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A guerra no Pacífico inverteu-se para o lado dos Aliados, em junho de 1942.

A partir de 1943,
os americanos recuperam o controlo do Pacífico e só uma resistência suicida dos japoneses ia
conseguindo suster um avanço mais rápido das tropas americanas e australianas. Era o tempo
dos kamikazes, pilotos japoneses que lançavam os seus aviões contra os alvos inimigos.

6.4- Passagem para a Guerra Nuclear


Entretanto, alemães e americanos desenvolveram muitos projetos ao longo da IIGM.
Separadamente, desenvolveram armas estratégicas novas, como o míssil e a arma nuclear
(bomba atómica). Em fevereiro de 1945, os aliados desembarcavam no arquipélago japonês.

A Conferência de Potsdam ocorreu na Alemanha em julho de 1945, entre o presidente Harry


Truman dos EUA, o primeiro-ministro Clement Attlee da Grã-Bretanha e o marechal Stalin,
presidente da URSS. Destinou-se a fixar a política a seguir para com a Alemanha (vencida na II
Guerra Mundial), a lançar os fundamentos da paz futura na Europa e no mundo, e a resolver
todas as dificuldades provocadas pela guerra, terminada apenas a 7 de maio desse mesmo
ano.

Numa fase inicial, os americanos queriam que os soviéticos declarassem guerra ao Japão. Para
facilitar a ocupação do terreno nipónico, pretendiam esta intervenção já em 1945., e apesar do
tratado de não agressão que a URSS tinha com o Japão, iniciaram a conquista da Coreia, mas
os EUA não queriam que fosse a URSS a chegar ao Japão e conquistá-lo, No final da
conferência, os americanos tinham completamente preparada a bomba atómica. Por esta
razão recuaram nas suas pretensões para com os soviéticos. Perante a resistência já irracional
dos japoneses, os americanos, numa demonstração da sua força como superpotência, lançam
em agosto de 1945 bombas atómicas em Hiroshima e Nagasaki. Ao Japão nada mais lhe
restava senão render-se. A 17 de agosto de 1945, o Japão (última nação da aliança do Eixo a
render-se) assinou a sua rendição incondicional. As armas nucleares eram usadas na guerra.
Terminava, portanto, a Segunda Guerra Mundial. Os EUA ocuparam o Japão e metade da
Coreia, ficando com o Sul, e a URSS ficou com o Norte da Coreia.

7. A ordem internacional após a II Guerra


Calcula-se que morreram entre 40 a 52 milhões de pessoas. A IIGM causou graves
consequências a todos os níveis. Verificou-se um grande grau de destruição, milhões de baixas
e falta de liquidez para pagar as importações. As cidades estavam destruídas, os campos
arrasados e as vias de transporte e comunicações intransitáveis. Aliás, a evolução científica e
técnica proporcionou aos beligerantes armas muito mais mortíferas do que as existentes
durante a Primeira Guerra Mundial. Pela sua capacidade de destruição destacou-se uma nova
arma: a bomba atómica. Como a força de guerra dependia muito da capacidade económica,
nomeadamente da produção de armas e de comida, as fábricas tornaram-se alvos legítimos
dos bombardeiros. Depois, outros alvos civis foram proclamados legítimos ao considerar-se
que os trabalhadores nas outras fábricas apoiavam também as máquinas de guerra.

O acordo de Ialta pretendia dar ao povo germânico a oportunidade de retomar a sua


vida em bases democráticas e pacíficas, e banir toda a legislação nazi discriminatória quanto a
raça, crença religiosa e opinião política. A nível político foram feitas alterações no mapa
político mundial: o território alemão foi dividido em quatro zonas ocupadas e administradas
pela URSS, Inglaterra, EUA e França (o mesmo aconteceu com a cidade de Berlim). Os
comandantes-chefes das quatro principais nações aliadas passariam a controlar, cada um, uma
zona definida da Alemanha, cabendo à URSS a parte oriental e aos EUA, França e Inglaterra a
parte ocidental. Esta divisão daria origem à formação de dois blocos que disputarão a
hegemonia mundial: Bloco Leste (liderado pela URSS) e Bloco Ocidental (liderado pelos EUA).

7.1. O fim dos impérios coloniais


Uma importante consequência do fim da II Guerra Mundial foi o fim dos impérios coloniais e,
consequente, arranque irreversível dos processos de descolonização. Os dois acontecimentos
que vieram debilitar as relações dos europeus com as suas colónias correspondem às duas
guerras mundiais.

Com o fim da I GM, as potências mundiais aproveitaram para consolidar as suas ocupações e
previa-se que este período de entendimento e Paz estava para durar. O período entre guerras
foi, aliás, uma época de apogeu para as potências coloniais (representavam cerca de 42% do
planeta). Foi nesta altura que a SDN fez mais considerações relativas às colónias: havia
impérios que iam ser dissolvidos e havia que integrar as suas colónias como mandatos noutros
impérios, nos vencedores. Portanto, para as potências com territórios coloniais, a crise colonial
havia terminado.

No final da IGM, a Europa perdeu o estatuto de centro do poder mundial. Portanto, era de
prever que tivessem existido perturbações nos impérios coloniais. As colónias começaram a
obter um maior poder reivindicativo. As colónias foram, de uma certa forma, industrializadas e
começaram a produzir. As potências europeias travaram guerras nas colónias, usando grandes
quantidades de recursos materiais. De resto, as metrópoles fizeram grandes requisições de
tropas coloniais. Estando as condições políticas das colónias mudadas, o carácter nacionalista
das mesmas foi desenvolvido, o que fez com que estas se opusessem ao retorno ao status quo
existente antes da guerra.

Mas a II Guerra Mundial foi muito mais séria - a crise foi definitiva. A correlação de forças
entre a metrópole e as colónias alterou-se profundamente, pois algumas metrópoles e
colónias foram ocupadas pelo inimigo. Com o final da IIGM, origina-se o colapso material dos
países europeus. Como não tinha liquidez para a manutenção dos impérios coloniais,
dependiam das exportações americanas. A perda de importância das outrora potências
mundiais, que agora estavam arruinadas, causou o fim desses impérios coloniais. Isto levou à
reconfiguração dos territórios a nível geográfico. Neste processo decorre o surgimento de
novos países.

7.2. Fatores para as politicas "anticoloniais”. A hegemonia EUA/URSS; a ONU; os


novos organismos multilaterais (Liga Árabe, O.U.A., o movimento dos "Não
alinhados")
A ordem política modificou-se mais na IIGM do que na IGM, significando perda total da
hegemonia europeia para os EUA. Acentuou-se muito mais o panorama do Dollar Gap (falta de
liquidez dos países europeus para pagar as dívidas). Isto levou os países a negociarem com os
EUA, elevando as exportações de capitais para a Europa.

As duas guerras proporcionaram uma recombinação de poderes e a queda das potências


imperialistas, tendo apenas restado os EUA e a URSS. A IIGM funcionou como um acelerador
de crescimento económico e desenvolvimento técnico (sobretudo armamento) para as duas
potências que daí advieram. Os EUA queriam fazer exportações para solo alemão, com o
objetivo de que esta crescesse. Tinham muito dinheiro investido nos mais diversos países
europeus e esses países não tinham como pagar esses empréstimos.

As potências europeias que outrora tinham muito poder no panorama internacional, estavam
agora completamente falidas e decadentes. Por isso, tornou-se difícil manter as áreas de
influência que estes detinham antes da guerra. Todos os países beligerantes acabaram a
guerra destruídos e arruinados, numa escala muito maior que a IGM. O grande problema era
descobrir como é que a recessão do pós-guerra podia ser evitada.

Inglaterra e URSS tentaram negociar o crédito. Nas suas cimeiras com os EUA, discutiram-se a
recuperação europeia e o pós-guerra. Entre 1945 e 1947 verificou-se que a Europa necessitaria
muito mais de créditos a curto prazo e que os americanos não se interessavam com muitos
acordos bilaterais. Recorde-se que os EUA tentavam evitar uma recessão, pois isso teria um
forte impacto sobre a sua economia. Os EUA necessitavam cada vez mais da Europa como
mercado. Mas, com a IGM, aprenderam que uma potência colonial não poderia sobreviver
num espaço económico fechado.

Os EUA verificaram que já não lhes interessavam acordos bilaterais devido ao que aconteceu
depois da I GM. Preocupados com a recessão e com as necessidades de reconstrução da
Europa, os EUA fizeram uma grande pressão para que os acordos fossem feitos multinacional e
não bilateralmente, Isso implicaria naturalmente uma abertura da Europa e dos mercados
coloniais (um prolongamento dos espaços económicos nacionais). Portanto, era necessário
levar os países europeus a encontrarem empresas para gerir estes fluxos de capitais
americanos.

Com a derrota do Eixo, vieram ao de cima os antagonismos ideológicos que tinham sido
esquecidos durante a IIGM. Designou-se por Guerra Fria o ambiente de tensão que
caracterizou as relações entre os governos americanos e soviéticos, desde o final da IIGM em
1945 até à dissolução da URSS em 1991. Diz-se guerra fria porque os países se abstiveram de
recorrer diretamente às armas. Utilizavam formas de propaganda ideológica, faziam corridas
ao armamento, organizavam ações de espionagem, etc…

Os EUA, fazendo uso da sua posição de força, obrigaram os estados europeus a organizarem-se
de uma forma multinacional (ou multilateral). Defendiam um regime político democrático-
liberal e uma economia inspirada no modelo capitalista. Por seu turno, a URSS estava numa
posição de força político-militar. Defendia um regime socialista do centralismo democrático e
uma economia coletivizada e planificada. Além disso, tinha uma força político-militar muito
forte. Devido ao facto de os Estados Unidos não quererem acordos bilaterais e como sabia que
lhe iriam pedir contrapartidas político-militares enormes e que se fosse originado um grande
investimento nos países ocupados por eles, isso iria acarretar problemas, a URSS não estava
disposta a negociar com os EUA e criou uma enorme barreira entre os estados soviético e
americano.

É importante referir que ainda o fim da guerra estava longe de todas as previsões, já as forças
democráticas ocidentais representadas pela Inglaterra e EUA revelavam as suas preocupações
relativamente à definição do novo quadro geopolítico do mundo pós-guerra, perante os sinais
expansionistas evidenciados por Estaline.
As sucessivas conferências realizadas à medida que a derrota do Eixo se ia confirmando como
uma questão de tempo, apesar dos acordos conseguidos, não conseguiam esconder a divisão
do mundo em áreas de influência antagónicas, tanto quanto o eram os interesses
geoestratégicos e políticos das novas potências aliadas.

Em 1947 entram em vigor os Tratados de Paz elaborados ainda durante a IIGM. O novo
traçado da Europa não conseguiu esconder a divisão do velho continente em duas áreas
perfeitamente delimitadas, dois blocos (ideológicos, políticos e económicos) antagónicos: a
ocidente, uma Europa atlântica destruída, incapaz de rivalizar com as duas novas
superpotências, e reconstruída graças às ajudas económicas dos EUA (que abandonam a sua
política isolacionista e reforçam o seu papel no cenário político mundial) em cuja esfera de
influência acabará por cair; a leste uma Europa também destruída, liberta da ocupação nazi
graças à ação do Exército Vermelho e onde governos comunistas ascendem ao poder.

Em relação aos EUA e à URSS, o confronto ideológico entre as duas superpotências


materializou-se na organização de alianças entre os países de cada um dos blocos. A ruína
económica da Europa ocidental e o perigo de os países resvalarem para o campo comunista,
levou o presidente Truman a conceber um plano de recuperação económica europeia. O Plano
Marshall. anunciado em junho de 1947, foi proposto no sentido relançar imediatamente a
economia europeia, para permitir a posterior autonomia nacional de cada país. Mas era
necessário decidir quais os países que deveriam receber os empréstimos. Era preciso criar
mecanismos que permitissem o pagamento posterior desses capitais emprestados.

Para coordenar os fundos do Plano Marshall, organizou-se uma conferência em Paris, tentando
organizar os fundos americanos para a reconstrução europeia. O Plano Marshall não só
contribuiu para a recuperação dos países da Europa ocidental, como também reforçou os laços
entre os mesmos. Os EUA também beneficiaram da sua implementação: contiveram o avanço
comunista e conseguiram incluir na sua área de influência uma Europa dependente e em
recuperação, consumidora dos excedentes da sua próspera indústria.

Estaline enviou uma grande delegação a Paris para discutir a participação soviética. Depois
retirou-a e proibiu os países sob sua alçada de aceitar a ajuda, que era oferecida a qualquer
país que a solicitasse, Estaline reagiu ao Plano Marshall reforçando o seu domínio onde quer
que fosse possível. Criou o Kominform (Secretariado de Informação Comunista, 1947: tinha
como objetivos promover a troca de informações e dirigir a ação dos partidos comunistas sob
orientação soviética, assim como exercer um maior controlo sobre os países de Leste,
reforçando a hegemonia soviética nessa parte da Europa), bloqueou a zona ocidental da
cidade de Berlim e formou o COMECON (Conselho para Assistência Económica Mútua, 1949.
Decorrente do Plano Molotov, procurava constituir uma resposta direta ao Plano Marshall:
procurava promover a cooperação económica do Leste europeu e exercer um controlo
económico mais apertado sobre os países satélites).

Entre 1945 e 1949, os EUA apareceram como uma potência “super imperialista” numa época
de necessidade e de carência económica e produtiva. Por outro lado, viam agora nascer um
novo rival económico e ideológico, capaz de contaminar a Europa que se encontrava em
ruínas, e, por isso, havia uma grande preocupação em conter o avanço da esfera soviética.

Com o Plano Marshall, os EUA conseguiriam ver quais os países que poderiam servir de aliados
e também encontrar destinos de exportação de capital. Os americanos não podiam abdicar da
economia japonesa e foi, então, criado o Plano Dodge, com as mesmas características do
Marshall, para desenvolver o Japão e para exportar o capital americano.
Entretanto, a Conferência de Ialta permitiu decidir o que iria acontecer aos impérios coloniais.
É aqui que vemos a hegemonia dos Estados Unidos e da URSS. As directrizes afirmadas nesta
reunião determinaram boa parte da ordem durante a Guerra Fria, precisando as zonas de
influência e ação dos blocos antagónicos, capitalista e socialista. O anticolonialismo foi a
política adotada pelas potências após a IIGM, em 1945, porque era inadmissível que países
como França e Inglaterra, oprimissem colónias africanas e asiáticas, quando juntas lutaram
contra o nazi-fascismo. Essa prática foi amplamente apoiada pelos EUA e pela URSS
(interessados em áreas de influência), movidos pela Guerra Fria.

Os Estados Unidos eram a potência mais anticolonial, pois desejavam abrir os mercados
coloniais e conquistar novos mercados, quebrando a barreira protecionista imposta pelas
metrópoles. Eram contra a colonização, favoreciam a autodeterminação dos povos.
Concederam a independência às Filipinas, Porto Rico e Cuba, fruto da sua política anticolonial.
Os Governos de Nixon e Roosevelt praticaram e fizeram cumprir medidas descolonizadoras. No
entanto, na prática também esta posição não foi permanente, havendo mesmo situações em
que punham o anticolonialismo de lado. Em situações de países que eram seus aliados e não
tinha problemas com a abertura do seu mercado colonial (Inglaterra, França e Portugal), foi
permitida a manutenção dos seus impérios coloniais, pois estes não estavam fechados aos
capitais americanos e alinhavam-se com a política americana. Tornavam-se, portanto,
favoráveis à existência de impérios coloniais. Mas esta posição americana não foi permanente
nem intransigente.

A URSS ocupava também uma política anticolonial, mas ao mesmo tempo não queria estragar
as relações que tinha com os outros países. Nos anos 20 tinha discutido a questão colonial, e
uma maneira de dar resposta às guerras civis dentro do seu território era levar a corrente
comunista a esses governos, pelo que a URSS apoiou também partidos comunistas aquando
das eleições em países asiáticos. No entanto, caso houvesse outros movimentos com maior
hipótese de sucesso, era esses que a URSS apoiava. Os soviéticos tinham o facto de outros
países não terem a situação política definida para não fazerem muita pressão anticolonial.
Eram países com colónias, mas que hesitavam sobre o que fazer em termos de blocos. Um dos
exemplos é a Itália. Neste contexto, os soviéticos não queriam tomar uma postura anticolonial,
para não empurrar os países para fora da sua área de influência.

Em suma, as potências (EUA e URSS) não eram sistematicamente nem simultaneamente


colonialistas ou anticolonialistas. É neste sentido que a ONU, formada em 1945, apoiou a
autodeterminação dos povos. Nos termos da sua carta, mantinha a ideia de que certos
territórios poderiam ser anexados. A França e a Inglaterra tinham acesso direto ao Conselho de
Segurança. Era uma organização anticolonialista e esta orientação levou-a a defender a
descolonização de todos os territórios. No entanto, como não pode intervir nos Estados e
nunca poderia impor políticas em territórios no poder de metrópoles, teve um papel muito
limitado no processo de descolonização, isto é, uma intervenção praticamente nula, pois
quando foi criada, a ONU tinha 45 membros, quase todos defensores do status quo existente.
Só depois, com a entrada de novos membros e o alcance de algumas independências, isto
mudou, passando a tomar posições anti coloniais.

Tanto os americanos como os soviéticos não atuaram constantemente para forçar as


descolonizações. Mas não era por causa destas pressões que os impérios iriam deixar de ter
colónias. Existiram três fases de descolonizações: na Ásia, no Médio Oriente e, por fim, em
África. Só na fase final do processo de descolonização africano é que a ONU teve alguma
influência, estando por detrás do caso da Rodésia.

Outras organizações anticolonialistas passam pela Liga Árabe. Alguns territórios árabes que
estavam entregues a potências europeias sob forma de mandatos, passaram a ter
independências fictícias – a maioria sob o poder de Inglaterra. A Inglaterra teve a ideia de
formar uma organização para integrar esses estados “livres”

Em terceiro lugar, há o caso da OUA (Organização da Unidade Africana) criada em 1963, mas
não foi um acelerador da descolonização. Os novos estados africanos, quando foram
declarados independentes, decidiram manter as fronteiras que haviam sido definidas pelas
potências que as exploraram até aí. Isto aconteceu, porque caso mudassem as fronteiras, iriam
desencadear um conjunto de conflitos entre os países africanos. Alguns deles acederam à
independência com maiores territórios, mas, para evitar esses conflitos, a OUA declarou que
as fronteiras coloniais seriam respeitadas e mantidas.

Por fim, o Movimento dos Não Alinhados. Foi um fenómeno acentuado nos anos 50 e
desenvolveu encontros regulares para servir de contrapesa às mais poderosas metrópoles. A
sua criação remonta à Revolução Russa: muitas das populações asiáticas que tinham sido
conquistadas pelos bolcheviques decidiram organizar uma assembleia – Congresso do Médio
Oriente – em 1920. Isto deu origem a outras reuniões e congressos que viriam a motivar o
MNA. Este era formado por estados asiáticos e africanos, por países recém-emancipados da
dominação colonial e que tinham em vista a denúncia e condenação do colonialismo. Mas
muitos dos Estados ainda não eram independentes. Quando se deu a independência de muitos
desses, criou-se um esboço para a primeira conferência: Asian Relations Conference, na Nova
Deli, mesmo antes da independência da Índia. Importa ressalvar que aquele dito Movimento
dos Não Alinhados surgiu em 1955, na Conferência de Bandung, com estados, como já referi,
independentes.

Em suma, no pós-guerra, as potências europeias tinham imensas dificuldades materiais.


Muitas delas seriam obrigadas a desfazer-se dos seus impérios coloniais. Mas os EUA, a URSS e
as próprias organizações internacionais não faziam muita pressão sobre as metrópoles nem
foram determinantes para este processo de descolonização. Contava mais a correlação de
forças entre as colónias e a metrópole, bem como as dificuldades sentidas por estas.

Como uma das consequências da II Guerra Mundial foram o fim dos Impérios

Coloniais, iniciou-se assim a época das descolonizações. Estas descolonizações formais foram
constituídas por 3 vagas:

1ª vaga: 1947-53 (descolonizações asiáticas) + fim do Império Otomano

2ª vaga: 1957-64 (descolonizações africanas)

3ª vaga: 1975-80/94 (descolonizações africanas [portuguesas])

7.2.1.. As descolonizações asiáticas - 1947-1953


a) A descolonização da Índia Britânica e o conflito Índia-Paquistão (1947-48)

A Índia era um território complexo, com muita diversidade cultural, política e económica.
Em meados do século XIX, praticamente todo o território indiano estava sob administração
inglesa, uns sob administração direta e outros através do Rajput (os Rajás governavam mas
atendiam à Inglaterra). Era uma manta de retalhos fiscalizada pelos ingleses, pois estes
controlavam a política externa e o essencial da política interna. Quase metade do rendimento
líquido indiano era canalizado para a Inglaterra. O mercado estava protegido por ela.

Mas nada impediu que os Rajputs se começassem a agrupar e formassem um Partido do


Congresso, que se considerava com um dos grandes partidos das elites indianos, e em que
faziam reivindicações comerciais, principalmente. Nesse congresso, formaram-se duas
correntes principais, uma de defendia a tradição indiana, e outra a evolução.

Antes da I Guerra Mundial, o governo Inglês até chegou a fazer algumas concessões às regiões
indianas, como a participação de conselheiros locais nos conselhos governativos. Mas isto era
compensado com o aumento de impostos sobre a população. Como não houve uma grande
abertura política, o partido reorganizou-se e passou a ter uma implantação popular enorme.

Depois da Guerra, apareceu uma terceira corrente, a de Ghandi, que consistia em usar a
tradição indiana para se conseguir alcançar a modernidade. Ghandi começou a lançou famosas
campanhas de dinamização popular que eram uma tentativa do partido ganhar apoio popular
e pressionar os ingleses para obter concessões políticas. O seu objetivo era tornar a Índia
numa nação independente. Para tal, efectuou campanhas de rebeldia, em que deixaria de
pagar impostos, sendo esta a principal fonte de rendimento dos ingleses. As elites locais iam
criando uma burguesia nacional. Mas isto era insuficiente para que as metrópoles fizessem
concessões políticas.

No decurso da IIGM, os ingleses foram acumulando dívidas em relação à Índia. No final da


mesma, os créditos obrigavam os ingleses a negociarem com os indianos. Estavam, portanto,
numa posição de força perante a Inglaterra. Os ingleses estavam completamente impotentes
face a estes confrontos e não tinham capacidade militar para intervir. Acabaram a guerra
totalmente destroçados e nem apresentavam capacidade para responder à pressão política na
Índia. Começava então a ponderar-se a hipótese da retirada total da Índia e, consequente,
atribuição da independência a este país.

O Partido do Congresso reorganizou-se e passou a ter uma orientação popular muito maior,
começando a fazer pressão sob a administração inglesa para lhes concederem poderes
políticos.

Com a invasão do Japão às colónias europeias no Pacífico, verificou-se uma alteração no


regime de muitas colónias, bem como o caráter nacionalista, influenciando as populações
locais a lutar pela independência. O Japão não conseguiu chegar à India, mas ainda assim
conseguiu influenciá-los. O Reino unido tentou acalmar a tensão propondo um governo
autónomo ou a divisão do partido, estimulando as divisões religiosas, línguas e etnias, uma vez
que as elites que o compunham pertenciam a 2 grandes comunidades distintas, os hindus e os
muçulmanos.

O Partido do Congresso, após a promessa inglesa de conceder um autogoverno aos indianos,


recusou e indicou que queria a independência total, e os elementos do partido organizaram
um pequeno exército e pediram ajuda ao Japão. Os ingleses começaram as negociações para a
independência em 1945 com o governo trabalhista britânico, mas o processo foi atrasado
devido aos antagonismos religiosos e políticos que separavam as duas principais comunidades
indianas: a hindu e a muçulmana, tal como foi referido antigamente, criada artificialmente
pelos ingleses no Partido do Congresso. Para alimentar a revolta, os ingleses criaram um
partido muçulmano: a Liga Muçulmana: Território dos Puros (Pakistan). Mais tarde, a
Inglaterra resolveu realizar a Conferencia dos Himalaias com o Congresso Indiano e a Liga
Muçulmana, para reforçar as tensões entre as duas organizações. Enquanto que o Partido do
Congresso, liderado por Gandhi, mostrava-se favorável à manutenção da União Indiana, com
as 2 culturas distintas, a Liga Muçulmana opôs-se, propondo a divisão do território em duas
partes, que foi a proposta escolhida. No entanto, não foi uma divisão literal do território, mas
pelo contrário, derivou da escolha dos Rajás relativamente ao território a que estes queriam
pertencer. Em 1947 foram criados os dois Estados Independentes: a Índia, de maioria hindu, e
o Paquistão, de maioria muçulmana. Esta opção de divisão do território resultou em fronteiras
pouco convencionais, uma vez que o Paquistão estava dividido pela India, que o atravessava,
existindo assim um Paquistão Ocidental e outro Oriental que não comunicavam entre si, e
mais tarde, este último deu origem ao Blangladesh. No entanto, como continuavam a existir
rivalidades entre as duas culturas que em alguns casos continuavam a partilhar o mesmo
território, houve a transferência de populações entre eles, num clima de violência que originou
uma Guerra Civil.

O conflito entre estes dois Estados persiste na atualidade, sobretudo, motivado pela disputa
do território de Caxemira, pois a Índia queria anexar esta região, mas o Paquistão não
concordava (o Rajá escolheu a Índia, mas 75% da população do Estado era muçulmana,
querendo, portanto, integrar o Paquistão). Este conflito vai estar na origem de 4 Guerras Indo
Paquistanesas entre a Índia e o Paquistão, que só foram apaziguados pela ONU. Uma das
razões que levaram a estas guerras foi o facto de se encontrarem em jogo potências nucleares,
que criaram conflitos que se estendem até ao século XXI.

Graças ao fenómeno de arrastamento, em que os territórios circundantes, influenciados pelo


movimento independentista, Inglaterra concedeu a independencia a outros territórios, como o
Ceilão e a Birmânia.

b) A descolonização das Índias Holandesas e a República da Indonésia (1945-1950)

Ao lado da Índia, desenvolveu-se uma descolonização com algumas características


semelhantes. A evolução desta descolonização foi semelhante às colónias francesas – que
também haviam sido ocupadas pelo Japão. Eram ricas em especiarias, borracha, petróleo e em
plantação.

Colónia holandesa desde o século XVII, o vasto arquipélago indonésio foi ocupado pelos
japoneses durante a II GM, dada a sua riqueza em matérias-primas. O Japão teve um grande
efeito dissolvente na Ásia colonial e queria estimular o nacionalismo local, de modo a que a
região indiana se pudesse desligar das antigas metrópoles. Para tal, conseguiu o apoio de
homens importantes (pertencentes a algumas elites) com a promessa de independência –
1945. Aparecia como libertador do colonialismo ocidental, embora tenha feito recrutamento
de capital humano para força de trabalho e de guerra.

Os holandeses haviam criado uma burguesia nas ilhas, composta maioritariamente por
muçulmanos. Também formou um movimento – Sarekat Islam; o nacionalismo foi influenciado
pela URSS – Partido Comunista Indonésio, que evoluiu para o Partido Nacional, fundado por
homens influentes: Hattar e Sukarno.
Os laços de união entre a Holanda e a Insulíndia encontravam-se num ponto tal por esta altura
que, dois dias depois da capitulação do Japão, os nipónicos não cumpriram a promessa, pelo
que a Indonésia alcançou a independência sozinha e instaurou a república em agosto de 1945.
Depois, os japoneses tentaram recuperar algumas ilhas, mas já que eram independentes, os
indonésios não o permitiram. No entanto, acabaram por ceder-lhe algumas ilhas para que
tivessem acesso a matérias-primas.

Claro que a potência colonial não aceitava de bom grado esta situação. Argumentando que a
ocupação japonesa não lhe fizera perder os direitos na região, a Holanda protestou e
empreendeu uma série de negociações que conduziram, em julho de 1946, à conferência de
Malino, onde foram lançadas as bases de uma Indonésia federal e aliada da Holanda. Mais
tarde, a Holanda reconheceu a independência dos povos indonésios, aceitou a criação de um
Estado federal soberano, sob a direção de um soberano holandês. Em 1947 a Holanda realiza o
policiamento do território e o objetivo dos ataques holandeses, que resultam no controlo de
dois terços de Java, era o controlo das zonas petrolíferas de Sumatra, reocupando o território,
em 1950.

O governo americano apoiava a independência da Indonésia, tomando uma posição


anticolonial para favorecer um processo que não colidia com os seus interesses. Em 1948, deu-
se a segunda insurreição do Partido Comunista Indonésio, que conquistou a simpatia dos EUA
(contra a República da Indonésia). Viram aí que a luta da Indonésia era credível e convenceram
a Holanda a estabelecer uma data definitiva para a independência.

c) A descolonização da Indochina francesa e a intervenção dos EUA

A descolonização da Indochina foi um processo parecido com o da Indonésia. A França,


tal como a Holanda, foi afastada da sua colónia asiática pelos japoneses, que ocuparam a
Indochina durante a II Guerra (1942), quando houve o processo de grande expansão japonesa
no Pacífico.

A Indochina já tinha, antes da guerra, um movimento nacionalista, como na Índia. Era


uma zona onde se podia desenvolver uma burguesia comercial, e formou-se o Movimento
Nacionalista VNKD, que se inspirava no partido político chinês de Kuo-Min-Tang – depois de
não conseguir nada do que reivindicava, organizou-se militarmente.

A Indochina tinha um conjunto de territórios – a Cochinchina, Tankin, Annan (estes


três formam o Vietname), Laos e Cambodja.

Entre estes territórios e a Birmânia, estava um outro que nenhuma das potências havia
ocupado: o Sião (actual Tailândia), que serviu de “tampão” entre uma zona e outra.

A ocupação japonesa podia também ter impedido o Movimento Nacional VNKD que,
como não conseguiu o apoio do Japão para alcançar as suas reivindicações, juntou-se à URSS
que apoiou os “rebeldes”. A URSS, que já tinha expandido a sua política soviética por parte da
Ásia na Mongólia (1924), na Coreia do Norte (1948) e na China (1949, onde arranjou um
agradável parceria com Mao Tsé-Tung), vê agora a possibilidade de estender o comunismo
aliando-se a Ho Chi Minh na conquista da independência neste território do Sudeste Asiático.

Após o Japão ter reconhecido a derrota na guerra em 1945, a França retoma a soberania do
território, mas defronta-se com uma forte oposição liderada pelo comunista Ho Chi Minh, que
declara o território vietnamita independente no mesmo ano. De resto, os EUA, juntamente
com as forças francesas, apoiaram o Movimento que, em 1945, declarou a independência e a
República do Vietname.

No entanto, este partido era instável, uma vez que provocada a unificação indesejada de
outros territórios circundantes, que continuavam a ser colónias francesas, no entanto, a
França não aceitou. . Os EUA, que sempre se declararam anticolonialistas, não queriam que o
Movimento Nacionalista invadisse a área colonial francesa, e tudo fizeram para que isso não
acontecesse. Mas tal não aconteceu. Houve uma violenta guerra civil entre 1946 e 1954 (a
Guerra da Indochina). Aliás, as políticas dos franceses e dos vietnamitas eram inconciliáveis, já
que a França queria restabelecer o regime colonial. Os EUA intervieram e envolveram-se na
Guerra, pelo lado da França, não querendo igualmente a independência do Vietname. Já os
vietnamitas eram representados pelos nacionalistas (apoiados por chineses e soviéticos). A
guerra foi perdida pelos franceses e mais tarde realizou-se uma conferencia que originou 4
países distintos: o Vietname do Norte, que seria independente e com o apoio da China e dos
Soviéticos, e o do Sul, dirigido pelos EUA e pelo antigo imperador; e ainda Laos e Camboja

Esta guerra terminou quando os EUA uma conferência internacional em Genebra em 1954. O
território do Vietname, marcado pelas elevadas divergências ideológicas, dividiu-se
oficialmente em duas zonas distintas: Vietname do Sul, que seria regido pelos EUA e liderado
pelo antigo imperador Bao Dai; e Vietname do Norte, que seria independente, controlado
pelos nacionalistas e chefiado até 1969 pelo comunista Ho Chi Minh. A Indochina via assim
nascer três novas nações: o Vietname, o Laos e o Camboja (estes dois últimos ficaram
neutros). Após a Conferencia a guerra continuou, mas agora sem os franceses, ou seja, o
Vietname contra os EUA, no entanto estes últimos não conseguiam sustentar o Vietname do
Sul e abandonaram o território, que depois se uniu com o Vietname do Norte.

A descolonização da Ásia durou de 1947 até 1954, e foi a partir destes conflitos houve
uma crescente preocupação da ONU em intervir nas seguintes descolonizações.

d) A descolonização da Coreia e o primeiro grande conflito regional do pós-II Guerra

A partir do séc. XVI, a Coreia foi alvo de incursões estrangeiras: China, Japão, Rússia e
potências ocidentais. A partir do séc. XX, o Japão tornou-se dono da península da Coreia,
anexando-a definitivamente em 1910. Como resposta a este ato, formou-se, em seguida, uma
resistência nacionalista contra a ocupação japonesa.

Durante a 2ªG.M., essa resistência foi liderada por comunistas, com o apoio da URSS.
Isso fez com que os aliados aprovassem e apoiassem a Independência da Coreia. Quando o
Japão abandonou a Coreia, em 1945, os americanos pretendiam que os soviéticos declarassem
guerra à China, o que levou à sua instalação na Manchúria. Os dois grandes vencedores, os
EUA e a URSS, optaram por ocupar e dividir a Coreia até que fossem realizadas eleições e o
povo decidisse livremente o seu destino. Cada parte da Coreia realizou eleições. No território
controlado pelos soviéticos venceu o partido comunista, enquanto no Sul, controlado pelos
norte-americanos, venceram os liberais. O pretexto era garantir a liberdade da Coreia,
eliminando-se por completo a presença japonesa.

Porém, ainda antes disto foi oficializada internacionalmente a divisão da Coreia: à


semelhança da resolução da questão alemã, os EUA incentivaram a proclamação da
independência do território do sul, o que aconteceu em Agosto de 1948. Nasceu, assim, a
República da Coreia (o único governo que foi reconhecido pela ONU). Um mês depois foi
proclamada no norte, com o apoio dos soviéticos, a República Democrática e Popular da

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