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as cigarras escutam
Matsuo Bashô
1
Í N D I C E
2
Agradecimentos 4
Introdução 5
Som e Poder 20
A Arte do Ruído 67
Música Concreta 69
John Cage 72
Conclusão 89
Bibliografia 93
3
Ao longo desta pesquisa, pude contar com a ajuda de várias pessoas, a
quem não posso deixar de agradecer. Ao meu orientador, o Prof. Dr. José
António Ferreira, Carlos Alberto Augusto, Michelle Nagai, Tom Roe e Tianna
Kennedy, Peter Cusack, Domingos Morais, Becca Laurence, Max Dixon, John
trabalho que me deu e pela criatividade que põe em tudo o que faz.
4
INTRODUÇÃO
Italo Calvino
5
Para os povos primitivos, a acuidade auditiva era essencial à sua
a visão, que nos permite ver apenas o que está à nossa frente, o som situa-
esta seria uma das mais recorrentes fontes de informação da História. Essa
6
perceptivas que resultavam do universo audível dos nossos antepassados,
visão.
Murray Schafer sugere que devemos tentar ouvir o ambiente acústico como
experienciar sons naturais diminui com cada nova geração. Hoje há tanta
informação acústica que por vezes nos é quase impossível ouvir com
debilitado pelas enormes pressões sonoras a que está sujeito. Cada vez
mais preocupado com a imagem, prossegue num mundo invadido por sons
7
que já não distingue. Acredita no que vê, não reflecte sobre o que ouve. O
saudável, um aspecto que pode pensado nas vertentes mais profundas das
Por último, porque estamos a falar dos sons da vida, não poderíamos deixar
por excelência, mas as suas fronteiras foram alargadas para dar lugar à
relação entre som e imagem numa época em que o balanço cultural dos
8
Várias eras marcaram este percurso: a invenção do fonógrafo, a arte do
9
CAPÍTULO I
P A R A U M A R E F L E X Ã O S O B R E O M U N D O
S O N O R O
E. E. Cummings
10
Apesar da luz se mover a uma velocidade superior à do som, a relação entre
configurações estáveis.
lógica da criação divina. São as leis que governam e não a vontade de Deus.
1
Steven Connor, Edison’s Teeth: Touching Hearing, in Veit Erlmann (org), Hearing Cultures, pp. 154
11
DA HIERARQUIA DOS SENTIDOS: VISÃO E AUDIÇÃO
Também para Platão a visão tinha um valor cognitivo e este é, sem dúvida, o
civilização.
pés, sons que ele acreditava lembrarem a primal scene do coito entre os
aurais. Para Novalis, a medicina era uma arte musical: os ritmos do corpo
12
Pitágoras criou um sistema de notação
especulação filosófica.
2
citado em Schafer, Murray, Open Ears, pp. 35
13
total entendimento do ambiente e relaciona-se com o presente, não com o
passado ou com o futuro. Por isso Walter Ong declara que “o som é mais
3
Citado em Chandler, Daniel, Biases of the Ear and Eye
4
A visão garante o conhecimento porque requer a permanência. O som não dá certezas porque estamos
imersos nele. Ao contrário da investigação ocularcêntrica, a investigação sobre o som não tem
localização, forma, permanência ou objecto.
14
acostumado a uma perspectiva individual e privada e a estruturas legais e
circula nos mais diversos formatos, uma embriaguez de palavras que impede
communicans está saturado das palavras que usa para nomear o mundo e
silêncio absoluto,
que o isolamento
acústico não o
impedia de ouvir
os sons do seu
próprio
organismo6.
atribuindo o título de Silence ao seu livro mais conhecido, uma ironia que
5
McLuhan, Reading and the Future of Private Identity
6
Da física acústica sabemos que o movimento provoca som, daí que diferentes tipos de corpos possam
causar diferentes tipos de sons. O corpo humano tem códigos sonoros de órgãos específicos e os sons
que derivam das suas funções funcionam muitas vezes como um monitor das suas condições
fisiológicas.
15
“tem a sua parte de ruído e a sua parte de silêncio”7. O sentido é constituído
exposição mundana”8. Esta interioridade pode ser devolvida como base para
conceito de si e a sua relação com os outros. Ser visto não é mais do que
vive das palavras que repete, animada pelo seu próprio sopro, em auto-
palavra”11.
7
Le Breton, David, Do Silêncio, pp. 16
8
Derrida, Jaques, A Voz que Guarda Silêncio, in A Voz e o Fenómeno, pp. 90
9
Derrida, Jaques, op. cit., pp. 89
10
McLuhan, Marshall, Understanding Media, pp. 41
11
Derrida, Jaques, op. cit. pp. 97
16
A fala é então uma expressão da vida interior que se opõe à mundanidade
man, the inner to the ear12. Esta ideia está implícita na perspectiva
que dita uma nova era de segunda oralidade. A cultura quirográfica, mais
memória e aos recursos internos que são a única via para a constituição do
verdadeiro conhecimento.
como seres vivos, mas se lhes perguntares alguma coisa, respondem-te com
escritos13.
12
Wagner, citado em Schafer, Murray, op. cit. pp. 11
13
Platão, Fedro, 275e, pp. 122
17
Isto, diz ele, pode levar ao verdadeiro conhecimento, à verdade do eidos,
Para Platão, a pintura era a arte da ilusão e a escrita não passa de uma
palavra é um corpo que só quer dizer alguma coisa se uma intenção actual o
partilhada”15.
atribui o nome de sonoesfera, “um espaço onde as vozes dos elementos dos
comunicação.
14
Derrida, Jacques, op. cit., pp. 92
15
citado em Chandler, Daniel, op. cit.
16
Nijenhuis, Wim, Peter Sloterdijk
18
Mas grande parte da investigação sobre os meios de comunicação é focada
Para o critico Mark Slouka, o som tem o seu domínio na sociedade do visual,
que os publicitários usam grande parte das técnicas orais que aprendemos
co-existirão em igualdade.
17
Slouka, Mark, Listening for Silence: Notes on the Aural Life, in Audio Culture: Readings on Modern
Music, pp. 41
19
no mundo. Com ele comunicamos, através dele nos defendemos do outro
audível.
SOM E PODER
início era o Verbo e o Verbo era Deus e do Verbo se fez carne. O poder da
aconteceu.
20
da figura do operador no telefone, que marcou o início da comunicação em
formas que tão bem conhecemos: telefone, rádio, televisão, internet, meios
Outra forma que a Igreja encontrou para assegurar a sua posição de poder
18
como o telefone antes do aparecimento da figura do operador
19
O silêncio é tido, nos dias de hoje, como uma paragem na transmissão, como uma ruptura nos
processos electrónicos contínuos que fazem parte da vida quotidiana. Quantas vezes nos apercebemos
da existência de uma máquina apenas quando o seu ruído cessa?
21
constantemente e o órgão foi a máquina que soava mais alto antes da
Revolução Industrial20.
activos e passivos no som. Por isso, segundo Connor. “ouvir pode participar
É por isso que, para Connor, os argumentos de que culturas que se baseiam
20
Murray Schafer, 12º Congresso Internacional de Som e Vibração, Lisboa, 11-14 Julho 2005
21
Steven Connor, op. cit.. pp. 163
22
Entrevista a Rafael Toral, 21 de Fevereiro de 2006
23
Apesar de, em 1969, a Assembleia Geral do Conselho Internacional de Música da UNESCO ter
reconhecido que o uso abusivo da difusão de música em espaços públicos e privados é uma ameaça à
liberdade pessoal e ao direito ao silêncio.
22
desde que na sua produção não esteja implícita uma intenção directamente
dentro do qual nos poderemos fazer ouvir ou entender. É por isso que a
código. Torna audível o novo mundo que gradualmente se torna visível, que
24
Attali, Jacques, Noise: The Political Economy of Music, pp. 11
23
aceitar as regras impostas: o fascismo vê a sua salvação no facto de permitir
regulador, de onde era necessário banir o ruído subversivo porque ele leva à
25
Benjamin, Walter, A Obra de Arte na Era da Reprodutibilidade Técnica, pp. 111
26
Attali, Jacques, op. cit., pp. 7 Aqui está implícita a ideia de ruído como portador de significados.
Para Attali, o ruído torna possível a criação de uma nova ordem, uma ordem que censura e interdita a
anterior.
24
estimular a música e impedi-la27. E para Rafael Toral, o maior ruído dos dias
dessa forma os seus inimigos. O seu poder sonoro, suficiente para criar um
“se os canhões fossem silenciosos, não teriam sido usados nos campos de
guerra”28.
ruídos que o som puro, na sua exiguidade e monotonia, não mais provoca
putrefacção”30.
nos rodeia por vezes como mera interferência. O homem teme-o porque ele
27
Schafer, Murray, Open Ears, pp. 30
28
Schafer, Murray, The Soundscape: the Tuning of the World, pp. 78
29
Russolo, Luigi, Art of Noises
30
citado em Benjamin, Walter, op. cit., pp. 112
25
Mas o mesmo ruído que descreve a vida urbana e do qual os indivíduos se
procuram isolar através da música, dos vidros duplos ou dos tampões nos
que nos rodeia. Da mesma forma que os ecos longínquos nos dizem a que
distância está uma montanha, ecos mais curtos podem ajudar a orientar-nos
no espaço imediato. O tempo que leva a um som que sai da nossa boca,
aberto do que um dia enublado, não apenas porque gostamos do sol, mas
31
Michael Uebel, Acoustical Alterity
32
Atau Tanaka, Speed of Sound, in J. Brouwer, (ed), Machine Times
26
Não há dúvidas que a revolução industrial alterou profundamente a
imagem e som vêm programados com níveis standard que conseguem ser
sua principal atracção, mas esta característica não parece suscitar muitas
alterar este estado de coisas. E quando tem, a solução passa pela tentativa
música. Não nos é possível fechar os ouvidos, mas podemos criar um tapete
27
É aqui que nos tornamos vulneráveis à manipulação, seja porque estamos
podemos agir, seja porque gostamos dos sons que ouvimos e temos
muitas vezes uma defesa acústica, mas nem sempre a natureza sonora é
33
Michael Uebel, Acoustical Alterity
28
que as sociedades por todo o globo se confrontam, enquanto se dão
globalização.
A DOENÇA VIBROACÚSTICA34
34
Entrevista a Mariana Alves-Pereira, 16 de Fevereiro de 2006
29
frequência nos humanos não tem sido igualmente incentivada, o que
grupo de cientistas liderado pelo médico forense Nuno Castelo Branco. Esta
frequência que não nos causam a surdez e que nós podemos, ou não, ouvir
(dos 0 aos 500 Hz, no limiar inferior da audição humana). Este tipo de ruído,
complexo industrial, que tem uma patologia cardíaca equiparada aos pilotos
militares de 60 anos.
35
Fenómeno acústico é todo o fenómeno físico causado por uma onda de pressão. Quando esses
fenómenos físicos ocorrem às frequências em que nós ouvimos – dos 20 aos 20000 Hz - aí chamamos
som.
30
Mas esta investigação desafia não só os
de Medicina36.
36
Os modelos científicos convencionais vêem a célula
como um balão, isto é, como uma estrutura que, quando
pressionada, ao deixar de o ser, volta ao estado normal.
Segundo este modelo, a doença vibroacústica não pode ser
explicada. Mas há um novo modelo de célula que tem
vindo a ser desenvolvida e que é baseado num equilíbro
de forças de tensão – uma construção de tensegridade –
que pode explicar a doença. Quando exercemos uma
pressão sobre esta célula, todas as forças são
redistribuídas para acomodar o fenómeno externo da
pressão. A estrutura não se desfaz, mas reage de forma a
adaptar-se a essa pressão. Vendo a célula segundo este
modelo, podemos entender o efeito de um fenómeno
acústico, porque um fenómeno acústico exerce uma
pressão que irá obrigar a uma readaptação biológica do
corpo sobre o qual se manifesta. Essa readaptação do
corpo à pressão exercida pelo fenómeno acústico dá-se
através da produção de colagénio, que resulta no
espessamento do pericárdio e dos vasos cardiovasculares.
31
Por outro lado, a resistência à noção de que o ruído de baixa frequência e os
infra-sons são um agente de doença, vem da ideia de que não se pode fazer
que os vidros duplos e outras formas que o Homem encontrou para se isolar
dos sons indesejáveis não sejam suficientes para eliminar os efeitos nocivos
ruído, o que por vezes é muito difícil, não há legislação que obrigue a fonte
desligar-se porque este ruído não é reconhecido pela lei, que contempla
apenas aquele que causa surdez, isto é, aquele que se ouve37. Assim, as leis
37
Em Portugal há uma lei muito pouco comum nos outros países que é a lei do ruído tonal (um
ambiente acústico pode ser analisado através do espectro acústico, em que temos várias bandas de
frequência. Um ruído tonal é quando uma dessas bandas de frequência é maior do que todas as outras,
um ruído que se salienta do ruído de fundo).
32
CAPÍTULO II
P A R A U M A I N T R O D U Ç Ã O À
E C O L O G I A A C Ú S T I C A
Murray Schafer
33
O desenvolvimento do World Soundscape Project (WSP) nos anos 70, hoje
em dia conhecido como World Forum for Acoustic Ecology (WFAE), foi um
auditiva.
34
documentando, através da gravação, bases de dados, inquéritos,
Vários modelos têm sido usados nas disciplinas que se relacionam com o
som:
38
Schafer, Murray, The Tuning of the World, pp. 205
35
Estas qualidades, ou características, são por sua vez determinadas pelos
2. Processamento de sinal
subsequente e/ou
processo electroacústico
audível através de um
36
“se a fidelidade absoluta fosse possível, a tecnologia tornar-se-ia
transparente.”39
3. A aproximação comunicacional
Este modelo lida em primeiro lugar com a troca de informação e não com
39
Truax, Barry, Acoustic Communication, pp 9
40
Truax, Barry, op.cit., pp 9
37
As pessoas sujeitas a muito ruído têm dificuldades de comunicação na sua
vida diária.
das árvores pelos sons que fazem, ouvir uma catarata no rio, ou reconhecer
38
Paisagem: (s.f.) extensão de território que se abrange num só
externo e não como algo que está implícito na nossa vida diária, removendo
existência.
42
Dicionário Texto Editores
39
entendimento de paisagem, o que significa que, no processo de
Mas o espaço vivido é muito mais do que aquele que é representado pelos
portanto, como uma interacção entre nós próprios e o ambiente com que
nos deparamos.
Da mesma forma, tal como ambiente sonoro pode ser visto como o
sonora é aqui usado para colocar a ênfase na forma como esse ambiente é
entendido por aqueles que nele vivem, ou seja, as pessoas que o estão a
criar44.
Assim, paisagem sonora é tudo aquilo que nos rodeia e do qual fazemos
43
Schafer, R. Murray, The Tuning of the World, pp. 274-275
44
Truax, Barry, op.cit., pp 9/10
40
Para melhorar a paisagem sonora e o bem estar acústico da humanidade,
provoca.
41
O termo paisagem sonora implica sempre uma
O espaço acústico é criado por múltiplas fontes sonoras que interagem entre
agregado de todos os sons, e que se sente como uma textura sonora onde
45
Westerkamp, Hildegard, discurso como membro do júri do Soundscape 2000
46
Schafer, Murray, The Tuning of the World, pp. 205 - 206
42
Flaherty afirmou que gostaria de ter tido som para
são percebidos50. Estes sons estão de tal forma presentes na vida das
quando deixam de ser sentidos, a sua falta resulta para a comunidade num
zona costeira sem o rebentar das ondas do mar, uma floresta sem o sopro
47
citado em Kracauer, Siegfried, Dialogue and Sound
48
Murray Schafer refere que um investigador de soundscapes deve identificar os aspectos significantes
da paisagem sonora, constituídos pelos sons que são importantes pela sua individualidade, pelo seu
número ou pela sua predominância. Schafer, Murray, op. cit., pp. 9-10
49
Schafer, Murray, op. cit., pp. 9
50
Schafer, Murray, op. cit., pp. 272
43
mas como se associam frequentemente a memórias de longo prazo, criam
se ouvem por toda a comunidade, o seu perfil define as suas fronteiras uma
vez que todos os que partilham esse espaço colectivo os podem ouvir. Para
além disso, no caso de aldeias e vilas, estes sons também ajudam a definir a
fixos, tal como no caso dos comboios, cujo apito viaja por toda a
a sua coesão.
um exemplo.
51
termo que deriva de marco e que se refere ao som de comunidade que é único ou que possui
qualidades que o tornam especialmente identificáveis ou sentidas pelas pessoas dessa comunidade
(Schafer, op.cit., pp. 274)
44
Imaginemos uma companha de pescadores, em plena pesca de arrasto52, ao
agitam num mar sonoro. A borda da bateira bate nas ondas contra as quais
os homens gritam, atentos à força da natureza que, por sua vez, brada
terra, onde os tractores puxam a rede cheia de peixe que salta num último
mugido do animal, mas esta não foi a única marca sonora a desaparecer.
olhos vistos.
apenas notados quando há uma cessação, mas o seu fim provoca uma
52
referimo-nos à Arte da Xávega, praticada na Beira Litoral.
45
Para estas culturas acústicas o som é mais informativo que qualquer
A Arte da Xávega está ameaçada pela extinção e com ela morre uma
da qual ele é permanentemente invadido por sons que lhe são alheios.
partilhadas e nos seus rituais. A comunidade está ligada pelos seus sons,
exótico.
Barry Truax define paisagem sonora como a forma através da qual indivíduo
concepções culturais. No que diz respeito à música, ele pode ser visto como
46
“som humanamente organizado”, para usar uma expressão de John
Blacking53.
agrícolas e pastoris.
A gaita de foles, ainda que espalhada por outras regiões do pais, assume
nos sítios mais esconsos, seja pela globalização imposta pelos media, que
53
Blacking, John, Le Sens Comun, Para John Blacking a música é “um produto do comportamento dos
grupos humanos, quer sejam ou não instituídos” (pp. 18). É, portanto, um meio de interacção social e a
“síntese dos processos cognitivos presentes na cultura e no corpo humano (...) que exprime os aspectos
da experiência dos indivíduos na sociedade” (pp. 101).
54
citado em Bertirotti, Alessandro, Some Theoretical Aims on Music for Prosody in Speech Therapy
Setting: an Evolutionary Perspective
47
Mas o que é que de facto se perde? Para o musicólogo Domingos Morais, a
Ele sublinha que grande parte das práticas da oralidade estão em extinção
temporal dos seus sons, daí que algumas linguagens tendam a desaparecer,
55
entrevista a Domingos Morais, 07/07/05
48
Ecologia: (s.f.) ramo da Biologia que estuda as relações das plantas,
último.56
nocivos.57
o nosso comportamento58.
termo hi-fi (alta fidelidade) - dos pós-industriais - que identifica como lo-fi
56
dicionário Texto Editores
57
Schafer, Murray, The Tuning of the World, pp. 271
58
É de senso comum que a atitude que resulta da tentativa de comunicação num espaço barulhento e
agitado seja diferente da atitude que resulta da comunicação num espaço calmo, em que não
precisamos de elevar a voz para nos fazermos ouvir.
49
O campo é geralmente mais hi-fi do que a cidade, a noite mais do que o dia,
quase nulo. Quando esse efeito é de tal forma pronunciado que o ouvinte
não consiga ouvir a sua voz ou os sons dos seus próprios movimentos, o
seu espaço auditivo foi reduzido até o isolar totalmente do seu ambiente.
um papel activo que envolve diferentes níveis de atenção e que pode ser
conscientemente controlado.
tipo de escuta é aquele em que a mãe acorda a meio da noite com o choro
do seu filho, mas não é despertada por ruídos muito mais intensos, como o
Nos ambientes hi-fi, todos os sons são ouvidos claramente em todo o seu
59
Schafer, Murray, op. cit., pp. 43
60
Schafer, Murray, op. cit, pp. 71
50
indivíduo e ambiente. No entanto, para o citadino, estes ambientes podem
permitem um maior encontro com o Eu. Nos ambientes lo-fi, o indivíduo tem
Basta pensarmos naquilo que sentimos quando estamos envoltos por uma
51
um grau elevado de redundância e a troca de informação está limitada ao
existem poucas paisagens sonoras virgens nos dias de hoje e mesmo que
existam, a maior parte delas inclui artefactos humanos que podem não estar
principal inimigo.
61
Traux, Barry, Acoustic Communication, pp57
62
Truax, Barry, op. cit., pp 58
52
incluindo a lei do ruído portuguesa. Este critério depende da aceitação que
um ouvinte tem do ruído de fundo, o que por sua vez está condicionado pela
sociedade.
63
Schafer, Murray, op. cit, pp. 271
64
Schafer, Murray, The Music of the Environment, in Audio Culture: Readings in Modern Music,
pp. 36
53
história que aqui pretendemos introduzir, a Ecologia Acústica providenciou
a orquestração do mundo.”66
ideia que nos desperta a imaginação. Foi o que tentou fazer Bruce R. Smith
no seu ensaio Listening to the Wild Blue Yonder: the Challenges of Acoustic
Ecology:
que passaram por Inglaterra nessa altura, pois aos habitantes locais alguns
65
Schafer, Murray, op. cit., pp. 30
66
Schafer, Murray, op.cit., pp. 30
54
desconsiderando-os nas suas impressões. Smith encontrou na ficção da
qualidades sonoras dos locais onde iam ser apresentadas. Enquanto que as
jovens.
Tal como a notação musical é um signo gráfico cuja leitura produz sons,
67
Bruce R. Smith, Listening to the Wild Blue Yonder: the Challenges of Acoustic Ecology, pp. 24
68
Bruce R. Smith, op. cit., pp. 26
55
3. Encontrar uma sintaxe. (Como é que Shakespeare e os seus
Smith precisava de uma sintaxe que lhe permitisse tirar o sentido desses
logocêntrica, enquanto que a cidade, para além das palavras, continha ainda
os sons das diversas actividades que tinham lugar a cada momento. Aqui ele
refere não só os sons das tarefas em si, mas também os cantares que eram
actuais. Usamos o mesmo aparato fisiológico para ouvir e falar, mas temos
ideias diferentes sobre esses actos. Mas para Smith, pensar que o
56
fenomenologia histórica, uma metodologia que cumpra a premissa básica da
fenomenologia – que não se pode saber nada para além da forma como o
e investigador.
Um dado som é tratado por este modelo como um símbolo das relações
O universo sonoro existe a cada momento mas é tão subtil que nem sempre
damos pela sua presença. Despertar para esse universo implica, então,
Breton, mas é, também, uma faculdade que parece colidir com a própria
vida.
69
Paul Carter, Ambiguous Traces, Mishearing, and Auditory Space, pp. 61
70
Paul Carter, op. cit., pp. 61
71
Le Breton, Do Silêncio, pp. 11
57
página em branco, é o caminho que abre a experiência da escuta e da
criação.
de um projecto artístico.
58
CAPÍTULO 3
O S O M N A A R T E E N O S M E D I A
Friedrich Kittler
59
A música e o som têm vindo, nas últimas décadas, a misturar-se no que toca
limitações da harmonia tonal; no século XXI, tudo indica que o foco seja
deuses e sacerdotes.
Tal era a lógica sobre a qual tudo era fundado que, na Velha Europa, se deu o
60
transcrição de sons claros separados do ruído do mundo; e segundo, uma
planetárias (mais tarde almas humanas) era igual à que existia entre os sons72.
mesma forma que os ouvidos foram treinados para filtrar vozes, palavras,
72
Kittler, Friedrich A., Gramophone, Film, Typewriter, pp. 24.
73
Segundo Murray Schafer, um som seria perfeito se a sua duração compreendesse toda a nossa vida.
Mas um som iniciado antes do nosso nascimento e terminado depois da nossa morte seria sempre
ouvido como silêncio (porque os sons que têm longa duração desafiam a acústica de se tornarem
silenciosos); um silêncio que não significa vazio, mas perfeição, total preenchimento.
74
Kittler, Friedrich, op. cit. pp. 23
61
mudanças na percepção, particularmente no que se refere às noções de
espaço e tempo.
do som.
uma performance musical que ocorria num determinado lugar e a uma dada
75
Cage, John, Silence, pp. 4
62
A característica essencial da fonografia é replicar o mundo do som, uma
ser vista pela sua capacidade de produzir novos sons. Pensar no fonógrafo
acto criativo de selecção, um trabalho artístico que reside no facto dos sons
som gravado é uma forma de representação e seja qual for o método usado
originais. No seu ensaio Cut and Paste, Kevin Concannon afirma que “ambos
76
Concannon, Kevin, Cut and Paste: Collage and the Art of Sound
63
ilustração. E se a fotografia rapidamente se desenvolveu para além das suas
ideia de que o fonógrafo servia também para fazer música: num concerto
Dada em 1920, ele colocou 8 fonógrafos num palco e fê-los tocar partes da
Marinetti compôs cinco peças para performance de rádio nos anos 30 que
que é usado por Bill Fontana nas suas esculturas sonoras, onde ele
64
da sua fonte para um novo contexto mudaria rapidamente o seu efeito, “um
físico”77.
ouvindo numa das cidades os sons que foram registados na outra. Alguns
sampling, e o sampling tem sido apontado como a fonte de uma nova família
77
Drutt, Matthew, Bill Fontana: Acoustical Visions of Venice
78
Fontana, Bill, Ohrbrucke / Soundbridge Köln – San Francisco
79
Burroughs, William, A Revolução Electrónica
80
Oswald, John, Plunderphonics ou Audio Piracy as a Compositional Prerogative
65
sujeito a um significado, porque o fonógrafo ouve acusmaticamente81. Do
A partir do fonógrafo, não mais a música seria a mesma. Kittler afirma que o
tradicional e com o ideal de uma forma musical pura. Ele sublinha que o que
81
O termo acusmático relaciona-se com uma visão teórica e prática da composição, com condições
particulares de realização e escuta e com estratégias de projecção sonora. Referindo-se a um som cuja
fonte está escondida, a música acusmática apresenta o som em si mesmo, separado de identidade, e
dessa forma gera um fluxo de imagens na psique do ouvinte. Nos dias de hoje, o acto de escutar sem
visualizar o objecto que origina o som é uma ocorrência diária. Acontece quando ouvimos rádio ou
quando falamos ao telefone, embora nestes exemplos a mensagem não seja acusmática mas apenas as
condições de escuta. Para ser designada de acusmática, uma composição deve ser concebida para um
ambiente de escuta acusmática, que dê prioridade aos ouvidos.
82
Kittler, Friedrich, op. cit., pp. 32
83
Segundo Doughlas Kahn, as práticas de registo relacionam-se com os legados da escrita e da
linguagem e os atributos de transmissão seguem uma lógica orientada em termos mitológicos e
teológicos. (Khan, Douglas, Noise, Water, Meat, pp. 16).
84
Kittler, Friedrich A., Gramophone, Film, Typewriter, pp. 35
66
BREVE HISTÓRIA DA COMPOSIÇÃO COM RUÍDO
tempo e da frequência.
com a sua filosofia. Se para Stockhausen, o ruído é tido como qualquer tipo
Art.
A ARTE DO RUÍDO
começou a pensar no ruído como recurso musical. Estes ruídos não eram
sons novos, mas sons ouvidos na vida quotidiana. No entanto, era inovador
67
criou uma orquestra de ruído com vários instrumentos por ele construídos –
reais.
85
Russolo, Luigi, Art of Noises
68
separação da música com o mundo do som, uma separação que não era
Pacific 231, escrita em 1923 pelo compositor suíço Arthur Honegger, foi
inspirada numa locomotiva a vapor com o mesmo nome que bateu recordes
construção musical.
MÚSICA CONCRETA
69
frase musical e tocá-la repetidas vezes, criando aquilo a que deu o nome de
sillon fermé (risco fechado86). Notando que após inúmeras repetições a frase
Consegui isolar um ritmo e contrastá-lo com uma cor sonora diferente. (...)
Este ritmo pode continuar por muito tempo sem mudança. Isto cria uma
lidar com um comboio.(...) Qualquer fenómeno sonoro pode ser visto (como
Pierre Schaeffer87
86
tradução livre
87
citado em Iges, José, Soundscapes: A Historical Approach
70
escapam à definição elementar do do-re-mi”.88 Ao conceito de objecto
como “uma forma de escuta que consiste em ouvir um som por si mesmo,
fascinado com a ideia de “um fragmento de som que não tem princípio nem
desempenhar o papel de um
manipulação de parâmetros
88
Wire nº 258, Vejvoda, Goran & Young, Rob, My Concrete Life, pp. 42 – 49.
89
Wire nº 258, op. cit.
90
Wire nº 258, op. cit.
91
Varèse, Edgar, The Liberation of Sound
71
Pierre Schaeffer descobriu a variedade dos sons do quotidiano em termos
com o facto de ele considerar que cada ruído deve ser libertado do seu
significado concreto para poder ser usado para fins estritamente musicais.
seu ponto de partida foi um respeito absoluto por um mundo de sons livres,
JOHN CAGE
92
Cage, John, Silence, pp. 4
72
depois da morte, Cage percebeu que os métodos de escrita de música que
futuro da música passa, então, pela organização desses sons. E ele explica
musicais93.
dadas certas condições para a sua incorporação. Ele seguiu então uma
A sua influência passa não só pela música que criou mas também pela
controlar estes sons, usá-los não como efeitos sonoros mas como
instrumentos musicais.”94
93
Cage, John, op.cit., pp. 4
94
Cage, John, op. cit., pp. 3
73
A COMPOSIÇÃO DE PAISAGENS SONORAS
Uma das coisas que permitiu que esta área florescesse foi que muitos
95
Entrevista a Michelle Nagai, 6 Janeiro de 2006
96
Entrevista a Carlos Alberto Augusto, 9 de Fevereiro de 2006
74
reverberações e movimentos dos sons dentro desses lugares, de forma a
objecto sonoro, Murray Schafer atribui-lhe uma dimensão ética. A sua utopia
97
McCartney, Andra, Subversion of Electroacoustic Norms
98
citada por McCartney, Andra, op.cit.
75
era a de impor uma espécie de ordem no ambiente sonoro, com o objectivo
arte “que procura o seu lugar na vida humana: uma construção artística,
99
Nos anos 70, Joseph Beuys concebeu a arte como um processo interdisciplinar que que pensamento,
discurso e discussão são os materiais principais. Neste sentido, cada ser humano é um artista
responsável pela ordem social
100
Gerwin, Thomas, On acoustic ecology and integral art: Outlining a concept of today's music
76
Assim, a exploração progressiva do som faz parte da história da música,
linguagem contemporânea.
seu livro Noise: the Political Economy of Music (1977) oferece uma
estádios:
2. música de partitura
3. música gravada
77
os ruídos, percebendo que a sua apropriação e controlo é um reflexo de
muito utilizadas pelos músicos. Mas a experimentação não se fica por aqui.
101
Attali, op.cit., pp6
102
friccionar com os dedos os instrumentos de corda que normalmente são tocados com um arco
78
instrumento de canto e elementos como o riso, o diálogo e o sussurro
A música punk ou new wave foi talvez um dos maiores sinais da mudança de
paradigma, mas uma das correntes que nasceu nos anos 70 em Inglaterra,
103
citado em Jutte, Robert, A History of the Senses: from Antiquity to Cyberspace, pp. 291
79
hip-hop: eles tocavam apenas a percussão rítmica dos discos de funk,
fonte de som mas quase tudo podia entrar na mistura, todos os tipos de
A voz não está ligada a um corpo e portanto as peças de rádio devem falar
80
por si próprias e criar o seu próprio espaço sonoro. Desta forma, a rádio
sentido eles têm um papel activo e não se colocam num estado passivo de
regressão.
Em 1938, Orson Welles produziu War of the Worlds para o Mercury Theatre
of the Air. O retrato de uma invasão de Marte foi tão convincente que
Para Pierre Schaeffer, a rádio tem um poder criativo que vai muito além das
104
Wilson, Stephen, Information Arts: intersections of art, science and technology. pp. 499
81
Na nossa civilização, a ideia de conhecimento está modelada pelo olho. A
da tradição”105.
No cinema, por sua vez, o som sofreu uma submissão pelo visual: a
campo, foco, plano, conceitos que se referem à imagem ou, no caso da voz
Mas, apesar de ser comum pensar que o cinema nasceu no filme mudo, a
105
Spinelli, Martin, Radio and the Hegemony of Time. Talvez por isso a rádio se tenha tornado
claramente dominada pelos seus contextos oficiais e comerciais. É um media controlado pelo Estado,
tendo sido usado como ferramenta para a disseminação da ideologia do corporativismo. Numa
sociedade tendencialmente visual, a rádio foi assistindo a um decréscimo de apoios e um aumento de
oportunidades no ciberespaço que a tornaram uma tecnologia pouco apetecida pelos artistas.
82
No início, o som era produzido ao vivo por orquestras e alguns auditórios
sons”. Wochenende era um filme constituído por uma banda sonora aplicada
a uma película virgem revelada sem exposição. Apesar de ter sido colocado
no ar na rádio, Wochenende foi uma obra pensada para cinema, feita com
filme, para ser considerado como tal, deve referir-se “a um quadro, mesmo
que vazio, de projecção”.106 Para Douglas Kahn, esta foi uma das mais
106
Michel Chion citado por Machado, Arlindo, O Fonógrafo Visual, in Revista de Comunicação e
Linguagens nº 23 pp. 39 - 60
107
Kahn, Douglas, Noise Water Meat: a history of sound in the arts, pp.132
83
Dziga Vertov tentou criar uma audio-art da montagem, mas as
a edição, fizeram com que ele se voltasse para o cinema. Vertov tinha um
incluía o mundo audível. Como parte da minha experiência, fui gravar uma
serralharia”.108
moderna da cidade.
explica que “em qualquer magma sonoro, a presença de uma voz humana
108
Kahn, Douglas, Audio Art in the Deaf Century
109
Chion, Michel, La Voz en el Cine, 2004, pp. 17
110
manifesto assinado por S.M. Eisenstein, V.I. Pudovkin, G.V. Alexandrov, in Eisenstein, Sergei, Da
Revolução à Arte da Arte à Revolução, pp. 43
84
divorciado da imagem visual. Outra das ameaças previstas eram as
assíncronas de conflito.
filme sonoro “é uma arma de dois gumes e o mais provável é que seja usada
estava “tanto mais rico (em potencial) e mais pobre (na sua prática
prevalecente).”112
cinema.
111
Eisenstein, Sergei, op. cit., pp. 43
112
Nichols, Bill, Documentary and the Coming of Sound
85
expressividade do conteúdo do filme”113. Para Pudovkin, o filme sonoro
deve ser alcançado apenas pelo som natural. Para ele a faixa da imagem e a
percepções do homem”.
Siegfried Kracauer afirma que tudo depende de onde nasce a narrativa. Ele
dita uma nova proposição que apenas corrobora estas teorias até um certo
A faixa sonora está lá para sugerir sensações, ideias e outras pistas que a
como o som ou o toque, para tornar os ambientes mais realistas. Para além
progressão.
113
Pudovkin, V.I. Asynchronism as a Principle of Sound Film
114
Kracauer, Siegfried, Dialogue and Sound
86
purificação, renovação. Enquanto o mar simboliza a mudança (“nunca nos
cinema podem criar uma banda sonora com a duração que corresponde à
ambiente. Assim, uma paisagem sonora dinâmica deve ser criada para
importante é criar um tapete sonoro que se adapte aos pontos altos de cada
etapa para fazer com que o jogador sinta que a sua performance está a ser
pontuada. Isto significa criar uma dinâmica sonora que siga as opções do
87
que o som de objectos que não são vistos podem distrair o utilizador e
de input”.115
background que são usados para criar a sensação de atmosfera: vento, rua,
etc. Nos filmes, os efeitos sonoros exageram a realidade para criar uma
experiência imersiva.
nos últimos anos tem sido dado uma maior atenção ao conteúdo do som,
115
Battino, David & Richards, Kelli (org.), The Art of Digital Music, pp 198
116
Battino, David & Richards, Kelli (org.), op. cit pp. 197
88
CONCLUSÃO
Wittgenstein
89
A maior parte das pessoas encontra algum significado na sua experiência da
que vista.
90
lembra que nenhum historiador ouviu a história numa tentativa de perceber o
para o poder por multidões aos gritos que não podiam sequer ouvir as suas
próprias vozes”.117
Por último, porque existe uma relação directa entre o ambiente acústico e o
ecológica.
Por outro lado, no campo das artes sonoras, ainda que as raízes estejam
É certo que pensar a música como a totalidade dos sons é uma ideia que se
117
Schafer, Murray, Open Ears, pp. 25
91
muito tempo, a arte do som esteve apenas associada à música, negando
abertura para os sons que nascem com cada novo passo tecnológico.
92
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