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UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA

FACULDADE DE DIREITO

ELISÂNGELA FREIRE DE MORAIS

A IMPORTÂNCIA DE SE CONHECER AS FACETAS DE UM PSICOPATA


HOMICIDA: O IMPACTO CAUSADO NA SOCIEDADE E A SUA INFLUÊNCIA E
APLICABILIDADE NO DIREITO PENAL

Campinas
2019
ELISÂNGELA FREIRE DE MORAIS

A IMPORTÂNCIA DE SE CONHECER AS FACETAS DE UM PSICOPATA


HOMICIDA: O IMPACTO CAUSADO NA SOCIEDADE E SUA INFLUÊNCIA E
APLICABILIDADE NO DIREITO PENAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Faculdade de Direito da Unip Universidade
Paulista – Campus Swift Campinas, como
requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel
em Direito.
Orientador: Prof. Dr. José Geraldo
Romanello Bueno

CAMPINAS
2019
ELISÂNGELA FREIRE DE MORAIS

A IMPORTÂNCIA DE SE CONHECER AS FACETAS DE UM PSICOPATA HOMICIDA:


O IMPACTO CAUSADO NA SOCIEDADE E A SUA INFLUÊNCIA E
APLICABILIDADE NO DIREITO PENAL

BANCA EXAMINADORA

Data: ___/___/____

______________________________________________________________
Orientador: Prof. Dr. José Geraldo Romanello Bueno
UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA
______________________________________________________________
1º leitor: Prof. Dr.
UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA

______________________________________________________________
2º leitor: Prof. Dr.
UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA

Campinas/SP
2019
Dedico o presente trabalho ao meu
esposo Luiz Augusto de Morais pelo incentivo,
investimento, paciência, compreensão e apoio
incondicional.
“O psicopata é como o gato, que não
pensa no que o rato sente. Ele só pensa em
comida. A vantagem do rato sobre as vítimas do
psicopata é que ele sempre sabe quem é o gato".
Robert Hare
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, a Deus, criador de toda a existência seja exaltado e engrandecido o Teu Nome.
A minha eterna gratidão a ti Senhor pela companhia diária e conforto nos momentos mais
difíceis segurando a minha mão e me impulsionando a avançar.
Aos meus líderes apostólicos Adriano José e Daniela Camargo, que sempre participaram
fielmente das minhas conquistas e principalmente intercedendo e combatendo o bom combate
da Fé, me orientando, corrigindo e disciplinando quando necessário, a minha gratidão e honra
a vocês.
A minha mãe Etelvina, que é incentivadora, intercessora e companheira de todos os momentos,
que sempre confiou nas minhas escolhas, que cuida de mim e me apoia. A meu tio Atebaldo
pelo carinho, incentivo e investimento financeiro, a minha gratidão por sempre estar ao meu
lado.
A todo corpo docente da Universidade Paulista Unip e funcionários, que sempre estiveram
dispostos a ajudar e contribuir para o melhor aprendizado; em especial ao meu orientador, Prof.
Dr. José Geraldo Romanello Bueno pela paciência e grande ensinamentos.
RESUMO
Este estudo objetivou analisar a capacidade do psicopata em praticar violência e verificação
quanto ao seu total desprovimento da falta de freios e limites. Consequentemente, pela falta do
peso e o contrapeso, estes indivíduos se tornam desprovidos de equilíbrio, embora se identifique
neles o medo. São seres possuidores de determinação e foco, cabendo salientar que a super
inteligência e á organização deles não é uma condição necessária básica á ser encontrada em
um psicopata. Identificamos a importância de se discutir acerca do impacto em que a sociedade
vem sofrendo em relação ao psicopata, bem como, a diferenciação quanto á outro crime
hediondo ou não, da mesma forma, que a capacidade de autodeterminação do psicopata deve
ser levada em consideração ao analisar o caso concreto. Para tanto, fora utilizamos como
método á coleta de dados, pesquisa bibliográfica, qualitativa dos dados como método de
procedimento, e estudo por meio de levantamento de casos existentes. Partindo da análise dos
dados pode-se perceber á importância acerca da identificação do psicopata. Cabendo destacar
o modus operandi deste tipo de indivíduo, o seu comportamento, suas limitações e o desafios
enfrentados pelos profissionais que vão além da ciência médica, englobando a psicologia
forense, psiquiatria forense e psicopatologia forense e os operadores do Direito. Enfim, por
meio de todo estudo realizado e apresentado pela ciência médica e jurídica foi possível
confirmar através de observação que a discussão a respeito da psicopatia tanto no viés
psicológico quanto no viés jurídico, está cercada de diversidade. Entretanto, a questão que então
se discorre tem sua importância justificada através da dificuldade para a psiquiatria e psicologia
estabelecer limites entre os desvios de conduta, os hábitos inusitados e os transtornos de
personalidade. Sob o viés jurídico cabe salientar que no campo jurídico penal o que ficou em
evidência foi a determinação quanto ao grau de imputabilidade e responsabilidade em relação
ao fato criminoso.
Palavras-Chave: Capacidade; Impacto; Autodeterminação; Comportamento; Limitações.
ABSTRACT
This study aimed to analyze the ability of the psychopath to practice violence and to verify its
total lack of brakes and limits. Consequently, by lack of weight and balance, these individuals
become unbalanced, although fear is identified in them. They are beings with determination
and focus, and it should be pointed out that their super intelligence and their organization is not
a basic necessary condition to be found in a psychopath. We identified the importance of
discussing about the impact that society has been suffering on the psychopath, as well as the
differentiation as to another heinous crime or not, in the same way that the psychopath's capacity
for self-determination must be taken into account. analyze the concrete case. Therefore, we
used as a method the data collection, bibliographic research, qualitative data as a procedure
method, and study through survey of existing cases. From the analysis of the data one can
realize the importance about the identification of the psychopath. It is worth mentioning the
modus operandi of this type of individual, their behavior, their limitations and the challenges
faced by professionals who go beyond medical science, including forensic psychology, forensic
psychiatry and forensic psychopathology and the legal operators. Finally, through every study
carried out and presented by medical and legal science, it was possible to confirm through
observation that the discussion about psychopathy in both psychological and legal bias is
surrounded by diversity. However, the issue that is then discussed has its importance justified
by the difficulty for psychiatry and psychology to establish boundaries between misconduct,
unusual habits and personality disorders. From the legal point of view it should be noted that in
the criminal legal field what was evident was the determination as to the degree of imputability
and responsibility in relation to the criminal fact.
Keywords: Capacity; Impact ; Self-determination; Behavior; Limitations.
SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO....................................................................................................................11
2. A DEFINIÇÃO DE PSICOPATIA....................................................................................13
2.1.DIAGNÓSTICO.................................................................................................................14
2.2. COMENTÁRIOS MÉDICO-LEGAIS..............................................................................19
2.3. O COMPORTAMENTO DO INDIVÍDUO PSICOPATA DENTRO DAS RELAÇÕES
SOCIAIS...................................................................................................................................21
3. CONCEITO.........................................................................................................................23
3.1. O DIREITO PENAL E A PSIQUIATRIA FORENSE: EXISTE COMUNICAÇÃO ENTRE
TAIS CIÊNCIAS?................................................................................................................ 23
3.2. HISTÓRICO ................................................................................................................. 27
3.3. NATUREZA JURÍDICA ............................................................................................... 28
4. FUNDAMENTOS .......................................................................................................... 30
4.1. A RESPONSABILIDADE PENAL DO PSICOPATA E INIMPUTABILIDADE ........... 30
4.2.AS ESTATÍSTICAS DA PSICOPATIA NA SOCIEDADE E NO SISTEMA
CARCERÁRIO.................................................................................................................... 34
4.3. ANÁLISE DE CASOS QUE GANHARAM NOTORIEDADE NA MÍDIA NACIONAL
............................................................................................................................................ 35
5. ESTUDO DE CASO ....................................................................................................... 38
5.1. INCAPACIDADE DE COMPREENDER A PUNIÇÃO ................................................ 38
6. SUBSTITUIÇÃO DA PENA POR MEDIDA DE SEGURANÇA, ESPÉCIES DE
MEDIDA DE SEGURANÇA E PRAZO DE DURAÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA
............................................................................................................................................ 42
6.1. DA APLICAÇÃO DE MEDIDA DE SEGURANÇA E DA INTERDIÇÃO CIVIL DO
PSICOPATA ........................................................................................................................ 42
6.2. ANÁLISE DA JURISPRUDÊNCIA .............................................................................. 46
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................51
11

1.INTRODUÇÃO
Á medida que o tempo vem passando observamos que as pessoas estão convivendo com
um tipo específico de pessoa que possui algum tipo de distúrbio, desvio de conduta e de
comportamento que as estão levando a destruição de si mesmas e de outras. pois juntamente
com a evolução humana e revolução dentro da sociedade e a rapidez com que as informações
chegam as pessoas, percebe-se que o ser humano tem abandonado a compaixão e até mesmo o
respeito pelo outro, tornando-os pessoas frias, inescrupulosas, calculistas e sem amor.
De forma geral ao analisar as questões que envolvam o possível vínculo existente entre
os psicopatas, versus a reação psicológica das pessoas acerca dos crimes cometidos por eles, á
que que se observar o que vem causando este impacto na sociedade. Além da capacidade de
autodeterminação dos psicopatas frente a questão jurídica em torno do caso concreto.
Diante das intempéries da sociedade atual, um fator que permanece em evidência é a
importância da análise quanto a existência de fato relacionada ao impacto sofrido pela
sociedade em relação a um psicopata e um impacto diferenciado em relação a qualquer outro
crime hediondo? A capacidade de autodeterminação do psicopata é levada em consideração ao
analisar o caso concreto e decidir entre uma penalidade em regime prisional e uma medida de
segurança?
A melhor maneira de compreender esse processo como objetivo desta pesquisa é
considerar que ao analisarmos as diferentes abordagens doutrinárias e explanarmos as questões
envolvendo o vínculo que subsiste entre o viés psicológico e o viés jurídico. Poderemos nos
deparar com a realidade da psiquiatria forense versus a questão jurídica acerca da capacidade
de autodeterminação bem como a sua aplicação na jurisprudência brasileira. Não se trata de
apenas identificarmos o problema, seja porque casos envolvendo psicopatas tem aumentado
diariamente, seja porque há um avanço da ciência nas áreas de psiquiatria, psicologia e
jurídicas. Julgo pertinente trazer à tona o que se tem feito nos casos concretos em busca da
obtenção de uma solução e proteção para as vítimas destes psicopatas e em torno dos próprios
psicopatas quanto ao tratamento adequado e a medida apropriada com o intuito de cumprir
assim pelo delito por eles cometidos.
Observa-se que a discussão a respeito da psicopatia tanto no viés psicológico quanto no
viés jurídico, está cercada de diversidade. Entretanto, é preciso, porém, ir mais além pois a
questão que então se discorre tem sua importância justificada através da dificuldade para a
psiquiatria e psicologia estabelecer limites entre os desvios de conduta, os hábitos inusitados e
12

os transtornos de personalidade. É exatamente o caso de verificarmos acerca do conceito de


imputabilidade penal onde não há grande distinção de um doutrinador para outro o que podemos
destacar como essencial para a definição de imputabilidade são as ideias e a capacidade de
processar informações e transformá-las em conhecimento, com base em um conjunto de
habilidades mentais e/ou cerebrais como a percepção, a atenção, a associação, a imaginação, o
juízo, o raciocínio e a memória. Por todas essas razões, além da capacidade de escolha e da
tomada de decisão preservadas, ou seja, a capacidade de entender e de querer praticar o fato
típico e antijurídico, é notório que isso venha buscar uma resolução e elucidação em torno da
capacidade de autodeterminação do psicopata no tocante à vontade e controle além da
compulsividade deste em relação aquele que não tem capacidade de autodeterminação e não
consegue frear sua compulsividade mesmo diante do perigo. O que importa, portanto, é a busca
em modificar a falta de condições quanto a regeneração o impede de conviver normalmente em
sociedade. Essa, porém, é uma tarefa que acaba mantendo-os assim em hospitais de custódia
para tratamento psiquiátrico, através de medidas de segurança muitas vezes até a morte em
alguns casos. Vê, pois, que se conclui independente da análise, quer seja realizada no campo
da psiquiatria forense ou no campo do Direito penal os objetivos no campo de conhecimento
embora teoricamente sejam muito afastados ao mesmo tempo possuem objetivos comuns, que
é exatamente tentar entender o ser humano, as suas circunstâncias, os seus comportamentos, a
determinação do grau de imputabilidade e responsabilidade em relação ao fato criminoso, por
que é isso que vai preencher o julgamento do poder judiciário.
Para o desenvolvimento do presente trabalho, foram utilizadas pesquisas
bibliográficas fazendo-se uso de fontes primárias e secundárias, como livros, teses, doutrinas,
artigos científicos, além de estudo de casos. É interessante, aliás, que pretende-se utilizar uma
pesquisa qualitativa dos dados como método de procedimento, mas há um fato que se sobrepõe
a pesquisa bibliográfica que está relacionado aos estudos de caso que foram desenvolvidos em
sua totalidade, através de pesquisa de campo, envolvendo o perfil dos psicopatas e seu modus
operandi através dos casos tratados pela ciência médica nas áreas de psiquiatria forense, quanto
psicologia forense e psicopatologia forense e no Direito Penal Brasileiro.
O trabalho de conclusão de curso estrutura-se em quatro capítulos, apresentando-se no
primeiro as definições acerca de psicopatia, o seu diagnóstico, os comentários médico legais e
o comportamento do indivíduo psicopata dentro das relações sociais. No segundo capítulo é
abordado o conceito acerca de psicopatia, a existência entre as ciências do Direito Penal e a
13

Psiquiatria Forense, o histórico e sua natureza jurídica. Além de descrever a quão decisiva é
esta abordagem entre tais ciências para assim podermos ter uma melhor compreensão deste
universo muitas vezes a parte da realidade da nossa sociedade. O terceiro capítulo caracteriza
os fundamentos, a responsabilidade penal do psicopata versus inimputabilidade, as estatísticas
da psicopatia na sociedade e no sistema carcerário, o estudo de casos, com análise em relação
aqueles que ganharam notoriedade na mídia nacional e um breve histórico sobre a incapacidade
de compreender a punição a eles imputadas. No capítulo quatro é apresentada a substituição da
pena por medida de segurança, as espécies de medida de segurança e prazo de duração da
medida de segurança, a aplicação de medida de segurança e interdição civil do psicopata e a
análise jurisprudencial.
14

2. A DEFINIÇÃO DE PSICOPATIA

2.1. DIAGNÓSTICO

Um psicopata é um ser humano inescrupuloso, desprovido de sentimentos e consciência.


Na realidade um psicopata não é considerado um doente mental, por que de fato ele é portador
de uma perturbação na sua saúde mental.
Como bem nos assegura Mecler (2015)1, pode-se dizer que a psicopatia não é
considerada uma condição médica. Neste contexto, fica claro que a psicopatia é considerada
um transtorno de personalidade.
Como bem nos assegura Silva (2014)2, pode-se dizer que os psicopatas se encontram
por toda parte e em todo lugar. Neste contexto, fica claro que desde os mais altos níveis da
sociedade quanto aos mais baixos ninguém está livre de ser enredado pelas teias da perversidade
de um psicopata. O mais preocupante, contudo, é constatar que estes seres psicopatas
são pessoas frias, calculistas, incapazes de produzirem misericórdia além disso não esboçam
qualquer sentimento pelo seu próximo, usando da dissimulação e sedução em benefício próprio.
Trata-se inegavelmente de seres enigmáticos e charmosos, seria um erro, porém, atribuir uma
imagem de uma pessoa com aparência relaxada, malvado e embrutecido. Assim, reveste-se de
particular importância discernirmos quem são estas pessoas que se encontram em nossa
sociedade em todas as esferas. Sob essa ótima, ganha particular relevância encararmos de forma
peculiar esses lobos revestidos com pele de ovelhas. Seres ardilosos, perversos, charmosos e
com um alto poder de sedução que com este artifício não são tidos como suspeitos pois não
demonstram quem na realidade são de fato e de verdade (Silva, Ana Beatriz,2014, p.18,19)3.
Os psicopatas convivem conosco e a maioria das vezes não nos damos conta disso.
Trata-se inegavelmente de um modus operandi sutil, ao qual o psicopata se utiliza
ardilosamente, seria um erro, porém, atribuir a responsabilidade de os identificar apenas aos
profissionais da ciência médica, ou através dos profissionais que atuam no campo jurídico por
se deparem com estes casos em seu cotidiano, do que o restante da sociedade. Assim, reveste-

1
MECLER, K. Psicopatas do Cotidiano: como reconhecer, como conviver, como se proteger .Rio de Janeiro:
Casa da Palavra, 2015,p. 58-59.
2
SILVA, A. B. Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado. 2ª.ed.-São Paulo: Globo, 2014, p.18.
3
SILVA, A. B. op. cit.,18-19.
15

se de particular importância buscarmos dar uma atenção especial a este tipo de pessoa, não os
subestimarmos e abrirmos os nossos olhos para podermos enxergar a realidade como de fato
ela é. Sob essa ótima, ganha particular relevância não sermos ingênuos, pelo contrário, cabe a
cada um de nós buscarmos com diligência conhecer e identificá-los para não cairmos em suas
ciladas. Conforme explicado acima uma vez que o conhecemos, identificamos e nos cercamos
de cautela ficará bem mais difícil estes seres psicopatas encontrarem oportunidade para agirem.
Pode-se dizer que em algum momento da nossa vida já nos relacionamos com um
psicopata sem nos darmos conta disso. Neste contexto, para (Bárány, 2017)4 fica claro que há
a necessidade de se ter um conhecimento aguçado, peculiar e profundo acerca do
comportamento e atitudes de um psicopata. O mais preocupante, contudo, é constatar que o
psicopata age como um predador em busca da sua presa. A autora deixa claro que ninguém está
isento de cair nas garras de um psicopata, inclusive peritos e investigadores experientes de
alguma maneira e forma já foram envolvidos nas teias de um psicopata. Cabe salientar que o
que mais interessa não é saber a respeito dos psicopatas que estão aprisionados, pois estes por
um tempo estão fora de circulação. Oque se torna de suma importância é identificar aqueles
psicopatas que estão em circulação no nosso cotidiano, aquele famoso boa pinta, envolvente,
charmoso e sedutor. É por este motivo que se faz extremamente necessário identificar as facetas
do psicopata que age como um camaleão, mudando de cor conforme a situação, no caso
concreto, este se apresenta conforme o momento e a necessidade dos seus próprios interesses.

Segundo Bárány ( 2017, p. 22,23 )5, O abusador pode estar sentado com você
em sua sala de aula. Pode ser seu chefe, seu médico, seu terapeuta, seu
professor, colega de trabalho, advogado, líder religioso. Pode ocupar qualquer
posição, desde que, a partir dela, obtenha controle, poder e / ou sexo. Tudo
isso, é claro, de forma velada e disfarçada. Você confiaria em alguém com
cara de mau? É claro que não. Por isso, essas pessoas jamais se apresentam
com a sua verdadeira face.

Todos nós em algum momento da vida já nos deparamos e convivemos com um


psicopata sem ao menos desconfiarmos que assim o fossem. Segundo os autores os psicopatas
estão em nosso meio e são seres acima de qualquer suspeita, procurando ser e fazer tudo aquilo
que uma pessoa espera que o faça, sem levantar suspeitas. Conforme mencionado pelo autor os

4
BÁRÁNY, J. O Mal disfarçado de Bem. São Paulo: Barany, 2017, p.58.
5
BÁRÁNY, J. op.cit., p.22-23.
16

psicopatas são pessoas extremamente frias, calculistas, egoístas, sedutores, manipuladores,


sagazes e desprovidos de misericórdia.
O psicopata não é considerado um doente mental, aliás o termo mais adequado a ser
utilizado é que o indivíduo sofre de perturbação da saúde mental. Conforme leciona Dr. Guido
Palomba6, conceituado psiquiatra forense, com experiência de mais de 45 anos com pacientes
doentes e em elaborar perícias judiciais, diz que o termo mais adequado para os psicopatas é
condutopatas, pois segundo ele a moléstia está na conduta do indivíduo. Ou seja, psicopata é
apenas um sinônimo, pois podem ser reconhecidos pelas suas condutas, porém, como eles não
tem ruptura com a realidade, torna-se muito difícil reconhecer seus comportamentos e
identificá-los. Conforme explicado acima um psicopata não sofre de nenhuma doença mental,
são habitantes de uma zona fronteiriça que vagam entre a normalidade e a loucura por isto estão
integrados no meio social sem levantar suspeitas. Oque os difere da normalidade encontra-se
na deformidade que há neles em relação aos valores éticos, morais e no seu querer. Os freios
são os pesos e contrapesos que trazem equilíbrio e lucidez ao indivíduo considerado normal
para a sociedade. No caso dos psicopatas, por exemplo, são seres desprovidos de senso, freios
e por isto não sentem remorso pelo que fazem. Ao perguntar a um psicopata se ele se arrependeu
do que fez, sua resposta será não, pois são egoístas, desprovidos de piedade, compaixão e
altruísmo.
De acordo com Silva (2014, p. 18)7:

Este livro discorre sobre pessoas frias, insensíveis, manipuladoras, perversas,


transgressores de regras sociais, impiedosas, imorais, sem consciência e
desprovidas de sentimento de compaixão, culpa ou remorso. Esses predadores
sociais com aparência humana estão por aí, misturados conosco, incógnitos,
infiltrados em todos os setores sociais. São homens, mulheres, de qualquer
etnia, credo ou nível social. Trabalham, estudam, fazem carreiras, casam, têm
filhos, mas definitivamente, não são como a maioria das pessoas: aquelas a
quem chamaríamos de pessoas do bem.

A autora deixa claro na citação acima o perfil do psicopata, suas nuances e facetas. Para
isso fora abordado as principais características e comportamentos do psicopata que vive na
sociedade como se fosse um ser humano normal. Cumpre salientar que não podemos subestimar
sua capacidade de persuasão e perspicácia quando deseja obter benefícios em causa própria.

6
PALOMBA, Guido Arturo. Tratado de Psiquiatria Forense Civil e Penal. São Paulo: Atheneu, 2003, p.43.
7
SILVA, A. B. Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado.2ª.ed.- São Paulo:Globo, 2014, p.18.
17

Conforme explicado acima o que importa, portanto, é identificar o perfil do psicopata.


Essa, porém, é uma tarefa que requer uma busca aprofundada acerca do comportamento do
psicopata que vive em nossa sociedade. Vê-se, pois, que não é uma tarefa das mais fáceis. É
preciso ressaltar a capacidade de persuasão e perspicácia do psicopata, infelizmente, estes seres
humanos manipulam e estão acima de qualquer suspeita. Por final, cabe salientar que estamos
diante de uma realidade cruel ora que estes seres abomináveis estão convivendo normalmente
em nossa sociedade fora das grades e por onde passam deixam um rastro de destruição,
arruinando vidas em benefício próprio e sem por isto sentirem culpa.
É interessante, aliás, que um psicopata é um ser dotado de comportamentos antissociais
e criminosos, mas há um fato que se sobrepõe que são os comportamentos sociais desviantes.
Mesmo assim, não parece haver razão para que esperemos estes comportamentos apenas dos
criminosos. Conforme verificado por Hare (2013)8, acerca dos psicopatas que conseguem agir
no lado obscuro da lei e permanecem fora das prisões. Trata-se inegavelmente de que a maioria
dos criminosos não são psicopatas, seria um erro, porém, atribuir somente a eles este transtorno.
Assim, reveste-se de particular importância analisarmos cada caso concreto. Sob essa ótima,
ganha particular relevância termos um olhar mais apurado para podermos assim identificarmos
com bastante clareza um psicopata.
Como bem nos assegura Hare (2013)9, pode-se dizer que a definição de psicopatia está
relacionada a um conjunto de traços de personalidade.
Neste contexto, fica claro existência de comportamentos sociais desviantes. O mais
preocupante, contudo, é constatar que pessoas consideradas normais podem apresentar os
mesmos sintomas dos psicopatas e não serem um. Não é exagero afirmar que ainda há uma
dificuldade em diagnosticar com precisão um psicopata. Assim, preocupa o fato de que estes
estão livremente convivendo em sociedade, isso porque os psicopatas se consideram vítimas e
não se preocupam em nada com os sentimentos dos outros.
É interessante, aliás observarmos o modus operandi dos psicopatas, mas há um fator que
se sobrepõe a conduta e ao comportamento destes seres humanos. Que estão relacionados a
frieza, a falta de consciência e serem totalmente inescrupulosos.
Mesmo assim, não parece haver razão para que venhamos desistir de conhecermos suas

8
HARE, R. D. Sem Consciência: O Mundo Perturbador dos Psicopatas Que Vivem Entre Nós. Porto Alegre:
Artmed, 2013, p.40.
9
HARE, R. D. op.cit., p.40-59.
18

dinâmicas, pelo contrário. É sinal de que há, enfim, uma luz no fim do túnel, ao buscarmos
incessantemente o amadurecimento na identificação de tais seres abomináveis.
Conforme explicado acima devemos nos debruçar em pesquisas e estudos apurados para
termos bagagem suficiente para sabermos lidar com estes seres que tanto destroem vidas e a
sociedade como um todo.
De acordo com Hare (2013, p.40,58,59)10:
A psicopatia por sua vez é definida como um conjunto de traços de personalidade e
também de comportamentos sociais desviantes. A maioria dos criminosos não é psicopata, e
muitos dos indivíduos que conseguem agir no lado obscuro da lei e permanecem fora da prisão
são psicopatas.
Muitas das características apresentadas por psicopatas, em especial egocentrismo,
ausência de remorso, emoções rasas e falsidade, estão estreitamente relacionadas com uma
profunda falta de empatia. Eles parecem incapazes de se colocar no lugar do outro, de estar na
pele do outro, a não ser no sentido puramente intelectual. Os sentimentos das pessoas não
preocupam nenhum um pouco os psicopatas.

Figura1: Escala PCL-R


Fonte: BÁRÁNY.J. Psicopatas entre nós.
Brasil. 2019. Disponível em: <http://psicopatasentrenos.com.br/psicopatas-entre-nos /> Acesso em:04.out.2019.

10
HARE, R. D. Sem Consciência: O Mundo Perturbador dos Psicopatas Que Vivem Entre Nós. Porto Alegre
: Artmed, 2013, p.40-58-59.
19

Podemos perceber na ilustração os principais fatores que dimensionam a psicopatia,


logo os dados revelam muito mais do que apenas a identificação de um psicopata. Além de
definir como se desenvolve um psicopata, quais são os seus comportamentos perante a
sociedade e as pessoas, também descreve o seu modus operandi, suas atitudes e sentimentos.
Esta pesquisa tem por objetivo abrir os nossos olhos para uma realidade cruel nos mostrando
que o inimigo pode estar ao nosso lado e não percebermos. A importância de se conhecer as
facetas de um psicopata assassino e o que o difere de um criminoso comum auxiliará a
sociedade quanto a mudança de hábitos, de costumes e até mesmo uma mudança de mente.

2.2. COMENTÁRIOS MÉDICO-LEGAIS

A psiquiatria forense é uma especialidade da medicina encarregada identificar a doença


mental e oferecer tratamento adequado ao paciente portador de alguma anomalia psíquica, e
que está vinculada ao direito. Por este motivo uma fusão ocorre entre a medicina e o direito
neste aspecto para assim poder entender o caso concreto e o tratamento mais adequado.
Neste contexto, para Telles (2016)11 fica claro que uma vez alterado este comportamento
nos encontramos diante de uma enfermidade mental. O mais preocupante, contudo, é constatar
que uma vez encontrada a ocorrência desta mudança comportamental, alteração de valores e
distorção de sua conduta social e moral, estaremos diante de uma grave doença mental.
Como bem nos assegura Telles (2016)12, pode-se dizer que um indivíduo portador de
algum distúrbio mental perde todo o senso da realidade. Neste contexto, fica claro que este
indivíduo perdeu toda a noção de entendimento e de como agir diante da realidade. O mais
preocupante, contudo, é constatar que diante deste quadro o indivíduo estará diante de grandes
problemas pessoais, sociais e legais. Não é exagero afirmar que perdas significativas e
importantes irão tomar a vida deste indivíduo de uma forma, que este ficará totalmente
comprometido em todo esse processo, ocorreu uma desarmonia, fuga da realidade e alterações
significativas em sua identidade pessoal. Assim, preocupa o fato de que a comunicação torna
inadequada, isso porque suas inclinações, desejos e vontade estarão totalmente comprometidos.
É preciso, porém, ir além em busca de soluções adequadas para cada caso concreto. É
exatamente o caso de analisar a conduta e o comportamento do indivíduo. Por todas essas

11
TELLES, E. A.Psiquiatria Forense de Taborda. 3ª.ed.-Porto Alegre : Artemed, 2016, p.37.

12
Ibidem.
20

razões, que o levaram a agir inescrupulosamente é notório que isso resulta de alguma anomalia.
O que importa, portanto, é modificar a base de experiências estudadas. Essa, porém, é uma
tarefa que envolve tempo, dedicação um olhar único para cada ser humano. Vê, pois, que não
podemos utilizar uma regra única para todos os casos. Conforme explicado acima, uma vez que
o indivíduo perde a noção da realidade, da sua forma de pensamento e raciocínio, óbvio será
que cada vez mais irá cometer atrocidades que irão chocar toda a sociedade.
De acordo com Hare (2013, p. 180)13:
Eu defendo a posição de que a psicopatia emerge a partir de uma interação
complexa - e mal compreendida - entre fatores biológicos e forças sociais.
Minha opinião baseia-se em indícios de que fatores genéticos contribuem para
as bases biológicas, do funcionamento do cérebro e para a estrutura básica da
personalidade, que por sua vez, influenciam o modo como interage com
ambos. De fato, os elementos necessários para o desenvolvimento da
psicopatia, incluindo a profunda incapacidade de experimentar a empatia e
uma gama completa de emoções, inclusive o medo, são fornecidos em parte
pela natureza e, possivelmente, por algumas influências biológicas
desconhecidas sobre o desenvolvimento do feto e do neonato. Em resultado
disso fica muito reduzida a capacidade de desenvolver os controles internos e
a consciência e de estabelecer conexões emocionais com outras pessoas.

Conforme explicado acima o que importa, portanto, é fazer uma análise profundamente
apurada antes de elaborar qualquer diagnóstico precipitado. Essa, porém, é uma tarefa que
envolve estudo, dedicação e um olhar clínico e jurídico. Vê-se, pois, que um psicopata não está
fadado a seguir um caminho pré-escolhido. É preciso ressaltar que o psicopata possui um
alicerce raso, ou seja, sua estrutura é deficitária, infelizmente, existem alguns fatores que
corroboram para que o comportamento deste indivíduo traga uma evolução quanto ao
transtorno. Por final, cabe salientar que uma família disfuncional e um ambiente degradador
são terrenos férteis para aflorar tais transtornos, ora que por óbvio não podemos afirmar que
primariamente o ambiente familiar desestruturado, somado a uma educação precária, com
experiências adversas venha ser o único motivo para a formação de um psicopata. Porém o
papel desempenhado por estes fatores é de suma importância para o desenvolvimento das
facetas de um psicopata.

13
HARE, R. D. Sem Consciência: O Mundo Perturbador dos Psicopatas Que Vivem Entre Nós. Porto Alegre
: Artmed, 2013, p.180.
21

2.3. O COMPORTAMENTO DO INDIVÍDUO PSICOPATA DENTRO DAS RELAÇÕES


SOCIAIS
A maior dificuldade em se identificar um psicopata está exatamente nos seus
comportamentos e atitudes que se assemelham a de qualquer ser humano normal. É fato que os
psicopatas estão no nosso meio, vivendo entre nós, inclusive com aparência semelhante à nossa.
Porém apenas por um importante fator se diferem do restante da sociedade em que vivem, são
seres destituídos de consciência.
Segundo Silva (2014)14, embora a realidade seja dura, esta classe de pessoa nunca irá
experimentar o remorso, a culpa, a mágoa, o engano, até chegarem ao extremo de tirarem a vida
de outra pessoa sem esboçar o mínimo de arrependimento.
Conforme verificado por Silva (2014)15, estes seres humanos são inescrupulosos e
maléficos. Trata-se inegavelmente de camaleões, seria um erro, porém, atribuir a culpa somente
aos psicopatas, uma vez que estes são desprovidos de culpa. Assim, reveste-se de particular
importância identificarmos as facetas do psicopata assassino, seus ardis e disfarces utilizados
para se apresentarem como verdadeiros atores da vida real, sem ficção ou ilusão. Sob essa ótica,
ganha particular relevância aprofundarmos nesta seara assustadora e desafiadora que é a mente
do psicopata.
Conforme explicado acima a ausência de consciência, o comportamento ardiloso e
maléfico faz com que o psicopata se utilize de um disfarce tão perfeito, que nos faz acreditar
que são gente como a gente. Trata-se inegavelmente de uma falácia, seria um erro, porém,
atribuir consciência a todas as pessoas indistintamente. Assim, reveste-se de particular
importância analisarmos a realidade e a sociedade em que vivemos. Sob essa ótica, ganha
particular relevância a máxima que diz que uma vez que um psicopata é desprovido de
julgamentos morais internos e libertos de qualquer constrangimento irão fazer o que bem
entenderem sem por isso sentir culpa.
De acordo com Silva (2014, p. 39)16:
Os psicopatas, em geral, são indivíduos frios, calculistas, inescrupulosos,
dissimulados, mentirosos, sedutores, e que visam apenas o próprio benefício.
São incapazes de estabelecer vínculos afetivos ou de se colocarem no lugar do
outro. São desprovidos de culpa ou remorso, e muitas vezes, revelam-se
agressivos e violentos. Em maior ou menor nível de gravidade, e com formas
diferentes de manifestar os seus atos transgressores, os psicopatas são

14
SILVA, A. B. Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado.2ª.ed.- São Paulo: Globo,2014, p.18.
15
SILVA, A. B. op.cit., p.19.
16
SILVA, A. B. Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado. 2ª.ed.- São Paulo: Globo, 2014, p.39.
22

verdadeiros predadores sociais, em cujas veias e artérias correm um sangue


gélido.

Por fim, podemos chegar à conclusão de que estamos convivendo com um psicopata em
nosso cotidiano e não nos damos conta disso. Logo, é indiscutível que se ainda não conhecemos
explicitamente um psicopata, ao longo da nossa trajetória de vida iremos nos deparar com um.
Nesse sentido, é possível estabelecermos um ponto marcante nestes seres que os difere do
restante da raça humana, ou seja, a impressionante falta de consciência nas relações
interpessoais estabelecidas nos mais diversos ambientes do convívio humano.
23

3. CONCEITO

3.1. O DIREITO PENAL E A PSIQUIATRIA FORENSE: EXISTE COMUNICAÇÃO


ENTRE TAIS CIÊNCIAS?

A psicopatia não está vinculada à loucura e tampouco o é de fato. O conceito de


psicopatia está relacionado a um grave transtorno de personalidade, vinculado a uma
dificuldade comportamental e de adaptação as normas sociais. Podemos encontrar estudos e
pesquisas acerca deste tema desde Freud em 1916 até os dias atuais.
Como bem nos assegura Shine (2005)17, pode-se dizer que através da classificação
realizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que o distúrbio de personalidade tem sua
predominância em manifestações sociopáticas ou associais. Neste contexto, fica claro que um
psicopata não pode ser considerado um louco ou doente mental. O mais preocupante, contudo,
é constatar que os psicopatas se comportam como indivíduos normais. Não é exagero afirmar
que ao longo da nossa vida já encontramos e convivemos no mínimo com um psicopata. Assim,
preocupa o fato de que eles estão em toda a parte, isso porque para alcançar os seus objetivos,
estes indivíduos acabam por ludibriarem suas vítimas sem ao menos sentirem culpados por isso.
Como bem nos assegura Shine (2005)18, pode-se dizer que o psicopata é um ser que
possui dificuldade de adaptação em meio a regras. Neste contexto, fica claro que o psicopata é
dotado de um comportamento ante social. O mais preocupante, contudo, é constatar que estes
seres mentem compulsivamente. Não é exagero afirmar que são pessoas extremamente
agressivas e desrespeitosas com o próximo. Assim, preocupa o fato de que estas pessoas se
encontram em nosso meio, isso porque colocam em risco toda uma sociedade com suas
condutas irresponsáveis e seus comportamentos alheios e indiferentes com a dor e o sofrimento
causado a estes.
Conforme explicado acima, é interessante aliás afirmar acerca da dissimulação e
manipulação que tais indivíduos se utilizam para alcançar os seus objetivos mais sórdidos. São
pessoas totalmente desprovidas de empatia e sensibilidade, pouco se importando com os
sentimentos e sofrimentos alheios. São capazes de encantar e envolver de tal forma, que a

17
SHINE, S. K.Psicopatia - Coleção Clínica Psicanalítica. 3ª.ed.- São Paulo: Casa do Psicólogo Livraria,2005,
p.16.
18
SHINE, S. K. op.cit., p.19-20.
24

pessoa / vítima sente-se inebriada, ficando impossibilitada de discernir o quão perigoso é se


envolver com um ser como este.
Conforme verificado por Bárány (2017)19, ao serem realizados estudos acerca dos
aspectos relacionados aos psicopatas, pode-se perceber que o sistema límbico possui pequena
atividade. Trata-se inegavelmente de redução nas conexões cerebrais, seria um erro, porém,
atribuir a condição de um psicopata pelos resultados obtidos apenas pela sua conduta. Assim,
reveste-se de particular importância ressaltar que além da sua conduta, a condição genética
assume relevância primordial, uma vez que o indivíduo venha nascer desta forma, deve-se ter
a clareza acerca da falta de cura até o presente momento. Sob essa ótima, ganha particular
relevância ter estes parâmetros bem delineados ao lidarmos com um psicopata e identificarmos
assim suas facetas. O autor deixa claro a insensibilidade do psicopata quanto as suas reações
tanto diante de situações e condições favoráveis, naturais e alegres, quanto em situações
adversas, graves e chocantes. Ou seja, não há alteração alguma nem física tampouco psíquica
nesses extremos.
Ambos os autores se utilizaram da classificação de doenças informadas pela OMS
acerca da definição e conceito dos psicopatas. Conforme mencionado pelo autor, ocorre uma
disfunção no sistema nervoso social do psicopata, ou seja, as moléculas emocionais,
sentimentais e psíquicas encontram-se sem conexão.
De acordo com Bárány (2017, p. 458)20,
“A Organização Mundial de Saúde, em sua classificação de doenças, CID-10,
define o psicopata como distúrbio de personalidade dissocial, com
classificação F60.2 ".
Conforme explicado acima, um indivíduo desprovido de conexões emocionais, físicas
e psíquicas é capaz de cometer atrocidades sem por isto sentir culpa ou arrependimento.
Faltando assim com o mínimo de respeito para com o seu próximo, violando direitos de outrem,
enganando, agredindo e desrespeitando para com a finalidade de obter lucro ou apenas pelo seu
bel prazer.
Um psicopata, pode perfeitamente se aproximar de uma mulher com o intuito de enganá-
la, escolhe a dedo sua vítima, estuda sua rotina, seus comportamentos, suas fragilidades e
deficiências para assim atacá-la e alcançar os seus objetivos sórdidos, por exemplo, sabendo
que a mulher vive sozinha, totalmente independente, possuidora de estabilidade financeira, bem

19
BÁRÁNY, J.O Mal disfarçado de Bem. São Paulo: Barany, 2017, p.455.
20
BÁRÁNY, J. op.cit., p.458.
25

sucedida profissionalmente, aproxima-se desta como o homem dos sonhos. Fala tudo o que ela
deseja ouvir, a princípio lhe oferecendo o que ela necessita, aproveitando-se assim da sua
carência até o momento certeiro de cometer o ataque final.
De acordo com Bárány (2017, p. 459)21:
Personalidade Sociopática ou Desordem de Personalidade Antissocial é um
desvio de personalidade cuja característica essencial é um padrão pervasivo
de desrespeito por, ou uma violação dos direitos de outros, que começa na
infância ou início da adolescência e continua na idade adulta. O indivíduo
precisa ter pelo menos 18 anos de idade e apresentar uma história de sintomas
de desvio de conduta antes dos 15 anos de idade. É diagnosticada pela
presença de pelo menos três dos seguintes: Incapacidade de se adaptar as
normas sociais com respeito a comportamentos dentro da lei, conforme
indicado pela repetição de atos que são motivos para a prisão. Engano,
indicado por mentiras repetidas, uso de pseudônimos ou enganar os outros
para fins de lucro pessoal ou prazer. Ausência de remorso, indicada pela
indiferença ou racionalização por ter ferido, maltratado ou roubado outra
pessoa.
A autora deixa claro na citação acima que dentro das características essenciais da
personalidade de um psicopata ocorre a existência de um padrão que se difunde por todo o seu
perfil. Fica claro que para que exista a ocorrência de um diagnóstico acerca de um psicopata,
faz-se necessário identificar a presença pelo menos três sintomas conforme foram explanados.
Por fim, podemos chegar à conclusão de que esta é apenas a ponta do iceberg. Logo, é
indiscutível que outras características podem ser incluídas. Nesse sentido, é possível
encontrarmos psicopatas que não apresentam estes critérios, passando despercebidos aos olhos
clínicos, psiquiátricos sem ao menos serem identificados. Tamanha é a ousadia que o psicopata
possui em ser dissimulador, manipulador e mentiroso.
A origem desse quadro é facilmente encontrada em vasta literatura, seja no campo da
medicina, seja no campo jurídico. Não restam dúvidas de que durante décadas pesquisadores e
estudiosos vem se dedicando em busca de respostas as diversas incógnitas que a mente humana
possa esconder, o que resultou, hoje, num avanço em descobertas significativas. Neste contexto,
para Cardoso (2006)22 fica claro que a medicina legal permeia todas as áreas da ciência jurídica.
Pode-se afirmar que há ligação entre tais ciências com o intuito de elucidar casos, fornecimento
de provas em relação aos delitos ou ilícitos que possam vir a ser cometidos.

21
BÁRÁNY, J. O Mal disfarçado de Bem. São Paulo: Barany, 2017, p.459.

22
CARDOSO, L. M. Medicina Legal para o Acadêmico de Direito. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p.05.
26

Conforme verificado por Cardoso (2006)23, tanto o direito penal quanto a psiquiatria
forense estão ligados entre si. Trata-se inegavelmente de colocar o homem centralizado em
estudos que visem buscar informações acerca de fatos que possam vir a interessar, seria um
erro, porém, atribuir este estudo a uma ou outra ciência. Assim, reveste-se de particular
importância a busca por informações relevantes que possam agregar conhecimento e avanço
para solucionar casos concretos. Sob essa ótima, ganha particular relevância a fusão de ambas
as ciências, tornando-se assim indispensável ao exercício jurídico para solucionar casos que
permeiam o cotidiano e muitas vezes encontram-se sem uma resposta adequada.
Conforme explicado acima, quando se extrai a essência do conhecimento destas duas
ciências, ou seja, o direito penal e a psiquiatria forense, pode-se chegar ao esclarecimento
necessário para solucionar o caso concreto. Uma vez que cada profissional de sua área
específica se dispõe a contribuir com seu conhecimento, estudo e pesquisa na elucidação e
solução de problemas que atingem a humanidade e sociedade como um todo. Avançamos e
crescemos como ciência e como humanidade.
De acordo com Cardoso (2016, p.05)24:
É ela uma disciplina não exclusiva do Direito- ensinada também nas
Faculdades de Medicina- capaz de funcionar como ele de ligação entre as
ciências jurídicas e as ciências biológicas. Delas são extraídos todo os
conhecimentos médicos e paramédicos necessários a elucidação de casos que
requeiram tais saberes. As sociopatias, a determinação ou negação da
paternidade, o reconhecimento de corpos, os casos de envenenamento...
Mesmo dentro de uma área, que em si já é uma parte. Tanto da área médica
quanto da área jurídica- permiti- se ainda mais a sua subdivisão, tão
importante e extenso é o seu terreno de cobertura. Vejamos:
f) Psicopatologia forense: Vale aqui ressaltar que aqui dois ramos distintos
cabem nessa conceituação- o da Psicologia forense e o da Psiquiatria Forense.
Seja como for, percebe-se um estreito um estreito relacionamento entre
ambos, preocupando-se eles com o estudo da alma, da consciência e do
equilíbrio mental entre os seres humanos. Volição, afetividade,
responsabilidade penal e capacidade civil serão alvo de estudos nesta parte da
medicina legal.

Portanto, torna-se evidente o quão importante é a ligação destas ciências. Vê-se, pois,
que diante delas existe a possibilidade de retirar o conhecimento necessário em prol de
solucionar casos concretos. Logo, é indiscutível o fato que estas ciências caminhando em

23
CARDOSO, L. M. op.cit., p.07.
24
Ibidem.
27

sintonia poderão munir-se de conteúdo suficiente para elucidação dos casos mais diversos que
a sociedade se deparar.

3.2. HISTÓRICO
Atribui-se ao termo psicopatia ou especificamente um ser psicopata, a imagem de uma
pessoa com uma péssima aparência, desequilibrado à beira da loucura, com certa razão, já que
o que costuma ocorrer em nossa sociedade com uma certa prevalência é o sensacionalismo, por
isso debate-se tanto acerca desta questão, uma vez que o psicopata não precisa ser
necessariamente um criminoso capaz de cometer os crimes mais hediondos possíveis. Nesse
sentido, há de se ressaltar que os psicopatas estão interagindo em todos os aspectos da nossa
sociedade. Outro fator que também pode ser considerado segundo Huss (2011)25 está em
identificar a psicopatia como um transtorno socialmente devastador, sendo que o psicopata se
torna conhecido por destruir a própria espécie.
A psicopatia tem uma longa trajetória, envolvida pela diversidade, que podemos fazer
uma referência a centenas de anos atrás. Nos primórdios de 1944 a psicopatia era considerada
uma doença mental.
Segundo Huss (2011)26, à medida que o tempo foi passando, outros pesquisadores e
estudiosos do assunto identificaram a psicopatia como o primeiro transtorno de personalidade
a ser reconhecido. Atualmente a psicopatia é utilizada para especificar um transtorno da
personalidade antissocial.
Conforme explicado acima é interessante aliás afirmar, que um indivíduo psicopata
diagnosticado com transtorno de personalidade antissocial se sobressai diante dos demais
devido ao cometimento de uma diversidade de atos criminais, que comumente agem de forma
leviana e inconsequente. Através deste modo de compreender a realidade por meio de
observações e percepções individuais, resultante das experiências do passado e do presente
destes indivíduos pode-se chegar à elaboração do perfil psicopata ou melhor, de um ser
possuidor de um transtorno de personalidade antissocial.
De acordo com Huss (2011, p. 91)27:

25
HUSS, M. T.Psicologia Forense Pesquisa, Prática Clínica e Aplicações. Porto Alegre: Artamed,2011, p.91.
26
HUSS, M.T. op.cit., p.98-99.

27
HUSS, M. T. Psicologia Forense Pesquisa, Prática Clínica e Aplicações. Porto Alegre: Artamed,2011, p.91.
28

O termo psicopatia tem uma história longa e variada que remonta a


centena de anos e até já foi equiparado à psicopatologia geral ou doença
mental.
No entanto, a psicopatia é utilizada agora para especificar um constructo
clínico ou uma forma específica de transtorno de personalidade antissocial
(TPA), que é prevalente em indivíduos que cometem uma variedade de atos
criminais e geralmente se comportam de forma irresponsável.

Portanto, torna-se evidente que os psicopatas não são apenas indivíduos que cometem
crimes hediondos e encontram-se encarcerados. Vê-se, pois, que os psicopatas estão espalhados
por toda a parte, em todo o lugar, inclusive no condomínio onde moramos ou no local onde
trabalhamos. Logo, é indiscutível o fato que os psicopatas se comunicam por toda a sociedade,
cometendo crimes ou não, destruindo-se a si mesmo e ao próximo.

3.3. NATUREZA JURÍDICA


O conceito de psicopatia encontra-se positivado no direito penal através da análise do
grau de periculosidade do indivíduo e o dano causado por seus atos criminosos.

Segundo Dutra (2002, p. 15)28, o conceito de perigosidade ou periculosidade


encontra, certamente, no campo do direito a sua maior sistematização. Esse
juízo de probabilidade assenta-se no conhecimento de que o indivíduo reúne
condições de desajustamento social de tal natureza e tamanho grau que
possibilitam a prática.

É possível verificar, por exemplo, que um psicopata é identificado pelo longo histórico
de infrações e violência cometidos. Através de dados precisos pode-se assim analisar o grau de
periculosidade do indivíduo considerado o psicopata e qual medida deverá ser aplicada ao caso
concreto.
Pode-se dizer que há uma relação entre a falta de capacidade de entendimento do ato
criminoso cometido pelo psicopata com a facilidade que estes têm em reincidir. Neste contexto,
para Dutra (2002) fica claro que para se chegar a um grau de periculosidade faz-se necessário
basear-se em cálculos. O mais preocupante, contudo, é constatar que esta aplicação se limitou
na prática penal somente aos inimputáveis.

28
DUTRA, M. C. As Relações entre Psicose e Periculosidade- Contribuições Clínicas da Concepção
Psicanalítica da Passagem ao Ato. 1ª.edª.-São Paulo: Annablume,2002, p.15.
29

De acordo com Dutra (2002, p.16)29:


Na linha do que foi exposto, entendemos que o conceito de periculosidade está
baseado em um cálculo. Trata-se de um cálculo alusivo a probabilidade de que
um indivíduo possa vir a cometer uma passagem ou ato criminoso e essa
previsão visa justamente a possibilidade de prevenção. Essa situação de
probabilidade de crime é considerada pelo Direito Penal como pressuposto
para a aplicação de medidas preventivas, de reajustamento ou segregação, as
chamadas medidas de segurança.

Conforme citado acima, para que o Direito Penal, considere necessário o cometimento
do crime e sua realização torna-se importante observar as possibilidades mais acentuadas dos
atos praticados pelo psicopata, para então aplicar as medidas preventivas. Dessa forma
poderá ser feitos os ajustes necessários, afastar as impossibilidades, trabalharmos a prevenção
e suas possibilidades e utilizarmos a medida de segurança mais adequada diante do caso
concreto.
Conforme verificado por Dutra (2002)30, é de suma importância a análise dos cálculos
para se chegar ao conceito de periculosidade. Trata-se inegavelmente de uma estratégia que
quando bem utilizada trabalhará a prevenção em todos os aspectos, seria um erro, porém,
atribuir somente aos inimputáveis e os considerados doentes mentais a periculosidade. Assim,
reveste-se de particular importância considerar os psicopatas, que não são doentes mentais,
porém, que são indivíduos que oferecem um alto risco para a sociedade e classificá-los com
um grau de periculosidade tão quanto os inimputáveis. Sob essa ótima, ganha particular
relevância a observação deste aspecto pois muitos psicopatas acabam por se tornarem
reincidentes em delitos criminosos por ser desprovidos de entendimento do caráter ilícito dos
seus atos.
Sendo assim, torna-se fundamental ter um olhar mais apurado em relação aos
psicopatas, no que tange o Direito Penal. Podemos perceber conforme citado acima que esse
quadro remete um estudo bem apurado dos psiquiatras forenses, psicólogos forenses e a
psicopatologia forense. Não é exagero afirmar que esse tema necessita de uma abordagem
mais apurada por parte do Direito Penal para somente assim termos a possibilidade de
aplicarmos a medida mais adequada ao caso concreto.

29
DUTRA, M. C. op.cit., p.16.

30
DUTRA, M. C. As Relações entre Psicose e Periculosidade- Contribuições Clínicas da Concepção
Psicanalítica da Passagem ao Ato. 1ª.ed.- São Paulo: Annablume,2002, p.16.
30

4. FUNDAMENTOS

4.1. A RESPONSABILIDADE PENAL DO PSICOPATA E INIMPUTABILIDADE

A história nos mostra que desde os primórdios da civilização já se percebia um


movimento discreto e inquieto da sociedade relacionada tanto aos indivíduos portadores de
doença mental quanto em relação aos seus direitos civis. Nas escrituras dos egípcios, na Bíblia
e nas Leis da Grécia e de Roma já haviam um anúncio antecipado de um tempo que ainda estava
porvir que relacionaria os conceitos da Saúde Mental e da Justiça. Daí então pode-se
compreender a importância dos estudos relacionados a psicopatologia forense que se
entrelaçam com o conhecimento aplicado da Área de Saúde Mental em todos os casos seja de
ordem civil, penal ou trabalhista, uma vez que ocorra a necessidade de comprovar o estado
mental do indivíduo.
O marco inicial das pesquisas acerca da doença mental ocorreu nos primórdios da
evolução humana, quando a sociedade se deparou com os distúrbios mentais que acometiam o
homem. Fica caracterizado que desde o povo egípcio do século XX a.C, passando pela Bíblia,
Grécia e Roma já haviam rumores que apontavam á estudos que deveriam ser realizados com
o intuito de obterem respostas diante de pessoas desprovidas de saúde mental. Neste contexto,
para Segre, Flávio Carvalho Ferraz (2006)31 houve uma evolução em todo o processo de estudos
e por este motivo ocorreram diversas modificações tanto no CID quanto na Classificação da
Associação Psiquiátrica Americana.
Através da Constituição de 1787 dos Estados Unidos da América foi institucionalizado
o conceito de Justiça Civil, através destes movimentos houve emancipação dos países latino-
americanos passando pela Revolução Francesa em 1789 instituindo a defesa dos princípios de
liberdade, igualdade e fraternidade, até 1948 com o surgimento da Declaração Universal dos
Direitos do Homem e do Cidadão. Conforme verificado por Segre, Flávio Carvalho Ferraz
(2006)32, a partir do século XIX até a atualidade implantou-se a moderna psiquiatria ou
psiquiatria científica. Trata-se inegavelmente de três períodos de evolução considerados como
fundamentais, o primeiro período da custódia até a década de 1930, o segundo período
da terapia de 1930 até 1950, e o terceiro período da saúde mental, pós-guerra até os dias atuais,

31
SEGRE, Flávio Carvalho Ferraz; et al. M. Saúde Mental, Crime e Justiça. 2ª. ed. rev. e atual., São Paulo:Edusp,
2006,p.17.
32
SEGRE, Flávio Carvalho Ferraz; et al. M. op.cit., p.18
31

seria um erro, porém, atribuir a apenas um período a modificação como um todo. Assim,
reveste-se de particular importância observar que aspectos de um período evidenciam no
seguinte. Sob essa ótima, ganha particular relevância incluir um período no outro, além de
mostrar-se um período no outro.

Como bem nos assegura Segre, Flávio Carvalho Ferraz (2006)33, pode-se dizer que nos últimos
cinquenta anos a psiquiatria se desenvolveu de uma maneira que houve a necessidade de uma nova
adaptação. Neste contexto, fica claro que acabou por criar-se uma observação fora do comum ao que
tange a saúde-doença do ser humano incluído na sociedade. Contudo, o que se constatou foi que a saúde-
mental não era algo estático, inerte, pelo contrário, em constante evolução.

De acordo com Mecler (2016, p. 42,45)34:


De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os transtornos de
personalidade e de comportamento se manifestam como respostas inflexíveis
a uma ampla série de situações pessoais e sociais. Representam desvios
extremos ou significativos de como o indivíduo médio, em uma dada cultura,
percebe, pensa, sente e, particularmente, se relaciona com os outros. Os termos
dessa definição parecem tão duros e enrijecidos quanto as manifestações dos
transtornos. Há quase três séculos estes desvios despertam o interesse dos
cientistas. Uma das categorias diagnósticas precursoras para a atual
classificação de transtornos de personalidade foi a do psiquiatra alemão Kurt
Schneider. Em 1923, ele publicou o livro As personalidades psicopáticas, em
que as descreveu como variações estatísticas da média normal, com a
peculiaridade de sofrer ou causar sofrimento a sociedade com sua
anormalidade.

Podemos perceber na ilustração abaixo:

Figura 2 Cid10
Fonte: (Mecler, 2015)

33
SEGRE, Flávio Carvalho Ferraz; et al. M. Saúde Mental, Crime e Justiça. 2ª. ed. rev. e atual., São Paulo:Edusp,
2006. p.23-24.
34
MECLER, K. Psicopatas do Cotidiano: como reconhecer, como conviver, como se proteger.Rio de Janeiro:
Casa da Palavra, 2015.p.42-45.
32

Figura 3 DSM5
Fonte: (Mecler, 2015)

De acordo com Segre, Flávio Carvalho Ferraz (2006)35, desde os primórdios da


humanidade já havia preocupação com o indivíduo doente mental e os direitos civis, ao longo
dos tempos até os dias atuais.
1. Século XX a.C primeiras referências feitas pelos egípcios em papiro Kahun acerca
da histeria.
2. Século V a.C Sócrates passa a conceber o Homem como medida universal de todas
as coisas.
3. 427-347 a.C Segundo a visão de Platão o objeto da filosofia é o ser necessário e
absoluto.
4. 384-322 a.C Aristóteles desenvolveu a teoria das sensações com base empirista,
objetivista e naturalista.
5. Século XV e XVI d.C. no período da renascença o médico Paolo Zacchia afirma
que somente o médico tem capacidade para avaliar a condição mental do
indivíduo.
6. Século XVII no período do Iluminismo o médico Vicenzo Chiarugi instituiu um
regulamento que obrigava como dever moral supremo, o respeito ao insano como
indivíduo, abolindo o uso da força física e a utilização de métodos cruéis contra os
pacientes.
A moderna psiquiatria dos dias atuais apresenta três períodos fundamentais da evolução,
custódia, terapia e saúde mental.

35
SEGRE, Flávio Carvalho Ferraz; et al. M. Saúde Mental, Crime e Justiça. 2ª. ed. rev. e atual., São Paulo:Edusp,
2006.p.19.
33

Sendo assim, pode-se observar que já houve um grande avanço dos primórdios até os
dias atuais. Podemos perceber conforme citado acima que esse quadro remete novos conceitos
pois estão interligados e evidentes um ao outro. Não é exagero afirmar que esse tema carece de
pesquisas e avanços dia após dia, para somente então encontrarmos a solução adequada para
cada caso concreto.
Considera-se inimputável aquele indivíduo que é inteiramente incapaz de entender que
através do delito praticado, descumpriu um dever jurídico através das normas impostas pela
legislação vigente. Ou seja, este indivíduo não age de acordo com o entendimento estabelecido.
Conforme verificado por Trindade (2012)36, os psicopatas são indivíduos que no seu
íntimo não possuem a menor ideia e consciência quanto a violação de lei e qualquer sentimento
de culpa. Trata-se inegavelmente de um ser que se sente superior as normas, seria um erro,
porém, atribuir ao psicopata esta nomenclatura de inimputável.
Como bem nos assegura Trindade (2012)37, pode-se dizer que independente dos
posicionamentos e ótica de vários profissionais, o conceito acerca de psicopatia é variável de
um ponto de vista a outro. Neste contexto, fica claro que a psicopatia não pode ser considerada
uma doença conforme as regras estabelecidas. O mais preocupante, contudo, é constatar que
muitos acabam por interpretar que o psicopata é um doente mental quando na verdade não é.
Não é exagero afirmar que o psicopata é possuidor de entendimento e determinação, em todo
esse processo, ocorreu uma perturbação da saúde mental. Assim, preocupa o fato de que os
psicopatas apresentem capacidade mental diminuída, isso porque uma vez que isto ocorra,
conforme o artigo 26 Parágrafo Único do Código Penal, o indivíduo terá sua pena reduzida.
Conforme explicado acima, o psicopata não pode ser considerado inimputável, uma vez
que é possuidor de entendimento e determinação. Embora o psicopata esteja em um estado de
perturbação mental, são totalmente responsáveis por seus atos, pelo ponto de vista jurídico. Por
este motivo, o psicopata possui a capacidade de compreender tanto o caráter lícito quanto o
ilícito do fato praticado e governando suas atitudes e ações.
De acordo com Trindade (2012, p. 179)38:
Mesmo que a psicopatia seja considerada uma patologia social (pelo
sociólogo), ética (pelo filósofo), de personalidade (pelo psicólogo),

36
TRINDADE, J. Manual de Psicologia Jurídica para Operadores do Direito. 6ª.ed.- rev.e atual. Porto Alegre:
Livraria do Advogado,2012, p.171.
37
TRINDADE, J. op.cit, p.179.
38
Ibidem
34

educacional (pelo professor), do ponto de vista médico (psiquiátrico) ela não


parece configurar uma doença no sentido clássico. Nesse aspecto, há uma
tendência universal de considerar psicopatas capazes de entender o caráter
lícito ou ilícito dos atos que pratica e de dirigir suas ações.

Os resultados desse quadro são devidos a observação de várias opiniões de diversos


profissionais que se dispuseram pesquisar e estudar acerca do caso. Por isso, fica evidente que
o psicopata não deve ser isento de pena, uma vez que estes passam apenas por um estado de
perturbação mental. Espera-se, dessa forma buscar pela real condição do psicopata para que
assim sua conduta delitiva não seja privilegiada, tampouco seus atos sejam validados ao longo
da sua existência.

4.2. AS ESTATÍSTICAS DA PSICOPATIA NA SOCIEDADE E NO SISTEMA


CARCERÁRIO
Estamos diante de uma realidade assustadora que vem causando um impacto na
sociedade devastador. Partimos do princípio que é indiscutível o número exorbitante de
psicopatas que estão circulando livremente em nossa sociedade, convivendo conosco em todos
os setores sociais.
Conforme verificado por Silva (2014)39, os psicopatas encontram-se por toda a parte.
Trata-se inegavelmente de pessoas aparentemente normais, seria um erro, porém, atribuir aos
psicopatas uma aparência desleixada, e serem portadores de comportamentos agressivos
inicialmente.
Como bem nos assegura Silva (2014)40, pode-se dizer que muitos psicopatas
permanecem por muito tempo sem serem descobertos ou diagnosticados. Neste contexto, fica
claro que os psicopatas fazem parte do nosso cotidiano, passando despercebido, anônimos,
vivendo de forma comum. Conforme afirma a autora41 os psicopatas somam 4% da população
mundial, desses 3% são homens e 1% mulheres. Podemos dizer que, no Brasil, a cada 25
pessoas 01 é psicopata.

39
SILVA, A. B. Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado. 2ª.ed.-São Paulo: Globo,2014, p.18.
40
SILVA, A. B. op.cit., p.19.
41
NEWS, Redação. De cada 25 pessoas no Brasil, uma é psicopata, diz autora de best-sellers. Simpósio de
integração da Unigran. Dourados. Disponível em: <http://www.revistacorpoemente.com.br/noticias/a-cada-25-
pessoas-no-brasil-uma-e-psicopata-diz-autora-de-best-sellers> Acesso em: 08.out.2019.
35

O mais preocupante, contudo, é constatar que os psicopatas frequentam lugares comuns,


dividem os mesmos ambientes, sem levantarem suspeitas. Não é exagero afirmar que muitos
estão fora do sistema prisional, vivendo como pessoas comuns. Assim, preocupa o fato de que
independe do local onde estejam atuando, os psicopatas deixam um rastro de destruição por
onde passam, isso porque são impiedosos, ausentes de afeto e de natureza assustadora.
Conforme explicado acima, é indiscutível o fato de encontrarmos psicopatas em todas
as camadas da sociedade, sem levantarem suspeitas de quem realmente são de fato e de verdade.
Utilizando-se de disfarces com o intuito de enganarem, manipularem e passarem uma
imagem de pessoas boas. O que torna esta situação preocupante é que uma vez que os psicopatas
são aparentemente inofensivos, as pessoas mais puras e mais sensíveis são o seu alvo predileto.
De acordo com Silva (2014, p. 152)42:
Estudos revelam que a taxa de reincidência criminal (a capacidade de cometer
novos crimes) dos psicopatas é cerca de duas vezes maior que a dos demais
criminosos. E quando se trata de crimes associados à violência, a reincidência
cresce para três vezes mais. Por tudo o que foi visto neste capítulo, distinguir
os criminosos mais violentos e perigosos dos demais detentos pode trazer
benefícios tanto para o sistema penitenciário interno quanto para a sociedade
como um todo. No sistema carcerário brasileiro, não existe um procedimento
de diagnóstico para a psicopatia quando há solicitação de benefícios ou
redução de penas ou para julgar se o preso está apto a cumprir sua pena em
regime semiaberto.

Por fim, podemos chegar à conclusão de que é imprescindível a implantação de


procedimentos que visem diagnosticar os psicopatas antes de concederem benefícios ou
redução de penas. Logo, é indiscutível que se faz necessário políticas públicas serem
implementadas e a criação de projetos de lei que criem a aplicação de métodos de avaliação e
testes que venham diagnosticar o grau de periculosidade destes indivíduos. Nesse sentido, é
possível reduzir a reincidência destes indivíduos na prática de crimes graves e violentos e sua
redução na sociedade como um todo.

4.3. ANÁLISE DE CASOS QUE GANHARAM NOTORIEDADE NA MÍDIA NACIONAL

Um caso que elucida a importância de medidas específicas para avaliação dos psicopatas
é o do Francisco Costa Rocha, conhecido como Chico Picadinho. Embora este caso tenha

42
SILVA, A. B. Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado. 2ª.ed.-São Paulo: Globo,2014, p.152.
36

acontecido há alguns anos, é importante salientar que se no momento em que Chico Picadinho
recebeu a liberdade condicional por bom comportamento tivesse sido realizado um
procedimento preciso de diagnóstico de psicopatia, este indivíduo não teria sido liberto e
tampouco teria matado mais uma vítima com requintes de crueldade mais acentuado do que no
crime anterior.
Pode-se dizer que não fora levado em consideração o parecer elaborado pelo Instituto
de Biopatologia Criminal. Neste contexto, para Silva (2014)43 fica claro que se Chico Picadinho
tivesse permanecido preso, sem sombra de dúvidas, não teria cometido outro crime.
Conforme verificado por Silva (2014)44, no parecer constava que Chico Picadinho era
portador de personalidade com distúrbio profundamente neurótico, excluindo o diagnóstico de
personalidade psicopática. Trata-se inegavelmente de um psicopata frio e indiferente em
relação as suas vítimas, seria um erro, porém, atribuir qualquer benefício a este indivíduo.
Assim, reveste-se de particular importância mantê-lo detido por prazo indeterminado. Sob essa
ótica, ganha particular relevância a elaboração de diagnóstico preciso que o mantenha longe da
sociedade.
Conforme explicado acima, faz-se necessário a elaboração de testes e procedimentos
que identifiquem os psicopatas antes que eles ganhem a liberdade caso estejam presos. Seria
uma maneira de preservar a sociedade de novos cometimentos de crimes bárbaros e hediondos
como os que foram cometidos por Chico Picadinho. Pessoas como Chico Picadinho
representam uma ameaça para sociedade caso sejam libertos.
De acordo com Silva (2014, p. 153)45:
Em 1966, Francisco, que até então parecia ser uma pessoa normal, matou e
esquartejou a bailarina Margareth Suida no apartamento dele, no centro de
São Paulo. Chico foi condenado a dezoito anos de reclusão por homicídio
qualificado e mais dois anos e seis meses por destruição de cadáver. Em junho
de 1974, oito anos depois de ter cometido o primeiro crime, Francisco recebeu
liberdade condicional por bom comportamento. No dia 15 de outubro de 1976,
Francisco matou Ângela de Souza da Silva com requintes de crueldade e
sadismo mais sofisticados que em seu crime anterior.

Portanto, torna-se evidente que um indivíduo como Chico Picadinho é um psicopata frio
e indiferente. Vê-se, pois, que representa uma ameaça a sociedade. Logo, é indiscutível o fato
que uma vez solto, irá cometer novos crimes, sem por isso sentir culpa, remorso ou compaixão

43
SILVA, A. B. Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado. 2ª.ed.- São Paulo: Globo,2014, p.153.
44
SILVA, A. B. op.cit., p.153.
45
Ibidem.
37

por suas vítimas. Por este motivo faz-se necessário a elaboração de políticas públicas e
procedimentos precisos e eficazes que identifiquem e mantenham estes indivíduos fora de
circulação. Atualmente já foi dado prazo para a Secretaria de Saúde Mental escolher o melhor
lugar para Chico Picadinho ser abrigado. Segundo a juíza Sueli Zeraik de Oliveira Armani da
1ª Vara de Execuções Criminais de Taubaté que decidiu a transferência de Chico Picadinho
para uma instituição psiquiátrica. Pois Chico Picadinho ultrapassou os limites de 30 anos na
cadeia ferindo assim o princípio constitucional. Ele pagou sua dívida com a sociedade, porém,
cabe salientar que Chico Picadinho não possui condições de viver em sociedade, devendo
permanecer internado em hospital psiquiátrico devido sua periculosidade.

Figura 4 Chico Picadinho


Fonte: ARAÚJO, Adriana. Justiça ordena que Chico Picadinho deixe a cadeia após 40
Disponível em: <https://recordtv.r7.com/jornal-da-record/videos/justica-ordena-que-chico-picadinho-deixe-a-
cadeia-apos-40-anos-22012019>. Acesso em: 06.out.2019.
38

5. ESTUDO DE CASO

5.1. INCAPACIDADE DE COMPREENDER A PUNIÇÃO

O local escolhido para realização desta pesquisa foi a cidade de São Paulo, mais
especificamente o bairro de Vila Maria, situado na zona norte do Estado. Onde se encontra
internado na Unidade Experimental de Saúde (UES) o detento Roberto Aparecido Alves
Cardoso, conhecido como Champinha. Na época dos fatos, mais precisamente em novembro
de 2003, Champinha então com 16 anos de idade, fora acusado de participar das torturas e dos
assassinatos do casal Felipe Caffé com dezenove anos e sua namorada Liana Friedenbach com
dezesseis anos. O crime ocorreu em uma mata localizada na cidade de Embu- Guaçu, Grande
São Paulo. Não se tem maiores informações acerca do interno, por questões de segurança e
porque as informações são mantidas sob sigilo de Justiça.

Figura 5 Assassinato do casal de namorados Liana Friedenbach e Felipe Caffé


Fonte: TOMAZ, Kleber. Internado há 12 anos, champinha é esperado em fórum de embu-guaçu..
Disponível em:< http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/05/internado-ha-12-anos-champinha-e-esperado-em-forum-de-
embu-guacu.html >
(Foto: reprodução tv globo)2015

Este local de internação (UES) é uma espécie de hospital psiquiátrico e a segurança é


realizada por agentes da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP). Atualmente
Champinha é responsabilidade do Governo do Estado de São Paulo. Embora o tema escolhido
para ser objeto de estudo seja bem amplo, resolvemos delimitá-lo a um estudo de caso
específico com o intuito de procurarmos entender quais medidas estão sendo aplicadas diante
de um caso concreto. Os desdobramentos e as soluções encontradas como resposta à sociedade.
39

Figura 6 Champinha

Fonte: TOMAZ, Kleber. Internado há 12 anos, champinha é esperado em fórum de embu-guaçu.


Disponível em: < http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/05/internado-ha-12-anos-champinha-e-esperado-em-forum-de-
embu-guacu.html>
Reprodução/ arquivo/ tv globo), 2015.

O sujeito de pesquisa deste estudo é o interno Roberto Aparecido Alves Cardoso, o


Champinha, atualmente com 32 anos, que se encontra interditado civilmente na UES, por
decisão da Justiça, porque teria doença mental. Sabemos que no local existem inúmeros
internos, más iremos nos atentar apenas a uma pessoa específica, pois este se enquadra no perfil
psicótico que é tema da nossa pesquisa e trabalho.
Essa pesquisa discorreu através de informações obtidas em reportagens que informavam
acerca do caso.
Várias eram as pessoas ideais para a pesquisa, porém, preferimos nos ater a um indivíduo
específico, por se encaixar no perfil estudado.
As pessoas que poderiam ser objeto de estudo da pesquisa são psicopatas diagnosticados
clinicamente ou não.
Apenas uma pessoa no total foi objeto desta pesquisa.
Um psicopata é portador de uma personalidade ante social, assim, suas características
giram em torno do egoísmo, insensibilidade, irresponsabilidade, impulsividade e incapacidade
de sentir culpa e por que motivo as experiências vividas e a punição não lhe trazem aprendizado.
Ou seja, por serem desprovidos de sentimentos encontrados nos seres humanos classificados
como normais, o psicopata acaba por se tornar incapaz de reconhecer a punição imposta a ele
referente ao crime por ele cometido.
40

Pode-se dizer que mesmo com o passar dos anos os psicopatas permanecem cometendo
violência sem por isso sentirem culpa. Neste contexto, para Huss (2011) 46 fica claro que por
serem desprovidos de remorso, e por não se encaixarem nas normas impostas a sociedade em
geral, conclui-se que os psicopatas são capazes de causar prejuízos imensuráveis as suas vítimas
devidas a esta falta de parâmetros equilibrados.
Como bem nos assegura Huss (2011)47, pode-se dizer que não há conclusões definitivas
quanto ao aumento ou diminuição da violência cometidos por psicopatas ou não psicopatas.
Neste contexto, fica claro que o fator determinante está relacionado aos diversos sintomas
exibidos pelos psicopatas. O mais preocupante, contudo, é constatar que os psicopatas possuem
uma deficiência em seus comportamentos. Não é exagero afirmar que por ausência de
parâmetros e equilíbrio emocional, os psicopatas são mais propensos a cometerem atrocidades
tamanha, que acabam por deixar a sociedade em perplexidade. Assim, preocupa o fato de que
os psicopatas tem uma probabilidade maior de causar danos graves e violentos ao próximo, isso
porque não mantem controle emocional.
Conforme explicado acima, fica claro que o caminho em busca de respostas e soluções
é árduo e tortuoso. Ousamos dizer que o psicopata pode ser considerado uma caixinha de
surpresas, que não se sabe ao certo o que sairá de dentro. Oque se constata e que precisa ser
levado mais em consideração principalmente pelos operadores de Direito, está relacionado a
valores e critérios de análise num caso concreto. Quanto mais raro for o ato, mias anormal ele
será. Hoje é anormal, amanhã não será. Sempre haverá aqueles indivíduos capazes de assassinar
seus pais, filhos, entes queridos por motivos fúteis e sem cabimento algum.
De acordo com Huss (2011, p. 100)48:
A literatura deixa muito claro que a psicopatia desempenha um papel único
na expressão da violência. Embora os psicopatas devam constituir apenas 25%
dos agressores criminais, eles podem responder por uma quantidade
desproporcional da violência cometida. A violência psicopática apresenta
várias características importantes que a tornam especialmente problemática e
singular em comparação a maior parte dos outros tipos de violência. Contudo,
a ligação entre a psicopatia e o comportamento criminal e violento não está
simplesmente limitada aos infratores em geral, mas foi verificada também em
outros tipos de comportamento criminal.

46
HUSS, M. T. Psicologia Forense Pesquisa, Prática Clínica e Aplicações. Porto Alegre: Artamed,2011, p.99.
47
HUSS, M.T. op.cit., p.99-100.
48
Ibidem
41

Conforme explicado acima o que importa, portanto, é analisar a natureza geral da


violência causada pelos psicopatas. Essa, porém, é uma tarefa que requer análise profunda,
acerca do momento em que vive o psicopata. Vê-se, pois, que se este teve tempo para planejar,
seu objetivo é claro quanto ao que pretende realizar, ou se agiu conforme o seu estado
emocional, por impulso, diante de uma situação que o impeliu a agir no calor da emoção. É
preciso ressaltar que diante de tudo o que vivemos e presenciamos através das informações e
dos casos concretos não há fórmula mágica, infelizmente, a realidade que se perpetua é cruel.
Por final, embora os psicopatas saibam muito bem o que estão fazendo e cometendo, não
aprendem com as experiências vividas, ora que a punição não lhes incute sofrimento, uma vez
que estes são desprovidos de sentimentos, incapazes de assim compreenderem a punição a eles
imposta.
42

6. SUBSTITUIÇÃO DA PENA POR MEDIDA DE SEGURANÇA, ESPÉCIES DE


MEDIDA DE SEGURANÇA E PRAZO DE DURAÇÃO DA MEDIDA DE
SEGURANÇA

6.1. DA APLICAÇÃO DE MEDIDA DE SEGURANÇA E DA INTERDIÇÃO CIVIL DO


PSICOPATA
Um dos pressupostos a serem observados acerca da substituição da pena pela medida de
segurança está baseado na condição do agente compreender o caráter ilícito da sua conduta ou
não.
Como bem nos assegura Araújo (2017)49, pode-se dizer que nosso Código Penal
Brasileiro adotou o sistema Biopsicológico acerca da inimputabilidade por doença mental.
Neste contexto, fica claro que para que ocorra a exclusão da culpabilidade, faz-se necessário
que o agente não tenha condições de entender o caráter ilícito da sua conduta, não bastando
apenas este ser portador de uma patologia mental. O mais preocupante, contudo, é constatar
que caso o agente venha atuar em seu intervalo de lucidez, mesmo sendo portador de uma
doença mental, estará sujeito a sanção penal. Não é exagero afirmar que deve ser investigado
minunciosamente a real capacidade e autodeterminação deste indivíduo em todo esse processo.
Assim, preocupa o fato de que em muitas situações restringe-se uma relação entre a doença
mental e a inimputabilidade, isso porque a responsabilidade penal está condicionada ao domínio
consciente da vontade do agente.
Conforme descrito no Artigo 96 do Código Penal50- As medidas de segurança são:
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro


estabelecimento adequado; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - sujeição a tratamento ambulatorial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Pode-se dizer que para ser aplicada uma medida de segurança torna-se necessário que o
agente seja considerado inimputável, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato.

49
ARAÚJO, R. S. Consentimento do Titular do Bem jurídico. 1ª.ed.-Rio de Janeiro: Gramma, 2017, p.98.
50
BARROSO, D. & Araujo Junior, Marco Antonio.Vade Mecum OAB & Concursos. 12ª.ed.-São Paulo: Saraiva,
2019, p.471.
43

Neste contexto, para Bitencourt (2018)51 fica claro que o agente deveria ter a consciência da
ilicitude como elemento da sua culpabilidade. O mais preocupante, contudo, é constatar que em
muitas situações o agente não tinha a capacidade de entender em razão da sua doença o caráter
ilícito do fato.
O autor deixa claro que a imputabilidade estará presente segundo o Direito Penal
Brasileiro, em todos os momentos que o agente se apresentar com o mínimo de condições
normais e maturidade psíquica, sendo considerado um indivíduo capaz de seu comportamento
ser determinado pelas leis vigentes e as regras impostas pela sociedade.
Conforme verificado por Bitencourt (2018)52, a inimputabilidade é reconhecida todas as
vezes que o agente for desprovido de maturidade e sanidade mental. Trata-se inegavelmente de
incapacidade de culpabilidade, seria um erro, porém, atribuir qualquer entendimento
precipitado sem constatar a consequência psicológica do distúrbio. Assim, reveste-se de
particular importância que o distúrbio identificado esteja em consonância com o distúrbio
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado. Sob essa ótica, ganha particular
relevância para o direito penal a constatação da consequência psicológica do distúrbio através
do sistema biopsicológico, para então decidir se o sujeito será punido ou não com uma pena.
Pode-se dizer que para aplicar a pena o princípio consiste na culpabilidade. Neste
contexto, para Mirabete & Fabbrini (2016)53 fica claro que a medida de segurança é uma sanção
penal. Sendo atualmente uma novidade a criação das medidas de segurança.
De acordo com Greco (2016, p.282)54:
As colocações que devem ser feitas são as seguintes: o semi - imputável foi
condenado; foi-lhe aplicada uma pena; agora, em virtude da necessidade de
especial tratamento curativo, pois sua saúde mental encontra-se perturbada, a
pena privativa de liberdade a ele aplicada poderá ser substituída pela
internação ou pelo tratamento ambulatorial. Embora a lei determine, da
mesma forma que o inimputável, que a internação ou o tratamento
ambulatorial seja por prazo indeterminado, pois o art.98 nos remete ao art.97
e seus §§ 1º ao 4º, entendemos que, nesse caso especificamente, o tempo de
medida de segurança jamais poderá ser superior ao tempo da condenação do
agente.

Conforme explicado acima o objetivo de se aplicar uma medida de segurança ao invés


de uma pena, está em oferecer um tratamento adequado que possibilite a cura para o agente que

51
BITENCOURT, C. R. Tratado de Direito Penal 1 Parte Geral.24ª.ed.- São Paulo:Saraiva,2018, p.641.
52
BITENCOURT, C. R. op.cit., p.695-696.
53
MIRABETE, J. F., & Fabbrini, R. N. Manual de Direito Penal. 32ª.ed.-São Paulo: Atlas,2016, p.255.
54
GRECO, R. Código Penal Comentado. 10ª.ed.-Niterói / RJ: Impetus,2016, p.278-282.
44

praticou um fato típico e ilícito. Cabe salientar que para a aplicação da medida de segurança
aos inimputáveis faz-se necessário que estejam presentes os seguintes pressupostos:
culpabilidade- pena; periculosidade-medida de segurança.
Conforme verificado por Mirabete & Fabbrini (2016)55, a medida de segurança tem
como base a periculosidade. Trata-se inegavelmente de um método de prevenção, tanto para o
indivíduo quanto para a preservação da sociedade em relação a ação destes indivíduos.
Pode-se dizer que se torna obrigatória a aplicação da medida de segurança nos casos
previstos nos arts.26 e parágrafo único c/c art.96 ambos do código penal. Neste contexto,
para Mirabete & Fabbrini (2016)56 fica claro que o juiz tem a possibilidade de aplicar pena com
redução conforme descrito no artigo, ou substituí-la por medida de segurança, dependendo do
caso concreto, à medida que o agente necessitar de tratamento que melhor se adeque a sua
condição.
De acordo com Greco (2016, p.280)57:
A medida de segurança, como providência judicial curativa, não tem prazo
certo de duração, persistindo enquanto houver necessidade do tratamento
destinado à cura ou à manutenção da saúde mental do inimputável. Ela terá
duração enquanto não for constatada, por meio de perícia médica, a chamada
cessação de periculosidade do agente, podendo, não raras vezes, ser mantida
até o falecimento do paciente.
Conforme citado acima, podemos chegar à conclusão de que diante do caso concreto a
medida de segurança é a melhor decisão que pode ser tomada pelo juiz. Logo, é indiscutível a
análise criteriosa no que se refere a periculosidade do agente, o fato cometido e a ilicitude.
Nesse sentido, é possível aplicar um tratamento adequado ao agente, beneficiando tanto este
quanto a sociedade como um todo.
Quem tem competência para aplicar a medida de segurança é o juiz das execuções.
Conforme descrito no Art. 66 Lei 7210/1984-Compete ao Juiz da execução: V - determinar: d)
a aplicação da medida de segurança, bem como a substituição da pena por medida de segurança;
Pode-se dizer que uma vez reconhecido os pressupostos descritos nos artigos 386, VI e
parágrafo único, III, e 492, II, "c", ambos do Código Processo Penal, será aplicada a medida de

55
MIRABETE, J. F., & Fabbrini, R. N. Manual de Direito Penal.32ª.ed.- São Paulo: Atlas,2016, p.355.
56
MIRABETE, J. F., & Fabbrini, R. N. op.cit., p.362.
57
GRECO, R. Código Penal Comentado.10ª.ed.- Niterói: Impetus, 2016, p.278-280.
45

segurança. Neste contexto, para Mirabete & Fabbrini (2016)58 fica claro que para ser aplicada
tal medida faz-se necessário que o agente seja portador de doença mental ou perturbação de
doença mental.
Cabe salientar que um psicopata é portador de uma perturbação mental, e não pode ser
considerado um doente mental. Sendo necessário que seja atestado sua incapacidade de dirigir
a sua própria vida. O que interfere diretamente na questão civil do indivíduo, se este agente
possui suas faculdades mentais normais ou não, dependendo assim de uma interdição e
necessidade de um curador que o represente nos atos da sua vida civil.
Pode-se dizer que a medida de segurança é diferente da pena quanto a sua principal
finalidade. Neste contexto, para Greco (2016)59 fica claro que o intuito de se aplicar uma medida
de segurança é especificamente tratar o indivíduo e preservar a sociedade da violência que estes
possam vir a cometer.
Conforme explicado acima, é de suma importância entender o caráter preventivo e
curativo acerca da aplicação da medida de segurança. Um indivíduo que seja considerado
perturbado mentalmente, diagnosticado com um transtorno de personalidade, deverá ter
aplicado a medida correta e específica para o seu caso. Conforme citado acima encontram-se
positivados no Código de Processo Penal e na Lei de Execução Penal 7210/1984 dispositivos
que asseguram o tratamento adequado para agentes portadores de perturbação mental. E
também referindo-se a Interdição Civil do agente que não pode exprimir sua vontade por causa
permanente ou transitória, conforme o artigo 1767, I, Código Civil / 2002.

Segundo Mangini (2015, p. 357)60, “Nas questões envolvendo interdição, é a


perícia psiquiátrica e / ou psicológica que atesta a (in) capacidade do indivíduo
em gerir sua própria vida, necessitando de curador para representar o
interditado nos atos da vida civil. Até a reforma do Código Civil em 2002,
eram considerados incapazes os loucos de todo o gênero. Com as alterações
trazidas no novo Código Civil, a pessoa com transtorno mental só será
considerada incapaz se existir uma patologia que interfira diretamente em seu
discernimento ou na sua manifestação de vontade. Assim ressalta-se o cuidado
com que o operador do direito deve tratar a questão, evitando que as pessoas
com sintomas indicativos de conflitos emocionais sejam
automaticamente rotuladas como portadoras de doença mental e tenham seus
direitos restringidos.

58
MIRABETE, J. F., & Fabbrini, R. N. Manual de Direito Penal.32ª.ed.- São Paulo: Atlas, 2016, p.357.
59
GRECO, R. Código Penal Comentado. 10ª.ed.-Niterói: Impetus, 2016, p.280.
60
MANGINI, J. O. Psicologia Jurídica. 6ª.ed.- São Paulo: Atlas, 2015, p.357.
46

Portanto, torna-se evidente que cada caso deve ser avaliado com cautela e cuidado. Vê-
se, pois, que deve ser avaliado tanto a questão de interdição, quanto a questão da aplicação da
medida de segurança. Logo, é indiscutível o fato que nenhuma decisão pode ser tomada sem as
devidas precauções, um psicodiagnóstico elaborado por profissional da psicologia ou
psiquiatria que venha atestar a incapacidade do indivíduo.

6.2. ANÁLISE DA JURISPRUDÊNCIA

A melhor maneira de compreender esse processo é considerar o que a Jurisprudência


vem decidindo acerca de casos concretos. Julgo pertinente trazer à tona um Agravo em
Execução Especial acerca de um homicídio qualificado.
Como bem nos assegura o RELATOR MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR
(2018)61, o agente tem clareza do que está fazendo. Neste contexto, não fica caracterizada a
doença mental, pois os crimes ocorrem por vontade própria.
Conforme verificado pelo Ministério Público de Goiás (2018), através da interposição
de Recurso Especial. Trata-se inegavelmente de uma agente que foi diagnosticado um
Transtorno de Personalidade Antissocial que, embora seja catalogado na Classificação
Internacional de Doenças (CID), seria um erro, porém, atribuir a esta doença mental. Assim,
reveste-se de particular importância salientar que o agente não tem afetado o seu pleno
entendimento em relação ao caráter ilícito dos fatos, tampouco a autodeterminação do autor do
delito. Sob essa ótima, ganha particular relevância o modus operandi do agente, que escolhe
suas vítimas aleatoriamente, sem nenhuma motivação aparente e por vontade própria sem ter
nenhum vínculo com doença mental.
Conforme explicado acima, o agente é capaz de entender o ato ilícito praticado. Embora
seja possuidor de um transtorno de personalidade isso não o impede de escolher suas vítimas
com clareza, premeditar e escolher a ocasião perfeita para o cometimento do ato ilícito, o que
não o exime de assumir total responsabilidade por seus atos.

61
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. Acórdão TJ-PB 00167393620148150011. João Pessoa,
PB, 04 de set. 2019. Disponível em:<https://tj-
pb.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/753870311/167393620148150011-pb/inteiro-teor-753870331?ref=serp>
Acesso em: 04.out.2019.
47

De acordo com o AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO


QUALIFICADO. DOSIMETRIA DA PENA. PERSONALIDADE DO AGENTE. (2018, fl.
621):
Adiantamos ainda, que não há indicação de nenhum tratamento em regime de
internação ou sequer ambulatorial, haja visto que não há tratamento
farmacológico e/ou psicoterápico eficaz para este transtorno psiquiátrico.
Acrescentamos tratar-se de indivíduo com periculosidade altíssima, com
tendência natural de reincidência nos mesmos delitos já cometidos além de
predisposição para o cometimento de crimes de outras naturezas. IX -
CONCLUSÃO: O periciando Tiago Henrique Gomes da Rocha não possui
doença mental, nem desenvolvimento mental retardado ou incompleto e nem
dependência química. O periciando Tiago Henrique Gomes da Rocha possui
Transtorno de Personalidade Antissocial (CED-10: F.60.2), porém, mesmo
apresentando tal condição, era à época da ação inteiramente capaz de entender
o caráter ilícito do fato e inteiramente capaz de determinar-se de acordo com
esse entendimento.

Por fim, podemos chegar à conclusão que o agente portador de Transtorno de


Personalidade Antissocial é perfeitamente capaz de discernir o caráter ilícito do ato cometido.
Logo, é indiscutível que não se trata de uma doença mental, uma vez que por vontade própria
o agente comete os crimes. Nesse sentido, é possível que este agente seja considerado
imputável, uma vez que ele tem pleno entendimento do caráter ilícito do ato e conduta orientada
por este entendimento.
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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

É importante ressaltar que o desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma


análise dos casos de psicopatas homicidas que convivem em nossa sociedade, mas, acima disso,
independentemente de ser homicida ou não, o psicopata pode estar convivendo conosco
sem nos darmos conta disso. Uma reflexão a toda sociedade que tem sofrido com as
manipulações e desvios de um indivíduo que muitas vezes é considerado normal, fazendo com
que suas vítimas se passem por loucas e desequilibradas. Ora, além disso, nos permitiu utilizar
diversos recursos didáticos e abordagens doutrinárias, e as questões envolvendo o vínculo que
subsiste entre o viés psicológico e o viés jurídico. Além de avaliarmos como esses recursos
puderam auxiliar na aprendizagem do conteúdo, e trazer à tona a realidade da psiquiatria
forense e a questão jurídica acerca da capacidade de autodeterminação bem como a sua
aplicação na jurisprudência brasileira.
De um modo geral, a discussão a respeito da psicopatia tanto no viés psicológico quanto
no viés jurídico, está cercada de diversidade. Entretanto, a questão que então se discorre tem
sua importância justificada através da dificuldade para a psiquiatria e psicologia estabelecer
limites entre os desvios de conduta, os hábitos inusitados e os transtornos de personalidade. No
campo jurídico um dos fatores que puderam ser observados foram acerca do conceito de
imputabilidade penal, pois não foram encontrados distinção de um doutrinador para outro o que
podemos destacar como essencial para a definição de imputabilidade são as ideias e a
capacidade de processar informações e transformá-las em conhecimento, com base em um
conjunto de habilidades mentais e/ou cerebrais como a percepção, a atenção, a associação, a
imaginação, o juízo, o raciocínio e a memória. Além da capacidade de escolha e da tomada de
decisão preservadas, ou seja, a capacidade de entender e de querer praticar o fato típico,
antijurídico e sua responsabilidade em relação ao fato criminoso.
Este tema desperta interesse em geral no meio acadêmico, na população e sociedade
como um todo, principalmente porque diariamente nos deparamos com casos noticiados pela
internet e pelos meios televisivos informando acerca de pessoas agindo de forma totalmente
contrária a um ser humano normal, em muitos casos com requintes de crueldade. Casos que
tem deixado as pessoas estarrecidas, fora do comum e usual. Quem se beneficiará com este
processo de estudo serão a sociedade como um todo, os profissionais da área da psiquiatria,
psicologia e o meio jurídico que atualmente tem estado em defasagem por não encontrarem a
melhor solução para a aplicação adequada ao indivíduo portador de psicopatia. Assim uma vez
que se consegue compreender os meios utilizados pelos psicopatas, seu modus operandi, suas
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técnicas, podemos nos preparar melhor e assim sabermos lidar com tal indivíduo. Somente
conhecendo como pensa um psicopata, como ele age, alcançaremos o objetivo de preservação
da vida humana.
As pesquisas qualitativas dos dados como método de procedimento, que foram
utilizadas através de pesquisas bibliográficas, nos fizeram compreender como os profissionais
atuam diante de um caso concreto. Através de livros acerca da psiquiatria forense, psicologia e
psicopatologia forense podemos entender os métodos utilizados por estes profissionais para
diagnosticar um indivíduo portador de perturbação mental, suas características e seus
comportamentos mais íntimos.
Nas doutrinas pudemos reforçar o conhecimento de um vasto conteúdo que puderam
esclarecer dúvidas de como identificar um psicopata, como deve ser tratado tanto no campo
jurídico quanto no campo da medicina.
Através dos estudos de casos encontramos um conteúdo enriquecedor de como na
prática e na realidade se trata um psicopata e as soluções encontradas para cada indivíduo e sua
realidade.
Dado à importância do tema, torna-se necessário a implantação e o desenvolvimento de
políticas públicas adequadas que possam dar um melhor tratamento para este indivíduo, além
da criação de presídios específicos voltados exclusivamente para os psicopatas. Como é o caso
da Unidade Básica de Saúde estabelecido na cidade de São Paulo, um projeto implantado pela
antiga FEBEM, este projeto foi sustentado financeiramente pela Secretaria da Saúde e existe
até os dias atuais. Ou seja, o ideal para a melhoria e qualidade de vida tanto dos psicopatas
quanto para a sociedade em geral, é que eles vivam em presídios / cadeias próprias, e convivam
com outros indivíduos iguais a eles, que pensam da mesma forma, com os mesmos interesses e
vontades. Recebendo tratamento psiquiátrico adequado para o seu caso, uma vez que uma
pessoa diagnosticada com esta perturbação mental não se ressocializa devido um transtorno do
desenvolvimento cerebral em várias áreas do cérebro, por ser portador de um defeito funcional
em seu cérebro não existe a possibilidade de tratamento que faça com que o psicopata seja
ressocializado. Cabe salientar que além disso o psicopata possui um alto índice de reincidência
na prática de crimes violentos devido sua personalidade imprevisível. Sendo assim faz-se
necessário a criação de uma equipe multidisciplinar incluindo além dos psiquiatras, psicólogos
e assistente social os juízes, promotores e advogados para analisarem o caso concreto e
definirem a melhor medida a ser aplicada, seja num presídio próprio para psicopatas seja numa
medida de segurança com tratamento adequado.
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O que impulsionou a realização deste trabalho foi entender a dificuldade e compreender


o fato de que a medida que os dias estão passando estamos convivendo com pessoas portadoras
de algum distúrbio, desvio de comportamento e que estas mesmas pessoas estão sendo levadas
a destruição de si mesmas e de outras, o que fica evidente através de análise e estudo que mesmo
com a evolução e até mesmo a revolução ocorrida na sociedade e a celeridade das informações,
percebe-se que o ser humano tem deixado de lado a compaixão, que os tem tornado pessoas
frias, calculistas e sem amor. Assim diante deste cenário entendemos que pode ser resolvido
com a análise de soluções adequadas diante do caso concreto para então podermos encontrar
um caminho que leve ao tratamento adequado e a medida punitiva acertada. Nesse sentido, cabe
a equipe multidisciplinar acompanhar esse psicopata, analisando a possibilidade de progressão
de regime, análise de sua personalidade, avaliação adequada do seu progresso ou retrocesso.
Além disso outro fator importante que deve ser levando em consideração e mudado com
urgência em nosso sistema prisional e jurídico diz respeito a individualização da pena. Em
outros países já existem prisões específicas para psicopatas que cometerem crimes, o que ainda
não ocorre no Brasil. Em nosso país ainda não individualizamos a pena, embora encontra-se
positivada em nossa Carta Magna através do artigo 5º. Nos referimos quanto o oferecimento e
favorecimento ao preso para conseguir ser inserido novamente na sociedade. Ao cumprir
cabalmente sua pena como ocorreu com o Chico Picadinho por exemplo, deveria este ter sua
personalidade avaliada através da intervenção de uma equipe multidisciplinar. Entende-se que
há muito a ser mudado e realizado em nosso sistema jurídico quanto á estes indivíduos de alta
periculosidade que trazem riscos a nossa sociedade. A importância de se conhecer as facetas de
um psicopata homicida irá beneficiar tanto as vítimas que saberão identificá-los quanto a
sociedade que saberá utilizar os meios corretos e adequados para cada caso concreto tanto no
âmbito jurídico quanto no âmbito da medicina em suas diversas especialidades.
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