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CASO ALEMANHA VS ITÁLIA

QUEBRA DE IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO


CONTEXTO HISTÓRICO E PETIÇÃO ALEMÃ
Na segunda guerra mundial foram aliados juntos com o eixo composto por Alemanha,
Itália e Japão contra os aliados formados por EUA e Inglatera em busca de poder no
sistema internacional. Quando a Itália foi derrotada em seguidas batalhas pelos
exércitos aliados do norte, o rei italiano demitiu o primeiro-ministro Mussolini e
mudou o cenário da Guerra, a então Itália juntou-se aos aliados em 9 de setembro de
1943.
CONTEXTO HISTÓRICO E PETIÇÃO ALEMÃ
Com o crescente número de ações contra a Alemanha, ela é obrigada a tomar medidas
e resolveu seguir a convenção europeia para a solução pacífica de controvérsias de
1957, que na parte do primeiro artigo diz:

As altas partes contratantes devem submeter ao julgamento da


corte internacional da justiça todas as disputas internacionais
legals que possam surgir entre elas, incluindo, em particular,
aquelas referentes a

a. A interpretação de um tratado;

b. Qualquer questão do Direito Internacional


CONTEXTO HISTÓRICO E PETIÇÃO ALEMÃ
c. A existência de qualquer fator que, se estabelecido,
constituirá uma infração em uma obrigação internacional

d. A natureza ou extensão da reparação a ser feita pela infração


em uma obrigação moral
CONTEXTO HISTÓRICO E PETIÇÃO ALEMÃ
A petição e demais alegações pela Alemanha, em que o governo italiano tem
desrespeitado, princípios fundamentais de Direito Internacional Público que
contribuem para a convivência pacífica entre os estados, e ainda por cima julgar o
estado alemã em suas cortes (CIJ, 2008).

A defesa da Itália, é que a quebra de imunidade Jurisdicional alemã tem fundamento


em uma corrente jurisprudencial a supremacia de direito da natureza jus cogens. Para
Itália, a Alemanha, uma vez que tem uma dívida a respeito de violações de Direitos
Humanos para os cidadãos Italianos, não goza de imunidade jurisprudencial.
CONTEXTO HISTÓRICO E PETIÇÃO ALEMÃ
INTERVENÇÃO GREGA

Um estado é permitido intervir em determinado caso, se conforme decidido pelo


organismo, de acordo com o estatuto de corte art. 62. Em vista disto, em janeiro de
2011, a Grécia apresentou uma petição à CIJ solicitando permissão para intervir nos
aspectos procedimentais do caso Alemanha vs. Itália, nos julgamentos ocorridos em
território grego.
SUBSTRATO JURÍDICO
➔ Soberania
◆ Morgenthau - “A suprema autoridade legal de uma nação para aprovar leis e fazê-las cumprir
dentro dos limites de um certo território e, como consequência, a independência em relação à
autoridade de qualquer outra nação em igualdade com a mesma nos termos do Direito
Internacional. Daí podemos dizer que uma nação perde a sua soberania quando é colocada sob a
autoridade de uma outra”
◆ Bull - “ A soberania é um atributo de todos os Estados e, seu reconhecimento mútuo, uma regra
fundamental de coexistência no sistema”
SUBSTRATO JURÍDICO
➔ Imunidade de jurisdição
◆ Ideal de par in parem non habet imperium e a herança absolutista
◆ Imunidade absoluta e restritiva - separação acta jure imperii e acta jure gestionis
◆ A aceitação da doutrina restritiva tem sido gradual, sendo hoje a dominante. Em partes, isso se deu
pelos horrores da 2ª Guerra e da importância crescente dos DH
◆ Declaração Universal dos Direitos humanos e a nova maneira de ver a pessoa humana
◆ Caráter costumeiro
SUBSTRATO JURÍDICO
➔ Jus Cogens
◆ “seriam imperativas em razão de seu conteúdo mais relevante, mais essencial, (...) que se impõem a
todos os Estados, independente da oposição destes” (NASSER, 2005, p. 163)
◆ Caráter Constitucional
◆ Obrigação erga omnes
◆ Conflito jus cogens vs imunidade jurídica
SUBSTRATO JURÍDICO
➔ Instrumentos internacionais
◆ Por mais que haja instrumentos positivados responsáveis pela regulação do direito da imunidade
jurisdicional do Estado, a dificuldade de universalização do princípio reside no fato de ele ainda se
encontrar majoritariamente inserido no campo do direito consuetudinário, e suas principais fontes
ainda se assentarem em sistemas jurídicos nacionais e jurisprudência de tribunais domésticos
(BRÖHMER, 1997, p. 138; FOX, 2004, p. 100).
◆ Convenção de Bruxelas, de 1926
◆ Convenção Europeia sobre a Imunidade dos Estados de 1976
◆ Convenção Europeia sobre a Imunidade dos Estados de 1979
◆ Comissão de Direito Internacional da ONU, de 1986
◆ Convenção das Nações Unidas Sobre Imunidades Jurisdicionais dos Estados e dos Bens, de 2004
TRATADO DE PAZ DE 1947
➔ Artigo 77
◆ Parágrafos 1, 2, 3 e 4
ACORDOS BILATERAIS
➔ 2 de junho de 1961

➔ Dois tratados foram concluidos

➔ O segundo tratado promove reparações a nacionais italianos perseguidos pelo


nacional-socialismo
DA INSTITUIÇÃO LEMBRANÇA, RESPONSABILIDADE E FUTURO
➔ 2 de agosto de 2000

➔ O Artigo 11

➔ A exclusão de prisioneiros de guerra


DEFESA ITALIANA DA QUEBRA DE IMUNIDADE JURIDISCIONAL
➔ Mudança da Itália para o lado dos Aliados
◆ Ocupação alemã
● Quebra dos Direitos Humanos
○ 3 grupos:
◆ Civis vítimas de massacres pela Alemanha
◆ Civis deportados para realizar trabalho escravo
◆ Membros das Forças Armadas Italianas que, tendo status de prisioneiro de guerra
negado, foram obrigados a realizar trabalho escravo
DEFESA ITALIANA DA QUEBRA DE IMUNIDADE JURIDISCIONAL
➔ Vítimas e herdeiros foram buscar indenizações na corte italiana
◆ Caso Ferrini
● Mais de 250 ações desde então
➔ Alemanha reclama de quebra de imunidade juriscional
◆ Alega já ter feito reparações no Acordo de 1961
● Itália: insuficientes
◆ Itália: Não houve quebra da imunidade
DEFESA ITALIANA DA QUEBRA DE IMUNIDADE JURIDISCIONAL
➔ Corte Internacional: Não cabe julgar se os atos praticados pela Alemanha foram
ilegais (eles foram), mas se as cortes italianas deveriam conceder imunidade de
jurisdição à Alemanha
➔ Imunidade jurisdional vem sendo aceita como regra geral do Direito Internacional
Consuetudinário
DEFESA ITALIANA DA QUEBRA DE IMUNIDADE JURIDISCIONAL
➔ Itália afirma que Alemanha não possuiría imunidade de jurisdição, por dois
pontos principais:
◆ Imunidade não abrange delitos “os quais ocasionaram mortes, danos pessoais ou dano à
propriedade cometidos no território do Estado do foro”
◆ “a Alemanha não era beneficiária da imunidade porque tais atos envolviam as mais graves violações
de direito internacional de caráter peremptório [jus cogens]”
Defesa italiana da quebra de imunidade jurídica
➔ Primeiro ponto
◆ A Corte procura examinar se o artigo 11 da Convenção Europeia e o artigo 12 da Convenção das
Nações Unidas oferecem apoio ao argumento italiano
● Convenção Europeia

○ Artigo 11: "Um Estado contratante não pode reivindicar imunidade de jurisdição a uma

corte de outro Estado contratante em procedimentos que dizem respeito à reparação

por danos à pessoa ou danos à propriedade tangível, se os fatos que ocasionaram o

prejuízo ou dano ocorreram no território do Estado do foro, e se o autor da lesão ou do

dano estava presente nesse território no momento em que tais fatos ocorreram"

○ Porém, conforme o artigo 31, a convenção não seria válida para atos relacionados a

forças armadas estrangeiras, invalidando, assim, o argumento italiano.


DEFESA ITALIANA DA QUEBRA DE IMUNIDADE JURIDISCIONAL
➔ Primeiro ponto
◆ Artigo 12 da Convenção das Nações Unidas
● A Corte afirma que este não se aplica a “situações envolvendo conflitos armados”
◆ A Corte Internacional conclui que:

● A imunidade jurisdicional se extende “a procedimentos civis por atos que ocasionaram a

morte, danos pessoais ou à propriedade cometidos pelas forças armadas e outros órgãos do

Estado na condução de conflito armado, ainda que os atos relevantes tenham se dado no

território do Estado do foro.”


● Argumento não aceito
DEFESA ITALIANA DA QUEBRA DE IMUNIDADE JURIDISCIONAL
➔ Segundo Ponto
◆ 3 Frentes
● As violações alemãs caracterizam crime de guerra e crime contra a humanidade

○ Corte conclui: “perante o direito internacional consuetudinário, ao menos até o

momento, um Estado não pode ser privado da imunidade em virtude de acusações de

graves violações de direitos humanos ou da lei do conflito armado”


DEFESA ITALIANA DA QUEBRA DE IMUNIDADE JURIDISCIONAL
➔ Segundo Ponto
◆ 3 Frentes

● Haveria conflito entre o caráter de jus cogens das regras violadas pelo estado alemão e a

concessão de imunidade à Alemanha.

○ “as normas jus cogens devem sempre sobressair sobre qualquer norma incompatível

com o direito internacional”


○ Corte afirma que não existe tal conflito
DEFESA ITALIANA DA QUEBRA DE IMUNIDADE JURIDISCIONAL
➔ Segundo Ponto
◆ 3 Frentes

● Como outras tentativas de compensação falharam, as cortes italianas poderiam negar

imunidade à Alemanha
○ Corte elucida que este argumento não pode ser aceito

◆ Nem legislações nacionais e nem a jurisprudência mostram que a imunidade de

jurisdição deve ser suspensa na condição de falha do estado alemão em

compensar as vítimas italianas.


DEFESA ITALIANA DA QUEBRA DE IMUNIDADE JURIDISCIONAL
➔ Segundo Ponto
◆ 3 Frentes

● Corte termina concluindo que as 3 frentes de argumentação italiana devem ser vistas em

conjunto. Nenhum dos argumentos sozinhos teriam validade para anular a imunidade

juridiscional alemã, e em conjunto também não teriam este poder


CASO FERRINI
➔ Em 1998, Luigi Ferrini procura a justiça italiana para processar a Alemanha

➔ Dois tribunais italianos recusam o caso, alegando ferir a soberania e a imunidade


jurisdicional alemã

➔ Em 2004, a Corte Italiana de Cassação decide que a justiça italiana é capaz de


julgar o caso
CASO FERRINI
➔ O governo alemão leva o caso à Corte Internacional de Justiça

➔ Cançado Trindade vota contra a Alemanha, argumentando que a Imunidade de


Estado não deve ser superior às normas de Jus Cogens

➔ A maioria dos juízes argumentou que o pedido feito pelo país italiano está fora de
sua jurisdição, em decorrência dos fatos terem acontecidos antes da Convenção
Européia de 1957
JULGAMENTO
➔ Caso intermediado pela Grécia

➔ Itália (jus cogens/diretor humanos)

➔ Alemanha (imunidade jurídica/acordos já feitos/abriria espaço para o mundo


inteiro)
JULGAMENTO
➔ Juiz brasileiro (Cançado Trindade)

➔ Objeto de novas negociações

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