições de vida

E evoco, então, as crónicas navais:


Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado!
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais! Invoca crónicas navais e seus heróis e faz
menção ao couraçado inglês, o qual
E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!
representava o domínio estrangeiro sobre
De um couraçado inglês vogam os escaleres;
E em terra num tinir de louças e talheres Portugal.
Flamejam, ao jantar alguns hotéis da moda.

Num trem de praça arengam dois dentistas;


Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!
Vazam-se os arsenais e as oficinas;
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.

Sinestesia Metáfora’

Vêm sacudindo as ancas opulentas!


Seus troncos varonis recordam-me pilastras; Compara a força das varinas com as
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas. obreiras.

Destaca a dureza de vida das varinas, que


Descalças! Nas descargas de carvão,
após um dia de trabalho, regressam
Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas, descalças a sua casa e encontram mais
E o peixe podre gera os focos de infecção! sofrimento
😊

Você também pode gostar