GIOVANNI BERBERT SÉ BIANCHI HELOISA DA ROCHA SENNA MARCO ANTONIO ARAUJO REBECA RAÍSSA CLETO
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR III: CARACTERIZAÇÃO DO JOVEM
ALUNO DO ENSINO MÉDIO
Bauru 2020 1. CARACTERIZAÇÃO DO JOVEM ALUNO DO ENSINO MÉDIO
O significado de “jovem” é uma construção que surge com a revolução
industrial, ou seja, é uma categoria moderna que fica reconhecida a partir do momento em que o Estado passa a ter controle da educação formal. Hack e Pires (2007, p. 2) argumentam que como consequência da escolarização houve a separação entre os adultos e os seres em formação: [...] a escolarização [...] estabeleceu um processo de separação entre seres adultos e seres em formação. Uma espécie de ordem hierárquica fundamentada nas relações entre as fases da vida foi, então, constituída, determinando a primazia daqueles (adultos) em relação aos últimos (em formação), em que se incluem a infância e a juventude. (HACK. PIRES, 2007, p. 2)
De acordo com Dayrell (2003) há uma série de imagens socialmente
construídas a respeito da juventude: 1. Juventude vista na sua condição de transitoriedade; 2. Juventude romântica, como um tempo de só liberdade e prazer; 3. Juventude reduzida a cultura, como se o jovem só se expressasse quando envolvido numa atividade cultural; 4. Juventude vista como um momento de crise, de distanciamento da família. É fundamental colocar em dúvida essas imagens, sabendo que não são exclusivamente assim, os perfis da juventude. Ainda assim, Hack e Pires (2007) apresentam dois critérios principais para o conceito de juventude: o etário e o sócio-cultural, e ainda destaca que elas determinem puramente a juventude, já que não podem ser analisadas sem levar em conta as relações e trajetórias de cada indivíduo. Sendo assim, não há uma norma do que é e como ser jovem, já que não se trata exclusivamente de limites etários, mas também de situações sociais e símbolos com suas formas e conteúdos plurais, com uma considerável ascendência nas sociedades modernas. Seria errado considerar a existência de uma única cultura juvenil na escola que não tivesse origem de uma cultura da cidade, do local ao seu entorno. Segundo Carrano (2005), as principais características dos processos culturais de um mundo globalizado são a alta capacidade de integração e o hibridismo (fenômeno histórico- social que acontece quando ocorre a mistura de duas ou mais culturas, gerando uma nova com elementos das antigas), e que é de grande risco considerar uma possível separação dessa ligação entre a cultura da escola e a do local onde esses jovens se encontram. Como exemplo ligação, pode-se mostrar a escola atual, que apresenta um aspecto extremamente conservador, com grades nas janelas, como celas de uma penitenciária. Desse modo, é possível enxergar que “[...] uma violência especificamente escolar de vigilância e fechamento, surge [...] como alternativa ao cenário de violência das cidades.” (CARRANO, 2005, p. 156). A Juventude é vivenciada de forma muito variada de acordo com a sociedade, tempo histórico e grupo social em que o jovem está inserido. Essa diversidade envolve aspectos das condições sociais (classes sociais), culturais (etnias, identidades religiosas, valores) e de gênero. Portanto, a juventude começa quando o jovem apresenta mudanças: do corpo, dos afetos, das referências sociais e relacionais. Vivendo com mais intensidade essa série de transformações (DAYRELL, 2003). Logo, cada jovem terá o seu perfil de juventude, pois cada sujeito é único e possui as suas relações sociais específicas, então a sua construção como sujeito será específica também. No artigo de Dayrell (2003), pode-se notar que as manifestações culturais, muitas vezes, são encaradas como um sonho para o futuro, fazendo com que os jovens queiram viver da música, como exemplo o caso específico do artigo onde os citados almejam viver do rap e do funk e passam a juventude alimentando esse sonho, tendo relações sociais com pessoas desse meio e prolongando essas experiências. Mas muitos desistem, pois não conseguem conciliar isso tudo com as necessidades de sobrevivências. Isso poderia mudar se a escola dialogasse mais com os gostos e as realidades culturais desses jovens, muitas vezes a escola negligencia os alunos com grande potencial, pois não foram estimulados corretamente. Por exemplo, o artigo traz que a professora de português nem sabe que o jovem escreve letras de funk e quer tornar isso a sua profissão. A escola é colocada pelos jovens como um ambiente sem grande importância em suas vidas, algo obrigatório e que não representa mais que uma porta de entrada para o mercado de trabalho. Sendo assim, o jovem no ensino médio que se interessa por conteúdos culturais, acaba se sentindo desamparado em relação a instituição que possui uma hierarquização de saberes, valorizando determinadas disciplinas em detrimento de outras que possuem caráter cultural. No estudo realizado por Hack e Pires (2007), eles destacam que o lazer, para os jovens, se mostrou como uma categoria significativa que é constantemente relacionada a diversão e o entretenimento. Os autores apontam que secundariamente o lazer é referido como um tempo de descanso e/ou desenvolvimento próprio. Eles ainda destacam as categorias tempo, atitude e espaço como elementos que se encontram dentro do lazer. Apesar das relações sociais no espaço cultural ter um papel fundamental na juventude, o espaço central de relações estruturais e éticas continua sendo a família. Essa família, muitas vezes, não tem a presença de um pai. A mãe é a referência de carinho, autoridade e valores. E pensando em seus futuros, um dos seus principais objetivos é dar uma vida mais confortável para a mãe (DAYRELL, 2003). Tendo todas as citações e pensamentos reunidos anteriormente, podemos concluir que a caracterização específica de um indivíduo jovem do Ensino Médio trata-se de uma utopia visto que estes são seres que apresentam total individualidade. Carrano (2005) diz que o fato de as pessoas serem consideradas iguais ainda é o que a cultura escolar deseja em relação as diferenças. Cabe ao professor prestar a devida atenção a conteúdos culturais e de linguagem que perambulam nas escolas, se atentando e percebendo as mensagens que os grupos de jovens querem passar, para que assim seja capaz de estabelecer as características e possíveis práticas para suas aulas. A juventude é uma fase única que não depende apenas do jovem, mas também de todo o contexto em que está inserido (histórico, cultura, ambiente, ambições, entre outros). Realizar uma observação voltada a um grupo de jovens de Ensino Médio e tentar caracterizá-los torna-se então uma tarefa de cunho incerto. REFERÊNCIAS
CARRANO, Paulo C. R. Identidades juvenis e escola. Construção coletiva:
contribuições à educação de jovens e adultos.— Brasília: UNESCO, MEC, RAAAB, p. 153-164, 2005. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&al ias=655-vol3const-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 03 de outubro de 2020.
DAYRELL, Juarez. O jovem como sujeito social. Revista Brasileira de Educação,
Rio de Janeiro, n. 24, p. 40-52, set /out /nov /dez 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n24/n24a04.pdf>. Acesso em: 01 de outubro de 2020.
HACK, Cássia; PIRES, Giovani de L. Lazer e mídia no cotidiano das culturas
juvenis. Licere, Belo Horizonte, v.10, n.1, p. 1-22, abr. 2007. Disponível em: <http://www.cbce.org.br/docs/cd/resumos/047.pdf>. Acesso em: 03 de outubro de 2020.