Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A) Acórdão - B) Comentário
A) Acórdão
Acordam, em 9.ª Câm. de Direito Público do TJSP, proferir a seguinte decisão: "Negaram
provimento ao recurso. v.u.", de conformidade com o voto do relator, que integra este
acórdão.
Voto 13.494.
da Lei 12.016/2009).
Recurso bem processado, sem efeito ativo e contraminuta pugnando pela manutenção
da decisão agravada.
É o relatório.
Nesse sentido o ensinamento de Souto Maior Borges ao observar que, "por força do art.
5.º, II, CF/1988 (LGL\1988\3) qualquer pretensão ao cumprimento de obrigações
acessórias deverá ser submetida à regência de lei, e não de atos infralegais do
Executivo, como os decretos regulamentares" (apud CARRAZZA, Roque Antônio. Curso
de direito constitucional tributário. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 335).
Confira-se:
lei em sentido formal e material para ter-se o surgimento de obrigação tributária, ainda
que acessória, mostra-se relevante pedido de tutela antecipada veiculado por Estado,
visando a afastar sanções, considerado o que previsto em instrução da Receita Federal"
(AgRg na ACO 1098 TA/MG, Tribunal Pleno, j. 08.10.2009, rel. Min. Joaquim Barbosa).
Mas não é só. A referida exigência também se mostra desnecessária uma vez que os
dados referentes à importação de produtos são de conhecimento do Fisco Estadual pelo
menos desde o momento do desembaraço da mercadoria. Acresce ainda que a
divulgação desses custos na nota fiscal é medida que atenta contra o sigilo de dados
sobre a situação econômica e financeira, a natureza e o estado dos negócios do
contribuinte (art. 198 do CTN (LGL\1966\26)).
B) Comentário
Bem certo é que toda vez que se realiza a complementação ou elucidação por meio de
ato infralegal, com intuito de dar executoriedade à lei, estar-se-á sobre a certa
existência de uma restrição ou alargamento aos termos da legislação, pelo próprio modo
que se opera o ato infralegal, trazendo pleno e sequencial detalhamento de imposições
normativas tendentes à executoriedade da lei.
Depreende-se, então, do art. 146, III, a, da CF/1988 (LGL\1988\3) que cabe à lei
complementar a definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos
Página 3
Breves considerações sobre as obrigações acessórias
Por isso as normas infralegais não podem invadir campo reservado à lei e por
consequência não podem traçar obrigações relativas à apuração do fato gerador, base de
cálculo e contribuinte, de forma diversa daquela legalmente prevista.
Quando a Portaria CAT 174/2012 e o Ajuste Sinief 19/2012 exige, no caso concreto em
análise, que nas notas fiscais de importação deva constar valor de custos há a invasão
da norma infralegal na análise de ocorrência do fato gerador (incidência tributária) e na
forma de apuração da base de cálculo reservadas à lei, ainda mais quando "os dados
referentes à importação de produtos são de conhecimento do Fisco estadual pelo menos
5
desde o momento do desembaraço da mercadoria", como citado no acórdão.
Não bastasse isso o comando do art. 113, § 2.º, do CTN (LGL\1966\26) traz previsão de
que a obrigação tributária acessória decorre da previsão legal, ou seja, há a necessidade
de lei que a institua como obrigação tributária, como se destacou no julgado do Pleno do
STF, ao apreciar a ACO 1098 AgR-TA/MG, citado no acórdão do TJSP.
Afora toda abordagem e julgamento ter se dado sobre o fato da Portaria CAT 174/2012 e
o Ajuste Sinief 19/2012 terem desrespeitado o princípio da reserva legal e o da estrita
legalidade tributária, ainda merece análise o entendimento de que "a divulgação desses
custos (operacionais) na nota fiscal é medida que atenta contra o sigilo de dados sobre a
situação econômica e financeira, a natureza e o estado dos negócios do contribuinte (art.
198 do CTN (LGL\1966\26))".
Pela proteção aos dados, negócio, e à situação do contribuinte pode-se observar que o
TJSP quis resguardar o sigilo às informações pessoais e aquelas de formatação e
manutenção do negócio empresarial do contribuinte.
Deve-se, então, ser rechaçada qualquer obrigação acessória que atente à livre iniciativa
8
e à livre concorrência, como bem asseverou Diego Bomfim ao prescrever que "da
mesma forma que as obrigações acessórias podem funcionar como instrumentos de
preservação da livre concorrência, criando mecanismos que impeçam a evasão fiscal e,
por via reflexa, a utilização de tributo como ponto de desequilíbrio concorrencial - podem
essas obrigações configurar flagrante ofensa ao princípio da livre iniciativa(através da
instituição de sanções políticas ou indiretas) ou mesmo ao princípio da livre concorrência
(com a instituição de obrigações acessórias mais gravosas e pontuais para os
contribuintes em particular em flagrante ofensa ao princípio da proporcionalidade)".
O Fisco não pode onerar o contribuinte com obrigações que impliquem em ofensa ao
princípio da livre concorrência, possibilitando alíquotas e condições de pagamento de
tributos mais benéficas para aqueles que cumprirem as obrigações acessórias, criando
Página 4
Breves considerações sobre as obrigações acessórias
Por isso não pode haver instituição de obrigação acessória que leve à exposição do custo
do produto, sob pena de violação ao princípio da livre concorrência, pois qualquer um
seria sabedor dos custos do produto e por consequência da margem lucrativa adotada,
de forma que um cliente poderia querer negociar descontos, por exemplo, caso
observasse haver margem para tanto, achatando a lucratividade da empresa.
4. Conclusão
Por todo o exposto, vê-se que a instituição de obrigações acessórias deve guardar
relação direta com a obrigação principal (tributo) à que se pretende a fiscalização quanto
à sua ocorrência, bem como arrecadação dos valores decorrentes da incidência
tributária. Para tanto, sua instituição deve se dar por lei, respeitando o comando da
Constituição Federal (LGL\1988\3) e Código Tributário Nacional (LGL\1966\26) - CTN
(LGL\1966\26).
Qualquer obrigação acessória que não for originada por lei deve ser rechaçada.
Da mesma forma deve ocorrer com as obrigações acessórias que violarem os princípios
constitucionais da livre iniciativa e da livre concorrência, com exposição de custos e
margem lucrativa do negócio da empresa, mostrando-se impertinente para a verificação
da incidência tributária e arrecadação do tributo.
3 "Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
(…)
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de
Página 5
Breves considerações sobre as obrigações acessórias
lei;
(…)."
(…)."
8 Bomfim, Diego. Tributação e livre concorrência. São Paulo: Saraiva: 2011. p. 260.
Página 6