Você está na página 1de 4

FICHA DE AVALIAÇÃO FORMATIVA 2

NOME: _____________________________________ N.º: ______ TURMA: _________ DATA: _________

GRUPO I

Leia com atenção os primeiros versos do poema «Provincianas», de Cesário Verde. Em caso de
necessidade, consulte as notas apresentadas.

Olá! Bons dias! Em março, E os campos, milhas e milhas,


Que mocetona e que jovem Com povos de espaço a espaço,
A terra! Que amor esparso Fazem-se às mil maravilhas;
Corre os trigos, que se movem Dir-se-ia o mar de sargaço
5 Às vagas dum verde garço!1 30 Glauco,4 ondulante, com ilhas!

Como amanhece! Que meigas Pois bem. O inverno deixou-nos.


As horas antes de almoço! É certo. E os grãos e as sementes
Fartam-se as vacas nas veigas2 Que ficam doutros outonos
E um pasto orvalhado e moço Acordam hoje frementes
10 Produz as novas manteigas. 35 Depois duns poucos de sonos.

Toda a paisagem se doura; Mas nem tudo são descantes;


Tímida ainda, que fresca! Por esses longos caminhos,
Bela mulher, sim senhora, Entre favais palpitantes
Nesta manhã pitoresca, Há solos bravos, maninhos,5
15 Primaveril, criadora! 40 Que expulsam seus habitantes!

Bom sol! As sebes de encosto É nesta quadra de amores


Dão madressilvas cheirosas Que emigram os jornaleiros
Que entontecem como um mosto.3 Ganhões e trabalhadores!
Floridas, às espinhosas Passam clans de forasteiros
20 Subiu-lhes o sangue ao rosto. 45 Nas terras de lavradores.

Cresce o relevo dos montes, [...]


Como seios ofegantes;
Murmuram como umas fontes
Os rios que dias antes
25 Bramiam galgando pontes.

CESÁRIO VERDE, Poesia completa — 1855-1886, edição de Joel Serrão, Lisboa, Dom Quixote, 2001.

(1) verde garço: esverdeado, ou verde-azulado.


(2) veigas: planície fértil.
(3) mosto: sumo da uva antes de se completar a fermentação; vinho.
(4) glauco: esverdeado.
(5) maninhos: estéreis, terrenos incultos.

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 11.º ano • Material fotocopiável • © Santillana


Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1. Uma das características da poesia de Cesário Verde é apresentar uma determinada ideia do
ambiente campestre. Mostre como esta característica está evidenciada nas estrofes
apresentadas.

2. Comprove a presença de uma descrição personificada, quase alegórica, da natureza. Ilustre a


resposta com transcrições textuais.

3. Justifique a utilização do conector «mas» (v. 36), relacionando-o com o conteúdo das duas
últimas estrofes.

Leia a cantiga de amigo de Pero Meogo. Em caso de necessidade, consulte as notas apresentadas.

— Digades, filha, mha filha velida,1


por que tardastes na fontana fria?
(— Os amores ei.)

— Digades, filha, mha filha louçana,2


5 por que tardastes na fria fontana?
(— Os amores ei.)

— Tardei, mha madre, na fontana fria,


cervos do monte a augua volviam.3
(— Os amores ei.)

10 — Tardei, mha madre, na fria fontana,


cervos do monte volviam a augua.
(— Os amores ei.)

— Mentir, mha filha, mentir por amigo,


Nunca vi cervo que volvesse o rio.
15 (— Os amores ei.)

— Mentir, mha filha, mentir por amado,


Nunca vi cervo que volvess’ o alto.4
(— Os amores ei.)

PEDRO MEOGO, «Digades, filha, mha filha velida»,


ed. diplomática de Rip Cohen, 2002.

(1) velida: bonita.


(2) louçana: bela.
(3) volviam: revolviam.
(4) alto: rio.

Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1. Resuma o conteúdo do diálogo apresentado no poema, indicando as personagens que nele


intervêm.

2. Explique de que modo a natureza está presente nesta cantiga de amigo.

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 11.º ano • Material fotocopiável • © Santillana


GRUPO II

Leia a apreciação crítica do filme Uma boa mulher, adaptação do conto «O Leque de Lady Windermere», de
Oscar Wilde. Em caso de necessidade, consulte as notas apresentadas.

UMA BOA MULHER, O LEQUE E O SALAMALEQUE1

Uma boa mulher é uma adaptação da peça de Oscar Wilde «O Leque de Lady Windermere» (que
tinha como subtítulo «Uma peça sobre uma boa mulher»). Os espectadores cinéfilos sabem que cinemato-
graficamente a peça já tem pedigree2 — Ernst Lubitsch3 adaptou-a em 1925, num dos títulos maiores da sua
obra e daqueles incomparáveis anos finais do mudo americano (mas há várias outras adaptações, em várias
5 épocas e vários países).
Esqueçamo-lo, porque para além da matriz literária não há mais nada em comum entre a versão
Lubitsch e o filmezinho de Mike Barker, muito mais primitivo. Uma boa mulher é uma pequena produção,
modesta (e vá lá, honesta), anódina q.b.,4 e que apesar de possuir um cast 5 de respeito (Scarlett Johansson,
Helen Hunt, Tom Wilkinson) é incapaz de se desembrulhar de um registo convencionalíssimo de telefilme
10 (em certos momentos dir-se-ia mesmo de telenovela). Remove por completo o cinismo da história de Wilde,
preferindo concentrar e exponenciar os seus aspetos sentimentalistas, mas evitando sempre olhar para o
abismo — nunca ninguém pensou que «O leque de Lady Windermere» viria a dar um «feel good movie»6 (e
descobrimos no fim que Uma boa mulher nunca quis ser outra coisa).
A curiosidade maior é a transposição da peça para o princípio dos anos 30 e para Itália, em Amalfi,
15 «resort» balnear para nobres ingleses e americanos endinheirados. Da alta sociedade londrina de finais do
século XIX passamos para um retrato «transatlântico» das «idle classes» 7 do período de entre guerras —
sempre tudo muito manso e sem demasiada crueldade. Scarlett Johansson é a Lady Windermere, jovem
(e ingénua) americana (neste caso), recém-casada, que não percebe a estranha influência que outra ameri-
cana (Helen Hunt), mulher de má reputação (no sentido «socialite» da expressão), tem sobre o seu marido.
20 Tom Wilkinson, ator inglês de escola sólida, é quem se sai melhor, no seu pragmático Tuppy — a única
personagem em que se resolve bem a mistura de futilidade e gravidade vinda de Wilde. Depois há um
conjunto de personagens secundárias que só lá estão para encarnarem a «sociedade» (as mulheres) e para
debitarem as máximas «wildeanas» (os homens), numa espécie de «stand-up comedy» permanente
(já alguém lembrou que é como os velhos d’Os marretas8 a recitarem passagens de Wilde).
25 Em resumo: nada disto chega a ser desagradável, é apenas indistinto, indiferente, incolor, inodoro,
insípido, entre muitos outros adjetivos de sentido semelhante que teria cabimento utilizar.

http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/uma-boa-mulher-o-leque-e-o-salamaleque-1653188,
consultado em 29 de dezembro de 2015.

(1) o leque e o salamaleque: expressão que, neste contexto, designa «cortesia exagerada ou afetada».
(2) pedigree : expressão que, neste contexto, significa «história genealógica conceituada».
(3) Ernst Lubitsch foi um ator alemão e realizador de cinema.
(4) q.b.: abreviatura de «quanto baste».
(5) cast: elenco.
(6) feel good movie: filme que tem, normalmente, uma mensagem inspiradora e que promove a sensação de bem-estar
nos espectadores.
(7) idle classes: classes ociosas.
(8) Os marretas: série televisiva norte-americana onde atuavam bonecos felpudos.

1. Para responder a cada um dos itens, de 1.1 a 1.7, selecione a opção correta. Escreva, na folha de
respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.

1.1. Com a referência a Ernst Lubitsch (linha 3), o autor pretende sublinhar que
(A) a peça de Oscar Wilde inspirou a obra de vários cineastas.
(B) o texto de Oscar Wilde é eminentemente cinematográfico.
(C) a obra de Oscar Wilde é um verdadeiro clássico da literatura.
(D) a peça de Oscar Wilde já foi adaptada ao cinema, tendo o resultado sido excelente.

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 11.º ano • Material fotocopiável • © Santillana


1.2. O título Uma boa mulher
(A) traduz a interpretação que o realizador fez da peça de Oscar Wilde.
(B) é baseado no título de uma peça de Oscar Wilde.
(C) é um aproveitamento do subtítulo da peça de Oscar Wilde.
(D) é, segundo o autor da crítica, um mau título.
1.3. Ao utilizar o grau diminutivo — «filmezinho» (linha 7) —, o autor do texto
(A) destaca a originalidade do filme de Mike Barker.
(B) destaca a simplicidade dos efeitos do filme de Mike Barker.
(C) revela que a sua apreciação do filme de Mike Barker é negativa.
(D) sublinha que o filme de Mike Barker é bastante fiel ao texto de Oscar Wilde.
1.4. Um dos aspetos negativos do filme realizado por Mike Barker reside
(A) na escolha do elenco.
(B) no facto de a obra pretender ser um filme positivo e inspirador.
(C) no facto de o filme aproveitar, em demasia, o cinismo que caracteriza os textos de Oscar
Wilde.
(D) no excesso de reflexões sobre o vazio existencial que as personagens enfrentam.
1.5. O autor da crítica elogia
(A) o desempenho de Helen Hunt.
(B) a ingenuidade de Scarlett Johansson.
(C) a transposição da peça para o contexto italiano dos anos 30.
(D) o desempenho de Tom Wilkinson.
1.6. A utilização do verbo «debitar» (linha 25) denota
(A) uma crítica ao excesso de aforismos wildeanos no filme.
(B) a admiração pelo excelente trabalho dos atores.
(C) a atenção do autor da crítica aos pormenores do filme.
(D) uma crítica ao estilo wildeano, caracterizado pela formulação de máximas.
1.7. A referência às semelhanças com Os marretas (linhas 26 e 27) permite ao autor do texto
(A) admitir que o filme tem aspetos humorísticos interessantes.
(B) corroborar a crítica apresentada nas linhas anteriores.
(C) mostrar que o filme é fiel ao espírito do texto de Oscar Wilde.
(D) suavizar a crítica apresentada nas linhas anteriores.

2. Identifique a função sintática das expressões.

a) «de um registo convencionalíssimo de telefilme» (linha 10)


b) «ator inglês de escola sólida» (linhas 21 e 22).

3. Identifique o tipo de coesão assegurada pelo vocábulo «[d]isto» (linha 28).

GRUPO III

«Não se ouvem aves; nem o choro duma nora!»

CESÁRIO VERDE, «Cristalizações».

Num texto bem estruturado, com duzentas (200) a trezentas (300) palavras, apresente a sua opinião sobre
as vantagens de uma vida no campo, em contacto com a natureza.

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 11.º ano • Material fotocopiável • © Santillana

Você também pode gostar