Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Os autores tecem,
em p r i m e i r o lugar, u m a
A INTEGRAÇÃO
história da integração
e s c o l a r d e c r i a n ç a s defi- ESCOLAR DE
cientes m e n t a i s na Fran-
ça. E m s e g u i d a , d i s c u -
tem algumas questões CRIANÇAS
atuais. C o n c l u e m que
os p r o g r e s s o s n e s s e d o -
m í n i o só s e r ã o p o s s í -
DEFICIENTES
v e i s se a c o m p a n h a d o s
p o r u m a s i t u a ç ã o tera-
pêutica fundada na
MENTAIS: ESTUDO
transferência.
Deficiência mental;
i n t e g r a ç ã o escolar
HISTÓRICO E
SCHOOL INTEGRATION OF QUESTÕES ATUAIS
MENTALL Y DEFICIENT
CHILDREN: A HISTORICAL
STUDY AND SOME
PRESENT-DA Y QUESTIONS
The authors, first of M . C.Fourment-Aptekman
all, present a history of
school integration of
mental deficient E. Chapuis
children in France.
Secondly, they discuss
some contemporary T r a d u ç ã o : Inesita M a c h a d o
problems on school
integration. They
conclude that the
progress in this domain
will be possible only if
it is accompanied by a
A questão d a i n t e g r a ç ã o e s c o l a r foi levan-
therapeutic situation
based on transfer.
tada pouco após o estabelecimento, na Terceira Re-
Mental deficiency;
school integration
pública, da legislação que tornava a instrução gra-
QUESTÕES ATUAIS
INTEGRAÇÃO, S E G R E G A Ç Ã O
D e s d e q u e a e s c o l a p a s s o u a ser o b r i g a t ó r i a n a F r a n ç a , duas
atitudes confrontaram-se a respeito d a s c r i a n ç a s deficientes m e n t a i s , a
dos p a r t i d á r i o s de u m a e d u c a ç ã o especializada, sob a égide do M i -
n i s t é r i o da S a ú d e , e m o p o s i ç ã o à d a q u e l e s q u e d e f e n d e m u m a escola
republicana, realmente aberta a todos se é e s t r a n g e i r o o u q u a n d o a família
e p o r t a n t o c a p a z de i n t e g r a r t o d a s as está em dificuldade. No primeiro
c r i a n ç a s , e m b e n e f i c i o de todos. c a s o , a c r i a n ç a d e f i c i e n t e m e n t a l está
Pode-se, e n t r e t a n t o , formular a no centro de u m dispositivo que
questão sobre as b a s e s t e ó r i c a s que c o m p r e e n d e , e v i d e n t e m e n t e , os p a i s e
fundam este p o s t u l a d o , certamente professores, mas também com fre-
generoso, segundo o qual a integra- qüência u m a equipe que cuida dela,
ção das crianças deficientes intelec- o que não lhe deixa n e n h u m a possi-
t u a i s será b e n é f i c a p a r a eles, p r i m e i - b i l i d a d e de e s c a p a r a este conjunto
ramente, mas também p a r a t o d a s as c o m p l e x o de p r o c e d i m e n t o s estabele-
outras crianças, professores e para a cidos para ela, c o m p r e e n d i d o pelos
própria i n s t i t u i ç ã o escolar. De fato, pais como um "privilégio". No se-
este p o s t u l a d o parece basear-se em gundo caso, sobretudo quando as
r a z õ e s h i s t ó r i c a s , e p a r e c e ter sido dificuldades familiares estão em pri-
constituído como reação contra a m e i r o p l a n o , a falta d e c o n t r o l e dos
segregação e a b a n d o n o em que eram pais sobre a a s s i d u i d a d e escolar con-
d e i x a d o s as c r i a n ç a s e a d u l t o s que d u z c a d a vez m a i s a u m absenteísmo
apresentavam um distúrbio deficitá- q u e se t o r n a a l a r m a n t e (cf. Le P a r i s i ¬
rio da i n t e l i g ê n c i a , c o m o demons- en, 2 0 / 1 0 / 2 0 0 0 ) e c o n d u z , d e fato, a
tram os p a v i l h õ e s d e "defectologia" u m a exclusão do sistema escolar.
q u e a c o l h e m os r e t a r d a d o s mentais Um outro paradoxo d i z respei-
a d u l t o s , o u a i n d a o fato d e q u e , h á to à d e m a n d a d e p e r f o r m a n c e s esco-
alguns decênios, n u m grande hospital lares feita às c r i a n ç a s deficientes:
p a r i s i e n s e , h a v i a o costume de amar- numa preocupação com a igualdade,
rar a mamadeira às grades da cama as e x i g ê n c i a s s ã o c o m freqüência da
quando u m r e c é m - n a s c i d o fosse con- mesma ordem que aquelas impostas
siderado débil. às c r i a n ç a s c o m u n s , e m contradição
A partir de cerca de 1970, a c o m o p r ó p r i o p r i n c í p i o de integra-
i d é i a q u e se d e s e n v o l v e u n a F r a n ç a e ção. Então, a criança e sua família
na maioria dos países da Europa, devem adaptar-se c o m o puderem. A
c o m o r e a ç ã o a essas p r á t i c a s é q u e o f a m í l i a - n ã o a p e n a s os p a i s , m a s ir-
contexto ou o a m b i e n t e têm u m pa- mãos e irmãs, e com freqüência os
pel d e c i s i v o n o d e s e n v o l v i m e n t o das avós - constitui um parceiro funda-
capacidades intelectuais, e que um m e n t a l da i n t e g r a ç ã o , t a n t o e m rela-
m e i o " n o r m a l " seria, neste domínio, ção à Educação Nacional quanto à
mais favorável do que um meio equipe médico-social, e ao conjunto
"especializado". administrativo. Um estudo recente
N a s c e a s s i m a n o ç ã o de i n t e g r a - mostra q u e as c r i a n ç a s c o m u n s não
ção, que apresenta entretanto certo podem a v a l i a r as d i f i c u l d a d e s encon-
número de p a r a d o x o s , e o primeiro tradas por seus colegas " i n t e g r a d o s " ,
é q u e é m a i s fácil i n t e g r a r - s e à esco- e que não fazem nenhuma objeção
la quando se t e m uma deficiência em tornarem-se seus a m i g o s . Nesse
reconhecida do que quando se v e m e s t u d o vê-se q u e , p o r p a r t e d o s pro-
de u m meio desfavorecido, quando fessores no domínio da a p r e n d i z a ¬
gem, e d e v i d o a o p r i n c í p i o de i g u a l -
dade entre os a l u n o s , a deficiência
deve se tornar invisível à escola
(Berthe-Denoeux & Léoni, 2000,
p. 199). H á p o r t a n t o u m a contradição
entre o tratamento igualitário dos
alunos e o direito à diferença.
A e x i g ê n c i a de performances,
aliada a u m desconhecimento d a de-
ficiência, gera u m a g r a n d e ansiedade
n a s c r i a n ç a s d e f i c i e n t e s , q u e cresce à
medida que a dificuldade escolar
aumenta.
Um terceiro paradoxo d i z res-
peito à contradição entre o "projeto
personalizado" que a c o m p a n h a toda
criança que deve integrar-se no siste-
ma escolar: a integração real numa
classe c o m u m . É p r e c i s o , de fato, nes-
se c a s o , c o n c i l i a r a priori objetivos
contraditórios: os q u e d e p e n d e m da
e s c o l a e a q u e l e s q u e e s t ã o l i g a d o s às
c a p a c i d a d e s da c r i a n ç a d e f i c i t á r i a , q u e
n ã o está, p o r definição, n u m a situação
d e i g u a l d a d e e m r e l a ç ã o a seus c a m a -
r a d a s . Nesse s e n t i d o os Projetos Indi-
v i d u a i s de I n t e g r a ç ã o Escolar (PUS)
manifestam grande distância entre a
dificuldade identificada, por si só
m u i t o p o u c o a f i n a d a ( e x e m p l o : "afir-
mar-se e n q u a n t o sujeito"), e o objeti-
vo o p e r a c i o n a l que a criança deve
a t i n g i r graças à a j u d a d a escola: a m a r -
rar seus s a p a t o s , vestir-se s o z i n h a . Os
registros das dificuldades encontradas
p e l a c r i a n ç a são i s o l a d o s u n s d o s ou-
tros e s ã o r e p e r t o r i a d o s como "afeti-
vo", "social" ou "cognitivo". Nesse
último registro, a incapacidade de
entrar no domínio simbólico, por
e x e m p l o , é tratada de m o d o isolado,
e o objetivo operacional consiste em
fazer c o m q u e a c r i a n ç a e n c o n t r e um
s e n t i d o p a r a seu destino.
Não se t r a t a a q u i a b s o l u t a m e n t e d e d e n e g r i r os e s f o r ç o s da
Educação N a c i o n a l e dos professores das escolas para tentar uma
i n t e g r a ç ã o . M a s trata-se s o b r e t u d o de c o n s t a t a r p r i m e i r a m e n t e q u e a
questão do diagnóstico é essencial para encontrar u m a resposta às
d i f i c u l d a d e s d a c r i a n ç a e, e m s e g u n d o l u g a r , q u e a r e s p o s t a pura-
m e n t e e d u c a t i v a o u r e e d u c a t i v a n e m s e m p r e é a p r o p r i a d a . Isto n o s
conduz a nos perguntarmos a respeito da p r ó p r i a insuficiência
m e n t a l e sobre a inteligência.
Sem d ú v i d a é n a v e r t e n t e da i n s e r ç ã o s o c i a l q u e os professores
e a e s c o l a p e r c e b e m a i n t e g r a ç ã o c o m o b e n é f i c a . Ela p e r m i t i r á aos
professores não somente sair de sua r o t i n a pedagógica, mas terá
i g u a l m e n t e u m a ação positiva nas crianças c o m u n s , desenvolvendo,
para a l g u m a s , a tolerância à diferença. Entretanto parece existir u m a
a m b i v a l ê n c i a e n t r e as c r i a n ç a s i n t e g r a d a s e as o u t r a s . O r i s c o p a r a a
criança deficiente é tornar-se u m a criança vedete, ou tornar-se ob-
jeto da solicitude dos outros ( C R E S A S , 1994, p . 1 6 5 ) . O primeiro
r i s c o é b a i x o p a r a as c r i a n ç a s d e f i c i e n t e s m e n t a i s , c o m freqüência
objeto de c h a c o t a e até m e s m o de rejeição. Q u a n t o à s o l i c i t u d e ,
esta, m u i t a s vezes, m a s c a r a u m a a g r e s s i v i d a d e q u e se m a n i f e s t a fora
d o s r e c r e i o s , e n a classe é q u a s e s e m p r e p r o v o c a d a p e l o a d u l t o que
presta u m dever m o r a l à criança que t r a b a l h a b e m e rapidamente
a o trazer s u a c o l a b o r a ç ã o à c r i a n ç a d e f i c i e n t e . Tarefa b a s t a n t e d i f í c i l
para uma c r i a n ç a de 7 a n o s que deve e n s i n a r u m a outra criança
m a i s v e l h a c o m b a i x a s p e r f o r m a n c e s . A l é m d i s s o , as c r i a n ç a s defici-
entes t ê m t e n d ê n c i a a se r e a g r u p a r e m , p e l o m e n o s n o i n í c i o d e s u a
integração, e suas relações permanecem limitadas a um pequeno
n ú m e r o de c r i a n ç a s c o m u n s . Eles p a r e c e m m a n i f e s t a r u m a tendência
a o i s o l a m e n t o e m a n i f e s t a m t a m b é m sua a g r e s s i v i d a d e e m r e l a ç ã o às
c r i a n ç a s n o r m a i s . C o m o p o d e r i a ser d i f e r e n t e ? E n t r e t a n t o sabe-se
m u i t o p o u c o do que sente u m a criança deficiente m e n t a l , confron-
tada a baixas performances, entre colegas m a i s jovens q u e ela. Q u e
i m a g e m ela recebe? P o d e ela s u p o r t á - l a ?
Os pais têm u m papel d e t e r m i n a n t e na integração, principal-
mente quando esta a ç ã o p a r t e d e l e s . À s vezes a l g u n s d e l e s m a t r i c u -
lam seus filhos na escola sem preveni-la da deficiência. H á aí a o
mesmo t e m p o u m desafio proposto à instituição e u m a injunção:
m e u f i l h o s e r á m a t r i c u l a d o c o m o os o u t r o s , e t a m b é m uma nega-
ção da deficiência, freqüentemente acompanhada por exigências
muito altas.
Quaisquer q u e s e j a m os d e f e i t o s , as d i f i c u l d a d e s , as i n a b i l i d a -
des, a confrontação d a s c r i a n ç a s e n t r e si e a c o n f r o n t a ç ã o da escola
à diferença aparecem c o m o p o s i t i v a s e m seu c o n j u n t o . Mas a
i n t e g r a ç ã o d u r a a p e n a s a l g u m t e m p o , t a n t o q u a n t o a d e f i c i ê n c i a for
pesada. A criança volta em seguida quase inelutavelmente para uma
estrutura especializada, em que sua deficiência n ã o poderá m a i s ser
n e g a d a . Trata-se d e u m a p a s s a g e m e x t r e m a m e n t e d i f í c i l p a r a a famí-
lia c o m o u m todo que parecia, por u m tempo, ter m i n i m i z a d o a
diferença da criança.
INTEGRAÇÃO ESCOLAR E
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
m e i i l d u m o i . I n Essais de p s y c h a n a l y ¬ 4
Para maiores detalhes, ver Ohayon,
se 1921-45. P a r i s : P a y o t , 1968. 1999.
Lantier, N . , V e r i l l o n , A . , A u b l é , J . P., Bel-
5
Ver, p o r e x e m p l o , Prost, 1968.
mont, B . & W a y s a n d , E. ( 1 9 9 4 ) . Enfants
handicapés a' l'école. Des instituteurs
parlent de leur pratique (S. Tomkiewic-e,
pref.). Paris: CRESAS-INRP, 1 1 .