Este documento discute como a racionalidade é expressa em programas projetivos ao longo da história. Identifica cinco categorias de racionalidade - harmônica grega, eficiente romana, celestial medieval, antropocêntrica renascentista e científica moderna. Argumenta que os programas projetivos raramente registram as discussões e críticas que levaram às decisões de projeto, perdendo a oportunidade de responder melhor às tensões do presente.
Este documento discute como a racionalidade é expressa em programas projetivos ao longo da história. Identifica cinco categorias de racionalidade - harmônica grega, eficiente romana, celestial medieval, antropocêntrica renascentista e científica moderna. Argumenta que os programas projetivos raramente registram as discussões e críticas que levaram às decisões de projeto, perdendo a oportunidade de responder melhor às tensões do presente.
Este documento discute como a racionalidade é expressa em programas projetivos ao longo da história. Identifica cinco categorias de racionalidade - harmônica grega, eficiente romana, celestial medieval, antropocêntrica renascentista e científica moderna. Argumenta que os programas projetivos raramente registram as discussões e críticas que levaram às decisões de projeto, perdendo a oportunidade de responder melhor às tensões do presente.
No quinto e último capítulo da tese “Programas projetivos: Uma visão panorâmica
dos gregos aos modernos, suas características, princípios e fundamentos”, é apresentada a ideia de que a racionalidade, apesar de estar por trás da execução de todo objeto projetivo, está longe de ser algo universal e atemporal. O que se verifica é uma série de fatores, expressos em um dado contexto histórico e cultural, que são amarrados em uma determinada racionalidade que ganha consistência em seu tempo, podendo vir também a desvanecer com a emergência de novos contextos e consequentemente de uma nova racionalidade que se sobrepõe. É por esse motivo, que os recortes historiográficos foram tomados como base para identificar uma racionalidade vigente em cada período analisado, conformando cinco categorias de racionalidade: a racionalidade harmônica grega, a razão eficiente romana, a razão celestial medieval, a razão antropocêntrica renascentista e a razão científica moderna. Para a primeira delas, a ideia central é a da harmonia, “que se fez expressar nas proporcionalidades matemáticas, nas relações de hierarquia, simetria, equivalência, complementaridade, interdependência, reciprocidade, entre outras características.” A segunda, a razão eficiente romana, surge a partir da expansão do império romano e das novas demandas de infraestrutura e, também, da necessidade de se expressar a grandiosidade desse império em suas construções. Tudo isso faz com que, apesar de compartilhar vários elementos simbólicos com as ordens gregas, a arquitetura romana encontre nos amplos avanços técnicos o ponto chave de suas contribuições. A próxima categoria apresentada também se consolida a partir de inovações técnicas que viriam a buscar a expressão da devoção medieval na catedral gótica. O saber construtivo foi fruto da organização monasterial do conhecimento pela Igreja Católica e também da organização do trabalho nas guildas e corporações de ofício, que se articularam para expressar na catedral a razão divina. A razão antropocêntrica renascentista é apresentada como órfã de uma manifestação construtiva que conseguisse expressar os princípios da racionalidade de seu tempo, originando uma arquitetura anacrônica e despropositada. “O claro descompasso entre a razão antropocêntrica e sua representação nos objetos projetivos renascentistas visível no uso do repertório insistentemente neoclássico só pode ser explicado nos termos da lentidão com que a razão científica se movia entre as técnicas construtivas para apresentar seus novos sistemas tecnológicos construtivos.” Quanto a esses argumentos, considero que a releitura do repertório clássico no Renascimento, não se dá por mero conservadorismo estético, ou por lentidão na inovação técnica. Encontra-se no repertório clássico, articulado com clareza por meio da organização geométrica das fachadas e espaços, da escala mais próxima do humano, dos regimes de proporções e dos valores cívicos, a manifestação de um Universo mapeável, mensurável, e reconhecível pelo homem renascentista e portanto, expressão estética de uma racionalidade contemporânea àquelas pessoas, tanto quanto nos outros períodos apresentados. Por último, o período da razão científica moderna é apresentado como aquele onde as transformações iniciadas no Renascimento, atribuindo cada vez maior autonomia ao ser humano frente ao divino e à natureza, vão encontrar uma expressão estética e tectônica também transformadas. A simplificação das formas e dos acabamentos, é tratada muito mais como fruto das transformações produtivas, que tornaram economicamente inviáveis os ornamentos e a produção manufatureira, do que como um desdobramento da racionalidade científica. A passagem por esses diferentes contextos históricos, tem como intenção mostrar que “essa amálgama de características éticas profundas, complexas e dispersas por todos os campos de cada comunidade histórica sofre é apropriada pelos projetistas de forma natural, imediata – sem mediação.” A isso é acrescido que “a grande totalidade dos projetistas da cultura ocidental não se veja, não se perceba, não se examine, não se pense em seus respectivos contextos de modo que seus objetos projetivos deixem de se apresentar como meros reprodutores acríticos dessas grandes linhas.” Entendo daí que os programas projetivos não registram as discussões que levaram à tomada de cada decisão, fazendo com que várias edificações se tornem simplesmente efeito de várias condicionantes que incidem sobre o momento do projeto, sem que haja um posicionamento crítico que reordene e possa oferecer resposta às tensões do presente. O programa projetivo poderia vir a ser uma forma de registro das várias intersecções entre um projeto e as questões de seu tempo que ele visa articular, contrapor, ou manifestar. O fato de projetistas simplesmente colocarem suas obras no mundo, priva esse processo das discussões e da crítica que poderia gerar soluções mais adequadas e complexas.