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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 103.858 - CE (2018/0260987-7)

RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ


RECORRENTE : MARCELO DE SOUZA PEREIRA (PRESO)
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO CEARÁ
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ
EMENTA

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL


PENAL. FURTO QUALIFICADO E ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. PRISÃO
PREVENTIVA. RISCO CONCRETO DE REITERAÇÃO DELITIVA.
HISTÓRICO CRIMINAL. RECORRENTE CONDENADO
RECENTEMENTE EM PROCESSO CRIMINAL DIVERSO.
FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. ALEGAÇÃO DE EXCESSO DE PRAZO.
EVENTUAL DEMORA NÃO PODE SER IMPUTADO AO JUÍZO.
COMPLEXIDADE DO CASO E NECESSIDADE DE EXPEDIÇÃO DE
CARTA PRECATÓRIA. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. MEDIDAS
CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO. INSUFICIÊNCIA. RECURSO
ORDINÁRIO DESPROVIDO.
1. A decretação da prisão preventiva encontra-se suficientemente
fundamentada para a garantia da ordem pública, notadamente em razão do risco
concreto de reiteração delitiva, pois foi ressaltado o histórico de contumácia
delitiva do Recorrente, que figura como parte passiva em outros procedimentos
criminais, sendo "inclusive condenado a pena privativa de liberdade em
regime fechado pela prática das condutas previstas nos arts. 155, §§ 1º e 4º,
I e IV, c/c art. 14, II, 288, 304 e 330, todos do Código Penal, como infere-se
nos autos do processo nº 0104365-70.2017.8.06.0001", em sentença
proferida no dia 20/02/2018, conforme antecedentes criminais juntados aos autos
e consulta ao endereço eletrônico do Tribunal estadual.
2. O Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento de que a
reiteração de condutas criminosas, evidenciando inclinação à prática delitiva,
justifica a medida constritiva para garantia da ordem pública. Precedentes.
3. Os prazos indicados para a consecução da instrução criminal servem
apenas como parâmetro geral, pois variam conforme as peculiaridades de cada
processo, razão pela qual eles têm sido mitigados pela jurisprudência dos Tribunais
Pátrios, à luz do princípio da razoabilidade. Desse modo, somente se cogita da
existência de constrangimento ilegal por excesso de prazo, quando esse for
motivado por descaso injustificado do Juízo processante, o que não se verifica na
hipótese.
4. Trata-se de causa complexa – envolve "subtração patrimonial
organizada mediante arrombamento por meio de maçarico de um terminal de
autoatendimento de uma agência do Banco do Brasil" – com mais de um Réu
e onde foi necessária a expedição de carta precatória para oitiva de testemunha.
5. Demonstrada pelas instâncias ordinárias, com expressa menção à
situação concreta, a presença dos pressupostos da prisão preventiva, não se
mostra suficiente a aplicação de quaisquer das medidas cautelares alternativas à
prisão.
6. Recurso ordinário em habeas corpus desprovido.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma


do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por
unanimidade, negar provimento ao recurso ordinário, nos termos do voto da Sra. Ministra
Relatora. Os Srs. Ministros Sebastião Reis Júnior, Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro e Antonio
Saldanha Palheiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Brasília (DF), 25 de junho de 2019(Data do Julgamento)

MINISTRA LAURITA VAZ


Relatora

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RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 103.858 - CE (2018/0260987-7)
RECORRENTE : MARCELO DE SOUZA PEREIRA (PRESO)
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO CEARÁ
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ:


Trata-se de recurso ordinário em habeas corpus, com pedido liminar, interposto
por MARCELO DE SOUZA PEREIRA contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do
Estado do Ceará nos autos do Habeas Corpus n.º 0625480-59.2018.8.06.0000.
Consta nos autos que, após requerimento do Ministério Público estadual, foi
decretada, em 30/08/2017, a prisão preventiva do Recorrente pela suposta prática dos crimes
previstos no art. 155, § 4º, incisos I e II, e 288, ambos do Código Penal (fls. 56-58) – o mandado
de prisão foi cumprido em 20/02/2018.
Os pedidos de revogação da prisão preventiva foram indeferidos em 19/10/2017
(fls. 131-132), 11/01/2018 (fls. 148-150) e 14/09/2018 (conforme informações constantes no
endereço eletrônico do Tribunal estadual).
Irresignada com a custódia processual, a Defesa impetrou habeas corpus no
Tribunal de origem, cuja ordem foi denegada, nos termos da seguinte ementa (fl. 195):
"PENAL. PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. FURTO
QUALIFICADO E ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. EXCESSO DE PRAZO PARA
FORMAÇÃO DA CULPA. INOCORRÊNCIA. TRÂMITE PROCESSUAL
REGULAR. PECULIARIDADES. PLURALIDADE DE RÉUS. NECESSIDADE
DE EXPEDIÇÃO DE CARTA PRECATÓRIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
NÃO VERIFICADO. APLICAÇÃO DE CAUTELARES DIVERSAS DA
CUSTÓDIA. INSUFICIÊNCIA. RISCO CONCRETO DE REITERAÇÃO
DELITUOSA. ORDEM CONHECIDA E DENEGADA.
1. A prática de furtos qualificados contra estabelecimentos
bancários mediante arrombamento é conduta que lesa e expõe
concretamente a perigo toda a sociedade.
2. A concessão de Habeas Corpus com base em alegação de excesso
de prazo no trâmite processual é medida de todo excepcional, sendo
admitida somente quando resultar de inércia ou morosidade do aparato
judicial que firam a razoável duração do processo.
3. Não restou caracterizada lentidão injustificada na condução da
demanda, pelo contrário, os atos processuais estão se realizando de forma
contínua e concatenada, estando a instrução nos trâmites derradeiros.
4. O histórico delitivo do paciente sugere forte tendência à
reiteração delituosa em caso de soltura, razão pela qual se mostra ineficaz,
para tutela da ordem pública, a fixação de medidas cautelares diversas da
prisão.
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5. Ordem conhecida e denegada."

Em suas razões, o Recorrente sustenta, em suma, a inexistência de


fundamentação idônea e dos requisitos autorizadores para a decretação da prisão preventiva,
bem como o excesso de prazo da custódia cautelar.
Requer, liminarmente e no mérito, a revogação da segregação processual.
O pedido liminar foi indeferido (fls. 238-239).
Foram prestadas informações às fls. 243-264, 265-269 e 282-285.
O Ministério Público Federal manifestou-se às fls. 290-296, opinando pelo não
provimento do recurso ordinário.
É o relatório.

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PENAL. FURTO QUALIFICADO E ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. PRISÃO
PREVENTIVA. RISCO CONCRETO DE REITERAÇÃO DELITIVA.
HISTÓRICO CRIMINAL. RECORRENTE CONDENADO
RECENTEMENTE EM PROCESSO CRIMINAL DIVERSO.
FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. ALEGAÇÃO DE EXCESSO DE PRAZO.
EVENTUAL DEMORA NÃO PODE SER IMPUTADO AO JUÍZO.
COMPLEXIDADE DO CASO E NECESSIDADE DE EXPEDIÇÃO DE
CARTA PRECATÓRIA. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. MEDIDAS
CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO. INSUFICIÊNCIA. RECURSO
ORDINÁRIO DESPROVIDO.
1. A decretação da prisão preventiva encontra-se suficientemente
fundamentada para a garantia da ordem pública, notadamente em razão do risco
concreto de reiteração delitiva, pois foi ressaltado o histórico de contumácia
delitiva do Recorrente, que figura como parte passiva em outros procedimentos
criminais, sendo "inclusive condenado a pena privativa de liberdade em
regime fechado pela prática das condutas previstas nos arts. 155, §§ 1º e 4º,
I e IV, c/c art. 14, II, 288, 304 e 330, todos do Código Penal, como infere-se
nos autos do processo nº 0104365-70.2017.8.06.0001", em sentença
proferida no dia 20/02/2018, conforme antecedentes criminais juntados aos autos
e consulta ao endereço eletrônico do Tribunal estadual.
2. O Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento de que a
reiteração de condutas criminosas, evidenciando inclinação à prática delitiva,
justifica a medida constritiva para garantia da ordem pública. Precedentes.
3. Os prazos indicados para a consecução da instrução criminal servem
apenas como parâmetro geral, pois variam conforme as peculiaridades de cada
processo, razão pela qual eles têm sido mitigados pela jurisprudência dos Tribunais
Pátrios, à luz do princípio da razoabilidade. Desse modo, somente se cogita da
existência de constrangimento ilegal por excesso de prazo, quando esse for
motivado por descaso injustificado do Juízo processante, o que não se verifica na
hipótese.
4. Trata-se de causa complexa – envolve "subtração patrimonial
organizada mediante arrombamento por meio de maçarico de um terminal de
autoatendimento de uma agência do Banco do Brasil" – com mais de um Réu
e onde foi necessária a expedição de carta precatória para oitiva de testemunha.
5. Demonstrada pelas instâncias ordinárias, com expressa menção à
situação concreta, a presença dos pressupostos da prisão preventiva, não se
mostra suficiente a aplicação de quaisquer das medidas cautelares alternativas à
prisão.
6. Recurso ordinário em habeas corpus desprovido.

VOTO

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A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ (RELATORA):
O Juízo de primeira instância decretou a prisão preventiva nos seguintes termos
(fl. 57, sem grifos no original):
"Em atenção à representação pela prisão preventiva formulada pelo
parquet em relação a ambos os delatados, passo a analisar o quadro fático
delineado nos autos.
Os codenunciados são acusados de, na companhia de um terceiro
indivíduo ainda não identificado, terem praticado subtração patrimonial
organizada mediante arrombamento por meio de maçarico de um terminal
de autoatendimento de uma agência do Banco do Brasil, localizada na
Avenida José Bastos.
Na espécie, há fortes indícios de autoria delitiva imputada aos
indigitados réus, bem como provas da materialidade do delito, tudo
devidamente comprovado pelos depoimentos colhidos pelas vítimas,
testemunhas e condutor, quando do procedimento investigativo policial,
além das imagens que o integram, como a de fls. 15.
Some-se a isso o fato dos denunciados terem agido com dolo e
violência, contra a máquina bancária, demonstrando que representam
perigo à sociedade, circunstância que também se deduz pela existência de
outros procedimentos criminais nos quais figuram como parte passiva, vide
certidões de fls. 27/28, o que nos conduz à conclusão de que, em liberdade,
permanecerão sendo influenciados pelos estímulos que os leva a delinquir.
Este fator acima descrito constitui elemento indiciário concreto apto
a embasar a decretação da custódia preventiva, com base na necessidade de
resguardar a ordem pública, já fartamente abalada pela intranquilidade ora
vivenciada.
Ressalte-se que a permanência dos acusados em liberdade
ensejaria graves reflexos na ação da justiça, que necessita estar presente
através de medidas efetivas, visando coibir a repetição de atos violentos e
prevenindo consequências mais graves.
Isto posto, levando em consideração o que foi dito e o mais que dos
autos consta, presentes os indícios de materialidade e autoria, evidenciados
os pressupostos e requisitos que autorizam o cárcere cautelar, com
fundamento nos arts. 312 e seguintes do CPP, decreto as prisões preventivas
de Diego Resende Cavalcante e Marcelo de Souza Pereira, como forma de
acautelar o meio social, garantindo a ordem pública, a instrução e
aplicação da lei penal e também como forma de combate à criminalidade."

O Colegiado de origem denegou a ordem de habeas corpus com base na


seguinte fundamentação (fls. 197-199, sem grifos no original):
"A conduta criminosa objeto do processo de origem ocorreu em 06
de janeiro de 2017, quando a agência do Banco do Brasil foi arrombada,
perpetrando-se subtração de quantia de dinheiro que estava no caixa
eletrônico, tendo os criminosos empreendido fuga, conforme consta em
gravação das câmeras de segurança do local.
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Em 20 de janeiro do mesmo ano, o paciente e mais dois suspeitos
foram perseguidos por policiais militares. A ação policial logrou êxito em
prender apenas dois dos três perseguidos, frustrando a tentativa de furto ao
banco Santander, localizado na Avenida 13 de Maio, em Fortaleza.
Inicialmente, os dois suspeitos apresentaram nomes falsos, sendo
identificados posteriormente como Marcelo de Souza Pereira (paciente) e
Diego Resende Cavalcante. Na oportunidade, o acusado Diego Resende
também assumiu a autoria do furto praticado em 06 de janeiro de 2017
contra agência do Banco do Brasil, apontando Marcelo de Souza como
coautor.
Assim, Marcelo e Diego também passaram à condição de
investigados pela conduta criminosa praticada em 06 de janeiro (no Banco
do Brasil). Repita-se: objeto do processo de origem.
Após as diligências de praxe, em 29 de agosto de 2017, o Ministério
Público ofereceu denúncia e formulou pedido de prisão preventiva em
desfavor dos suspeitos. Logo após, a autoridade apontada como coatora
recebeu a denúncia e decretou a cautelar.
O paciente formulou pedidos de revogação e relaxamento da prisão
preventiva ao Magistrado de origem, ambos indeferidos.
Regularmente citado em 11 de setembro de 2017, o acusado
apresentou defesa preliminar. O recebimento da denúncia foi ratificado
pelo juízo singular em 24 de outubro de 2017, sendo designado o dia 19 de
julho de 2018, às 16h30min, para o início da audiência de instrução.
Nas informações prestadas (fls. 179/181), o Juízo a quo esclareceu
que a audiência realizou-se na data aprazada, qual seja, 19 de julho de
2018, aguardando expedição de Carta Precatória para oitiva de testemunha
residente na Comarca de Maracanaú, cujo prazo estabelecido é de quarenta
dias.
Notadamente, trata-se de causa complexa, pluralidade de réus e
que requer a realização de diligências excepcionais, como o manejo de
Carta Precatória. Assim, não é fato anormal a não conclusão do trâmite em
primeiro grau estritamente dentro dos prazos legais.
Imperioso observar que os Tribunais Superiores não costumam
analisar a duração do deslinde processual por meio de mera soma
aritmética com denominador comum a todos os casos. A orientação
jurisprudencial prevalente aponta para necessidade de cuidadosa análise
das particularidades do caso concreto, observando-se sempre obediência
ao princípio da razoável duração do processo. Veja-se:
[...]
O mesmo raciocínio pode ser extraído da Súmula nº 15 do Tribunal
de Justiça do Estado do Ceará: 'não há falar em ilegalidade da prisão por
excesso de prazo quando a complexidade do crime apurado ou a
pluralidade de réus justifica a mora na ultimação dos atos processuais'
(grifou-se)
Na mesma linha opinou a Procuradoria de Justiça ao afirmar que:
'De acordo com o histórico narrado nas informações
judiciais e da documentação dos autos, observa-se que o rito segue
uma marcha adequada, considerando a pluralidade de réus, em
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número de dois, tendo ainda a informação nos autos de que o
delatado Diego Resende Cavalcante evadiu-se da Unidade
Prisional, fl. 87, o que demanda medidas extras por parte da
Magistrada, além da expedição de carta precatória para oitiva de
testemunhas, mas, ainda assim, a juíza vem impulsionando o feito
com eficiência, já tendo, inclusive, iniciado a instrução processual,
com ouvida de testemunha, de modo que não há que se falar em
excesso de prazo para formação da culpa, pela inexistência de
qualquer desídia do Estado-Juiz, nos termos da Súmula 15 do
TJ/CE (...)'
Assim, saliento que o trâmite processual em análise não ultrapassou
as fronteiras da razoabilidade, motivo pelo qual reputo inviável o
reconhecimento de excesso de prazo na formação da culpa como
sustentáculo para alegação de constrangimento ilegal.
Não obstante, à fl. 5, a impetrante salienta brevemente o cabimento
de outras medidas cautelares. Esclareço que aplicação das medidas
cautelares constantes no art. 319 do CPP, em substituição a prisão
preventiva não me parece recomendável.
É que Marcelo de Souza tem histórico de contumácia delitiva, foi
inclusive condenado a pena privativa de liberdade em regime fechado pela
prática das condutas previstas nos arts. 155, §§ 1º e 4º, I e IV, c/c art. 14,
II, 288, 304 e 330, todos do Código Penal, como infere-se nos autos do
processo nº 0104365-70.2017.8.06.0001.
Observando histórico pessoal desfavorável e do grave risco causado
à sociedade pelo modus operandi empregado na prática da conduta,
considero a fixação de medidas cautelares diversas da prisão insuficiente
para a tutela da ordem pública, pois há elevado risco de reiteração
delituosa.
Diante do exposto, em consonância com o parecer ministerial,
conheço da ordem impetrada no Habeas Corpus, para DENEGÁ-LA,
mantendo a prisão cautelar do paciente. No entanto, determino que se
expeça RECOMENDAÇÃO ao juízo singular para que empreenda maior
celeridade possível na tramitação da carta precatória, a fim de viabilizar o
encerramento da instrução.
É como voto."

Vê-se que a decretação da prisão preventiva foi devidamente fundamentada para


a garantia da ordem pública, notadamente pelo risco concreto de reiteração delitiva, tendo em
vista que foi ressaltado o histórico de contumácia delitiva do Recorrente, que figura como parte
passiva em outros procedimentos criminais, sendo "inclusive condenado a pena privativa de
liberdade em regime fechado pela prática das condutas previstas nos arts. 155, §§ 1º e 4º,
I e IV, c/c art. 14, II, 288, 304 e 330, todos do Código Penal, como infere-se nos autos do
processo nº 0104365-70.2017.8.06.0001", em sentença proferida no dia 20/02/2018, conforme

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antecedentes criminais juntados às fls. 121-124 e consulta ao endereço eletrônico do Tribunal
estadual.
Nesses termos, esta Corte pacificou o entendimento de que a reiteração de
condutas criminosas, evidenciando inclinação à prática delitiva, obsta a revogação da medida
constritiva para garantia da ordem pública. A propósito: RHC 94.000/SP, Rel. Ministro NEFI
CORDEIRO, Rel. p/ acórdão Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA
TURMA, julgado em 08/05/2018, DJe 29/06/2018.
De igual modo, a jurisprudência da Suprema Corte é no sentido de que "a
periculosidade do agente e a fundada probabilidade de reiteração criminosa constituem
fundamentação idônea para a decretação da custódia preventiva" (HC 150.906 AgR, Rel.
Ministro ROBERTO BARROSO, PRIMEIRA TURMA, DJe de 25/04/2018, sem grifos no
original).
Confira-se, ainda, o seguinte julgado do Superior Tribunal de Justiça:
"RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE
ENTORPECENTES. PRISÃO EM FLAGRANTE CONVERTIDA EM
PREVENTIVA. SEGREGAÇÃO FUNDADA NO ART. 312 DO CPP.
PERICULOSIDADE SOCIAL. HISTÓRICO CRIMINAL DO AGENTE.
REITERAÇÃO DELITIVA. GOZO DE LIBERDADE PROVISÓRIA
CONCEDIDA EM OUTRO PROCESSO QUANDO DA PRÁTICA DO
PRESENTE DELITO. RISCO EFETIVO. NECESSIDADE DE
ACAUTELAMENTO DA ORDEM PÚBLICA. DESPROPORCIONALIDADE
DA CUSTÓDIA. INOCORRÊNCIA. CONSTRIÇÃO JUSTIFICADA E
NECESSÁRIA. MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS. INSUFICIÊNCIA
E INADEQUAÇÃO. COAÇÃO ILEGAL NÃO DEMONSTRADA. RECLAMO
CONHECIDO E IMPROVIDO.
1. Não há constrangimento ilegal quando a custódia cautelar está
devidamente justificada na garantia da ordem pública, em razão da
periculosidade do acusado, revelada pelo seu histórico criminal,
evidenciando efetivo risco de continuidade das práticas delitivas.
2. O fato de o acusado responder a outros processos, pela prática
de crime patrimonial e porte de entorpecente para uso próprio, é
circunstância que revela sua periculosidade social e a inclinação à prática
de crimes, demonstrando a real possibilidade de que, solto, volte a delinquir
- sobretudo porque havia sido beneficiado com liberdade provisória quando
do cometimento da presente infração penal -, a reforçar a necessidade da
preventiva.
[...]
4. Concluindo-se pela imprescindibilidade da preventiva, está clara
a insuficiência das medidas cautelares diversas da prisão, cuja aplicação
não se mostraria adequada para o restabelecimento da ordem pública.
5. Recurso ordinário conhecido e improvido." (RHC 86.369/MG, Rel.
Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 17/08/2017, DJe de
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23/08/2017, sem grifos no original.)

Demonstrada pelas instâncias ordinárias, com expressa menção à situação


concreta, a presença dos pressupostos da prisão preventiva, não se mostra suficiente a aplicação
de quaisquer das medidas cautelares alternativas à prisão, elencadas na nova redação do art. 319
do Código de Processo Penal, dada pela Lei n.º 12.403/2011.
Outrossim, observa-se, dos trechos já transcritos, que eventual excesso de prazo,
embora não tenha sido causado pela Defesa, também não pode ser imputado à autoridade
apontada como coatora, considerando-se, sobretudo, as peculiaridades do caso.
De fato, somente se cogita da existência de constrangimento ilegal quando o
excesso de prazo for motivado pelo descaso injustificado do juízo, o que não se verifica na
hipótese em tela.
Com efeito, trata-se de causa complexa – envolve "subtração patrimonial
organizada mediante arrombamento por meio de maçarico de um terminal de
autoatendimento de uma agência do Banco do Brasil" – com mais de um Réu e onde foi
necessária a expedição de carta precatória para oitiva de testemunha.
Nessa perspectiva, os prazos indicados para a consecução da instrução criminal
servem apenas como parâmetro geral, jamais sendo aferível apenas a partir da mera
soma aritmética dos prazos processuais, pois variam conforme as peculiaridades de cada
processo, razão pela qual a jurisprudência uníssona os têm mitigado, à luz do Princípio da
Razoabilidade.
A propósito, cito o seguinte precedente:
"HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. HOMICÍDIO
QUALIFICADO. FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. FUGA DO DISTRITO
DA CULPA. REINCIDÊNCIA. ILEGALIDADE. AUSÊNCIA. MEDIDAS
CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO. INVIABILIDADE. EXCESSO DE
PRAZO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO VERIFICADO.
[...]
3. A aferição da razoabilidade da duração do processo não se
efetiva de forma meramente aritmética. Nesta perspectiva, não se verifica
ilegalidade quando o andamento processual encontra-se compatível com as
particularidades da causa, não se tributando, pois, aos órgãos estatais
indevida letargia.
[...]
5. Habeas corpus denegado." (HC 451.323/GO, Rel. Ministro NEFI
CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 04/09/2018, DJe 12/09/2018, sem
grifos no original.)

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Ademais, conforme informações obtidas no sítio eletrônico do Tribunal a quo, foi
designada, para o dia 06/06/2019, a continuação da audiência de instrução e julgamento, onde
serão interrogados os Réus e ouvida a vítima, o que demonstra que estão sendo empreendidos
esforços para o regular andamento do feito.
Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso ordinário em habeas
corpus.
É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA

Número Registro: 2018/0260987-7 RHC 103.858 / CE


MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 0039429-36.2017.8.06.0001 0043229-72.2017.8.06.0001 0045266-72.2017.8.06.0001


0112301-49.2017.8.06.0001 06254805920188060000 1123014920178060001
309-06/2017 309062017 394293620178060001 432297220178060001
452667220178060001 6254805920188060000

EM MESA JULGADO: 25/06/2019

Relatora
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro NEFI CORDEIRO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MANOEL DO SOCORRO T. PASTANA
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : MARCELO DE SOUZA PEREIRA (PRESO)
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO CEARÁ
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ
CORRÉU : DIEGO RESENDE CAVALCANTE

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra o Patrimônio - Furto Qualificado

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Sexta Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso ordinário, nos termos do
voto da Sra. Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros Sebastião Reis Júnior, Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro e Antonio
Saldanha Palheiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.

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