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A preexistência
A reflexão cristológica, tal como se inicia nos escritos do NT, pressupõe os seguintes
elementos: experiência do Cristo terrestre; pro-existência da sua vida, concluída com a
morte em favor dos homens; excesso do seu fazer superando toda espera humana e toda
potencia humana, de forma que faz exclamar assombrados e aclamar agradecidos num
hino de amor de Deus; convicção de que o que tem acontecido em Cristo provem de
Deus, pertence a Deus e é Deus mesmo na medida em que entre Deus e Cristo se dá
unidade de ação, palavra e destino. Estes quatro elementos conjugados fazem surgir uma
serie de categorias à luz das quais a cristología posterior compreenderá quem era, da onde
vinha e como conseguiu levar a cabo Cristo a redenção do pecado e a comunicação da
vida divina aos homens. As categorias claves para a cristología sistemática em diante
serão: preexistência, mediação na criação, missão, encarnação, kénosis, revelação,
divindade.
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soteriológica da que nascem as categorias de preexistência, missão e encarnação. A Igreja
chega a elas fazendo memoria da vida, morte e ressurreição de Jesus, pensando o que
significa a salvação e como foi realizada por Cristo, ao mesmo tempo que indagando
quais são as condições de possibilidade para que essa salvação seja “escatológica”, quer
dizer, insuperável e irrevogável. A conclusão é que Deus estava em Cristo, que Cristo
tinha unidade de ser e não só de destino com Deus. Neste sentido podemos dizer que tais
convicções da Igreja são revelação de Deus. O Espirito va completando a verdade de
Jesus, desvelando à Igreja o fundamento da sua ação salvífica, mostrando a sua origem
divina e a identidade pessoal do homem Jesus com o Filho, junto com a sua preexistência
no seio do Pai.
Tudo isto não podia ser falado por Jesus mesmo, porque faltavam as condições
objetivas para o entender: a) Por parte de Cristo, já que ainda não tinha sido glorificado e
o seu ser não era ainda a plena expressão e manifestação de Deus. b) Por parte dos
discípulos, já que sem o dom do Espirito não “podiam” ainda compreender tais
afirmações de Jesus (Jo 16,12-13). A verdade completa de Jesus é fruto da ação
inspiradora do Espirito Santo, que foi legado por Jesus como a sua memoria eficaz e o
seu interprete autentico. Foi fruto também da ação reflexiva da Igreja que indagou os
fundamentos de possibilidade para a sua afirmação do caráter escatológico do Mediador
da nossa salvação.
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ações salvificas de Yhvh, surgida no contexto ou com a finalidade litúrgica, é uma
parábola do destino de Jesus, quem existindo na forma de Deus não retém como si fosse
um rapto essa condição divina, senão que se despossui dela. A encarnação é a primeira
forma de humilhação que caracterizará toda a vida de Cristo. A resposta de Deus a essa
kénosis é a glorificação, com a entrega duma forma divina de existência (nome) e a
potestade de santificação e juízo sobre os homens (kyrios). Mas a kénosis pode se
entender também num outro sentido: Cristo, existindo com poderes divinos neste mundo,
não reclama honras divinas nem se manifesta como Deus (ocultamento) mas como
homem. Cristo seria então a figura antitética de Adão, aquele que sendo de condição
divina escolhe viver de forma humilhada, em quanto que este, sendo de condição
humana, reclama ser como Deus. O final do cmainho kenótico é a morte na cruz, suprema
degradação do homem até no seu corpo, que Cristo comparte com os escravos
crucificados do mundo.
O texto central para afirmar a preexistência de Cristo é o prologo de São João, que se
tem apropriado os conceitos veterotestamentarios de Sabedoria, Palavra, Shekinah, para
colocá-los no termo grego Logos. Essas figuras mediadoras da ação criadora, salvadora e
santificadora de Deus no mundo, encontram a sua culminação em Cristo, descoberto
desde o final da sua historia como Logos existente em Deus. Agora bem, no prologo a
encarnação (1,14) tem uma ultima significação soteriológica, não só porque a ultima
função do Filho é nos dar a possibilidade de ser “filhos” (1,12), mas porque ele tem sido
desconhecido e rejeitado pelos seus (1,11). Essa rejeição é a morte na cruz por nós. Desta
forma o Logos assume ou atrai para si também a mediação sofredora do Servo de Yhvh
(Is 52,13-53,12), e pode aparecer perante os homens como a plenitude da qual todos os
anteriores e os posteriores participam (1,16). A lei, a sabedoria, a palavra, a interpretação,
o sofrimento vigário de profetas e servos ficam referidos a ele e consumados nele
“Porque da sua plenitude recebemos todos graça sobre graça. A Lei foi dada por Moises,
porém a graça e a verdade vieram por Jesuscristo. A Deus ninguém lhe viu jamais. O
Filho unigênito que está no seio do Pai, esse nos o tem dado a conhecer” (1,16-18). Os
dois versículos primeiros e os dois últimos dão as chaves do prologo e se correspondem:
o Logos estava em Deus, e por ele foram feitas todas as coisas – o Logos estava no seio
do Pai e por ele têm sido reveladas e comunicadas ao mundo a verdade e fidelidade de
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Deus. À preexistência na origem como criador (1,3) e nascente da vida-luz (1,4),
corresponde a proexistência no final como revelador e redentor escatológico (1,16-18). O
fundamento é o mesmo: a sua pertença ao ser (seio) de Deus, porque só Deus pode
revelar definitivamente a Deus. As formas desta referencia dupla à realidade e à historia
estão conexas: porque está na origem do ser como Criador, pode estar no meio do tempo
como Revelador e no final como Consumador. Nele é Deus mesmo quem se dá e se
manifesta, insertando-se de forma nova na sua criação e humanidade. Deus foi um “sim”
criador e esse sim originário chega até o final: Cristo é definido por São Paulo como o
“Sim” = “o Amem” de Deus. Amem significa a afirmação de que Deus é fiel até o final à
sua criação, ainda quando tenha sido quebrada pelo pecado e o homem na liberdade se
tenha afastado dele.
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