Anexo NT 13 - 2009 - SRD - Aneel

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Implantação de Medição

Eletrônica em Baixa Tensão


Documento Anexo à Nota Técnica nº 0013/2009-SRD/ANEEL, de 28/01/2009

Superintendência de Regulação dos Serviços de Distribuição – SRD

Brasília, Janeiro de 2009


Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
Documento Anexo à Nota Técnica nº 0013/2009-SRD/ANEEL

Conteúdo
1. Introdução ...................................................................................................................3
2. Caracterização do parque de medição brasileiro ...............................................................4
3. Experiências internacionais com a medição eletrônica.......................................................8
3.1. Europa .................................................................................................................8
3.1.1. Itália ..............................................................................................................9
3.1.2. Suécia .........................................................................................................10
3.1.3. Portugal .......................................................................................................11
3.1.4. Espanha.......................................................................................................12
3.1.5. Estônia.........................................................................................................13
3.1.6. Outros países na Europa ................................................................................13
3.2. América do Norte .................................................................................................14
3.2.1. Canadá (Ontário)...........................................................................................14
3.2.2. EUA (Califórnia) ............................................................................................15
3.3. Oceania..............................................................................................................17
3.3.1. Nova Zelândia...............................................................................................17
3.3.2. Austrália (Victoria) .........................................................................................17
4. Análise das funcionalidades da medição eletrônica .........................................................19
4.1. Introdução...........................................................................................................19
4.2. Requisitos mínimos ..............................................................................................19
4.2.1. Requisitos do medidor....................................................................................19
4.2.2. Requisitos de comunicação entre medidor e consumidor ....................................20
4.2.3. Requisitos de comunicação entre medidor e distribuidora ...................................20
4.3. Funcionalidades possíveis e os resultados esperados...............................................21
4.3.1. Grandezas elétricas .......................................................................................21
4.3.2. Indicadores de qualidade................................................................................21
4.3.3. Aspectos tarifários e comerciais.......................................................................21
4.3.4. Interface entre consumidor e medidor...............................................................22
4.3.5. Interface entre distribuidora e medidor..............................................................22
4.4. Questões associadas ...........................................................................................22
5. Sistemática de análise dos custos e benefícios da medição eletrônica no Brasil..................24
5.1. Introdução...........................................................................................................24
5.2. Metodologia ........................................................................................................24
5.3. Considerações Iniciais ..........................................................................................24
5.3.1. Horizonte de tempo........................................................................................24
5.3.2. Taxa de atualização.......................................................................................25
5.3.3. Qualidade.....................................................................................................25
5.3.4. Custo da energia ...........................................................................................25
5.3.5. Custo dos equipamentos ................................................................................25
5.3.6. Custos operacionais.......................................................................................25
5.3.7. Taxa de falha ................................................................................................25
5.3.8. Quantidade de medidores a ser substituídos .....................................................25
5.3.9. Descarte ......................................................................................................26
5.4. Custos................................................................................................................26
5.4.1. Custos da substituição ...................................................................................26
5.4.1.1. Mão-de-obra para a troca.............................................................................26
5.4.1.2. Compra dos equipamentos...........................................................................27

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
Documento Anexo à Nota Técnica nº 0013/2009-SRD/ANEEL

5.4.1.3. Custo ocioso ..............................................................................................27


5.4.2. Custo dos projetos-pilotos...............................................................................27
5.5. Benefícios...........................................................................................................28
5.5.1. Custos Operacionais......................................................................................28
5.5.1.1. Reposição dos medidores ............................................................................28
5.5.1.2. Leitura.......................................................................................................29
5.5.1.3. Corte e Religação .......................................................................................29
5.5.2. Perdas Técnicas............................................................................................29
5.5.3. Perdas Não-Técnicas.....................................................................................29
5.5.4. Mudança de hábitos.......................................................................................30
5.6. Questões associadas ...........................................................................................30
6. Aspectos relevantes para a execução de projetos pilotos .................................................31
6.1. Justificativa .........................................................................................................31
6.2. Quantidade de projetos pilotos...............................................................................31
6.3. O que deve ser estudado nos projetos? ..................................................................32
6.3.1. Eficácia da horosazonalidade tarifária para BT ..................................................32
6.3.2. Confiabilidade dos equipamentos de medição eletrônica.....................................32
6.3.3. Redução dos custos operacionais das distribuidoras ..........................................32
6.3.4. Aceitação e o entendimento da sociedade ........................................................33
6.3.5. Custos .........................................................................................................33
6.3.6. Serviços adicionais ........................................................................................34
6.3.7. Operação e manutenção ................................................................................34
6.3.8. Tecnologias de comunicação ..........................................................................34
6.4. Questões associadas ...........................................................................................35
7. Aspectos regulatórios relevantes ..................................................................................36
7.1. Estratégia comercial versus determinação regulatória ...............................................36
7.2. O que se deve substituir........................................................................................36
7.3. Prazo para substituição.........................................................................................36
7.4. Reconhecimento tarifário ......................................................................................36
7.5. Fiscalização da execução da implantação ...............................................................37
7.6. Conscientização da sociedade...............................................................................37
7.7. Questões associadas ...........................................................................................37
8. Bibliografia ................................................................................................................38

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
Documento Anexo à Nota Técnica nº 0013/2009-SRD/ANEEL

1. Introdução

No Brasil, a medição eletrônica é utilizada principalmente na medição de grandes


montantes de energia. A tecnologia é obrigatória nas medições de consumidores que realizam
comercialização de energia no âmbito do mercado livre e nas fronteiras dos sistemas elétricos de
concessionárias ou permissionárias de transmissão e distribuição.

Apesar do expressivo crescimento do uso da tecnologia nos últimos anos em pequenas


cargas, a medição eletrônica ainda é utilizada de forma limitada no Brasil. Observando a
evolução da tecnologia de medição e a tendência mundial, pode-se constatar que a medição
eletrônica vem substituindo a convencional no setor elétrico e provocando modificações nas
relações entre os agentes.

Entretanto, para que todos sejam beneficiados com a nova tecnologia, é necessário
haver alguns ajustes na regulação atual, e, possivelmente, que se coordene a substituição. Para
tanto, determinados países realizaram profundos estudos sobre o uso da tecnologia em
pequenos consumidores e decretaram a obrigatoriedade da substituição pelo novo tipo de
medição.

A ANEEL iniciou os estudos acerca do tema pretendendo analisar a viabilidade técnica e


econômica do uso da medição eletrônica obrigatória em unidades consumidoras em baixa
tensão. Dentre os diversos benefícios, espera-se uma melhoria da qualidade do serviço prestado
pela distribuidora e o uso eficiente do sistema. Por outro lado, a massificação do uso da medição
eletrônica exige grandes investimentos em longo prazo. Assim, de forma simplificada, a análise
deve concluir se os benefícios da tecnologia superarão seus custos e não onerarão
indevidamente as tarifas dos consumidores finais.

Esta Consulta Pública foi instaurada para envolver toda a sociedade nas discussões.
Baseada em formatos de Consulta de outros paises, as contribuições serão formuladas através
de respostas às diversas perguntas específicas ao longo do texto. Tais respostas ajudarão a
ANEEL a entender os variados pontos de vista e darão suporte para as decisões futuras da
Agência no que diz respeito à medição eletrônica.

As contribuições não devem limitar-se apenas as questões apresentadas ao final de


cada capítulo. É importante que eventuais pontos relacionados ao tema sejam apresentados
como sugestões para análise e consideração.

Este documento discutirá o panorama atual da tecnologia no mundo e fará uma análise
dos possíveis ganhos para os consumidores, distribuidoras, regulador e para o sistema elétrico.
Também se pretende expor a metodologia que será utilizada para mensurar os ganhos e
benefícios, além de receber contribuições para a execução dos projetos pilotos. Por fim, serão
discutidos aspectos técnicos e regulatórios relevantes ao tema.

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
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2. Caracterização do parque de medição brasileiro

Com o objetivo de aprofundar os estudos acerca da possível implantação de medidores


eletrônicos no Brasil, a ANEEL solicitou das concessionárias de distribuição dados relativos ao
parque de medição instalado em baixa tensão. A partir dos dados fornecidos, foi possível
caracterizar o estado atual dos medidores eletromecânicos e eletrônicos.

Construídos a partir das informações de todas as 64 concessionárias, as figuras a seguir


mostram como estão distribuídos os medidores eletromecânicos e eletrônicos, segundo a idade,
por região do Brasil, com dados referenciados a outubro de 2008.

Distribuição de Frequência - Idade do Medidor


Idade Média: 6 anos
Região: Norte
60,00%

52,58%

50,00%

40,00%
Frequência

30,00% 28,94%

20,00%

10,00%

4,11% 4,22% 3,98%


3,04% 3,14%

0,00%
Em estoque 0 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 15 anos 16 a 20 anos 26 a 25 anos + de 25 anos
Faixa de Idade

Figura 1: Distribuição de freqüência por idade dos medidores da Região Norte

Distribuição de Frequência - Idade do Medidor


Idade Média: 11 anos
Região: Nordeste
35,00%

30,89%
30,00%

25,34%
25,00%

20,00%
Frequência

14,94%
15,00% 13,70%

10,00%

6,63% 6,49%

5,00%
2,02%

0,00%
Em estoque 0 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 15 anos 16 a 20 anos 26 a 25 anos + de 25 anos
Faixa de Idade

Figura 2: Distribuição de freqüência por idade dos medidores da Região Nordeste

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
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Distribuição de Frequência - Idade do Medidor


Idade Média: 11 anos
Região: Centro-Oeste
35,00%

30,00% 29,28%

25,34%
25,00%

20,00%
Frequência

18,59%

15,00%

10,42%
10,00%
7,77%

5,17%
5,00% 3,43%

0,00%
Em estoque 0 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 15 anos 16 a 20 anos 26 a 25 anos + de 25 anos
Faixa de Idade

Figura 3: Distribuição de freqüência por idade dos medidores da Região Centro-Oeste

Distribuição de Frequência - Idade do Medidor


Idade Média: 13 anos
Região: Sudeste
35,00%

30,00% 28,90%

25,00%

19,60%
20,00%
Frequência

18,58%

15,00%
12,46%

10,00% 8,57% 8,06%

5,00% 3,83%

0,00%
Em estoque 0 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 15 anos 16 a 20 anos 26 a 25 anos + de 25 anos
Faixa de Idade

Figura 4: Distribuição de freqüência por idade dos medidores da Região Sudeste

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
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Distribuição de Frequência - Idade do Medidor


Idade Média: 14 anos
Região: Sul
25,00%
23,69%

20,00% 19,44%

16,67%

15,00%
13,41%
Frequência

12,15% 12,42%

10,00%

5,00%

2,22%

0,00%
Em estoque 0 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 15 anos 16 a 20 anos 26 a 25 anos + de 25 anos
Faixa de Idade

Figura 5: Distribuição de freqüência por idade dos medidores da Região Sul

Distribuição de Frequência - Idade do Medidor


Idade Média: 12 anos
Região: BRASIL
35,00%

29,86%
30,00%

25,00%

21,05%

20,00%
Frequência

16,86%

15,00%
12,98%

10,00%
8,31% 7,82%

5,00%
3,12%

0,00%
Em estoque 0 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 15 anos 16 a 20 anos 26 a 25 anos + de 25 anos
Faixa de Idade

Figura 6: Distribuição de freqüência por idade dos medidores do Brasil

Nota-se que os medidores das regiões Sul e Sudeste são mais antigos. Isto se justifica,
em parte, pelos recentes programas de universalização da energia elétrica (Luz Para Todos, por
exemplo), que inseriu novos consumidores principalmente nas regiões Norte e Nordeste.

Os números demonstram que o parque de medição brasileiro é relativamente novo, o


que significa que uma eventual substituição destes medidores poderia ocasionar um alto custo
ocioso1. Adicionalmente, observou-se que todos os medidores eletrônicos têm menos de 10
anos, o que já era esperado.

1
Custo ocioso: valor ainda não depreciado do ativo que seria retirado.

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
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Em relação ao tipo de medidor (eletrônico ou eletromecânico), o parque de medição


nacional está distribuído conforme a tabela a seguir apresentada.
Tabela 1: Classificação dos medidores por tipo
Região Tipo de medidor
Geográfica Eletromecânico Eletrônico
Norte 79,09% 20,91%
Nordeste 88,27% 11,73%
Centro-Oeste 96,11% 3,89%
Sudeste 94,60% 5,40%
Sul 97,38% 2,62%
BRASIL 92,61% 7,39%

Nas regiões onde os medidores são mais novos, nota-se uma maior quantidade relativa
de medidores eletrônicos, o que sugere que o medidor eletrônico está substituindo o
convencional nas novas ligações. A partir dos dados enviados pelas concessionárias, conclui-se
que, em todo o Brasil, já há mais de 4,8 milhões de medidores eletrônicos adquiridos (em
estoque e instalados). Porém, a maioria limita-se às mesmas funcionalidades dos medidores
convencionais, ou seja, medem basicamente a energia ativa consumida.

Na tabela seguinte, são apresentados os dados relativos às funcionalidades existentes


no parque de medição eletrônica atualmente. Observa-se uma tendência do uso da medição
eletrônica apenas para medir energia reativa e no combate ao furto. As outras funcionalidades
não são comumente utilizadas no dia-a-dia das distribuidoras, estando limitadas apenas a
projetos pilotos.
Tabela 2: Funcionalidade dos medidores eletrônicos
Medidores Eletrônicos em BT
Funcionalidade %
Energia ativa 100,00
Energia reativa 9,32
Demanda 2,81
Tensão 11,54
Corrente 9,48
Fator de potência 2,61
Memória de massa 1,61
Consumo horário 2,39
Calendário 2,06
Indicadores de continuidade 0,64
Saída óptica 7,68
Saída RS485/232/Euridis/Mbus 11,51
Saída Ethernet 0,14
Outras saídas 7,61
Comunicação PLC 3,71
Comunicação GPRS 3,25
Comunicação RF 0,17
Outras formas de comunicação 0,44

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3. Experiências internacionais com a medição eletrônica

As experiências internacionais sobre a implantação da medição eletrônica se destacam,


principalmente, na Europa e na América do Norte. Diferentes países realizam, ou já realizaram,
trabalhos e análises para aprofundar o estudo a respeito do assunto.

Em determinados locais, o processo já se encontra em etapa avançada na instalação de


medidores eletrônicos e, em alguns casos, o governo (ou o próprio órgão regulador do país)
criou formalmente um plano para implantação em massa desses equipamentos, definindo
prazos, metas e responsabilidades.

Notadamente nos países da Europa, a implantação de sistemas com medição eletrônica


constitui etapa essencial para o desenvolvimento de um mercado livre competitivo e inovador. A
clara definição das características e funcionalidades dos medidores eletrônicos representa, para
esses países, a possibilidade de os agentes comercializadores acessarem diretamente as
informações sobre o consumo de seus clientes, criando meios para que suas ofertas comerciais
sejam mais diversificadas e adequadas a cada segmento de consumidores.

Além do desenvolvimento do mercado livre, outras vantagens também foram almejadas


com a implantação dos sistemas inteligentes de medição: gerenciamento da demanda, uso
eficiente de energia, medição mais freqüente e gerenciamento remoto com conseqüente redução
de custos operacionais. Parte dos países que já implantaram a tecnologia ainda citam a redução
de fraudes e furtos e o monitoramento da qualidade como outros itens motivadores.

As funcionalidades dos medidores e as vantagens decorrentes são tratadas em outro


item deste Anexo. Assim, o objetivo do presente item é ilustrar experiências e mostrar o que já
foi adotado no mundo.

A análise de casos já realizados em outros países pode direcionar as decisões da


ANEEL na definição de um plano de substituição de medidores. Nesse sentido, destaca-se a
importância do conhecimento das melhores práticas já adotadas.

Diante da importância do conhecimento do trabalho realizado em outros paises, em


setembro de 2008, a ANEEL realizou o Seminário Internacional Sobre Medição Eletrônica,
trazendo experiências do órgão regulador espanhol (Comisión Nacional de Energía - CNE) e das
empresas de distribuição da Itália (ENEL S.p.a.) e do Canadá/Ontário (Hydro One Networks).

3.1. Europa
Na Europa, o Grupo de Reguladores Europeus de Energia e Gás (European Regulators’
Group for Electricity and Gas – ERGEG) já realizou estudos e publicou alguns documentos
apontado temas associados e descrevendo eventuais problemas que os diferentes Estados-
Membros poderão avaliar antes de fazer uma decisão política pela implantação em massa de
medidores eletrônicos.

Por meio do documento “Status Review Report on Smart Metering in European


Countries”, o ERGEG descreve a situação até 2006 e a previsão da instalação de medidores
eletrônicos com sistemas de telemedição em diversos países da Europa, conforme ilustrado na
figura seguinte.

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
Documento Anexo à Nota Técnica nº 0013/2009-SRD/ANEEL

Figura 7: Evolução esperada no parque de medição em alguns países da Europa 2

Conforme comentado, os dados do referido relatório são datados de 2006 e, assim,


podem conter informações diferentes da realidade atual, com alguns países em estágio mais
avançado do que o apresentado. Nesse sentido, a informação apresentada sobre a Espanha
para o horizonte 2007-2015 ainda não considerava o plano de substituição em massa aprovado
em 2007.

A seguir são descritas as situações em alguns países, destacando-se aqueles que


possuem determinação legal para a substituição em massa dos equipamentos.

3.1.1. Itália
A experiência italiana é uma referência mundial em termos de medidores eletrônicos
com telemetria, com cerca de 90% das unidades consumidoras em baixa tensão já equipadas
com esses equipamentos. Na Itália, o processo de implantação se iniciou com um programa
voluntário de substituição de medidores lançado pela distribuidora ENEL (a principal distribuidora
daquele país) ainda no final dos anos 90 e a instalação em massa foi iniciada entre 2001 e 2002.

Posteriormente, em 18 de dezembro de 2006, a Autoridade Reguladora de Energia


Elétrica e Gás (Autorità per L'Energia Elettrica e il Gás - AEEG) determinou a plena implantação
de medidores inteligentes, de acordo com exigências funcionais mínimas estabelecidas na
Resolução nº 292/2006. Nesse período ocorreu a aprovação regulatória das atividades
desenvolvidas pela ENEL no que se refere à substituição dos medidores.

Segundo as determinações do regulador italiano, a completa substituição de medidores


deve ser concluída até dezembro 2011, quando todas as unidades consumidoras deverão ser
equipadas com sistemas de medição bidirecionais, utilizando-se tecnologia AMM (Automatic
Meter Management System).
2
Fonte: ERGEG, 2007.

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
Documento Anexo à Nota Técnica nº 0013/2009-SRD/ANEEL

Com a decisão do regulador, a substituição obrigatória deve ocorrer a partir de 2008,


com duração de quatro anos. O programa de substituição envolve todas as distribuidoras,
independentemente do número de consumidores atendidos (ERGEG, 2007).

Tabela 3: Plano italiano para a instalação de medidores eletrônicos em consumidores de baixa tensão 3
Meta percentual de
Fase instalação dos medidores Data limite
eletrônicos
1 25% 31 de dezembro de 2008
2 65% 31 de dezembro de 2009
3 90% 31 de dezembro de 2010
4 95% 31 de dezembro de 2011

Fundamentalmente, o caso da Itália é referência devido ao pioneirismo da empresa


ENEL, que antes mesmo da determinação regulatória já possuía grande quantidade de
medidores implantados. Conforme dados apresentados pela empresa no Seminário Internacional
realizado pela ANEEL, atualmente existem cerca de 31 milhões de medidores instalados, com
350 mil concentradores.

Para alcançar os números apresentados no item anterior, a ENEL desenvolveu processo


próprio de fabricação de medidores. Nesse sentido, a empresa envolveu mais de 7 mil pessoas
na produção e instalação dos equipamentos, atingindo uma taxa de 30 mil medidores produzidos
e instalados por dia.

A iniciativa da ENEL para a implantação de medição eletrônica foi parcialmente


embasada por um alguns motivos que possuem semelhança ao caso brasileiro. Assim, entre as
razões para a implantação da medição eletrônica, ressalta-se que a empresa estava sujeita a
realizar uma ampla quantidade de visitas por ano a unidades consumidoras, como resultado de
ações de fraude e furto de energia por parte dos consumidores. A ENEL ainda tinha dificuldades
para redução da inadimplência, devido ao grande número de áreas de difícil acesso.

O programa de medição inteligente italiano foi denominado Telegestore e utiliza


sistemas AMM para as atividades de telemetria. A tabela seguinte ilustra o histórico de
implementação desse sistema.

Tabela 4: Histórico de implantação de medidores eletrônicos com telemetria na ENEL/Itália 4


2001 2003 2004 2005 2006 2008
Medidores
150 mil 13 milhões 21 milhões 27 milhões 29,8 milhões 31,3 milhões
Instalados
Gerenciamento
N/A 10 milhões 18,8 milhões 26 milhões 28,8 milhões 31 milhões
Remoto

3.1.2. Suécia
Na Suécia, ainda em 2003, foi publicada lei determinando medição horária, a partir de
julho de 2006, para consumidores finais. Segundo a determinação legal, até julho de 2009, todos
os pontos de medição devem ser lidos mensalmente e os consumidores deverão ser faturados
com base em seu consumo real.

3
Fonte: ERGEG, 2007.
4
Fonte: ENEL, 2008.

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
Documento Anexo à Nota Técnica nº 0013/2009-SRD/ANEEL

Embora a lei sueca não prescreva exatamente o modo para alcançar as determinações,
na prática, as unidades consumidoras na Suécia passarão a ter medidores inteligentes a partir
de 1º de julho de 2009. Nesse país, diferentes modelos de medidores e tecnologias estão sendo
implantados.

As distribuidoras, responsáveis pelo processo de leitura dos medidores, assumem o


custo da substituição dos equipamentos. No entanto, a relação custo/benefício é equilibrada,
especialmente em locais com alto custo de leitura manual dos medidores.

Nos invernos de 2003 e 2004, alguns ensaios foram realizados na Suécia a título
experimental, com a finalidade de testar o comportamento da demanda para as horas de ponta.
Os ensaios mostraram que a leitura horária dos dados medidores, combinada com as estruturas
tarifárias adequadas, pode aumentar a sensibilidade dos consumidores aos preços. Dessa
forma, os resultados destacaram a importância da medição eletrônica.

3.1.3. Portugal
Em novembro de 2006, os governos de Portugal e Espanha firmaram o Plano de
Compatibilização Regulatória, pactuando um acordo sobre a necessidade de assegurar a plena
compatibilidade regulatória entre os mercados de energia elétrica desses países, a fim de
permitir o funcionamento do Mercado Ibérico de Energia Elétrica – MIBEL.

Em março de 2007, os governos de Espanha e Portugal decidiram pela introdução de


medidores inteligentes como forma de melhorar o funcionamento de um mercado elétrico ibérico
verdadeiramente integrado, prevendo a aprovação pelos dois governos de um calendário
harmonizado de substituição dos medidores por outros que permitam a telemetria.

Assim, um plano de trabalho foi aprovado pelos dois governos, incluindo as disposições
obrigatórias para a plena implantação de medidores inteligentes. As autoridades reguladoras
foram solicitadas a submeter aos dois governos, até outubro de 2007, um documento conjunto
que descreve as funcionalidades mínimas exigidas de medidores inteligentes para os
consumidores residenciais e propondo um calendário. Os governos também indicaram a
necessidade de que todos os novos equipamentos instalados sejam medidores eletrônicos com
capacidades de medição remota.

Em dezembro de 2007, após consulta pública, o órgão regulador português (Entidade


Reguladora do sistema Elétrico - ERSE) publicou sua proposta para o governo português,
sugerindo um projeto-piloto seguido de implantação da medição eletrônica entre os anos de
2010 e 2015, conforme mostra a figura seguinte. A decisão final adotada pelo Governo
Português ainda não é conhecida.

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
Documento Anexo à Nota Técnica nº 0013/2009-SRD/ANEEL

Figura 8: Proposta da ERSE para o governo português 5

3.1.4. Espanha
A Espanha já adotou regulamentação determinando a substituição obrigatória dos
medidores. Pelo plano de substituição, todos os medidores eletromecânicos devem ser
substituídos por medidores eletrônicos até dezembro 2018.

O prazo total para a implantação é de 11 anos, já que os principais critérios para o plano
espanhol de substituição foram aprovados em dezembro de 2007 por meio do documento
ORDEN ITC/3860/2007, aprovado pelo Ministério da Indústria, Turismo e Comércio da Espanha.

Figura 9: Metas para implementação do plano de substituição de medidores na Espanha 6

Em um documento conjunto sobre a harmonização dos procedimentos de medição,


publicado em fevereiro de 2008, as duas entidades reguladoras (CNE e ERSE) mencionam a
necessidade de harmonizar a medição entre os dois países.

5
Fonte: ERSE, 2007.
6
Fonte: CNE, 2008.

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
Documento Anexo à Nota Técnica nº 0013/2009-SRD/ANEEL

3.1.5. Estônia
Outro país que já possui determinação formal para a substituição é a Estônia. Porém a
substituição é parcial, já que deve atingir, a princípio, menos da metade do número total de
unidades consumidoras do país. Nesse sentido, sistemas AMR devem ser instalados, até 2010,
em cerca de 260 mil unidades consumidoras (41% do total).

3.1.6. Outros países na Europa


Em outros países existem declarações políticas propondo plena implantação dentro de
um determinado número de anos. Nesse sentido, de acordo com o Programa de Governo 2007
na Irlanda, a substituição ocorreria dentro de 5 anos. Já no Reino Unido esse prazo seria de 10
anos.

Na União Européia, somente os quatro países já citados anteriormente (Espanha,


Portugal, Suécia e Itália) possuem formalmente políticas e regulamentos compulsórios
contemplando a obrigatoriedade de substituição total dos medidores. Ademais, a Estônia
implantou substituição obrigatória, porém parcial (RSCAS, 2008).

Alguns países da UE estão em fase de consulta pública, ou acabaram de concluí-la. Na


Áustria e na Irlanda, onde as autoridades reguladoras estão, em princípio, a favor da introdução
de medidores eletrônicos para todos os clientes, os reguladores finalizaram as respectivas
consultas públicas em 2007, e agora estão empenhados em acompanhar projetos.

Deste modo, apesar de poucos países já possuírem políticas para medidores


eletrônicos, as experiências estão sendo analisadas e as políticas públicas estão sob
consideração. A tabela seguinte mostra a situação das políticas adotadas em diversos Estados-
Membros da União Européia.
Tabela 5: Situação do uso da medição eletrônica nos países europeus 7
Implantação Implantação
Implantação em Sem política de
compulsória compulsória
discussão implantação
total parcial
Alemanha X
Áustria X
Bélgica X
Chipre X
Dinamarca X
Eslováquia X
Eslovênia X
Espanha X
Estônia X
Finlândia X
França X
Grécia X
Holanda X
Hungria X

7
Fonte: RSCAS, 2008.

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
Documento Anexo à Nota Técnica nº 0013/2009-SRD/ANEEL

Irlanda X
Itália X
Letônia X
Lituânia X
Luxemburgo X
Malta X
Polônia X
Portugal X
Reino Unido X
República Tcheca X
Romênia X
Suécia X

Ressalta-se que o fato da inexistência de atos compulsórios em alguns paises não


implica na inexistência de sistemas com medidores eletrônicos implantados. Assim, em
diferentes países da Europa já ocorre a atualização do parque de medição, embora não existam
regulamentos normativos para isso. Nesse sentido, relembra-se o caso da ENEL na Itália, que
iniciou um programa de substituição de medidores antes mesmo da determinação regulatória.

Desde 2007 implantações de implantações Automated Meter Management – AMM em


grande escala foram anunciadas, por exemplo, na Alemanha (iniciativa das empresas Yello
Strom e RWE); Áustria (Linz Strom); Dinamarca (Seas NVE, Syd Energi e Energy Midt);
Finlândia (Vattenfal, Fortum, E.ON, Vantaa Energia); França (ERDF); Holanda (Oxxio e NUON);
e Noruega (Kragero Energi).

3.2. América do Norte


3.2.1. Canadá (Ontário)
Em decorrência das dificuldades ocorridas em 2003 no atendimento energético da
região de Ontário, o governo da província estabeleceu uma meta para a redução de 5% da
demanda de ponta no sistema elétrico.

Nessa conjuntura, as funcionalidades e benefícios decorrentes da instalação de


sistemas de medição eletrônica passaram a ser consideradas relevantes para atingir a redução
pleiteada. Apontava-se que uma das vantagens decorrentes dos novos sistemas de medição
seria a possibilidade de utilizar preços diferenciados de forma a alterar os hábitos dos
consumidores durante o horário de ponta.

Em julho de 2004, o Ministério da Energia solicitou que o regulador da província (Ontario


Energy Board - OEB) desenvolvesse e implementasse um plano para atingir as metas do
governo de Ontário. Pelo plano apresentado, há a determinação para instalação de 800 mil
medidores inteligentes até 31 de dezembro de 2007. A instalação deve atingir todos os
consumidores de Ontário (cerca de 4,5 milhões) até 31 de dezembro de 2010.

Na proposta, os grandes consumidores com de demanda superior a 200 kW serão os


primeiros a receber os novos medidores. O restante da instalação irá ocorrer em duas fases

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
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geográficas, começando com grandes empresas de distribuição urbanas, que em conjunto


representam mais de 40% dos consumidores. Posteriormente, em 2008, será iniciada a
implementação no restante da província. Dentro de cada grupo geográfico, a substituição
começaria com consumidores industriais e comerciais com demanda entre 50 e 200 kW, antes
de pequenos consumidores comerciais e residenciais (OFGEM, 2006).

Pela divisão de responsabilidades para a execução do plano, atribuiu-se ao Ministério da


Energia a responsabilidade pelas decisões políticas e de orientação da comunicação com o
público. Ao órgão regulador conferiu-se a tarefa de gerenciar do projeto de instalação da
medição eletrônica, que consiste em rever a estrutura regulatória, incluindo licenças e taxas, e
revisar dos planos das distribuidoras. Coube ao Operador Independente do Sistema Elétrico
(Independent Electricity System Operator) identificar as áreas prioritárias para instalação dos
medidores eletrônicos e monitorar o sistema elétrico após sua instalação.

Já as distribuidoras terão a prerrogativa de escolher o adequado sistema de medição a


ser implantado e vão continuar como responsáveis pela instalação, manutenção e leitura do
medidor. O plano não estipula um sistema específico ou um determinado fornecedor, já que o
tipo de sistema que é melhor para toda área depende de vários fatores, particularmente
densidade de consumidores e fatores geográficos. Cada distribuidora de energia elétrica vai ter
de determinar o que funciona mais adequadamente em sua área de atuação, desde que o
sistema selecionado atenda aos padrões técnicos mínimos propostos pela OEB.

O sistema deve ser capaz de fornecer o mesmo nível de funcionalidade para os


primeiros equipamentos instalados e para toda a escala de implantação na área de atuação da
distribuidora. Acompanhamento, capacidades de gestão e coleta de dados do sistema devem ser
especificados em normas.

As distribuidoras são autorizadas a escolher sistemas inteligentes que possuem funções


aprimoradas, tais como acompanhamento dos níveis de tensão, pré-pagamento, limitação
remota de demanda e corte/religação. A inclusão do custo de tais melhorias nas tarifas de
distribuição dependerá de um plano de negócios aprovado pela OEB.

Em resposta a esse plano, as principais distribuidoras das zonas urbanas da província


estão trabalhando para executar a implantação dos medidores inteligentes para consumidores
em uma área da província. Parte das empresas está realizando projetos-piloto e parte já realiza
implantação em massa de medidores inteligentes.

Como exemplo, cita-se o caso da empresa Hydro One, distribuidora que possui 123 mil
quilômetros de linhas de distribuição para o atendimento de 1,3 milhões de consumidores em
uma área de 640 mil quilômetros quadrados.

Entre 2006 e outubro de 2008, a Hydro One havia implantado cerca de 640 mil
medidores eletrônicos, com instalação de 20% da rede de comunicação necessária. A
distribuidora desenvolveu projetos pilotos antes de iniciar a utilização em massa, testando as
tecnologias de medição e de comunicação de dados. Realizou ainda conscientização e
educação dos consumidores para atingir níveis adequados de aceitação.

3.2.2. EUA (Califórnia)


Na Califórnia, os picos de demanda chegam a altos níveis no verão, influenciados pelas
altas temperaturas e pelo uso de aparelhos de ar condicionado. Em 2003, as três principais

15
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agências da energia na Califórnia - California Energy Commission (CEC), the California Power
Authority (CPA), and the California Public Utilities Commission (CPUC) – aprovaram juntas um
"Plano de Ação da Energia" onde figuram as metas conjuntas de energia para a Califórnia
(OFGEM, 2006).

Como parte desse plano, a CPUC possibilitou programas voluntários de gerenciamento


pelo lado da demanda para grandes consumidores e autorizou um programa piloto de dimensão
estadual de dois anos para estudar a capacidade de gerenciamento de demanda de pequenos
consumidores comerciais e residenciais. Além disso, o CEC providenciou financiamento para
instalar, a partir de 2001, cerca de 23.300 medidores para os grandes consumidores. A CPUC
determinou que as empresas concluíssem o processo e autorizassem o financiamento quando
os fundos em geral fossem esgotados (OFGEM, 2006).

A proposta é de âmbito estadual para a instalação de infra-estrutura de medição


avançada para todos os pequenos consumidores comerciais e residenciais a partir de meados
de 2006, com o apoio de tarifas. As empresas irão implantar os sistemas de medição avançada e
os seus mecanismos de recuperação dos custos serão aprovados pela CPUC (OFGEM, 2006).

Na Califórnia, as empresas de distribuição de energia elétrica são responsáveis pela


medição. Nesse sentido, as empresas apresentaram planos para implantar infra-estrutura de
medição avançada (AMI) ou para desenvolver sistemas para todos os consumidores, para
apreciação em 2005 e 2006. Cada uma das três maiores empresas distribuidoras produziram
seus próprios planos: Pacific Gas e Electric Company (PG&E), San Diego Gas e Electric
(SDG&E), e Southern California Edison Company (SCE).

Dessa forma, no outono de 2006, a empresa PG&E começou a modernização dos


medidores de gás e energia elétrica da área de Bakersfield, uma cidade do sul-central da
Califórnia. A empresa é uma das maiores distribuidoras de gás natural e energia elétrica nos
Estados Unidos e fornece serviços de gás e energia a aproximadamente 15 milhões de pessoas
na área central e norte do Estado da Califórnia

Pela previsão da PG&E, o programa de medição inteligente estará disponível, até 2011,
para todos os consumidores de gás e energia elétrica atendidos pela empresa (5,1 milhões de
unidades consumidoras de energia elétrica e 4,2 milhões de gás natural).

Pelo planejado inicialmente o medidor pode continuar a ser lido manualmente, porém a
telemetria e outros benefícios do programa de medição eletrônica estarão disponíveis durante a
finalização da implantação do sistema. Assim, quando a medição inteligente estiver implantada
em uma determinada área, a coleta remota possibilitará leituras mais freqüentes inclusive em
escala horária. A empresa ainda será capaz de identificar falhas e restabelecer o serviço de
forma mais rápida e o consumidor será capaz de ter acesso aos dados detalhados em tempo
real, e se beneficiar das novas opções de tarifa e melhor gerir o consumo energético e os valores
das faturas.

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
Documento Anexo à Nota Técnica nº 0013/2009-SRD/ANEEL

3.3. Oceania
3.3.1. Nova Zelândia
Na Nova Zelândia, reconheceu-se a instalação de medidores eletrônicos como um meio
para fornecer sinais econômicos aos consumidores de baixa tensão e permitir sinais de preços
para buscar eficiência energética e controle de demanda.

A Comissão de Energia Elétrica, responsável pela regulamentação do setor elétrico na


Nova Zelândia, instaurou em junho de 2007 consulta pública para buscar contribuições e incitar o
debate sobre a medição eletrônica. O resultado esperado da consulta pública era um conjunto de
diretrizes para a introdução de sistemas de medição avançada no país. Depois do fim da
consulta, em maio de 2008, a Comissão decidiu por apenas indicar diretrizes para a implantação
de sistemas de medição inteligente, com orientações consultivas e procedimentos mínimos para
a implantação da tecnologia.

Com isso, na Nova Zelândia, a implantação em massa de medidores eletrônicos não foi
realizada como uma decisão do regulador. Desse modo, a Comissão de Energia Elétrica
considerou a implantação em massa como uma opção de negócio: um investimento comercial
das distribuidoras.

3.3.2. Austrália (Victoria)


Na Austrália, ainda em 2004, a Essential Service Commission determinou a implantação
de medidores inteligentes para todos os consumidores da província de Victoria. Foram
escolhidos medidores com sistemas AMM, considerando a contínua inovação tecnológica. Foi
avaliado que a criação de uma 'base instalada' de medidores horários permitiria um futuro
tecnológico com mais serviços para desenvolver inovações. Sem essa base, existiria incentivo
reduzido para a evolução.

A determinação implica que, nos 5 anos a partir de 2006, cerca de um milhão de


medidores tradicionais seriam substituídos por medidores inteligentes em grandes unidades
consumidoras e em unidades consumidoras com aquecimento elétrico da água. Ademais,
durante um período mais longo, quando um medidor é requerido para uma nova unidade
consumidora ou quando uma substituição é necessária, todos os medidores restantes (cerca de
1,3 milhão) seriam modernizados (ERGEG, 2007).

Para o primeiro nível de pequenos consumidores (os que consomem abaixo 160 MWh
por ano), as distribuidoras tiveram um monopólio no fornecimento de serviços básicos de
medição, cujos custos foram recuperados por meio da tarifa existente. Foi estabelecido que eles
precisariam recuperar os custos adicionais para os medidores eletrônicos através de uma nova
taxa. A Comissão foi favorável à utilização de um compartilhamento de encargos para todos os
consumidores com consumo menor do que 160 MWh por ano. Propôs-se que esta taxa seria
estabelecida, possivelmente como uma taxa de serviço baseada no tipo do medidor, no
momento do próximo período de controle de preços.

Para o primeiro nível de grandes consumidores (os que consomem mais de 160 MWh
por ano), um encargo juntado para os consumidores afetados foi planejado pra ser eqüitativo.
Este arranjo deveria ser alcançado através de uma taxa de serviços excluídos.

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
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Para o segundo nível de grandes consumidores (os que consomem mais de 160 MWh
por ano), os comercializadores (ao invés das distribuidoras) foram responsáveis pela instalação
dos medidores. A oferta deste tipo de medidor já era uma atividade contestável e os encargos de
distribuição não previam a recuperação dos custos no presente caso. Quando, neste segmento,
os medidores inteligentes passaram a ser utilizados, vários comercializadores e consumidores já
haviam financiado os equipamentos. Pareceu razoável, portanto, que os usuários que já
pagaram pelo seu próprio medidor eletrônico não deveriam compartilhar os custos de instalação
de medidores ainda com aqueles do primeiro nível.

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
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4. Análise das funcionalidades da medição eletrônica


4.1. Introdução
O Grupo de Reguladores Europeus para Eletricidade e Gás (ERGEG, 2007) advoga a
posição de que o regulador deve estabelecer um conjunto mínimo de parâmetros para os
medidores instalados. Entretanto, recomenda também que a definição destes requisitos não seja
feita no nível da especificação de equipamentos ou tecnologias, de forma que o responsável pelo
medidor esteja livre para escolher aquela configuração que entender como mais apropriada,
desde que atenda aos parâmetros mínimos definidos por meio da regulação. Os mesmos
requisitos mínimos podem ser alcançados por diferentes soluções técnicas, com vários níveis de
modularidade, interoperabilidade e custos (RSCAS, 2008).

Se, por um lado, o número de funções agregadas ao medidor eletrônico aumenta os


potenciais benefícios que podem ser auferidos, por outro, os impactos sobre o custo do sistema
de medição são, em geral, incrementados. O acréscimo ou a alteração de requisitos técnicos ao
equipamento após a sua instalação, de forma que ele passe a atender a novos critérios
regulatórios, pode resultar em custos consideráveis. Sendo assim, o estabelecimento de um
escopo mínimo de funcionalidades a serem exigidas pelo regulador constitui uma das primeiras
etapas na definição de um regulamento sobre o tema.

Em geral, o que ocorre em mercados regulados é que os investimentos necessários


para a implantação de um sistema de medição eletrônica têm os custos decorrentes
reconhecidos pelo regulador, de forma que o impacto sobre a parcela correspondente da tarifa
reflita o nível mínimo de funções estabelecido. De maneira geral, ao definir tal nível, o regulador
deve assegurar que aqueles objetivos que motivaram a implantação de medição eletrônica
sejam atingidos e que o mesmo conjunto mínimo de funções seja disponibilizado a todos os
consumidores.

4.2. Requisitos mínimos


Ao se tratar das funcionalidades minimamente necessárias, devem ser considerados
três aspectos: o equipamento medidor em si, a interface entre o medidor e o consumidor, e a
interface entre o medidor e a distribuidora.

4.2.1. Requisitos do medidor


Relativamente ao medidor eletrônico, a primeira decisão deve ser a respeito do conjunto
de grandezas relativas à unidade consumidora que serão coletadas. Ao mesmo tempo, deve ser
definido o intervalo de tempo em que estas grandezas serão medidas. Adicionalmente, a atual
tecnologia de medição eletrônica possibilita que a geração local de energia também seja
apurada com as mesmas funcionalidades associadas.

Torna-se necessário definir também a capacidade de armazenamento do medidor, ou


seja, por quantos dias ou meses a informação coletada permanecerá disponível localmente sem
que haja extrapolação da memória do equipamento. Esta decisão tem estreita relação com a
definição do local de processamento das informações: quais dados serão processados no
próprio medidor e quais serão processados remotamente através dos sistemas de informação
associados.

Além das grandezas elétricas a serem medidas, o regulador deverá definir quais
informações acerca da unidade consumidora o medidor deverá ser capaz de coletar. Tais dados

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
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podem variar desde a detecção de fraudes no equipamento até a possibilidade mais sofisticada
de permitir a medição do consumo individual de equipamentos instalados na unidade
consumidora. Por fim, o medidor poderá abranger módulo que disponibilize ao consumidor novas
opões de serviços, tal como a possibilidade de pré-pagamento, o que necessita também de
avaliação do regulador.

4.2.2. Requisitos de comunicação entre medidor e consumidor


Em relação às interfaces do medidor eletrônico, a primeira decisão diz respeito ao fluxo
de dados. Considerando que o equipamento em si e o sistema de comunicação associado
configuram-se em forma de interação entre a distribuidora e o consumidor, é preciso analisar
qual seria a configuração mínima de tráfego de informações entre as duas partes. Basicamente,
deve ser definido se o sistema implantado permitirá apenas o fluxo de dados do medidor para o
sistema central da distribuidora, ou seja, a tecnologia comumente denominada de AMR
(Automated Meter Reading), ou se a configuração mínima definida deve exigir uma tecnologia
bidirecional, sendo possível configurar remotamente os parâmetros do medidor e enviar algum
tipo de informação ao consumidor, a chamada tecnologia AMM (Automated Meter Management
System).

Entre os aspectos a serem analisados acerca da interface entre equipamento eletrônico


e consumidor, pode-se afirmar que o principal deles é a forma como o consumidor terá acesso
às informações que lhe são disponibilizadas. Devem ser analisadas as possibilidades de
instalação do equipamento: no interior da propriedade, de forma externa e centralizada, etc.
Entretanto, independentemente da localização do medidor em si, deve estar ao alcance do
consumidor a visualização de informações a partir de um dispositivo, quer seja parte integrante
do próprio medidor ou uma extensão do equipamento. Além de ser o ponto de recebimento de
informações, também deve ser a partir deste dispositivo que o consumidor poderá interagir com
a distribuidora em relação aos serviços disponibilizados de acordo com a tecnologia de fluxo de
dados estabelecida.

4.2.3. Requisitos de comunicação entre medidor e distribuidora


Relativamente à interface entre o sistema central da distribuidora e o medidor, um dos
principais aspectos a serem avaliados é a tecnologia de transmissão de dados. Atualmente,
estão em uso várias formas de se viabilizar o tráfego de informações: PLC, GSM, GPRS, fibra
óptica, entre outras. Um dos pontos a serem analisados refere-se a quais seriam os requisitos
mínimos que devem ser exigidos destes sistemas de comunicação, ou seja, quais aspectos são
passíveis de regulação, sem que haja necessidade de especificação de equipamentos ou
tecnologias utilizadas.

Além disto, torna-se necessário considerar que ações poderão ser realizadas
remotamente pela distribuidora através do canal de comunicação entre seu sistema central e o
consumidor. Entre aquelas comumente encontradas, adicionalmente à leitura remota das
grandezas elétricas e dos parâmetros de qualidade e continuidade do serviço, estão:
corte/religação remota da unidade consumidora, controle individual da demanda disponibilizada
ao consumidor (para fins de corte seletivo de carga), possibilidade de atualização remota de
aplicativos do medidor. Relativamente à implantação de tarifas diferenciadas por postos
tarifários, deve ser avaliada a necessidade de tecnologia que permita a alteração remota de
parâmetros, tais como: tarifas em tempo real, ciclos de medição (ponta/fora de ponta,
úmido/seco), demanda contratada.

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Outro aspecto que deve ser considerado ao tratar da interface entre distribuidora e
medidor eletrônico são os critérios de segurança da informação que trafegará por este meio. Ao
possibilitar que a distribuidora escolha aquela configuração do sistema de comunicação que
entender como mais apropriada, deve ser devidamente estabelecida também uma forma de
atestar a minimização da possibilidade de violação dos dados, tanto pelos envolvidos no
processo quanto por terceiros. Adicionalmente, deve ser levada em consideração a necessidade
de duplicação e redundância no envio de informações do medidor para o sistema central da
distribuidora, assim como a capacidade de armazenamento do medidor para que possa servir de
fonte de dados quando detectado algum problema no sistema de comunicação.

4.3. Funcionalidades possíveis e os resultados esperados


Em documento enviado a consulta pública sobre substituição de medidores (ERSE,
2007), a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos de Portugal apresenta um conjunto de
funcionalidades que podem ser disponibilizadas pelos medidores eletrônicos, assim como faz
uma breve exposição das vantagens de cada funcionalidade frente ao medidor convencional.
Tomando como referência este documento, a seguir, são apresentados exemplos de
funcionalidades que podem ser implantadas por meio de medidores eletrônicos.

4.3.1. Grandezas elétricas


i. Energia elétrica ativa e reativa. Ao possibilitar a medição nos dois sentidos de fluxo
(medidor de quatro quadrantes), torna-se viável contabilizar a energia elétrica
exportada por geradores eventualmente instalados na unidade consumidora (por
exemplo, energia solar ou eólica). Adicionalmente, torna-se possível mensurar a
energia elétrica reativa consumida ou exportada pela unidade.

ii. Potência ativa e reativa. O registro do valor de potência ativa (e/ou reativa)
demandada pelo consumidor, assim como o seu valor máximo diário, torna-se
importante subsídio para a distribuidora em seus estudos de perfis de consumo e
simultaneidade de carga.

4.3.2. Indicadores de qualidade


i. Registro da freqüência e da duração de interrupções. Informação ao consumidor
sobre a continuidade do serviço prestado e que pode ser utilizada pelo regulador e
pela distribuidora para apuração de metas e para efeito de ressarcimento ao
consumidor.

ii. Registro de informações de tensão e corrente. A coleta de dados como valor eficaz,
freqüência e fator de potência - assim como o tempo em que tais valores
permaneceram fora dos limites especificados - provê informação ao consumidor
sobre a qualidade do serviço prestado, podendo ser utilizada pelo regulador e pela
distribuidora para apuração de inconformidades.

4.3.3. Aspectos tarifários e comerciais


i. Períodos tarifários. Possibilidade de ofertar ao consumidor dois ou mais postos
tarifários durante o dia, refletindo sobre a tarifa paga aspectos relacionados à
disponibilidade da rede elétrica e da energia.

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
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ii. Pré-pagamento. Viabilização técnica de modalidade de pagamento que oferece ao


consumidor maior previsibilidade de gastos e à distribuidora a redução de casos de
inadimplemento.

iii. Múltiplas tarifas. Viabilização técnica de que possam ser ofertadas opções
diferenciadas de tarifas entre as quais o consumidor pode escolher aquela mais
adequada ao seu perfil de consumo.

4.3.4. Interface entre consumidor e medidor


i. Disponibilidade da informação junto ao consumidor. Visualização de dados relativos
à unidade consumidora através de um dispositivo independente do equipamento
medidor, comumente instalado no interior da propriedade. Potencializa tomada de
decisão de forma mais ágil em busca do uso mais eficiente da energia elétrica.

ii. Dados de potência e consumo. O consumidor pode ter acesso a informações como
valor instantâneo de potência demandada e consumo acumulado de energia
diariamente de forma a promover o consumo eficiente. Adicionalmente, os valores
podem ser armazenados no medidor durante certo período para posterior
comparação e conferência com os valores constantes da fatura.

iii. Sinalizações em tempo real. Pode ser visualizado no dispositivo de interface com o
consumidor o valor em tempo real da tarifa de acordo com o posto tarifário do
momento e a modalidade de tarifa escolhida. Também podem ser programados
sinais de alarme que alertam o consumidor acerca de eventos em tempo real, tais
como interrupções e ultrapassagem de valores limite.

4.3.5. Interface entre distribuidora e medidor


i. Atuação remota sobre a unidade consumidora. Possibilidade de a distribuidora evitar
custos de intervenção local, tais como leitura, corte e reativação.

ii. Gerenciamento remoto da carga. Viabilidade técnica de corte seletivo ou


transferência de carga por parte da distribuidora, assim como também possibilita
tecnicamente a aplicação de redução progressiva da demanda disponível para a
unidade consumidora que esteja em situação de inadimplemento.

4.4. Questões associadas


4.a Quais grandezas elétricas deveriam ser medidas pelo equipamento eletrônico no
Brasil?

4.b Quais funcionalidades incorporadas ao medidor deveriam ser consideradas


minimamente necessárias para a implantação deste novo sistema de medição?

4.c Quais os parâmetros de segurança da informação deveriam ser definidos como


obrigatórios para o tráfego de dados entre a distribuidora e a unidade consumidora? O protocolo
de comunicação deve ser público ou ficar a critério da distribuidora?

4.d Como deveria ser garantido que a informação não seja perdida em caso de falta de
energia? Por quanto tempo essa informação deveria ficar guardada no medidor?

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4.e O mesmo conjunto de funcionalidades mínimas do medidor eletrônico deveria ser


disponibilizado a todos os consumidores de baixa tensão ou deveriam existir especificações
distintas por classe de consumidores?

4.f O mesmo sistema de comunicação para tráfego de dados deveria ser exigido para
todos os consumidores da área de concessão/permissão ou a forma de coleta das informações
disponibilizadas pelo medidor eletrônico deveria ficar a critério da distribuidora?

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5. Sistemática de análise dos custos e benefícios da medição eletrônica no


Brasil
5.1. Introdução
De maneira simplificada, a medição eletrônica em baixa tensão pode ser entendida
como um projeto de investimento em longo prazo. Opta-se por alocar um grande esforço no
presente para ter um benefício futuro. Antes de se decidir por qualquer projeto financeiro, deve-
se realizar um minucioso e preciso estudo de custos e benefícios para verificar sua viabilidade
econômica.

Esta seção demonstrará toda a metodologia de cálculo e estimativas a serem realizadas


pela área técnica da ANEEL. A apreciação destas pela sociedade ajudará a identificar eventuais
desvios e corrigi-los em um segundo momento.

Alguns dados associados a esta análise são de difícil estimativa e, por isso, serão
necessários projetos-pilotos para defini-los. O estudo será baseado na quantificação monetária
associada a cada benefício e na estimativa de todos os custos para a substituição.

Pretende-se adotar uma posição conservadora. Isto evita que erros culminem em
investimentos desnecessários e, caso o estudo aponte para uma troca dos medidores, legitimará
ainda mais essa opção.

5.2. Metodologia
O estudo será dividido em duas etapas. Na primeira, pretende-se estimar os ganhos e
custos anuais advindos com a implantação da medição eletrônica. Serão considerados os
valores para o país, substituindo-se todos os 62 milhões de medidores em baixa tensão
atualmente existentes.

Posteriormente, estes valores serão considerados ao longo do horizonte de tempo do


estudo, e trazidos ao valor presente. Caso os benefícios sejam maiores que os custos, o projeto
de implantação em massa dos medidores eletrônicos será economicamente viável.

5.3. Considerações Iniciais


5.3.1. Horizonte de tempo
Os estudos serão realizados para um horizonte de tempo que coincide com sua vida útil.
Assim, todo o benefício que o medidor possibilitará será capturado pelo estudo, sem a
necessidade de se considerar o custo de uma nova substituição.

Atualmente, a regulamentação considera que um medidor tem vida útil de 25 anos. Este
tempo foi estabelecido com base na tecnologia eletromecânica de medição, sem previsão de
valor diferenciado para o medidor eletrônico.

Há estudos que consideram vida útil inferior para medidores eletrônicos e, por isso, o
horizonte de tempo da análise de custo/benefício poderá ser inferior a 25 anos. Como ainda não
há definição da vida útil regulatória diferenciada para o equipamento eletrônico, o horizonte de
tempo do estudo ainda não foi estabelecido.

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
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5.3.2. Taxa de atualização


Conforme relatado, todos os valores futuros serão trazidos ao presente, a fim de
compará-los. Será adotada uma taxa idêntica ao Weighted Average Cost of Capital - WACC real,
de 9,95% ao ano.

5.3.3. Qualidade
Este exame não considerará os benefícios advindos com a melhoria dos indicadores de
qualidade e de continuidade. Apesar de se saber que o aprimoramento da qualidade do serviço
tem um valor monetário associado, este não será avaliado por necessitar de diversos ajustes
subjetivos e imprecisos.

5.3.4. Custo da energia


O insumo energia será valorado pelo preço médio de compra das distribuidoras. A
medição eletrônica será útil para reduzir as perdas comerciais e para melhorar o fator de carga
das distribuidoras.

5.3.5. Custo dos equipamentos


Segundo os fabricantes de equipamentos, o preço de venda dos medidores eletrônicos
varia com diversos fatores (cotação do dólar americano, das matérias-primas e dos ganhos de
escala, por exemplo) e depende também da definição das funcionalidades mínimas a ser
estabelecidas pelo regulador. Como tais parâmetros ainda não são conhecidos, será utilizado um
valor médio dos modelos mais completos dos principais fabricantes nacionais.

Para os equipamentos eletromecânicos, será adotado o Valor Novo de Reposição –


VNR adotado pela ANEEL.

5.3.6. Custos operacionais


Os custos operacionais e de mão-de-obra serão aqueles considerados nas empresas de
referência. Adotar-se-á uma média ponderada dos valores reconhecidos para substituição de
medidor, leitura de medidor e corte/religação de unidades consumidoras.

5.3.7. Taxa de falha


Este indicador diz respeito à porcentagem dos medidores em campo que falham antes
do fim da sua vida útil. Quando isso ocorre, há um custo para substituição do medidor. Os
eletromecânicos tendem a ter uma taxa de falhas maior.

Será adotada a freqüência de troca do medidor eletromecânico estabelecido na empresa


de referência. Para os medidores eletrônicos, esperam-se contribuições que ajudem a estimar a
taxa de falhas .

5.3.8. Quantidade de medidores a ser substituídos


Atualmente, há no Brasil 62.024.240 consumidores conectados em baixa tensão. Este
estudo considerará que todos os consumidores possuem medidor e se substituirá todos, sem
exceção.

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Documento Anexo à Nota Técnica nº 0013/2009-SRD/ANEEL

5.3.9. Descarte
É necessário verificar as soluções possíveis para o descarte dos medidores
eletromecânicos. Como todas as partes dos medidores eletromecânicos são recicláveis, o
descarte provavelmente será de fácil execução.

Nesse sentido, são esperadas contribuições acerca da destinação final dos medidores
substituídos, de forma a evitar que, muitos dos eletromecânicos sejam recondicionados e voltem
ao mercado, bem como para evitar o desenvolvimento de tecnologias de fraude nos medidores
eletromecânicos ainda instalados.

5.4. Custos
Os custos foram subdivididos em duas classes: custos da substituição e custos dos
projetos pilotos.

5.4.1. Custos da substituição


O custo da substituição consiste na mão-de-obra para a substituição, compra dos
equipamentos, custo ocioso e no custo para o descarte dos medidores retirados de campo. O
fluxo de caixa para tais gastos é mostrado na figura seguinte.

Figura 10: Fluxo de caixa dos custos para substituição

Onde:

t: Vida útil regulatória do medidor eletrônico;

n: Prazo regulatório para a substituição;

c(i): Custo no ano “i”;

C: Gasto anual com o custo considerado;

c(i) para i ≤ n: C;

c(i) para i > n: 0.

5.4.1.1. Mão-de-obra para a troca


O custo total será valorado pela média ponderada dos valores reconhecidos nas
empresas de referência para a substituição de um medidor multiplicado pelo total de medidores a
ser substituído, conforme equação a seguir:

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MO = (MOSub) * (Qntd / n)

Onde:

MO: Custo anual da mão-de-obra para substituir o medidor;

MOSub: Custo médio ponderado da mão-de-obra para substituir um medidor, conforme


empresa de referência;

Qntd: Quantidade total de medidores a serem instalados;

n: Prazo regulatório para a substituição.

5.4.1.2. Compra dos equipamentos


Será dado pela multiplicação da quantidade de medidores a ser substituído pelo valor
médio do preço dos medidores mais completos:

Compra = (R$EL) * (Qntd / n)

Onde:

Compra: Custo anual da compra dos medidores eletrônicos;

R$EL: Valor de um medidor eletrônico novo;

Qntd: Quantidade total de medidores a serem instalados;

n: Prazo regulatório para a substituição.

5.4.1.3. Custo ocioso


É o valor ainda não depreciado do medidor eletromecânico retirado. Para se obter tal
valor, foram solicitados dados das distribuidoras a respeito da idade dos medidores em
funcionamento. A partir da Figura 6, que mostra a distribuição de freqüência dos medidores
instalados no Brasil segundo a idade, pode-se obter o valor ainda não depreciado dos medidores
instalados.

Para cada medidor retirado, a distribuidora deverá ser ressarcida pelo valor ainda não
depreciado do ativo. Para efeitos deste estudo, será considerado que os medidores mais antigos
serão retirados primeiro, afim de que os mais novos possam “envelhecer” e gerar o menor custo
ocioso possível. Serão realizadas simulações para um prazo de troca de 5, 8, 10, 12 e 20 anos.

5.4.2. Custo dos projetos-pilotos


O custo para a execução de projetos pilotos será considerado nulo. Intenta-se que tais
projetos sejam realizados no âmbito dos programas de Pesquisa e Desenvolvimento - P&D.
Logo, os recursos já estão reservados e não haverá a necessidade de novos gastos.

Nesse sentido, estuda-se a possibilidade de abrir chamadas para programas de P&D


estratégicos, procedimento no qual a ANEEL estabelece temas que sejam de interesse da
Agência.

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5.5. Benefícios
5.5.1. Custos Operacionais
Espera-se que a implantação dos medidores eletrônicos reduza alguns custos
operacionais das distribuidoras, que, quando considerados na empresa de referência, poderão
provocar uma redução da tarifa e um benefício ao consumidor.

Dentre os custos que seriam reduzidos, destacam-se: reposição de medidores com


falhas, leitura e corte/religação. Abaixo, segue o perfil do fluxo de caixa para tais benefícios:

Figura 11: Fluxo de Caixa do benefício associado à menor reposição de medidores, leitura, corte/religação,
perdas técnicas e perdas não-técnicas

Onde:

t: Vida útil regulatória do medidor eletrônico;

n: Prazo regulatório para a substituição;

b(i): Benefício no ano “i”;

b(i) para i ≤ n: (i x Benefício Anual) / n;

b(i) para i > n: Benefício Anual.

5.5.1.1. Reposição dos medidores


Pode-se considerar que os medidores eletrônicos apresentarão menos defeitos ao longo
de sua vida útil. Dessa forma, a distribuidora terá menos gastos com a compra de equipamentos
para reposição dos equipamentos defeituosos e com a mão-de-obra para substituir tais
equipamentos.

O benefício financeiro anual será calculado de acordo com a seguinte fórmula:

Reposição = [(TFEM * Qntd) * (R$EM + MOSub)] – [(TFEL * Qntd) * (R$EL + MOSub)]

Onde:

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Reposição: Ganho financeiro anual com a menor reposição de medidores;

TFEM: Taxa de falhas do medidor eletromecânico;

R$EM: Valor de um medidor eletromecânico novo;

TFEL: Taxa de falhas do medidor eletrônico;

R$EL: Valor de um medidor eletrônico novo;

Qntd: Quantidade total de medidores a serem instalados;

MOSub: Custo da mão-de-obra para substituir um medidor, conforme empresa de


referência.

5.5.1.2. Leitura
Caso se opte pela substituição em massa dos medidores, poderá se escolher um
equipamento com capacidade de tele-leitura. Isso eliminaria a necessidade de que um leiturista
visite cada unidade consumidora mensalmente.

Para realizar a leitura, a distribuidora necessitaria de um link de comunicação e de um


banco de dados para guardar as informações. O custo para implantação destas facilidades serão
conhecidos somente após a realização dos projetos pilotos. Dessa forma, ainda não há dados
que permitam inferir qual será a redução dos custos com leitura.

5.5.1.3. Corte e Religação


Caso seja adotada uma solução que permita uma comunicação bi-direcional entre a
distribuidora e o medidor, as atuações de corte ou religação poderão ser realizadas à distância,
sem a necessidade de envio de um representante da distribuidora.

A exemplo dos benefícios advindos com a nova forma de leitura, somente se poderá
quantificar o benefício financeiro com o corte e religação remotos após a realização dos projetos
pilotos.

5.5.2. Perdas Técnicas


Existem dados que mostram que o medidor eletrônico apresenta um consumo próprio
inferior ao medidor eletromecânico. Nesse sentido, o eletromecânico apresenta, em média,
consumo aproximado de 1,3 W, enquanto que no eletrônico esse valor é cerca de 0,5 W. O perfil
de fluxo de caixa é mostrado na Figura 11.

5.5.3. Perdas Não-Técnicas


A mudança de tecnologia do medidor eletromecânico para o eletrônico apresenta
vantagens contra fraudes. Comparando-se com o medidor eletromecânico, os eletrônicos
permitem maior facilidade na detecção de fraudes. A configuração como o sistema de medição
centralizada também se apresenta como ferramenta útil no combate às perdas não-técnicas.

Atualmente, muitas distribuidoras utilizam a medição eletrônica como ferramenta de


combate ao furto de energia elétrica. Como esta solução é implantada em conjunto com outras

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
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(blindagem da rede, medição externa, etc.), é difícil estimar de quanto seria a redução das
perdas não-técnicas decorrente unicamente da troca pela medição eletrônica.

Acredita-se que a execução dos projetos pilotos será capaz de ajudar nesta estimativa.
Dessa forma, necessita-se de dados concretos que permitam esta estimativa.

O perfil de fluxo de caixa é mostrado na Figura 11.

5.5.4. Mudança de hábitos


Uma das razões para se implantar a medição eletrônica em massa no Brasil seria o uso
mais eficiente do sistema elétrico. Isso decorreria de mudanças no comportamento dos
consumidores, que, recebendo os incentivos econômicos corretos, procurariam consumir menos
energia no horário de pico do sistema e melhor gerenciar sua carga.

Utilizando-se o sistema de forma mais eficiente, postergam-se investimentos na


expansão do parque de geração e para a transmissão e distribuição da energia. Como os custos
desta expansão são cobertos pela tarifa, o uso mais eficiente poderia culminar em uma tarifa
menor.

Entretanto, é difícil se estimar como os hábitos seriam mudados, e o benefício que isto
representaria na tarifa. Para ajudar nesta quantificação, os projetos pilotos terão um papel
preponderante. Somente após a coleta dos resultados dos projetos pilotos, poder-se-á fazer a
estimativa dos benefícios ao consumidor final devido a mudanças de seus hábitos.

5.6. Questões associadas


5.a Quais estudos e dados poderiam embasar a definição da vida útil do medidor
eletrônico, do concentrador e do sistema de comunicação de dados?

5.b Qual é a destinação e quais as soluções para o descarte dos medidores retirados de
campo? Quais são as propostas e projetos para a destinação final dos medidores e seus
componentes?

5.c Quais são as considerações e sugestões sobre os itens apresentados anteriormente


para a sistemática de análise dos custos e benefícios?

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Implantação de Medição Eletrônica em Baixa Tensão
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6. Aspectos relevantes para a execução de projetos pilotos


6.1. Justificativa
No intuito de evitar erros na execução de grandes projetos, é prudente que se preceda
um projeto similar em menor escala.

Entre os principais ganhos advindos com a medição eletrônica estão mudanças de


comportamento dos consumidores e distribuidoras. Por mais que se observe a experiência de
outros países, é de difícil estimativa quais seriam os benefícios efetivamente trazidos para o
Brasil. Nesse sentido, a execução de projetos ajudaria valorar os ganhos da nova tecnologia e a
verificar se o consumidor está apto a aceitar e a entender a mudança.

Além disso, caso a substituição se concretize, alguns parâmetros regulatórios e técnicos


precisarão ser definidos pela ANEEL. Sem a implantação desses projetos, estabelecer tais
parâmetros se constitui em uma tarefa imprecisa.

Para a execução desses projetos é indispensável a atuação dos fabricantes de


medidores e das distribuidoras. Os primeiros são importantes por conhecerem profundamente
seus equipamentos, suas possibilidades e limitações. Acompanhando de perto a execução dos
projetos, os fabricantes poderão desenvolver novos produtos. Já as distribuidoras são essenciais
por manterem constante contato com os usuários, conhecerem a fundo o seu negócio e poderem
dar apoio técnico ao regulador.

É imprescindível também a participação da sociedade nos projetos pilotos, que serão


executados para estudar seu comportamento perante a nova tecnologia. Os projetos deverão ser
acompanhados de pesquisas de opinião do usuário final.

Diversos projetos que versam sobre medição eletrônica foram desenvolvidos pelas
distribuidoras, com o intuito de estudar soluções para problemas específicos de cada área de
concessão. É importante que sejam desenvolvidos projetos pilotos com a intenção específica de
obter informações que embasem uma eventual substituição do parque de medição, devendo, a
uma primeira vista, ser capitaneada pela ANEEL.

6.2. Quantidade de projetos pilotos


O Brasil é um país extenso marcado por contrastes, abrangendo regiões desenvolvidas
economicamente e regiões de difícil acesso e com baixa densidade de carga. Com essa
heterogeneidade, tanto os custos associados à possível substituição, quanto a aceitação e o
entendimento dos consumidores serão diferentes em cada área de atuação. Por isso, é
aconselhável que se faça uma experiência com a nova tecnologia em diversas áreas de
concessão ou permissão.

Porém, não apenas as diferenças sócio-culturais podem influenciar no sucesso do


projeto. O Brasil está sujeito a variados tipos de adversidades climáticas e é necessário testar se
a confiabilidade do medidor é alterada quando submetido a diferentes condições de clima, como,
por exemplo, temperatura, salinidade e umidade.

Assim, em resumo, a quantidade de projetos pilotos deve ser suficiente para mapear os
custos associados à implantação em massa da tecnologia, a aceitação da sociedade em cada

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local e verificar a confiabilidade dos medidores perante a variedade de climas existentes no


Brasil.

6.3. O que deve ser estudado nos projetos?

6.3.1. Eficácia da horosazonalidade tarifária para BT


A medição eletrônica viabilizará a indicação horária do custo da energia ao consumidor
da baixa tensão, através da criação de postos horários diferenciados, o que incentiva a
modulação do consumo. Como conseqüência, haveria um alívio do sistema no horário de pico e
a postergação de investimentos em expansão.

A tarifa de ponta deve ser ajustada de forma a dar o sinal econômico para que o
consumidor evite ao máximo usar energia durante este período, sem, ao mesmo tempo,
penalizar excessivamente a carga “não modulável”. Ou seja, uma tarifa de ponta próxima à tarifa
fora de ponta não incentivaria o consumidor a mudar seus hábitos, enquanto que, se for
demasiadamente alta, elevaria os gastos da maioria dos consumidores com energia elétrica, o
que não é desejável.

Outro ponto que merece especial destaque é que a horosazonalidade não poderá alterar
os ganhos da distribuidora. A medida procura beneficiar o consumo que não provoca a expansão
do sistema à custa do excedente financeiro pago pelas cargas da ponta, sendo autofinanciável.

Em suma, a horosazonalidade somente trará benefícios concretos se o ajuste dos


preços horários for correto. Os projetos pilotos indicarão qual combinação de tarifas diminuirá o
consumo no horário de pico sem alterar significativamente as receitas das distribuidoras.
Ademais, estes projetos permitirão aferir o alívio no sistema, e consequentemente, estimar o
investimento postergado.

6.3.2. Confiabilidade dos equipamentos de medição eletrônica


A grande maioria dos medidores eletrônicos implantados no mundo está localizada nos
países de clima temperado. Nessas condições, os fabricantes esperam uma durabilidade não
inferior a 15 anos.

Os medidores eletrônicos em funcionamento no Brasil foram instalados recentemente,


logo, nada se pode concluir quanto à sua durabilidade no clima tropical. Os projetos pilotos
possibilitarão comparar o nível de desgastes dos equipamentos (medidor, concentrador, sistema
de comunicação de dados e TI’s, quando houver). Com a ajuda dos fabricantes, poder-se-ia
estimar a vida útil em cada região do país, além de estudar alternativas para elevar a
durabilidades dos equipamentos.

6.3.3. Redução dos custos operacionais das distribuidoras


A leitura remota e o corte/religação à distância dispensarão o uso de mão-de-obra para
a execução dessas tarefas. Com a redução desses custos, a empresa de referência poderia ser
reduzida em prol da modicidade tarifária.

Sabe-se que na Europa muitos planos de substituição foram motivados pela redução
dos custos de leitura, que são extremamente elevados naquele continente. No entanto, a
realidade brasileira é diferente, já que o custo da mão-de-obra é mais barato. Assim, é

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necessário avaliar se os custos com a execução das atividades de leitura, corte e religação têm
peso significante na tarifa.

O estudo deve considerar também que a simplificação da execução dessas atividades


poderá ter influência direta nos níveis de inadimplência. Como o corte será mais eficiente, os
consumidores estarão mais estimulados a manter-se em dia com suas obrigações perante as
distribuidoras.

A conseqüência direta da diminuição dos custos operacionais e dos índices de


inadimplência seria a redução na tarifa. Entretanto, este fato deve ser verificado na prática.

O medidor eletrônico capaz de propiciar tais facilidades tem um custo adicional em


relação ao convencional. Projetos pilotos indicarão a economicidade desse dispêndio
suplementar.

6.3.4. Aceitação e o entendimento da sociedade


Alguns segmentos são naturalmente resistentes a mudanças no que diz respeito à
prestação de serviços públicos. Dentre outras novidades, a medição eletrônica poderá aumentar
a fatura dos consumidores que insistirem em usar a energia no horário de pico, os cortes ficarão
mais rápidos, o furto será dificultado e a medição será mais precisa. Possivelmente algumas
dessas mudanças serão mal interpretadas por uma parte da sociedade, que se mostrará
contrária ao novo tipo de medição.

Ademais, o consumidor poderá não compreender de imediato tudo aquilo que o novo
medidor pode proporcionar (gerenciamento de carga ou confiabilidade dos dados de qualidade,
por exemplo), e a tecnologia poderia ser vista apenas como algo caro e inútil.

No projeto piloto, as partes envolvidas avaliariam a utilidade e os benefícios do medidor.


Assim, além de disseminar conhecimento a respeito da tecnologia, os testes em campo serviriam
como base para as campanhas de conscientização de diferentes segmentos da sociedade.

6.3.5. Custos
Para a correta análise econômica da massificação da medição eletrônica, deve-se
inicialmente ter noção dos custos que esta medida representa no curto prazo. Dessa forma, o
primeiro estudo que deve ser realizado pela Agência é a estimativa precisa de valores. Para isso,
é necessário levantar os custos dos equipamentos de medição, da mão-de-obra necessária a
substituição, de operação e manutenção e o impacto na tarifa.

Os fabricantes informam que o custo final do medidor eletrônico depende de vários


fatores, tais como a quantidade a ser produzida, o preço do dólar americano e da matéria-prima
para a fabricação dos equipamentos.

A troca em pequena escala, no âmbito de um projeto piloto, dará a oportunidade para se


estimar os custos associados. Em cada projeto, os equipamentos poderiam ser divididos em
lotes, e a compra seria realizada de modo a minimizar os preços. Depois, a ANEEL
acompanhará a evolução dos custos para implantação dos medidores e de O&M, podendo,
dessa forma, melhor precisar o custo final.

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6.3.6. Serviços adicionais


Utilizando-se a tecnologia AMM+UM (Automatic Meter Management System Multi-
Utiliity), as distribuidoras podem também ler o medidor de outras prestadoras de serviços
públicos, tais como água e gás.

Além de permitir avaliar a aceitação a estas novas facilidades, o projeto piloto ajudará a
estimar a receita adicional proveniente das mesmas, que poderá ser utilizada para ajudar no
financiamento do plano de substituição.

6.3.7. Operação e manutenção


Os medidores eletromecânicos convencionais são conhecidos por sua robustez. De
modo geral, a manutenção é necessária apenas quando o desgaste natural de suas peças
internas provoca uma leitura diferente à real.

Como qualquer equipamento eletrônico, o medidor possui componentes eletricamente


sensíveis e menos resistentes ao tempo. Isso influencia na sua vida útil esperada, conforme
discutido neste documento, e na necessidade de manutenção ao longo de sua vida útil.

Dessa forma, o custo de manutenção desses novos medidores poderá ser comparado
ao do convencional, devendo este quesito ser observando quando da execução dos projetos
pilotos.

A operação também será diferenciada. Na tecnologia eletromecânica praticamente não


há interação do equipamento com o usuário, apenas a exibição da leitura no visor do medidor.
No eletrônico, tanto a distribuidora como o consumidor terão interação direta com o
equipamento, seja extraindo arquivos de dados ou carregando créditos pré-pagos, por exemplo.

Dessa forma, é necessário testar se essa interação será bem aceita e utilizada, e se não
provocará danos por mau uso do equipamento.

6.3.8. Tecnologias de comunicação


O atual estado de desenvolvimento das tecnologias de telecomunicação disponibiliza um
menu de configurações adaptáveis a cada realidade. A tecnologia a ser adotada em todo o país,
caso se concretize a substituição em massa dos medidores, será escolhida considerando as
limitações, custos e benefícios de cada tecnologia.

As tecnologias mais utilizadas atualmente fazem uso de concentrador. De forma


simplificada, muda apenas o modo como a informação é enviada do concentrador à central de
leituras da distribuidora.

Uma comunicação em tempo real permite o gerenciamento otimizado da carga, tanto


pela distribuidora quanto pelo próprio consumidor. Esse tipo de comunicação elimina a
necessidade do leiturista da distribuidora, acelera a detecção de fraudes, reduz o tempo das
falhas e melhora a apuração dos indicadores de qualidade e de continuidade. Por outro lado,
este modo de comunicação exige a contratação de um link exclusivo, seguro e imune a falhas, o
que é extremamente caro.

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Como opção, pode-se optar por uma comunicação que não seja em tempo real, mas
que o envio dos dados se dê diariamente, ou a cada conjunto de dias, por exemplo. Isso reduz
os custos de operação e dispensa o leiturista, mas inviabiliza algumas facilidades.

O sistema mais barato seria aquele que não houvesse comunicação direta do
concentrador com a central. Os dados seriam colhidos em campo pelo leiturista, com a ajuda de
um dispositivo, por exemplo, e descarregados no sistema de faturamento da distribuidora.
Obviamente, dessa forma, muitas das facilidades possíveis com o medidor eletrônico ficariam
inviabilizadas.

De um modo geral, hoje se usa o Power Line Communication (PLC) para comunicar o
medidor com o concentrador, e deste para a central, via protocolo GPRS ou SMS.

Os projetos pilotos devem testar a confiabilidade das diversas formas de comunicação,


assim como seus custos e facilidades. Posteriormente, a escolha da melhor tecnologia para o
mercado brasileiro deverá considerar o custo total e o quanto a sociedade está disposta a pagar
em troca das facilidades propiciadas.

6.4. Questões associadas


6.a Quais poderiam ser a dimensão e área de abrangência dos projetos pilotos? Em
quais regiões do país deveriam ser realizados esses projetos?

6.b Que estrutura tarifária (relação entre a tarifa de ponta e a tarifa fora de ponta, tarifas
diferentes nos finais de semana, etc.) poderia ser adotada nos projetos pilotos que ajudasse a
estimar as mudanças nos hábitos dos consumidores envolvidos?

6.c Os consumidores mudariam seus hábitos se a tarifa no horário de ponta fosse


significantemente mais cara? Haveria risco de haver apenas um deslocamento do pico?

6.d Quais são os resultados mais significativos obtidos nos projetos já implantados no
Brasil?

6.e Quais as soluções de comunicação e de integração em sistemas deveriam ser


testadas nos projetos-pilotos?

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7. Aspectos regulatórios relevantes


O setor elétrico é caracterizado por mudanças tecnológicas de difícil maturação e a
tecnologia do setor não tem a mesma velocidade de modernização do que a de outros. A
medição eletrônica aliada a soluções de inteligência e de comunicação podem formar as “redes
inteligentes”, que representam a informatização da prestação do serviço público de distribuição
de energia elétrica.

Tão inevitável quanto a disseminação dos aparelhos celulares, a forma de se medir


grandezas elétricas evoluirá para a medição eletrônica. Para que isso ocorra em benefício de
todos e de forma otimizada, pode ser necessário que o processo seja coordenado.

Sem a coordenação da ANEEL, nada impede que as distribuidoras façam uso da


medição eletrônica por opção estratégica empresarial, processo este que já está acontecendo.
Nesta situação, as empresas assumem os riscos decorrentes da implantação, e o uso da
tecnologia é limitado, consequentemente, os consumidores podem usufruir apenas de parte dos
benefícios em longo prazo.

A decisão para obrigar o uso da medição eletrônica somente ocorrerá depois de se


ratificar que a implantação não acarretará custos desnecessários aos consumidores. Caso isso
venha a acontecer, seria preciso decidir acerca de diversos fatores e mudar o arcabouço
regulatório vigente, conforme indicado a seguir.

7.1. Estratégia comercial versus determinação regulatória


A implantação em grande escala de medição eletrônica em baixa tensão pode ser
encarada como uma opção de negócios das distribuidoras ou pode se determinar por meio de
uma obrigação imposta pelo regulador. Ainda poderia ocorrer a situação em que o regulador
apenas estabeleça aspectos mínimos que visem à implantação de forma coordenada.

7.2. O que se deve substituir


A substituição dos medidores em consumidores de baixo consumo mensal pode
acarretar em nenhum benefício ao sistema elétrico ou ao próprio consumidor, representando
apenas custos adicionais ao processo de implantação. Dessa forma, talvez seja mais racional
economicamente não substituir o medidor destes consumidores.

7.3. Prazo para substituição


Deve ser definido um prazo exeqüível, que mantenha a modicidade tarifária e que não
seja muito delongado. Para determinar este prazo, deve-se considerar o nível de eficiência das
distribuidoras, as dificuldades de acesso nas áreas de concessão e a capacidade de
fornecimento/importação de equipamentos pelos fabricantes/importadores.

7.4. Reconhecimento tarifário


Os custos decorrentes da implantação da medição eletrônica seriam reconhecidos nas
tarifas de distribuição. Os custos para a implantação certamente serão altos e, para evitar
variações bruscas das tarifas, talvez seja necessário o financiamento do projeto antes do início
de sua execução.

A medição eletrônica propiciará redução dos custos operacionais da distribuidora,


diminuição das perdas de energia, receitas adicionais com a prestação de outros serviços e

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postergação de investimentos em expansão do sistema. Tais benefícios seriam capturados em


prol da modicidade tarifária, considerando o uso da medição eletrônica por uma empresa
eficiente. Dessa forma, deverá ser definida uma metodologia que estimule a eficiência das
distribuidoras e que transfira para os consumidores parte dos benefícios.

7.5. Fiscalização da execução da implantação


Seriam determinados também os critérios e procedimentos para fiscalizar a implantação
da medição eletrônica. Deve-se verificar se as metas e os procedimentos serão observados.

7.6. Conscientização da sociedade


Em todos os países que decidiram implantar a medição eletrônica de forma obrigatória,
a implantação foi precedida por campanhas de conscientização acerca dos benefícios da
tecnologia. No Brasil, este processo de conhecimento do consumidor e de outros segmentos da
sociedade poderia ser realizado pelas distribuidoras em conjunto com a ANEEL.

7.7. Questões associadas


7.a Existe a necessidade da definição regulatória de um plano de substituição em massa
no Brasil ou isso seria uma definição de estratégia comercial das distribuidoras?

7.b Caso exista a necessidade de determinação de um plano por parte da ANEEL, e


considerando-se o número de medidores a substituir no país (cerca de 62 milhões) e as
experiências de outros países, qual seria o prazo adequado para a substituição dos medidores?

7.c Todos os consumidores em baixa tensão devem ter seus medidores substituídos, ou
apenas aqueles acima de um determinado valor de consumo mensal?

7.d Como poderia ser a conscientização da sociedade sobre os benefícios da medição


eletrônica?

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8. Bibliografia
CNE - Comisión Nacional de Energía. Seminário Internacional de Medição Eletrônica. Brasília,
2008.

ENEL S.p.a.. Seminário Internacional de Medição Eletrônica. Brasília, 2008.

ERGEG – European Regulators’ Group for Electricity and Gás. Smart Metering with a Focus on
Electricity Regulation. Bélgica, 2007.

ERSE - Entidade Reguladora do Sistema Elétrico. Funcionalidades mínimas e plano de


substituição dos contadores de energia eléctrica. Portugal, 2007.

OFGEM – Office of Gas and Electricity Markets. Domestic Metering Innovation - Next Steps -
Decision Document. Inglaterra, 2006.

RSCAS - Robert Schuman Centre For Advanced Studies. Survey of Regulatory and
Technological Developments Concerning Smart Metering in the European Union Electricity
Market. Itália, 2008.

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