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WUILKER KNONER CAMPOS

NEURALGIA DO TRIGÊMEO: ANÁLISE DOS


RESULTADOS DO TRATAMENTO POR COMPRESSÃO
PERCUTÂNEA COM BALÃO NO GÂNGLIO DE GÂSSER

Trabalho apresentado à Universidade


Federal de Santa Catarina, para
conclusão do Curso de Graduação em
Medicina.

Florianópolis
Universidade Federal de Santa Catarina
2005
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WUILKER KNONER CAMPOS

NEURALGIA DO TRIGÊMEO: ANÁLISE DOS


RESULTADOS DO TRATAMENTO POR COMPRESSÃO
PERCUTÂNEA COM BALÃO NO GÂNGLIO DE GÂSSER

Trabalho apresentado à Universidade


Federal de Santa Catarina, para
conclusão do Curso de Graduação em
Medicina.

Presidente do Colegiado: Prof. Dr. Ernani Lange de São Thiago


Orientador: Prof. Dr. Marcelo Neves Linhares
Co-orientador: Prof. Dr. Roger Walz

Florianópolis
Universidade Federal de Santa Catarina
2005
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DEDICATÓRIA

Dedico não só este trabalho, mas também minha formação e todas as demais vitórias
que já tive e terei a quem dedicou toda sua vida em favor de seus três filhos, minha mãe,
Eunice Knoner Campos. Esta mulher foi mãe e pai ao mesmo tempo, dedicou seu tempo,
dinheiro, carinho, seus cuidados e amor para que seus filhos se tornassem homens de bem,
tementes a Deus, respeitáveis e respeitadores. Para ela não tinha tempo ruim, por mais que
esta família tivesse dificuldade, nunca se deixou abalar. Esta rocha tinha o incrível poder de
transformar situações ruins em coisas banais, derrubava facilmente muralhas que a vida
impunha. Sabia que só teria uma chance de fazer com que seus filhos se tornassem alguém,
somente um caminho: a educação, e foi onde apostou tudo. O resultado desta aposta: um filho
médico e dois advogados, filhos que hoje se orgulha e não se arrepende nem um dia de todo
seu esforço e dedicação. Sempre repetia para seus filhos a frase só descansarei quando ver
vocês formados, não importe se isso custar minha vida, neste dia então eu poderei descansar .

III
4

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, por ter me dado a oportunidade de estudar em um


curso tão nobre que é este de ajudar as pessoas, e por ter ficado sempre ao meu lado nas horas
difíceis.
A minha namorada, Graziela Nicolodi Dutra, por seu carinho, amor e seu apoio, sendo
peça fundamental para minha formação acadêmica e para minha vida particular.
A Rosane Nicolodi, por ser um exemplo de ser humano e bondade, por ter contribuído
em minha formação dando todo suporte necessário a minha formação intelectual e por não
permitir que eu desistisse da batalha. Aos meus futuros sogro e sogra, Valci Dutra e Ana
Cristina Nicolodi Dutra.
A minha avó, Alfa Knoner e meus tios, Mario e Marilene Archer pelo apoio a minha
família nas horas difíceis.
A meu irmão Wilson Knoner Campos pela ajuda nas traduções e por suas orações.
Ao meu co-orientador Dr. Roger Walz, porque além me ajudar na análise estatística do
trabalho também ensinou, dentro das minhas limitações, estatística em suas aulas informais ,
que com certeza me valerão para a minha vida científica futura.
Ao meu orientador Dr. Marcelo Neves Linhares, que apesar de seu conhecimento,
status e importância de neurocirurgião, teve humildade suficiente de me tratar não só como
aluno, mas também como amigo, diminuindo a distância hierárquica entre aluno e professor.

IV
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SUMÁRIO

XI
RESUMO....................................................................................................................................8
XII
SUMMARY................................................................................................................................9

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................8

2. REVISÃO DE LITERATURA.........................................................................................10

2.1 HISTÓRICO ...................................................................................................................10


2.2 ANATOMIA...................................................................................................................12
2.3 ETIOLOGIA E PATOGÊNESE .....................................................................................15
2.4 HISTÓRIA CLÍNICA.....................................................................................................18
2.5 EXAME FÍSICO.............................................................................................................20
2.6 EXAMES COMPLEMENTARES .................................................................................21
2.7 DIAGNÓSTICO .............................................................................................................23
2.8 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ..................................................................................24
2.9 COMPRESSÃO PERCUTÂNEA COM BALÃO .........................................................25

3. OBJETIVOS .....................................................................................................................33

4. METODOLOGIA .............................................................................................................34

5. RESULTADOS ................................................................................................................36

6. DISCUSSÃO ....................................................................................................................46

7. CONCLUSÃO ..................................................................................................................57

NORMAS ADOTADAS ..........................................................................................................58

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................................59

APÊNDICE...............................................................................................................................63
RESUMO

A neuralgia do trigêmeo é uma dor neuropática facial que acomete os ramos do nervo
trigêmeo, uma das dores mais severa conhecida, que por vezes torna a vida do paciente
incapacitante. O objetivo deste trabalho foi caracterizar uma amostra de pacientes com NT e
os resultados do tratamento com compressão percutânea com balão. Método: estudo
retrospectivo de 39 pacientes que fizeram este procedimento entre 1999 a 2004, devido ao não
controle clínico da dor. Resultados: leve prevalência do sexo feminino, idade média de 62,3
anos. Fizeram tratamento cirúrgico prévio ou não convencional cerca de 20 %. Metade dos
pacientes procuraram dentista, e destes, metade fez procedimento odontológico. A dor na
maioria dos casos foi: desencadeada por contato cutâneo, com tics, acometendo lado direito e
ramos V2V3, dor tipo choque elétrico. Todos consideraram como a pior dor, afetando
muito/terrivelmente a qualidade de vida em 97,5 %. A relação alimentação/perda ponderal
teve p = 0,65. Houve sucesso inicial de 98 %, o efeito colateral mais comum foi a parestesia,
tolerado pela maioria que se mostraram satisfeitos com a cirurgia, a mortalidade foi zero. A
taxa de recorrência foi de 20 % em 50 meses, e a parestesia teve nível significante.
Conclusão: a NT atinge pacientes idosos com repercussão terrível em suas vidas, fazendo-os
se submeterem a procedimentos odontológicos desnecessários. Não houve relação estatística
significante entre alimentação/perda ponderal. Pacientes com parestesia têm menos chances
de recorrência. O procedimento percutâneo com balão mostrou-se seguro mesmo em idades
mais avançadas, sem mortalidade e morbidade tolerável.

VI
9

SUMMARY

The trigeminal neuralgia is a facial neuropatic pain that affects the roots of trigeminal
nerve; one of the strongest known pains that in times disables the patient s life. The objective
this paper was to describe a sample of patients with TN and the results of treatment with the
percutaneous balloon compression technique. Methods: retrospective study of in 39 patients
that was carried out this procedure between 1999 and 2004, because of not medical control of
TN. Results: there was a discreet feminine prevalence; the average age was 62,3. Twenty
percent of patients had undergone previous surgical treatment or alternative treatment. Half of
the patients went to the dentist, and half of them went through odontological procedure. The
pain in the majority was: cutaneous contact disenchanted, with tics, on the right side and
V2V3 division, electric shock-like pain. All patients considered the pain to be the worst, and
in 97,5 % of the patients had a terrible effect in the quality of life. The nutrition/weight loss
relationship had p=0,65. The initial success was 98 %, the most common side effect was
paresthesia tolerated by the majority that were satisfied with the procedure. There was any
death. The recurrence rate was 20 % in 50 months. The paresthesia had significant level.
Conclusion: the TN affected the elderly with a terrible repercussion in their lives, and subjects
them to unnecessary odontological procedures. There wasn t statistic association between
nutrition/weight loss. Patients with paresthesia have less probability of recurrence. The PBC
showed to be a safe procedure even in the elderly, with no mortality and tolerated morbidity.

VII
8

1. INTRODUÇÃO

Uma das dores mais severas de que se tem conhecimento, a neuralgia (ou neuralgia)
essencial do trigêmeo é o protótipo da dor neuropática, uma síndrome de dor facial rara
caracterizada por dor tipo choque-elétrico , lancinante, paroxística, e é sentida dentro da
distribuição de uma ou mais divisões do nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade da
face. A dor ainda é descrita como se fosse a sensação de um fio elétrico desencapado
encostando-se à face 1.
Cada ataque de dor dura apenas alguns segundos, mas a dor pode ser tão repetitiva
num curto intervalo de tempo de tal forma que cada ataque novo pode se confundir com o
antecedente, dando às vezes a sensação de dor contínua no paciente. Freqüentemente esta dor
também é acompanhada de leves espasmos faciais, ou tic, e por este motivo também é
conhecida como tic douloureux, que em francês significa tic doloroso 1.
A dor é freqüentemente disparada por estímulos originados na pele, mucosa ou dentes
inervados pelo nervo trigêmeo ipsilateral, nas chamadas zonas-gatilho (Triggers points).
Assim, atividades cotidianas como dormir, fazer a barba, escovar os dentes, comer e até
mesmo falar podem ser extremamente difíceis, dando um prejuízo de tão grande proporção na
qualidade de vida do pacientes que pode levá-lo ao emagrecimento, desidratação, depressão e
até mesmo ao suicídio 1.
A neuralgia do trigêmeo se divide academicamente em essencial e secundária. A causa
da neuralgia secundária normalmente é evidente, pois além da neuralgia facial o paciente
apresenta algum déficit neurológico. Geralmente é causada por tumores no ângulo cerebelo-
pontino 3, 4.
A etiologia da neuralgia essencial do trigêmeo é confusa, no entanto acredita-se que
seja multicausal, sendo consenso que a principal, mas não única, seja o contato neurovascular.
O contato crônico de uma artéria sobre o nervo trigêmeo causa uma lesão no local do contato,
provocando desmielinização local, e conseqüentemente hiperexcitabilidade das fibras
nociceptivas levando à dor 4.
O diagnóstico é essencialmente clínico, no entanto, se houver déficit neurológicos
associados à neuralgia do trigêmeo (NT) estudos de imagem devem ser solicitados 1, 4, 8, 24, 25.
9

O tratamento inicialmente é clínico, sendo a carbamazepina o medicamento de


primeira escolha. Na falha deste, o tratamento cirúrgico está indicado. O tipo de procedimento
a ser realizado vai depender das condições gerais do pacientes e da adequação
vantagem/desvantagem de cada procedimento. Atualmente há uma tendência em se fazer a
cirurgia de menor morbidade possível e a de menor risco, e é onde se encaixam os
procedimentos percutâneos, e dentre eles, a compressão percutânea com balão do gânglio do
nervo trigêmeo. Apesar de ser um procedimento rápido, tecnicamente fácil e vantajoso por
poder ser executado em idosos com segurança, este procedimento não está livre de efeitos
colaterais, sendo a parestesia facial o principal 1, 4, 8.
A proposta do presente trabalho é analisar o perfil dos pacientes com neuralgia do
trigêmeo essencial e a repercussão desta em suas vidas. Além disso, propõe-se a analisar
dados como relação entre incapacidade de se alimentar/perda ponderal, freqüência de
consultas ao dentista e de procedimentos odontológicos desnecessário, e a influência de
fatores clínico-demográficos-cirúrgicos nos resultados da compressão percutânea com balão
do gânglio de Gâsser. Trata-se de um estudo inédito em Santa Catarina e algumas análises são
até mesmo inéditas na literatura médica mundial sobre o assunto.
10

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 HISTÓRICO

Uma revisão da história da neuralgia do trigêmeo (NT) pode muito bem ilustrar o
impacto avassalador desta doença tanto no indivíduo quanto na evolução do conhecimento
médico-cirúrgico a despeito das causas e tratamentos desta dor facial. Apesar da neuralgia do
trigêmeo não ter sido bem documentada na literatura médica antiga, credita-se a Aretaeus de
Cappadocia*, a primeira descrição da neuralgia do trigêmeo, que a descreve como sendo uma
1-3
dor de cabeça acompanhada de espasmos e distorções do semblante .
O próximo registro histórico que se tem, trata-se de uma precoce e parcial descrição
dos sintomas da neuralgia do trigêmeo que foram descritas pelo médico e filósofo persa
Avicenna no século XI em seu livro Quanum, onde escreveu sobre uma condição severa de
dor facial sem perda de força ou sensação. Segundo ele, o tratamento recomendado era vinho
e repouso em quarto escuro 1,4.
A primeira narrativa clara da neuralgia do Trigêmeo foi feita em 1671, pelo médico
alemão Johannes Laurentius Bausch, que inclusive sofria de dor em fisgada na maxila direita.
Ele ficou inábil para falar e comer por causa desta dor, e sucumbiu por escorbuto e
desnutrição após quatro anos de sofrimento. Depois deste caso, a literatura médica européia
começou a fazer mais freqüentemente relatos da doença. Em 1732, um médico francês,
Nicolas Anché, descreveu vários casos de neuralgia do Trigêmeo e batizou esta desordem
como tic douloureux. Então, assim como hoje, o diagnóstico começou a ser baseado
largamente na cuidadosa história coletada pelos médicos 1,4.
A história do tratamento clínica da neuralgia do trigêmeo (NT) demonstra a
preponderante severidade da dor, bem como as condutas médicas aplicadas. O médico inglês

*
Médico grego de Cappadocia que trabalhou em Roma e Alexandria, liderou um reavivamento dos
ensinamentos de Hipócrates, e ele é tido como segundo pai da medicina.
11

John Fothergill foi o primeiro a dar uma definição mais completa e detalhada sobre esta dor
em seu trabalho intitulado "On a Painful Affliction of the Face", apresentado para a Sociedade
Médica de Londres em 1773. Também escreveu uma receita para o tratamento da neuralgia do
trigêmeo a base de extrato de cicuta. Incontáveis outras terapias, por vezes pouco racionais,
foram aplicadas na esperança de aliviar a dor. Relatos da eficácia desses tratamentos foram
provavelmente resultado da coincidência da remissão espontânea da doença tanto quanto
qualquer efeito terapêutico de poções administradas 1,3, 4.
Um ensaio mais moderno de tratamento clínico da doença pode ser realizado por
Hutchinson e subseqüentemente por Davidoff, que recomendaram o uso de carbonato de
ferro. No início do século XX, tricloroetileno, um agente anestésico volátil e solvente
industrial, foi relatado ter efeito benéfico no alívio da neuralgia do trigêmeo. Os pacientes
tratados então, desenvolveram dormência e parestesias sem fraqueza muscular. Subseqüentes
tentativas após estas e em linhas similares de tratamento feitas por outros autores foram
relativamente sem sucesso e acabaram em abandono do procedimento 1, 6.
Em 1900, um célebre artigo de Cushing relatou um método de ablação total do gânglio
gasseriano para o tratamento da neuralgia do trigêmeo 3.
Em 1912, Osler fez as seguintes observações sobre a neuralgia do trigêmeo: Em
pacientes com NT avançada, os paroxismos seguiam um ao outro sem qualquer causa
evidente, e nos intervalos os pacientes jamais poderiam estar livres da dor; as crises iniciavam
por quase todos estímulos externos, como por exemplo, por uma corrente de ar, movimento
dos músculos faciais e ou a lingual durante a fala, tocar na pele, particularmente sobre aqueles
pontos cuja dor parecia originar; e a ação de engolir, especialmente quando a dor envolvia
área mucosa da distribuição do nervo; não era uma doença autolimitada. Em alguns exemplos
a neuralgia alcançava uma intensidade tão terrível que tornava a vida do paciente
incapacitante. Em tempos remotos, o suicídio não era uma conseqüência rara 3.
12

2.2 ANATOMIA

O nervo trigêmeo é um nervo misto, sendo o componente sensitivo consideravelmente


maior, logo, possui uma raiz sensitiva e uma raiz motora. A raiz sensitiva é formada pelos
prolongamentos centrais dos neurônios sensitivos, situados no gânglio trigeminal também
chamado semilunar ou gânglio de Gâsser (Figura 1), que se localiza sobre o ápice da porção
petrosa do osso temporal na fossa média (Figura 2) 5, 6.
Está situado em uma dobra da dura-máter que forma uma invaginação ao redor dos 2/3
posteriores do gânglio, que é chamado de cavum de Meckel, ou cavo do trigêmeo (figura 17).
O gânglio é delimitado medialmente pelo seio venoso cavernoso e nervos óptico e troclear
(Figura 2), superiormente pela superfície inferior do lobo temporal e posteriormente pelo
tronco cerebral , onde as aferências nervosas do trigêmeo convergem para o complexo nuclear
do trigêmeo, dentro da coluna aferente somática que é responsável pela sensibilidade somática
geral da cabeça 5, 6.

Figura 1. Visão medial do gânglio de Gâsser, destacado em vermelho, e suas ramificações saindo da fossa
média: V1 (fissura orbitária superior), V2 (forame redondo) e V3 (forame oval). FONTE: Netter 7.
13

Figura 2. Visão superior da fossa média, mostrando o gânglio de Gâsser e sua relação com as demais estruturas
da fossa média. O gânglio de Gâsser do lado direito foi rebatido para cima para visualização das estruturas sob
este gânglio. FONTE: Netter 7.

Os prolongamentos periféricos dos neurônios sensitivos do gânglio gasseriano formam


distalmente ao gânglio os três ramos ou divisões do trigêmeo (Figura 1): a divisão oftálmica
(V1) que penetra na órbita pela fissura orbital superior e recebe inervações aferentes
sensoriais da região frontal e parte da região nasal, além de responder pelo reflexo córneo-
palpebral. A divisão maxilar (V2) deixa a fossa média via forame redondo, cruza a fossa
pterigopalatina e entra na órbita pela fissura orbital inferior, essa divisão recebe aferências
nervosas da região maxilar 5, 6.
Finalmente, a divisão mandibular (V3) que deixa a fossa média via forame oval e
responde pela inervação da região homônima. Este ramo ainda subdivide-se em ramo lingual
que caminha entre os músculos pterigóideo medial e lateral para inervar os 2/3 anteriores da
língua, a parte lingual da gengiva inferior e mucosa do assoalho bucal, e ramo alveolar
inferior responsável pelo restante 5, 6.
Essas divisões respondem pela sensibilidade somática geral de grande parte da cabeça (Figura
3), através de fibras que se classificam como aferentes somáticas gerais. Estas fibras
conduzem impulsos exteroceptivos e proprioceptivos. Os impulsos exteroceptivos
(temperatura, dor, pressão e tato) originam-se: da pele da face e da fronte; da conjuntiva
14

ocular; da parte ectodérmica da mucosa da cavidade bucal, nariz seios paranasais; dos dentes;
dos 2/3 anteriores da língua; da maior parte da dura-máter craniana 5, 6.

Figura 3. Desenho esquemático mostrando a inervação sensitiva da face conforme dermátomos do nervo
trigêmeo e seus respectivos ramos. FONTE: modificado de Netter 7.

Os impulsos proprioceptivos originam-se em receptores localizados nos músculos


mastigadores e na articulação têmporo-mandibular. A raiz motora do trigêmeo é constituída
de fibras que acompanham os nervos mandibulares, que se distribuem aos músculos
mastigadores (temporal, masseter, pterigóideo lateral, pterigóideo medial, milo-hiódeo e o
ventre anterior do músculo digástrico). Todos estes músculos derivam do primeiro arco
branquial e as fibras que os inervam se classificam como eferentes viscerais especiais 5, 6.
15

2.3 ETIOLOGIA E PATOGÊNESE

A causa proposta do tic douloureux tem sido tópico de grandes e interessantes


discussões. As causas da neuralgia do trigêmeo estão divididas academicamente em duas
categorias, idiopática e secundária, também chamada sintomática. As causas da neuralgia do
trigêmeo secundárias são normalmente detectáveis por sua apresentação clínica, como
tumores (neurinoma do acústico, cordoma no nível do clivo, glioma e meningioma pontino,
tumor epidermóide, metástases e linfoma); alterações vasculares (infarto pontino, aneurisma
gigante intra-cavernoso e outras mal-formações artério-venosa, persistência da artéria
trigeminal primitiva); alterações inflamatórias (esclerose múltipla, sarcoidose, cisticercose no
ângulo cerebelo pontino, neuropatia da doença de Lyme); paraneoplásico (possibilidade);
outros (acondroplasia, agenesia tentorial associada à herniação do lobo temporal) 8-16.
Apesar de algumas anormalidades na base do crânio na região dos nervos ter sido
implicada na gênese da neuralgia trigeminal secundária, a maioria dos pacientes com tic
douloureux não tem tumor de fossa posterior do crânio nem patologias da base, ou seja, não
tem causa aparente 3, 4, 8, 17.
A principal hipótese etiológica da neuralgia essencial do trigêmeo é a compressão
vascular sobre a raiz sensitiva (Figura 4) na parte proximal (zona de entrada). A proximidade
relativa da parte sensitiva do nervo trigêmeo com artéria cerebelar superior foi primeiramente
descrita por Dandy. Investigações adicionais por Janetta identificaram um segmento
transicional na parte proximal (zona de entrada) da raiz do trigêmeo, entre a mielina central e
periférica. Pensou-se que este segmento de 5-10 mm do nervo seria particularmente
susceptível a irritação mecânica causada pela irregularidade na mielinização 3, 4, 8, 17, 18.
Janetta (citado em Apfelbaum) postulou que a compressão vascular seria a causa da
maioria das neuralgias trigeminais previamente categorizadas como idiopático. Jannetta
também notou uma alta incidência de alças vasculares em choque com nervo trigêmeo (figura
4) em sua série de casos, e foi então destas observações que nasceu o conceito de conflito
neurovascular e a proposta de sua descompressão para o tratamento 18.
16

Figura 4: desenho esquemático ilustrando o conflito neuro-vascular. Visão micorscópica via acesso de fossa
posterior. Fonte: referência 19, desenho modificado.

Estudos anatômicos por Hardy, Peace, e Rhoton demonstraram que a artéria cerebelar
superior foi o ponto vascular mais comum de contato com a zona de entrada da raiz do
trigêmeo, foi constatado contato entre o nervo trigêmeo e a artéria cerebelar superior em 26
dos 50 nervos extracranianos, e envolvimento da artéria cerebelar póstero-inferior em apenas
quatro casos. Este padrão foi confirmado por séries cirúrgicas, que identificou mais
freqüentemente a artéria cerebelar superior como o ponto de compressão vascular. Além
disso, compressão venosa da zona de entrada da raiz do V par craniano tem sido associado
com a neuralgia do trigêmeo em aproximadamente 10% dos casos operados 18.
O achado anatômico comum de pulsação vascular da raiz do nervo trigêmeo (zona de
entrada ou parte proximal da raiz do trigêmeo) em indivíduos presumivelmente
assintomáticos aumenta algumas questões como qual o papel da compressão vascular na
fisiopatologia da neuralgia do trigêmeo. O porquê certos indivíduos tornam-se sintomáticos e
outros com o mesmo encontrado anatômico ficam assintomático não está claro 3, 4, 8, 17, 18.
Casos de neuralgia trigeminal familiar tem sido descrito na literatura, creditando um
possível caráter hereditário a essa doença com uma aparente transmissão autossômica
dominante, responsável pelas alterações vasculares já ditas. Encontrou-se em pacientes com
17

neuralgia do trigêmeo bilateral 2% de acometimento de familiares com sintomas similares a


dor facial 20.
Estudos microanatômicos do V par craniano têm demonstrado desorganização na
bainha de mielina, com ambos hipermielinização focal e desmielinização, seja esta primária
como na esclerose múltipla, ou secundária a uma compressão vascular. Esta desmielinização
poderia ser, segundo os autores, o substrato patológico da maioria, mas não todas, formas de
neuralgia do trigêmeo Estas anormalidades anatômicas puderam permitir disfonia axo-
axônio e dar um alicerce para a explanação de muitas das características da neuralgia do
trigêmeo. A espontaneidade e/ou o excesso de disparos do potencial de ação tem sido
proposto como o mecanismo na geração de impulso da dor, mas falha no mecanismo
inibitório central também pode estar envolvido 21.
Há um fato que tem sido amplamente ignorado nas atuais discussões sobre a etiologia
da neuralgia do trigêmeo: a presença crônica do vírus do herpes simples tipo 1 (HSV-1) e seu
genoma nos núcleos de numerosas células neuronais. Segundo esta hipótese, a neuralgia do
trigêmeo teria como causa base uma patologia de canal iônico decorrente da ativação do
genoma do herpes vírus tipo 1, latente desde a infância nos núcleos de neurônios infectados
em fibras nociceptivas do trigêmeo 22.
Uma possível variação anatômica nos ossos do crânio também tem sido proposta para
explicar em parte, a neuralgia mandibular. Em um estudo anátomo-investigativo com 100
crânios, cadavéricos ou desarticulados, encontrou-se casos em que havia uma lâmina lateral
do processo pterigóide extremamente alargada, tanto quanto raros casos de forame ptérigo-
espinhal e canal oval. A parede medial da fossa infratemporal é formada 1/3 pela lâmina
lateral do processo pterigóide e 2/3 pelo músculo pterigóideo medial 23.
18

2.4 HISTÓRIA CLÍNICA

Como em muitas áreas da medicina, a anamnese fornece dados importantes, sendo a


principal ferramenta diagnóstica. Neuralgia do trigêmeo clássica ou idiopática tem uma das
mais consistentes apresentações dentre todos diagnósticos neurológicos. A dor da neuralgia
do trigêmeo é freqüentemente relatada por diferentes pacientes com as mesmas conotações,
como dor tipo choque elétrico , sendo este o mais comum, amortecimento dolorido ,
ardência , pancada , facada , e arrancamento . Cerca de 60% queixam-se de ataque de
dor lancinante da rima bucal ao ângulo da mandíbula. Em 30% dos pacientes pode-se
observar descargas dolorosas do lábio superior e/ou dente canino para os olhos e
sobrancelhas, poupando a órbita propriamente dita 1, 5-6, 23.
O local da dor é uma das características chaves de qualquer síndrome dolorosa. O
paciente pode sinalizar sua dor interna com seu indicador, ou apontar em um diagrama a
distribuição do nervo trigêmeo. O lado onde está localizado a dor é fundamental para o
diagnóstico da dor facial: unilateral, bilateral, linha média, tem distintas implicações causais e
deve ser elucidada na história. Estritamente unilateral, o distúrbio afeta o lado direito 5 vezes
mais freqüente que o lado esquerdo 24.
Uma pista válida para o diagnóstico são os chamados Triggers points, ou zonas-
gatilho da dor, pois estão presentes em metade dos pacientes com neuralgia do trigêmeo
localizando-se freqüentemente próximo ao nariz e boca. Tais áreas podem ser revisadas com o
paciente, haja vista que os episódios dolorosos são freqüentemente disparados nestas zonas-
gatilho por um estímulo sensorialmente incapaz de provocar dor em pacientes normais, ou
seja, são áreas com sensibilidade aumentada. Estas zonas-gatilho podem localizar-se em uma
região da face, mucosa ou dentes inervados pelo nervo trigêmeo ipsilateral 24.
Os gatilhos da dor podem ser um simples toque, certos movimentos da cabeça, falar,
escovar os dentes, soar o nariz, mastigar, engolir ou ainda uma brisa fria vindo da janela
aberta de um carro em movimento, e desta forma os pacientes evitam cuidadosamente tocar
nestas áreas, ao contrário de outras síndromes faciais, em que os pacientes massageiam a face
ou aplicam localmente calor ou gelo 24.
19

A intensidade da dor é caracteristicamente severa, paroxística e lancinante. Começa


com uma sensação de choque elétrico na área afetada e então rapidamente, em crescendos,
passa a um desconforto torturante sentido profundamente na face menos de 20 segundos. A
dor então começa a regredir dentro de segundos, sendo logo substituída por uma ardência
durando de segundos a minutos. Durante os ataques, os pacientes podem fazer caretas; daí o
termo tic douloureux para estas alterações do semblante nas crises 1, 24.
A duração da dor é uma característica saliente na queixa do paciente. Ela tanto pode
surgir quanto ter remissões normalmente de forma espontânea, em múltiplos ataques e com
duração de segundos, como já dito. O paciente pode não saber relatar a diferença entre
ocorrência rápida, dor paradoxal ou contínua. Somente dando um close nos detalhes
poderemos descobrir estas sutilezas. Intervalos livres da dor tipicamente tornam-se mais
curtos com a progressão da doença 1, 24.
O número de ataques pode variar de um por dia, a dezenas ou mais por hora, até
centenas por dia. Os pacientes ficam completamente abatidos entre os súbitos ataques de dor,
ainda mais quando eles são freqüentes e severos 1, 24.
O acomodamento da dor deve ser investigado. Dor matinal depois de acordar deve ser
distinguida da dor que desperta do sono. Em contraste com a migrânea, pessoas com neuralgia
do trigêmeo raramente atacam durante o sono, sendo este dado um dos pontos chaves para a
história. Outras associações temporais poderão auxiliar no diagnóstico. Mesmo um
componente sazonal da dor poderá ser uma importante parte da informação; a brisa fria do
outono, por exemplo, pode precipitar episódios de dor repetidos e regulares 1, 24.
Fatores de alívio podem ser também indagados. Estes são incomuns, na ocasião o
paciente pode ainda relatar que sua dor foi aliviada por uma ação particular, medicação, ou
posição, que pode elucidar o diagnóstico 1, 24.
Pacientes com NT devido esclerose múltipla tem queixas similares aos com a variação
idiopática, exceto pelo fato da apresentação da NT em uma idade muito mais jovem,
freqüentemente menor que 40 anos. Entretanto, alguns se apresentam com dor facial atípica,
sem zonas-gatilho, e sem o paroxismo. Como já relatado, a neuralgia do trigêmeo não é
incomum na esclerose múltipla, mas é raramente a primeira manifestação da doença.
Tipicamente ocorre em estádios mais avançados da esclerose múltipla 1, 24.
Anormalidades na história clínica e/ou exame físico poderão ser encontrados pelo
médico. O relato de uma anormalidade de nervo craniano ou autonômico associados com a
20

dor poderá acionar sinal de alerta para o médico procurar por uma possível lesão estrutural
responsável pelos achados alterados. A presença de qualquer queixa sistêmica, como febre,
malignidade, ou perda de peso inexplicável deve ser totalmente explorada, haja vista o alto
valor preditivo destes sinais quando associados a alterações neurológicas. O paciente pode ser
indagado sobre recentes cirurgias/procedimentos odontológicos compatível com sua condição
clínica. Não é raro o paciente procurar avaliação neurocirúrgica depois de procedimentos
cirúrgicos odontológicos terem falhado no alívio de sua dor 1, 24.

2.5 EXAME FÍSICO

Um exame de cabeça e pescoço e neurológico completo é mandatário na rotina para


avaliação das síndromes craniofacial dolorosas. Pontos de sensibilidade ou zonas-gatilho
precisam ser checados, juntamente com a sensibilidade dos seios paranasais, lesão incomum
de pele e linfadenopatias. No sexo masculino pode-se encontrar na face áreas não barbeadas,
principalmente nas zonas de gatilho da dor, assim como dificuldade para falar e comer pelo
medo de precipitar a dor. Perda ponderal pode ser encontrado neste pacientes 1, 24.
Um exame neurológico completo, com particular atenção para os nervos cranianos é a
pedra-angular. Outros achados como fraqueza, anormalidade sensoriais, ou sinais cerebelares
devem ser checados. O examinador experiente também deve procurar achados sutis como
uma leve síndrome de Horner* ou perda da audição para alta freqüência que poderá fornecer
indícios da localização da região afetada, em caso de neuralgia secundária. A cavidade oral
pode ser examinada para causas dentais óbvias da dor 1, 24.
Neuralgia do trigêmeo clássica não está associada com nenhum déficit neurológico.
Qualquer achado anormal no exame físico/neurológico, sem que haja cirurgia prévia para
alívio dos sintomas, requer pronta avaliação neuro-radiológica 1, 24.

*
A síndrome de Horner é condição rara, decorrente de lesão da via simpática que pode ocorrer em qualquer
nível, desde o hipotálamo, até o olho. É caracterizada pela tétrade de sinais: ptose, miose, enoftalmo e anidrose
facial.
21

2.6 EXAMES COMPLEMENTARES

Existe muita controvérsia sobre os critérios de indicação de exames complementares


nos doentes com NT essencial. Obviamente, os estudos eletrofisiológicos, neurorradiológicos
e exame do líquido cefalorraquidiano são necessários quando há sinais sugestivos de
processos expansivos intracranianos ou de afecções vasculares, inflamatórias, infecciosas ou
desmielinizantes do sistema nervoso. Alguns consideram que o diagnóstico da neuralgia do
trigêmeo é clínico e dispensa exames complementares. Outros aconselham exames
complementares em doentes com menos de 40 anos, porque, neste grupo, as lesões expansivas
e inflamatórias mais comumente causam dor facial com características típicas 24.

Figura 5: RM: A, cisto epidermóide (seta) no ângulo cerebelo-pontino esquerdo. B, schwannoma (seta) no
ângulo cerebelo-pontino esquerdo. C, malformação artério-venosa (seta) no cerebelo e vermis. D, meningioma
(seta) no ângulo cerebelo-pontino esquerdo. FONTE: figuras 1, 2, 4, 5 de Goh BT, Poon CY and Peck RHL 25.

As imagens de TC e RM podem demonstrar lesões periféricas causadoras de dor


facial. Entretanto, a RM oferece melhor resolução de imagem do estudo de lesões do tronco
encefálico, cisternas e base do crânio e é o método de imagem de eleição para avaliação de
NT, sendo superior à TC em demonstrar a anatomia normal do tronco encefálico e do nervo
22

trigêmeo e em detectar lesões que promovem NT, tais como placas de esclerose múltipla,
gliomas do tronco encefálico, acidente vascular encefálico, vasos anômalos comprimindo a
zona de entrada da raiz trigeminal e tumores cisternais (Figura 5) 1, 24, 25.
O valor diagnóstico da angiografia por ressonância magnética com reconstrução 3D na
elucidação diagnóstica da neuralgia do trigêmeo, foi tema de um trabalho cujo objetivo era
demonstrar também contato neurovascular e/ou deslocamento do nervo trigêmeo em pacientes
com neuralgia deste nervo. Foi realizado em 172 pacientes acometidos pela neuralgia do
trigêmeo. Os resultados deste método de imagem foram comparados aos dados clínicos dos
pacientes. O contato neurovascular na zona de entrada da raiz trigeminal foi detectado sobre o
lado sintomático em 94 pacientes (figura 6), e sobre o lado assintomático em 12 pacientes 21.
A importância no diagnóstico pré-operatório de contato neurovascular está na escolha
da técnica neurocirúrgica a ser adotada, sendo esta questão abordada mais adiante em
tratamento cirúrgico 26.

Figura 6: À esquerda, compressão neurovascular tipo sandwich . O nervo trigeminal direito está enlaçado entre
uma alça arterial (seta vermelha) e uma veia (seta amarela), mostrados nos planos A axial, e B coronal. Na
reconstrução sagital C, a zona de entrada do nervo (seta de baixo) está em contato cerrado com a artéria (seta
aberta). À direita, tem-se a reconstrução axial D, coronal E, e sagital F do deslocamento do nervo trigeminal
esquerdo (seta superior). FONTE: figuras 1 e 2 modificadas de Vörös et al 26.
23

2.7 DIAGNÓSTICO

Os critérios diagnósticos para a neuralgia trigeminal idiopática pela International


Headache Society são os seguintes 8:
Ataques paroxísticos de dor facial ou frontal com duração de poucos segundos a menos do
que 2 minutos.
A dor tem no mínimo quatro das seguintes características:
o Distribuição ao longo de uma ou mais divisão do nervo trigêmeo.
o Súbito, intenso, agudo, superficial, pontada, ou queimação na qualidade da dor.
o Dor intensamente severa.
o Precipitação da dor por zonas-gatilho ou por certas atividades cotidianas (por
exemplo, comer, falar, lavar o rosto, escovar os dentes).
o Assintomático entre os paroxismos.
Nenhum déficit neurológico presente
Ataques são particularmente estereotipados em cada paciente.
Outras causas de dor facial são excluídas pela história, exame físico, e investigação
especial (quando necessário). Nos casos sintomáticos, a persistência de dor pode ocorrer
entre os paroxismos, tanto quanto sinais de agressão sensorial nas divisões trigeminais.
Então, a causa é demonstrada pela investigação apropriada.
24

2.8 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Muitas condições dolorosas da face podem simular a neuralgia essencial do trigêmeo,


como mostrado no quadro 1, abaixo.
QUADRO 1: diagnóstico diferencial da neuralgia do trigêmeo idiopática 24.
Neuralgia facial
Neuralgia atípica do trigêmeo
Neuralgia pós-herpética
Neuralgia facial associada à esclerose
Dor facial secundária a processos expansivos intracranianos
Dor facial conseqüente a processos neoplásicos da face
Dor facial associada à artropatia temporomandibular
Síndrome estilóide-estilomastóidea
Neuralgia do nervo intermediário
Neuralgia dos nervos glossofaríngeo e vago
Distrofia simpático-reflexa da face
Cefaléia em salvas
Dor conseqüente a afecções odontológicas
Dor causado por processos inflamatórios da face
Síndrome dolorosa miofacial da musculatura mastigatória
Síndrome paratrigeminal de RAEDER
Dor facial conseqüente à siringomielia
Processos inflamatórios das meninges da base do crâneo
Doença de Paget
Acromegalia

O exame neurológico e de imagem permitem o diagnóstico. Lesões talâmicas ou das


vias centrais de associação ou transmissão sensitivas discriminativa da face podem dar origem
à dor rebelde, geralmente em queimor ou formigamento constante referida nos planos
profundos da face.
25

2.9 COMPRESSÃO PERCUTÂNEA COM BALÃO

A alta freqüência de resultados insatisfatórios após tratamento clínico e o alto risco


dos procedimentos cirúrgicos convencionais foram as razões para o constante
desenvolvimento de novos métodos para o tratamento da neuralgia do trigêmeo. O método de
compressão do gânglio de Gâsser para o tratamento de dores faciais é conhecido desde 1955.
Alguns autores concluíram que os melhores resultados foram observados quando o nervo
trigêmeo era traumatizado durante o procedimento cirúrgico e não à descompressão
neurovascular. Baseando-se nesta observação, foi descrito o tratamento da neuralgia do
trigêmeo pela compressão do gânglio de Gâsser. A cirurgia consistia no acesso ao gânglio de
Gâsser por via extradural, abertura da dura-máter e compressão das fibras radiculares. Em 10
doentes, descomprimiram os forames oval e redondo e a bainha do nervo trigêmeo, além de
realizarem neurólise com soro fisiológico e, em 2,8%, comprimiram a raiz e o gânglio de
Gâsser com instrumento rombo 24.
Concluiu-se que a compressão causava redução dos impulsos aferentes devido à lesão
seletiva das fibras sensitivas 19.
A compressão do gânglio de Gâsser com balão para o tratamento da dor trigeminal foi
introduzida em 1978 e publicada em 1983 por Mullan & Lichtor, que descreveram a técnica
de compressão da raiz por balão inflável posicionado na cisterna trigeminal, introduzida
percutaneamente através do forame oval 24.

INDICAÇÕES 1, 3, 4, 27

Pacientes que não tiveram êxito no tratamento medicamentoso para neuralgia


do trigêmeo idiopática.
Neuralgia do trigêmeo associada à esclerose múltipla.
Pacientes idosos tem indicação clássica deste procedimento, por tolerarem bem
uma anestesia geral leve, talvez melhor que anestésicos intravenosos com uma menor
proteção de vias aéreas e controle do dor intra-operatório irregular.
26

Pacientes jovens são candidatos se eles estiverem dispostos a aceitar a


parestesia leve que normalmente ocorre após a cirurgia.

CONTRA-INDICAÇÕES 1, 3, 4, 27

Dor facial atípica


Dor facial pós-herpética
Fraqueza do masseter contra-lateral é uma contra-indicação relativa, porque a
compressão por balão freqüentemente causa fraqueza temporária do masseter.

TÉCNICA CIRÚRGICA

O procedimento é realizado de forma que o paciente tem alta no mesmo dia.


Ocasionalmente é preciso fazer a internação, principalmente naqueles em cuja condição
médica geral demanda cuidados especiais, como pacientes que no pré-operatório tem
dificuldades para se alimentar e dormir, aparecendo cansados e desidratados, ou tem sintomas
de sobredose de opióide ou de nível tóxico de medicações. Pacientes com condições graves
devem ser avaliados por seus médicos antes de realizarem o procedimento. Anticoagulantes
devem ser suspensos, mas medicação anti-plaquetária pode ser continuada 24.
Este procedimento é realizado mais facilmente em sala de angiografia, da radiologia
intervencionista, por ter a disposição um fluoroscópio arco em C multiplanos, entretanto isso
não invalida este procedimento em centro cirúrgico, desde que se tenha um instrumento
adequado de radioscopia 28, 29.
Posiciona-se o paciente em posição supina com a cabeça em posição neutra. Um
coxim também pode ser colocado embaixo dos ombros do paciente, com o pescoço
ligeiramente extendido e a cabeça rodada cerca de 15 a 30 graus em direção ao lado oposto
(Figura 7A) 30.
27

Figura 7: A: posicionamento do paciente no aparelho Arco em C. B: Rx perfil. A seta indica o forame oval 30.

A cabeça do Arco em C do fluoroscópio é então rodada obliquamente em um ângulo


aproximado de 20 a 30 graus em relação ao nariz, para que o forame oval seja visualizado
medial à mandíbula, lateral à maxila, e logo acima da porção petrosa do osso temporal.
Quando se roda o Arco em C aproximadamente 30 a 35 graus na direção caudal, obtém-se a
visão do forame oval (figura 7B). Ajustes sutis no ângulo do Arco em C podem ser
necessários para melhor pose do forame 27, 31.
O cirurgião que é destro posiciona-se do lado direito do paciente, independente de qual
lado a dor ocorre. Três pontos anatômicos são demarcados na face (figura 8A): 3 cm anterior
ao meato acústico externo; logo abaixo do aspecto medial da pupila e o outro a 2,5 cm lateral
à comissura labial. Os primeiros dois pontos são o lado do forame oval, e o terceiro ponto
marca onde a agulha deve penetrar na pele da mandíbula 27.
Em seguida, faz-se a antissepsia da face do paciente, e então, faz-se anestesia local.
Posiciona-se então a agulha na porção retro-gasseriana do nervo trigêmeo pela manipulação a
mão-livre usando o acesso anterior ao forame oval pela técnica de Hartel. Apesar da técnica
guiada por tomografia computadorizada estar sendo desenvolvida para canular o foram oval,
este procedimento não é necessário 27.
28

Figura 8. A: ponto nº 1 fica a 3 cm anterior ao tragos, ponto nº 2 abaixo da pupila, ponto nº 3 a 2,5 cm da
comissura labial. B: inserção percutânea da agulha no ponto nº 3 até o gânglio Gâsser via forame oval. Fonte: 19.

Usando uma cânula graduada nº 14, penetra-se então na pele no terceiro ponto de
referência (figura 8B) que fica a 2,5 cm lateral à comissura labial. Uma cânula de Guedel
pode ser usada no paciente para evitar mordidas involuntárias no dedo indicador do cirurgião,
que está posicionado inferiormente à asa lateral do pterigóide. O posicionamento do dedo
indicador do cirurgião é importante para evitar que a cânula penetre na mucosa da cavidade
oral, além de guiar a cânula para dentro da porção medial do forame oval dirigindo-o em
direção à intersecção de um plano coronal que passa pelo ponto a 3 cm do tragos e um plano
sagital passando pelo aspecto medial da pupila. Pelo controle radiológico do intensificador na
pose perfil, o cirurgião direciona a cânula 5 a 10 mm abaixo do assoalho da sela turca ao
longo do clivo (figura 9) 27.
A entrada da cânula dentro do forame oval é sentida pelo neurocirurgião e é sinalizado
por uma leve contração do músculo masseter, que indica contato com o gânglio de Gâsser. Se
a atropina não foi usada ainda, uma breve bradicardia pode ocorrer quando a cânula engrenar
no forame oval devido ao reflexo trigêmino-cardíaco, também usado pelo cirurgião como
sinal de que a cânula engrenou no forame oval. Neste momento o anestesista pode optar pela
administração da atropina, previamente preparada na mesa anestésica 27.
29

Figura 9. A: ilustração da relação da raiz trigeminal com o clivos e a agulha. Os números 1,2 e 3 indicam os
ramos do nervo trigêmeo. B: a agulha é inserida 5 a 10 mm abaixo da intersecção da linha do assoalho (floor) da
sela turca com a linha clival, ou da intersecção da porção petrosa com o clivo. C: pose lateral da fluoroscopia
mostrando a inserção da agulha conforme os desenhos A e B, os pontos 1 e 2 indicam clinóide anterior e
posterior respectivamente. Fonte: A e B Youmans 27, C fluoroscopia de um dos casos estudados.

Se a atropina tiver sido administrada no início, este sinal não ocorrerá e o


neurocirurgião perde este indicador cirúrgico. Usando pontos referenciais supracitados,
geralmente o neurocirurgião penetra o forame oval na primeira tentativa, ou após um simples
ajuste 27, 28.
O posicionamento apropriado da cânula dentro da cisterna trigeminal permite um
fluxo livre de líquido cérebro-espinhal por dentro da cânula, podendo ser visualizado pelo
neurocirurgião, sendo esta saída de líquor pela cânula mais um indicativo cirúrgico de que a
cânula está posicionada na cisterna trigeminal. Todavia, a saída de líquor pela cânula não
assegura que a cânula esteja apropriadamente posicionada (retrogasseriano). O líquido
cérebro-espinhal pode também ser extraído tanto do espaço subaracnóideo infratemporal se a
cânula estiver muito profundo, quanto de uma região distal ao gânglio de Gâsser se a camada
dural do espaço subaracnóideo se estender além das raízes (figura 10) 27.
30

Uma vez que o forame oval é engrenado pela cânula, então um cateter de Fogarty nº 4
avança para a entrada do cavum de Meckel, normalmente 17 a 22 mm além do forame. Se
uma pose anteroposterior é obtida com o fluoroscópio, centrando a rugosidade da porção
petrosa do temporal dentro da órbita, um declive é visto medialmente representando a entrada
do nervo trigêmeo por sobre a porção petrosa. Esta imagem é descrita como estando a 9 mm
medial do limite lateral ao canal auditivo interno. Se um estilete é usado, então uma via pode
ser criada através do qual o cateter de Fogarty facilmente transpassará. O cateter
freqüentemente divaga deste ponto se a agulha nº 14 não é apropriadamente posicionada no
trajeto em que foi direcionada. O cateter de Fogarty é leve e rombo e pode limitar os riscos de
hemorragia se usada sozinha, mas se o cateter não achar o poro trigeminal, então as fibras
retrogasserianas não serão comprimidas pelo balão, e é neste poro que se obtém as mais altas
pressões com o balão. O balão levanta a dura-mater inelástica livre do gânglio, limitando a
pressão a que ela é comprimida. No poro trigeminal, o balão comprime as fibras
retrogasserianas contra a borda firme da dura-máter e a rugosidade petrosa, permitindo que o
nervo passe para dentro do cavum de Meckel, esta abertura tem 9 mm X 2 mm 28.

Figura 10. A: representação esquemática da disposição do gânglio de Gâsser no cavum de Meckel relacionada
às camadas das meninges. B: Desenho esquemático demonstrando a penetração da agulha nas fibras retro-
gasserianas através do forame oval. Fonte: referência 19, desenho modificado.
31

Quando o balão é inflado dentro do poro trigeminal, ele adquire a forma característica
de pêra vista no fluoroscópio (figura 11A). No entanto, se ele adquirir um formato diferente
(figura 11B), isto é um sinal de que o balão está incorretamente posicionado, e provavelmente
o resultado do procedimento será comprometido. É importante que o balão na ponta do cateter
esteja posicionado na entrada do cavum de Meckel. Se a insuflação for insuficiente, então o
grau de parestesia será limitado, e provavelmente limitado a V3. Se a ponta do cateter no
espaço subaracnóideo estender-se além da parte petrosa do temporal o tronco cerebral pode
ser comprimido, mas certamente a maioria dos nervos não será lesada suficientemente.
Nenhuma lesão ocorre se o balão escorregar de encontro à fossa posterior, entretanto a
operação não será bem sucedida se isto acontecer 28.
O balão é inflado 0,75 a 1,00 cc (seringa de tuberculina) por 1 minuto ou até 1,5
minuto. Se for usado uma simples seringa de tuberculina, o neurocirurgião terá a vantagem de
poder sentir em seu dedo uma contrapressão (feedback) da pressão aplicada. O insuflador
mecânico tem a desvantagem de não ter este feedback, entretanto é um modo simples de
começar 28.

Figura 11. Fluoroscopia em perfil demonstrando em A, forma característica de pêra que o balão adquire quando
corretamente posicionado, e em B, balão com forma diferente (feijão) demonstrando posicionamento incorreto.
Fonte: dois pacientes que fizeram procedimento no serviço de neurocirurgia da Clínica Neûron.
32

Recomenda-se remover o ar do balão antes de inflá-lo, pois isto estabiliza a pressão


intraluminal, entretanto, a ruptura do balão não leva a nenhuma morbidade e certamente o ar
liberado no espaço subdural ou subaracnóideo não oferece nenhum risco 28.
Quando o balão é adequadamente inflado, além da forma de pêra (figura 11A)
característica ser vista, a resposta depressora pode ocorrer, com bradicardia e uma leve
hipotensão. Este evento é freqüentemente seguido de uma resposta hipertensiva que pode ser
controlado pelo anestesista com aumento do anestésico ou infusão de nitroprussiato, caso
necessário. Após a desinflação, o balão e o cateter são removidos concomitantemente e faz-se
uma compressão hemostática da bochecha por cinco minutos 27, 28.
No pós-operatório imediato, com o paciente já acordado, o neurocirurgião pode fazer o
teste de sensibilidade facial para ver se a compressão foi efetiva. Testa-se a sensibilidade do
nervo trigêmeo simetricamente, observando se há uma assimetria entre as áreas da face. Um
sinal preditivo positivo que a cirurgia foi bem sucedida é justamente assimetria na
sensibilidade da face, revelando uma parestesia do mesmo lado do procedimento resultante de
uma compressão efetiva do gânglio de Gâsser. Outro sinal é o lacrimejamento e congestão
ocular do mesmo lado da compressão 27, 28.
33

3. OBJETIVOS

O presente estudo tem como objetivos:

I. Caracterizar demográfica e clinicamente uma amostra de doentes com


neuralgia essencial do trigêmeo.
II. Analisar estatisticamente se a queixa de dificuldade de alimentar-se devida
à dor da neuralgia trigeminal reflete em perda ponderal.
III. Freqüência de pacientes com neuralgia do trigêmeo que procuraram o
dentista pensando ter uma odontalgia, e se fizeram algum procedimento
odontológico.
IV. Avaliar os resultados da técnica da compressão percutânea por balão no
gânglio de Gâsser (técnica de Mullan) para o tratamento da neuralgia
essencial do trigêmeo.
V. Estabelecer possíveis correlações entre elementos clínico-demográficos e
cirúrgicos sobre os resultados da compressão percutânea com balão do
gânglio de Gâsser nos pacientes analisados.
34

4. METODOLOGIA

DELINEAMENTO
Trata-se de um estudo transversal, descritivo, não controlado, retrospectivo.

CASUÍSTICA
No período de 1999 a 2004, o serviço de Neurocirurgia Funcional da clínica Neûron
(Clínica Imagem) em Florianópolis - SC, realizou 41 procedimentos em 39 pacientes com
neuralgia do trigêmeo essencial, que fizeram a compressão percutânea por balão do gânglio
de Gâsser, e foram selecionados de acordo com o critério abaixo:
Critérios de inclusão: pacientes em acordo com os critérios diagnósticos de
neuralgia trigeminal idiopática (essencial) pela International Headache Society.

COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados de duas formas, revisão de prontuários e entrevista
telefônica. Os dados clínico-demográfico (dados pré-operatórios) foram colhidos dos
prontuários médicos da clínica Neûron, e algumas pendências destes dados juntamente com os
dados pós-operatórios foram colhidas por entrevista telefônica. Os dados dos prontuários
foram colhidos entre os meses de março a dezembro de 2004, e a entrevista telefônica entre
agosto e dezembro de 2004.
Para a coleta dos dados foi utilizado um protocolo de pesquisa (Apêndice I), dividido
em dados de identificação do paciente, dados clínico-demográficos e dados pós-operatórios,
com as seguintes informações:
Dados de identificação do paciente: nome, endereço, telefone, idade, sexo.
Dados pré-operatórios: tempo com neuralgia, tipos de tratamentos prévios, droga
utilizada para controle da dor, motivo do insucesso clínico, métodos não
convencionais utilizados como tratamento, qualidade da dor, intensidade da dor e sua
interferência na qualidade de vida, queixa de dificuldade para se alimentar, perda
ponderal, modo de desencadeamento da dor, lado e ramo do trigêmeo acometido,
procura por dentista com ou sem procedimento odontológico (extração dentária ou
tratamento de canal), e outro familiar de 1º com neuralgia do trigêmeo.
35

Dados pós-operatórios: alívio da dor imediato ou não, parestesia e sua interferência na


qualidade de vida, outros efeitos colaterais da cirurgia, troca dor/parestesia e se
aprovou a troca, recorrência da dor, aparecimento de herpes labial e grau de satisfação
do paciente com procedimento realizado.

ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados obtidos foram analisados com o auxílio do software SPSS 12 for Windows.
A probabilidade cumulativa de permanecer curado ao longo do seguimento está
apresentada pela curva de Kaplan-Meyer (Gráfico 7). A existência de associação entre a
incapacidade de comer durante a crise e a perda ponderal de mais de 5 kg foi analisada através
do teste exato de Fisher com um nível de significância p < 0,05.
Foi realizada uma análise univariada (Tabela 9) comparando as diferenças na
distribuição das variáveis clínico-cirúrgicas e demográficas entre pacientes com resultado
cirúrgico favorável (curados) e os que recorreram, e para isso algumas variáveis foram
categorizadas. Foi utilizado o modelo de risco proporcional de Cox (Cox proportional
hazzards model) para estabelecer o nível de significância entre as variáveis estudadas
(independentes) e o resultado cirúrgico (variável dependente). A magnitude de associação
entre determinada variável e o resultado cirúrgico observada na análise univariada (Tabela 9)
foi medida através do Hazzard-ratio bruto e o respectivo intervalo de confiança de 95% (IC
95%). Variáveis clínico-demográficas que mostraram uma associação com o resultado
cirúrgico com um nível de significância de p inferior a 0.20 foram incluídas no modelo final
de regressão múltipla de Cox (Tabela 10) para estabelecer o grau de associação entre cada
uma destas variáveis e o resultado cirúrgico de forma independente, e este modelo final
refinou estas variáveis adotando nível de confiança de p < 0,05.
36

5. RESULTADOS

DADOS PRÉ-OPERATÓRIOS

Dos 39 pacientes analisados, 18 eram do sexo feminino e 21 eram masculino (gráfico


1). Todos eram de cor branca. Nenhum paciente tinha alteração no exame físico ou exame de
imagem, sendo, portanto, neuralgia essencial ou primária em todos os casos. Apenas um
paciente teve outro familiar (pai) com neuralgia do trigêmeo.
O tempo de seguimento médio foi de 24 meses, variando de 1 a 63,5 meses.

GRÁFICO 1: Porcentagem de pacientes com neuralgia do trigêmeo, segundo sexo,


Florianópolis, 1999 a 2004.

Masculino

Feminino

46%

54%

Nota: os dados constam na tabela 12 do apêndice II.

A idade média foi de 62,3 anos, variando entre 26 anos e 87 anos, distribuídos nas
faixas etárias conforme o gráfico 2.
37

GRÁFICO 2: Número de pacientes com neuralgia do trigêmeo, segundo idade,


Florianópolis, 1999 a 2004.

15
3 8 ,5 %
M e a n = 6 2 ,0 3
Std . D e v . = 1 2 ,5 5 6
N = 39

12

23 %
9

18 %

6
13 %

3
5 %
2 ,5 %
0 %
0
20 30 40 50 60 70 80 90
Id a d e

NOTA: os dados constam na tabela 12 do apêndice II.

A quantidade de tempo prévio médio que os pacientes tinham a NT foi de 8 anos,


variando de 11 meses a 20 anos. Distribuídas conforme a tabela 1.

TABELA 1: Freqüência de pacientes com neuralgia do trigêmeo, segundo quantidade de


tempo com neuralgia do trigêmeo, Florianópolis, 1999 a 2004.

Tempo com NT N %
< 10 anos 27 69,2
10 anos 12 30,8
TOTAL 39 100 %
Fonte: prontuários da clínica de neurocirurgia NEURON.
38

TABELA 2: Freqüência de pacientes com neuralgia do trigêmeo, segundo uso de


carbamazepina prévio, Florianópolis, 1999 a 2004.

Carbamazepina %
N
Não 1 2,6
Sim 38 97,4
TOTAL 39 100 %
Fonte: prontuários da clínica de neurocirurgia NEURON.

Cerca de 18 % dos pacientes utilizaram outra droga além da CBZ, e estas foram: Baclofen,
fenitoína, gabapentina, nortriptilina e AINEs

GRÁFICO 3: Porcentagem de pacientes com neuralgia do trigêmeo, segundo motivo do


insucesso no tratamento clínico, Florianópolis, 1999 a 2004.

Sem controle
Efeito colateral
8% Ambos

23%

69%
Nota: os dados constam na tabela 12 do apêndice II.
Efeitos colaterais referidos foram hepáticos, intoxicação, sonolência, tontura, cansaço, visão turva, vertigem.

Cerca de 20 % fizeram algum tipo de tratamento cirúrgico prévio para o tratamento da NT, e
estes foram: Alcoolização, rizotomia por radiofreqüência, descompressão microvascular,
rizotomia por balão, cirurgia aberta intra-oral, 2 infiltrações anestésicas. Aproximadamente 54
% dos pacientes procuraram dentista em virtude da dor, e destes, cerca de 28,2 % fizeram
algum tipo de procedimento odontológico como extração dentária ou tratamento de canal.
39

TABELA 3: Freqüência de pacientes com neuralgia do trigêmeo, segundo tratamentos não


convencionais realizados previamente, Florianópolis, 1999 a 2004.

Tratamento não N %
convencional
Não 31 79,5
Acupuntura* 4 10,3
Homeopatia 3 7,7
Outros** 1 2,6
TOTAL 39 100
Fonte: entrevista com pacientes entre setembro a dezembro de 2004.
* Um caso teve piora da dor, no restante não houve alívio. ** Benzedura.

TABELA 4: Freqüência de pacientes com neuralgia do trigêmeo, segundo qualidade da dor


no início da evolução e no momento antes da cirurgia, Florianópolis, 1999 a 2004.

Qualidade da dor Inicialmente Tardiamente


N % N %
Tipo choque elétrico 37 94,9 35 89,7
Ardência/queimação 0 0 3 7,7
Outro* 2 5,1 1 2,6
TOTAL 39 100 39 100
Fonte: prontuários da clínica de neurocirurgia NEURON complementadas através de entrevista com pacientes
entre set/dez de 2004. * Rachamento na língua, facadas na face.

Em 3 casos (7,5 %) a qualidade da dor mudou com a evolução da doença, inicialmente


tipo choque elétrico para posteriormente ardência/queimação.
Quando questionados sobre a intensidade da dor, numa escala de dor que vai de 0
(nada) a 10 (a pior dor já sentida ou a pior dor do mundo), 100% dos pacientes deram nota 10.
Cerca de 84,6 % dos pacientes apresentavam tics faciais durante as crises de dor.
40

GRÁFICO 4: Porcentagem de pacientes com NT, segundo interferência da dor na


qualidade de vida, Florianópolis, 1999 a 2004.

87%
Nada
Pouco
% de pacientes

Médio
Muito
Terrivelmente

10,5%

0,0% 0% 2,5%

Interferência na qualidade de vida

NOTA: os dados constam na tabela 12 do apêndice II.

Cerca de 84,6 % dos pacientes relataram dificuldade de se alimentar por causa da NT,
e destes, 36 % relataram perda ponderal em virtude desta dificuldade. Dentre os 14 pacientes
(36%) que referiram perda ponderal, a quantidade média de peso perdido relatada foi de 6 Kg
/pessoa. A associação incapacidade de alimentar-se e perda ponderal foi analisada
estatisticamente pelo teste exato de Fisher com resultado de p = 0,65.

TABELA 5: Freqüência de pacientes com neuralgia do trigêmeo, segundo


desencadeamento da dor, Florianópolis, 1999 a 2004.

Desencadeamento da dor N %
Falar 2 5,1
Mastigar 7 17,9
Contato cutâneo/mucoso* 25 64,1
Brisa/vento 5 12,8
TOTAL 39 100
Fonte: prontuários da clínica de neurocirurgia NEURON. * Coçar, fazer a barba, escovar os dentes.
41

TABELA 6: Freqüência de pacientes com neuralgia do trigêmeo, segundo ramo do nervo


trigêmeo acometido conforme lado analisado isoladamente, Florianópolis, 1999 a 2004.

RAMO LADO ACOMETIDO TOTAL


ACOMETIDO DIREITO ESQUERDO
N % N % N %
V1 2 5,1 0 0 2 5,1
V2 9 23,1 1 2,6 10 25,6
V3 8 20,5 0 0 8 20,5
V1V2 3 7,7 3 7,7 6 15,4
V2V3 11 28,2 2 5,1 13 33,3
TOTAL 33 84,6 6 15,4 39 100
Fonte: prontuários da clínica de neurocirurgia NEURON.

DADOS PÓS-OPERATÓRIO

GRÁFICO 5: Porcentagem de pacientes com neuralgia do trigêmeo, segundo tempo até o


alívio total da dor, Florianópolis, 1999 a 2004.

Imediato
1 a 7 dias
8 a 15 dias
5,0% 2,5% > 15 dias
13% Não obteve alívio

79,5%
NOTA: os dados constam na tabela 12 do apêndice II.

A parestesia esteve presente em 84,6 % dos pacientes entrevistados.


42

TABELA 7: Número e porcentagem de pacientes com neuralgia do trigêmeo, segundo


interferência na qualidade de vida devido a parestesia, Florianópolis, 1999 a 2004.

Interferência N %
Nada 12 36,5
Pouco 17 51,5
Médio 2 6
Muito 1 3
Terrivelmente 1 3
TOTAL 33 100
Fonte: entrevista com pacientes entre setembro a dezembro de 2004.

Quando questionados sobre o custo/benefício (parestesia/alívio da dor) do


procedimento, 100% dos pacientes preferiram a parestesia à neuralgia do trigêmeo.

TABELA 8: Número e porcentagem de pacientes com neuralgia do trigêmeo, segundo


efeitos colaterais da rizotomia percutânea por balão, Florianópolis, 1999 a 2004.

Outros efeitos colaterais N %


Paresia dos músculos mastigatórios* 7 18
Alterações do reflexo corneano 1 2,5
Paresia do VI nervo craneano 1 2,5
Alterações gustativas 2 5
Lacrimejamento 3 7,5
Hemorragia Subaracnóidea 1 2,5
Mortalidade 0 0
TOTAL 15 38
Fonte: prontuários da clínica de neurocirurgia NEURON complementadas através de entrevista com pacientes
entre set/dez de 2004. * Este sintoma desapareceu em alguns meses.

Cerca de 43,6 % dos pacientes entrevistados tiveram herpes labial no pós-operatório.


43

GRÁFICO 6: Porcentagem de pacientes pós-operatório, segundo grau de satisfação com a


compressão percutânea com balão, Florianópolis, 1999 a 2004.

6 4 ,1 %
7 0

6 0

5 0

40
2 5 ,6 %
%

3 0
1 0 ,3 %
2 0

1 0

R u im B o m Ó t im o

NOTA: dados constam na tabela 12 do apêndice II

Em 6 pacientes houve recorrência da dor no mesmo lado, e dentre estes, cinco


voltaram a usar medicamento para controle da dor. A curva de Kaplan-Meyer demonstra a
contribuição de cada caso para a taxa de recorrência em função do tempo de seguimento.

GRÁFICO 7: Curva de sobrevivência de Kaplan-Meyer para análise da taxa da recorrência


44

TABELA 9: Associação entre as variáveis clínica-cirúrgicas e demográficas e os resultados da rizotomia percutânea por balão.
Análise univariada pelo modelo de risco proporcional de Cox (Cox proportional hazzards model).
Todos os Resposta ao tratamento HR bruto IC 95% p
Variável Pacientes Curado Recorrência De recorrência
n = 39 (100 %) n = 33 (84,6 %) n = 6 (15.4 %)
Sexo
Masculino 18 (46) 15 (83,3) 3 (16,7) 1.0
Feminino 21 (54) 18 (85,7) 3 (14,3) 1,53 (0,29 7,95) 0,61
Idade
Média (DP) 62,3 (12,5) 61,7 (12,7) 63,5 (12,5)
Até 60 anos 17 (44) 14 (82,4) 3 (17,6) 1,0
Acima de 60 anos 22 (56) 19 (86,4) 3 (13,6) 3,0 (0,44 20,47) 0,26
Tempo c/ NT
Média (DP) 7,5 (6,1) 8,2 (6,3) 3,8 (2,4)
Mais ou = 10 anos 12 (31) 12 (100) 0
Menos 10 anos 27 (69) 21 (77,8) 6 (22,2) NA NA 0,33
Tto cirurg prévio
Sim 8 (20,5) 5 (62,5) 3 (37,5) 1,0
Não 31 (79,5) 28 (90,3) 3 (9,7) 5,19 (0,86 31,04) 0,07
Tic facial
Não 16 (41) 14 (87,5) 2 (12,5) 1,0
Sim 23 (59) 19 (82,6) 4 (17,4) 3,48 (0,38 31,7) 0,27
Lado
D 33 (84,5) 28 (84,8) 5 (15,2) 1,0
E 06 (15,5) 5 (83,3) 1 (16,7) 2,0 (0,21 19,28) 0,55
Ramos acometidos
Único 20 (51) 16 (80) 4 (20) 1,0
Mais de um 19 (49) 17 (89,5) 2 (10,5) 0,44 (0,79 2,47) 0,34
Procedimento odonto
Não 33 (84,6) 28 (84,8) 5 (15,2) 1,0
Sim 6 (15,4) 5 (83,3) 1 (16,7) 2,16 (0,22 20,1) 0,50
FONTE: análise estatística dos dados através do software SPSS 12 for Windows.
NOTA: HR = Hazzard Rate, IC = intervalo de confiança.
45

Todos os Resposta ao tratamento HR bruto IC 95% p


Variável Pacientes Curado Recorrência De recorrência
n = 39 (100 %) n = 33 (84,6 %) n = 6 (15.4 %)
Alívio dor pos-op
Não imediato 8 (20,5) 4 (50) 4 (50) 1,0
Imediato 31 (79,5) 29 (93,5) 2 (6,5) 9,45 (1,67 53,45) 0,01
Parestesia pos-op
Não 6 (15,5) 3 (50) 3 (50) 1,0
Sim 33 (84,5) 30 (90,9) 3 (9,1) 12,0 (1,98 73,8) 0,007
Outra complicação
Não 20 (51,3) 17 (85) 3 (15) 1,0
Sim 19 (48,7) 16 (84,2) 3 (15,8) 1,12 (0,22 5,65) 0,88
Herpes labial
Sim 17 (43,6) 14 (82,4) 3 (17,6) 1,0
Não 22 (56,4) 19 (86,4) 3 (13,6) 0,65 (0,12 3,24) 0,60
FONTE: análise estatística dos dados através do software SPSS 12 for Windows.
NOTA: continuação da tabela 9.

TABELA 10: Modelo final de regressão múltipla de Cox para determinar o efeito independente de variáveis clínico-cirúrgicas e a resposta ao
tratamento cirúrgico da neuralgia do trigêmeo pela rizotomia percutânea por balão.
Todos os Resposta ao tratamento HR IC 95 % p
Variável Pacientes Curado Recorrência De recorrência Value
n = 39 (100 %) n = 33 (84,6 %) n = 6 (15.4 %)
Alívio dor pos-op
Não imediato 8 (20,5) 4 (50) 4 (50) 1,0
Imediato 31 (79,5) 29 (93,5) 2 (6,5) 1,99 (0,22 17,84) 0,53
Fez Tratamento Cirurg
Sim 8 (20,5) 3 (50) 3 (50) 1,0
Não 31 (79,5) 28 (84.8) 5 (15,2) 3,83 (0.43 -33,92) 0,22
Parestesia no pós-op
Não 6 (15,5) 3 (50) 3 (50) 1,0
Sim 33 (84,5) 30 (90,9) 3 (9,1) 22,0 (1,64 290,9) 0.02
FONTE: análise estatística dos dados através do software SPSS 12 for Windows.
46

6. DISCUSSÃO

DADOS PRÉ-OPERATÓRIOS

Aproximadamente 40.000 pessoas nos Estados Unidos sofrem desta dor, sua
incidência nos EUA fica em torno de 4-5 casos/100.000 pessoas. Apesar de todos os pacientes
do trabalho serem caucasianos, não se observa na literatura nenhuma preferência racial ou
regional. Com relação ao sexo, na literatura há uma leve predominância feminina numa taxa
homem/mulher de 2:3. Esta leve predominância do sexo feminino também pode ser observada
no presente trabalho (gráfico 1), onde 54 % eram do sexo feminino e 46 % masculino 4, 8 .
Idade avançada, hipertensão e esclerose múltipla são os fatores de risco encontrados
em estudo epidemiológicos na literatura, sendo a idade o fator de risco maior 4, 8.
No presente estudo, 97,5 % dos pacientes operados estavam acima dos 40 anos, sendo
que a maioria (61,5 %) ficou entre 50-69 anos (gráfico 2). A idade média dos pacientes foi de
62 anos. Na literatura, a maioria dos casos aparece em pacientes entre 60-70 anos, sendo que
90% dos pacientes encontram-se acima de 40 anos no momento do diagnóstico 4, 8, 27.
Aterosclerose vascular muda a forma do vaso, resultando em alongamento e
tortuosidade dos vasos intracranianos, e este mecanismo têm sido a hipótese explicada para a
apresentação dos sintomas principalmente na classe geriátrica 4, 8, 18.
No presente trabalho, houve um paciente (2,5 %) com idade de 26 anos. Apesar da
apresentação da doença em idade avançada na grande maioria das vezes, há relatos na
literatura de casos na infância. Pacientes que apresentam esta doença entre 20-40 anos são
mais comumente acometidos por lesão desmielinizante como esclerose múltipla. Segundo
literatura, pode-se encontrar uma incidência de 1,9 a 4,4% de neuralgia do trigêmeo em
pacientes com esclerose múltipla 21, 32.
A literatura relata que apesar da maioria destes pacientes apresentares neuralgia 11 a
12 anos depois das primeiras manifestações de esclerose múltipla, 0,3 % dos pacientes abrem
o quadro de esclerose múltipla com neuralgia do trigêmeo. No paciente em questão do
trabalho apresentado não houve evidência de esclerose múltipla durante o seguimento, no
47

entanto, deve-se estar atento para esta questão quando do diagnóstico de neuralgia em uma
idade precoce 4, 8, 21, 32.
Casos de neuralgia trigeminal familiar tem sido descrito na literatura, creditando um
possível caráter hereditário a essa doença com uma aparente transmissão autossômica
dominante, responsável pelas alterações vasculares que resultariam no conflito neurovascular.
No presente estudo, houve apenas um paciente com familiar acometido pela neuralgia
trigeminal 20.
A magnitude e a repercussão da neuralgia do trigêmeo na vida dos pacientes pode ser
quantificada, ainda que de forma subjetiva, por alguns dados do estudo. Numa escala de dor
de 0 a 10, todos os pacientes deram nota 10 para neuralgia do trigêmeo, que corresponde a
pior dor do mundo ou a pior já sentida. Além disso, cerca de 97,5 % dos pacientes
entrevistados disseram que esta dor interferia muito/terrivelmente em sua qualidade de vida
(Gráfico 4).
Outra forma de notar o impacto desta dor na vida do paciente está na forma como ela é
desencadeada, fazendo com que ações banais como escovar os dentes, barbear, comer e falar
sejam um ato penoso. A tabela 5 nos mostra que cerca de 64 % dos pacientes tinha a dor
desencadeada por contato cutâneo/mucoso, como coçar a face, barbear, escovar os dentes.
O tempo de sofrimento com a neuralgia do trigêmeo foi em média 8 anos até o
momento da cirurgia, sendo que mais de 30 % tinham um tempo de sofrimento de mais de 10
anos (Tabela 1). O paciente é afetado por picos de dor durante o ano, que pode ser diário por
algum período e seguir com remissão espontânea por dias a meses. Durante o período crítico
de dor, o paciente pode ter de um a centenas ataques por dia, que podem ser ataques separados
ou ainda sobrepostos, dando a sensação de uma dor contínua 1, 4, 8, 24.
Durante as crises, cerca de 84,5 % dos pacientes apresentavam tics faciais. A neuralgia
do trigêmeo geralmente é acompanhada de leves espasmos faciais, ou tic, devido à
hiperexcitação também das fibras motoras do trigêmeo, além das sensitivas. E por este motivo
também é conhecida como tic douloureux, que em francês significa tic doloroso, nome dado
pelo médico francês Nicolas Anché em 1732 1, 4, 8.
O padrão mais comum de envolvimento foi dor na segunda e terceira divisão do nervo
trigêmeo (tabela 6). Em seguida, mais freqüentemente envolvimento da segunda divisão
sozinha, seguida pela terceira divisão isolada por pouca diferença, e primeiro e segundos
ramos juntos. Esta freqüência vem ao encontro com os observados na literatura: V2V3 (32
48

%), V2 (17 %), V3 (15 %) e V1V2 (14 %). Curiosamente não houve nenhum caso no presente
estudo de acometimento dos três ramos, apesar da literatura mostrar uma freqüência de 17 %.
Dor na divisão oftálmica (V1) de forma isolada é incomum (4 % na literatura) e no presente
estudo esta freqüência foi de 5 % 1.
O lado direito foi acometido na grande maioria (85 %) dos pacientes (Tabela 6).
Segundo a literatura, o lado direito acomete mais freqüentemente que o lado esquerdo (60 %
versus 35 % respectivamente). Não é sabido o porquê desta discrepância entre os lados 1.
Trousseau em 1853 chamou esta condição de névralgie épileptiforme , e foi de suas
observações clínicas que emergiu a possibilidade de utilizar medicações antiepilépticas como
agente antineurálgico. Em geral utiliza-se drogas antiepilépticas para o controle da dor, sendo
a carbamazepina medicamento mais eficaz e de primeira escolha no tratamento desta dor
facial. A carbamazepina foi o medicamento usado previamente como tratamento clínico em
97,4 % dos pacientes entrevistados no presente trabalho (Tabela 2). Segundo a literatura, os
resultados iniciais são excelentes em 40 a 100% dos doentes. A melhora inicial mantém-se em
81% dos casos durante seis meses e em mais de 7 a 10% dos casos quando associada à
difenil-hidantoína. A dor recorre 24hs após a suspensão do tratamento 24, 33.
Nem todos que utilizam a carbamazepina se beneficiam de sua ação ou toleram seus
efeitos colaterais. O presente trabalho mostrou que 31 % dos pacientes não puderam
continuam com o tratamento farmacológico devido aos efeitos colaterais da carbamazepina,
que comumente são dose-dependente, e estes foram sonolência, tontura, cansaço, visão turva,
vertigem e alguns relataram efeitos colaterais hepáticos. De forma isolada, os efeitos
colaterais contribuíram em 23 % dos casos de insucesso clínico. Segunda a literatura, na dose
de 600mg/dia, 43% dos casos apresentam vertigens, 50% sonolência e limitação das
atividades diárias. Na dose de 400mg/dia, 18% apresentam vertigens e, 32% sonolência. Em
18% dos casos, há interferência com atividades diárias. A erupção cutânea ocorre em 2 a 5%
dos casos e é sinal premonitório de depressão da medula óssea. A dose necessária para
controlar a dor causa vertigem em 10% dos doentes, sonolência transitória em 7,5% e
exantema em 2,5% 24, 33.
A carbamazepina além de importante para o tratamento, também se mostrou importante no
diagnóstico final de NT em alguns trabalhos, na forma de teste terapêutico. Tal estudo
mostrou que dos pacientes com NT, 90 % vão responder inicialmente, enquanto que no grupo
49

de pacientes sem NT haverá uma resposta em apenas 45 %. A relação entre a eficácia da CBZ
e o diagnóstico final de NT foi estatisticamente significante (p < 0,05) .
Dentre pacientes com trigger points identificáveis 97 % tinham NT segundo a
literatura, enquanto que nos pacientes sem trigger points identificável somente 67 % tinham
NT. A porcentagem nos casos com trigger points foi significativamente mais alta (p > 0,05)
nos casos com NT do que nos casos sem NT 35.
O presente estudo mostrou também que 18 % dos pacientes entrevistados fizeram uso
prévio de outra droga além da carbamazepina. Outros agentes anticonvulsivantes
recentemente passaram a ser empregados no tratamento da neuralgia do trigêmeo, incluindo o
topiramato e a gabapentina. A gabapentina é uma droga antiepiléptica recente, introduzida em
1994 para controle de convulsões parciais com ou sem generalização secundária. Ela tem
mostrado ser efetiva em combinação com carbamazepina ou lamotrigine na neuralgia
trigeminal idiopática 24, 33.
O baclofeno parece bloquear o efeito de neurotransmissores excitatórios no núcleo do
trato espinal do nervo trigêmeo 24.
Um trabalho sobre o uso do misoprostol, um análogo da prostaglandina E1, concluiu
que este pode ser uma alternativa terapêutica segura e eficaz em pacientes com neuralgia do
trigêmeo associado à esclerose múltipla que são refratários a terapêutica convencional com
carbamazepina. Nenhum pacientes do presente estudo usou este medicamento 35.
A falha do tratamento farmacológico dos pacientes do presente trabalho deveu-se ao
não controle da dor em 69 % dos pacientes como visto no gráfico 3, aos efeitos colaterais em
23 % dos pacientes e ambos em 8 %. Apesar de muito eficientes na fase inicial do tratamento,
observa-se que, a longo prazo, há recorrência da dor após o tratamento farmacológico.
Observou-se que 41,6% dos doentes tratados, a longo prazo, com carbamazepina, difenil-
hidantoína e vitaminas do complexo B, recorreram a dor, segundo literatura 24.
A queixa de que as crises atrapalhavam a alimentação esteve presente em 84,5 % dos
pacientes entrevistados, e 36 % relataram perda ponderal. Esta associação foi analisada pelo
teste exato de Fisher e constatados que não houve relação estatística entre a incapacidade de
se alimentar de perda ponderal (p = 0,65). Não há relato na literatura deste tipo de análise.
Cerca de um quinto dos pacientes tentaram algum tipo de tratamento não
convencional, como acupuntura, homeopatia e outros. Destes, 10,3 % fizeram acupuntura sem
melhora, e um caso relatou piora da dor (Tabela 3). Apesar deste dado do trabalho, alguns
50

trabalhos mostraram a acupuntura como terapêutica adicional ao tratamento medicamentoso e


que teve uma resposta melhor que o uso isolado da droga. Outro trabalho realizado com 104
pacientes tratados com acupuntura concluiu que este é tratamento eletivo em crianças com
neuralgia secundária, e que na forma idiopática da doença a sua validade está condicionada ao
tratamento médico precedente e o estádio da doença 36, 37.
Sobre a qualidade da dor, a grande maioria referiu como sendo tipo choque-elétrico
(Tabela 4). No entanto, houve 3 casos (7,5 %) de mudança na qualidade da dor ao longo da
evolução da NT, com qualidade inicialmente tipo choque-elétrico para qualidade
ardência/queimação posteriormente. Não há relatos na literatura sobre este aspecto da
evolução da neuralgia trigeminal.
Metade dos pacientes procuraram um dentista acreditando que a NT fosse uma
odontalgia. Destes, metade fez ainda algum procedimento odontológico como extração
dentária ou tratamento de canal. Este dado não foi encontrado na literatura.
Cerca de um quinto dos pacientes entrevistados fizeram algum tipo de tratamento
cirúrgico prévio. Assim como o tratamento clínico, o tratamento cirúrgico da neuralgia do
trigêmeo passou por um período de procedimentos empíricos, alguns um tanto quanto
bizarros, até que se chegasse aos procedimentos cirúrgicos atuais e com indicações
preestabelecidas 24.
Inicialmente, pacientes com neuralgia do trigêmeo devem começar pelo tratamento
clínico, e na falha deste, então ser encaminhado para uma avaliação cirúrgica para analisar
não há nenhuma contra-indicação e qual o procedimento mais indicado. A falha no tratamento
clínico é atribuída ou por recorrência da dor e/ou por intolerância aos efeitos colaterais, e
destes pacientes, 75% são candidatos ao tratamento cirúrgico. Se a cirurgia é necessária, deve-
se escolher o procedimento mais simples e menos arriscado. O objetivo da terapia cirúrgica
moderna é controle da dor a longo-prazo com mínimo de morbidade e sem mortalidade 1.
A injeção de álcool/glicerol é uma rizotomia percutânea retrograsseriana com glicerol
e é uma útil e efetiva alternativa de tratamento para uma neuralgia típica do trigêmeo, mas foi
demonstrado ser uma técnica com alta taxa de recidiva. Além do mais, esta técnica
geralmente não é preferida por causa da necrose periférica 24.
Rizotomia Percutânea com Radiofreqüência utiliza o mesmo acesso que a rizotomia
por balão, porém usa-se um eletrodo que faz a lesão no gânglio por radiofreqüência 24.
51

O tratamento com gamma knife, recentemente introduzido, consiste de raios múltiplos


de fótons de alta energia concentrada com alta acurácia no alvo, como a raiz do nervo
trigêmeo. Este tratamento destrói componentes específicos do nervo. O aparelho contém uma
Fonte estável de radiação (Co 60) que livra esta técnica de requerer uma Fonte externa de
radioatividade, como cyclotron 8.
A Descompressão Microvascular (técnica de Janetta) é uma cirurgia aberta de fossa
posterior, indicada para paciente fisiologicamente com idade menor que 70 anos, sem contra-
indicação médica para um procedimento maior e que não deseje um déficit sensorial facial, já
que não há destruição do nervo. Este procedimento é recomendado para pacientes com um
envolvimento primário da divisão oftálmica (especialmente se a dor envolve o olho
dominante) numa tentativa de evitar as complicações da analgesia corneal; e para aqueles com
de lesão documentada de compressão da raiz sensorial por uma estrutura vascular 27.
A descompressão microvascular tem um risco inerente de 1 % de mortalidade e sérias
taxas de morbidade (como IAM e paralisia de pares cranianos) de no mínimo 1 %. Neste
procedimento o paciente não tem parestesia, mas nem sempre promove alívio da dor, com
taxas de recorrência variando de 4 % a 15 % 30.
Entretanto, a descompressão neurovascular somente será uma cirurgia bem sucedida
se houver comprovadamente verdadeiro conflito neurovascular (CNV) mais do que uma
simples alça vascular em contato com nervo 38.
A figura 12 resume a discussão entre as indicações das técnicas percutâneas e a de
descompressão microvascular: (1) técnicas percutâneas estão indicadas para pacientes sem
conflito neurovascular documentado (incluindo pacientes com NT por esclerose múltipla) e
naqueles com CNV se a descompressão microvascular está contra-indicado por uma doença
concomitante ou se ela é recusada pelo paciente informado, e (2) descompressão
microvascular é indicada em pacientes com CNV conhecida, sem neuropatia trigeminal
severa e com boas condições de saúde que, informado dos riscos cirúrgicos, concordam com
esta operação desejando ficar livre de qualquer déficit sensitivo 38.
52

Figura 12: Algoritmo de escolha entre os procedimentos cirúrgicos percutâneos e abertos. NVC, conflito
38
neurovascular. MVD, descompressão microvascular . FONTE: figura 1 de Orlandini G .

DADOS PÓS-OPERATÓRIOS

Apenas 1 paciente não obteve alívio da dor com a compressão percutânea com balão
no presente estudo. O balão neste paciente não teve o formato característico de pêra,
fundamental para o sucesso técnico do procedimento. Posteriormente foi submetido à MDV
com sucesso. Todo o restante (98 %) teve alívio da dor, de forma imediata (80 %) ou não
imediata (18 %), sendo que estes demoraram em média 6 dias até o alívio completo (Gráfico
5). O alívio da dor normalmente ocorre logo após o paciente acordar da anestesia (alívio
imediato), mas ocasionalmente pode demorar vários dias, segundo a literatura 40.
Se a dor não é aliviada de forma imediata, então o procedimento pode ser repetido,
mas o paciente deve esperar no mínimo uma semana antes, fazendo logo que possível, porque
a injúria secundária ao nervo pode causar injúria progressiva e o alívio da dor pode ocorrer
nos dias seguintes. Se o paciente ainda continuar com dor após a compressão do gânglio,
53

apesar do amortecimento na divisão apropriada, o diagnóstico de neuralgia do trigêmeo deve


ser revista, principalmente levando-se em conta o diagnóstico de uma dor facial atípica 40.
Aproximadamente 85 % dos pacientes do presente estudo tiveram parestesia ipsilateral
da face em decorrência ao procedimento. No entanto, quando questionados sobre qual a
interferência da parestesia sobre a qualidade de vida, a grande maioria (88 %) relatou nada ou
pouco (Tabela 7). Nos pacientes que relataram alguma interferência da parestesia na
qualidade de vida, quando questionados sobre a troca neuralgia por parestesia, todos
preferiram a parestesia à dor da neuralgia do trigêmeo. Segundo a literatura, a parestesia
(amortecimento) é efeito colateral deste procedimento, entretanto, a literatura também nos
mostra que a maioria dos pacientes relatou que este efeito colateral é leve e certamente
suportável. Mesmo na pequena porcentagem que considera a parestesia como severa, o grau
de satisfação foi grande devido ao benefício do alívio da dor 40.
Se a parestesia é um incômodo, deve-se orientar ao paciente que a parestesia diminuirá
notadamente durante os primeiros dias após a cirurgia. Parestesia severa não se resolverá, no
entanto, normalmente ela melhora. O amortecimento continuará diminuindo durante o
primeiro ano, gradualmente até atingir um plateau. Similarmente a fraqueza dos músculos
mastigatórios irá diminuir nas semanas seguintes a cirurgia 40.
A tabela 8 apresenta as outras complicações do procedimento: sete pacientes (18 %)
tiveram uma leve paresia dos músculos mastigatórios. Segundo a literatura, a mandíbula pode
desviar para o lado da fraqueza do músculo pterigóideo. Brown et al. mostrou uma
porcentagem de 23 % dos pacientes tiveram fraqueza leve ipsilateral do masseter que se
resolveu por no máximo um ano. Uma extensa revisão literária com 759 pacientes relatou 66
casos de fraqueza temporária e 7 permanente. No presente estudo, todos os casos de fraqueza
mastigatória foram temporários. Em caso de neuralgia do trigêmeo bilateral, literatura não
recomenda a compressão percutânea por balão bilateral por causa do risco de fraqueza
bilateral dos músculos mastigatórios 27, 30, 40.
Apenas um paciente teve alterações do reflexo corneano no presente estudo, mas sem
ceratite. As alterações corneanas refletem o comprometimento de V1. Brown et al. em sua
série não teve nenhum caso de anestesia duradoura do reflexo corneal, entretanto uma leve
redução do reflexo corneano pode ser vista. Ceratite e anestesia dolorosa não foram relatados
e são incomuns neste tipo de procedimento devido à natureza compressiva da injúria das
54

fibras mielinizadas. Outras alterações por causa do comprometimento de V1 podem ser vistas,
como no presente estudo onde 3 pacientes tiveram esta queixa 40.
Paresia do VI par craniano foi vista no paciente que não obteve alívio da dor no
seguimento pós-operatório do trabalho. Podemos observar na literatura que esta complicação
apesar de rara, pode acontecer. Na série de Brown et al., um paciente da série teve uma
paralisia temporária do VI par craniano que se resolveu de forma espontânea,
presumivelmente devido a uma hiper-insuflação do balão e conseqüente compressão do seio
cavernoso. Podemos encontrar também descrição de outros pares cranianos afetados por conta
do procedimento 28, 30.
Apesar de dois pacientes se queixarem de alterações gustativas após o procedimento
cirúrgico, não há relatos na literatura deste tipo de alteração. Entretanto, estas alterações
podem ser justificadas pelo comprometimento de V3 devido ao procedimento, já que este
ramo faz a inervação sensitiva de 2/3 anteriores da língua 5, 6.
Uma paciente teve hemorragia subaracnóidea no trans-operatório, entretanto não
houve seqüelas. Posteriormente descobriu-se que esta paciente fazia uso por conta própria e
irregular de medicamentos naturais que podem interferir na agregação plaquetária, não
referido pela paciente quando indagada, pois julgava ser composto inofensivo. Esta
complicação é a que tem sido mais chamada atenção na literatura devida sua maior gravidade.
A hemorragia subaracnóidea pode causar um quadro de meningite asséptica: cefaléia, febre e
confusão mental que pode durar por 24 a 48 horas. O paciente reclamará de cefaléia
imediatamente após acordar da anestesia. Alguns trabalhos mostraram que esta complicação
pode ocorrer, na série de Brown et al., cinco por cento dos pacientes tiveram meningite
asséptica pós-operatória ocorrendo dentro de seis horas após o procedimento. Estes sintomas
se resolveram dentro de 48 horas sem nenhum déficit residual. Segundo literatura, não houve
crescimento bacteriano na cultura do líquor e a contagem de hemáceas sugeriu que a causa
deste quadro foi uma pequena hemorragia subaracnóidea. O tratamento é medidas de suporte
e sintomáticos 30, 40.
Normalmente, a neuralgia do trigêmeo causa a pior dor já sentida, e o paciente aceita
prontamente os risco e efeitos colaterais do procedimento tamanho a dor, entretanto, todas o
paciente deve ser informado dos riscos e efeitos colaterais inerentes ao procedimento, mesmo
que estes sejam mínimos e/ou suportáveis na quase totalidade das vezes.
55

Houve o aparecimento do herpes labial em 17 pacientes (43,6 %) dos pacientes


acompanhados. Herpes labial pode aparecer após alguns dias do procedimento devido à
manipulação do nervo trigeminal, mas pode-se fazer tratamento profilático de rotina com
aciclovir 40.
O grau de satisfação com os resultados da compressão percutânea com balão foi
aproximadamente 90 % (bom/ótimo), mostrados no gráfico 6. Apenas quatro pacientes
ficaram insatisfeitos com os resultados. Os motivos da insatisfação foram: não controle da dor
em um paciente, intolerância à parestesia em outro paciente e a recorrência da dor em outros
dois pacientes. Estes dados entram em congruência com a literatura que relata que a grande
maioria dos pacientes fica satisfeita com os resultados, ainda que tenham algum efeito
colateral, pois qualquer outro sintoma é melhor que sentir a pior dor do mundo 28.
A curva de sobrevivência de Kaplan-Meyer (Gráfico 7) nos mostra que num
seguimento de 50 meses, 20% dos pacientes do presente estudo apresentam recorrência da
dor. Esta recorrência ocorre em até 36 meses. Quando comparado com as taxas de
recorrência na literatura das grandes séries (Tabela 11), observa-se que o presente trabalho
esteve dentro da faixa de recorrência do que se tem visto, dentro de seguimentos similares.
Convém salientar que em seguimentos mais longos, os índices de recorrência normalmente
tornam-se gradualmente mais altos 41.
A influência de todas as variáveis pertinentes sobre a recorrência da neuralgia do
trigêmeo foi analisada estatisticamente. A análise univariada de COX (Tabela 9) mostrou três
variáveis potencialmente influenciadoras nos resultados: tratamento cirúrgico prévio (p =
0,07), alívio da dor imediata (p = 0,01) e parestesia (p = 0,007). Entretanto, após análise por
regressão múltipla de COX (Tabela 10), pode-se perceber que a única variável capaz de
predizer o prognóstico cirúrgico de forma independente foi a parestesia no pós-operatório. Tal
resultado sugere que imbalanços na distribuição de parestesia no pós-operatório nos grupos
com alívio imediato da dor e nos que fizeram tratamento cirúrgico prévio seja um fator de
confusão, sugerindo erroneamente que as variáveis alivio imediato da dor e tratamento
cirúrgico prévio pudessem contribuir para o prognóstico cirúrgico na análise univariada
(Tabela 9).
Não houve casos de óbitos pelo procedimento no presente trabalho. A mortalidade não
existe virtualmente, entretanto, a qualidade de vida do paciente fica extremamente afetada,
pois os pacientes podem tentar evitar atividades que precipitem a dor, como mastigar, por
56

exemplo, a dor pode ser tão freqüente que impede o paciente uma nutrição via oral, levando a
estados de desnutrição e emagrecimento em situações extremas. Pode-se encontrar relatos de
problemas quanto à higiene pessoal do paciente, como dificuldade para barbear-se e/ou
escovar os dentes. Depressão secundária é um achado comum em pacientes que possuem uma
síndrome dolorosa crônica. A severidade da dor pode levar pacientes ao suicídio 4, 8.
Uma morte relatada na literatura pesquisada foi associada com sangramento intra-
operatório devido à introdução incorreta da agulha que foi demasiadamente além do forame
oval 42.

TABELA 11: revisão de literatura de grandes séries Compressão Percutânea com Balão
comparada com trabalho atual.

Autores & ano publicado Nº proced/paciente Recorrência (%) Seguimento


Belber & Rak, 1987 33/25 24 6 m 7 anos
Fraioli et al., 1989 159 9.8 42 m
Frank & Fabrizi, 1989 212 25 < 36 m
Lichtor & Mullan, 1990 100 20 5 anos
30 10 anos
Lobato, et al., 1990 164 9,7 6 54 m
Meglio, et al., 1990 74 42,8 24 m
Peragut, et al., 1991 70 21 6 60 m
Abdennebi, et al., 1997 200 32,5 51 m
Brown & Gouda, 1997 182/141 26 2 m 10 anos
Correa & Teixeira, 1998 187/158 20 48 m
Natarajan, 2000 *52 40 NR 6 m 20 anos
Presente estudo, 2005 41/39 20 50 m
43
FONTE: TABELA retirada do estudo Skirving et al : uma revisão de 20 anos da compressão percutânea com
balão. * Trabalho acrescentado à tabela inicial.
57

7. CONCLUSÃO

I. Houve leve prevalência do sexo feminino, maior incidência acima dos 50 anos e
terrível repercussão da doença na qualidade de vida dos pacientes com neuralgia, com um
tempo de sofrimento de 8 anos em média. A dor era tipo choque-elétrico na grande maioria,
sendo que em 3 casos a qualidade da dor mudou no decorrer da evolução da neuralgia
trigeminal. A dor era na maioria acompanhada de tics e desencadeada por contato
cutâneo/mucoso. A grande maioria usava CBZ como tratamento clínico prévio, que falhou
devido ao não controle da dor na grande maioria dos casos. Um quinto tinha feito tratamento
cirúrgico prévio ou tratamento não convencional. O lado direito foi o mais acometido
disparadamente, e o ramo mais acometido foram V2V3. Não houve casos de acometimento
dos três ramos.
II. A queixa de que as crises atrapalhavam a alimentação não teve relação estatística
com o relato do paciente de perda ponderal.
III. Metade dos pacientes procuraram o dentista confundindo a neuralgia trigeminal
com uma odontalgia, e destes, metade ainda fez algum procedimento odontológico
desnecessário devido a uma confusão diagnóstica.
IV. A compressão percutânea com balão do gânglio de Gâsser obteve um sucesso
inicial em 98 % dos casos, sendo que a grande maioria obteve alívio imediato. Mostrou-se um
tratamento com baixa morbidade e nenhuma mortalidade, sendo, portanto, um procedimento
seguro até em idades mais avançadas. A parestesia foi o efeito colateral na grande maioria dos
casos, entretanto, teve boa tolerância pela grande maioria dos pacientes, e mesmos nos que se
queixaram deste sintoma, todos preferiram parestesia à dor facial. O grau de satisfação foi
aproximadamente 90 %
V. A curva de Kaplan-Meyer mostrou que num seguimento de 50 meses a taxa de
recorrência foi de 20 %. Dentre todas as variáveis, a única que se mostrou interferir de forma
independente nos resultado foi a parestesia no pós-operatório, ou seja, pacientes com
parestesia no pós-operatório tem baixa probabilidade de recorrência da neuralgia do trigêmeo,
fazendo com que a parestesia no pós-operatório se torne fator protetor em relação a
recorrência.
58

NORMAS ADOTADAS

Normatização para os Trabalhos de Conclusão do Curso de Graduação em Medicina,


resolução nº 001/2001, aprovada em reunião do Colegiado do Curso de Graduação em
Medicina em 05 de julho de 2001, 3a ed.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14724: informações e documentações:
trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de Janeiro, 2001.
Diretrizes para Apresentação de Dissertações e Teses da USP: documento eletrônico e
impresso. Sistema Integrado de Bibliotecas SIBi. São Paulo, 2004.
59

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63

APÊNDICE
PROTOLOCO
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
a) Nome: __________________________________________________________
b) Endereço_________________________________________________________
c) Telefone: ______________________
d) Idade: _________________________
e) Raça: ( ) branco ( ) negro ( ) amarelo ( ) pardo
f) Sexo: ( ) M ( ) F
g) Data da cirurgia______/______/________

DADOS PRÉ-CIRÚRGICOS

1. Há quantos anos você tem Neuralgia do Trigêmeo? ___________________

2. Aproximadamente, quantos tipos diferentes de tratamento você já fez?


Clínicos 1 2 3 4 5 6 Cirúrgicos 1 2 3

3. Se clínico, usava carbamazepina?................... ( ) S ()N

4. Usava outra(s) droga(s)?...................................( ) S ()N

5. Motivo do insucesso clínico: ( ) Não controle ( ) Efeitos colaterais ( ) Ambos

6. Fez tratamento cirúrgico prévio?..................... ( ) S ()N

8. Se S, foi há quantos anos?_________________

9. Tentou tratar com outro método N convencional?


( )N ( )Acupuntura ( ) Homeopatia ( )Outros.

10. Se fez acupuntura, qual foi o resultado?


( ) Melhora ( ) Piora ( ) Não fez efeito

11. Sobre a qualidade da dor, como ela era quando iniciou suas crises?
( ) Tipo choque elétrico ( )Facada ( ) agarramento ( )ardência/queimação ( )parestesia

12. Ainda sobre a qualidade da dor, como ela era na época da cirurgia?
( ) Tipo choque elétrico ( )Facada ( ) agarramento ( )ardência/queimação ( )parestesia

13. Sobre a intensidade da dor, que nota você daria para sua dor em uma escala de 0 a 10
(VAS), sendo que 0 é nenhuma e nota 10 para a pior dor da sua vida? ___________
64

14. Quanto a Neuralgia do Trigêmeo interferia na sua qualidade e vida?

Nada Pouco Médio Muito Terrivelmente

15. Tinha dificuldade de se alimentar durante as crises dolorosas da NT?.........( ) S ()N

16. Teve perda ponderal desde que começou a neuralgia? .................................( ) S ()N

17. Como era desencadeada crise de dor?


a) Espontânea
b) Ao falar
c) Ao mastigar
d) Contato cutâneo/mucosa (coçar, fazer a barba, escovar os dentes)
e) Brisa/vento no rosto

18. Que lado era a dor: D E

19. Ramo comprometido: V1 V2 V3

20. Você chegou a procurar dentista por causa da dor?................................S N

21. Fez algum procedimento odontológico?.................................................S N

22. Você tem alguém na família com neuralgia do V?.................................S N

DADOS PÓS-CIRÚRGICOS
23. Alívio da dor? ( ) Imediato ( ) N imediato

24. Qual outro efeito colateral da cirurgia? ______________________________________

25. Parestesia? ................................................................................................... S N

26. *Quanto a parestesia interfere na sua qualidade e vida?


Nada Pouco Médio Muito Terrivelmente

27. *Valeu trocar o alívio da dor pela parestesia?..............................................S N

28. Teve recorrência da dor?..............................................................................S N

29. Se sim, quanto tempo depois da cirurgia? ___________________________________

30. Herpes labial após cirurgia? .......................................................................S N


31 Como você avalia o resultado deste procedimento neurocirúrgico (PMC)?
( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo

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