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Resumo
1 INTRODUÇÃO
1
Acadêmica da 8ª fase do Curso de Pedagogia da Celer Faculdades. E-mail:
leticia_susana_daniel@hotmail.com
2
Mestre em Ciências da Educação, professor da Celer Faculdades. E-mail:
profromanzini@celer.edu.br
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Doxa: Corresponde a constituição direta da subjetividade através dos preceitos do senso comum, ou
seja, pressupostos advindos do senso comum e transferidos como referência no comportamento.
(ROMANZINI, 2015).
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deste movimento o conflito cognitivo provocado assegura os avanços tanto em
pesquisa quanto em conceituação.
Criticado pelo método da dúvida e da constante inquietação, o ceticismo
busca provas nas possíveis verdades existentes, tentado encontrar argumentos pró
e contra nessas teorias, isso só acontece quando é semeada a dúvida no que é
tomado como verdade. A dúvida representa uma inquietação para o cético, fato que
o movimento em prol da pesquisa, logo, quanto mais houver dúvidas sobre algo,
maiores serão os avanços para o conhecimento.
Diversas vezes acusado de destruidor do conhecimento, o cético faz
veridicamente o contrário, ou seja, ajuda a desconstruir certezas melhorando as
próprias bases do conhecimento. Pensar sobre o ceticismo no contexto moderno
não permite percebê-lo como inimigo do conhecimento, mas um fiel aliado para a
seriedade da pesquisa e na construção da argumentação.
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Normose: refere-se ao processo de naturalização da realidade, ou seja, ausência de estranheza e
questionamento sobre as questões que envolvem o indivíduo.
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Visto que supostamente cada ser humano pensa de maneira diferente e pode
julgar uma crença que para um é verdadeira como falsa para outro, quem sou eu e
que poder posso exercer sobre o outro para fazê-lo crer que a minha crença é a
verdadeira, pois se trata de uma verdade totalmente verdadeira para mim? E mais,
eu tenho realmente a certeza absoluta de que esta crença é realmente verdadeira e
de fato justificada? Por que vou fazê-lo crer em algo que nem eu mesmo tenho a
certeza de que é verdadeiro? Estas são algumas provocações emergentes do
ceticismo enquanto corrente filosófica, mas especificamente, no contexto atual, um
estilo de vida e pensamento totalmente moderno. Assim, a seguir se apresenta a
concepção histórica do ceticismo.
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chamada de estado de crença, sendo assim, o possível conhecimento é uma forma
de acreditar em uma suposição possivelmente verdadeira. Logo, o sujeito é levado a
explicar sua teoria ou sua crença por meio de argumentos, não sendo obviamente
dependentes de ideias vindas de teorias controversas ou de forma dogmática, sem
ter um fundamento de verdade, porque sendo assim a teoria posta em debate já
seria anulada, pois a pessoa cética dificilmente aceita algo com base em poucos
relatos, assim se faz necessário uma boa justificação de sua teoria para ser aceita
como uma crença verdadeira.
Para o ceticismo filosófico, o ser humano pode querer acreditar em qualquer
coisa ou em nada (GRECO, 2012, p. 69), pois tais pessoas que vivem em meio a o
senso comum, ou seja, doxas podem acreditar e se conformar com qualquer
informação, fato ou crença contada, vivendo na normose, ou então, podem
simplesmente negar determinadas crenças somente por não acreditar nela ou por
comodismo sem buscar a verdade ou sem questionar e investigar mais a fundo
sobre a teoria contada a elas, ficando inerte ao possível real conhecimento dos
fatos.
Já, por sua vez, o cético comum (aquele que não é filósofo), pensa que os
padrões de credibilidade das pessoas são baixos, e não que a busca pelo
conhecimento já esteja destinada ao fracasso desde o início, presumindo que o
conhecimento é sustentado por razões não boas, ao contrário do que pensa Platão,
que afirma que havendo conhecimento, já teríamos uma sustentação de boas
razões. E, finalmente os céticos suponham que, uma crença seja qual for deve ser
investigada e verdadeiramente fundamentada com provas adequadas, para assim
terem o provável veredito de crença verdadeira ou falsa.
Segundo Hume (apud GRECO, 2012, p. 70), os argumentos céticos não
admitem contradições embora não produzam certeza. Portanto Hume nos levanta
para um problema teórico: Porque perder tempo tentando contradizer uma posição
que não é levada a sério? A nossa vontade em acreditar em algo excede sobre a
nossa capacidade de racionalizar ou justificar, segundo Hume existem coisas das
quais não podemos duvidar, embora não possamos defender. Pois quando voltamos
para analisar alguma crença nossa, elas acabam perdendo o enfoque e
desaparecendo.
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Pode ser possível que exista conhecimento em algumas outras crenças,
segundo John Greco (2012, p. 77), uma crença baseada no campo do conhecimento
a priori, mais claramente nosso conhecimento sobre fatos matemáticos, como por
exemplo, “2+2=4”. Entendemos que 2+2=4 é algo verdadeiro se compreendermos
antes o que quer dizer 2+2=4. Aprender o que significa, ou o que vale o número 2
(dois), o número 4 (quatro), o + (mais), que quer dizer adição, somar, o = (igual/
resto). Para saber isso hipoteticamente é necessário ter o conhecimento antes sobre
o número 2 (dois) e assim por diante, para então conhecermos que possivelmente
os fatos matemáticos são exemplo de verdade verdadeira e justificada. Mas quem
me garante que o número 2 (dois), equivale mesmo a 2 (dois)?
Outro exemplo é a sensação de dor. Sentimos a dor, mas apenas sabemos
que estamos sentido algo que chamamos de dor, não sabemos como sabemos que
sabemos sentir dor. Como explicar tais crenças? Pois até mesmo as crenças
matemáticas parecem ser somente semelhantes à verdade, mas antes precisamos
de todo um entendimento de um sistema completo de aritmética, para depois
construir o conhecimento. De acordo com esta teoria, filósofos simpatizantes dizem
que nossas crenças são todas interligadas em um extenso e complicado sistema e
que estas crenças são justificadas por dependerem de um fundamento com
coerência, não sendo justificadas isoladamente, pois elas estão interligadas e o fato
de produzir ou não uma justificativa coerente depende de todo o sistema de crenças.
E somente uma crença irá resultar em conhecimento quando puder ser justificada
por evidencias apropriadas e ditas como verdadeiras.
Considerando que todos os seres humanos se desenvolvem e aprendem por
meio de nossos sentidos, repetindo movimentos ou palavras, por meio de
informações levadas até o cérebro para termos uma percepção consistente daquilo
que fizemos uma experiência sensorial. Diante disso Descartes é pioneiro nas
provações céticas sobre o conhecimento através do questionamento como: Por que
temos tanta certeza de que nos desenvolvemos de uma maneira e não de outra? E
em resposta cita dois exemplos:
O primeiro diz respeito ao fato de que temos sonhos, que são experiências
conscientes que temos enquanto dormimos. Eles não correspondem de
maneira confiável a eventos que estejam acontecendo à nossa volta, e
também não produzem conhecimento do ambiente. (Presumivelmente, eles
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resultam na atividade cerebral espontânea) [...] Como sei que não estou
sonhando agora mesmo? Como sei que não estou sonhando o tempo todo?
Eu posso me beliscar, poder-se-ia dizer. Mas talvez isso seja apenas parte
do sonho. Na realidade, parece que qualquer teste que eu possa propor
poderia ser apenas parte do sonho. (GRECO, 2012, p. 82)
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Nessa outra metáfora, Descartes diz que nós podemos estar possuídos por
um Gênio do mal que só quer nos enganar, comandando o nosso corpo e a nossa
mente. Esta metáfora questiona a própria existência da bondade e, da capacidade
de existir um ser além de Deus, já que a noção da deificação de Deus como
bondade, certamente, não lhe permite ser maligno. Sob estes aspectos, Descartes
tenta mostrar que realidade pode não ser o que pensamos ser, ou seja, nossas
experiências não podem ser generalizadas. Descartes suspeita que não adquirimos
pela experiência conhecimento nenhum, chegando a conclusão de que: Não existe
nenhum tipo de conhecimento, pois todo o contato adquirido não é real, mais uma
vez é uma suposição que não é necessário nem de argumentos para tentar justifica-
la.
E para aprofundar ainda mais a sua teoria, Descartes da impossibilidade
empírica, apresenta outra metáfora chamada “o cérebro encubado”, a qual Greco faz
a seguinte releitura:
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Destas provocações, emerge o ceticismo enquanto possibilidade de romper
conceitos dogmatizados. O cético jamais se restringe a uma formação específica,
mas ao movimento investigativo sobre tudo que lhe é posto como verdade ou que
envolva o seu cotidiano. No intuito de conhecer melhor a trajetória do ceticismo, o
item a seguir, retrata o texto mais importante para o Ceticismo, transcrito por Sexto
Empírico e chamado de Hipotiposes Pirrônicas. O texto é caracterizado por conter
os preceitos principais do considerado precursor do ceticismo na Grécia chamado
Pirro de Èlis.
O ceticismo é uma habilidade que opõe as coisas que aparecem e que são
pensadas de todos os modos possíveis com o resultado de que devido à
eqüipolência nesta oposição tanto no que diz respeito aos objetos quanto às
explicações, somos levados inicialmente à suspensão e depois a
tranquilidade (SEXTO, 1997, p. 116).
Em uma visão geral o cético questiona coisas da mente e sua relação com o
mundo que foram vistas de alguma maneira, neste momento chega-se ao estado de
equipolência quando conseguimos observar se algo é aceitável ou não, bem como
as variações possíveis de interpretação. No entanto, não podendo haver um conflito
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de ideias onde uma seja mais significativa em justificativa que a outra, o cético entra
no estado de repouso.
Este estado se caracteriza por colocar simbolicamente tudo em uma balança
e, considerando que não irá pender para nenhum dos lados, o cético não adere a
qualquer dos lados. Exemplificando, tomando a existência de Deus, obviamente as
explicações são inúmeras contra a existência e a favor dela, em situação como esta,
o cético percebe o equilíbrio da balança, logo, sem a capacidade de ver qual dos
lados apresenta maior significância o cético não opta por nenhum, suspendendo
então seu juízo de valor, assim como entrando em tranquilidade por não pactuar
com um dos lados sem a compreensão necessária.
O ceticismo, segundo Sexto (1997, p. 115) crê que a verdade será encontrada
quando posto na balança um lado pender totalmente e, neste sentido, poderemos
aderir a uma certeza, porém, até o momento, o cético tem encontrado novas
possibilidades de contrapor e, sob este critério, a verdade plena, ou totalmente
justificada não foi atingida, logo, a procura deve continuar. Sob este aspecto o
cético, assume a suspensão do juízo, ou seja, não adere, mas concorda que existem
determinadas compreensões, porém não as toma como certeza e continua sua
busca.
Sexto descreve que a motivação do cético é atingir a tranquilidade frente às
anormalidades achando para cada dúvida outra equivalente, assim não tendo uma
atitude dogmática. A filosofia, segundo Sexto (1997, p. 115) é classificado em três
tipos: dogmáticas, céticas e acadêmicas, ambas seguem linhas diferentes de
pensamentos.
Os dogmáticos são aqueles contra quem Sexto (assim como o fez Pirro)
investia seus pensamentos céticos, pois afirmam ter conhecido a verdade mantendo
as coisas como sendo reais a partir das crenças, podemos dizer então que
Aristóteles era um filósofo dogmático. Os acadêmicos como Carnéades consideram
a verdade como algo que não se pode aprender, mas apresentam doutrinas que
possam chegar próximo da verdade, para eles a percepção é o ponto de partida
para qualquer conhecimento, então nada do que percebemos poderá ser afirmado
como algo verdadeiro. Já os céticos como Descartes, não afirmam e nem negam tal
teoria, são dubitadores e continuam buscando a verdade através de argumentações
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procurando as respostas para as dúvidas abrindo conflitos entre os argumentos para
que possam escolher um deles que seja convincente para aderir como verdadeiro.
Portanto:
[...] o dogmático mantém serem reais as coisas sobre as quais tem crenças,
mas o cético enuncia suas fórmulas de modo que elas próprias se auto-
eliminam [...] E o ponto principal é que ao enunciá-las ele diz aquilo que lhe
aparece e relata o que sente de forma não-dogmática, sem afirmar nada de
positivo sobre o que existe na realidade externa (SEXTO, 1997, p. 118).
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ainda que a finalidade do cético é a tranquilidade em questões de opinião e a
sensação moderada quanto ao inevitável. [...]” (SEXTO, 1997, p. 120).
Especificamente, o cético, não questiona questões de mera aparência, como
por exemplo, a cor do raio de sol que aparece em nossa visão, pois inevitavelmente,
não posso ter a certeza de como a sensação do sol aparece para outras pessoas,
no entanto, posso dizer que creio que outro também tem a sensação de algo que
parece ser o mesmo que sinto ao receber o toque de um feche de luz que
eminentemente não me parece frio. Podemos observar que o cético não determina
que é quente o raio de sol, mas que parece não ser frio, haja vista que não pode
determinar uma generalização do que é este calor. Logo, podemos compreender:
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2.1.3 Montaigne: O ceticismo contra a soberania intelecto humano
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O ser humano por sua vez não é diferente em termos de comunicações, nos
comunicamos com os demais de nossa raça principalmente através da fala, mas
quando não se tem o benefício da fala ou da audição usamos mímica ou sinais, para
sermos compreendidos. Assemelhando-nos aos animais, pelo fato de nós seres
humanos e os animais possuirmos inteligência suficiente para termos a
compreensão da língua falada em nossa determinada espécie, para assim produzir
a aprendizagem da fala e/ou dos gestos para conseguirmos nos comunicar e nos
entender.
De acordo com o pensamento de Montaigne (2010, p.55), se uma criança
entregue a si mesma e criada em pleno isolamento, sem relações com seres
humanos provavelmente inventaria uma espécie de palavra para se exprimir. E se
por ventura saísse desse local e tivesse que viver em sociedade com outras
pessoas supostamente não conseguiria se comunicar com a língua criada por ela,
pelo fato de que ela não será compreendida por nós que temos outra língua para
nos comunicarmos. Mas isso não a impede de que aprenda a falar a nossa língua.
Diante disso Montaigne diz que:
Presumo que, uma vez que um animal ama o seu dono ele faz o possível
para protegê-lo e ajuda-lo, pois, o animal sabe das dificuldades de seu dono.
Desempenha este papel por ter uma inteligência, pois como o animal saberia que o
seu dono não conseguiria passar por aquele determinado fosso? Pelo seu raciocínio
e sua inteligência, ele concluiu que seu dono não conseguiria, então procurou uma
alternativa mais acessível para seu dono. Para que assim os dois pudessem passar
o fosso com segurança. O dono de um cão guia, por ser cego, deve confiar
plenamente em um cão e na inteligência deste animal, visto que a pessoa cega seja
totalmente dependente do animal para lhe guiar e para lhe proteger de perigos como
estes.
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Por que os animais não podem se comunicarem com nós humanos? E por
que algumas coisas que falamos são compreendidas por eles? De acordo com
Montaigne os animais provavelmente compreendem o que dizemos a eles e
respondem. Por exemplo, um cachorro adestrado por uma pessoa pode fazer o que
lhe for pedido, como deitar e rolar e até desempenhar o oficio de ser um cão guia
para nós humanos. Para que possam fazer exatamente o queremos é necessário
que primeiramente entendam o que estamos dizendo a eles, tendo o conhecimento
de nossa língua, segundo que tenham inteligência e raciocínio suficiente para
realizarem o que estamos lhes pedindo e terceiro escolher se querem fazer
determinado pedido ou não.
Segundo Montaigne nós humanos precisamos de alguém que nos ensine a
fazer, a falar, a andar, a comer, a se vestir. Sem o aprendizado não conseguiríamos
fazer nada, a não ser chorar. Nós precisamos enxergar alguém caminhando para
vermos que é possível caminhar e de que maneira se caminha. Precisamos de um
exemplo, de um auxílio para produzirmos algum tipo de estimulo para gerar o
conhecimento e depois que aprendemos, passamos a diante em razão de que
aprendemos de maneira correta e que nos lembramos dela. Não sendo superiores
aos animais, mas similares.
Acredito, afirma Montaigne (2010, p.53), que somos um espírito construído de
consciência e principalmente de sentimentos, revestidos por uma capa de pelos,
pele e ossos, que nos dá a sustentação e o equilíbrio, chamado de corpo e
membros. Conforme Montaigne o primeiro sentimento do ser humano é o choro,
ocorrido no ato de nascer. Não precisamos de ajuda alguma para aprender a como
chorar. O choro verdadeiro é um sentimento involuntário e difícil de controlar e
impossível de se ensinar. Somos fisicamente diferentes da maioria dos animais, no
entanto eles assim como nós, possuem espírito, consciência, corpo e membros, e
por esta razão também podem tem a capacidade de chorar, da mesma maneira são
capazes de sentirem emoções parecidas com as que sentimos. Pressupondo mais
uma vez que somos parecidos.
Se, ainda em nossa superioridade dissermos que os animais não podem ser
inteligentes o bastante, comparados a nós, possivelmente estamos sendo incorretos,
uma vez que Montaigne nos expressa:
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Os habitantes da Trácia, quando têm que atravessar um rio gelado, servem-
se de uma raposa que caminha à sua frente. Vê-se o animal aproximar o
ouvido do gelo, até tocá-lo para verificar se a água corre perto ou longe. E
verificada a espessura do gelo, avança ou recua. Não somos levados a
pensar que em seu cérebro se observa um processo racional semelhante
ao que se processaria o nosso? “O que faz barulho, mexe; o que mexe não
é gelo é liquido; e o que é liquido afunda sob o peso de um fardo”. Atribuir o
ato da raposa à curiosidade do seu ouvido, sem reflexão de sua parte, é
uma quimera que nosso espírito não pode aceitar [...] (MONTAIGNE, 2010,
p. 54).
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um predador, ora por atingir o que deseja pegar. O polvo altera sua tonalidade da
pele de acordo com a sua vontade, diferentemente do camaleão, que assim como
nós, por vezes nosso rosto muda de cor sob a influência da vergonha, irritação,
medo e outras emoções e sentimentos, se origina de uma causa que as determina.
Os animais, portanto, detém o poder de sentimentos e preferências? De
acordo com os pressupostos de Montaigne sim, uma vez que ele cita que:
(MONTAIGNE, 2010, p. 58) “Para os caçadores a melhor maneira de escolher entre
vários cachorrinhos o melhor dos demais, é colocando a cadela em condições de
realizar ela mesma a seleção, como simulando uma fogueira em torno do ninho”.
Selecionando os filhotes, o primeiro que ela vai buscar é o melhor, o mais forte.
Percebe-se que os animais podem, portanto, prever o que nós não prevemos ou
possuem a virtude de julgar as qualidades de seus filhotes, que para nós humanos,
é desconhecida.
Em conformidade com Montaigne, os animais nascem, crescem,
reproduzem-se, aumentam-se, movem-se vivem e morrem como nós, e digamos que
os animais também podem amar. Pois “Hircano, o cão do Rei Lisíamo, não quis
abandonar o leito de seu dono quando este morreu. Nem comer nem beber e no dia
em que o cremaram atirou-se a fogueira”. (MONTAIGNE, 2010, p. 58) Os animais
assim como nós têm preferências em seus sabores e amores, e os machos sabem
encontrar suas fêmeas. Da mesma forma que nós, eles sentem ciúmes, que
algumas vezes os levam a atos de violência.
Nós humanos somos mais desorganizados que os animais, que se mantêm
em moderação dentro dos limites que a mãe natureza os impõe. Contudo, há
animais que procuram o amor do homem, como o elefante de Alexandria que era
apaixonado por uma moça vendedora de flores, ele colhia frutas pelo mercado e
levava a sua enamorada; E também um ganso de Acopa, que era apaixonado por
uma criança. Bem como certos animais têm relações amorosas com indivíduos do
mesmo sexo e espécie.
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produzindo mais o banho o resultado almejado, deixou o asno de entrar na
água (MONTAIGNE, 2010, p. 59).
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[...] veem-se bois, veados e outros animais, os quais acodem ao chamado
dos companheiros. Quando o escaro engole o anzol que lhe estende o
pescador, juntam-se os outros e roem a linha, quando por acaso um deles
cair na rede, pegam-no os de fora pelo rabo e puxam com força para fazê-lo
sair. Os barbos, quando um deles é fisgado, raspam a corda do arpão com
as costas, as quais são armadas de um osso em forma de serra, e se
esforçam por cortá-la (MONTAIGNE, 2010, p. 61).
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Montaigne no texto apologia a Raimond Sebon incita passos para o ceticismo
em relação à condição humana e sua relação com o mundo, principalmente com o
contato aos animais. Verdan (1998) explica que Montaigne apesar de iniciar sua
carreira apresentando fortes marcas do ceticismo, ao final da vida renuncia suas
indagações a uma lógica fideista e cega ao campo da fé, ainda é de extrema valia
na reflexão, principalmente do direito dos animais e da relativização da vida de todas
as espécies no planeta.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Contudo, estudar o ceticismo não é aderir a preceitos teóricos, mas descobrir
que o ato de pensar não envolve apenas a realidade dos fatos, mas a condição de
possibilidade que cada causalidade apresenta. No campo da educação, resignificar
a prática educativa pelo interlúdio do ceticismo favorece a superação dos
preconceitos e da limitação imposta pelos paradigmas aos novos desafios
educacionais, sejam estes políticos, sociais ou pessoais.
Abstract
Through the contact with classes, was discovered the epistemological field of skepticism and the
possible contributions methodological the theoretical research. The skepticism covers an investigative
method that seeking to break with dogmatism and encourage the criticality. A skeptic is not who
stopped believing, but those who seek the truth which support the beliefs. The skeptic challenge is in
problematize the reality and what is placed like answer for daily, finding the equivalence between
concepts. Once that do not find the answer, the skeptic arises on suspension of judgment to await
advances in knowledge, and so, to be able resume his examination. Being skeptic, no admits
affirmatives, but only a belief in possibility, because certainty is just achieved, for answered doubt,
without answer, what is left is will continue searching. Investigate the skepticism is major for to
education break up paradigms and rethink his praxis at the daily.
Keywords: Skepticism. Knowledge.
REFERÊNCIAS
SEXTO EMPÍRICO. Hipóteses Pirrônicas. Livro I. MG: Revista o que nos faz
pensar, 1997.
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