Você está na página 1de 17

Dossiê

Os autores tecem,
em p r i m e i r o lugar, u m a
A INTEGRAÇÃO
história da integração
e s c o l a r d e c r i a n ç a s defi- ESCOLAR DE
cientes m e n t a i s na Fran-
ça. E m s e g u i d a , d i s c u -
tem algumas questões CRIANÇAS
atuais. C o n c l u e m que
os p r o g r e s s o s n e s s e d o -
m í n i o só s e r ã o p o s s í -
DEFICIENTES
v e i s se a c o m p a n h a d o s
p o r u m a s i t u a ç ã o tera-
pêutica fundada na
MENTAIS: ESTUDO
transferência.
Deficiência mental;
i n t e g r a ç ã o escolar
HISTÓRICO E
SCHOOL INTEGRATION OF QUESTÕES ATUAIS
MENTALL Y DEFICIENT
CHILDREN: A HISTORICAL
STUDY AND SOME
PRESENT-DA Y QUESTIONS
The authors, first of M . C.Fourment-Aptekman
all, present a history of
school integration of
mental deficient E. Chapuis
children in France.
Secondly, they discuss
some contemporary T r a d u ç ã o : Inesita M a c h a d o
problems on school
integration. They
conclude that the
progress in this domain
will be possible only if
it is accompanied by a
A questão d a i n t e g r a ç ã o e s c o l a r foi levan-
therapeutic situation
based on transfer.
tada pouco após o estabelecimento, na Terceira Re-
Mental deficiency;
school integration
pública, da legislação que tornava a instrução gra-

tuita, leiga e obrigatória para todas as c r i a n ç a s de

6 a 13 a n o s completos (leis Ferry de 1881-2).

O fluxo de e s t u d a n t e s , crescente desde o segun-


do terço do século, aumentou então, dando maior
visibilidade à "miséria social e m o r a l " de grande
parte deles. C o m o fazer p a r a q u e a e s c o l a p o s s a efe-
tivamente beneficiar a todos de m o d o democrático?
Essa questão aparece como um leitmotiv nos
discursos parlamentares da época, marcados pelas
idéias republicanas, que vêem na elevação do nível
• Membros da Unidade de Pesquisa Psicogênese e
Psicopatologia, da Universidade Paris 13, Villetaneuse.
d a p o p u l a ç ã o u m a p r o m e s s a de r e t i f i c a ç ã o n a c i o n a l . D e fato, os úl-
t i m o s d e c ê n i o s d o s é c u l o XIX, p r i n c i p a l m e n t e d e v i d o à d e r r o t a de
1870, assistiram à p r o p a g a ç ã o do medo da despopulação e da
degenerescência diante do vencedor prussiano que soubera anteci-
par o esforço de p r e v e n ç ã o higienista e estabelecer u m a política
e s c o l a r eficaz. O s p o d e r e s p ú b l i c o s , d i r i g i d o s p o r u m a e l i t e m é d i c a
inquieta, por h o m e n s de lei, e d u c a d o r e s , p s i c ó l o g o s e filantropos,
v ã o a g o r a se p r e o c u p a r com o destino dos alunos que saem da
e s c o l a e l e m e n t a r d e p o i s d o s sete a n o s o b r i g a t ó r i o s , s e m ter a d q u i -
r i d o ali o saber de base do j o v e m t r a b a l h a d o r e futuro cidadão:
ler, e s c r e v e r , c o n t a r e p o s s u i r n o ç õ e s d e m o r a l r e p u b l i c a n a . Estes
jovens incultos correm o risco de n ã o e n c o n t r a r e m p r e g o e d e se
agregar a gangues de " a p a c h e s " e pequenos d e l i n q ü e n t e s que aterro-
r i z a m os h a b i t a n t e s d o s b e l o s b a i r r o s e a c a b a m seus d i a s n a p r i s ã o .
Se s u a " i n u t i l i d a d e " e s u a " p e r i c u l o s i d a d e " i m p õ e m ao futuro uma
p e s a d a c o n t a s o c i a l , c o n v é m e l a b o r a r m e d i d a s eficazes n u m a dupla
perspectiva de assistência aos d e s t i t u í d o s de defesa (pessoas direta-
m e n t e a t i n g i d a s e d o c o r p o s o c i a l ) . As c a m p a n h a s l a n ç a d a s e m p r o l
da educação dos a n o r m a i s pelo alienista B o u r n e v i l l e encontrarão
u m eco favorável nesse f i m d e s é c u l o , c o m o p e d i d o d e c r i a ç ã o de
u m e n s i n o e s p e c i a l p a r a os " a n o r m a i s d e e s c o l a " , esses c a s o s leves,
que não poderiam confundir-se c o m os " a n o r m a i s m é d i c o s " ( i d i o -
tas, imbecis e epiléticos), para os quais existem estruturas
institucionais. O critério da e d u c a b i l i d a d e é p o r t a n t o o que vai
fundar a d i s t i n ç ã o e n t r e os d i f e r e n t e s g r a u s d e retardo.
Mas num primeiro t e m p o t r a t a - s e d e i d e n t i f i c a r esses a l u n o s
que, f r e q ü e n t a n d o r e g u l a r m e n t e a escola, e n ã o s e n d o ostensivamente
doentes ou portadores de e s t i g m a s de d e g e n e r e s c ê n c i a , n ã o conse-
guem acompanhar u m p r o g r e s s o e s c o l a r n o r m a l . D e fato, se estes
n ã o s ã o n e m i n s t á v e i s , n e m i n d i s c i p l i n a d o s e se n ã o p e r t u r b a m o
e n s i n o , os professores n ã o os i d e n t i f i c a m (Vial, 1 9 9 0 ) . A q u e s t ã o da
i d e n t i f i c a ç ã o , isto é, d o d i a g n ó s t i c o de i n s u f i c i ê n c i a i n t e l e c t u a l leve
torna-se e n t ã o p r i o r i t á r i a p a r a p o s s i b i l i t a r u m a reflexão s o b r e a esco-
lha de m é t o d o s educativos apropriados à situação.
Em 1904 a C o m i s s ã o B o u r g e o i s , n o m e d o m i n i s t r o q u e a reu-
niu, discute a d i f i c u l d a d e de c o n c o r d â n c i a sobre c r i t é r i o s de ava-
l i a ç ã o dessa f o r m a leve de r e t a r d o , já q u e as c l a s s i f i c a ç õ e s d o s alie¬
nistas revelaram-se inoperantes a esse r e s p e i t o . O p s i c ó l o g o Alfred
Binet, conhecido por seus t r a b a l h o s de p s i c o f i s i o l o g i a na direção
do laboratório da Sorbonne e pela c o n d u ç ã o da p r i m e i r a socieda-
de d e e s t u d o d a c r i a n ç a (a SLEPE), v a i ser e n c a r r e g a d o , juntamente
com seu c o l a b o r a d o r T. S i m o n , d e e l a b o r a r e m i n s t r u m e n t o de
a v a l i a ç ã o da i n s u f i c i ê n c i a i n t e l e c t u a l , e este será a Escala M é t r i c a de
I n t e l i g ê n c i a . A i d é i a d e B i n e t é s i m p l e s , a i n d a n ã o se h a v i a p e n s a ¬
do nisso, a medida da i n t e l i g ê n c i a c a d o de a p t i d ã o ao e n s i n o de c r i a n -
n a c r i a n ç a efetua-se p o r u m a medida ças r e t a r d a d a s - C A E A ) . Ela prevê
do tempo, expressa em termos de t a m b é m a criação de comissões médi¬
níveis de idades. Uma defasagem co-pedagógicas (inspetores, diretores
m a i o r ou m e n o r e n t r e os resultados de escola, m é d i c o ) para a detecção
obtidos no teste, e a i d a d e do su- de p r o b l e m a s nas c r i a n ç a s . M a s curi-
jeito é considerada como indicativo o s a m e n t e esta lei n ã o p o s s u i nenhum
de um retardo ou de um avanço caráter de o b r i g a t o r i e d a d e : sua apli-
de d e s e n v o l v i m e n t o intelectual. A c a ç ã o n ã o é objeto d e n e n h u m decre-
p r i m e i r a versão da escala aparece no to, e n e n h u m orçamento específico
Année Psychologique de 1905 e vai foi v o t a d o . I m e d i a t a m e n t e , t o d o s os
possibilitar o recrutamento de alu- departamentos e m u n i c i p a l i d a d e s têm
nos que sofrem de u m defeito da toda a l i b e r d a d e de aplicá-la ou não,
inteligência suficientemente impor- e, n a m a i o r p a r t e d o t e m p o , f a r ã o a
t a n t e p a r a q u e n ã o p o s s a m se b e n e - e s c o l h a de a b r i r classes s u p l e m e n t a r e s
ficiar dos "métodos comuns de ins- para reabsorver os e x c e d e n t e s que
trução", mas insuficientes para que povoam as classes o r d i n á r i a s .
sejam internados n u m asilo. Pruden- De 1910 a 1935, constata-se que
te, Binet estima que o diagnóstico a lei é m u i t o p o u c o o u m a l a p l i c a d a
requer três a v a l i a ç õ e s : p e d a g ó g i c a e q u e as c l a s s e s d e aperfeiçoamento
(três a n o s o u m a i s de a t r a s o e s c o l a r ) , tornaram-se instrumentos de segrega-
médica e psicológica. Binet e S i m o n ção. De fato, as c o m i s s õ e s médico-
vão elaborar t a m b é m o projeto pe- pedagógicas encarregadas da detecção
dagógico (Binet & Simon, 1907) de de p r o b l e m a s em alunos vindos do
classes " e m n o m e do aperfeiçoamen- e n s i n o e s p e c i a l n ã o a p r a t i c a m siste-
t o " e m q u e os a l u n o s , e m pequenos maticamente (principalmente no cam-
grupos, poderão "aperfeiçoar" sua po) e parecem ter p e r d i d o de vista
i n t e l i g ê n c i a . S ã o c r i a d a s a t í t u l o ex- as condições e c r i t é r i o s de seleção
p e r i m e n t a l a l g u m a s classes, anexadas i n i c i a l m e n t e p r e v i s t o s : o teste d e B i -
a e s c o l a s c o m u n s , c o m p e s s o a l espe- net e S i m o n , e m cujo manejo nin-
cializado, em Paris e em algumas g u é m foi r e a l m e n t e f o r m a d o , servirá
grandes cidades em 1907, para me- p a r a e s t i g m a t i z a r os c a s o s d e d e f i c i -
n i n a s ou meninos d e 6 a 13 anos. entes m a i s p e s a d o s o u os i n s t á v e i s de
A i n t e g r a ç ã o dessas classes n a s esco- q u e a e s c o l a g o s t a r i a d e se d e s v e n c i ¬
las elementares resulta da preocupa- lhar, e a limitação em 15 alunos
ção c l a r a m e n t e e x p r e s s a de n ã o se será e n t e n d i d a c o m o u m efetivo mí-
separar as c r i a n ç a s r e t a r d a d a s das nimo para a abertura da classe, que
1
outras . atingirá facilmente trinta alunos
Em 1 9 0 9 , a lei de 15 d e abril (Roca, 1992). A lógica de prevenção
irá g e n e r a l i z a r essas classes ao conjun- e d e a s s i s t ê n c i a p e d a g ó g i c a s foi s u b s -
to d o t e r r i t ó r i o francês, instituindo tituída por uma lógica segregativa
uma formação específica reservada de "classes depósitos de lixo" ou
a o s professores titulares e sancionada "classes latas de l i x o " , c o m o serão
p o r u m d i p l o m a n a c i o n a l (o c e r t i f i - designadas em seguida.
A corrente psicopedagógica ini- de p o l í t i c a e de d i f i c u l d a d e s finan-
c i a d a p o r B i n e t c o m a i n s t a u r a ç ã o da c e i r a s , este a m b i c i o s o projeto não
primeira ferramenta de detecção de foi v o t a d o . O governo quer saber
p r o b l e m a s e m 1905 foi s a u d a d a como p r i n c i p a l m e n t e qual seria exatamente
u m fracasso. O p e r í o d o entre as d u a s a população infantil concernente e
guerras vai conhecer então paralela- para isso decide sobre o lançamento
mente u m a volta à medicalização do de u m a vasta p e s q u i s a n a c i o n a l de
cuidado com os d e f i c i e n t e s , sob a recenseamento das crianças deficientes
influência preponderante de Georges da inteligência e do caráter 3
nos
Heuyer, que abre o c a m p o da infân- m o l d e s de u m a p e s q u i s a já r e a l i z a d a
cia na n e u r o p s i q u i a t n a francesa. S u a na Grã-Bretanha s o b r e os mental de-
doutrina, fundada sobre o modelo fective. A pesquisa francesa, c o m no-
da o r g a n o d e g e n e r e s c ê n c i a , associa defi- táveis modificações de orientação
ciência mental e d e l i n q ü ê n c i a , e ao 4
n u m s e n t i d o e u g e n i s t a , só será reali-
l o n g o d e u m a c a r r e i r a d e m e i o sécu- z a d a a p ó s a g u e r r a s o b a d i r e ç ã o de
lo ele vai l u t a r p e l o d i a g n ó s t i c o pre- G. H e u y e r . O s r e s u l t a d o s , c o m dados
coce d a a n o r m a l i d a d e p s í q u i c a g r a ç a s que ultrapassam m u i t o o quadro da
a o teste d a p o p u l a ç ã o e s c o l a r a t r a v é s deficiência, serão publicados em
da observação c l í n i c a (nas consultas 1950 (Cahiers de l'INED). No que
de n e u r o p s i q u i a t r i a i n f a n t i l ) e de pes- diz respeito à população dos anor-
q u i s a de detecção de p r o b l e m a s . S u a m a i s , às vezes os r e s u l t a d o s s ã o j u l g a -
obra está associada à m a i o r i a das dos discutíveis pelos comentadores e
"propostas de m e d i d a s legais que vão p a r e c e e m t o d o c a s o q u e os r e c e n s e ¬
estabelecer as bases d a i n s t i t u c i o n a l i z a - amentos estatísticos propostos pela
ç ã o d o s e t o r da i n f â n c i a inadaptada" pesquisa (contam-se por exemplo de
(Ohayon, 1999, p.179). 2% a 3 % de c r i a n ç a s deficientes na
A p ó s o fracasso de múltiplos faixa de i d a d e de 7 a n o s e 1 5 % na
projetos d e r e v i s ã o da l e i d e 1909 , 2
d e c r i a n ç a s d e 11 a n o s ) n ã o modifi-
o período da Frente Popular em cam a p o l í t i c a de c r i a ç ã o das classes
1936 vai conhecer u m a retomada do de a p e r f e i ç o a m e n t o . D e fato, a p r e o -
interesse governamental pela questão c u p a ç ã o e m e n q u a d r a r a j u v e n t u d e de-
d a i n a d a p t a ç ã o , c o m a " c a r t a da i n - f i c i e n t e ou e m p e r i g o m o r a l é m a i o r
fância deficiente" (dita a i n d a Projeto n o g o v e r n o d e V i c h y ( d u r a n t e a Se-
W a l l o n ) , que prevê, entre outras coi- gunda Guerra Mundial) como tam-
sas, um financiamento específico e a bém imediatamente após a guerra.
o b r i g a ç ã o de a b e r t u r a de classes de Observa-se de imedito ao mesmo
aperfeiçoamento p a r a as c r i a n ç a s jul- tempo um crescimento notável do
gadas recuperáveis após detecção de número de classes de aperfeiçoamen-
p r o b l e m a s e b a l a n ç o n a s c o n s u l t a s de to ( n o q u a d r o da Educação Nacio-
n e u r o p s i q u i a t r i a i n f a n t i l e as c o m i s - nal) e a finalização do estabelecimen-
sões psicopedagógicas aceitas por to d o setor da i n f â n c i a inadaptada
cada departamento (Heuyer, 1938). (no da neuropsiquiatria infantil).
Mas, tendo sido considerado muito Entretanto, a pesquisa vai contribuir
o n e r o s o nesse p e r í o d o d e i n s t a b i l i d a - com a modificação progressiva da
c o n c e p ç ã o d e d e b i l i d a d e m e n t a l , r e l a c i o n a n d o o n í v e l e os fatores
ambientais.
A l é m d i s s o , c o m o baby-boom, o crescimento do número de
a l u n o s é o centro das preocupações da instituição escolar que deve
5
se o r g a n i z a r p a r a fazer face a u m a m a r é d e a l u n o s . É n e s s e con-
texto que emerge a n o ç ã o de i n f â n c i a " i n a d a p t a d a " . O tom dos
discursos dos diferentes a t o r e s s o c i a i s se " e u f e m i z a " : a n o ç ã o de
proteção é s u b s t i t u í d a pela de u t i l i d a d e ou de r e n d i m e n t o social,
e até m e s m o d a r e j e i ç ã o . A i n f â n c i a d e f i c i e n t e , e n t e n d i d a c o m o ca-
tegoria social, c o m o desde o i n í c i o de sua h i s t ó r i a , vai constituir
um setor d i s p u t a d o por diferentes ministérios: Saúde, Educação
Nacional e Justiça.
Em 1945, p o r i n i c i a t i v a de W a l l o n e sob a c o n d u ç ã o d e Z a z z o ,
a p a r e c e m n o v o s p r o f i s s i o n a i s , os p s i c ó l o g o s e s c o l a r e s (sua e x i s t ê n c i a
será l e g a l i z a d a d o i s a n o s m a i s t a r d e p e l o p l a n o d e r e f o r m a d o ensi-
n o L a n g e v i n - W a l l o n ) , q u e d e v e m p r o c e d e r à d e t e c ç ã o de p r o b l e m a s e
à o r i e n t a ç ã o e s c o l a r , e s u a i n c l u s ã o só c o m e ç a r á e m 1958.
A partir de 1955, distinguem-se oficialmente duas categorias de
d é b e i s m e n t a i s : os d é b e i s m é d i o s ( Q I e n t r e 5 0 e 6 5 ) e os d é b e i s
leves ( Q I e m t o r n o d e 7 0 - 8 0 ) . O s p r i m e i r o s d e p e n d e m dos institu-
tos m é d i c o - e d u c a t i v o s , os s e g u n d o s d a s classes d e aperfeiçoamento.
N a m e s m a é p o c a , i d e n t i f i c a m - s e n o v a s c a t e g o r i a s p a t o l ó g i c a s a par-
tir da escola, q u a l i f i c a d a s de d i s t ú r b i o s instrumentais, como a
d i s l e x i a , a d i s o r t o g r a f i a o u a d i s c a l c u l i a , p a r a as q u a i s h a v e r á um
esforço de compreensão por meio de exames psicológicos
aprofundados e de m e l h o r a com reeducações adequadas. Novas
perspectivas terapêuticas aparecem.
Em 1959, a obrigatoriedade escolar é prolongada d e 14 p a r a
16 a n o s . Este fluxo s u p l e m e n t a r de c r i a n ç a s q u e d e v e m ser m a n t i d a s
n a s e s t r u t u r a s "escolares vai r e p e r c u t i r n o setor d o e n s i n o e s p e c i a l i z a -
do. O d e c ê n i o q u e está c o m e ç a n d o será e n t ã o caracterizado por
uma i n t e n s a a t i v i d a d e de reformas nesse d o m í n i o . Entretanto, a
i m p r e c i s ã o dos métodos de p e s q u i s a c o n d u z , u m a v e z m a i s , a c o n -
siderar-se c u i d a d o s a m e n t e a a v a l i a ç ã o d o n ú m e r o d e classes de aper-
feiçoamento e x i s t e n t e , já q u e , s e g u n d o as f o n t e s , este v a r i a de
2 . 4 0 0 a 4 . 0 0 0 , p a r a u m a p o p u l a ç ã o de c r i a n ç a s e s t i m a d a e m 7 0 . 0 0 0
a l u n o s (Roca, 1992, p.23).
De q u a l q u e r m o d o , e m a g o s t o de 1964 a p a r e c e m n o v a s ins-
truções referentes à p e d a g o g i a das classes de a p e r f e i ç o a m e n t o . Os
p r i n c í p i o s d a lei de 1909 são l e m b r a d o s : a i n t e g r a ç ã o d o ensino
especial no ensino geral é m a n t i d a c o m vigor, e no nível dos pro-
g r a m a s deve-se p r o c u r a r o laço m a i s estreito possível. A p e n a s os
métodos serão o r g a n i z a d o s em função das dificuldades de aprendi-
z a g e m . À s a í d a d o c i c l o d e a p e r f e i ç o a m e n t o , os a l u n o s d e 14 a n o s
e r a m até e n t ã o d i r i g i d o s p a r a classes
pré-profissionais.
Mas, em 1967, u m ensino espe-
cial vai substituir o anterior, as Se-
ções de E d u c a ç ã o E s p e c i a l i z a d a (SES),
a n e x a d a s aos c o l é g i o s , s e m p r e dentro
de u m a p e r s p e c t i v a i n t e g r a t i v a . Estas
propõem uma formação geral junta-
mente com uma formação profissio-
n a l aos a l u n o s v i n d o s d a s c l a s s e s de
aperfeiçoamento, ou àqueles que
apresentam um retardo tal no final
da e s c o l a r i d a d e primária, que não
seja p o s s í v e l i n t e g r á - l o s n a f i e i r a co-
m u m . O caráter oficial da integração
d e s s e s SES n o s c o l é g i o s foi freqüente-
mente denunciada, tendo projetos
pedagógicos distintos dos projetos
d o e n s i n o g e r a l e c o m os l o c a i s q u a -
se s e m p r e s e p a r a d o s ( C R E S A S , 1 9 8 8 ) .
As reformas prosseguem com a
p u b l i c a ç ã o d a c i r c u l a r de 1 9 7 0 c r i a n -
d o os G r u p o s d e A j u d a Psico-Peda¬
g ó g i c a ( G A P P ) e as classes de adapta-
ção (em oposição ao conceito de
infância inadaptada, em vigor até
então). Os GAPPs são u m a estrutura
psicopedagógica em que o psicólogo
escolar da c i r c u n s c r i ç ã o preconiza
orientações e reeducações. As classes
de a d a p t a ç ã o c o n s t i t u e m um disposi-
tivo leve v i s a n d o a v o l t a da criança
ao c i r c u i t o escolar c o m u m quando
este a p r e s e n t a d i f i c u l d a d e s transitórias.
A p a r t i r dessa é p o c a , a a f i r m a ç ã o do
l a ç o d o e n s i n o de a d a p t a ç ã o (ou en-
sino especializado) ao ensino geral é
proclamado em toda a Europa de
modo conjunto, embora ainda não
exista n e n h u m a estrutura estabelecida
p a r a fazer a l i g a ç ã o e n t r e múltiplas
experiências.
O conjunto dessas m e d i d a s , to-
madas durante os a n o s 6 0 - 7 0 , i n s e r e ¬
ve-se n u m a lógica política (não nos de i n t e g r a ç ã o com as organizações
esqueçamos do impacto dos aconteci- necessárias e a atribuição de crédi-
mentos de m a i o de 68 na França), t o s e s p e c í f i c o s (a a l t a d o s créditos
n a q u a l as m e d i d a s d e p r e v e n ç ã o e foi de 3 5 % entre 1 9 8 1 e 1 9 8 4 , se-
de a s s i m i l a ç ã o dos deficientes tinha gundo a Educação Nacional). O
um lugar central, como frisam os objetivo que consiste em favorecer
trabalhos da a n t i p s i q u i a t r i a . A soli- a inserção social e o desenvolvi-
dariedade social exige sua integração mento pessoal no quadro das medi-
n u m q u a d r o " n o r m a l " ou l i g e i r a m e n - das coletivas ou individuais de
te o r g a n i z a d o , s e n d o o m e i o escolar integração é aqui definido.
considerado como o p o n t o de parti- Em seguida aparece a portaria
da da socialização. O período segre- de 9 de j a n e i r o de 1989, definindo
g a t i v e do entre-guerras parece por- a nova N o m e n c l a t u r a das Deficiências,
tanto encerrado, com o abandono Inadaptações e Desvantagens. Consta
das noções fixas, e u m p o u c o deses¬ aí que a noção de d e f i c i ê n c i a deve
perantes, de defectologia e de ina- ser c o m p r e e n d i d a como um caráter
daptação, em benefício da noção de relativo dependendo das situações e
adaptação. Há também u m a tendência do ambiente, e não mais como uma
a substituir o termo "débil", ainda constante r e l a t i v a à pessoa. Esta n o v a
q u e seja leve, p o r c r i a n ç a em dificul- abordagem exclui do c a m p o da defi-
dade ou em grande dificuldade. c i ê n c i a e da e d u c a ç ã o e s p e c i a l i z a d a a
Durante o período contemporâ- população dos deficientes intelectu-
neo, o arsenal legislativo desenvolve- ais leves, p a r a inscrevê-la n a d o s atra-
se d e m o d o i n t e n s i v o : n a l ó g i c a d a s sos escolares r e a g r u p a d o s n o conjunto
medidas precedentes, a lei d e 3 0 d e maior dos a l u n o s com dificuldades
junho de 1975 oficializa, entre ou- (a p r á t i c a h a v i a p r e c e d i d o a lei, c o m o
tras, a i n t e g r a ç ã o individual das crian- v i m o s a c i m a ) . Estes d e p e n d e m então
ças na escola. O Artigo I enuncia das classes c o m u n s , a i n d a q u e neces-
q u e a integração do menor deficien- sitem temporariamente d e a j u d a es-
te físico, sensorial ou mental consti- pecializada. A lei de 10 d e julho
tui u m a o b r i g a ç ã o n a c i o n a l . As esco- de 1990 irá criar, em seu benefí-
las c o m u n s são p o r t a n t o obrigadas a cio, as R e d e s d e A j u d a Especializa-
receber a criança deficiente, o que da (RASED), em substituição aos
concretiza a lei de 1909, tendo, en- GAPPs, com professores encarrega-
tretanto, esta i n o v a ç ã o que consiste dos dessa ajuda com dominância
no acolhimento i n d i v i d u a l de crian- pedagógica e reeducativa, e com
ças deficientes em classes comuns, psicólogos escolares.
enquanto prossegue a acolha coletiva Em 10 de julho de 1989 é
e m classes de a p e r f e i ç o a m e n t o , como publicada uma nova lei de orienta-
desde o início do século. ção cujo c a p í t u l o " d e f i c i ê n c i a " será
Em 2 9 de j a n e i r o d o s a n o s de p r e c i s a d o p e l a c i r c u l a r d e 18 d e no-
1982 e 1983 essa lei será a c r e s c i d a d e vembro d e 1 9 9 1 , r e f e r e n t e às m o d a l i -
duas circulares que possibilitarão um dades práticas da escolarização das
grande desenvolvimento das medidas crianças deficientes na escola primária
e a c r i a ç ã o das classes de integração escolar (CLISs), em substituição
às a n t i g a s c l a s s e s d e a p e r f e i ç o a m e n t o . A s C L I S s a c o l h e m t o d o s os
deficientes de m o d o i n d i f e r e n c i a d o , desde q u e sejam beneficiados,
de a c o r d o c o m sua d e f i c i ê n c i a , por u m ensino em meio período
ou em período integral em meio c o m u m , mas limitado a doze
a l u n o s , o q u e p a r e c e a u t o r i z a r os projetos individualizados. Esses
a l u n o s s ã o s e l e c i o n a d o s a p ó s p a r e c e r d a s C i r c u n s c r i ç õ e s Pré-Escola¬
res e E l e m e n t a r e s ( C C P E ) e d a s C o m i s s õ e s D e p a r t a m e n t a i s d a Edu-
cação Especial ( C D E S ) .
N o v o s t e x t o s s ã o a t u a l m e n t e p u b l i c a d o s , c u j o t e o r n ã o é co-
n h e c i d o , c o m o a c i r c u l a r de 17 de m a i o de 1 9 9 5 q u e g a r a n t e o es-
tabelecimento de dispositivos que possibilitem agrupamentos peda-
gógicos de adolescentes que apresentem uma deficiência mental
( U P I ) e a d e 19 e n o v e m b r o de 1999 referente à e s c o l a r i z a ç ã o das
crianças e adolescentes deficientes.
Após 10 a n o s , a p u b l i c a ç ã o d e n u m e r o s o s textos m i n i s t e r i a i s ,
p a r t i c u l a r m e n t e p o r p a r t e da E d u c a ç ã o N a c i o n a l , m a n i f e s t a q u e se
considera cada vez m a i s a integração escolar no sistema c o m u m , e
o maior número possível de crianças deficientes.

QUESTÕES ATUAIS

N o s d i a s de hoje, as c r i a n ç a s d i t a s " d e f i c i e n t e s m e n t a i s " , isto é,


que apresentam uma inteligência deficitária ou uma insuficiência
mental (Mannoni, 1964), são qualificadas, em função da qualidade
do déficit, a v a l i a d o por m e i o de u m QI, c o m o c r i a n ç a s " c o m di-
f i c u l d a d e s " o u " c o m g r a n d e d i f i c u l d a d e s " . Esta d e f i n i ç ã o m u i t o am-
pla o c u l t a a q u e s t ã o d a d e b i l i d a d e m e n t a l , t e m a sobre o q u a l Zazzo
( 1 9 6 9 ) , n a F r a n ç a , h a v i a feito u m a s í n t e s e i n t e r e s s a n t e , c o m a v a n -
t a g e m de d e i x a r aberta a q u e s t ã o da e t i o l o g i a : o r g â n i c a , g e n é t i c a ,
c u l t u r a l , p s i c o g e n é t i c a , b e m c o m o a d a e s t r u t u r a c o m q u e esta i n -
s u f i c i ê n c i a se r e l a c i o n a .

INTEGRAÇÃO, S E G R E G A Ç Ã O

D e s d e q u e a e s c o l a p a s s o u a ser o b r i g a t ó r i a n a F r a n ç a , duas
atitudes confrontaram-se a respeito d a s c r i a n ç a s deficientes m e n t a i s , a
dos p a r t i d á r i o s de u m a e d u c a ç ã o especializada, sob a égide do M i -
n i s t é r i o da S a ú d e , e m o p o s i ç ã o à d a q u e l e s q u e d e f e n d e m u m a escola
republicana, realmente aberta a todos se é e s t r a n g e i r o o u q u a n d o a família
e p o r t a n t o c a p a z de i n t e g r a r t o d a s as está em dificuldade. No primeiro
c r i a n ç a s , e m b e n e f i c i o de todos. c a s o , a c r i a n ç a d e f i c i e n t e m e n t a l está
Pode-se, e n t r e t a n t o , formular a no centro de u m dispositivo que
questão sobre as b a s e s t e ó r i c a s que c o m p r e e n d e , e v i d e n t e m e n t e , os p a i s e
fundam este p o s t u l a d o , certamente professores, mas também com fre-
generoso, segundo o qual a integra- qüência u m a equipe que cuida dela,
ção das crianças deficientes intelec- o que não lhe deixa n e n h u m a possi-
t u a i s será b e n é f i c a p a r a eles, p r i m e i - b i l i d a d e de e s c a p a r a este conjunto
ramente, mas também p a r a t o d a s as c o m p l e x o de p r o c e d i m e n t o s estabele-
outras crianças, professores e para a cidos para ela, c o m p r e e n d i d o pelos
própria i n s t i t u i ç ã o escolar. De fato, pais como um "privilégio". No se-
este p o s t u l a d o parece basear-se em gundo caso, sobretudo quando as
r a z õ e s h i s t ó r i c a s , e p a r e c e ter sido dificuldades familiares estão em pri-
constituído como reação contra a m e i r o p l a n o , a falta d e c o n t r o l e dos
segregação e a b a n d o n o em que eram pais sobre a a s s i d u i d a d e escolar con-
d e i x a d o s as c r i a n ç a s e a d u l t o s que d u z c a d a vez m a i s a u m absenteísmo
apresentavam um distúrbio deficitá- q u e se t o r n a a l a r m a n t e (cf. Le P a r i s i ¬
rio da i n t e l i g ê n c i a , c o m o demons- en, 2 0 / 1 0 / 2 0 0 0 ) e c o n d u z , d e fato, a
tram os p a v i l h õ e s d e "defectologia" u m a exclusão do sistema escolar.
q u e a c o l h e m os r e t a r d a d o s mentais Um outro paradoxo d i z respei-
a d u l t o s , o u a i n d a o fato d e q u e , h á to à d e m a n d a d e p e r f o r m a n c e s esco-
alguns decênios, n u m grande hospital lares feita às c r i a n ç a s deficientes:
p a r i s i e n s e , h a v i a o costume de amar- numa preocupação com a igualdade,
rar a mamadeira às grades da cama as e x i g ê n c i a s s ã o c o m freqüência da
quando u m r e c é m - n a s c i d o fosse con- mesma ordem que aquelas impostas
siderado débil. às c r i a n ç a s c o m u n s , e m contradição
A partir de cerca de 1970, a c o m o p r ó p r i o p r i n c í p i o de integra-
i d é i a q u e se d e s e n v o l v e u n a F r a n ç a e ção. Então, a criança e sua família
na maioria dos países da Europa, devem adaptar-se c o m o puderem. A
c o m o r e a ç ã o a essas p r á t i c a s é q u e o f a m í l i a - n ã o a p e n a s os p a i s , m a s ir-
contexto ou o a m b i e n t e têm u m pa- mãos e irmãs, e com freqüência os
pel d e c i s i v o n o d e s e n v o l v i m e n t o das avós - constitui um parceiro funda-
capacidades intelectuais, e que um m e n t a l da i n t e g r a ç ã o , t a n t o e m rela-
m e i o " n o r m a l " seria, neste domínio, ção à Educação Nacional quanto à
mais favorável do que um meio equipe médico-social, e ao conjunto
"especializado". administrativo. Um estudo recente
N a s c e a s s i m a n o ç ã o de i n t e g r a - mostra q u e as c r i a n ç a s c o m u n s não
ção, que apresenta entretanto certo podem a v a l i a r as d i f i c u l d a d e s encon-
número de p a r a d o x o s , e o primeiro tradas por seus colegas " i n t e g r a d o s " ,
é q u e é m a i s fácil i n t e g r a r - s e à esco- e que não fazem nenhuma objeção
la quando se t e m uma deficiência em tornarem-se seus a m i g o s . Nesse
reconhecida do que quando se v e m e s t u d o vê-se q u e , p o r p a r t e d o s pro-
de u m meio desfavorecido, quando fessores no domínio da a p r e n d i z a ¬
gem, e d e v i d o a o p r i n c í p i o de i g u a l -
dade entre os a l u n o s , a deficiência
deve se tornar invisível à escola
(Berthe-Denoeux & Léoni, 2000,
p. 199). H á p o r t a n t o u m a contradição
entre o tratamento igualitário dos
alunos e o direito à diferença.
A e x i g ê n c i a de performances,
aliada a u m desconhecimento d a de-
ficiência, gera u m a g r a n d e ansiedade
n a s c r i a n ç a s d e f i c i e n t e s , q u e cresce à
medida que a dificuldade escolar
aumenta.
Um terceiro paradoxo d i z res-
peito à contradição entre o "projeto
personalizado" que a c o m p a n h a toda
criança que deve integrar-se no siste-
ma escolar: a integração real numa
classe c o m u m . É p r e c i s o , de fato, nes-
se c a s o , c o n c i l i a r a priori objetivos
contraditórios: os q u e d e p e n d e m da
e s c o l a e a q u e l e s q u e e s t ã o l i g a d o s às
c a p a c i d a d e s da c r i a n ç a d e f i c i t á r i a , q u e
n ã o está, p o r definição, n u m a situação
d e i g u a l d a d e e m r e l a ç ã o a seus c a m a -
r a d a s . Nesse s e n t i d o os Projetos Indi-
v i d u a i s de I n t e g r a ç ã o Escolar (PUS)
manifestam grande distância entre a
dificuldade identificada, por si só
m u i t o p o u c o a f i n a d a ( e x e m p l o : "afir-
mar-se e n q u a n t o sujeito"), e o objeti-
vo o p e r a c i o n a l que a criança deve
a t i n g i r graças à a j u d a d a escola: a m a r -
rar seus s a p a t o s , vestir-se s o z i n h a . Os
registros das dificuldades encontradas
p e l a c r i a n ç a são i s o l a d o s u n s d o s ou-
tros e s ã o r e p e r t o r i a d o s como "afeti-
vo", "social" ou "cognitivo". Nesse
último registro, a incapacidade de
entrar no domínio simbólico, por
e x e m p l o , é tratada de m o d o isolado,
e o objetivo operacional consiste em
fazer c o m q u e a c r i a n ç a e n c o n t r e um
s e n t i d o p a r a seu destino.
Não se t r a t a a q u i a b s o l u t a m e n t e d e d e n e g r i r os e s f o r ç o s da
Educação N a c i o n a l e dos professores das escolas para tentar uma
i n t e g r a ç ã o . M a s trata-se s o b r e t u d o de c o n s t a t a r p r i m e i r a m e n t e q u e a
questão do diagnóstico é essencial para encontrar u m a resposta às
d i f i c u l d a d e s d a c r i a n ç a e, e m s e g u n d o l u g a r , q u e a r e s p o s t a pura-
m e n t e e d u c a t i v a o u r e e d u c a t i v a n e m s e m p r e é a p r o p r i a d a . Isto n o s
conduz a nos perguntarmos a respeito da p r ó p r i a insuficiência
m e n t a l e sobre a inteligência.

INTEGRAÇÃO ESCOLAR E "INSUFICIÊNCIA


MENTAL"

No quadro escolar, a insuficiência, ou a deficiência mental, é


d e f i n i d a e m r e l a ç ã o a o QI. As c r i a n ç a s q u e s ã o o b j e t o d a s m e d i d a s
de i n t e g r a ç ã o são a q u e l a s q u e d u r a n t e m u i t o t e m p o f o r a m chamadas
de débeis leves ( Z a z z o , 1969) e a t u a l m e n t e são c h a m a d a s d e crianças
com dificuldades. Q u a l q u e r q u e seja a t e r m i n o l o g i a , q u e n ã o d e i x a
d e ser i n t e r e s s a n t e d o p o n t o d e v i s t a s o c i o l ó g i c o , trata-se d e c r i a n -
ças c u j o Q I m í n i m o é de 7 0 . M a s esse QI n ã o t e m o m e s m o valor
de a c o r d o c o m o i n s t r u m e n t o utilizado para medi-lo. A Nova Esca-
la M é t r i c a da I n t e l i g ê n c i a ( N E M I ; ver Z a z z o et al, 1966), resultante
d a " M e d i d a d a I n t e l i g ê n c i a " de B i n e t e S i m o n , e s t a b e l e c e u m prog-
nóstico sobre a base da i d a d e m e n t a l , e m que a deficiência é então
c o n c e b i d a c o m o u m r e t a r d o q u e , i d e a l m e n t e , p o d e r i a ser r e c u p e r a d o .
Esta n ã o é a perspectiva d o W I S C , s e g u n d o a q u a l o QI é u m a carac-
terística da pessoa, da m e s m a f o r m a q u e s u a s c a r a c t e r í s t i c a s físicas, e
p o r t a n t o n ã o está sujeito a v a r i a ç õ e s . Deve-se observar q u e n a F r a n ç a ,
a t u a l m e n t e , a d e s p e i t o de s u a s o r i g e n s , a N E M I q u a s e n u n c a é u t i l i -
z a d a p a r a a a v a l i a ç ã o d o s a l u n o s , e q u e s u a e l i m i n a ç ã o foi feita e m
b e n e f í c i o d o W I S C , p a r a os a l u n o s d o c i c l o e l e m e n t a r , e d o teste
K A B C p a r a a p a s s a g e m da escola m a t e r n a l à escola p r i m á r i a .
Essa p o s i ç ã o faz s u p o r q u e a e s c o l a é p o u c o o t i m i s t a e m sua
c a p a c i d a d e d e fazer e v o l u i r o QI num sentido positivo, mas tam-
b é m n ã o se p r e o c u p a em obter melhoras.
A questão da insuficiência mental remete com bastante evidên-
cia à q u e s t ã o d a i n t e l i g ê n c i a .
A i n t e l i g ê n c i a e seus d i s t ú r b i o s , cada vez m a i s , são o atributo
da p s i c o l o g i a cognitiva, cujos laços c o m a psicologia e x p e r i m e n t a l
encontram-se nas terapias cognitivo-comportamentalistas, que têm
g r a n d e s u c e s s o , m a s c u j o efeito a l o n g o p r a z o a i n d a n ã o está pro-
v a d o . Se as f o n t e s d e c o n h e c i m e n t o são a t u a l m e n t e objeto de pes¬
quisas ricas em psicologia do desen- bolizar a fonte das aquisições ulteri-
v o l v i m e n t o , as o r i g e n s d a i n t e l i g ê n - ores, c o m o a leitura, a escrita ou o
cia, como competência a adquirir cálculo. Segundo Ferenczi e M.
conhecimentos, permanecem pouco K l e i n , esta c a p a c i d a d e , q u e consiste
exploradas nesta perspectiva, e é a em representar uma coisa por uma
psicanálise, certamente representada outra, encontra sua fonte no pró-
por Freud, mas também por seus prio corpo, ao qual a c r i a n ç a atri-
sucessores que m u i t o se debruçaram bui u m interesse exclusivo, capacida-
s o b r e a c r i a n ç a , q u e fornece u m qua- de que a faria ver em todo objeto
dro teórico coerente. convexo u m pênis e em todo objeto
Freud (1923) declarou veemente- côncavo u m a vagina ou u m ânus. A
m e n t e q u e t o d o d e s e j o d e saber, q u e q u e s t ã o d a l i n g u a g e m , l i g a d a ao s i m -
toda curiosidade provinha de um bólico, é igualmente fundamental,
d u p l o e n i g m a proposto pela sexuali- não tanto como expressão do pensa-
dade a respeito da o r i g e m das crian- mento l ó g i c o , m a s p o r ter u m a fun-
ças e m g e r a l , e deles m e s m o s e m par- ção estruturante para o sujeito.
t i c u l a r , o q u e d á l u g a r às p r i m e i r a s A psicologia do desenvolvimen-
teorizações intelectuais que nada irá to n ã o m e n c i o n a n e m a sexualidade
desmentir, bem c o m o à diferença de infantil, nem a diferença dos sexos
sexos r e m e t e n d o à castração. Essas como fontes do desejo de saber, e
d u a s q u e s t õ e s , l i g a d a s e n t r e si, c o n s - privilegia outros motivos, como a
tituem o primeiro exercício intelec- equihbração, e m Piaget, ou u m pon-
t u a l da c r i a n ç a . Se esses questiona- to d e v i s t a m a t u r a c i o n a l , e m Gesell,
m e n t o s s ã o i m p e d i d o s , o u as r e s p o s - e confunde de b o m grado inteligên-
tas dos adultos, m u i t o distantes do cia e c o n h e c i m e n t o s , s e n d o esses ú l t i -
mundo r e a l , o q u e v a i se s e g u i r , se- mos, nos teste de eficiência, um
gundo F r e u d , é uma intimidação da modo de a v a l i a r a i n t e l i g ê n c i a . As
inteligência. fontes do conhecimento são então a
Se essas q u e s t õ e s são p o s s í v e i s , é a ç ã o ( P i a g e t & W a l l o n ) e as p e r c e p -
porque a criança vem ao mundo ções ( W a l l o n , 1945; V u r p i l l o t , 1986;
n u m estado de d e s n u d a m e n t o em que Lécuyer, Stréri & Pêcheux, 1994,
a presença do outro é fundamental, 1996).
até m e s m o p a r a a s o b r e v i v ê n c i a . Foi Existem no entanto pontos de
sem dúvida W i n n i c o t t q u e m mostrou intersecção ou de d e b a t e c o m a psi-
com o maior talento a importância canálise, referentes ao outro, à fun-
d a m ã e p a r a q u e a c r i a n ç a p o s s a as- ç ã o s i m b ó l i c a e à l i n g u a g e m . Se o
s i m i l a r o mundo em pequenas doses, outro é o grande ausente da história
fazendo o p a p e l de m e d i a d o r a entre de Piaget, ao c o n t r á r i o é muito pre-
seu f i l h o e o m u n d o terrível que o s e n t e e m W a l l o n , b e m c o m o e m Lé-
cerca, p o s s i b i l i t a n d o igualmente a cuyer e seus c o l a b o r a d o r e s . O ser
construção desse famoso espaço humano em geral é então concebido
transicional. O distanciamento do como um objeto de conhecimentos
mundo, necessário a qualquer elabo- p a r t i c u l a r m e n t e c o m p l e x o , j á q u e se
ração, passa pela c a p a c i d a d e de s i m - m o v i m e n t a , fala, m u d a d e a p a r ê n c i a .
Nesse c o n t e x t o , a m ã e t e m u m p a p e l p e d a g ó g i c o i n e g á v e l : ela m o s -
tra o m u n d o a seu f i l h o , p o n d o p a l a v r a s n a s c o i s a s . N e s s a perspec-
tiva, a l i n g u a g e m não é concebida c o m o estruturante, m a s como
estruturada pelo pensamento que a sustenta. O psicólogo pode
e n t ã o a v a l i a r o n í v e l de p e n s a m e n t o da criança. S e g u n d o o projeto
d e P i a g e t e W a l l o n , s u a e m e r g ê n c i a só é p o s s í v e l a p a r t i r d o mo-
mento em que a função simbólica é instaurada, aproximadamente
aos 2 a n o s . Esta f u n ç ã o s i m b ó l i c a , m u i t o d i f e r e n t e da d e M . K l e i n ,
o p e r a e x c l u s i v a m e n t e na v e r t e n t e c o g n i t i v a .
Na criança deficiente mental, a l i n g u a g e m é freqüentemente
pobre, o que é posto em correlação com u m p e n s a m e n t o p o r si só
insuficiente, ainda que a correlação com o QI nem s e m p r e seja
o b s e r v a d a . D o m e s m o m o d o , a f u n ç ã o s i m b ó l i c a n ã o é b e m assegu-
rada, o que a escola tentará r e m e d i a r por m e i o de exercícios c o m
v a l o r de r e e d u c a ç ã o .
Essas d i f e r e n t e s c o n c e p ç õ e s d a s fontes d a i n t e l i g ê n c i a , d a fun-
ção do outro, da função simbólica e da l i n g u a g e m têm, certamente,
r e p e r c u s s õ e s n o m o d o d e a b o r d a r a d e f i c i ê n c i a i n t e l e c t u a l . N a es-
cola o que d o m i n a é a perspectiva da psicologia do desenvolvimen-
to, à q u a l se a c r e s c e n t a u m a d e s c o n f i a n ç a p e l a p s i c a n á l i s e .

BASES TEÓRICAS DA INTEGRAÇÃO ESCOLAR

A c r i a n ç a d e f i c i e n t e q u e i n t e g r a a escola está supostamente


c o m d i f i c u l d a d e s , seja n o p l a n o c o g n i t i v o , seja n o plano social,
seja n o v a s t o d o m í n i o d o afetivo. A c r i a n ç a d e f i c i e n t e m e n t a l está,
certamente, com dificuldades no plano cognitivo, mas parece que
e v e n t u a i s p r o b l e m a s s o c i a i s o u afetivos s ã o , nesse c a s o , d e i x a d o s d e
l a d o . Este r e c o r t e da c r i a n ç a e m setores b e m d e l i m i t a d o s , tal como
definido p e l o s t e x t o s o f i c i a i s , n ã o p a r e c e s a t i s f a t ó r i o , a t é p a r a os
professores, que não p o d e m aplicá-lo na realidade quotidiana.
E n t r e t a n t o , o a c o l h i m e n t o d e u m a ( o u d e v á r i a s ) c r i a n ç a s de-
ficientes n u m a classe é g l o b a l m e n t e c o n s i d e r a d o pelos professores
c o m o u m a experiência pedagógica enriquecedora ( C R E S A S , 1994,
p p . 1 7 3 - 8 1 ) , n a m e d i d a e m q u e se s e n t e m e s t i m u l a d o s p e l a d i f i c u l -
d a d e e são levados a c o n s i d e r a r sua classe não m a i s c o m o uma
globalidade, mas como u m a coleção de i n d i v í d u o s diferentes uns
dos outros. A l g u m a s crianças ditas n o r m a i s , mas c o m dificuldades,
são e n t ã o objeto de m a i o r atenção.
INTEGRAÇÃO ESCOLAR E INSERÇÃO SOCIAL

Sem d ú v i d a é n a v e r t e n t e da i n s e r ç ã o s o c i a l q u e os professores
e a e s c o l a p e r c e b e m a i n t e g r a ç ã o c o m o b e n é f i c a . Ela p e r m i t i r á aos
professores não somente sair de sua r o t i n a pedagógica, mas terá
i g u a l m e n t e u m a ação positiva nas crianças c o m u n s , desenvolvendo,
para a l g u m a s , a tolerância à diferença. Entretanto parece existir u m a
a m b i v a l ê n c i a e n t r e as c r i a n ç a s i n t e g r a d a s e as o u t r a s . O r i s c o p a r a a
criança deficiente é tornar-se u m a criança vedete, ou tornar-se ob-
jeto da solicitude dos outros ( C R E S A S , 1994, p . 1 6 5 ) . O primeiro
r i s c o é b a i x o p a r a as c r i a n ç a s d e f i c i e n t e s m e n t a i s , c o m freqüência
objeto de c h a c o t a e até m e s m o de rejeição. Q u a n t o à s o l i c i t u d e ,
esta, m u i t a s vezes, m a s c a r a u m a a g r e s s i v i d a d e q u e se m a n i f e s t a fora
d o s r e c r e i o s , e n a classe é q u a s e s e m p r e p r o v o c a d a p e l o a d u l t o que
presta u m dever m o r a l à criança que t r a b a l h a b e m e rapidamente
a o trazer s u a c o l a b o r a ç ã o à c r i a n ç a d e f i c i e n t e . Tarefa b a s t a n t e d i f í c i l
para uma c r i a n ç a de 7 a n o s que deve e n s i n a r u m a outra criança
m a i s v e l h a c o m b a i x a s p e r f o r m a n c e s . A l é m d i s s o , as c r i a n ç a s defici-
entes t ê m t e n d ê n c i a a se r e a g r u p a r e m , p e l o m e n o s n o i n í c i o d e s u a
integração, e suas relações permanecem limitadas a um pequeno
n ú m e r o de c r i a n ç a s c o m u n s . Eles p a r e c e m m a n i f e s t a r u m a tendência
a o i s o l a m e n t o e m a n i f e s t a m t a m b é m sua a g r e s s i v i d a d e e m r e l a ç ã o às
c r i a n ç a s n o r m a i s . C o m o p o d e r i a ser d i f e r e n t e ? E n t r e t a n t o sabe-se
m u i t o p o u c o do que sente u m a criança deficiente m e n t a l , confron-
tada a baixas performances, entre colegas m a i s jovens q u e ela. Q u e
i m a g e m ela recebe? P o d e ela s u p o r t á - l a ?
Os pais têm u m papel d e t e r m i n a n t e na integração, principal-
mente quando esta a ç ã o p a r t e d e l e s . À s vezes a l g u n s d e l e s m a t r i c u -
lam seus filhos na escola sem preveni-la da deficiência. H á aí a o
mesmo t e m p o u m desafio proposto à instituição e u m a injunção:
m e u f i l h o s e r á m a t r i c u l a d o c o m o os o u t r o s , e t a m b é m uma nega-
ção da deficiência, freqüentemente acompanhada por exigências
muito altas.
Quaisquer q u e s e j a m os d e f e i t o s , as d i f i c u l d a d e s , as i n a b i l i d a -
des, a confrontação d a s c r i a n ç a s e n t r e si e a c o n f r o n t a ç ã o da escola
à diferença aparecem c o m o p o s i t i v a s e m seu c o n j u n t o . Mas a
i n t e g r a ç ã o d u r a a p e n a s a l g u m t e m p o , t a n t o q u a n t o a d e f i c i ê n c i a for
pesada. A criança volta em seguida quase inelutavelmente para uma
estrutura especializada, em que sua deficiência n ã o poderá m a i s ser
n e g a d a . Trata-se d e u m a p a s s a g e m e x t r e m a m e n t e d i f í c i l p a r a a famí-
lia c o m o u m todo que parecia, por u m tempo, ter m i n i m i z a d o a
diferença da criança.
INTEGRAÇÃO ESCOLAR E
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

O QI, q u e serve p a r a s e l e c i o n a r as c r i a n ç a s q u e p o s s a m eventu-


a l m e n t e se b e n e f i c i a r d e u m a i n t e g r a ç ã o e s c o l a r , n ã o é u m valor
fixo, m a s s u a s v a r i a ç õ e s p a r a c i m a n ã o p a s s a m d e n o m á x i m o dez
pontos, em circunstâncias muito favoráveis e no quadro de um
a c o l h i m e n t o i n d i v i d u a l de tipo p s i c o t e r a p i a p s i c a n a l í t i c a que pode
ser feita p a r a l e l a m e n t e a u m a i n t e g r a ç ã o escolar. A l é m d i s s o , sabe-se
que c r i a n ç a s c o m QI igual são capazes de p e r f o r m a n c e s muito di-
ferentes. Na escola são essas p e r f o r m a n c e s que possibilitarão ao
professor a v a l i a r se h á progresso.
Se os p r o f e s s o r e s são p r o l i x o s sobre o benefício social, hu-
m a n o , da i n t e g r a ç ã o , eles p a r e c e m m a i s r e s e r v a d o s q u a n t o às a q u i -
sições das crianças. A l g u n s citam bloqueios (Berthe-Denoeux &
L é o n i , 2 0 0 0 ) e f a l a m d e s u a dificuldade em controlar as aquisi-
ções (Berthe-Denoeux & Léoni, 2000, p.207). C o m freqüência não
c o n s e g u e m saber se a c r i a n ç a r e a l m e n t e c o m p r e e n d e u o u n ã o , e al-
g u m a s respostas são a m b í g u a s e o u t r a s d o registro da aprendiza-
gem " d e cor". Eles n o t a m i g u a l m e n t e que u m certo n ú m e r o dessas
c r i a n ç a s interessa-se a p e n a s p o r u m a m a t é r i a , e n a d a a p r e n d e m das
outras. Nota-se t a m b é m que o n ú m e r o de c r i a n ç a s deficientes
m e n t a i s d e c r e s c e à m e d i d a q u e se p a s s a p a r a u m a c l a s s e s u p e r i o r ,
a
e q u e r a r o s s ã o os q u e c h e g a m à 4 série e a i n d a m a i s raros os
que c h e g a m ao g i n á s i o .
O desenvolvimento c o g n i t i v o , o a c r é s c i m o de conhecimen-
tos s ã o s e m d ú v i d a f a v o r e c i d o s e m a l g u m a s c r i a n ç a s q u e encon-
t r a m u m a e s t i m u l a ç ã o e m s u a p o s i ç ã o d e a l u n o i n t e g r a d o . Se s ã o
constatados p r o g r e s s o s n o Q I , estes p e r m a n e c e m confidenciais, e
sem d ú v i d a n ã o são espetaculares nesse d o m í n i o . P o d e r í a m o s nos
surpreender c o m u m a perspectiva psicanalítica do nascimento da
inteligência, com base n u m a relação precoce e suficientemente
bem-sucedida com o outro, numa curiosidade fundada sobre o
sexual e n u m a c a p a c i d a d e de s i m b o l i z a r . Q u a n d o a l g u n s aconte-
cimentos f a l h a r a m ou o b t i v e r a m um poder muito grande, como
tentar r e s t a u r a r algo, a l é m de u m a s i t u a ç ã o t r a n s f e r e n c i a i , duran-
te a q u a l a criança poderá ultrapassar a posição que lhe foi
d e f i n i d a , a de deficiente? ( M a n n o n i , 1964). A atenção particular
levada à criança durante sua integração às v e z e s p o s s i b i l i t a o
i n í c i o de u m trabalho d e s t e t i p o , m a s q u e só p o d e r á se desen-
volver n u m a situação terapêutica.
CONCLUSÃO

A integração escolar das crian-


ças deficientes mentais é antes de
m a i s n a d a o r e f l e x o , h á m a i s de um
século, da c o n c e p ç ã o republicana da
escola na França, que gostaria de
acolher, idealmente, o m a i o r núme-
ro possível de crianças marcadas
por uma diferença, uma fraqueza
nesse d o m í n i o . H o u v e um progresso
quando os j o v e n s d e l i n q ü e n t e s fo-
ram separados dos deficientes men-
tais ( C h a u v i è r e , 2 0 0 0 ) , e o grande
s a l t o se d e u e m 1970 n u m contexto
ideologicamente muito marcado, na
tomada de p a r t i d o c o n t r a a segrega-
ção em benefício da idéia generosa
de u m a m e s m a escola p a r a todos.
Se p a r e c e q u e , majoritariamen-
te, c r i a n ç a s n o r m a i s e deficientes
beneficiam-se dessa confrontação no
aprendizado da sua futura vida
adulta, o aspecto cognitivo e os
progressos nesse d o m í n i o só pare-
cem possíveis q u a n d o acompanhados
por u m a situação terapêutica funda-
da na transferência, que lhes possi-
bilita, de m o d o m í n i m o , reparar ou
começar a instaurar algo que não
pode acontecer precocemente. •

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Berthe-Denoeux, M . F. & L é o n i , V. (2000).


Le regard des enfants valides. In
Chauvière, M. & Plaisance, E. L'école
face aux handicaps. Éducation spéciale
ou éducation intégrative? Paris: Presses
Universitaires de France.
Binet, A. & Simon, T. ( 1 9 0 7 ) . Guide pour Vial, M . (1990). Les enfants anormaux à
l'admission des enfants anormaux dans l ' é c o l e , à l ' o r i g i n e de l ' é d u c a t i o n spécia¬
les classes de perfectionnement. Toulou- lisée, 1882-1909. Paris: A r m a n d Colin.
se: P r i v a t , 1978. Zazzo, R. ( 1 9 6 9 ) . Les debilites mentales.
Bourneville, D. M . (1906-7). Quelques réfle- Paris: A r m a n d Colin.
xions à propos des enfants anormaux Zazzo, R., Gilly, M. & Verba-Rad, M.
à P a n s , Revue Philanthropique. (1 9 6 6 ) . Nouvelle échelle métrique de
Chauvière, M . (2000), L'ecole et le s e c t e u r l'intelligence. Paris: EAP.
medico-social. Naissance d'un conten¬
tieux. In C h a u v i è r e , M . & P l a i s a n c e , E.
L'école face aux handicaps. Éducation
spéciale ou é d u c a t i o n intégrative? Paris: NOTAS

Presses Universitaires de France.

Freud, S. (1923). L'organisation génitale


infantile. I n La vie sexuelle. Paris: Pres-
1
É preciso observar que houve a previ-
ses U n i v e r s i t a i r e s d e F r a n c e , 1 9 7 2 .
são de abertura de escolas de aperfeiçoa-
Heuyer, G. ( 1 9 3 8 ) . Les enfants anormaux
mento, em q u e seria proposto um ensino
d ' â g e s c o l a i r e . Revue Médico-Sociale.
profissional destinado a jovens d e 13 a
Heuyer, G., P i é r o n , H., Piéron, M . & Sau¬
18 anos.
vy, A. ( 1 9 5 3 ) . Le n i v e a u intellectuel des
enfants d'age s c o l a i r e . Une e n q u ê t e nati-
2

on a 1 e d a n s I'enseignement primaire. Para maiores informações sobre essas

Cahiers de l'INED, 1 3 . questões, consultar Roca, 1992.


3

Klein, M. (1930). L'importance d e la for- E igualmente deficientes s e n s o r i a l s e físi-

mation du symbole dans le d é v e l o p p e ¬ cos.

m e i i l d u m o i . I n Essais de p s y c h a n a l y ¬ 4
Para maiores detalhes, ver Ohayon,
se 1921-45. P a r i s : P a y o t , 1968. 1999.
Lantier, N . , V e r i l l o n , A . , A u b l é , J . P., Bel-
5
Ver, p o r e x e m p l o , Prost, 1968.
mont, B . & W a y s a n d , E. ( 1 9 9 4 ) . Enfants
handicapés a' l'école. Des instituteurs
parlent de leur pratique (S. Tomkiewic-e,
pref.). Paris: CRESAS-INRP, 1 1 .

Lécuyer, R., Stréri, A. & Pêcheux, M . G.


(1994, 1 9 9 6 ) . Le développement cognitif
du nourrisson (2 tomos). Paris: Na-
than.
M a n n o n i , M . ( 1 9 6 4 ) . L'enfant arriéré et sa
mère. Paris: Seuil.
O h a y o n , A . ( 1 9 9 9 ) . L'impossible rencontre,
psychologie et psychanalyse en France
1919-69. Paris: La Découverte.
Prost, A. (1968). Histoire de I'enseignement
en France, 1800-1965. Paris: Armand
Colin.
Roca, J. (1992). De la ségrégation à
l'intégration, l'éducation des enfants
inadaptés de 1909 à 1975. P a r i s : CT-
NERHI/Presses Universitaires de France.

Você também pode gostar