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Poesia Provençal – Alguns Textos Graça Videira Lopes

BERNART DE VENTADORN (…1150-80…)


Quan vei la lauzeta mover Quando vejo a cotovia mover
de joi sas alas contra ‘l rai, de alegria as asas contra o raio
que s’oblid’ e.s laissa chazer que se esquece e se deixa cair
per la doussor c’al cor li vai, com a doçura que no coração lhe vai
ai! tan grans enveia m’en ve ai! tão grande inveja me vem
de cui qu’eu veia jauzion! daqueles que vejo andar contentes!
Meravilhas ai, car desse E maravilho-me eu como de repente
lo cor de desirer no.m fon. de desejo o meu coração não se funde.

Ai, las! tan cuidava saber Ai eu! tanto cuidava saber


d’amor, e tan petit en sai! de amor e tão pouco sei!
Car eu d’amar no.m posc tener Pois eu de amar não me posso conter
celeis don já pro non aurai. aquela cujo favor nunca terei;
tout m’a mo cor, e tout m’a me, tem o meu coração e tem-me todo a mim,
e se mezeis e tot lo mon! tem-se a si própria e ao mundo inteiro!
E can se.m tolc, no.m laisset re E quando me tomou nada mais me deixou
mas desirer e cor volon . senão desejo e coração voraz.
Perdi já eu sobre mim o poder
Anc non agui de me poder
ni no fui meus de l’or’ en sai e deixei de ser meu desde o instante
que.m laisset en sos olhs vezer em que me deixou nos seus olhos ver,
en un miralh que mout me plai. num espelho que me agrada tanto.
Miralhs, pos me mirei en te, Espelho, pois me mirei em ti,
m’já mort li sospir de preon, mataram-me os suspiros mais profundos,
c’aissi.m perdei com perdet se que assim me perdi, como se perdeu
lo bels Narcisus en la fon. o belo Narciso na fonte.

De las domnas me desesper! Das donas me desespero,


Já mais en lor no.m fiarai! não mais nelas me fiarei!
C’aissi com las solh chaptener, Que assim como as usava defender
Enaissi las deschaptenrai; assim as desabonarei;
pois vei c’una pro no m’en te pois vejo que nenhuma me auxilia
vas leis que.m destroi e.m cofon, junto daquela que me destrói sem razão,
totas las dopt’ e las mescrè, de todas duvido, de todas desconfio,
car be sai c’atretals se son. pois sei bem que todas iguais são.
D’aisso’s fa be femna parer Nisso faz bem o papel de mulher
ma domna, per qu’e.lh o retrai: a minha dona, que condeno assaz:
car no vol so c’om deu voler, pois não quer o que se deve querer
e so c’om li deveda, fai. e o que lhe é vedado faz.
Chazutz sui en mala mercè, Caído sou em sua impiedade
e ai be faih co.l fols en pon! e agi pois como o louco na ponte!
E no sai per que m’es devè, E não sei porque me vou curvado
mas car trop poiei contra mon. se não por querer subir alto monte.
Merces es perduda, per ver, Piedade está perdida a valer,
e eu non o saubi anc mai, e eu não o soube jamais,
car cilh qui plus en degr’aver, pois aquela que mais a deveria ter
no.n a ges, e on la querrai? não a tem; e onde a irei buscar?
Ah! can mal sembla, qui la vè, Ah! como pouco parece, a quem a vê,
qued aquest chaitiu desiron que este cativo amador,
que já ses leis non aura be, que já sem ela não encontrará bem,
laisse morrir, que no l.aon deixe morrer, sem socorro lhe dar!

Medievalista on line ano 2 número 2 2006 © IEM - Instituto de Estudos Medievais 2


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Poesia Provençal – Alguns Textos Graça Videira Lopes

Pos ab midons no.m pot valer Pois com minha dama não me podem valer
precs ni merces ni.l dreiz qu’eu ai, preces, nem piedade, nem meu bom direito,
ni a leis no já a plazer nem a ela não lhe causa prazer
qu’eu l’am, já mais no.lh o dirai. que eu a ame, jamais lho direi.
Aissi.m part de leis e.m recrè! E assim dela me afasto e me rendo!
Mort m’a, e per mort li respon, Pois me matou, como morto lhe respondo,
e vau m’en, pus ilh no.m retè, e vou-me daqui, pois ela não me retém,
Chaitius, en issilh, no sai on. cativo, em exílio, não sei onde.

Tristans, ges no.n auretz de me, Tristão, nada mais tereis de mim,
qu’eu m’en vau, chaitius, no sai on. pois me vou, cativo, não sei onde;
de chantar me gic e.m recrè, ao cantar volto costas e me rendo assim,
e de joi e d’amor m’escon . e da alegria e do amor me escondo.

Tant ai mo cor ple de joia, Tenho o coração tão cheio de alegria


tot me desnatura: que tudo me desnatura:
flor blanca, vermelh’ e groia flor branca, amarela e vermelha
me par la freiura, me parece a friura;
C’ab lo já et ab la ploia pois com o vento e com a chuva
me creis l’aventura, me cresce a ventura,
per que mos chans mont’ e poia e o meu canto aumenta e cresce
e mos pretz melhura . e o meu mérito melhora.
Tan ai al cor d’amor, Tanto tenho no coração amor,
de joi e de doussor, alegria e doçura,
per que.l gels me sembla flor que o gelo me parece flor
e la neus verdura . e a neve verdura.

Anar posc ses vestidura, Andar posso sem vestimenta,


Nutz en ma chamisa, nu na minha camisa,
Car fin’ amors m’asegura pois o fino amor me proteje
de la freia briza. da fria brisa.
Mas es fols qui.s desmesura, Mas é louco quem se desmesura
e no.s te de guisa; e não se avisa;
per qu’eu ai pres de me cura, pelo que eu aprendi a conter-me
deis c’agui enquiza desde que requisito
la plus bela d’amor, à mais bela o amor,
don aten tan d’onor, de que espero tanta honra,
car en loc de sa ricor que em lugar da sua riqueza
no volh aver Piza. não quero ter Piza.

De s’amistat me reciza, Da sua amizade me retira,


mas be n’ai fiansa, mas tenho confiança
que sivals eu n’ai conquiza que ao menos conquistei
la bela semblansa; o amável semblante;
e ai ne a ma deviza e tenho diante de mim
tan de benanansa, tanta bem aventurança
que já.l jorn que l’aurai viza, que do dia em que a vi
non aurai pezansa. não terei má lembrança.
Mo cor ai pres d’Amor, Meu coração prendi de Amor
que l’esperitz lai cor; e o espírito para ela corre;
mas lo cors es sai, alhor, mas o corpo está aqui, alhures,
lonh de leis, en França. longe dela, em França.

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JAUFRE RUDEL (…1125-1148…)

Lanquan li jorn son lonc en mai Quando os dias são longos em Maio
m’es bels dous chans d’auzels de lonh, é-me doce o canto dos pássaros de longe,
e quan mi sui partitz de lai, e quando me parti de lá
remembra.m d’un amor de lonh; relembra-me um amor de longe;
vau de talan embroncs e clis vou, de desejo, curvado e triste
si que chans ni flors d’albespis tal que nem cantos nem flores de branco-
no.m platz plus que l’iverns gelatz. [espinho
me agradam mais que o inverno gelado.
Be tenc lo Senhor per verai
que formet cest’ amor de lonh, Bem tenho o Senhor por verdadeiro,
mas per un já que m’en eschai que criou este amor de longe,
n’ai dos mals, car tant m’es de lonh. mas por um bem que me acontece,
Ai! car me fos lai pelegris, tenho dois males, pois me está longe.
si que mos fustz e mos tapis Ai! assim fosse eu lá peregrino
fos pels seus bels olhs remiratz! para o que meu bordão e o meu manto
fossem dos seus belos olhos contemplados.
Be.m parra jois quan li querrai,
per amor Deu, l’ostal de lonh; Alegria será quando lhe pedir,
e s’a leis platz, albergarai por amor de Deus, o albergue de longe;
pres de leis, si be.m sui de lonh; e se lhe agradar, albergarei
qu’aissi es lo parlamens fis junto a seu lado, se bem sou de longe;
quan drutz lonhdas er tan vezis que assim é a conversa perfeita,
qu’ab cortes ginh jauzis solatz. quando o amante longínquo é tão vizinho
que com espírito cortês goza prazer.
Iratz e dolens m’en partrai,
s’eu no vei cest’ amor de lonh; Irado e dolente me partirei
no.m sai quora mais la veirai, se não o vejo, este amor de longe;
que tan son nostras terras lonh: e não sei quando a verei
assatz hi a pas e camis, de tal modo são as nossas terras longe:
e per aisso non sui devis… assaz há passos e caminhos;
mas tot já com a leis platz. e por isso não sou adivinho…
mas tudo seja como a ela apraz.
Jamai d’amor no.m jauzirai
si no.m jau d’est’ amor de lonh, Jamais amor não desfrutarei
que melher ni gensor non sai se não disfrutar este amor de longe,
ves nulha part, ni pres ni lonh; pois melhor nem mais gentil não sei
tant es sos pretz rics e sobris em nenhum lugar, nem perto nem longe;
que lai el renh dels Sarrazis tanto o seu mérito é grande e elevado
fos eu per leis chaitius clamatz. que lá no reino dos Sarracenos
fosse eu por ela cativo proclamado.
Deus que fetz tot quant ve ni vai,
e formet cest’amor de lonh Deus, que fez tudo o que vem e vai,
mi don poder, que cor be n’ai, e criou este amor de longe,
qu’eu veia cest’amor de lonh, me dê o poder – que ânimo já terei,
veraiamen en loc aizis, de ver este amor de longe,
si que la cambra e’ls jardis verdadeiramente, em lugar propício,
mi ressemblom novels palatz. tal que a câmara e os jardins
me parecerão novos palácios.

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Poesia Provençal – Alguns Textos Graça Videira Lopes

Ver ditz qui m’apela lechai Verdade diz quem me chama ávido
e deziros d’amor de lonh, e desejoso de amor de longe;
que nuls autres jois tan no.m plai pois nenhumas alegrias me agradam mais
cum jauzimens d’amor de lonh; que os prazeres de amor de longe;
mas so qu’eu volh m’es tant ahis: mas o que eu quero me é tão vedado:
qu’enaissi.m fadet mos pairis que assim me fadou o meu padrinho
qu’eu ames e non fos amatz. que eu amasse e não fosse amado.

Mas so qu’eu volh m’es atahis Mas o que eu quero me é vedado:


tot sai mauditz lo pairis maldito seja para sempre o padrinho
que.m fadet qu’eu non fos amatz. que me fadou que eu não fosse amado!

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Critical edition of the Cantigas de Santa Maria

18
The Silkworms that Wove Veils

R 1 Por nos de dulta tirar


2 praz a Santa Maria
3 de seus miragres mostrar
4 fremosos cada dia.

1 1 E por nos fazer veer 5 1 Chorando de coraçon


2 sa apostura 2 foi se correndo
3 gran miragre foi fazer 3 a casa e viu enton
4 en Estremadura 4 estar fazendo
5 en Segovia u morar 5 os bischocos e obrar
6 ũa dona soia 6 na touca a perfia
7 que muito sirgo criar 7 e começou a chorar
8 en sa casa fazia. 8 con mui grand' alegria.
R Por nos de dulta tirar... R Por nos de dulta tirar...

2 1 Porque os babous perdeu 6 1 E pois que assi chorou


2 e ouve pouca 2 meteu ben mentes
3 seda, por en prometeu 3 na touca, des i chamou
4 dar  ũa  touca 4 muitas das gentes
5 per' a omagen onrar 5 i, que vẽessen parar
6 que no altar siia 6 mentes como sabia
7 da Virgen que non á par 7 a Madre de Deus lavrar
8 en que muito criia. 8 per santa maestria.
R Por nos de dulta tirar... R Por nos de dulta tirar...

3 1 Pois que a promessa fez 7 1 As gentes con gran sabor


2 sempre creceron 2 quand' est' oiron
3 os babous ben dessa vez 3 dando aa Madre loor
4 e non morreron 4 de Deus, sairon
5 mas a dona con vagar 5 aas ruas braadar
6 grande que i prendia 6 dizendo: "Via, via
7 d' a touca da seda dar 7 o gran miragre catar
8 sempre ll' escaecia. 8 que fez a que nos guia."
R Por nos de dulta tirar... R Por nos de dulta tirar...

4 1 Onde ll' avẽo assi 8 1 Un e un e dous e dous


2 ena gran festa 2 log' i vẽeron
3 d' Agosto que vẽo i 3 ontre tanto os babous
4 con mui gran sesta 4 outra fezeron
5 ant' a omagen orar 5 touca, per que fossen par
6 e ali u jazia 6 que se alguen queria
7 a prezes, foi lle nembrar 7 a  ũa  delas  levar
8 a touca que devia. 8 a outra leixaria.
R Por nos de dulta tirar... R Por nos de dulta tirar...

© Centre for the Study of the Cantigas de Santa Maria, University of Oxford, 2012 1
Bernart de Ventadorn (?ga. li3o-ca. 1200)
Can vei la lauzeta mover

Canso (troubadour song)


CA. 1170-80

CD 1 36 CD 115

1. Can vei la lau - ze - ta mo ivr I)e joi sas a - las con tral rai,

Que s'o-blid' e«s lais - sa cha - zer. I'er la dous-sor- c*al cor li vai,

Ai! tans grans en - vey - a m'en ve De cui qu'eu vey - a jau - zi

Me - ra - vil - h.is. ai. car de Lo cor de de - zi - rer no*m ton.

Can vei la lauzeta mover When I see the lark beating


de joi sas alsas contral rai. its wingsjoyfullyagainst the sun's rays.
que s'oblid' e • s laissa chazer which then swoons and swoops down
per la doussor c'al cor li vai. because of the joy in its heart.
ai! tan grans enveya m'en ve oh! I feel such jealousy
de cui qu'eu veyajauzion. for all those who have the joy of love.
meravilhas ai. car desse that I am astonished
lo cor de dezirer no • m fon. that myheart does not immediately melt with desire!

Ai. las! tan cuidava saber Alas! I thought I knew so much


* d'amor, e tan petit en sai. of love, and I know so little:
car eu d'amar no • m pose tener for I cannot help loving a lady
celeis don ja pro non aurai. from whom I shall never obtain any favor.
Tout m'a mo cor. e tout m'a me. She has taken away my heart and myself.
e se mezeis e tot lo mom and herself and the whole world:
e can se • m tolc. no • m laisset re and when she left me. I had nothing left
mas dezirer e cor volon. but desire and a yearning heart.

Anc non agui de me poder I have no power over myself,


ni no fui meus de lor' en sai and have not had possession of myself

Music adapted from and text and translation taken from Hendrik van der Werf, TheChansons of the
Troubadours and Trouveres (Utrecht, 1972), 91-95, where versions of the melody appearing in five differ
ent sources are given, showing surprising consistency among readings. The dot splitting two letters of a
word, as in e • s, indicates a contraction.

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COMTESSA DE DlA (fl. late twelfth to early
THIRTEENTH CENTURY)
Achantar

Canso (troubadour song)


SECOND HALF OF TWELFTH CENTURY

CD 1137

m m
' ^ . 0 j—0-
tt I. A chan - tar m'er dc so qu leu non vol - n

«. # * ** ? *^» ^ * T^ ,
2. taut me ran - cur do lui cm sui

3. car ieu l'am mais que nui la ten que si

4. vas lui no-Hi vai mcr - ces ni cor - te - si - a.

5. ni ma bel - tatz ni mos pretz ni mos sens.

• m

6. c'a - tie - si-m sui en - ea nad' tra - hi

+ * • ^*~~"> #^v= » 4
• -0- •
7. com deer' es - scr. s'ieu fos de • sa vi - nens.

A chantar m'er de so qu'ieu non volria. To sing 1must of that which I would rather not.
tant me rancur de lui cui sui amia. so bitter I am towards him who is my love:
car ieu l'am mais que nuilla ren que sia; for I love him more than anyone:
vas lui no • m vai merces ni cortesia. my kindness and courtesy make no
impression on him.
ni ma beltatz ni mos pretz ni mos sens, nor m\ beauty. im \ irtuc. or m\ intelligence:
c'atressi • m sui enganad' e trahia so I am deceived and betraved.
com deter' esser. s'ieu fos desavinens. as I should be if I were unattractive.

Melody transcribed by Hendrikvan der Werf, The Extant Troubadour Melodies (Rochester: Author, 1984), 13.
Gerald A. Bond, text editor. Text and translation used by permission of Hyperion Records Ltd., London,
England.
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Adam de la Halle (ca. i24o-?i288)
feu de Robin et de Marion-. Rondeau, Robins m'aime

Musical play
CA. 1284

CD 1138

Clwnis:

&*
3=£
Ro - bins tn'ai • me, Ro-bitts m'a, Ro - bins m 'a tic - man - de - c,
Solo:
Oil , I I 1 j"*-! •
V *Si m'a - ra. R.0 - bins m'a - ca - ta co - CC - li D'es-car - la - te

1 r.
^nie 5^
bonne et be - le, Sous-ka - et chain-1 u rele A - leu -
Chorus:

SI ,: 3EE£
V
8 Ro-bins m'al-me, Ro-bins m'a. Ro-bins m'a de - </<•• - e, Si m'a - ra.

Robins m'aime. Robin loves me.


Robins m'a. Robin has me,
Robins m'a demandee Robin asked me
Si m'ara. if he can have me.
Robins m'acata cotele Robin bought me a skirt
D'escarlate bonne et belle of scarlet, good and pretty,
Souskanie et chainturele. a bodice and belt.
Aleuriva! Hurray!
Robins m'aime. Robin loves me.
Robins m'a. Robin has me.
Robins m'a demandee Robin asked me
Si m'ara. if he can have me.

From Friedrich Gennrich, Troubadours, Trouveres, Minne- undMeistergesang (Cologne, 1951), 38.

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