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O Contexto Discursivo Editorial e o Processo de Revisão de Textos
O Contexto Discursivo Editorial e o Processo de Revisão de Textos
Edição do Autor
Copyright© 2018 Bruno Caçador
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer
forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita do autor.
Bruno Caçador
1ª Edição
Mongaguá
Bruno André Bianucci Caçador
2018
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer todos os membros da minha família,
por sempre me apoiarem e me ajudarem em minhas realizações.
Ao Lucas, pela confecção da capa e pela sua atenção.
Introdução 10
Fundamentação teórica 15
O contexto discursivo de uma instituição editorial 33
O papel do revisor de textos 47
Critérios de revisão e padronização de textos 53
Considerações finais 79
Referências bibliográficas 82
INTRODUÇÃO
Este trabalho está situado na vertente sociocognitiva da
Análise Crítica do Discurso, que tem van Dijk como seu maior
representante. Temos por tema o processo de revisão de textos
no contexto discursivo de uma instituição editorial.
Entendemos, conforme a vertente sociocognitiva da
Análise Crítica do Discurso, a importância de realizar
analiticamente um discurso a partir de três categorias: cognição,
sociedade e discurso. Estas categorias agrupam um conjunto de
conhecimento e estão de tal forma inter-relacionadas que uma se
define pela outra.
Todas as formas de conhecimento são construídas no e
pelo discurso, a partir de textos. Os discursos podem ser sociais
e públicos, mas também podem ser eventos discursivos
individuais. Sendo o discurso uma prática sociointeracional, os
discursos públicos têm acesso extragrupal de forma a construir
conhecimentos mais gerais que ultrapassam as fronteiras
grupais, tais como os discursos das instituições família, igreja,
escola, Estado e empresa.
Sendo assim, abordamos a sociedade como um
conjunto de grupos sociais, definidos como uma reunião de
pessoas com os mesmos objetivos, interesses e propósitos, o que
determina o ponto de vista para focalizar o mundo. Ao
construirmos representações mentais como forma de
conhecimento social, também determinamos os membros de um
grupo social. Por cada grupo social ter o seu próprio ponto de
vista e as suas próprias cognições sociais, estão em constante
conflito. Como os discursos públicos institucionais têm acesso a
um grande auditório, constrói-se para cada grupo conhecimentos
extragrupais.
Para van Dijk (2012), todos os textos implicam relações
com os seus contextos de produção, tais contextos são: o
cognitivo, o social, o discursivo e o de linguagem. E as relações
entre texto-contexto constroem sentidos na produção discursiva.
Com isso, definimos texto não como um aglomerado de
frases, mas um conjunto de expressões sequenciadas, com uma
unidade temática e uma progressão semântica estruturada em
um gênero textual-discursivo. Logo, todo texto está em diálogo
com outro texto anterior e, portanto, definimos um texto pela
textualização com a sua intertextualização.
A pesquisa realizada pressupõe que o discurso é uma
das práticas sociais definida pela interação sociocomunicativa.
Esta é definida como contexto discursivo que compreende os
participantes, as suas funções e suas ações, variando
dependendo dos gêneros discursivos. Através da descrição do
contexto discursivo de uma instituição editorial caracterizamos o
papel social do revisor de textos em suas funções e ações. Dessa
maneira, essa relação (texto-discurso) caracteriza o trabalho do
revisor no plano da enunciação, a partir dos seus fazeres.
(Moscovici, 2003)
Ao examinar o papel do revisor de texto em uma
editora, abordamos a situação material da produção de textos
dentro de uma cadeia discursiva institucional. Pois o contexto
discursivo de um texto na produção editorial, depois de enviado
pelo autor, caracteriza-o como um produto de uma relação
empresarial (processo de editoração), pela qual se envolve poder
a quem toma decisões, representado pelo dono da empresa e
pelo conselho editorial, designando a ideologia adotada para a
publicação de livros e para a administração da empresa e seus
setores; controle a quem executa os papéis sociais, representado
por revisores e diagramadores com os serviços de editoração; e
acesso (ao produto), representado por impressores e
distribuidores.
O objetivo geral da pesquisa pretende contribuir com os
estudos discursivos do setor editorial no Brasil. Os objetivos
mais específicos são: descrever o contexto social e discursivo de
uma instituição editorial; identificar o papel do revisor entre os
demais papeis representados pelos participantes do contexto
discursivo; e descrever diferentes papéis sociais e suas inter-
relações com o papel do revisor de textos.
Destacamos a importância deste estudo por muitos
autores e compradores de livros desconhecerem o contexto
discursivo editorial, não sendo capazes de situar o papel do
revisor de textos.
Adotamos criticamente as três categorias dos discursos
públicos institucionais de van Dijk (1997): poder, controle e
acesso. A categoria poder agrupa os participantes que têm por
funções tomar decisões, e estas decorrem da ideologia que guia
suas ações. A categoria controle reúne participantes que têm por
função executar as decisões tomadas pelos participantes do
poder, e suas ações são diferenciadas dependendo dos papéis
sociais de cada um de seus participantes. A categoria acesso
agrupa os participantes que têm por função dar acesso ao
público das decisões do poder executadas pelo controle, de
forma a distribuir e a fazer circular o produto discursivo.
O procedimento metodológico deste estudo foi
pesquisa qualitativa de documentos bibliográficos, com revisões
de obras da vertente sociocognitiva da Análise Crítica do
Discurso, tendo como critério de seleção os seguintes termos:
texto, discurso e contexto. Complementamos a revisão com uma
pesquisa bibliográfica relativa à caracterização de cargos e
funções do setor editorial, suportados por textos jurídicos e
editoriais que caracterizam a interação social dos participantes
autor/revisor.
O texto completo está organizado em quatro capítulos:
O capítulo 1 “Fundamentação teórica” apresenta os
fundamentos que orientam a realização da pesquisa, tratando dos
termos texto/contexto, da teoria dos contextos, dos postulados
básicos da análise crítica do discurso na vertente sociocognitiva
e da teoria das representações sociais.
O capítulo 2 “O contexto discursivo editorial”
apresenta os participantes de uma instituição editorial, suas
funções e ações. Apresenta ainda a categorização destes
participantes agrupando suas tarefas no processo de produção de
texto no contexto editorial.
O capítulo 3 “O papel do revisor” apresenta as funções
e ações do revisor de textos e como este papel interage com os
demais participantes discursivos.
Por último, o capítulo 4 “Critérios de revisão e
padronização de textos” apresenta os critérios identificados
pelos participantes do processo de editoração de texto para
controlar as correções marcadas na revisão.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
E
ste capítulo revisa os fundamentos da vertente
sociocognitiva da Análise Crítica do
Discurso, com destaque para o discurso
institucional e suas categorias poder, controle e acesso, para o
papel social dos participantes na organização estrutural do
contexto discursivo de uma editora, e também para uma
resumida descrição da teoria das representações sociais de
Moscovici, pelo fato desse fenômeno analisar os modos de
pensamento sustentados na vida cotidiana e mantidos por longos
períodos. Comprovamos com a fundamentação de Foucault
neste capítulo e, nos seguintes, com Araújo e Magalhães et al.
A Análise Crítica do Discurso realizada pela Escola de
Frankfurt apresenta várias vertentes: a social, a sociocognitiva e
a semiótica social. Embora elas difiram pelos seus objetivos e
métodos analíticos, todas postulam uma dialética entre o social e
o individual. O social guia o individual, e o individual modifica
o social. O discurso visto como uma das práticas sociais imbrica
o produto discursivo texto com os contextos de sua produção.
A seguir, resumimos a teoria dos contextos de van Dijk
(2012), que difere o contexto social do discursivo e de
linguagem. Definimos o contexto social pelos grupos sociais que
compõem a sociedade. Segundo o autor, todas as mudanças
sociais produzem alterações no discurso. Atualmente, com a
Pós-Modernidade, as tecnologias têm provocado mudanças
sociais. No caso da empresa editorial, especificado neste
trabalho, foram sofridas uma série de modificações, não só na
fase de editoração de um livro, mas também na sua impressão e
distribuição.
As funções e ações dos participantes do discurso
designam seus papéis sociais. O que significa que esses
participantes do discurso também definem o contexto
discursivo. Identificamos o contexto de linguagem pelo uso de
uma variedade/variação linguística para a construção do que o
texto traz representado em língua, como produto discursivo.
Dependendo da variedade/variação utilizada na construção dos
sentidos, reconhecemos diversas características do sujeito
enunciativo, assim como descreveremos adiante a ocorrência
das propriedades de um fenômeno local (revisão de textos em
editoras) com termos de alguns aspectos de seu contexto.
Neste estudo, justificamos a noção de contexto
apresentada na obra de van Dijk (2012), por indicar algum
fenômeno, evento, ação ou discurso a ser estudado em relação
com seu ambiente, suas condições e consequências. Segundo o
autor, uma hipótese sociocognitiva da teoria de contexto postula
que “não é a situação social que influencia o discurso (ou é
influenciada por ele) mas a maneira como os participantes
definem essa situação.”1
Portanto, os contextos não são um tipo de resultado ou
condição objetiva de causas diretas, sendo assim construtos
(inter)subjetivos concebidos e atualizados na interação pelos
participantes enquanto membros de grupos sociais e
comunidades. Tal hipótese também abrange a unicidade de cada
texto, sua base comum, e também as representações sociais
compartilhadas pelos participantes.
Em geral, a contextualização é um componente
fundamental de nosso entendimento da conduta humana,
especificamente, da literatura e de outros textos e discursos. Os
contextos são assim chamados porque, etimologicamente, eles
vêm junto com os ‘textos’.2
De acordo com a teoria das memórias (social x
individual), esse conceito teórico de contexto estabelece alguns
pressupostos descritos pelo autor, de que contextos são
definições subjetivas das situações interacionais dos
participantes, ao contrário da sua definição com propriedades
objetivas, apesar de serem dinâmicos e com bases sociais. As
estruturas políticas e sociais experenciadas (vividas como
‘reais’) pelos membros da sociedade influenciam o discurso
1
(Dijk, 2012, p. 11)
2
(Dijk, 2012, p. 21)
somente através das interpretações (inter)subjetivas que os
participantes fazem delas.
Além disso, os contextos não são apenas experiências
únicas, mas também um tipo específico de modelo da
experiência. Em outras palavras, são modelos mentais,
construtos subjetivos explicados em termos de modelos mentais
(modelos de contextos) que representam as propriedades
relevantes do entorno comunicativo na memória episódica
(autobiográfica) e controlam passo a passo os processos da
produção e compreensão do discurso.3
O modelo da experiência representa tanto a própria
pessoa e o entorno dos seres humanos conscientes, como
também controla as ações que eles vão realizando, de modo que
as tornam relevantes na situação corrente. Ao serem modelos
mentais, os contextos consistem em esquemas de categorias
compartilhadas, convencionais e dotadas de uma base cultural,
que facultam uma interpretação rápida dos eventos
comunicativos em curso e, assim, controlam a produção e a
compreensão do discurso. Por isso, muitas vezes, os contextos
são amplamente planejados.
Atribuímos importância a esse conceito de modelo de
contexto devido a suas funções pragmáticas. De acordo com van
Dijk (2012), a função fundamental dos modelos de contexto
3
(Dijk, 2012, p. 35)
garante aos participantes a possibilidade de produzirem textos
ou falas adequados à situação comunicativa presente, e de
compreenderem a adequação dos textos ou falas dos outros, que
adaptam sua interação discursiva aos ‘entornos’ socioculturais e
cognitivos do momento. Por isso, defendemos que os esquemas
de contextos e suas categorias podem variar culturalmente, e
configurar condições de adequação diferentes para o discurso
em sociedades diferentes.
O que van Dijk caracteriza como contexto não são as
próprias situações comunicativas, mas um tipo específico de
modelo mental, isto é, as representações das próprias situações
comunicativas feitas subjetivamente pelos participantes, pelo
fato das situações sociais não influenciarem diretamente a língua
e o discurso, pois tal influência somente é possível pelos
modelos mentais, como explicamos anteriormente. Dessa
maneira, o modelo de contexto define-se enquanto modelo
mental específico, ou como uma interpretação subjetiva das
propriedades relevantes da situação (social, interacional ou
comunicativa) realizada pelos participantes, mas guiada por
conhecimentos sociais.
Essa interface mental representa subjetivamente os
aspectos relevantes da situação comunicativa, é a estrutura
cognitiva que monitora a produção e a compreensão do discurso.
De um lado, o autor evidencia uma noção de contexto inclusiva,
ou seja, que inclui a representação mental da interação em curso.
Por outro lado, difere uma segunda noção de contexto,
exclusiva, um modelo do entorno situacional dessa interação,
excluído o próprio discurso.
Utilizaremos nesta pesquisa uma abordagem de
contexto inclusiva, consideramos tanto o modelo dos entornos
situacionais do(s) discurso(s), quanto o(s) próprio(s) discurso(s)
de uma instituição editorial, ao invés de uma hipótese de
contexto exclusiva, a qual questionaria como os entornos
situacionais influenciam o(s) discurso(s) por modelos mentais.
Muito similar à teoria dos contextos (inclusivo e
exclusivo) de van Dijk (2012), explicitada anteriormente, o
reconhecido cientista social francês Foucault (2011) concorda
especificamente com métodos para análise de discursos, pela
teoria de quatro princípios reguladores:
4
(Foucault, 2011, p. 54)
5
(Foucault, 2011, p. 51-53)
de inversão: “tradicionalmente, acreditamos
reconhecer a fonte dos discursos, o princípio de sua
expansão e de sua continuidade, em figuras que parecem
desempenhar um papel positivo, como a do autor, da
disciplina e da vontade de verdade. Mas, ao contrário,
precisaríamos reconhecer o jogo negativo de um recorte e
de uma rarefação do discurso.”
de descontinuidade: “devemos tratar os
discursos como práticas descontínuas, que ora se cruzam,
ora se ignoram ou se excluem.”
de especificidade: “concebemos o discurso
como uma violência que fazemos às coisas, uma prática que
lhe impomos em todo o caos e, nesta prática, que
encontramos a noção de regularidade dos acontecimentos
do discurso.”
de exterioridade: “a partir do próprio discurso,
de sua aparição e de sua regularidade, passamos das suas
condições externas de possibilidade, àquilo que dá lugar à
série aleatória desses acontecimentos e fixa suas fronteiras.”
A mais simples identificação de coerência discursiva,
no sentido de sequência de proposições, consiste nos fatos
(acontecimentos, ações, situações) a que o discurso faz
referência em relação entre si, seja ela de causa, tempo ou
possibilidade. Seguimos adequadamente essa definição com a
sintética ideia de van Dijk (2012), um discurso é coerente se tem
(satisfaz) um modelo mental. Nesse sentido, uma sequência de
sentenças de um texto será coerente se os usuários da língua
forem capazes de construir modelos mentais dos eventos ou
fatos sobre os quais estão falando ou ouvindo, e de relacionar
entre si os eventos ou fatos desses modelos, por exemplo, por
meio de relações de temporalidade ou causalidade.
Defendemos essa teoria sobre os modelos de contexto
de maneira básica e adequada para abordarmos gênero
discursivo, porque muitas propriedades dos diferentes gêneros
discursivos se definem mais em termos contextuais do que em
propriedades verbais do discurso. Assim sendo, o autor afirma:
6
(Dijk, 2012, p. 160)
compreendemos, em teoria, um número infinito de situações
sociais. O que é ‘comunicativamente relevante’, em tais
situações, são o tipo de informação ajustável ao modelo de
contexto e suas categorias compartilhadas social e
culturalmente.
Compreendemos que tanto os gêneros, quanto os
contextos, os eventos comunicativos ou as práticas sociais
podem ser classificados de muitas maneiras, assim como
podemos fazer com os discursos, por esferas, modos, principais
domínios sociais, instituições ou organizações, papéis e relações
dos participantes, objetivos ou (inter)ações. E mais noções
teóricas podem ser elaboradas para explicitar a teoria do
contexto e de sua inserção social. Com isso, podemos agrupar os
domínios em um campo, no qual se organizam a tomada de
decisão, a ação e o controle coletivos.
Estamos tratando deste estudo para a influência social
complexa, mediante modelos de contexto, para reunirmos
informações importantes ao modelo do contexto editorial e
apresentarmos as suas categoriais sociais (especificamente o
papel representado pelo revisor de textos). Segundo o autor,
essas formas de influência contextual combinadas são feitas de
maneira qualitativa, e não de maneira estatística habitual,
“porque os falantes se representam a si mesmos e a seus
coparticipantes, em termos de várias categorias sociais ao
mesmo tempo – podendo as identificações mudar durante o
texto e a fala.” (Dijk, 2012)
Conforme expusemos anteriormente, também
consideramos que, na relação texto-contexto, concebemos o
discurso como parte do contexto. E, nesse caso, os contextos,
tais como foram definidos (como modelos mentais), são
modelos dos episódios comunicativos, e não apenas do entorno
situacional do discurso. Essas hipóteses que apresentamos
implicam que exatamente como os modelos de contextos
precisam representar as identidades sociais dos falantes e
receptores momentaneamente relevantes, também adquirem
relevância aos conhecimentos associados com essas identidades.
As identidades relevantes são as comunidades epistêmicas que
produzem o conhecimento compartilhado que todos os membros
podem pressupor em seu discurso.
Encerramos a fundamentação de contexto estabelecida
por van Dijk (2012) nesta pesquisa, depois de destacarmos sua
importância devido aos modelos de contextos integrarem tanto
as propriedades sociais e cognitivas dos eventos comunicativos,
como também os papéis dos participantes e suas intenções e
conhecimentos. Conseguimos ressaltar que a teoria dos modelos
de contexto nos permite apresentar a experiência e a consciência
quotidiana do contexto editorial, ao colocar o Eu-mesmo em
várias identidades-por-papel do falante e/ou receptor nesses
modelos. Aplicaremos as bases teóricas relativas às teorias dos
contextos e dos papéis sociais no capítulo 2 para caracterizarmos
o contexto discursivo editorial.
7
(Moscovici, 2003, p. 17)
representação específica, também reivindica sua própria
legitimação de ideias.
8
(Moscovici, 2003, p. 18)
Devido ao fato das representações serem resultadas da
interação e comunicação e, assim, tomando forma e
configuração específicas a qualquer momento, como
consequência do equilíbrio determinado dos processos da
influência social, como a comunicativa, logo, elas podem ser o
produto da própria comunicação, mas sem a representação, não
haveria comunicação. E, por essa interconexão, podem também
mudar a estabilidade de sua organização e estrutura, dependendo
da consistência e constância de tais padrões de comunicação,
que as mantêm. Nesse sentido, conseguiram uma estabilidade
estrutural pela transformação de uma estrutura anterior, com a
função de estabelecer uma ordem que possibilita às pessoas
orientação e controle em seu mundo material e social; e
comunicação entre os membros de uma comunidade, com um
código para nomear e classificar vários aspectos do seu mundo e
da sua história individual e social, sem ambiguidade.
O autor levanta três hipóteses gerais para justificar a
necessidade das representações sociais: respondem a
determinadas necessidades, a um estado de desequilíbrio e
favorecem a dominação impopular, mas impossível de erradicar,
de uma parte da sociedade sobre outra. Uma pessoa ou um
grupo cria imagens e constrói sentenças para revelar ou ocultar
intenções, sendo tais imagens e sentenças distorções subjetivas
de uma realidade objetiva. Todas as ideologias e concepções de
mundo são meios para solucionar tensões psíquicas ou
emocionais devidas a um fracasso ou a uma falta de integração
social, são compensações imaginárias com a finalidade de
restaurar um grau da estabilidade interna. Os grupos criam
representações para filtrar a informação que provém do meio
ambiente e controlar o comportamento individual, uma espécie
de manipulação do pensamento e da estrutura da realidade.
Criamos representações por dois mecanismos
demonstrados por Moscovici (2003):
1. Ancoragem: significa classificar e dar nome a
alguma coisa, pois o que não está classificado e não possui
nome é estranho, inexistente e, ao mesmo tempo,
ameaçador; transformar algo perturbador, que nos intriga,
em nosso sistema particular de categorias e compará-lo por
um paradigma de alguma categoria que nós pensamos ser
apropriada.
2. Objetivação: significa descobrir a qualidade
icônica de uma ideia, ou ser impreciso; reproduzir um
conceito em uma imagem, unindo a ideia da não
familiaridade com a de realidade, tornando-se a verdadeira
essência da realidade.
Essa teoria das representações exclui a ideia de
pensamento ou percepção que não possua ancoragem, porque
esse mecanismo não é um meio para classificar pessoas ou
objetos considerados como entidades discretas, mas para
facilitar “a interpretação de características, a compreensão de
intenções e motivos subjacentes às ações”, formar opiniões. E,
como toda representação torna real um nível diferente da
realidade, tais níveis são criados e mantidos pela coletividade e,
com ela, se esvaem, por não existirem por si mesmos. Através
de suas próprias representações da realidade, os sujeitos agem
nesses processos e as reformulam, constantemente. Com isso,
“estamos sempre em uma situação de analisar representações de
representações!” (Moscovici, 2003)
Portanto, toda representação social constitui-se como
um processo em que podemos localizar uma origem, sempre
inacabada, que outros fatos e discursos a nutrirão ou
corromperão com ela. Esta teoria analisa todos aqueles modos
de pensamento sustentados na vida cotidiana, que são
historicamente mantidos por longos períodos.
9
(Moscovici, 2003, p. 219)
Para finalizar a teoria descrita, concluímos que cada
experiência é somada a uma realidade predeterminada por
convenções, a qual definimos suas fronteiras, distinguimos
mensagens significantes de mensagens não significantes e
ligamos cada parte a um todo, categorizando distintamente cada
pessoa. Com isso, nenhuma mente está livre dos efeitos de
condicionamentos anteriores que lhe são impostos por suas
representações, linguagem ou cultura, pois pensamos através de
uma linguagem, e organizamos nossos pensamentos de acordo
com um sistema condicionado, tanto por nossas representações,
como por nossa cultura.
Nós percebemos apenas o que as convenções
subjacentes nos permitem e permanecemos inconscientes dessas
convenções. Se, por um lado, colocamos um signo convencional
na realidade, e, por outro, prescrevemos pela tradição e
estruturas imemoriais o que nós percebemos e imaginamos, tais
criaturas do pensamento, que são as representações, terminam
por se constituir em um ambiente real, concreto. Podemos
afirmar que quanto mais a origem da representação é esquecida
e sua natureza convencional ignorada, mais fossilizada ela se
torna e, assim, o que era ideal, passa, gradualmente, a ser
materializado; deixa de ser efêmero, mutável e mortal e torna-se,
duradouro, permanente, quase imortal.
O CONTEXTO DISCURSIVO DE UMA INSTITUIÇÃO EDITORIAL
O desejo diz: “Eu não queria ter de entrar nesta ordem
arriscada do discurso; não queria ter de me haver com
o que tem de categórico e decisivo; gostaria que fosse
ao meu redor como uma transparência calma,
profunda, indefinidamente aberta, em que os outros
respondessem à minha expectativa, e de onde
respondessem à minha expectativa, e de onde as
verdades se elevassem, uma a uma; eu não teria senão
de me deixar levar, nela e por ela, como um destroço
feliz”. E a instituição responde: “Você não tem por que
temer começar; estamos todos aí para lhe mostrar que
o discurso está na ordem das leis; que há muito tempo
se cuida de sua aparição; que lhe foi preparado um
lugar que o honra mas o desarma; e que, se lhe ocorre
ter algum poder, é de nós, só de nós, que lhe advém.”10
N
este capítulo apresentamos o contexto
discursivo de uma instituição editorial com
uma abordagem inclusiva, isto é, incluímos
o próprio discurso da empresa editorial ao contexto, assim como
suas relações com os participantes do processo de editoração.
Ilustramos a citação anterior, segundo o princípio de
inversão; de um lado há o discurso do autor expressando o
desejo de publicar sua obra e, por outro, há o contexto
discursivo editorial, nessa estrutura pode-se explorar o produto
(texto), a sua autoria e a sua representação dentro do contexto de
uma linha editorial. Na sociedade, a produção discursiva ao
mesmo tempo que é controlada, selecionada, organizada,
10
(Foucault, 2011, p. 7)
também, é redistribuída por procedimentos (como de exclusão
ou interdição, por exemplo), os quais têm por função “conjurar
seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório,
esquivar sua pesada e temível materialidade.” (Foucault, 2011)
O processo editorial envolve o discurso institucional
como parte do contexto discursivo e, com o objetivo de publicar
o texto original recebido de um autor, sobre esse texto serão
realizadas interdições e exclusões, e por meio dessas escolhas
que se firma tanto a “verdade da editora”, isto é, o discurso,
como também o dos seus representantes, das identidades
atuantes na execução de suas funções, o das normas linguísticas,
o da disciplina e do discurso autoral. Ou seja, mostra-se um
poder de domínio discursivo representado pelos papéis dos
participantes no processo de produção de uma obra.
11
(Foucault, 2011, p. 10)
nossa sociedade um determinado poder de coerção. Por isso o
discurso do autor representado no material enviado para a
editora também deve ser considerado em todo o processo de
produção da obra final, inclusive a própria atribuição de um
texto a um autor já exerce um domínio discursivo, protegido
juridicamente pelo direito moral do Direito Autoral.
Por uma abordagem jurídica, Manso (1987) afirma que
o Direito Autoral regulamenta relações entre o autor de um obra
intelectual e outras pessoas interessadas em tirar proveito dela.
Uma obra intelectual desperta duas ordens de interesses, em
geral, interesses culturais ou econômicos. E para que uma obra
intelectual seja protegida pelo Direito Autoral, ela precisa ser
original, ter origem na pessoa que a criou. Se uma obra não
atender a essa condição de preencher um vazio intelectual,
independentemente da modalidade de forma de expressão, seu
valor artístico, seu mérito ou sua destinação, ela não terá
proteção autoral. Nessa mesma perspectiva, designamos Direito
Autoral como um:
12
(Manso, 1987, p. 7-8)
em novo estilo e em outra língua. Tanto o autor como o
tradutor são autores de obras originais: o primeiro, por
ser o criador dela; o segundo, por ser o criador de uma
forma externa da mesma obra, que é elaborada com
uma liberdade pessoal contida nos limites da forma
interna da obra primígena.13
14
(Foucault, 2011, p. 35)
Figura 1 – Os papéis sociais do contexto editorial.
15
(Foucault, 2011, p. 40-41)
16
(Magalhães et al., 1981, p. 12-13)
obra, a qual, no plano editorial, não se limita a ser apenas o texto
do autor, porque o texto original é uma potencialidade. Já
sabemos que um livro é muito mais do que um autor, pois
incorpora um trabalho tremendo de uma equipe editorial, e se
torna mais do que apenas um trabalho de materialização. Mas o
trabalho de edição de um livro, para Foucault (2011), consiste
em torná-lo disponível, público, acessível.
Para tanto, planejamos os passos a serem dados pelos
participantes de uma editora, os quais trataremos com mais
detalhes posteriormente:
1. Reunir e organizar o material a ser publicado
(digitando, fotografando ou de outro modo);
2. Providenciar a documentação legal para isto
(ISBN, ISSN ou outra) e catalogação;
3. Organizar (ou diagramar) o livro,
providenciando pelo menos três boas revisões;
4. Providenciar a impressão, montagem e
distribuição nos pontos de venda, com uma boa divulgação
da obra.
17
(Magalhães et al., 1981, p. 61)
Encerramos este capítulo considerando que, se o revisor
de texto atua e tem um papel específico na estrutura do contexto
discursivo editorial, logo, sua tarefa no conselho editorial
concentra-se no processo de revisão de textos.
O PAPEL DO REVISOR DE TEXTOS
N
este capítulo resumimos o processo de
produção de um livro, caracterizando todas
suas etapas, e as principais identidades
participantes do processo de editoração, incluindo o revisor de
textos. Para a seleção e análise dos originais e, a partir daí, para
a elaboração do projeto editorial, consideramos, ao lado de
outros fatores, o objeto da publicação, o público a que se destina
e o conteúdo da informação. Assim, torna-se importante a
aplicação de uma doutrina ou política editorial, com a definição
fundamental do conceito do livro e a definição de seu papel.
Essas tarefas normalmente são realizadas pelo editor.
Basicamente, após o texto original ter sido aprovado
pelo parecer da editora ou de um conselho editorial, o texto
ainda seguirá um longo caminho até a sua publicação. A
princípio, se o texto estiver em língua estrangeira, será
necessário pensar em uma tradução ou versão de publicação e
um profissional ideal para essa tarefa e, concomitantemente, o
livro recebe um projeto visual, elaborado por um designer
gráfico, e um projeto gráfico, que atribuirá ao livro um formato
e um tamanho. Logo, os livros que pertencem a uma mesma
coleção deverão obedecer ao mesmo projeto gráfico, apenas as
capas seriam diferentes, mas dentro de um mesmo padrão
editorial.
Após a tradução, o texto segue para a preparação, ou
copidesque (copydesk). Assumimos texto “original” com o
sentido utilizado por Araújo (2008) de qualquer manuscrito ou
texto reproduzido mecânica ou digitalmente entregue como a
redação definitiva do autor. Esse original deve ser submetido ao
trabalho prévio de um preparador de textos para uma
normalização literária, uma revisão ordenada que empreste ao
conjunto uma espécie de coerência integral que dá unidade ao
trabalho, e que contribui ao “fazer entender” do autor. Pode
acontecer de um revisor também realizar as tarefas de
preparação de um texto.
No caso das traduções, essa etapa é realizada na tela de
um computador, geralmente com o programa da Microsoft
(Microsoft Word™), e analisamos comparando o original com a
tradução (o responsável deve ter em mãos o texto original e a
sua tradução), a fim de esclarecermos trechos e dúvidas de
tradução, pesquisarmos e reescrevê-los, se necessário. Evitamos
os “saltos” de tradução (trecho excluído do texto) e verificamos
os parágrafos, porque a estrutura da obra original deve ser
respeitada, tanto a paragrafação, quanto a divisão em capítulos
e/ou partes.
Uma tradução consistente caracteriza um texto fluído
em nossa língua, enquanto um texto negligente é híbrido demais.
Caso o texto original seja da área científica ou artística, a editora
recorre, em geral, a uma revisão técnica devido ao uso de um
vocabulário específico, feita por algum leitor da área com a
finalidade de adequar a terminologia ao público e resolver as
dúvidas do tradutor. Depois disso, o texto é paginado, ou seja,
configurado em páginas de acordo com o projeto gráfico criado
pelo diagramador e, nessa fase, encontramos a primeira prova
em papel do texto. A partir disso, inicia-se a revisão de provas.
Elaboramos um modelo esquemático do processo de
produção de livros no contexto editorial (Figura 2).
D
iferenciamos a obra final da original ao
longo de todo o processo da produção,
desde o projeto editorial contratado até a
sua publicação, porque lidamos com questões discursivas
institucionais, como padrão editorial, acordo ortográfico, normas
linguísticas, direitos autorais, conceito de autoria, ou devido a
questões de estilo, seja do autor ou do público, do gênero textual
ou da área de publicação. Essas questões também alteram o
texto a ser publicado com o nome de uma editora assim como,
reciprocamente, os textos produzidos caracterizam também o
próprio discurso editorial da instituição (missão ou linha
editorial). Mais especificamente, essa relação nos parece
fundamental para compreender esses temas, justifica o trabalho
de revisão de textos, nos permite a enunciação de papéis sociais
e de suas subjetividades.
Alertamos, assim como nos estudos de Araújo (2008),
que o trabalho prévio com textos originais pode ser bastante
complexo de acordo com a multiplicidade com que se
apresentam, tais como critérios ortográficos díspares, sistemas
de notas, de bibliografia, de índices, de citações etc. Assim, cabe
ao editor ou conselho editorial atribuir ao original uma
“normalização harmônica” entre tais sistemas, um critério de
padronização, e que também seja compatível com a mesma
natureza do texto, e suficiente para certas restrições, em
particular quando se trata do texto literário, no qual o autor
realiza fraturas na linguagem e nas normas gramaticais.
De imediato, aceitamos que por mais que o autor
forneça um texto correto em uma perspectiva informativa e
gramatical, dificilmente haverá, a princípio, nesse mesmo texto,
uma unidade de termos, de reduções (abreviaturas, siglas) e
assim por diante. Com isso, concluímos que uma atenção
cuidadosa deve ser exigida para um limite justo no proceder das
alterações no escrito original. Em razão disso, frequentemente,
como ressalta Magalhães et al. (1981), o editor se premune, por
meio de contrato, de que a leitura da última prova seja feita pelo
autor, não podendo este fazer alterações que não constem dos
originais.
Acrescentamos que a revisão sobre o texto também não
pode alterar o estilo do autor, o que convém reconhecer
elementos intrínsecos da forma com que o texto se apresenta, a
própria estrutura das orações, sua concatenação, seu ritmo, sua
fluência e seu efeito. Em relação aos textos didático-científicos,
Araújo (2008) afirma que, o escrito sofre as alterações
necessárias a fim de evitar asperezas, dubiedades, erros ou
simplesmente imperfeições estilísticas menores. Em relação ao
original e suas alterações, as alterações consistem em veicular o
tipo de comunicação mais clara possível ao leitor.
18
(Araújo, 2008, p. 61)
para contribuir ao trabalho, dois tipos de padronização literária:
a da editora, chamada de normalização empírica, a qual os
ingleses denominam ‘manual de estilo’, e a dos chamados
centros de normalização, chamada normalização teórica. Para
cada aspecto escolhemos um critério em cada caso, para cada
original. Além disso, também costumamos, no Brasil, usar
critérios de padronização de textos considerando as normas
estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT). Com a técnica editorial moderna estabelecemos um
código de normas para a apresentação mecânica dos textos,
normas de ‘estilo’ gráfico e tipográfico, regras para a disposição
formal da matéria impressa.
Independentemente das alterações das técnicas editorias
do passado, o texto e o profissional permanecem na grande ou
pequena empresa, trabalhamos com o acerto de informações
desse texto, sua objetividade de comunicação, sua normalização
literária e o programa gráfico com que o apresentáramos ao
público. Ao contrário dos antigos filólogos, contamos que sua
tarefa se subordina à velocidade imposta por altos investimentos
e, sobretudo, à contingência de agir como especialista, cuja área
de atuação, no produto final (o livro), é reduzida, mas não
acanhada, é limitada, mas não desprezível.19
19
(Araújo, 2008, p. 49)
Mais adiante, explicamos os critérios de revisão, neste
capítulo, por dois tipos de classificação, uma para tratarmos de
aspectos linguísticos, relacionados a uma revisão gramatical,
que busquem por alterações de ortografia, pontuação,
acentuação e sintaxe; e outra para abordar aspectos formais,
relacionados a uma revisão tipográfica, na qual procuramos pela
normalização dos critérios editoriais, desde as laudas até o
próprio texto.
Mas, na prática cotidiana, as revisões são divididas de
acordo com as etapas de produção da obra e por sua finalidade.
As revisões mais meticulosas acontecem nas primeiras provas.20
E as marcações das revisões nas provas são feitas quantas vezes
forem necessárias, normalmente representadas por códigos
(sinais convencionais universais), escritos nas margens das
folhas. Observamos as principais dessas marcas do revisor, ou
como as conhecemos “emendas” (Figura 3).21
20
(informação verbal) Curso Preparação e Revisão: o Trabalho com o Texto,
realizado por Ibraíma Dafonte Tavares na Fundação Editora UNESP, pela
Universidade do Livro, de 19 a 22 de fevereiro de 2013.
21
Copiado do livro A Construção do Livro, de Emanuel Araújo.
Figura 3 – Emendas ou marcas de revisão.
Aspectos linguísticos
22
(Araújo, 2008, p. 364)
“conhecemos a obra de Machado de Assis, que todos
admiram”, não fica claro se se admira a obra ou o
escritor; o problema se resolve com a substituição da
partícula que por a qual (obra) ou o qual (escritor),
conquanto se perca a leveza da estrutura
subordinada.23
23
(Araújo, 2008, p. 67)
de originais deve ter cautela quanto ao uso abusivo desse
recurso.
Quanto à variação da ortografia de algumas palavras,
definimos ao preparador de originais a tarefa de decidir sobre as
chamadas formas optativas de grafar algumas palavras, mesmo
quando tal variação não conste nos manuais ou não pode ser
resolvida segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa,
cujo objetivo era alcançar uma ortografia unificada que envolvia
algumas mudanças simplificadoras, pondo um ponto final na
existência de duas normas divergentes e ambas oficiais: uma no
Brasil e outra nos países restantes de língua portuguesa.
No caso da grafia de nomes próprios, a regra é
facultativa, mesmo se a forma onomástica concordar com
padrões ortográficos desatualizados, seja em uma designação
oficial, num dístico e semelhantes, ainda que a atualização seja o
ideal, mesmo contrariando o registro com que se tornaram
públicos. Já no caso dos antropônimos, os usuários podem grafar
os nomes de origem evidentemente estrangeira.
O uso de letras maiúsculas é definido por convenção,
seguindo a própria sequência visual do escrito, com sentido
específico em certos casos: em início de frase ou depois de
alguns sinais de pontuação, nas classificações científicas, em
muitas abreviaturas e em normas bibliográficas, antropônimos,
topônimos e locativos, regiões, intitulativos, forças armadas,
períodos e episódios históricos, coisas singulares e objetos de
culto ou valia, festividades ou comemorações cívicas, religiosas
e tradicionais e afins. Algumas palavras requerem inicial
maiúscula devido ao próprio sentido, como nos casos a seguir,
citados pelo autor:
Estado: com o sentido de nação politicamente
organizada ou conjunto de poderes políticos de uma nação;
República: quando substitui a palavra Brasil ou
quando designa o período histórico;
União: no sentido de associação dos estados
federativos, poder central;
Igreja: como instituição ou no sentido de
conjunto de fiéis ligados pelo mesmo credo religioso.
24
(Araújo, 2008, p. 91)
25
(Araújo, 2008 p 126)
Tanto o erro do digitador ao elaborar a reprodução do
texto original, antes da etapa de preparação de texto, quanto o
dos antigos copistas, pode seguir uma correção de transposição
de textos, de omissão, de inserção, substituição, confusão de
letras e de abreviaturas equivocadas. Embora nem sempre haja
um digitador enquanto um participante do processo de
editoração, outro sujeito do conselho editorial poderia realizar
essa mesma função. Também encontramos outros tipos de erros
ocasionados pelos recursos dos programas de processamento de
texto, por meio de alguns comandos feitos involuntariamente.
26
(Araújo, 2008, p. 127
Por fim, consideramos que o revisor de textos, na
prática, é um corretor e, por isso, se preocupa principalmente
com o erro. Logo, para uma boa revisão, o revisor de textos
distribui o trabalho sobre um determinado número de provas
sucessivas, nas quais serão procurados por erros ortográficos e
gramaticais, linhas fora do lugar, salto de palavras ou trechos
inteiros, letras defeituosas, alterações involuntárias de fonte e
estilo, defeitos no entrelinhamento ou na “mancha”, de ordem
linguística ou formal.
Aspectos formais
Sucintamente, os princípios normalizadores de uma
editora abrangem muitos elementos do livro, como o papel, as
margens, os parágrafos, linhas, toques, entrelinhas, cabeçalhos
(excesso de subcabeçalhos), realces (itálico), pontuação,
referências (cruzadas), numeração das laudas, páginas de
abertura, títulos, subtítulos, intertítulos, marcadores de tópicos e
outras marcações gráficas. Nesta parte da pesquisa, pretendemos
citar apenas alguns desses aspectos gerais, que serão
apresentados abaixo conforme indicados no estudo de Araújo
(2008), segundo critérios comuns da profissão.
A princípio, jamais um parágrafo deve ser iniciado com
um algarismo, seja arábico ou romano. E os numerais de zero a
nove, dezenas e centenas redondas são escritos com algarismos
arábicos, e por extenso quando não houver nada nas ordens ou
classes inferiores. Acima do milhar, ou aproxima-se o número
fracionário ou desdobra-se em dois termos numéricos. As
frações devem ser indicadas por algarismos, exceto quando
ambos numerais se situam de um a dez. Já as frações decimais
são escritas com algarismos em qualquer caso, e a separação
entre a parte inteira e as decimais é feita com vírgula. Os
numerais ordinais são apresentados por extenso de primeiro a
décimo, porém, os demais se representam de forma numérica.
Para a inscrição de percentagens, utiliza-se o símbolo % junto ao
algarismo.
As datas, de maneira geral, no corpo do texto, são
escritas: o dia em algarismos, o mês por extenso e o ano em
algarismos, ou o mês com algarismo e todos os elementos
separados por barras ou pontos. Porém, quando forem indicados
apenas o mês e o ano, o primeiro se escreve por extenso e o
seguinte em algarismos, e os anos devem ser indicados por todos
os números e não apenas pela dezena final.
Os algarismos romanos são adotados para enumerar
séculos, reis imperadores, papas do mesmo nome, denominações
oficiais de instituições, empresas, conclaves etc., dinastias reais,
paginação de prefácio e nomes de acontecimentos históricos.
Quando houver referência a décadas, devemos explicitá-la com
as palavras décadas ou decênio. Para a referência de quantias,
padronizamos, comumente, escritas por extenso de um a dez e
com algarismos daí em diante; de horários, indicamos em
algarismos com a identificação das frações de tempo sendo feita
com os seus respectivos símbolos.
Os símbolos das unidades de medidas, em geral, por
constituírem braquigrafias fixadas por convenções explícitas
(quase sempre internacionais), com base em símbolos literais ou
algarismos-literais, devem seguir o Sistema Internacional de
Unidades (SI), que substitui o Sistema Métrico Decimal, que foi
aprovado em conferência internacional em 1960. Em 1963, o
Brasil determinou que as unidades legais de medida no Brasil
seriam as do SI (decreto nº 52.423, de 30.8.1963), determinação
que foi ratificada em 1988 pelo Conselho Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial. O texto
completo do SI é encontrado no sítio do Instituto Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO),
na Internet.27
O realce de textos, seja de citação, palavra ou
expressão, ou qualquer item que se pretenda destacar, se faz
presente nos manuais das editoras. Para esse efeito,
apresentamos determinado realce material que caracterize o
texto selecionado justamente como diferente no corpo da obra,
podendo tal realce se processar, no caso das citações, por
27
(Araújo, 2008, p. 92)
exemplo, com o uso de aspas, pela mudança do corpo
predominante no texto, e por menor espaço entre as linhas ou
margens ou pela combinação de ambas as formas. Essa
recomendação de maior espaçamento da margem esquerda da
página e brancos interlineares no início e no fim do bloco da
citação caracteriza citações que ultrapassam três linhas
completas.