Marcia Siécola
Marcia Siécola
Apresentação 7
6. Proposta pedagógica 81
6.1 A escola construindo a “boa escola” 81
6.2 A proposta pedagógica na Educação Infantil 83
6.3 A proposta pedagógica nos Ensinos Fundamental e Médio 84
7. Avaliação na educação e da escola 93
7.1 Avaliar na Educação Infantil 93
7.2 Avaliar no Ensino Fundamental 96
7.3 Avaliar no Ensino Médio 98
8. Regimento Escolar 105
8.1 Concepção, princípios e finalidades 105
8.2 A construção coletiva do Regimento Escolar 108
8.3 Conhecendo o Regimento Escolar de uma escola pública 110
Gabarito 145
7
Apresentação
Este livro tem como principal objetivo assessorar os docentes e demais profissionais da área
de educação para compreenderem o contexto que envolve a legislação educacional no âmbito na-
cional, a partir de um resgate histórico da trajetória da educação brasileira, desde a Constituição
Federal de 1988 até a atualidade com as Políticas Atuais de Educação (PNE – 2014-2024).
Com base em um diagnóstico sobre o papel social destinado à educação em diferentes perío-
dos da história brasileira, é possível evidenciar algumas das principais tensões e contradições que
marcaram a organização do nosso sistema educacional, bem como as continuidades, descontinui-
dades, adaptações e rupturas que caracterizaram as políticas educacionais de diferentes períodos.
Esperamos que este livro contribua para a prática do docente e de todos os envolvidos no
cenário educacional, trazendo reflexões pertinentes sobre a legislação educacional que devem prio-
rizar o combate às desigualdades sociais e dar um grande salto no contexto brasileiro, promovendo,
assim, a educação de qualidade como um direito social.
1
A legislação educacional
no âmbito nacional
A Carta Magna de 1988 foi abalizada como um documento divisor de águas no Brasil, por
estar respaldada em concepções de cidadania e de democracia mundiais, agregando valores iguali-
tários aos direitos fundamentais aos brasileiros que correspondem aos diversos segmentos, como:
educação, saúde, trabalho, previdência social, lazer, segurança, proteção à maternidade, infância
e assistência aos desamparados. Sua praticidade é a primazia das conjunturas de vida dos menos
beneficiados, em proveito da isonomia social (CUNHA, 2013).
Denominada de Constituição Cidadã pelo então representante do congresso Ulysses
Guimarães, é considerada uma das mais modernas e progressistas do mundo, em relação aos direi-
tos e deveres individuais e coletivos dos brasileiros (DUARTE, 2012).
Sendo assim, a referida legislação constitucional apregoava o preceito de que todos os bra-
sileiros têm pleno direito ao Ensino Fundamental imperativo e disponibilizado gratuitamente pelo
Poder Público. Carrega em seu cerne relevantes princípios e, nesse conjunto de circunstâncias,
estabelece, no art. 205, que: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será pro-
movida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento de pes-
soas, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988).
Na mesma Lei Suprema de 1988, estabeleceu-se alguns pressupostos, por meio dos quais o
direito à educação deverá ser pautado e ministrado. São eles:
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e
o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de insti-
tuições públicas e privadas de ensino;
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
12 Legislação Educacional
Nesse cenário, verifica-se que o direito à educação se constitui uma das solicitações mais
representativas para a vida dos cidadãos brasileiros, como parâmetro para a transformação e me-
lhoria da existência humana.
Assim, por meio das linhas mestras especificadas pela Constituição Federal de 1988, deu-se
origem a outras iniciativas que asseguram o direito à educação, como o Estatuto da Criança e do
Adolescente – ECA (BRASIL, 1990) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB
n. 9.394/96 (BRASIL, 1996).
Partindo desses pressupostos, percebe-se a prioridade de que se faça honrar o que determi-
nam os dispositivos legais brasileiros. Na atualidade, não é aceitável que haja crianças fora da insti-
tuição escolar e sem o acolhimento imprescindível por parte das famílias, pois o descumprimento
de tal situação poderá se configurar como crime de abandono intelectual.
Nessa mesma direção, sabe-se que para não haver um alto índice de evasão, repetência
e mau desempenho escolar, é de suma importância o trabalho conjunto entre escola e famílias.
A criança ou adolescente deve comparecer regularmente à instituição escolar, tendo o acompanha-
mento familiar e da escola, para que as metas e os objetivos educacionais propostos sejam atingidos
(SUMMERS, 2013).
Portanto, não cabe à escola fazer o papel dos pais ou responsáveis, assumindo a obrigação de
responder sozinha pelo ato de educar o discente, sendo que tal atividade deve acontecer em parce-
ria com os implicados, os pais/responsáveis e a instituição escolar, pública ou privada, para que se
obtenha sucesso no processo educacional (SUMMERS, 2013).
Por fim, assim como o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Constituição Federal de
1988 enfatiza que devemos amparar as crianças e os adolescentes preservando-os das arbitrarieda-
des, do desamparo intelectual/moral e da violência, para que tenham um desenvolvimento seguro.
Essas normativas asseguram aos menores a proteção à vida sadia, norteada para o bem-estar, e
equilibrada, concernente de que a proteção e as garantias dos direitos que lhes são devidos pela
legislação brasileira vigente (SUMMERS, 2013).
Nessa perspectiva, é preciso que os governos, a sociedade e principalmente a família passem
a atuar de forma mais presente, eficiente e articulada, a fim de que os dispositivos legais deixem de
ser apenas mais um projeto nacional, no sentido das práticas de direito. Para que sejam garantidos
os direitos das crianças e dos adolescentes, sem restrições, também é necessário que haja um en-
tendimento desses indivíduos como sujeitos de direitos, pessoas em condições peculiares de desen-
volvimento e com prioridade absoluta. Dessa forma, haverá a efetivação de sua proteção integral
garantida pelas políticas públicas.
A Educação Superior está expressa nos art. 43 a 57 da LDB de 96. Ela é da alçada da União,
podendo ser ofertada por estados e municípios, desde que estes já tenham assistidas as modalida-
des pelas quais são responsáveis em sua totalidade. Também cabe à União autorizar e fiscalizar as
instituições privadas de ensino superior. Tem por finalidade:
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do
pensamento reflexivo;
II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a in-
serção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da
sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua;
III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desen-
volvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse
modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive;
IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos
que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do en-
sino, de publicações ou de outras formas de comunicação;
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e
possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que
vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conheci-
mento de cada geração;
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em parti-
cular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e
estabelecer com esta uma relação de reciprocidade;
VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à di-
fusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa
científica e tecnológica geradas na instituição;
VIII - atuar em favor da universalização e do aprimoramento da educação bási-
ca, mediante a formação e a capacitação de profissionais, a realização de pesqui-
sas pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de extensão que aproximem
os dois níveis escolares. (Incluído pela Lei nº 13.174, de 2015) (BRASIL, 1996)
18 Legislação Educacional
Doutorado
Diploma
Especialização
Mestrado Certificado
Diploma MBA e Residência Médica Possui caráter social, pode
ser cursado a qualquer
momento e deve ser
Pós Graduação Stricto Sensu e Lato Sensu
ministrado por uma
instituição de educação
superior. Não possui
habilitação nem valor
Formação
Bacharelado Licenciatura Tecnólogo Complementação acadêmico.
específica
Diploma Diploma Diploma Certificado Certificado.
Diploma
Educação Superior
Ensino Fundamental
Educação Infantil
A educação brasileira conta ainda com algumas modalidades de educação que perpassam
todos os níveis da educação nacional. São elas:
• Educação Especial – atende aos estudantes com necessidades especiais, preferencialmente
na rede regular de ensino.
• Educação Profissional e Tecnológica – visa a preparar os estudantes para exercerem ativi-
dades produtivas, atualizar e aperfeiçoar conhecimentos tecnológicos e científicos.
A legislação educacional no âmbito nacional 19
• Educação de Jovens e Adultos (EJA) – atende as pessoas que não tiveram acesso à educa-
ção na idade apropriada.
• Educação Indígena – atende as comunidades indígenas, de forma a respeitar a cultura e a
língua materna de cada tribo.
• Educação a Distância (EaD) – atende aos educandos em tempos e espaços diversos, com a
utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação. De acordo com o Decreto
n. 9.057/2017, compete às autoridades dos sistemas de ensino estaduais, municipais e dis-
tritais, autorizar os cursos e o funcionamento de instituições de EaD nos seguintes níveis
e modalidades:
I - ensino fundamental, nos termos do § 4º do art. 32 da Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996;
II - ensino médio, nos termos do § 11 do art. 36 da Lei nº 9.394, de 1996;
III - educação profissional técnica de nível médio;
IV - educação de jovens e adultos; e
V - educação especial. (BRASIL, 2017)
Em relação aos cursos de Ensino Superior a distância, o mesmo Decreto, em seu art. 11,
dispõe que:
Art. 11. As instituições de ensino superior privadas deverão solicitar cre-
denciamento para a oferta de cursos superiores na modalidade a distância ao
Ministério da Educação.
§ 1º O credenciamento de que trata o caput considerará, para fins de avaliação,
de regulação e de supervisão de que trata a Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004,
a sede da instituição de ensino acrescida dos endereços dos polos de educação
a distância, quando previstos no Plano de Desenvolvimento Institucional e no
Projeto Pedagógico de Curso.
[...]
Art. 16. A criação de polo de educação a distância, de competência da institui-
ção de ensino credenciada para a oferta nesta modalidade, fica condicionada
ao cumprimento dos parâmetros definidos pelo Ministério da Educação, de
acordo com os resultados de avaliação institucional.
[...]
Art. 18. A oferta de programas de pós-graduação stricto sensu na modali-
dade a distância ficará condicionada à recomendação da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes, observadas as diretrizes
e os pareceres do Conselho Nacional de Educação. (BRASIL, 2017)
Ademais, destacamos aqui que, além dos níveis e das modalidades de ensino, a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 aborda também temas como os recursos finan-
ceiros e a formação dos profissionais da educação.
Fundamentadas na LDB, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), como normas obri-
gatórias para a Educação Básica, objetivam orientar o projeto político-pedagógico, o planejamento
curricular das escolas e dos sistemas de ensino, norteando seus currículos e conteúdos mínimos a
serem ministrados.
20 Legislação Educacional
O projeto busca um direcionamento, como se fosse uma bússola. É uma ação que tem uma
determinada intenção, com um sentido declarado, como um compromisso definido coletivamente
pelos integrantes da instituição escolar. Desse modo, todo projeto pedagógico da escola é também
político, por estar intimamente articulado a uma promessa sociopolítica com os interesses reais
e coletivos da população majoritária que faz parte da instituição de ensino. Assim, ele é político
no sentido de compromisso com a formação de qualidade do cidadão de determinada sociedade.
“A dimensão política se cumpre na medida em que ela se realiza, enquanto prática especificamente
pedagógica” (SAVIANI, 1983, p. 93).
No âmbito pedagógico, o projeto habita a oportunidade da efetivação da finalidade da esco-
la, que é a formação de qualidade do cidadão proativo, responsável, comprometido consigo e com
o contexto em que está inserido, além do desenvolvimento de um indivíduo crítico e criativo. Ele é
pedagógico na acepção de esclarecimento das ações educativas e dos atributos necessários às esco-
las para cumprirem seus objetivos e suas intenções educacionais (VEIGA, 2006, p. 15).
As categorias político e pedagógico têm, assim, uma concepção com a qual caminham juntos,
ou seja, não podem se separar. Nesse sentido é que se deve considerar o projeto político-pedagó-
gico como um processo constante de reflexão, discussão dos problemas da escola e também de
transformações, na busca de alternativas viáveis à efetivação de sua intencionalidade (MARQUES,
1990, p. 23).
A legislação educacional no âmbito nacional 21
Além disso, propicia a vivência democrática, devendo envolver toda a comunidade escolar,
tendo como referência a realidade desta, em busca de aperfeiçoamento e de mudanças necessárias
a uma educação de melhor qualidade.
No artigo 3º da LDB de 1996, estão implícitos os princípios norteadores do projeto-peda-
gógico, sendo que um deles é a “igualdade de condições para acesso e permanência na escola”,
também prevista no art. 206, inciso I, da Constituição Federal de 1988 e no artigo 53 do Estatuto
da Criança e do Adolescente.
Como vimos, os textos legais abordados garantem aos cidadãos o ingresso e a permanência
na escola, visando a que todos tenham condições iguais de acesso ao conhecimento sistematizado.
Nesse contexto, a educação também tem importante função de ascensão social e o espaço escolar
deve favorecer o desenvolvimento de habilidades e competências para o exercício da cidadania e a
inserção social de todos os brasileiros.
Por último, complementando as premissas anteriormente abordadas, o educador e pesqui-
sador José Carlos Libâneo discorre sobre o exercício do ensino-aprendizagem na escola contem-
porânea. Para ele,
Ver a escola como espaço de síntese é considerá-la como lugar onde os alunos
aprendem a razão crítica para poderem atribuir significados às mensagens e
informações recebidas de fora, dos meios de comunicação, da cidade. Quero
dizer que a escola tem o papel de prover as condições cognitivas e afetivas para o
aluno desenvolver suas próprias capacidades para poder re-ordenar e re-estru-
turar essa cultura recebida de fora, que é uma cultura em mosaico, fragmentada.
É uma outra maneira de falar em construção e reconstrução de conhecimentos.
[...]
A meu ver, as novas tecnologias da informação e da comunicação preci-
sam urgentemente ser integradas nas escolas, mas sem exclusão do professor
e de outras mediações relacionais e cognitivas no processo de aprendizagem.
As novas tecnologias são indispensáveis na escola nas mãos de um bom professor.
[...]
Também acho necessário que os cursos de formação e as escolas planejem es-
tratégias de mudança na mentalidade dos professores em relação às formas de
trabalho. As transformações na ciência, na noção de conhecimento e do pro-
cesso do conhecimento estão afetando muito os métodos e procedimentos de
ensino. Essa mudança de mentalidade precisa começar na própria organização
pedagógica e curricular, nas formas de gestão da escola, na elaboração do pro-
jeto pedagógico. Os professores mudarão sua maneira de ensinar à medida que
vivenciarem novas maneiras de aprender. (apud NOGUEIRA, 1998)
Atividades
1. Por que a Constituição Federal de 1988 é chamada de Constituição Cidadã?
3. De acordo com o Decreto n. 9.057/2017, a educação brasileira conta com algumas modali-
dades de educação que perpassam todos os níveis da educação nacional. Cite alguns exem-
plos que você já tenha observado em seu dia a dia.
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______ Decreto n. 9.057, de 25 de maio de 2017. Regulamenta o art. 80 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro
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24 Legislação Educacional
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Nessa vertente, endossa o autor que o fato de garantir o acesso à Educação Básica pública
às crianças de 6 anos de idade, devolve a elas o direito ao exercício da cidadania. Dessa forma,
autoriza a uma parcela maior da comunidade frequentar mais cedo a escola, usufruindo de um
direito que antes era extensivo apenas às crianças favorecidas, matriculadas no sistema formal
de ensino brasileiro (CURY, 2002, p. 260).
26 Legislação Educacional
No entanto, sabe-se que somente a normatização legal específica não garante por si só o
direito à educação escolar e à democracia. Até porque ela é fruto de um intenso caminho a ser per-
corrido, da mobilização de diversos segmentos da sociedade brasileira, de concepções distintas de
educação, do comprometimento dos professores e do envolvimento da comunidade educacional,
assim como do papel efetivo do Estado com a formulação pertinente de políticas públicas educa-
cionais, que devem intervir nas situações de desigualdades (FREITAS, 2008).
Diante dessas inquietações, a política de extensão do Ensino Fundamental de nove anos,
respaldada na Lei Federal n. 11.114/2005, propôs-se assegurar o direito à educação obrigatória, aos
menores de 6 anos de idade, apoiada na Lei Federal n. 11.274/2006, reconhecendo que estas, ao
ingressar antecipadamente no ambiente escolar, possam usufruir das mesmas oportunidades das
demais crianças dessa faixa etária (COMPARATO, 2004, p. 67).
Segundo o documento escrito pelos responsáveis do Ministério da Educação (BRASIL,
2009), a entrada antecipada da criança no Ensino Fundamental tem como foco assegurar a ela um
período maior de convivência escolar, ampliando sua oportunidade no processo de aprendizagem
da leitura e da escrita e nos conceitos básicos das áreas de conhecimento de Matemática, Ciências
e Estudos Sociais. Para tanto, recomenda-se a reestruturação do currículo escolar e da formação
continuada dos professores, além de boas condições de trabalho docente, revendo sua carga horá-
ria, número satisfatório de alunos por sala de aula, materiais e recursos didático-pedagógicos per-
tinentes e a adequada infraestrutura do espaço físico, entre outras tantas questões, que implicarão
na efetivação da proposta educacional vigente. Dessa forma, justifica-se que o Ensino Fundamental
de nove anos estenda o período de permanência escolar e antecipe a entrada de crianças a par-
tir dos seis anos de idade, porém muitos fatores ainda comprometem esse contexto educacional
(KRAMER, 2006).
Consciente dessas mudanças, o Ministério da Educação (BRASIL, 2009) elaborou um docu-
mento específico com todas as normas e informações pertinentes para dar subsídios aos gestores
municipais e estaduais, conselhos de educação, comunidade escolar e demais órgãos educacionais,
denominado Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos
de idade, ressaltando que:
A criança de seis anos de idade que passa a fazer parte desse nível de ensino não
poderá ser vista como um sujeito a quem faltam conteúdos da Educação Infantil
ou um sujeito que será preparado, nesse primeiro ano, para os anos seguintes do
Ensino Fundamental. Reafirmamos que essa criança está no ensino obrigatório
e, portanto, precisa ser atendida em todos os objetivos legais e pedagógicos
para essa etapa de ensino. (BRASIL, 2006b, p. 8, grifos nossos)
c) assegurar que, ingressando mais cedo no sistema de ensino, as crianças tenham um tempo
mais longo para as aprendizagens da alfabetização e do letramento (BRASIL, 2009).
Diante disso, a justificativa apresentada pelo governo federal para a incorporação desses
menores dessa faixa etária do Ensino Fundamental acontece, em parte, pela constatação de que um
contingente significativo de menores, filhos de famílias das classes média e alta, já se encontram
inseridos no espaço escolar, seja na pré-escola, seja no Ensino Fundamental – o que difere da rea-
lidade da maior parte das crianças brasileiras dessa idade. Sendo assim, acredita-se que a reorgani-
zação proposta pelo Ministério da Educação pode contribuir para que este último grupo tenha as
mesmas oportunidades que as demais (BRASIL, 2009).
Nessa mesma linha de raciocínio, o documento do MEC reforça que a inclusão de menores
de 6 anos de idade nessa atual modalidade de ensino, não implica na antecipação dos conteúdos
e das atividades pedagógicas, que tradicionalmente foram compreendidos como adequados para
serem ensinados na primeira série do Ensino Fundamental de oito anos de duração. O escopo é
construir uma nova estrutura curricular, com a sistematização dos conteúdos pedagógicos para o
Ensino Fundamental vigente, agora com a duração de nove anos de escolarização (BRASIL, 2009).
Outra argumentação que vem reforçar esse processo de antecipação do acesso e da obri-
gatoriedade de escolarização da criança de 6 anos no Ensino Fundamental é que se trata de uma
medida adotada pelo governo federal em decorrência dos indicadores das políticas públicas educa-
cionais dos países europeus e da maioria dos países da América Latina e do Caribe.
Segundo dados da Oficina Regional de Educação para América Latina e Caribe, órgão da
Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura – OREALC/Unesco (2007), dos
41 países da América Latina e Caribe citados na pesquisa,
[...] 15 estabelecem 11 anos ou mais de ensino obrigatório, 11 países estabele-
cem a duração de 10 anos. Sendo que 5 países tem o tempo de duração da sua
escolarização básica de 9 anos, 3 países, entre os quais o Brasil, no momento da
pesquisa de dados, a duração da escolaridade básica era de 8 anos, um deles de
7 anos, e 6 países definem a duração do tempo de escolarização de apenas 6 anos.
Em 22 países, dos 41 pesquisados, o início da educação obrigatória é aos
6 anos, em 15 é aos 5 anos e apenas em quatro países como o Brasil, El Salvador,
Guatemala e Nicarágua, o ingresso na vida escolar era aos 7 anos, no momento
da coleta dos dados. Dentre aqueles países que iniciam a educação obrigatória
aos 6 anos, cinco países consideram o último ano da pré-escola como obriga-
tório. (UNESCO, 2007, grifos nossos)
Vale ressaltar que a mudança para o ensino de nove anos incidiu sobre o art. 6º da LDB de
1996, que preconiza: “É dever dos pais ou responsáveis efetuar matrícula dos menores, a partir dos
6 anos de idade, no Ensino Fundamental”, pois, na época, manteve-se a duração mínima de oito
anos para esse segmento, sem exigir o aumento de mais um ano. Os artigos da Constituição Federal
de 1988 já expressavam que:
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
[...]
28 Legislação Educacional
Art. 208.
§1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é um direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta
irregular, importa na responsabilidade da autoridade competente. (BRASIL,
1988, grifos nossos)
Por sua vez, observamos que a Lei Federal n. 11.114/2005 tornou-se inconstitucional, por
não atender aos preceitos legais mencionados anteriormente, na medida em que não responsabi-
lizou o Estado pela oferta do Ensino Fundamental com duração de nove anos. A questão refere-se
à matrícula na educação obrigatória preconizada na Constituição Federal de 1988, a qual passou
a ser um direito público. Esse fato obriga o Estado a criar formas de efetivação e proteção da edu-
cação, quando esse direito for negado à criança ou a um adulto que, em idade própria, não tenha
frequentado ou concluído essa etapa da educação obrigatória (BRASIL, 2005).
Mas, em fevereiro de 2006, o Conselho Nacional de Educação (CNE) apresentou a Lei
Federal n. 11.274, que alterou a redação dos artigos 29, 30, 32 e 87 da LDB 9.394/96, sobre o in-
gresso da criança no Ensino Fundamental e o tempo de duração da educação obrigatória. Essa lei
complementou a legislação anterior, de modo a determinar ao Estado o papel que lhe incumbe no
sentido de responsabilizar o poder público pela oferta dessas vagas (BRASIL, 1996).
Enfim, a referida lei possibilitou o atendimento a um direito educacional que sedimenta:
O exercício do direito à educação [...]. Exige condições materiais que o torne
realidade: a) que seja possível o acesso material a uma vaga na escola, garan-
tia que compete ao Estado assegurar. Os Estados costumam aceitar o direito
em suas legislações antes de prever as condições necessárias para exercê-lo;
b) possibilidade de assistir regularmente às aulas e permanecer na escola du-
rante a etapa considerada como obrigatória, sem obstáculos provenientes das
condições de vida externas ou das práticas escolares internas que possam levar
à exclusão ou à evasão escolar [...]. (GIMENO, 2001, p. 19)
Cabe considerarmos que na Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica brasilei-
ra, não existe reprovação, apenas o acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças.
Segundo preconiza a LDB 9.394/96, essa fase tem como finalidade precípua o desenvolvimento
integral da criança até os 5 anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social.
Para tanto, as condições mínimas dessa jornada são: 200 dias letivos; turno parcial de pelo
menos 4 horas e turno integral de 7 horas; frequência mínima de 60% das horas; e a documentação
que comprova o desenvolvimento e a aprendizagem da criança.
No entanto, a finalidade do Ensino Fundamental brasileiro é a formação básica do cidadão.
Para isso, segundo o art. 32 da LDB, é necessário:
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o
pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnolo-
gia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aqui-
sição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores;
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade
humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social. (BRASIL,
1996, grifos nossos)
Porém, na visão dos educadores, sabemos que, quanto mais cedo, mais a criança usufrui do
mundo da leitura e da escrita e de outros bens culturais historicamente construídos. Levando-se
em conta a singularidade do menor, este terá melhor êxito em seu processo de escolarização.
Assim, diante desse cenário, constatamos que o direito à inserção da criança de 6 anos no
Ensino Fundamental com o tempo de implantação de nove anos não garante a melhoria da qua-
lidade do ensino. Outros fatores estão implicados nessa perspectiva educacional, como a devida
formação inicial e continuada dos professores, uma estrutura física institucional pertinente, a reor-
ganização da nova proposta e materiais pedagógicos ajustados, respeitando o direito de ser criança
antes de ser aluno, entre outros aspectos que buscam dar conta da obrigatoriedade nas escolas dos
atuais aparatos legais educacionais.
Em contrapartida, sem o devido enfrentamento dessas questões, teremos somente um ano
a mais de escolarização e continuaremos com crianças e adolescentes apresentando dificuldades
de aprendizagem e analfabetismo funcional, nos primeiros ou nos últimos anos de estudos da
Educação Básica brasileira.
para o Ensino Fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores
culturais e artísticos, nacionais e regionais” (BRASIL, 1988).
O texto da CF de 1988 não deixou claras algumas concepções de como se articulará essa
formação básica comum, mas já dava sinais para a formação do estudante brasileiro atendendo
a alguns princípios de uma identidade nacional comum a todos, preocupando-se com “o que
aprender”.
Reafirmando essa mesma premissa básica, a LDB n. 9.394/96 foi norteada trazendo, no inci-
so IV do artigo 9º, indicações de que cabem à União:
[...] estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, competências e diretrizes para a Educação Infantil, o Ensino
Fundamental e o Ensino Médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos
mínimos, de modo a assegurar formação básica comum. (BRASIL, 1996, grifos
nossos)
Para dar conta dessa política educacional, foram elaborados os Parâmetros Curriculares
Nacionais – PCN (BRASIL, 1998a) para os Ensinos Fundamental (I e II) e Médio e, na sequência, o
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI (BRASIL, 1998b).
A elaboração dos PCN e dos RCNEI se deu em decorrência da demanda de um referencial
comum para a formação escolar no país, capaz de indicar aquilo que deveria ser ensinado e garan-
tido a todos os estudantes, numa realidade com características tão diferenciadas, sem promover
uma uniformização que descaracterize e desvalorize peculiaridades culturais e regionais (BRASIL,
2001, p. 36).
Diante desse contexto, mudanças mais efetivas voltaram à tona em 2014, com a apro-
vação do Plano Nacional de Educação (PNE) (para os anos de 2014 a 2024), embasado na Lei
n. 13.005/2014. O Plano reacendeu a urgência de uniformidade na educação brasileira com as re-
flexões acerca da Base Nacional Comum Curricular, destacando-se a Meta 7:
Meta 7 - fomentar a qualidade da Educação Básica em todas as etapas e moda-
lidades, com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem de modo a atingir
as seguintes médias nacionais para o Ideb: 6,0 nos anos iniciais do ensino
fundamental; 5,5 nos anos finais do ensino fundamental; 5,2 no ensino médio.
Estratégias:
7.1) estabelecer e implantar, mediante pactuação interfederativa, diretrizes pe-
dagógicas para a Educação Básica e a base nacional comum dos currículos,
Diretrizes curriculares para o Ensino Fundamental de nove anos 31
Como pudemos observar, várias são as concepções sobre como se constitui um currículo
nacional e uma parte diversificada dessas propostas curriculares, que foram sendo expressas nos
instrumentos normativos brasileiros e nos textos oriundos das políticas de currículo.
No entanto, diante de diferentes instrumentos normativos, cabe questionar: o que é a Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) e a parte diversificada?
A BNCC é fruto de amplo processo de debate e negociação com diferentes pessoas que
atuam no campo educacional e com a sociedade brasileira. É um documento normativo que es-
tabelece conhecimentos, competências e habilidades essenciais que todos os alunos da Educação
Básica devem aprender e desenvolver, ano a ano letivo, independentemente do lugar onde moram
ou estudam. Todos os currículos de todas as redes públicas e particulares do país deverão conter
esses conteúdos.
Deve-se acrescer, à parte comum, a parte diversificada, a ser construída em diálogo com a
primeira e com a realidade da escola, em atenção não apenas à cultura local, mas também às esco-
lhas de cada sistema educacional sobre as experiências e os conhecimentos que devem ser ofereci-
dos aos estudantes ao longo de seu processo de escolarização.
Mas a BNCC não é um currículo pronto, e sim um fio condutor que tem como finalidade
orientar a elaboração do currículo específico de cada escola, sem desconsiderar as particularidades
metodológicas, sociais e regionais de cada uma. Ela tem como propósito ajudar a diminuir as de-
sigualdades de aprendizado, pois todos os alunos terão a mesma oportunidade de aprender o que
é fundamental (BRASIL, 2017).
A figura a seguir demonstra a relação da BNCC com o currículo das escolas brasileiras.
Figura 1 – BNCC no contexto das escolas brasileiras
PPP das
escolas
Currículo
de redes
BNCC
Educação Infantil
Campos de experiências
Espaços, tempos,
Corpo, gestos e Traços, sons, cores e
O eu, o outro e o nós Oralidade e escrita quantidades, relações e
movimentos formas
transformações
Ensino Fundamental
Áreas do conhecimento
No primeiro ano de ensino regular, a continuidade representa uma transição, seja para aque-
la criança que se matricula pela primeira vez na escola, seja para aquela que já vem da Educação
Infantil. Em qualquer um dos casos, é necessário assegurar-lhes o direito à infância, pois os alunos
não deixarão de ser crianças pelo simples fato de estarem regularmente matriculados no Ensino
Fundamental de nove anos. O menor do 1º ano deve ter garantido seu direito à educação em um
espaço próprio e com rotinas apropriadas que viabilizem a edificação de conhecimentos básicos,
considerando as características e o desenvolvimento de sua faixa etária, integrando o cuidar e o
educar, que são princípios educacionais básicos nessa idade (BRASIL, 1998).
Ressaltamos que a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos tem como finalidade
dar continuidade ao trabalho desenvolvido nas escolas de Educação Infantil, ou garantir àque-
les que nunca frequentaram uma instituição escolar um início de escolaridade calmo e próspero.
A Educação Infantil tem objetivos próprios que devem ser alcançados na perspectiva do desenvol-
vimento da criança, respeitando, cuidando e educando em um tempo singular da primeira infân-
cia. No Ensino Fundamental os estudantes de 6 anos de idade, assim como os de 7 anos, precisam
de uma proposta curricular que atenda às suas características, potencialidades e necessidades espe-
cíficas. Isso é imprescindível para seu desenvolvimento e aquisição de conhecimentos (SANTOS;
VIEIRA, 2006).
A unidade escolar deverá, então, assegurar um trabalho pedagógico que envolva experiên-
cias em diferentes linguagens e suas expressões, buscando uma metodologia que favoreça o desen-
volvimento social, afetivo e cognitivo dessas crianças.
Por sua vez, sabemos que as atividades lúdicas provocam na criança “[...] a espontaneidade,
a criatividade e a progressiva aceitação das regras sociais e morais e, por meio dela, surge o desen-
volvimento da inteligência, passando a aprender de forma progressiva, como representar simboli-
camente a realidade que a cerca” (ARAÚJO, 2018).
Diante desses pressupostos, questiona-se: quais são as características da criança na faixa
etária de 6 anos que passou a integrar o Ensino Fundamental com a duração de nove anos?
Os menores nessa idade possuem um contingente extenso de conhecimentos construídos,
baseados nas experiências vivenciadas em seu dia a dia. Têm grande capacidade de estabelecer
Diretrizes curriculares para o Ensino Fundamental de nove anos 35
novas e distintas relações afetivas e também se veem atraídos cada vez mais pelas práticas coletivas,
o que aumenta suas aptidões sociais (ARAÚJO, 2018).
Nesse período a capacidade de representação de símbolos está bem definida e se compro-
va por meio da linguagem, da imaginação, da imitação e da brincadeira em distintas situações.
A criança faz uso na sua prática diária de uma ampla coletânea de símbolos, signos, imagens e con-
ceitos para ser utilizado na sua ligação com o seu ambiente social, afetivo e cognitivo. Embora seja
um procedimento extenso, a competência de conceituação já aparece nessa fase, permitindo que
ela estabeleça vínculos e generalizações. Há um desenvolvimento acentuado de habilidades, como
a atenção e a memória, que se tornam mais conscientes e intencionais. A curiosidade e a demanda
de compreender o mundo que a cerca são visíveis, ainda que as associações e as relações sejam
regidas por critérios peculiares. A consideração desse modo próprio de pensar o mundo, quando
incorporada pelos educadores, possibilita conhecer a criança, planejar atividades significativas,
propiciar uma produção infantil rica e original e ampliar seus conhecimentos (ARAÚJO, 2018).
Essas crianças, tendo frequentado ou não a Educação Infantil, chegarão ao 1° ano com um
conjunto de conhecimentos adquiridos, sobre os quais o docente terá de refletir muito para poder
elaborar suas atividades pedagógicas. Considerar a criança dessa faixa etária como competente e
apta é requisito fundamental para a efetivação de atividades educativas de qualidade (ZABALZA,
1998, p. 27).
O trabalho realizado no 1º ano do Ensino Fundamental deve adequar-se aos níveis de de-
senvolvimento das crianças de 6 anos de idade, proporcionando as mais diversas experiências para
que possam mobilizar seus conhecimentos. Conforme evidenciado pelo Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), elaborado pelo MEC,
É, portanto, função do professor considerar, como ponto de partida para sua
ação educativa, os conhecimentos que as crianças possuem, advindos das mais
variadas experiências sociais, afetivas e cognitivas a que estão expostas. Detectar
os conhecimentos prévios não é uma tarefa fácil. Implica que o professor estabe-
leça estratégias didáticas para fazê-lo. A observação acurada das crianças é um
instrumento essencial neste processo. Os gestos, movimentos corporais, sons
produzidos, expressões faciais, as brincadeiras, toda forma de expressão,
representação e comunicação devem ser consideradas como fonte de conhe-
cimento para o professor saber o que a criança já sabe. A prática educativa
deve buscar situações de aprendizagens que produzam contextos cotidianos nos
quais, por exemplo, escrever, contar, ler, desenhar, procurar uma informação,
etc. tenha função real. (BRASIL, 1998b, p. 41, grifos nossos)
Nessa perspectiva, os objetivos gerais para essa faixa etária devem desenvolver na criança
uma imagem positiva de si mesma, para que ela possa descobrir e conhecer progressivamente suas
potencialidades físicas, cognitivas e sociais e tenha a oportunidade de brincar expressando emo-
ções, conhecimentos e imaginação. Incluem-se nas expectativas de aprendizagem dois eixos que
não figuram com destaque nas séries iniciais do Ensino Fundamental: movimento, jogar e brincar
e cuidar de si e do outro. Entende-se que esses conteúdos são um caminho e uma sugestão para
que a criança se desenvolva, aprenda, adquira confiança em suas competências e se expresse em
diferentes linguagens advindas das seguintes áreas de conhecimento:
• Língua Portuguesa - As crianças do 1º ano têm o direito de aprender e de-
senvolver competências em comunicação oral, em ler e escrever de acordo com
suas hipóteses. Para isto é necessário que a escola de Ensino Fundamental pro-
mova oportunidades e experiências variadas para que elas desenvolvam com
confiança cada vez mais crescente todo o seu potencial na área e possam se
expressar com propriedade por meio da linguagem oral e da escrita.
•Matemática - As crianças do 1º ano têm o direito de usar seus conhecimentos
e habilidades para resolver problemas, raciocinar, calcular, medir, contar,
localizar-se, estabelecer relações entre objetos e formas. Para isto é necessário
que a escola de Ensino Fundamental promova oportunidades e experiências
variadas para que elas desenvolvam com confiança cada vez mais crescente todo
o seu potencial na área.
• Ciências Sociais e Naturais (História, Geografia e Ciências) - As crianças do
1º ano do Ensino Fundamental têm o direito de exercer seu pensamento, suas
hipóteses, conhecendo a vida dos seres vivos e sua relação com o ambiente, os
fenômenos naturais e sociais e as transformações que deles decorrem. Para isso
a escola de Ensino Fundamental precisa oferecer diferentes oportunidades
para que a criança pense, estabeleça relações entre o ambiente os seres vivos
e os fenômenos naturais e sociais, valorize as diferenças entre os povos, para
que pesquise com sentido e significado e desenvolva ações para garantir seu
bem-estar, o bem-estar do outro e os cuidados com o ambiente.
• Artes - As crianças do 1º ano têm o direito de conhecer a produção artística,
expressar sua criatividade compartilhando: pensamentos, ideias e sentimen-
tos também por meio de atividades de exploração envolvendo artes visuais
e música, reconhecidas como linguagem e conhecimento. Para isto a escola
de Ensino Fundamental deverá oferecer diferentes situações de contato com a
produção artística, possibilitando o fazer e o apreciar.
• Movimento, jogar, brincar / Cuidar de si e do outro - As crianças do 1º
ano do Ensino Fundamental têm o direito a se movimentar cada vez mais com
propriedade e segurança, utilizando o corpo para expressar-se, a brincar crian-
do enredos e papéis e a jogar cotidianamente na escola. Para isso a escola de
Ensino Fundamental precisa oferecer diferentes oportunidades para que a
criança se exercite, valorize a atividade física, adquira autoconfiança, brin-
que só ou com seus pares e jogue em diferentes momentos. (BRASIL, 2009,
grifos nossos)
As atividades diversificadas para as crianças dessa faixa etária, com a inserção, por exemplo,
de cantos, possibilitam diferentes situações de aprendizagem, como:
Participação em situações de brincadeiras e jogos nas quais se podem escolher
parceiros, materiais, brinquedos, etc.;
Diretrizes curriculares para o Ensino Fundamental de nove anos 37
Por sua vez, a avaliação no Ensino Fundamental de nove anos deve ser um processo formati-
vo, contínuo, que não demanda situações distintas das cotidianas. Portanto, o que aqui se mostrou
são algumas abordagens para que os professores possam melhor analisar e avaliar o que se passa na
instituição escolar da qual fazem parte, particularmente o avanço dos alunos dessa modalidade de
ensino em relação às expectativas de aprendizagem.
A formação continuada dos professores precisa fazer parte da rotina institucional. Os profes-
sores devem acompanhar as perspectivas educacionais atuais e participar da construção do projeto
político-pedagógico da escola em que atuam, refletindo e compartilhando coletivamente, criando
condições para que o trabalho desenvolvido seja constantemente debatido, avaliado e assumido
por todos os envolvidos (VILLAS BOAS, 2004).
Por fim, constata-se que a organização do trabalho pedagógico para essa faixa etária deverá
favorecer a vivência e a experimentação, o ensino globalizado, a participação ativa da criança, a
magia, a ludicidade, o movimento, o afeto, a autonomia e a criatividade infantil.
Atividades
1. Quais fatores levaram à implantação do Ensino Fundamental de nove anos de escolaridade?
3. O conteúdo do 1° ano do Ensino Fundamental de nove anos deve ser igual ao trabalhado no
último ano da pré-escola? Por quê?
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Neste capítulo, vamos apresentar de forma sucinta uma reflexão sobre as principais mu-
danças educacionais ocorridas no Ensino Médio, no decorrer de várias décadas. A literatura
pertinente tem demonstrado que a trajetória histórica dessa modalidade de ensino no Brasil
sempre esteve atrelada a uma educação escolarizada, baseada em políticas educacionais elitis-
tas e excludentes. Essa educação originou-se no período colonial, com o propósito de preparar
a elite aristocrática, baseada no acesso ao ensino propedêutico, reproduzindo as relações de
domínio e poder. Paralelamente, reservou ao trabalhador o ingresso a um ensino precário e
fragmentado, a fim de prepará-lo para o trabalho manual. Esses pressupostos sempre privile-
giaram uma política de cunho desenvolvimentista e, sob esse viés, o Ensino Médio constitui
o ponto nevrálgico da dualidade ainda existente no sistema educacional brasileiro. Nesse con-
texto, cabe questionarmos: Os descompassos anteriormente empreendidos pelo Poder Público
estão presentes no “novo Ensino Médio”?
No entanto, em 1808, quando Portugal foi invadido pelas tropas francesas, a família real foi
obrigada a vir para o Brasil, provocando uma reestruturação em território nacional. Com a chega-
da do império português no Brasil, desencadearam-se mudanças significativas, que representaram
avanços na estrutura administrativa e cultural brasileira, em prol do bem-estar da família real e da
Corte portuguesa em sua estadia no país.
Nessa época, foram fundadas várias instituições públicas na modalidade designadas a ensinar in-
divíduos a executarem atividades com competência no Exército e na gestão do Estado, como as Escolas
de Medicina, as academias militares – Academia Real da Marinha (1808) e Academia Real Militar (1810)
–, a Biblioteca Real (1810), além da criação da Impressa Régia (1808) (MANFREDI, 2002, p. 74-76).
Vale destacar que a educação brasileira nessa época era direcionada exclusivamente para
os filhos dos nobres portugueses e dirigentes do país, como proprietários de terras e uma camada
intermediária, surgida da ampliação dos quadros administrativos e burocráticos. Havia a preocu-
pação em ofertar à elite aristocrática um ambiente com mais cultura e educação, com um sistema
organizado para que eles pudessem concluir seus estudos no Brasil, o que anteriormente era rea-
lizado na Europa. Por outro lado, a educação dos trabalhadores destinava-se apenas a atender o
ofício na lavoura e os serviços gerais. Essa postura é característica das sociedades capitalistas da
época, um ranço que permeia a educação brasileira ainda na atualidade.
Segundo Soares (2003, p. 22) observa:
O ensino técnico profissional no Brasil tem sua história marcada por uma con-
cepção dualista/separatista que remonta ao Império, onde aos cegos, surdos e
aleijados, num primeiro momento, incorporando-se depois os menores caren-
tes, era destinado um ensino profissionalizante, com o sentido de ofertar-lhes
como uma benesse do Estado, uma possibilidade de inclusão à força de trabalho.
(grifos nossos)
Na sequência, ocorreu a Independência do Brasil em 1822, e com esse evento foi promul-
gada a primeira Constituição Brasileira, em 1824, que tinha como proposta garantir a educação
primária de qualidade para todos os cidadãos em território nacional (BRASIL, 1824). Na prática,
porém, isso não se concretizou, em decorrência da falta de planejamento, da carência de disponi-
bilidade de recursos financeiros, materiais e estruturas adequadas por parte do governo imperial.
Em face dessa demanda, a competência educacional do governo federal foi afastada por
meio da instituição do Ato Adicional de 1834, e atribuiu-se às províncias a criação e a manutenção
dos ensinos primário e secundário. Contudo, verificou-se o seguinte resultado:
[...] o ensino, sobretudo o secundário, acabou ficando nas mãos da inicia-
tiva privada e o ensino primário foi relegado ao abandono, com pouquíssi-
mas escolas, sobrevivendo à custa do sacrifício de alguns mestres escolas, que,
A reforma do Ensino Médio 43
Um fato relevante na época imperial foi a inauguração do Colégio Pedro II, em 1837, que se
converteu em um paradigma de educação escolar para todo o Brasil. No entanto, a carência finan-
ceira e o distanciamento das atribuições do poder central colaboraram para preservar o mesmo
cenário da circunstância caótica em que se encontrava a educação no país.
Com a Proclamação da República, em 1890, não houve alterações estruturais nos segmentos
educacionais, mantendo-se a dualidade na educação brasileira, com o ensino propedêutico para as
elites e a educação profissional para o povo (MANFREDI, 2002, p. 79-80).
Já no desenrolar da década de 1930, entretanto, com a inclusão do país no paradigma de
expansão capitalista, a educação assumiu a natureza de mecanismo realizador de um projeto de
desenvolvimento econômico.
A promulgação da Constituição Federal de 1934 introduziu ideologias educacionais funda-
mentadas no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932. Entre elas, citamos a proposta
dos intelectuais liberais da época que defendiam a universalização da educação, que deveria ser ex-
tensiva a todos os indivíduos, independentemente da classe social à qual pertencessem. O mesmo
aparato legal sinalizava que a educação brasileira deveria ser adepta da ideia de um ensino público
único, gratuito, obrigatório e laico para todos os cidadãos brasileiros. Mas, em 1937, com o Golpe
de Estado instituído por Getúlio Vargas, aprovou-se a Constituição Federal de 1937, impedindo a
concretização dessas ideias e a instituição da escola única (ARANHA, 2002, p. 251).
Após a implantação das Leis Orgânicas da Educação Nacional, editadas entre 1942 a 1946,
quando entrou em vigência a Reforma Capanema, estabeleceram-se as mudanças na educação in-
dustrial, comercial e ensino secundário, que procuravam atender as demandas de um novo modelo
de economia, caracterizado pela transição entre o modelo agroexportador e o urbano industrial.
A partir de então, o ensino secundário foi escolhido para estruturar a educação dos mandatários
brasileiros. Com relação ao ensino profissional, foram indicados, respectivamente: o curso primá-
rio para a educação agrícola; o curso secundário para a educação fabril; o curso terciário para a
educação comercial; e o curso normal, com a finalidade de capacitar docentes (MANFREDI, 2002).
Diante desses pressupostos, foram elaboradas as bases do denominado Sistema S, começan-
do como Senai (1942) e o Senac (1943) e, posteriormente, outras organizações de ensino profissio-
nal, sistematizadas e administradas pelas associações patronais.
Nessa perspectiva, a Reforma Capanema, em síntese, legitimou
as propostas dualistas que visam formar intelectuais por um lado (ensino
secundário) e trabalhadores por outro (cursos técnico-profissionais), acir-
rando, assim o caráter discriminatório atribuído ao ensino profissional, que
continuou não tendo acesso amplo ao ensino superior. Assim os egressos do
ensino-técnico industrial só poderiam se candidatar aos cursos de engenha-
ria, química industrial, arquitetura, matemática, física e desenho. (OLIVEIRA,
2003, p. 33, grifos nossos)
44 Legislação Educacional
A reforma prevaleceu até a promulgação da primeira LDB, Lei nº 4.024/1961, com a qual
foi criado o ensino primário (de 4 anos) e o secundário (de 7 anos). Este último estava subdivi-
dido em curso ginasial (de 4 anos) e colegial (de 3 anos), sendo que “Para o ingresso no ensino
secundário, curso ginásio, era necessário a aprovação em um exame de admissão” (QUEIROZ
et al., 2009, p. 3). No entanto, essa normatização legal, apesar de proporcionar incentivos às
classes populares, com a educação profissional, para que pudessem ingressar no ensino supe-
rior, acentuava as ideologias de poder que situavam a educação formal como prioridade para
responder às exigências do segmento fabril.
A Lei 4.024/61 reforçou que a educação pública era um direito de todos os brasileiros, mas
o ensino escolar só era obrigatório no curso primário (BRASIL, 1961). O nível de ensino colegial,
como era denominado na época o atual Ensino Médio, era ofertado por instituições públicas, po-
rém, não era legalmente exigido.
A segunda LDB, Lei n. 5.692/1971 (BRASIL, 1971), foi elaborada no auge do governo militar
e instaurada em plena fase de expansão acelerada da economia do país, proporcionando nesse pe-
ríodo transformações no arcabouço educacional. Com esse dispositivo legal, “o ginásio e o primá-
rio foram unificados ao primeiro grau com oito anos de duração, e o que antes era denominado co-
legial transformou-se em segundo grau, ainda com três anos de duração” (QUEIROZ, 2009, p. 3).
O ensino secundário apresentava então duas finalidades: 1) humanista, que tinha como foco
preparar para o prosseguimento dos estudos; e 2) econômico, para habilitar o aluno para o exercí-
cio de uma profissão técnica. Nesse período, determinou-se que o curso referente à última etapa da
educação básica passasse a ser relacionado aos saberes e competências técnico-profissionais, com
o objetivo de capacitação para o universo de determinados ofícios. Essa resolutiva foi catastrófica
e só teve serventia para “conter o aumento da demanda de vagas aos cursos superiores” e excluir
ainda mais os estudantes do acesso ao ensino superior, visto que seriam apenas mão de obra para
o mercado de trabalho (KUENZER, 1997).
Assim, a Lei n. 5.692/71 foi revogada pela Lei 7.044/82 (BRASIL, 1982), estabelecendo o de-
senvolvimento da competência profissional sistematizada para a prática do ofício, porém de forma
facultativa, determinada pelas próprias escolas. Com essa deliberação, esvaziou-se a grade curricu-
lar regular de conhecimentos relacionados à qualificação integral do estudante. A educação pública
acabou perdendo sua essência, não atingindo o objetivo de preparar os alunos para a modalidade
técnica conciliável com as demandas do universo profissional (KUENZER, 1997).
Com a mudança do panorama produtivo mundial e o início do processo de globalização
na década de 1980, é proclamada a Constituição Federal de 1988. O texto legal determina que o
Estado tem o dever de garantir uma educação de qualidade para todas as modalidades de ensino
(BRASIL, 1988). Porém, em 1996, o ensino secundário é novamente reformado, com a publica-
ção da LDBEN n. 9.394/96, que estabeleceu a nomenclatura Ensino Médio (LINS, 2007, p. 15).
Essa legislação também inaugurou um conjunto de reformas, abrangendo o Ensino Médio, e, ao
mesmo tempo, colocando-o como etapa final da chamada Educação Básica do país o que significou
um grande avanço em relação a sua identidade, conforme preconiza o art. 35 (BRASIL, 1996).
A reforma do Ensino Médio 45
Além disso, a LDBEN de 1996 implantou uma nova modalidade de educação para o
trabalho, prevista no art. 42, com a formação de trabalhadores por meio de cursos técnicos
desvinculados dos níveis de ensino. Além disso, proporcionou as bases para a autorização de
um conjunto de leis educacionais, como é o caso do Decreto n. 2.208/1997 (BRASIL, 1997),
que intensificou o poderio das instituições particulares em relação aos caminhos da educação
profissional no Brasil, e o Decreto n. 5.154/2004 (BRASIL, 2004), que representou o fortaleci-
mento desses interesses (TUPY, 2007).
Dessa forma, a LDBEN promoveu a descentralização educacional e a independência das ins-
tituições de ensino, além de estabelecer um procedimento contínuo de mensuração da educação.
Ela proporcionou, assim, uma preparação basilar para o prosseguimento dos estudos do aluno, sua
introdução no mundo do trabalho e o desempenho diário da prática da cidadania.
Face ao exposto, constata-se que o Ensino Médio brasileiro deve fazer frente aos paradigmas
que perpetuaram desigualdades e problemas de acesso e permanência do aluno na escola e que,
ainda hoje, não deram conta de superar a fragilidade da estrutura educacional, presente a cada
tentativa de reformulação do ensino.
Ensino Médio
Ideb Observado Metas
2005 2007 2009 2011 2013 2015 2007 2009 2011 2013 2015 2021
Total 3.4 3.5 3.6 3.7 3.7 3.7 3.4 3.5 3.7 3.9 4.3 5.2
Dependência Administrativa
Esta-
3.0 3.2 3.4 3.4 3.4 3.5 3.1 3.2 3.3 3.6 3.9 4.9
dual
Privada 5.6 5.6 5.6 5.7 5.4 5.3 5.6 5.7 5.8 6.0 6.3 7.0
Pública 3.1 3.2 3.4 3.4 3.4 3.5 3.1 3.2 3.4 3.6 4.0 4.9
Os resultados marcados em cinza referem-se ao Ideb que atingiu a meta. Fonte: SAEB e Censo escolar.
Fonte: INEP, 2016.
46 Legislação Educacional
O propósito brasileiro é atingir a nota 6.0 nessa modalidade de ensino até o ano de 2021,
equivalente à de nações desenvolvidas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Suécia (QEDU ACADEMIA,
2018).
Dados do Censo Escolar/Inep (2016) apontam haver no Ensino Médio aproximadamente
8 milhões de estudantes matriculados, abrangendo alunos das redes pública e privada (QEDU
ACADEMIA, 2018). Segundo o Ministério da Educação, a taxa de evasão nessa modalidade de
ensino é de 6,8%, já a de repetência é de 11,5% (BRASIL, 2016b).
Diante dessa realidade, a Medida Provisória n. 746, de 2016 (BRASIL, 2016a), que foi con-
vertida em Lei n. 13.415/2017, em 16 de fevereiro de 2017 (BRASIL, 2017), instituiu a Política
de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral, aumentando a
permanência dos jovens na escola para os períodos da manhã e tarde. Com isso, modificaram-se
também as regras de financiamento à educação pública, permitindo parcerias com o setor priva-
do e que parte da formação dos estudantes de escolas públicas seja feita por instituições privadas
(SCHEIBE, 2017).
Assim, as principais mudanças do Ensino Médio, última etapa da Educação Básica brasilei-
ra, instituídas com o aparato da Lei n. 13.415, são:
Resumindo, a estrutura curricular do novo Ensino Médio será norteada pela Base Nacional
Comum Curricular (BRASIL, 2016b), obrigatória e comum a todas as escolas brasileiras, públicas
e privadas. A BNCC definirá as competências, as habilidades e os conhecimentos essenciais que
deverão ser oferecidos a todos os estudantes na parte comum do currículo, em um mínimo de 200
dias letivos. De maneira progressiva, as escolas de Ensino Médio passarão ao sistema de ensino
integral, com ampliação da carga horária anual, inicialmente com 1.000 horas anuais, até atingirem
o total de 1.400 horas de ensino, abrangendo os cinco segmentos de conhecimento.
Cada sistema de ensino organizará esses segmentos, e as respectivas competências e habi-
lidades esperadas do estudante, segundo seus próprios critérios. Poderá haver uma integração de
componentes curriculares da base comum com as áreas de conhecimento e, após a conclusão de
um itinerário formativo, os estudantes poderão cursar outro segmento, se houver vaga. Para tanto,
cada estado, município e o Distrito Federal organizarão os seus currículos considerando a BNCC e
as demandas dos adolescentes, que terão mais chances de fazer suas próprias escolhas.
Por outro lado, constatamos que a educação brasileira nunca fez uso de uma medida pro-
visória para conseguir reformar uma modalidade de ensino – nem na época crítica da ditadura
militar utilizou-se desse instrumento legal, a não ser a imposição de disciplinas como Educação
Moral e Cívica. A lei de reforma dos ensinos de 1º e 2º graus, Lei n. 5.692/1971, que afirmava ser
a escola de cunho tecnicista, obedeceu aos trâmites legais, apesar da óbvia limitação de discussões
por parte da comunidade educacional (BRASIL, 1971).
Diante dos referidos fatos, refletiremos a seguir sobre as principais mudanças que implica-
ram na redação final do novo Ensino Médio.
Com relação à proposta de ensino em tempo integral, apresentamos algumas preocupações.
Primeiramente, há uma dificuldade em implementar essa reforma sem antes considerarmos que
atualmente as escolas públicas estão com as salas de aulas lotadas, falta de professores nas diversas
áreas, laboratórios desprovidos de materiais pertinentes, falta de acesso e manutenção de computa-
dores, ausência ou precariedade de salas de vídeo e bibliotecas, que em muitas instituições encon-
tram-se em condições insatisfatórias, sendo um entrave para a efetivação de práticas pedagógicas
adequadas (OKUBO, 2012).
Portanto, com essa ampliação, a maioria das instituições escolares públicas precisariam de
no mínimo o dobro de espaços físicos e novas instalações, a fim de atender as demandas de uma
escola de tempo integral. Também é necessário aumentar o número de profissionais que atuam no
espaço escolar e o acesso a diferentes tecnologias, a fim de inserir os alunos no universo científico
e profissional (HORN et al., 2016).
Além disso, a reforma defende uma escola de tempo integral, mas não apresenta uma visão
holística de educação. O que está sendo proposto é a ampliação da jornada escolar, com uma eleva-
ção de 75% da carga horária concentrada na prática de ministrar aulas, com uma visão produtivista
da aprendizagem. Não é produtivo apenas mantermos os jovens na escola, se não utilizarmos de
práticas inovadoras, com metodologias ativas que atendam as atuais características dos alunos que
já nasceram na era tecnológica.
Nesse sentido, a segunda preocupação é termos clareza sobre o projeto pedagógico que irá
sustentar a maior permanência dos adolescentes em uma escola considerada de qualidade, para
que não se corra o risco de que o aumento do número de horas-aula signifique uma preparação
para a realização das provas e testes externos padronizados, mantendo um currículo de cunho
preparatório e conteudista.
Assim, propor o Ensino Médio em tempo integral é uma ótima estratégia, mas se faz neces-
sário resolver a falta de estrutura física, material, de profissionais adequados, e também colocar em
prática um currículo que corresponda a um ensino global de qualidade.
Por outro lado, a Lei n. 13.415/2017, em seu artigo 1° (BRASIL, 2017), assim como a BNCC
(BRASIL, 2016b), não deixam claro o que será feito em relação aos cursos noturnos, direcionados
para alunos trabalhadores, que ficaram excluídos da reforma, ao mesmo tempo em que um gru-
po de privilegiados estudará em instituições escolares de tempo integral, reforçando o histórico
50 Legislação Educacional
caráter dual da educação brasileira. Ou seja, essas determinações legais, além de ferirem o direito
ao conhecimento para todos os estudantes que se encontram no Ensino Médio público, poderão
provocar uma segregação escolar, criando percursos formativos e curriculares diferenciados para
os alunos que estudam à noite e para os que podem permanecer em período integral na escola,
inclusive continuando sua formação no nível superior.
Outra preocupação diz respeito à própria divisão do currículo em cinco ênfases ou itinerá-
rios formativos, de modo que cada estudante curse apenas uma delas. Ressaltamos que tal proposta
não obriga as redes de ensino a oferecer concomitantemente os cinco itinerários formativos, logo
os estudantes não terão o direito real de escolha sobre qual percurso seguir, haja vista que a distri-
buição desses itinerários pelas escolas públicas estará a cargo dos sistemas estaduais de educação
(PAULA, 2017).
Nessa linha de raciocínio, é importante questionarmos em relação às possibilidades de es-
colha a dúvida sobre a capacidade que as escolas terão de ofertar todas as opções de formação,
pois nada garante que os colégios terão estrutura (física, material, docentes etc.) para ofertá-las.
De acordo com a professora Ângela Soligo, do departamento de Psicologia Educacional da Faculdade
de Educação da Unicamp, “Na prática, isso vai limitar as possibilidades de escolha” (ROSSI, 2016).
Outro ponto de vista a ser questionado é da busca por uma educação integral sem propor-
cionar avanços e medidas que ampliem a qualidade de ensino, ancorando as mudanças do Ensino
Médio apenas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e na centralização do currículo no
ensino obrigatório de Português, Matemática e Inglês durante os três anos. Não serão ofertadas na
íntegra as disciplinas de Arte, Educação Física, Sociologia e Filosofia, que continuam como estudos
compulsórios, porém seus conteúdos podem ser diluídos em outras áreas de conhecimento, ou
trabalhados como temas transversais. Corre-se o risco de que aos poucos esses conteúdos desapa-
reçam do currículo de algumas escolas, contribuindo para uma formação tecnicista, extremamente
voltada para o mundo do trabalho, e não para a vida do estudante (PAULA, 2017).
Nessa perspectiva, a formação integral, crítica e cidadã, que assegure aos estudantes o pleno
desenvolvimento intelectual, afetivo, físico, estético, moral e social, com base em princípios éticos
e políticos que oportunizem sua emancipação, ainda é uma utopia no Ensino Médio. Além disso,
essa medida vai impactar diretamente na carreira dos docentes dessas áreas não ofertadas na ínte-
gra, pois traz redução de postos de trabalho e de vagas em concursos públicos na rede pública de
ensino (LINO, 2017).
Por fim, constatamos que o grande desafio da reforma no ensino é garantir uma formação
de qualidade aos estudantes do Ensino Médio das escolas públicas, diante de um currículo frag-
mentado, falta de formação continuada de professores nas diversas áreas, carência de projetos de
pesquisas científicas, más condições de infraestrutura e das incertezas que envolvem as políticas
públicas da educação no país.
A reforma do Ensino Médio 51
[...]
Acreditamos e defendemos, por um lado, que a escola seja o espaço prioritário para a consoli-
dação dos valores democráticos, republicanos e laicos, que impulsionam grandes transforma-
ções. Mas sabemos, por outro lado, que ela vive sob constantes críticas, e que ela não significa
um espaço de redenção, pois está inserida dentro das lógicas políticas, econômicas, sociais e
culturais de cada tempo.
Nesse sentido, retomo ainda que genericamente, a discussão em torno de um único ponto da
reforma do Ensino Médio: a passagem de uma estrutura disciplinar comum no país, para um
sistema supostamente flexível e consoante com as vontades dos estudantes [...].
Parece-me que estamos diante de um quadro com longas implicações, mas que ignora
situações anteriores igualmente graves e que deveriam ser debatidas de forma mais ampla.
Qualquer proposta de mudança não deve ficar restrita a currículos com maior ou menor fle-
xibilidade. Estudantes, à medida que possuem maior autonomia, identificam que o discurso
sobre o papel da escola está ancorado mais na tradição do que na efetividade do que vivenciam
concretamente.
As escolas não possuem mais uma correlação entre os saberes apresentados aos estudantes e
o lugar social que ocuparão em suas vidas profissionais. Os vínculos são, na atualidade, mais
complexos e a obtenção de um certificado de Ensino Médio não é um atrativo ou passaporte
para um futuro profissional mais exitoso. Podemos pensar e, deveríamos recuperar, que essa
não é a função primordial da escola, mas apenas um desdobramento de suas atividades ao
abrir um conjunto de referências sobre culturas, ciências e saberes. A escola [...] deve ser com-
preendida no impacto que provoca no modo como as crianças e jovens encaram o mundo.
[...]
Atividades
1. Qual o aspecto em comum que foi contemplado nas LDBs Lei n. 4.024/1961 e Lei
n. 5.692/1971?
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4
Referencial Curricular Nacional
para a Educação Infantil
Por sua vez, Montenegro (2000) coloca o cuidado como um dos elementos centrais, tan-
to da educação quanto da formação da educadora de crianças pequenas, em consonância com
o documento do RCNEI, que reforça:
O fator cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das crian-
ças, que quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importan-
tes sobre a qualidade do que estão recebendo. Os procedimentos de cuidado
também precisam seguir os princípios de promoção à saúde. Para se atingir os
objetivos dos cuidados com a preservação da vida e com o desenvolvimento
das capacidades humanas, é necessário que as atitudes e procedimentos estejam
baseados em conhecimentos específicos sobre o desenvolvimento biológico,
emocional e intelectual das crianças, levando em consideração as diferentes
realidades socioculturais. (BRASIL, 1998, p. 25)
Dessa forma, o ato de cuidar está relacionado aos cuidados com os aspectos biológicos do
corpo, com a qualidade da alimentação e com a saúde física, exigindo que os profissionais este-
jam atentos para qualquer imprevisto que possa vir a acontecer com as crianças. Ou seja, as de-
mandas das crianças devem ser o foco principal, de maneira a promover o desenvolvimento das
suas capacidades.
Por sua vez, no que se refere ao ato de educar, é necessário que o educador crie situações
significativas de aprendizagem. Se quiser alcançar o desenvolvimento de habilidades cognitivas,
psicomotoras e socioafetivas, é fundamental que a formação da criança seja vista como um ato
inacabado, sempre sujeito a novas alterações, a novos recuos, a novas tentativas, pois:
Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e
aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o
desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar
com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o aces-
so, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural.
Neste processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades
de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocio-
nais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças
felizes e saudáveis. (BRASIL, 1998, p. 23)
Com base nesses pressupostos, podemos perceber que cuidar e educar são aspectos a se-
rem tratados de forma articulada quando se refere ao processo formal de educação das crianças.
Assim, “[...] educar é abranger todos os aspectos da vida do aluno, desde o atendimento de suas
necessidades mais básicas, primárias e elementares, até as mais elaboradas e intelectualizadas”
(SIGNORETTE et al., 2002, p. 6).
O conceito de cuidar, portanto, deve ser considerado relevante, tanto pelos gestores quan-
to pelos professores, estabelecendo a instituição escolar como um ambiente que, além de educar,
também cuida. Nesse sentido, é interessante destacar que o cuidar na Educação Infantil vai além de
cuidados primários como higiene, alimentação e sono, incluindo a preocupação com a organização
do espaço físico – por exemplo, ventilação dos ambientes, limpeza, segurança, higiene dos equipa-
mentos –, a atenção aos materiais ofertados – como os brinquedos –, o respeito às manifestações
da criança e, principalmente, às suas demandas afetivas, que são essenciais para seu bom desenvol-
vimento (SIGNORETTE et al., 2002).
58 Legislação Educacional
Em consonância com essas diretrizes norteadoras, a categoria identidade nos remete à ideia
de diferenciação: “[...] é uma marca de diferença entre as pessoas, a começar pelo nome, seguido de
todas as características físicas, de modos de agir, de pensar e da história pessoal” (BRASIL, 1998).
Construir a identidade implica conhecer os próprios gostos e preferências e dominar habilidades
e limites, sempre levando em conta a cultura, a sociedade, o ambiente e as pessoas com quem se
convive. Esse autoconhecimento acontece ao longo de toda a vida, mas é fundamental que alguns
conhecimentos sejam adquiridos ainda na creche (BRASIL, 1998, p. 13).
Depois de nascer, o bebê permanece um bom tempo junto da mãe, não diferenciando o
seu próprio corpo do dela e os limites de seus desejos. Isso significa que ele ainda não é capaz de
reconhecer suas próprias fronteiras e os limites do outro. Por isso, o desenvolvimento da criança
nos primeiros anos de vida está intimamente ligado a experiências de frustração, pelas quais terá
de passar para compreender-se como um ser único em meio a outros indivíduos igualmente sin-
gulares, ou seja, um ser com identidade própria. O cerne da construção da identidade está nas
pessoas com as quais a criança estabelece vínculos. A família é o primeiro canal de socialização, e,
em seguida, tão importante quanto, está a instituição escolar. Assim, as crianças vão, gradualmen-
te, percebendo-se e entendendo os outros como seres diferentes, permitindo que possam acionar
seus próprios recursos, o que representa uma condição essencial para o desenvolvimento da sua
autonomia (BRASIL, 1998, p. 15).
Por sua vez, segundo o Referencial Curricular, a autonomia “[...] é a capacidade de se con-
duzir e de tomar decisões por si mesmo, levando em conta regras, valores, a perspectiva pessoal,
bem como a perspectiva do outro” (BRASIL, 1998, p. 16). Mais do que autocuidado, saber se vestir,
alimentar-se, escovar os dentes ou calçar os sapatos, ter autonomia significa ter vontade própria e
ser competente para atuar no mundo em que vive. Portanto, é na creche que a criança de até 3 anos
de idade conquista suas primeiras aprendizagens, adquire a linguagem, aprende a andar, forma o
pensamento simbólico e se torna um ser sociável.
Entretanto, sabemos que na fase dos 2 aos 3 anos a imitação entre as crianças pode ser
uma forma privilegiada de comunicação e para brincar. A oferta de múltiplos brinquedos
do mesmo tipo facilita essa interação. A imitação é resultado da capacidade da criança de
observar e aprender com os outros e de seu desejo de se identificar com eles, ser aceita e dife-
renciar-se. É entendida como reconstrução interna e não meramente uma cópia ou repetição
mecânica (BRASIL, 1998, p. 21).
Na faixa etária de 0 a 3 anos, explorar o eixo identidade e autonomia envolve ajudar os pe-
quenos a desenvolver o reconhecimento da própria imagem. O objetivo dessa prática é que eles se
identifiquem como seres únicos, com corpo, hábitos e preferências próprias. Ao mesmo tempo, é
desejável que os bebês ganhem independência progressiva para poder realizar ações cotidianas,
como brincar e se expressar por meio da linguagem e nas atividades de cuidado com higiene e
alimentação. O caminho privilegiado para conseguir esse desenvolvimento são as atividades de
interação, que possibilitam a criação de vínculos afetivos e o aprendizado das regras para a vida em
sociedade (BRASIL, 1998, p. 26).
60 Legislação Educacional
Trabalhando a construção desse eixo norteador na creche, deve-se utilizar, por exemplo, um
espelho, que é elemento-chave para a construção progressiva do eu. Espelhos, portanto, são ele-
mentos imprescindíveis para a construção da identidade e devem estar em todas as salas da creche.
Eles ajudam as crianças a ter consciência dos limites do próprio corpo e a observar os próprios
movimentos, diferenciando-se dos colegas e do ambiente. É preciso mantê-los na altura dos peque-
nos e oferecer oportunidades para que eles façam caretas, dancem, comparem imagens e realizem
desafios corporais (BRASIL, 1998, p. 28).
Para os bebês também é possível imprimir cartazes com suas fotos e colar no chão, já que
eles engatinham, ou nos berços. Todas essas oportunidades de exploração vão ajudá-los a manter
o contato com a própria imagem e a identificar a figura do outro. Experiências que envolvam
música e sensações também são bem-vindas, assim como as ações de cuidado. Tomar banho, ser
trocado ou mamar, por exemplo, são atividades essenciais para o reconhecimento de si e o estabe-
lecimento de vínculos com o outro. À medida que percebe seu corpo separado do corpo do outro,
a criança consegue organizar as próprias emoções e ampliar seu repertório e seus conhecimentos
sobre o mundo que a cerca. Para desenvolver essa prática, o professor da creche e da pré-escola
pode, por exemplo, colocar uma folha de papel no chão da sala de aula e traçar a silhueta do aluno.
Na sequência, o papel é afixado na parede, para que a criança complete as partes que estão faltando,
e assim sucessivamente com os demais. Essa atividade deve ficar exposta neste ambiente para ser
observada por todos os alunos, como demonstra a figura a seguir (BRASIL, 1988, p. 32).
Figura 2 – Aluno completando o desenho do próprio corpo
Na rotina da creche, os bebês precisam de oportunidades para realizar atividades por conta
própria. O desenvolvimento da identidade e da autonomia dos pequenos não ocorre de maneira
adequada se não for estimulado. Por isso, todo educador que trabalha com essa faixa etária de-
sempenha um papel essencial, auxiliando a criança a se desenvolver, desde que consiga estabele-
cer vínculos com ela. O educador deve estar sempre atento a qualquer manifestação das crianças,
como choros, caretas e movimentos. Também é importante sempre chamá-las pelo nome, além de
observar e de registrar, com cuidado, as preferências e os gostos de cada uma (BRASIL, 1988, p. 33).
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil 61
Dessa forma, espera-se que até os 3 anos de idade as crianças consigam reconhecer o próprio
nome, o nome de alguns colegas e dos adultos próximos, como os pais e o educador. Além disso,
é desejável que elas aprendam a realizar pequenas ações, como cantar uma música ou calçar um
sapato (mesmo que não saibam amarrá-lo). A cada aprendizagem, é fundamental relembrar as
conquistas da criança em uma conversa, mostrando como ela fazia algo antes e como faz agora.
Assim ela conseguirá valorizar as próprias conquistas.
Vale salientar que até os 6 anos de idade as crianças passam pela fase do egocentrismo, de-
monstrando certa resistência em compartilhar a atenção dos adultos como familiares, educadores,
pessoas de convívio mais próximo, e a posse de objetos pessoais, como roupas, sapatos, brinque-
dos, fraldinhas, almofadas, entre outros. Compartilhar seus brinquedos preferidos é uma atitude
muito difícil nessa fase, mas que é aprendida conforme a criança se desenvolve e amadurece emo-
cionalmente. Por isso foi criado nas escolas o “Dia do Brinquedo”, que tem os seguintes objetivos:
1) partilhar/socializar experiências e objetos próprios e dos colegas, aproximando-se de regras de
convivência; 2) ter prazer e se divertir com a vivência na relação com outras crianças; 3) desenvol-
ver, gradativamente, a autonomia em relação às regras sociais, como respeito, cooperação, hábito
de compartilhar, entre outros. Não levar brinquedo algum nessa data gera frustrações na criança.
Ela se sente excluída e fica impedida de desfrutar dos benefícios da atividade.
Ainda nesse contexto, observa-se a importância da roda da conversa na creche ou mesmo
na pré-escola. Ela pode configurar um espaço de partilha e confronto de ideias, possibilitando ao
grupo como um todo, e a cada criança em particular, um maior conhecimento de si e do mundo
que a rodeia. Proporciona o exercício da responsabilidade individual e coletiva, da administração
por parte do professor de problemas e desentendimentos, da tomada de decisões coletivas e da
prática da democracia (MEIRELLES, 2013).
A roda de conversa deve ser uma atividade diária e pode acontecer em diferentes momentos,
como, por exemplo, após a contação de histórias, durante o lanche, quando conflitos ocorrem e
precisam ser administrados, entre outros. Participando dessa atividade a criança pode aprender a
tomar decisões, escutar e respeitar a opinião do colega, esperar a sua vez para poder argumentar
um assunto, negociar problemas, desenvolver a oralidade e a prática social, instigar o raciocínio,
entre outros (MEIRELLES, 2013).
Por fim, constatamos que a educação nos primeiros anos de vida consiste em um dos prin-
cipais alicerces para a constituição do indivíduo. Nesse sentido, o professor da Educação Infantil
precisa conhecer em profundidade as fases de desenvolvimento das crianças, suas características
culturais, sociais, étnicas e a realidade da qual elas partem e como aprendem. Essa perspectiva
implica em uma nova compreensão sobre o perfil do professor como um profissional que reflete
sobre sua prática. Como indica o RCNEI (BRASIL, 1998), o profissional desse segmento deverá ter
competências polivalentes. Por isso, é imprescindível uma formação específica e continuada, pois
caberá a ele construir práticas educativas que respeitem e atendam à singularidade dessa fase tão
relevante da vida humana.
62 Legislação Educacional
histórias e fatos, transmitir recados, falar ao telefone, explicar um jogo etc., nas quais aprende a
verbalizar e organizar suas ideias por meio da interação com o outro (VYGOTSKY, 2000).
Desde pequena a criança está em contato também com a linguagem escrita, percebida por
meio de livros, jornais, embalagens, cartazes, placas de ônibus, outdoors etc., elaborando concei-
tos a partir de experiências cotidianas. Ao entrar na escola, a criança amplia esses horizontes por
meio de atividades significativas de interação. Além de aproximar as crianças do mundo letrado,
a leitura alimenta o imaginário e incorpora essa experiência à brincadeira, ao desenho e às his-
tórias que todos os pequenos gostam de contar (ZIEGLER, 2004).
4.3.2 Música
Outro elemento importante a ser trabalhado na Educação Infantil é a música. Ela propõe a
vinculação entre sensações, emoções, prazer e ritmo, favorecendo o processo de desenvolvimento
da comunicação oral e a expressão corporal para interagir com o mundo (BRITO, 2003, p. 87).
O professor tem papel fundamental nesse processo, pois é ele o responsável pelo planeja-
mento e execução das atividades. Para isso, ele leva canções para a sala de aula, canta, promove
brincadeiras sonoras, abrindo um canal comunicativo de grande importância para a integração das
crianças. Cantar para as crianças e convidá-las a cantar é uma ótima oportunidade de proporcionar
experiências de partilhar música com alegria e sensibilidade. O profissional deve dar também uma
atenção especial ao repertório escolhido e apresentado às crianças. Essa seleção precisa ser ampla
e diversificada, expressar qualidade na produção para a infância, composta por canções infantis
tradicionais, canções folclóricas de diferentes países, obras clássicas, populares, étnicas, cantadas e
instrumentais (BRITO, 2003, p. 87).
4.3.4 Movimento
A linguagem corporal constitui-se uma possibilidade de expressão e comunicação da crian-
ça e de se apropriar criativamente da cultura da qual faz parte. O movimento e a expressão corporal
são importantes dimensões da cultura humana.
A dança, por exemplo, favorece o desenvolvimento na criança de qualidades resultan-
tes da combinação de espaço, peso/força, tempo e fluência, e envolve, por exemplo, de forma
articulada, o trabalho com corpo e movimento, música e matemática. As crianças adquirem
cada vez mais controle sobre seu próprio corpo. É importante trabalhar com elas a psicomo-
tricidade, assegurando seu desenvolvimento funcional, afetivo e motor, por meio de atividades
que envolvam a educação dos movimentos com funções intelectuais. Para que uma criança
assimile aspectos de leitura e escrita, é necessário que ela elabore antes funções específicas de
coordenação global, esquema corporal, lateralidade, estruturação espacial/temporal e discri-
minação visual e auditiva (OLIVEIRA, 2002a).
Perceber e registrar as impressões sobre o mundo é um processo contínuo, que se constitui
com base nas linguagens expressivas como o corpo em movimento, a música, o teatro, as artes
visuais etc. Por isso, é importante que o professor promova o acesso das crianças a um amplo
repertório de manifestações artísticas, por meio do contato com diversas produções de arte da
comunidade, de artesãos regionais, autores eruditos e populares de diferentes culturas, de museus,
igrejas, livros, revistas, gibis, vídeos, feiras de objetos, espaços urbanos etc. (OLIVEIRA, 2002a).
• Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando dife-
rentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à
cultura e às diferenças entre as pessoas.
• Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com dife-
rentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções
culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emo-
cionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais.
• Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da
escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da
vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desen-
volvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando.
• Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transfor-
mações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela,
ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita,
a ciência e a tecnologia.
• Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, senti-
mentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferen-
tes linguagens.
• Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma ima-
gem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cui-
dados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu
contexto familiar e comunitário.
Essa concepção de criança como ser que observa, questiona, levanta hipóteses, conclui, faz
julgamentos e assimila valores e que constrói conhecimentos e se apropria do conhecimento
sistematizado por meio da ação e nas interações com o mundo físico e social não deve resultar
no confinamento dessas aprendizagens a um processo de desenvolvimento natural ou espon-
tâneo. Ao contrário, impõe a necessidade de imprimir intencionalidade educativa às práticas
pedagógicas na Educação Infantil, tanto na creche quanto na pré-escola.
[...]
Atividades
1. Segundo afirma a pesquisadora Sonia Kramer (2005), o binômio cuidar e educar é geral-
mente compreendido como um processo único, em que essas duas ações estão profunda-
mente imbricadas. Por que ela reforça essa situação? Justifique.
Referências
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5
Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil
A esta altura do estudo, você pode estar se perguntando: existem diferenças entre as
Diretrizes Curriculares Nacionais e os Parâmetros Curriculares Nacionais? Quais seriam elas?
70 Legislação Educacional
matriculada na Educação Infantil aprende brincando; por meio da manipulação dos objetos utili-
zados nas brincadeiras, ela vai concretizando, também, a possibilidade de explorar e reinventar o
mundo à sua volta, de modo distinto da criança do Ensino Fundamental (KRAMER, 2000).
Assim, o profissional da Educação Infantil deve ter uma conduta de acolhimento, de respeito
e segurança, e as crianças devem ter uma real perspectiva de aquisição de saberes que abranjam sua
realidade social e cultural (BRASIL, 1998).
Ao tratar do brincar e de sua importância para o desenvolvimento da criança, Lev Semenovich
Vygotsky (1998, p. 134) confirma que o brinquedo é parte integrante da vida da criança. Ao brin-
car ela organiza seu pensamento, faz uso da linguagem e da sua criatividade. A criança pode, por
exemplo, transformar-se em padeiro e imaginar-se fazendo e vendendo pão, com os atos de mistu-
rar areia com água e de transformar papéis picados em cédulas de dinheiro, que serão o pagamento
pelo pão. Forma-se então uma nova relação entre o que a criança enxerga, sua percepção visual, e
o que ela pensa, ou seja, o significado que aquela ação e aqueles objetos têm para a criança naquele
momento. Do mesmo modo, um cabo de vassoura pode deixar de ser simplesmente um objeto:
para a criança, ele pode se tornar um cavalo. O brincar, assim como quase todas as ações humanas,
é mediado por um contexto, com objetos, roupas, histórias, entre outros (KRAMER, 2000).
Nesse sentido, a brincadeira é importante para que as crianças se descubram capazes,
importantes, autoconfiantes e seguras. Ao se perceber como indivíduo autônomo, a criança
começa a crer que seu saber e seu fazer são verdadeiros, crescendo com a consciência de si
mesma e de suas possibilidades (KRAMER, 2000).
De acordo com Kramer (2000), construir uma proposta pedagógica para a Educação Infantil
implica optar por uma organização que garanta o desenvolvimento integral da criança, levando em
conta que ela é um ser social e histórico, marcado por uma cultura. Dessa forma, possibilita-se que,
progressivamente, a criança amplie e adquira conhecimentos que auxiliem de maneira positiva a
formação de sua identidade e autonomia, com cooperação e respeito a si própria e ao outro, e que
propiciem o desenvolvimento de sua criatividade. Enfim, uma proposta pedagógica que contribua
para a formação da cidadania.
Ainda nesse contexto, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI)
determinam que o processo de avaliação na Educação Infantil deve considerar o percurso trilhado
pela criança, sem julgamento, notas ou rótulos, e fornecer elementos para que o professor repense
sua prática. É preciso observar de modo crítico e criativo as ações infantis, o convívio com as outras
crianças na rotina escolar, e utilizar diferentes registros (realizados por pessoas responsáveis e pelas
próprias crianças), como relatórios, fotografias, desenhos, álbuns, vídeos, portfólio, entre outros
(BRASIL, 2010).
Esses elementos pressupõem um planejamento que dê continuidade aos processos de apren-
dizagem, por meio da elaboração de um plano adequado aos diversos instantes dessa etapa viven-
ciada pela criança no interior do estabelecimento escolar.
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil 73
arejado e com iluminação controlada para o conforto das crianças. Mas deve ser utilizado somente por
aquelas que ainda não têm autonomia suficiente para sentar ou engatinhar. A partir dos 8 meses, em
média, as crianças já podem dormir em colchonetes, no chão (NADAL, 2010).
Já quando os bebês estiverem engatinhando, é preciso dispor a eles locais que propiciem au-
tonomia para que possam se deslocar com segurança, permitindo uma maior independência para
se divertir e se locomover com confiança. Nesse sentido, quando necessário, pode-se colocar telas
de proteção/segurança nas janelas (NADAL, 2010).
O setor do Fraldário é o espaço de higiene dos bebês, o qual deve ser equipado com bancada
e colchonetes para a troca de fraldas, prateleiras e armários para guardar as toalhas, as fraldas e
os materiais de limpeza. As banheiras devem ser de material lavável e acopladas às bancadas, com
chuveirinhos individuais para banhos com temperatura de água ajustável, cabides para pendurar
toalhas e roupas e lixeiras com tampa acionada por pedal, próximas dos trocadores e ao alcance dos
educadores, para descarte rápido da sujeira. Enquanto uma criança toma banho, pode-se manter as
outras em bebês-conforto, com a supervisão de uma auxiliar (NADAL, 2017).
O Lactário é o espaço de preparo e higienização das mamadeiras e alimentação dos bebês,
o qual é composto por uma cozinha destinada à armazenagem dos alimentos (NADAL, 2010).
O ideal é instalar o Lactário em um local distante dos banheiros e da lavanderia.
O Solário é a área descoberta para o banho de sol, localizado próximo às salas de repouso e
de atividades, compatível com o número de bebês atendidos pela instituição. Brinquedos maiores,
como casinhas e balanços, são bem-vindos. As atividades no Solário devem acontecer duas vezes
ao dia, sempre antes das 10 e após as 16 horas. Já o pátio coberto, além de ser um bom lugar para
brincadeiras em dias de chuva, pode abrigar as festas e reuniões de pais. O ideal é equipar o pátio
com bebedouros baixos, quadros azulejados para pinturas das crianças e um palco para apresenta-
ções de teatro, música e dança (COUTINHO, 2002).
Na Educação Infantil, é importante que cada turma de crianças entre 2 e 5 anos tenha uma sala
de atividades, com a qual possa manter uma estreita relação de identificação. Esse espaço precisa esti-
mular as explorações e a socialização das crianças, dispondo de quadro de giz, cabides para mochilas,
prateleiras e armários, mesas, cadeiras, almofadas, colchonetes, livros, relógio, calendário, quadro de
nomes e espaço para fixação dos trabalhos das crianças. Um espelho em cada uma das salas ajuda em
atividades para o desenvolvimento da identidade das crianças. Pia para a lavagem das mãos, na altura
das crianças, e água potável, também são relevantes, desde que cada criança tenha sua caneca indi-
vidual, higienizada e facilmente identificável. Uma sugestão é aproveitar os desenhos dos pequenos
para identificar suas canecas. Se possível, as salas devem ser ensolaradas e, se houver áreas verdes ao
redor do prédio, é interessante haver janelas com peitoril na altura dos pequenos, mas sempre toman-
do os devidos cuidados para garantir segurança máxima (COUTINHO, 2002).
Embora as salas de atividades já sejam concebidas como salas multiuso, vale prever no pla-
nejamento pedagógico da instituição um espaço para atividades especiais, contribuindo para as
experiências com diferentes linguagens, como a das artes plásticas, a musical, a oral e a escrita.
Nela, podem ser colocados colchonetes, pufes, almofadas de diferentes tamanhos e texturas,
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil 75
televisão, aparelho de som, computador, estantes baixas com livros, além de murais na parede para
trabalhos de desenho, pintura e cenários de teatro.
Nessa faixa etária as crianças precisam ter o máximo de segurança nos banheiros. É impor-
tante haver um vaso sanitário, um chuveiro e um lavatório para cada 15 crianças. Todas as peças
precisam ser baixas e deve-se evitar quinas e outros objetos pontiagudos, assim como chaves ou
trincas nas portas. Para facilitar a mobilidade das crianças e promover a acessibilidade a todos,
também são necessárias rampas e barras de apoio nas cabines sanitárias (NADAL, 2010).
Na parte externa da instituição de ensino não pode faltar um parque. Ele é um lugar que ofe-
rece muita interação e desafios corporais às crianças, dispondo de brinquedos como escorregador,
balanço, túneis, trepa-trepa, casinha, além de bebedouros e bancos. Esse parquinho contempla es-
paços ensolarados e também com sombra e deve ficar bem longe do estacionamento da instituição.
Os Espaços Verdes são também fundamentais para que as crianças explorem o meio ambiente e
tenham contato com a natureza. Além do jardim, é possível ter horta e/ou pomar, para a realização
de diversas atividades que estimulem o desenvolvimento (COUTINHO, 2002).
Por fim, constatamos que o planejamento do espaço, no contexto da Educação Infantil, re-
quer uma concepção que valorize a expressão e a socialização, a autonomia e exploração de aspec-
tos físicos e relacionais das crianças ali presentes.
Baseado nesse princípio, o programa curricular brasileiro vigente tem como propósito siste-
matizar os saberes científicos, honrando as particularidades da Educação Infantil e os atributos da
evolução das crianças dessa etapa da Educação Básica (NASCIMENTO, 2007, p. 16).
Sendo assim, observamos que
[...] o conhecimento científico hoje disponível autoriza a visão de que desde o
nascimento a criança busca atribuir significado à sua experiência de vida, e nesse
processo encaminha-se para conhecer o mundo material e social, ampliando
gradativamente o campo de sua curiosidade e inquietações. Ela é mediada pelas
orientações, materiais, espaços e tempos que organizam as situações de aprendizagem
e pelas explicações e significados a que ela tem acesso. (NASCIMENTO, 2007)
76 Legislação Educacional
Nesse cenário, as Diretrizes Curriculares Nacionais (BRASIL, 2009) colocam a criança como
cerne do planejamento curricular da creche e da pré-escola, como observamos no dispositivo legal
transcrito a seguir:
Art. 4º. As propostas pedagógicas da Educação Infantil deverão considerar que
a criança, centro do planejamento curricular, é sujeito histórico e de direi-
tos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói
sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende,
observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e
a sociedade, produzindo cultura. (BRASIL, 2009, p. 1, grifos nossos)
Nesse sentido, é pertinente considerar que a proposta curricular deve contemplar o ato de
brincar, dando à criança a oportunidade de imitar o conhecido para construir o novo, assumindo
personagens e transformando objetos pelo uso que faz deles. Além disso, à medida que o grupo de
crianças interage entre si, são construídas as culturas infantis. Cabe ressaltar que a atividade lúdica
não é uma ação inerente ao ser humano, mas incorporada nas sociedades e nas diversas culturas.
O brincar precisa ser efetivo no dia a dia dos estabelecimentos de Educação Infantil, por meio de
atividades programadas pelo docente (KRAMER, 2000).
Nessa perspectiva, as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (DCNEI)
apresentam as interações e a brincadeira como eixos norteadores das práticas pedagógicas:
As práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação
Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira, garan-
tindo experiências que:
I – promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de
experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimenta-
ção ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da
criança;
[...]
III - possibilitem às crianças experiências de narrativas, de apreciação e inte-
ração com a linguagem oral e escrita, e convívio com diferentes suportes e
gêneros textuais orais e escritos;
IV - recriem, em contextos significativos para as crianças, relações quantitati-
vas, medidas, formas e orientações espaço temporais;
[...]
VIII - incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questiona-
mento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico
e social, ao tempo e à natureza;
IX - promovam o relacionamento e a interação das crianças com diversi-
ficadas manifestações de música, artes plásticas e gráficas, cinema, fotogra-
fia, dança, teatro, poesia e literatura;
X - promovam a interação, o cuidado, a preservação e o conhecimento da
biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra, assim como o não
desperdício dos recursos naturais. (BRASIL, 2010, grifos nossos)
sobre o que ocorre à sua volta e consigo mesma enquanto ela desenvolve novas formas de agir,
sentir e pensar. O importante é que os educadores apoiem as crianças,
ao longo de todas as suas experiências cotidianas na Educação Infantil, no es-
tabelecimento de uma relação positiva com a instituição educacional, no forta-
lecimento de sua autoestima, no interesse e curiosidade pelo conhecimento do
mundo, na familiaridade com diferentes linguagens, na aceitação e acolhimento
das diferenças entre as pessoas. (OLIVEIRA, 2010, p. 9)
Dessa forma, devem ser eliminados os processos que não proporcionem o movimento
criador e a autoria da criança, que proponham ações repetitivas e não tenham um real signifi-
cado para ela.
Na elaboração da proposta curricular, diferentes arranjos de atividades poderão ser fei-
tos, de acordo com as características de cada instituição, a orientação de sua proposta pedagógica,
com atenção, evidentemente, às características das crianças. Nesse sentido,
A organização curricular da Educação Infantil pode se estruturar em eixos,
centros, campos ou módulos de experiências que devem se articular em torno
dos princípios, condições e objetivos propostos nesta diretriz. Ela pode planejar
a realização semanal, mensal e por períodos mais longos de atividades e projetos
fugindo de rotinas mecânicas. (BRASIL, 2009)
[...]
O estabelecimento de normas que regem a estrutura e o funcionamento das creches e pré-
-escolas tem gerado muita polêmica. A história destas instituições tem evidenciado heranças
filantrópico-assistencialistas muito distantes daquilo que um modelo pedagógico de qualidade
hoje propõe para a educação infantil. Estabelecer tais normas, contudo, não significa encerrar
as instituições de educação infantil em uma prisão burocrática, antes canalizar suas ações na
direção de seus objetivos últimos a partir de certas diretrizes educacionais, considerando as
especificidades das faixas etárias nelas atendidas.
[...]
Tem-se que pensar estruturas e formas de funcionamento que viabilizem todas as ações propostas,
sem esquecer que, embora se possa e deva redefinir uma política educativa liderada pelo sistema
de ensino, esta não pode ser limitada a ele, dado que tal política vai envolver ações nas áreas de
saúde, cultura, esportes e lazer, e família e bem-estar social. Assim, ao se estabelecer normas sobre
a estrutura e funcionamento de creches e pré-escolas reconhece-se que a educação infantil deve
78 Legislação Educacional
seguir parâmetros ditados por suas funções educacionais, além de envolver também as dimensões
de saúde, habitação etc. historicamente definidas, em função de objetivos que se quer efetivamente
alcançar, estimulando a formação continuada de seus profissionais e uma articulação dinâmica
com o ensino fundamental. Isto envolve a obediência a legislações educacionais, trabalhistas, sani-
tárias, as ligadas ao setor de obras e meio ambiente etc.
Do ponto de vista pedagógico, alguns itens poderiam ser discutidos quando da formulação
de critérios de autorização de funcionamento de instituições de educação infantil. O pri-
meiro ponto deve ser observar a direção apontada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (lei 9394/96). Ela inclui a Educação Infantil na Educação Básica e considera que as
instituições de educação infantil gozam de autonomia (art. 15), trabalham a partir de proposta
pedagógica elaborada com participação dos professores (art. 13 inciso I) dentro de normas
de gestão democrática (art. 14) em articulação com as famílias e a comunidade (art. 12 inciso
IV). As propostas pedagógicas de creches e pré-escolas devem ser orientadas pelos princípios
gerais do ensino (art. 3) e dos objetivos específicos da área (art. 29) extensíveis às crianças por-
tadoras de necessidades especiais a serem atendidas, sempre que possível, na rede regular de
ensino (art. 58). As formas de organização das turmas podem ser variadas para atender o pro-
cesso de aprendizagem (art. 23). Não estipula aquela lei a carga horária mínima anual para a
Educação Infantil e esta poderia ser regulamentada pelos Conselhos Estaduais e Municipais de
Educação que devem estabelecer parâmetros em relação à adequada relação entre o número
de alunos por professor, a carga horária e as condições materiais das instituições vinculadas a
seus respectivos sistemas de ensino (art. 25).
[...]
Dado que os elementos do meio social (pessoas, objetos, rituais, enfim as práticas sociais nelas
ocorrendo) com seus valores são o recurso privilegiado para o desenvolvimento da pessoa,
diferentes formas de organização do meio escolar atuarão como recursos para a construção de
diferentes saberes, identidades e funções psicológicas pelas crianças. A proposta pedagógica
que cada creche e pré-escola elabora condiciona sua estrutura e funcionamento: a forma de
intervenção do adulto, o grau de estruturação do conteúdo proposto à criança, a presença de
um modelo educativo mais familiar ou mais escolar, a razão adulto-criança defendida, o lugar
dado ao jogo, a forma de organização do espaço. Planejá-los envolve uma série de fatores
inter-relacionados: as representações sobre a criança pequena, o papel dos professores, outros
profissionais e dos pais no processo escolar, as rotinas presentes nas formas de educação esco-
lhidas, os recursos materiais disponíveis incluindo o material pedagógico, e outros. Assim, as
concepções que o professor tem sobre as capacidades da criança em cada idade e os objetivos
que seleciona para seu desenvolvimento vão influir não apenas em sua forma de estabelecer
relações com a criança como também na maneira como organiza o ambiente em que esta se
encontra. (OLIVEIRA et al., 1992)
Atividades
1. Discorra sobre as diferenças entre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação In-
fantil e os Parâmetros Curriculares Nacionais.
arquitetônico, ou mesmo com pequenas adaptações. Existe uma normativa legal que regula-
riza essa situação? Justifique.
3. A sociedade atual exige uma educação comprometida com mudanças e transformações so-
ciais, e tal exigência recai sobre os professores, que devem desenvolver práticas pedagógicas
diferenciadas. Conceitue essa prática docente.
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6
Proposta pedagógica
do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua proposta pedagógica”.
Também definiu, em seu artigo 13, que: “Os docentes incumbir-se-ão de: I - participar da elabora-
ção da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino” (BRASIL, 1996).
No entanto, essa elaboração não pode ser vista simplesmente como o cumprimento de uma
normatização legal, pois o PPP é muito mais do que isso: ele se torna um documento eficiente na
medida em que serve de parâmetro para discutir referências, experiências e ações de curto, médio
e longo prazos na instituição escolar (LIBÂNEO, 2004). A legislação apenas legitima o direito da
comunidade escolar de desfrutar a autonomia de definir as ações necessárias para formar o cida-
dão/aluno que deseja no ambiente da escola.
Por sua vez, Eyng (2002) explicita o conceito do termo projeto político-pedagógico como
sendo a união de três aspectos:
Projeto porque faz uma projeção da intencionalidade educativa para futura
operacionalização [...]. Político porque define uma posição do grupo, supõe
uma proposta coletiva, consciente, fundamentada e contextualizada para
a formação do cidadão [...], pedagógico porque define a intencionalidade
formativa, expressa uma proposta de intervenção formativa. (EYNG, 2002,
p. 26, grifos nossos)
Desse modo, o conjunto dos objetivos e metas proposto por uma instituição escolar, bem
como os meios para concretizá-lo, é o que dá forma a seu projeto político-pedagógico.
Ao agregar essas três dimensões, a proposta pedagógica indica a direção a ser seguida pela
instituição, por seus dirigentes, docentes, colaboradores, alunos e famílias destes. Por isso, as di-
mensões política e pedagógica do PPP configuram a base conceitual desse documento. Elas de-
finem a organização administrativa e pedagógica da escola e estão relacionadas à construção da
identidade da instituição, sua filosofia, missão, seus valores, além de suas concepções de sociedade,
de proposta curricular, de relação com as famílias, dos recursos metodológicos e didáticos, das
diretrizes pedagógicas e da organização e utilização do espaço escolar (LIBÂNEO, 2004).
Por registrar tantas informações relevantes, o projeto político-pedagógico é uma ferramenta
de planejamento e avaliação que todos os envolvidos devem consultar em suas tomadas de decisão
e que não pode ficar engavetado, desatualizado ou inacabado. Ele é
a síntese de um processo permanente de discussão para definir, coletivamente,
as diretrizes, as prioridades e as metas da instituição escolar e, ao mesmo tem-
po, traçar os caminhos para alcançá-los. Cabe à comunidade escolar decidir se
deseja ou não usufruir esse direito de buscar alternativas viáveis para garantir
um trabalho que possibilite educação com qualidade. (ANTUNES, 2001, p. 16)
A administração da elaboração desse documento legal cabe ao gestor da escola, pois é ele
que deve conduzir/compartilhar o processo de composição do PPP, avaliando nesse percurso o
cumprimento das metas e dos objetivos estabelecidos. Cabe, ainda, a esse profissional conciliar e
atender às demandas e às expectativas das partes envolvidas no desenvolvimento do projeto, que
propiciará mudanças no ambiente escolar.
Proposta pedagógica 83
Para tanto, o PPP da escola apresenta princípios relevantes de participação, gestão demo-
crática, autonomia e trabalho coletivo. Nessa perspectiva, participar implica a criação e ampliação
de canais e espaços para o diálogo e o debate a serviço de uma proposta pedagógica de qualidade
que, assentada no pilar da educação emancipatória, considere os determinantes sociais e as pos-
sibilidades concretas da escola. A participação é o princípio básico da democracia. Na escola, a
participação tem múltiplas facetas: “pode-se (deve-se) participar na sua gestão, no desenvolvimen-
to das suas normas, na seleção de conteúdos, no estabelecimento da metodologia, no processo de
avaliação [...]” (GUERRA, 2002, p. 25).
A gestão escolar democrática possibilita a construção da escola como um espaço aberto ao
diálogo, no qual as diversas pessoas envolvidas na ação educativa têm voz ativa. Assim, essa gestão
deve fazer valer a participação de todos os segmentos representativos da comunidade escolar, pro-
piciando o exercício do trabalho coletivo (CARNEIRO, 1998).
A função das instituições de Educação Infantil vai além da assistência e do cuidado com a
criança pequena. Elas contribuem para o desenvolvimento infantil, da cultura de origem de cada
criança, e também, ao mesmo tempo, situam-se no âmbito de uma política socioeducativa de apoio
à família, tendo a socialização como condição fundamental dos objetivos da escola, garantindo a
inserção da criança na cultura adulta (BRASIL, 1998).
Dessa forma, os objetivos gerais dos RCNEI devem sustentar o trabalho a ser realizado, vi-
sando ao desenvolvimento infantil dos campos/aspectos cognitivo, moral, emocional, psicológico,
afetivo, físico, entre outros, considerando as especificidades das crianças. São eles:
• o respeito à dignidade e aos direitos das crianças, consideradas as suas diferen-
ças individuais, sociais, econômicas, culturais, étnicas, religiosas etc.;
• o direito das crianças a brincar, como forma particular de expressão, pensa-
mento, interação e comunicação infantil;
• o acesso das crianças aos bens socioculturais disponíveis, ampliando o desen-
volvimento das capacidades relativas à expressão, à comunicação, à interação
social, ao pensamento, à ética e à estética;
• a socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas mais
diversificadas práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma;
• o atendimento aos cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao desen-
volvimento de sua identidade. (BRASIL, 1998, p. 13)
Seguindo esses objetivos, a Educação Infantil tem vivenciado, nos últimos anos, alguns avan-
ços, não somente no que tange aos aspectos legais, mas também na implementação de programas
que procuram estabelecer em creches e escolas a integração entre cuidar e educar, promovendo o
desenvolvimento afetivo, cognitivo e social da criança, enfatizando a construção de sua identidade
(BRASIL, 1998).
Para tanto, o professor deve saber quando e como interferir nos jogos e brincadeiras, organi-
zar um ambiente de cuidados essenciais e propor atividades permanentes (rotina) e sequências de
atividades (projetos) (BRASIL, 1998). Nesse sentido, Lev Semenovich Vygotsky (1994, p. 117-118)
reforçou que: “o professor precisa pensar sua ação pedagógica no sentido de desafiar a interação
entre seus alunos, promovendo um real ‘brincar inclusivo’, tornando o espaço pedagógico capaz
de possibilitar à criança a superação de suas dificuldades, maximizando suas potencialidades”
(grifos nossos).
Por fim, em concordância com os documentos oficiais, pode-se afirmar que a qualidade da
Educação Infantil se estabelece à medida que sua principal finalidade, que é o desenvolvimento integral
das crianças de 0 a 5 anos, concretiza-se. Para isso, faz-se necessário que os profissionais atuantes nessa
área tenham a clareza de como desenvolver uma prática pedagógica que efetive tal objetivo.
Os temas transversais são assim nomeados por não pertencerem a nenhuma área específica
de conhecimento, mas atravessarem todas elas como se a todas fossem pertinentes. Os referidos
conteúdos permeiam todo o processo de aprendizagem, pois não há um momento específico para
se trabalhar esses conteúdos em sala de aula. O volume 8º traz a apresentação desses temas e, tam-
bém, inicia o conteúdo relacionado à “Ética”. O volume 9º é dedicado ao assunto Meio Ambiente
e Saúde, enquanto o 10º e último volume aborda Pluralidade Cultural e Orientação Sexual.
Essas temáticas, que correspondem a questões presentes na vida cotidiana dos brasileiros, foram
integradas ao currículo por meio do que se chama de transversalidade. Ou seja, pretende-se que es-
ses temas integrem as áreas convencionais, relacionando-as às questões da atualidade e orientando
também o convívio escolar (BRASIL, 1998).
Aliás, segundo orientação dos PCN, não se trata de os professores das diferentes áreas
de conhecimento interromperem sua programação/aula ou escolherem um dia específico para
trabalharem os temas transversais,
mas sim de que explicitem as relações entre ambos e as incluam como conteú-
dos de sua área, articulando a finalidade do estudo escolar com as questões
sociais, possibilitando aos alunos o uso dos conhecimentos escolares em sua
vida extraescolar. Não se trata, portanto, de trabalhá-los paralelamente, mas de
trazer para os conteúdos e para a metodologia da área a perspectiva dos temas.
(BRASIL, 1998, p. 27)
Assim, por exemplo, o professor solicita aos alunos que levantem o braço quando quiserem
manifestar sua opinião; da mesma forma, quando ouvirem os comentários divergentes dos colegas,
devem respeitá-los; sempre que possível e necessário, devem dizer “obrigado”, “por favor” e “des-
culpa” aos colegas e aos professores, assim como estes aos alunos, no que implicitamente se estará
trabalhando o conteúdo do tema transversal Ética (PCNs, 1999).
Segundo os PCN, cabe à escola possibilitar a educação continuada oriunda de um plane-
jamento sistemático para os alunos do Ensino Fundamental da segunda fase, do 6º ao 9° ano.
Além disso, não se pode visualizar a educação como algo simplista, mas sim como algo que en-
volva os alunos nos âmbitos social, político e histórico do país, sempre buscando a cidadania, o
entendimento dos direitos e deveres de cada um. Seguem quase o mesmo esquema da primeira
fase do Ensino Fundamental, mas com algumas mudanças, como a separação entre História e
Geografia e a introdução de Língua Estrangeira. Nos temas transversais dessa fase de ensino, cons-
tam Ética, Pluralidade Cultural, Meio Ambiente, Saúde, Orientação Sexual, Trabalho e Consumo
(BRASIL, 1998).
Por sua vez, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) têm
por objetivo auxiliar os educadores na reflexão sobre a prática diária em sala de aula e servir de
apoio ao planejamento de aulas e ao desenvolvimento do currículo da escola. Os documentos estão
subdivididos da seguinte forma, seguindo as áreas de conhecimento: Bases Legais; Linguagens,
Códigos e suas Tecnologias (Língua Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna, Educação Física,
Proposta pedagógica 87
A seguir, mostraremos que os PCN estão correlacionados com os quatro pilares fun-
damentais da educação do século XXI, preconizados por Jacques Delors, como exposto por
Rodrigues (2012):
Nesse sentido, os PCN assumem, como concepção teórica de ensino e aprendizagem, uma
metodologia baseada na perspectiva construtivista:
Construtivismo significa isto: a ideia de que nada, a rigor, está pronto, acabado,
e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instân-
cia, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do indivíduo com
o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações
sociais [...]. (BECKER, 1993, p. 88, grifos nossos)
O papel da escola
[...]
Para fazer uma gestão focada na melhoria da aprendizagem, é necessário ter bastante clareza
sobre os propósitos educativos da escola – este é o verdadeiro papel social da escola: ensinar.
Se você está à frente de uma instituição de Educação Infantil, é essencial saber quais os cuida-
dos as crianças demandam para se desenvolverem e o que elas precisam aprender para cons-
truir sua autonomia e adquirir o conhecimento do mundo. Se o trabalho é com alunos das
séries iniciais do Ensino Fundamental, é crucial conhecer o que eles têm de aprender em cada
série e disciplina e ter clareza sobre os objetivos dos diversos conteúdos, sejam eles: curricu-
lares, procedimentais ou atitudinais. Para fazer uma gestão focada na melhoria da aprendiza-
gem, é essencial ter clareza sobre os propósitos educativos da escola.
Tudo isso deve estar previsto no projeto político-pedagógico, documento que precisa ser cons-
truído juntamente com toda a comunidade (interna e externa) e tem como função especificar
os objetivos em termos de formação do alunado. Só com a definição de aonde se quer chegar
a equipe consegue projetar as ações ao longo do ano letivo – e o diretor pode definir quem
assume a responsabilidade pelo acompanhamento e pela execução de cada projeto e lutar para
garantir as condições necessárias para que eles se concretizem. Infelizmente, não é isso o que
se vê nas redes públicas brasileiras.
O trabalho do bom gestor aparece quando ele coordena uma análise eficaz da situação da
escola e organiza o que é preciso fazer para que ela atinja seus objetivos. Essa visão integradora
(ou sistêmica) permite pensar em mudanças e mobilizar os envolvidos. Assim, se uma das
metas é alfabetizar todos os alunos até o fim do 1º ano, o passo inicial é saber se os professores
têm formação e preparo para tanto? Da mesma forma, cabe ao diretor entender se o coorde-
nador pedagógico dispõe de um acervo de projetos e sequências didáticas para trabalhar com
o corpo docente nos horários de trabalho coletivo. O mesmo vale para o material: Ele é sufi-
ciente e de qualidade? O espaço está organizado para inserir os pequenos na cultura letrada?
Se a escola não faz esse questionamento, não mobiliza conhecimentos da gestão da aprendiza-
gem e da infraestrutura. [...]
Atividades
1. Qual o objetivo real do projeto político-pedagógico na instituição escolar?
2. O que proporciona a Educação Infantil para a criança matriculada nesse nível de ensino?
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7
Avaliação na educação e da escola
Embora muitas vezes não percebamos, o ato de avaliar está presente no cotidiano das pessoas, seja no
espaço escolar, seja no trabalho, nos movimentos sociais, numa atividade esportiva ou em uma entrevis-
ta de emprego. As pessoas a todo o momento necessitam tomar decisões que, na maioria das vezes, são
definidas com base em julgamentos. Esse processo de avaliar nos permite agir da maneira mais adequa-
da possível, de acordo com nossa visão e a realidade em que vivemos.
No cenário educacional, a avaliação deve ser um processo contínuo e amplo, não se resumindo a um
único instrumento, a prova. Porém, sabemos que essa prática ainda predomina nas salas de aula brasilei-
ras. Ela tem seu valor, desde que seja associada a outras técnicas avaliativas, compondo um processo de
análise dos resultados para posterior tomada de ação docente.
Dessa forma, pretendemos neste capítulo refletir acerca do sistema de avaliação nacional vigen-
te, referente aos três níveis de ensino da Educação Básica: Educação Infantil, Ensino Fundamental
e Ensino Médio.
crianças. Tem como função acompanhar, orientar, regular e redirecionar esse processo como um todo”
(BRASIL, 1998, v. 1, p. 59, grifos nossos).
Por sua vez, avaliar as aprendizagens no eixo pedagógico “Identidade e Autonomia” na creche signifi-
ca avaliar as experiências às quais as crianças foram submetidas. De acordo com o Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil, em seu volume 2, isso significa que “[...] as expectativas de aprendizagem
das crianças estão sempre vinculadas às oportunidades e experiências que são oferecidas a elas” (BRASIL,
1998, p. 66).
Para tanto, é fundamental que o professor fique atento a todas as reações e necessidades das crianças, ex-
pressas em diferentes situações da rotina escolar. O choro de um bebê pode significar muitas coisas diferen-
tes, mas aos poucos pode ser interpretado pelos educadores. Observar as reações de desconforto ou euforia,
quando e por que elas acontecem, também é parte imprescindível do processo avaliativo (BRASIL, 1998).
Para sistematizar os avanços no desenvolvimento do eixo pedagógico da identidade e autonomia, uma
sugestão é elaborar planos de observação com registros compartilhados entre os educadores e mostrados aos
pais, com perguntas e respostas de situações analisadas como, por exemplo, “a criança interage com os obje-
tos ofertados?”, “Chora muito?”, “Reconhece o espaço da sala de aula?”, “Aprendeu os nomes dos colegas e da
professora?”, ou, ainda, “Quais são os principais hábitos do bebê antes de dormir?”. O relacionamento com
as famílias das crianças é outro fator que contribui para a avaliação. Se as experiências de aprendizagem na
creche são reproduzidas em casa, a chance de os pequenos aprenderem mais rapidamente tende a ser maior.
Com base nesses registros, é possível planejar ações para a rotina que reforcem ou ampliem o leque de
aprendizagens na creche. A criança só aprende o nome dos colegas se todos da sala sempre forem chamados
pelo nome próprio e, assim, ela percebe a função real dessa ação, que é, justamente, diferenciar uns dos ou-
tros (BRASIL, 1998).
Jussara Hoffmann (1996, p. 19) faz duras críticas às fichas avaliativas de comportamento, tão comumente
utilizadas pelas professoras na Educação Infantil e que, segundo a autora, não conseguem fornecer a real
amplitude do universo infantil, em pleno desenvolvimento e rico em descobertas, assim como os pareceres
descritivos padronizados ao fim de cada semestre ou bimestre letivo. Segundo a autora, não é levado em
consideração o fato de que oficialmente não há a exigência de padronização dessa avaliação, o que permi-
tiria possibilidades e modelos de avaliação com maior riqueza de informações sobre a criança, de modo a
ressignificar de fato a prática educativa, não esquecendo o contexto, a realidade, as concepções de criança e
de educação infantil.
Hoffman define alguns pressupostos básicos para a efetiva avaliação nesse nível de ensino:
a) A escola deve ter uma proposta pedagógica que vise levar em conta a di-
versidade de interesse e possibilidades de exploração do mundo pela criança,
respeitando sua própria identidade sociocultural e proporcionando-lhe um
ambiente interativo, rico em materiais e situações experienciadas.
b) Uma professora curiosa e investigadora do mundo da criança, agindo
como mediadora de suas conquistas, no sentido de apoiá-la, acompanhá-la e
favorecer-lhe novos desafios.
c) Um processo avaliativo permanente de observação, registro e reflexão
acerca do pensamento das crianças, de suas diferenças culturais e de desen-
volvimento, embasador do repensar do educador sobre o fazer pedagógico.
(HOFFMANN, 1996, p. 19, grifos nossos)
Avaliação na educação e da escola 95
Portanto, registrar as atividades realizadas em um caderno, anotar as descobertas e avanços dos alunos/
crianças e criar um portfólio dos trabalhos realizados, com fotografias, atividades variadas das experiências
vivenciadas pelas crianças são excelentes meios de avaliar as aprendizagens das crianças na creche e na
pré-escola. É certamente uma abordagem mais interessante que a tradicional ficha de avaliação bimestral
ou trimestral com uma lista simplificada das atividades desenvolvidas, ou não, e classificações como “muito
bom”, “razoável” ou “precisa melhorar”. Geralmente, esse é um tipo de avaliação muito vago para a criança da
Educação Infantil, pois não agrega valores (HOFFMANN, 1996, p. 20).
Mas, afinal, o que é um portfólio?
Apesar das divergentes opiniões quanto à utilização dessa metodologia diferenciada por parte dos edu-
cadores, o portfólio ou dossiê
torna-se significativo em razão das intenções de quem o organiza, pois não faz
sentido coletar diversos trabalhos dos alunos para mostrá-los aos pais somente
como um mero instrumento burocrático. Essa ferramenta precisa constituir-se
em um conjunto de dados que expressem avanços, mudanças conceituais, novas
formas de pensar e de fazer alusão ao progresso do aluno/criança. (CIASCA;
MENDES, 2009, p. 302)
Essa abordagem não pode desprezar o viés afetivo inerente à situação de aprendizagem e deve proporcio-
nar ao professor a ressignificação contínua de sua prática pedagógica.
Na hora de avaliar o que os pequenos aprenderam, é muito importante manter o foco nas conquistas de
cada criança. Na pré-escola, o desenvolvimento se dá em ritmos diferentes para cada um, é um processo, e
isso deve ser valorizado. Cabe, por exemplo, recuperar nos registros quais conhecimentos as crianças tinham
quando chegaram à creche (HOFFMANN, 1996, p. 22).
A análise descritiva avalia individualmente os avanços do desenvolvimento da criança, além de conter
um viés afetivo. Notas e conceitos não demonstram o momento e o processo de aquisição do conhecimen-
to; boletins e fichas atendem apenas às necessidades da escola, e muitas vezes se baseiam em uma ativi-
dade específica. Dessa forma, algumas escolas anexam ao texto descritivo fotografias, cartas, vídeos e um
portfólio completo. “Seja qual for o produto final, o resultado depende de uma rede de ações que começa
com a elaboração do projeto político-pedagógico da escola, passa pelo plano, anual ou semestral, até chegar
ao planejamento do professor” (UNDIME, 2006).
Ainda, no contexto da Educação Infantil, utiliza-se o instrumento avaliativo denominado relatório, que
representa uma atividade composta por uma série de ações, tais como: observação do professor, registros das
aulas, elaboração de relatórios, participação dos pais na avaliação dos filhos, entre outros. A maior dificulda-
de para quem se utiliza desse instrumento é não fazer registros sistemáticos, tendo dificuldades na hora de
entregá-los para a coordenação/direção, correndo o risco de fazer análises incorretas. Os maiores desafios
são organizar as ideias e escolher as melhores palavras para formular esse material (HOFFMANN, 1996, p.
23).
É importante ressaltar que, independentemente do modelo escolhido por quem se propõe a avaliar, é
necessário entender que a prática avaliativa compreende, entre outros aspectos pedagógicos, trabalhar todas
as dimensões da criança, associadas ao prazer pela descoberta da construção de significados com o mundo.
Assim, ao observar, o professor registra; ao registrar, reflete; ao refletir, planeja; ao planejar, avalia; e ao ava-
liar, replaneja. A avaliação, para ser eficiente, deve fazer parte dessa corrente.
96 Legislação Educacional
época o Ensino Fundamental era composto por oito séries, e eles realizaram as provas correspondentes às
áreas de conhecimento de Língua Portuguesa, Matemática e Ciências (INEP, 2015).
A partir de 1992, decidiu-se que a aplicação da avaliação passaria a ser controlada pelo Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Contudo, a segunda fase da avaliação ocorreu
em 1993, marcada pelo aprimoramento dos seus instrumentos e, desde então, ininterruptamente, a cada dois
anos, acontece um novo ciclo. Ao longo dos anos, a avaliação vem sendo aprimorada, sendo que relevantes
inovações ocorreram no período entre 1995 e 2001 (HORTA NETO, 2007).
A partir de 1995, foi incorporada a esse processo uma nova metodologia estatística, conhecida como
teoria de resposta ao item (TRI), que permitiu, entre outras coisas, a comparação entre os resultados das ava-
liações ao longo do tempo. Naquele ano, foi decidido que o público-alvo avaliado seria as etapas finais dos
ciclos de escolarização: 4ª e 8ª séries do Ensino Fundamental, que atualmente correspondem ao 5º e 9º ano, e
o 3º ano do Ensino Médio. Além da amostragem da rede pública, foi acrescentada uma estatística dos alunos
matriculados na rede privada (INEP, 2015).
Em 1997, foram desenvolvidas as matrizes de referências com a descrição das competências e habilidades
que os alunos deveriam dominar em cada série/ano avaliada e quais conteúdos deveriam ser analisados,
permitindo uma maior precisão técnica, tanto na construção dos itens do teste, como na análise dos resulta-
dos da avaliação. Para a elaboração dessas matrizes, foi realizada uma consulta nacional sobre os conteúdos
praticados nas instituições escolares de Ensino Fundamental e Médio, incorporando a análise de professores,
pesquisadores e especialistas sobre a produção científica em cada área de conhecimento que seria objeto de
avaliação escolar. Dessa forma, utilizaram-se como referência as secretarias de educação estaduais e das ca-
pitais que apresentaram ao INEP os currículos que eram praticados nas instituições escolares (INEP, 2011).
Observamos, nessa proposta educacional, a valorização de um ensino com abordagem crítica e reflexiva,
de modo a não promover uma aprendizagem que implicasse na memorização de algumas informações para
a realização da prova. Mais do que isso, o Saeb buscou promover mudanças na prática educacional, para
que os alunos fossem capazes de articular os conteúdos apreendidos, pois todo o sistema de avaliação estava
focado nas perspectivas da interpretação e reflexão, correlacionando as diversas áreas de conhecimento.
Foi constatado que muitos alunos apresentaram dificuldades nesse processo (HORTA NETO, 2007).
Nas edições de 1997 e 1999, os estudantes matriculados nas 4ª e 8ª séries foram avaliados nas áreas de
conhecimentos de Língua Portuguesa, Matemática e Ciências, e os estudantes de 3º ano do Ensino Médio,
em Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História e Geografia. A partir da edição de 2001, o Saeb passou
a avaliar apenas as áreas de conhecimento de Língua Portuguesa e Matemática, formato que se manteve nas
edições de 2003, 2005, 2007, 2009 e 2011 (INEP, 2015).
Assim, em 2001, em seu sexto ciclo, as Matrizes de Referência foram atualizadas, em razão da ampla dis-
seminação, pelo MEC, dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Uma Matriz de Referência é composta
por um conjunto de descritores que explicitam dois pontos básicos do que se pretende analisar: o conteúdo
programático a ser avaliado em cada período de escolarização e o nível de operação mental necessário para
a realização de determinadas tarefas (OLIVEIRA, 2011).
Em março de 2005, com a normatização da Portaria n. 931, acontece a reestruturação no Saeb, que passa
a ser incorporado por duas estruturas de avaliação: Aneb e Anresc. A Avaliação Nacional da Educação Básica
(Aneb) permite produzir resultados médios de desempenho conforme as amostragens e também favorece
estudos sobre a equidade e a eficiência dos sistemas e redes de ensino por meio da aplicação de questionários.
Por sua vez, o outro mecanismo de classificação, a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc),
98 Legislação Educacional
é uma avaliação mais extensa e detalhada que a Aneb e tem foco em cada unidade escolar. Recebe o nome
de “Prova Brasil” em suas divulgações. Tem caráter universal e ocorre a cada dois anos (OLIVEIRA, 2011).
A Anresc (Prova Brasil) foi idealizada para atender a demanda dos gestores
públicos, educadores, pesquisadores e da sociedade em geral por informações
sobre o ensino oferecido em cada município e escola. O objetivo da avaliação é
auxiliar os governantes nas decisões e no direcionamento de recursos técnicos
e financeiros, assim como a comunidade escolar, no estabelecimento de metas
e na implantação de ações pedagógicas e administrativas, visando melhorar a
qualidade do ensino.
Na avaliação de 2005, o público-alvo da Anresc (Prova Brasil) se consolidou nas
escolas públicas com no mínimo 30 estudantes matriculados na última etapa
dos anos iniciais (4ª série/5º ano) ou dos anos finais (8ª série/9º ano) do Ensino
Fundamental. A metodologia utilizada nessa avaliação foi similar à utilizada na
avaliação amostral, com testes de Língua Portuguesa e Matemática. O foco era,
respectivamente, em leitura e resolução de problemas.
Em 2007 passaram a participar da Anresc (Prova Brasil) as escolas públicas
rurais que ofertavam os anos iniciais (4ª série/5º ano) do Ensino Fundamental e
que tinham o mínimo de 20 estudantes matriculados nessa série. A partir dessa
edição, a Anresc passou a ser realizada em conjunto com a aplicação da Aneb –
a aplicação amostral do Saeb –, utilizando os mesmos instrumentos avaliativos.
Na edição de 2009, os anos finais (8ª série/9º ano) do Ensino Fundamental de
escolas públicas rurais que atendiam ao mínimo de alunos matriculados tam-
bém passaram a ser avaliados. (INEP, 2015)
Em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (DCNEB), as Diretrizes
Curriculares Nacionais do Ensino Médio (DCNEM) indicam três dimensões básicas de avaliação: avaliação
da aprendizagem, avaliação externa – denominada também de avaliação em larga escala – e avaliação insti-
tucional (MÉNDEZ, 2007, p. 14).
A avaliação da aprendizagem, conforme prevê a Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional
n. 9.394/96, pode ser legitimada visando à promoção, à aceleração de estudos e à classificação e deve ser
desenvolvida pela instituição escolar refletindo a proposta expressa em seu projeto político-pedagógico.
É importante observar que essa avaliação deve assumir caráter educativo, viabilizando especialmente ao
estudante a condição de analisar seu percurso e ao professor e à escola identificar dificuldades e potenciali-
dades individuais e coletivas (BRASIL, 1996).
Nessa perspectiva, faz-se necessário apresentar o conceito de avaliação, para melhor compreender sua
dimensão e suas implicações na prática educativa:
A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docen-
te, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e aprendizagem.
Através dela os resultados que vão sendo obtidos no decorrer do trabalho con-
junto do professor e dos alunos são comparados com os objetivos propostos a
fim de constatar progressos, dificuldades, e reorientar o trabalho para as corre-
ções necessárias. (LIBÂNEO, 1994, p. 195)
comunidade sejam participantes ativos no processo de avaliação. Configura-se, além da avaliação nacional, a
autoavaliação das instituições escolares, abrangendo seus programas, projetos, materiais pedagógicos, recur-
sos, infraestrutura, gestão, professores, alunos e pessoal, possibilitando um retorno imediato – porém, para
que isso ocorra adequadamente, é necessário um processo de mudança consciente, descentralizado e com
capacitação específica da equipe escolar (INEP, 2015).
Uma abordagem relevante citada por Locatelli (2001, p. 183) diz que:
Hoje, mais do que conteúdos, são analisadas competências e habilidades, o pró-
prio currículo, os hábitos de estudos dos alunos, as estratégias de ensino dos
professores, o tipo de gestão dos diretores e os recursos a eles oferecidos para
melhor realizarem seu trabalho. A coleta, a análise e a disseminação desses da-
dos compõem, hoje, uma parte expressiva da agenda de desafios compartilhada
por todos os sistemas de avaliação, em seus diferentes níveis.
Outros dois exemplos relevantes no que tange às avaliações externas nessa etapa educacional é o Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Exame Nacional de Certificação de Competências da Educação de
Jovens e Adultos (Encceja). Esses exames vem ocupando lugar privilegiado nas políticas educacionais, in-
fluenciando o currículo das escolas de Ensino Médio, além trazer impactos também à Educação de Jovens e
Adultos (EJA).
Em relação ao Enem, Cortelazzo (2003, p. 219) faz a seguinte reflexão:
devem ser incentivadas apresentações de resultados obtidos até o momento
para que, de um lado, sirvam de subsídio àquelas instituições [de ensino supe-
rior] que pensam em alguma forma de aproveitamento desse exame em seus
processos seletivos e, por outro, para que seja mais um elemento de reflexão do
Projeto Pedagógico das escolas de Ensino Médio.
É importante enfatizar que os aproveitamentos dos resultados obtidos no Enem e no Encceja devem
ser analisados e administrados pelas escolas de forma mais ampla, ou seja, visando a possibilitar um me-
lhoramento do projeto político-pedagógico e, por consequência, favorecendo o processo de aprendizagem
do alunado.
Por outro lado, temos a avaliação institucional, também denominada de interna, realizada com base
na proposta pedagógica da escola, assim como nos planos de trabalho e de ensino, que devem ser revistos
sistematicamente, de modo que a escola possa analisar seus avanços, assim como os aspectos que necessitam
aperfeiçoamento. Esses procedimentos devem estar vinculados à práxis didático-pedagógica, de forma que
é necessário ao corpo docente:
• ter clara a concepção utilizada como suporte da prática pedagógica;
• planejar as suas aulas cotidianamente;
• reelaborar e atualizar seus conhecimentos;
• estabelecer com clareza o que será avaliado;
• dar ao aluno o direito de questionar, duvidar e errar;
• considerar o erro como um dos indicadores do nível de aprendizagem;
• fazer intervenções em tempo hábil;
• valorizar os acertos dos alunos, incentivando e elevando sua autoestima;
• registrar os resultados da avaliação para acompanhamento e progressão do
aluno;
• explicar previamente ao aluno o que se espera dele ao final de cada atividade
proposta;
Avaliação na educação e da escola 101
Percebe-se assim que a avaliação institucional no Ensino Médio é imprescindível para que a instituição
escolar possa resgatar sua identidade, tendo por base instrumentos que viabilizem uma autoanálise, de modo
global, dando diretrizes de trabalho para a construção efetiva do conhecimento. Não obstante, é de suma
importância a consciência de que o educando não deve ser o único a ser avaliado, pois a avaliação apenas do
rendimento escolar traz resultados parciais, sendo necessário ir além, envolvendo toda a escola, para que a
educação seja realmente de qualidade (DIAS SOBRINHO, 2000).
Nessa perspectiva, a avaliação institucional no Ensino Médio pode subsidiar os processos educacio-
nais da organização escolar, servindo como um termômetro para verificar se os alunos estão desenvol-
vendo suas habilidades e competências, interiorizando os conhecimentos proporcionados, conceituan-
do a realidade e interagindo com o meio em que vivem, pois o objetivo primordial da escola é aprimorar
continuamente a aprendizagem.
[...]
As avaliações externas aprofundaram os efeitos nas práticas escolares e nas políticas educacionais, também,
pela discussão de procedimentos estatísticos e educométricos, ressaltando a importância da construção de
matrizes de avaliação, a padronização de provas e a interpretação pedagógica de resultados, com destaque
para a Teoria de Resposta ao Item (TRI) que permite a comparabilidade de resultados ao longo do tempo e
entre séries diferentes, expressos, geralmente, na Escala Saeb, que varia de 0 a 500 pontos, tanto para leitura
102 Legislação Educacional
quanto para resolução de problemas. Adicionalmente, em algumas redes públicas foram desencadeadas
políticas de remuneração diferenciada para profissionais da educação em função dos resultados dos alunos,
consolidando a denominada accountability, um tipo de política de responsabilização dos professores e ges-
tores de escolas pelos resultados nas avaliações externas, incrementando ainda mais o debate em torno da
avaliação educacional.
Nesse quadro, tomando-se como principal referência a Prova Brasil e o Ideb, podemos salientar alguns
aspectos, com seus riscos e potencialidades. Como um aspecto negativo, é possível considerar a hipótese
de que em algumas escolas tenda-se a ensinar, concentradamente, o que constitui os objetos de avaliação
– leitura e resolução de problemas – e no formato da prova – com itens de múltipla escolha – o que seria
configurar um reducionismo curricular e didático. Ademais, como outro efeito colateral, há o registro de
atividades escolares de organização de “simulados” de aplicação de provas padronizadas, algo que deveria
ser evitado, inclusive porque não produz o aumento de proficiência esperado. Mais grave, ainda, seria aban-
donar as avaliações internas, pois estas, mesmo quando revelam algumas restrições técnicas, integram a
tarefa educativa a cargo, incontornavelmente, dos professores. Se as restrições às avaliações internas podem
ser superadas com formação e capacitação, por seu turno, as avaliações externas não podem e não deveriam
se converter em orientadoras privilegiadas dos processos formativos, mesmo quando parecem se constituir
no mais saliente traço das políticas educacionais. Distinto disso seria a tarefa de articular, por vários meios
e objetivos, as avaliações externas com as internas, como salientado por Nevo (1998).
Como aspecto potencialmente positivo, podemos considerar que, com as avaliações externas, a gestão de
escolas e redes passa a incorporar indicadores de desempenho como mais um elemento para o conheci-
mento de suas realidades e, assim, pode estabelecer metas mais precisas e elencar prioridades de intervenção
parametrizadas numa realidade mais ampla, envolvendo a comparação, dependendo da avaliação externa
referenciada, com resultados do país, do estado e do município. Salientando-se, contudo, que as medidas
resultantes dessas avaliações – as estimativas de proficiência – não se constituem, por si só, em avaliação,
pois uma medida indica o quanto se atingiu numa determinada escala e a avaliação é o julgamento desse
resultado em função de critérios, para os quais a interpretação pedagógica dos mesmos é parte insubstituível
do processo avaliativo, que, também, deve levar em consideração as condições específicas de cada rede e
escola, reforçando a importância da avaliação institucional.
[...]
Atividades
1. Quais são os instrumentos avaliativos que o professor pode utilizar na Educação Infantil?
3. As Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio indicam três dimensões básicas de avaliação.
Quais são elas?
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8
Regimento Escolar
Imagine um país sem lei, uma família sem regras, ou uma escola sem regimento.
Para alguns que não admitem a importância das regras para a organização de uma sociedade,
alegando que normas subtraem o direito à liberdade das pessoas, a desorganização talvez não
os importune. Claro, seria excelente viver em um mundo onde cada pessoa soubesse respeitar
a outra, o meio ambiente e o patrimônio público. Mas em uma sociedade capitalista, como a
brasileira, em que frequentemente bens materiais valem mais do que as pessoas, onde impera
o egoísmo e o individualismo, prevalecendo a lei dos “mais fortes” ou dos mais ricos, quem se
preocuparia em respeitar o que não lhe fosse conveniente, se não existissem as leis?
Para oportunizar e manter o processo democrático na escola, o Regimento Escolar é a
“constituição” da instituição de ensino. É nesse documento que devem constar as normas gerais
da escola, regulando suas práticas disciplinares e pedagógicas, mas sem contrariar a legislação
educacional vigente no país, nos estados e nos municípios.
Nessa perspectiva, este capítulo tem como escopo a reflexão acerca do Regimento Escolar
como documento legal de ensino e suas especificidades.
A LDBEN de 1996, em seu artigo 88, § 1º, preconiza e “[...] define a obrigatoriedade de adaptar os
regimentos ao que normatiza a Lei e aos respectivos sistemas de ensino, nos prazos por estes esta-
belecidos”. Além disso, remete essa definição e detalhamento para os sistemas de ensino, que, por
meio dos Conselhos Estaduais de Educação, devem acompanhar sua legalidade (BRASIL, 1996).
Porém, alguns dados são fundamentais na elaboração desse documento legal da escola,
como: identificação, localização, finalidades, objetivos e filosofia (princípios e valores), organi-
zação do trabalho pedagógico, conselho escolar, direção, órgãos colegiados, conselho de classe,
equipe docente, pedagogos e demais funcionários/colaboradores da instituição. No que se refere à
organização didático-pedagógica, devem constar os níveis de ensino ofertados, calendário escolar,
matrículas, transferências, frequências, avaliações, certificados em geral e outros itens que tratam
da vida escolar dos discentes. Também são expostos os dados concernentes a direitos, deveres e
proibições da comunidade escolar, professores, direção, funcionários, famílias, alunos e comuni-
dade em geral, entre outros (LÜCK, 2009).
Portanto, tendo em vista esse conjunto de dados, fica claro que
o Regimento Escolar é um dos elementos institucionais da gestão democrática,
pois estabelece parâmetros para as relações, tanto administrativas quanto so-
ciais, que se dão no ambiente educacional escolar. Trata-se não apenas de uma
ferramenta de controle e organização, mas, e principalmente, de um instrumen-
to de democratização das relações, uma vez que define os limites, os compro-
missos e as possibilidades de participação de cada segmento, de cada função e
de cada indivíduo na definição dos rumos da educação desenvolvida na escola.
(PACHECO; CERQUEIRA, 2009, p. 69)
Mas, você pode estar se perguntando: como nasce o Regimento Escolar na instituição
de ensino?
Ele surge em uma reunião e também do debate em assembleia, de forma democrática, com
representantes da comunidade escolar. É claro que existem no mercado informal e na internet do-
cumentos prontos, mas somente o Regimento Escolar democrático surge da participação de todos
os envolvidos e representa a vontade da maioria das pessoas que compõem a comunidade escolar.
O ideal é que a escola tenha um Conselho Escolar, formado por representantes de cada um dos seg-
mentos da comunidade na qual a escola está inserida – como alunos, pais, professores, auxiliares
de educação, entre outros –, que se encarregam de encaminhar e coordenar a eleição da comissão
que redigirá a proposta do documento legal a ser apreciada em assembleia geral. A representação
dos segmentos da comunidade escolar no conselho é paritária, ou seja, há um número igual de
representantes de cada segmento da instituição (ZABOT, 1986).
Todavia, é relevante atentarmos para o fato de que não é a direção da escola nem o Conselho
Escolar que irão elaborar o Regimento Escolar. Nas instituições onde houver o Conselho, caberá
a esse órgão as funções preliminares de encaminhamento à elaboração do Regimento, tais como:
convocar a comunidade escolar para debater as questões da escola; definir uma comissão elabora-
dora de uma proposta desse documento; e convocar as assembleias que debaterão as propostas da
comissão de elaboração (ZABOT, 1986).
108 Legislação Educacional
Tendo isso em vista, cabe questionarmos quem é o coletivo da escola que deve participar
efetivamente do Regimento e como se dá essa participação. Nessa conjuntura, o Regimento Interno
escolar tratará da organização do Conselho Escolar. Esse setor determina a forma como são eleitos
os membros/pessoas, as suas atribuições e a regularidade das reuniões/assembleias. Nesse docu-
mento constam as normas que regem a escola como um todo. Ele pode ser redigido nesse encontro
do Conselho, no qual todos os componentes da comunidade escolar, como pais, representantes
de alunos, professores, funcionários/colaboradores, membros da comunidade em geral e o gestor
Regimento Escolar 109
da escola podem ser ouvidos, dando sugestões, concordando ou não com as propostas em pauta,
e votar, como um canal efetivo de democratização das relações escolares (ZABOT, 1986). Nessa
perspectiva, Zabot (1986, p. 64) esclarece que: “é desta participação que se originará a sua legi-
timidade. É dela que surgirá a possibilidade de o Regimento Escolar não se transformar em letra
morta, ou em documento nascido de imposições legais, para preencher as estantes e arquivos da
escola ou da Secretaria da Educação” (grifos nossos).
Dessa forma, a mobilização para implantar um Conselho Escolar pode partir dos profissio-
nais da educação, dos alunos ou da comunidade ligada à escola. Por isso, é importante procurar a
orientação da Secretaria de Educação de cada cidade, pois há legislações municipais e/ou estaduais
que estabelecem regras para a criação dos Conselhos Escolares. Além disso,
O MEC ajuda diretamente as escolas por meio do Programa Nacional de
Fortalecimento dos Conselhos Escolares da Secretaria de Educação Básica. No
site oficial1 do programa, há materiais disponíveis para download. Voltados
para diversos aspectos da formação dos Conselhos, eles explicam as diferentes
possibilidades para o funcionamento e as diversas áreas de atuação deles. Pais
[ou responsáveis] com vontade de participar do Conselho devem procurar a
direção da escola para se informar sobre as regras e o período correspondente
para a eleição dos seus membros. Os Conselhos também costumam fazer reu-
niões abertas para aqueles que desejam se envolver sem participar das eleições.
(CEARÁ, 2016, p. 40-41)
Assim, esse ponto de vista reafirma a perspectiva de uma gestão democrática em que o en-
frentamento das questões da escola deve acontecer com a contribuição do conjunto dos diferentes
segmentos da comunidade escolar, rompendo com a divisão das funções entre aqueles que tomam
as decisões e aqueles que executam as ações.
A gestão democrática, portanto, é entendida como uma ação que prevê a descentralização
pedagógica e administrativa, como um meio para alcançar a autonomia escolar.
No entanto, observa-se que o Regimento Escolar é ainda hoje concebido pela comunidade
como um documento imposto, restrito ao pessoal técnico-administrativo da escola. Nesse sen-
tido, concordamos com Paro (1996, p. 382) quando afirma a necessidade de vencermos “a falta
de tradição democrática [...] com a insistência em mecanismos de participação e de exercício da
democracia”, de modo a alcançar maior envolvimento de todos na defesa dos interesses coletivos.
É preciso promover ações para engajar cada segmento da comunidade escolar, abrindo a cada um
deles o espaço de intervenção que lhes cabe (PARO, 1996).
O desafio, portanto, é exercitar, em torno de uma ética partilhada, o debate con-
traditório e os diferentes posicionamentos, para que o Regimento Escolar, como
algo construído coletivamente, deixe de ser um rol de normas impostas e se tor-
ne um código de normas consensuais que permeiem as questões disciplinares e
administrativas, mas, principalmente, as pedagógicas. Isso porque o compreen-
demos como instrumento operacional do Projeto Político-Pedagógico, ponto
de partida de todo o processo educativo. Enfim, o desafio está em concebê-lo e
praticá-lo para além do registro de normas. (WOLF, 2007, p. 26)
superação das práticas de opressão, discriminação e exclusão ainda presentes na sociedade brasi-
leira (ANTUNES, 2005).
É justamente nessa perspectiva que a escola pública representa um universo específico, no
qual suas próprias relações só podem ser compreendidas pela sua intensa relação com a comuni-
dade em que está inserida. Isso pode ser entendido no que se refere à prática cotidiana da admi-
nistração, ou no que se relaciona à enorme diferença sociocultural em que se constitui a sociedade
brasileira, cuja realidade se apresenta o Brasil real de miséria, nos mais diversos sentidos.
Nesse sentido, numa gestão democrática participativa, as decisões são compartilhadas e as
pessoas aprendem a estabelecer e exigir novos parâmetros de qualidade, de conteúdos e de como
gerir os recursos financeiros da escola pública. Consequentemente, passam a se sentir corresponsá-
veis pelas ações deliberadas na escola, pelas concepções de política, de ensino e de sociedade, bem
como pela avaliação dos resultados. Todas essas ações como forma de garantir o cumprimento do
que foi estabelecido pelo coletivo da instituição dão credibilidade ao ensino oferecido e fortalecem
a gestão democrática (GADOTTI; ROMÃO, 2004, p. 43).
A participação é, portanto, condição primordial para que todas as pessoas da comunidade
escolar tenham conhecimento do funcionamento da escola, um contato permanente com esta e a
compreensão de que a entidade escolar faz parte da formação do sujeito, que precisa se sentir, real-
mente, o sujeito da aprendizagem e da educação (GADOTTI; ROMÃO, 2004, p. 44).
Para Gadotti (1999, p. 9), educar significa formar para a autonomia, isto é, para se autogovernar.
Um processo educacional será verdadeiramente autônomo e libertador somente se for capaz de
formar cidadãos críticos, dotados das condições que lhes permitam compreender os contextos
históricos, sociais e econômicos em que estão inseridos. A tomada de consciência em defesa de
uma escola pública comprometida com a maioria da população, portanto, promove a emancipação,
permite maior comunicação e diálogo e, consequentemente, a autonomia (GADOTTI; ROMÃO,
2004, p. 45).
Falar em gestão democrática nos remete, portanto, a pensar em autonomia e participação.
Assim,
No Brasil, a autonomia da escola encontra suporte na própria Constituição,
promulgada em 1988, que institui a democracia participativa e cria instrumen-
tos que possibilitam ao povo exercer o poder diretamente (Art. 1º). No que se
refere à educação, a Constituição de 1988 estabelece como princípios básicos:
o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e a gestão democrática do
ensino público (Art. 206). Esses princípios podem ser considerados como fun-
damentos constitucionais da autonomia da escola [...]. Na história das ideias
pedagógicas, a autonomia sempre foi associada ao tema da liberdade indivi-
dual e social, da ruptura com esquemas centralizadores e, recentemente, da
transformação social. (GADOTTI; ROMÃO, 2004, p. 47, grifos nossos)
A gestão democrática da educação formal, permeada pela autonomia, está associada ao es-
tabelecimento de mecanismos legais e institucionais e à organização de ações que desencadeiem a
participação social: na formulação de políticas educacionais; no planejamento; na tomada de deci-
sões; na definição do uso de recursos e necessidades de investimento; na execução das deliberações
coletivas; e nos momentos de avaliação da escola pública e da política educacional. Também visa
à democratização do acesso à escola e estratégias que garantam a permanência nela, tendo como
horizonte a universalização do ensino para toda a população, bem como o debate sobre a qualidade
social dessa educação. Portanto,
a autonomia pedagógica diz respeito a um mínimo de liberdade que a escola
precisa ter para escolher os conteúdos e os métodos de ensino, sem o qual fica
comprometido o caráter pedagógico de sua intervenção escolar. Essa autonomia
é requerida, por um lado, pela própria natureza da atividade pedagógica que,
por seu caráter de imprevisibilidade, não é suscetível de uma completa e inflexí-
vel antecipação de suas ações, sem comprometer a necessária criatividade que se
espera do processo pedagógico [...]. Com relação à autonomia administrativa,
esta significa a possibilidade de dispor de recursos e utilizá-los da forma mais
adequada aos fins educativos. [...] Porém, também a autonomia administrativa
da escola tem limites nas ações do Estado, que não pode abrir mão de seu dever
e de suas prerrogativas em matéria de ensino. Isso significa que gerir recursos
com autonomia não implica utilizá-los apenas de forma que professores e di-
retores considerarem mais convenientes. Significa que, a partir das diretrizes
gerais traçadas pelo sistema, cada unidade escolar imprime à sua gestão uma
forma mais adequada a suas peculiaridades. (PARO, 2001, p. 113-115)
avaliadora, além de decisória sobre os rumos da vida política e social das insti-
tuições (escolares) e da sociedade. (SOUZA, 2009, p. 135)
Assim, verifica-se que a gestão democrática já é uma realidade no âmbito escolar, mas é
preciso intensificar sua presença e visibilidade no cotidiano da escola pública. Para que essa gestão
assuma de fato a sua ação, é necessário que as pessoas entendam o papel da gestão e exijam que
ela seja apreendida por todos, como um direito. Dessa forma, a escola passa a assumir um caráter
diferente, sendo o resultado do exercício de todos os componentes de sua comunidade (PARO,
2001, p. 67).
Essa é uma nova forma de administração, que objetiva abrir a escola a todos, sem perder de
vista as metas educacionais e estando em sintonia com as mudanças sociais, sabendo, principal-
mente, partilhar o poder da melhor maneira possível (SOUZA, 2009, p. 137).
A gestão democrática, portanto, só se efetivará quando todos os envolvidos – direção,
professores, funcionários e comunidade escolar – estiverem conscientes da importância de sua
participação na gestão escolar pública.
[...]
A configuração do Conselho Escolar varia entre os municípios, entre os estados e entre as
instituições educativas; assim, a quantidade de representantes, na maioria das vezes, depende
do tamanho da instituição e do número de estudantes que ela possui.
As atribuições do Conselho Escolar dependem das diretrizes do sistema de ensino e das
definições das comunidades local e escolar. O importante é não perder de vista que o
Regimento, a ser construído coletivamente na escola, constitui a referência legal básica para
o funcionamento da unidade escolar e, desse modo, é fundamental que a instituição educa-
tiva tenha autonomia para elaborar seu próprio regimento. Dentre as principais atribuições
do Conselho destacamos a sua função de coordenação do coletivo da escola e a criação de
mecanismos de participação.
A organização estudantil, numa instituição educativa que tenha como objetivo formar indi-
víduos participativos, críticos e criativos, adquire papel central, como mecanismo de parti-
cipação dos estudantes nas discussões do cotidiano escolar e em seus processos decisórios.
O Conselho Escolar beneficia-se com a existência de outros espaços de participação na escola,
como o grêmio estudantil, as associações de pais, professores etc. A participação nesses espa-
ços contribui para a aprendizagem da função política da educação e para o aprendizado do
jogo democrático. Nesse sentido, essa vivência de discussão e participação possibilita o forta-
lecimento do Conselho Escolar e de sua organização política.
114 Legislação Educacional
Atividades
1. Quais são as principais atribuições de um Regimento Escolar?
2. Quais são os fatores que levam os responsáveis a elaborar um Regimento Escolar de forma
coletiva?
3. Na escola pública, qual a diretriz que deve permear o processo educativo e administrativo?
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n. 13.005, de 25 de junho de 2014, que instituiu um novo PNE, no qual foram definidas 20 metas,
detalhadas em 254 estratégias, permitindo o planejamento da educação até o ano de 2024. O PNE
instituiu mecanismos de monitoramento e avaliação, tanto da execução do plano como da qualida-
de da educação, por meio do estabelecimento de objetivos educacionais e da definição dos investi-
mentos a serem disponibilizados para o alcance desses objetivos (BRASIL, 2014).
Quadro 1 – Metas do PNE 2014/2024
Assim, o PNE em vigência traça vários objetivos e metas a fim de tentar tirar a educação na-
cional do “atraso” e garantir um ensino de qualidade em todos os níveis – infantil, básico e superior –,
para serem cumpridos até 2024. Entre as metas estruturantes, podemos destacar inicialmente as de
número 1, 2, 3 e 4, que têm como direcionamento estruturar a garantia do direito a uma educação
básica com qualidade e dizem respeito ao acesso, à universalização da alfabetização e à ampliação
da escolaridade e das oportunidades educacionais (BRASIL, 2014).
Além disso, o objetivo não pode se restringir à universalização do atendimento sem uma
atenção especial à qualidade do ensino. Na etapa de atendimento a crianças de 0 a 3 anos, o país
vem enfrentando dificuldades de forma recorrente. O Plano Nacional de Educação de 2001-2010
Plano Nacional de Educação – aspectos legais I 119
já estabelecia o atendimento de 50% das crianças até 2005, meta que foi descumprida e postergada
para o fim da vigência do plano de 2014/2024 (BRASIL, 2018).
Figura 1 – Meta 1: Educação Infantil
Essa meta não foi cumprida. A matrícula de crianças de 4 a 5 anos de idade passou de
72,1% em 2004 para 89,1% em 2014. Ainda assim, expandir esse número para 100% não foi con-
templado, conforme demonstramos na Figura 1. Em relação à oferta de vaga em creches, em 2014
o atendimento foi de 29,6%. Entretanto, identificou-se uma crescente desigualdade de acesso nos
últimos anos, o que indica a necessidade de políticas específicas para essa área (TODOS PELA
EDUCAÇÃO, 2015). O relatório do 1º Ciclo de Monitoramento das Metas do Plano Nacional de
Educação: biênio 2014-2016 destaca que o percentual restante representa cerca de 640 mil crianças
dessa faixa etária fora da escola (INEP, 2016).
Nesse caso, a meta impõe que, até o último ano em vigor do referido plano, toda a popu-
lação de 6 a 14 anos deve estar matriculada regularmente no Ensino Fundamental de nove anos.
Além disso, a taxa de conclusão dessa modalidade de ensino deve ser de 95%, garantindo, assim, a
formação básica dos estudantes na idade certa.
Figura 2 – Meta 2: Ensino Fundamental
Essa meta não foi cumprida. Os dados apontam que a taxa de matrículas está perto da
universalização. Em 2014, a taxa líquida atingiu 97,7%. Por outro lado, 73,7% dos alunos completa-
ram o Ensino Fundamental na idade correta no mesmo ano (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2015),
depois de um crescimento contínuo, desde 2004, de 16 pontos percentuais. Sendo assim, a meta de
que esse número alcance o patamar de 95% até 2024 representa um desafio para o país, conforme
demonstramos na Figura 2.
Essa meta não foi cumprida. Ainda há um longo caminho a ser percorrido pelas políti-
cas públicas para que a meta e a concretização do direito à educação sejam atingidas. Segundo
a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), em 2014 mais de 16% dos jovens não
frequentavam a escola e não possuíam educação básica completa, o que equivale a cerca de 1,65
milhão de jovens. (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2015). Um levantamento realizado no Brasil
pela ONG (Organização não Governamental) Todos Pela Educação, com base nos resultados da
(PNAD), mostra um cenário muito preocupante, como podemos observar na Figura 3.
Um dos fatores que afastam os alunos das escolas é a reprovação, que leva à evasão e ao aban-
dono do ano letivo, e isso ocorre principalmente no Ensino Médio. As atuais mudanças previstas
para o Ensino Médio não devem ser vistas como únicas e suficientes para conseguir modificar esse
quadro, ou seja, não basta flexibilizar o currículo. A maior dificuldade da educação brasileira ainda
está na qualidade da prática pedagógica das escolas, e isso quer dizer que precisamos ter políticas
públicas à altura da importância da atuação docente.
Para tanto, a inclusão escolar é muito mais do que matricular o aluno no ensino regular, é
fazer com que ele se sinta respeitado na sua integridade.
Essa meta não foi cumprida. Dados de 2014 indicaram que naquele ano se encontravam
fora da escola 17,5% da população de 4 a 17 anos que não conseguia ou tinha grande dificuldade
para enxergar, ouvir, caminhar ou possuía alguma deficiência mental/intelectual permanente que
limitasse suas atividades habituais (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2015).
A Campanha Nacional Pelo Direito à Educação (CNDE) vem alertando sobre o descumpri-
mento dos mais importantes dispositivos do PNE. Entre as 20 grandes metas do PNE, sete delas
deveriam ter sido alcançadas dois anos após a criação do Plano. O monitoramento dos indicadores
feito por diferentes ONGs e pelo próprio Ministério da Educação (MEC) revelam, no entanto, que
as metas não serão atingidas como previsto anteriormente.
Uma criança pode ser considerada alfabetizada quando se apropria da leitura e da escri-
ta, como ferramentas essenciais para seguir aprendendo, buscando informação, desenvolvendo
sua capacidade de se expressar, de desfrutar a literatura, de ler e de produzir textos em diferen-
tes gêneros, participando de modo efetivo do meio cultural no qual está inserida (TODOS PELA
EDUCAÇÃO, 2015).
122 Legislação Educacional
Essa meta não foi cumprida. O Relatório do 1º Ciclo de Monitoramento das Metas do PNE
2014-2024 (INEP, 2016) alerta que “o desafio brasileiro urgente e indiscutível” é o de conseguir
melhorar os níveis de proficiência em leitura, escrita e matemática dos mais de 22% dos estudantes
dos país que, mesmo depois de três anos dedicados ao período escolar de alfabetização e letramen-
to inicial, só desenvolveram habilidades elementares nessa área.
Desse modo, o PNE também visa conquistar melhores médias para o Índice de
Desenvolvimento da Educação do país (Ideb). Nesse caso, as metas também são progressivas e
bianuais. A meta para 2015 era de 5,2 para os anos iniciais do Ensino Fundamental e 4,7 para
os anos finais dessa mesma etapa de ensino, além de 4,3 para o Ensino Médio (TODOS PELA
EDUCAÇÃO, 2015).
Plano Nacional de Educação – aspectos legais I 123
Atual (2015)
3,7%
Meta (2015)
4,3%
Meta (2021)
5,2
Os resultados do Ideb mostram que a meta foi cumprida apenas nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, alcançando a pontuação de 5,5. Nos anos finais dessa mesma etapa de ensino, a pon-
tuação foi de 4,5, enquanto no Ensino Médio foi de 3,7, ficando abaixo da meta desejada, conforme
demonstra a Figura 5.
O Ideb foi criado em 2005 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
(Inep), com o objetivo de medir a qualidade do aprendizado do ensino básico brasileiro.
Assim, a nota do Ideb reflete condições observadas em todo o território brasileiro, como, por exem-
plo, quando uma escola reprova em excesso seus alunos ou quando outra escola aprova estudantes
que têm lacunas de aprendizagem. Assim, o Ideb resultante desses dois tipos situações indicará a
demanda de melhoria por parte das escolas (INEP, 2016).
Atual (2014)
91,7%
Atual (2015)
Parcial (2015)
27%
93,5%
Parcial (2024)
Meta (2024) 13,5%
100%
O Brasil carrega um atraso histórico na alfabetização, que está sendo solucionado aos poucos, tan-
to em função do avanço na escolarização das novas gerações quanto do envelhecimento populacional.
A desigualdade social brasileira reflete-se nas estatísticas do analfabetismo
adulto. As médias escondem índices elevados em alguns grupos, especialmen-
te quando se consideram variáveis como situação de domicílio, raça e renda.
Embora as taxas venham decaindo em todos os grupos, a porcentagem de anal-
fabetismo da população branca ainda é menos da metade, da verificada na po-
pulação negra e parda. Da mesma forma, o analfabetismo é sete vezes mais
frequente entre os brasileiros de renda mais baixa, em comparação com os de
renda elevada, e mais de três vezes presente entre os que vivem no campo do que
entre aqueles que vivem na cidade. (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2013, p. 69)
Os dados do INAF dos últimos anos demonstram que o Brasil já avançou principalmente
nos níveis iniciais da alfabetização, mas não conseguiu progressos visíveis no que diz respeito à al-
fabetização plena. “Isto reforça a posição de que é necessário fortalecer a dimensão do alfabetismo,
considerando o desenvolvimento das habilidades de leitura/escrita e de matemática, não apenas
em processos de alfabetização inicial, mas sim ao longo de todo o ensino básico e na educação de
jovens e adultos” (INAF, 2011).
Por fim, o INAF mostra a massificação dos serviços escolares não pode se dar com o aban-
dono da noção de qualidade. Uma nova qualidade precisa ser construída, considerando as deman-
das da população não só para a continuidade dos estudos, mas para sua inserção, de forma eficiente
e autônoma, no mundo do trabalho e do exercício da cidadania (INAF, 2011).
Assim, até 2024, o PNE pretende disponibilizar educação em tempo integral em metade das
escolas públicas brasileiras, de modo a atender, no mínimo, 25% dos estudantes da Educação Básica.
Como pode ser verificado na figura, a escolaridade média entre a faixa etária de 18 a 29 anos
foi de 8,2 anos para os moradores do campo, 8,3 para a parcela mais pobre da população brasileira
e 9,5 anos para negros/afrodescendentes. Esses números têm crescido, mas revelam que as desi-
gualdades devem ser combatidas.
Assim a Meta 8, além de traçar um objetivo claro em relação ao número de anos de escola-
ridade da população, explicita a urgência do país em reduzir as desigualdades entre ricos e pobres,
entre brancos e negros, entre a cidade e o campo. Essa conquista se dará de modo efetivo quan-
do toda a população tiver acesso ao um mesmo (e adequado) padrão de ensino (TODOS PELA
EDUCAÇÃO, 2015).
Para tanto, indica-se as seguintes estratégias:
[...]
É cada vez maior a utilização da escrita e de tudo que ela proporciona ou facilita, a ponto do
oral praticamente perder toda a validade. Foi-se o tempo em que a palavra empenhada garan-
tia negócios, acordos, tratados etc. Não passa pela nossa cabeça a existência de um Estado, de
uma empresa ou de um banco sem a escrita e, obviamente, sem outra face, a leitura. Hoje, não
conseguimos imaginar essas instituições sem a escrita eletrônica.
Vê-se que o próprio conceito de analfabetismo mudou ao longo do desenvolvimento do capi-
talismo. O conceito de leitura e de escrita também se atualizou. No passado, falava-se de leitura
e interpretação, como se aquela fosse possível sem essa. Hoje, sabemos ser impossível ler sem
interpretar ou compreender. E que palavras soltas grafadas não significam texto. O conceito de
texto implica a ideia de textualidade, de encadeamento, de articulação e coerência de ideias.
São essas questões que levam à modificação do conceito de analfabeto, pois são também
considerados analfabetos funcionais aqueles que não sabem utilizar a leitura e a escrita
como práticas sociais. Esses, com certeza, estão excluídos dos processos de seleção de
emprego e do exercício pleno de direitos como cidadãos, já que não dominam as habili-
dades da escrita e da leitura.
Serão esses os primeiros “naturalmente condenados” a permanecer eternamente como se fos-
sem uma “casta menor”, à margem da sociedade, fortalecendo o exército de subempregados.
Nessas circunstâncias, serão até mesmo submetidos a trabalhos forçados ou escravo, ou sujei-
tos a fortalecer as redes de tráfico e prostituição.
Exclusão social significa também ausência total do exercício de direitos, aqueles mais básicos,
pelos quais já se empreenderam árduas lutas. Se percorrermos a história da humanidade, os
valores abrangidos como direitos humanos só passam a ser estabelecidos a partir de insurrei-
ções ou guerras sangrentas, desencadeadas pelos sofrimentos absurdos provocados pela escra-
vidão moral ou material impostas pelo poder político e econômico constituídos.
[...]
Na verdade, à medida que as sociedades se desenvolvem, acentua também a importância polí-
tica, social e econômica da escrita e da leitura. O desenvolvimento tecnológico alterou e conti-
nua alterando drasticamente as relações do ser humano com o mundo do trabalho, que requer,
além da leitura do texto verbal, a leitura de outras tantas linguagens.
[...]
Plano Nacional de Educação – aspectos legais I 129
Atividades
1. Qual o objetivo que o Plano Nacional de Educação 2014-2024 tem com a elaboração de suas
20 metas?
3. Quais os benefícios que a educação integral proporciona para o ensino de crianças e jovens,
referentes às Metas 6 e 8?
Referências
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nacional-de-educacao-completa-tres-anos-com-apenas-20-das-metas>. Acesso em: 4 maio 2018
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130 Legislação Educacional
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10
Plano Nacional de Educação –
aspectos legais II
Essa meta não foi alcançada. De acordo com os resultados de 2014, apenas 0,4% das ma-
trículas de EJA no Ensino Fundamental estavam integradas à Educação Profissional; no caso das
matrículas de EJA no Ensino Médio, a taxa foi de 3,3%. Portanto, será necessário aumentar em 22
pontos o percentual dessas matrículas para atingir o valor de 25% em 2024.
Visando a essa integração, o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional
com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e adultos (Proeja) propõe a imple-
mentação de cursos nos seguintes formatos: a) educação profissional técnica integrada ao Ensino
Médio na modalidade EJA; b) educação profissional técnica concomitante ao Ensino Médio na
modalidade EJA; c) formação inicial e continuada (FIC) ou qualificação profissional integrada ao
Ensino Fundamental na modalidade EJA; d) formação inicial e continuada ou qualificação profis-
sional integrada ao Ensino Médio na modalidade EJA; e) formação inicial e continuada ou qualifi-
cação profissional concomitante ao Ensino Médio na modalidade EJA (BRASIL, 2014).
Plano Nacional de Educação – aspectos legais II 133
Essa meta não foi alcançada, apesar do crescimento de 13,9% entre os anos de 2013 e 2015
(TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2015).
O art. 40 da LDBEN estabelece que a Educação Profissional deve ser desenvolvida em ar-
ticulação com o ensino regular, ou por diferentes estratégias de educação continuada (BRASIL,
1996). A Educação Profissional, no entanto, é historicamente demarcada pela divisão social do tra-
balho, que na prática sempre justificou a existência de duas redes de Ensino Médio, uma de educa-
ção geral, destinada a um pequeno grupo privilegiado, e outra profissional, para os trabalhadores.
A sua origem remonta à separação entre a propriedade dos meios de produção e a propriedade do
trabalho, ou seja, a lógica de que alguns pensam, planejam, e outros executam.
134 Legislação Educacional
Atual 2014
5,5%
Meta 2024
40%
Fonte: TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2015.
Essa meta não foi alcançada. Dados do Observatório do PNE (TODOS PELA
EDUCAÇÃO, 2015) mostram que a taxa bruta1 de matrículas no Ensino Superior foi de 34,2%
em 2014, enquanto a taxa líquida2 foi de 17,7%, sendo que as matrículas na rede pública cor-
responderam a 5,5% do total.
Assim, o acesso à Eucação Superior, sobretudo da população na faixa etária de 18 a 24 anos,
ainda está longe de alcançar as taxas dos países desenvolvidos e mesmo de grande parte dos países
da América Latina (INEP, 2015).
Expandir o acesso ao Ensino Superior é um grande desafio. Promover a interiorização
das instituições, aumentar o número de vagas e criar mecanismos de inclusão de populações
1 Razão entre o número total de matrículas e a população correspondente nessa faixa etária para essa etapa de ensino.
2 Razão entre o número de matrículas de alunos com idade para estar cursando essa etapa de ensino e a população
total nessa mesma faixa etária.
Plano Nacional de Educação – aspectos legais II 135
marginalizadas são algumas medidas que devem ser desenvolvidas para que a meta seja atingida
(TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2015).
Esse nível de ensino é de responsabilidade de instituições federais, estaduais ou privadas, e a
oferta em cada município fica vinculada às decisões de expansão dessas instituições. Portanto, para
cumprir a meta, é preciso um planejamento que envolva a União, os estados, o Distrito Federal e
os municípios, assegurando a qualidade da oferta e expansão no segmento público (INEP, 2015).
A qualidade da Educação Superior está diretamente associada a vários aspectos, entre eles,
o ensino, a pesquisa, a extensão, o desempenho dos estudantes, a gestão da instituição e a titulação
dos professores, sobretudo em cursos de mestrado e doutorado. Por essa razão, a Meta 13 do PNE
pretende elevar a proporção de mestres e doutores do corpo docente em efetivo exercício no con-
junto do sistema de Educação Superior, em instituições públicas e privadas (BRASIL, 2014).
Figura 4 - Meta 13: Titulação dos professores da Educação Superior
Essa meta foi parcialmente cumprida. Como podemos observar na Figura 4, segundo re-
latório do Observatório do PNE, em 2014 o percentual de docentes com mestrado ou doutorado
atingiu 74,3% e o percentual de docentes com doutorado chegou a 35,1%.
Para atingir completamente essa meta, as IES também precisam elevar o tempo integral
de dedicação desses professores, tendo em vista a melhoria da qualidade desse nível de ensino.
136 Legislação Educacional
Essa meta não foi alcançada. O número de mestres titulados em 2015 foi de 54.924, ou
91,5% da meta. O número de doutores titulados, por sua vez, foi igual a 18.625, ou 74,5% da Meta
14 (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2015). O Brasil ainda é um país que forma poucos mestres e dou-
tores proporcionalmente ao tamanho de sua população. Portanto, aumentar a oferta e qualidade
dos cursos de pós-graduação, presenciais e a distância, é o desafio para os próximos anos (TODOS
PELA EDUCAÇÃO, 2015).
Constatamos, portanto, que as metas 13 e 14 do PNE demandam uma reflexão acerca do
modelo de Ensino Superior disponível. As mudanças sociais, no mundo do trabalho e na produção
de conhecimento, impactam todos os níveis educacionais, e as IES não podem ficar alheias a isso.
Estabelecer metas para o Ensino Superior faz-se necessário porque professores capacitados
e com formação adequada exercerão suas funções com mais competência diante das demandas
escolares do século XXI.
Na sequência, vamos abordar o segundo conjunto de metas que trata da valorização dos
profissionais da educação, considerada estratégica para que as metas anteriores sejam atingidas.
Atual 2015
59,2%
Meta 2024
100%
Essa meta não foi alcançada. Como demonstra a Figura 5, em 2014, apenas 76,2% dos pro-
fessores da educação básica haviam concluído o Ensino Superior e 49,1% dos professores dos anos
finais da educação fundamental possuíam licenciatura na área das disciplinas que lecionavam.
No Ensino Médio, a porcentagem foi de 59,2% (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2015).
Atual 2014
31,4%
Meta 2024
50%
Essa meta não foi alcançada. O levantamento do Observatório do PNE mostra que ape-
nas 31,4% dos professores da educação básica possuíam pós-graduação em 2014 (TODOS PELA
EDUCAÇÃO, 2015).
A deficiência na formação inicial de docentes e profissionais da área de educação no Brasil
é um dos grandes entraves na melhoria da qualidade do ensino-aprendizagem. Nesse sentido, a
formação continuada representa um grande aliado, visto que possibilita que o professor supra lacu-
nas na sua formação, ao mesmo tempo em que se mantém em constante aperfeiçoamento em sua
atividade profissional (INEP, 2015).
Atual 2015
52,5%
Meta 2020
100%
Essa meta não foi alcançada. A pesquisa do Observatório do PNE indica que o salário
médio do professor equivale a 81,6% do que ganham profissionais com escolarização equivalente
(TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2015).
A diferença salarial entre professores e demais profissionais com mesmo nível de instrução é
inaceitável. Enquanto salário e carreira não forem atraentes, o número de jovens dispostos a seguir
a carreira do magistério continuará sendo baixo (INEP, 2015).
Plano Nacional de Educação – aspectos legais II 139
escolas declaram propor discussões com a equipe escolar a respeito do projeto político-pedagógico
(TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2015).
A gestão democrática da educação está amparada na legislação educacional brasileira.
O art. 206 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), reiterado no art. 3º, inciso VIII, da LDBEN
n. 9.394/96, menciona a “gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação
dos sistemas de ensino”. O art. 14 da LDBEN trata especificamente dessa questão, determinan-
do que os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na
Educação Básica, de acordo com os seguintes princípios: “I – participação dos profissionais da edu-
cação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e
local em conselhos escolares ou equivalentes” (BRASIL, 1996).
O art. 17 da mesma lei prevê a autonomia da escola para promover uma gestão participa-
tiva: “os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que
os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira,
observadas as normas gerais de direito financeiro público” (BRASIL, 1996).
3 Contribuição social destinada ao financiamento de programas, projetos e ações para a educação básica pública do país.
Plano Nacional de Educação – aspectos legais II 141
Monitoramento e avaliação
(BRASIL, 2015, p. 17-18)
ações, políticas e programas, bem como a necessidade de ajustes a serem feitos e decisões
a serem tomadas;
• Realização de avaliações periódicas das metas e estratégias constantes do plano, bem
como das orientações que visam à coleta sistemática de informações e apuração de indi-
cadores educacionais, articulando-se com os demais entes federativos e a sociedade civil
na obtenção das informações e na produção de relatórios avaliativos;
• Encaminhamento de relatórios de monitoramento da execução do plano ao poder
Legislativo, por intermédio de suas comissões, e ao Ministério Público, por meio de suas
estruturas e agentes;
• Empenho de cada ente federado na divulgação do plano e na progressiva realização de
suas metas, para que a sociedade conheça amplamente o seu conteúdo e acompanhe
sua execução.
Esse processo de realização e avaliação terá êxito se os planos de educação (PNE, PEE e PME)
estiverem organicamente vinculados entre si e aos seus respectivos instrumentos de planeja-
mento e às questões orçamentárias de cada ente federativo, funcionando como instrumento
estratégico da gestão de diferentes governos ao longo da década. [...]
Atividades
1. Qual é a importância da valorização e da formação universitária para os professores?
Referências
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Gabarito
2. Como parte da herança cultural, o cidadão torna-se capaz de se apossar de padrões cog-
nitivos e formativos, pelos quais tem maiores possibilidades de participar dos destinos
de sua sociedade e colaborar na sua transformação.
2. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) mostra quais são os conhecimentos es-
senciais a que todos os estudantes brasileiros têm direito de acesso, com apropriação dos
conhecimentos pertinentes, durante sua trajetória na Educação Básica, desde o ingresso
na Educação Infantil até o fim do Ensino Médio.
3. Ao se retirar da grade curricular comum disciplinas como Arte, Educação Física, So-
ciologia, Filosofia, que serão trabalhadas em outras áreas e como temas transversais,
corre-se o risco de comprometer a formação integral do aluno.
146 Legislação Educacional
3. Do RCNEI, eles são: Movimento, Música, Artes visuais, Linguagem oral e escrita, Natureza
e sociedade e Conhecimentos matemáticos. Já da BNCC são: conviver, participar, explorar,
expressar e conhecer-se.
Já as Diretrizes Curriculares Nacionais são normas obrigatórias para a Educação Básica que
têm como objetivo orientar o planejamento curricular das escolas e dos sistemas de ensino,
norteando seus currículos e os conteúdos mínimos.
2. Sim, existe. O Ministério da Educação (MEC) estabeleceu em 2006 as diretrizes para os Pa-
râmetros Nacionais Básicos de Infraestrutura direcionados às instituições de Educação In-
fantil, contendo concepções, reformas e adaptação dos espaços físicos. O imóvel da institui-
ção deverá apresentar condições de localização, acesso, segurança, salubridade, saneamento,
iluminação, higiene, entre outros, em conformidade com a legislação vigente.
3. As práticas pedagógicas que compõem o currículo da Educação Infantil são ações que de-
vem fazer parte da proposta pedagógica da escola. Elas se constituem em uma série de ati-
vidades que fazem com que a aprendizagem ocorra em sua forma mais ampla de expressão,
abrangendo questões físicas, emocionais e sociais da criança (PIMENTA, 2005).
Gabarito 147
6 Proposta pedagógica
1. O projeto político-pedagógico tem como objetivo maior tornar real a função social da edu-
cação e da escola, que é formar cidadãos críticos, reflexivos, autônomos, conscientes de seus
direitos e deveres, capazes de compreender e transformar a realidade em que vivem.
2. A Educação Infantil tem como objetivo proporcionar condições adequadas para promover
o bem-estar da criança, seu desenvolvimento físico, emocional, intelectual, moral e social, a
ampliação de suas experiências e estimular o interesse da criança pelo processo de conheci-
mento do ser humano, da natureza e da sociedade.
2. O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) tem como objetivo oferecer subsídios
para formulação, reformulação e monitoramento de políticas públicas, contribuindo para a
melhoria da qualidade do ensino brasileiro.
8 Regimento Escolar
1. O Regimento Escolar é um documento que define os objetivos da escola, os níveis de ensino
ofertados e como eles operam, além de conter as determinações legais e as linhas nortea-
doras, com várias normas que contemplam as áreas administrativa, pedagógica, didática e
disciplinar da instituição escolar.
3. A LDBEN vigente propõe que a gestão da escola pública seja permeada pela democracia,
porque se entende que a escola deve promover a formação para a cidadania.
2. Estabelece que todos os alunos devem ser alfabetizados no máximo até o fim do 3° ano do
Ensino Fundamental.
148 Legislação Educacional
3. Aos alunos é preciso propiciar múltiplas oportunidades de aprendizagem, por meio do aces-
so à cultura, à arte, ao esporte, à ciência e à tecnologia, com atividades planejadas com inten-
ção pedagógica, sempre alinhadas ao projeto político-pedagógico da escola.