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Principais métodos geofísicos para prospecção mineral, de petróleo, de água-


subterrânea e estudos geotécnicos

Book · October 1994


DOI: 10.13140/RG.2.1.4720.5289

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1 author:

Milton J. Porsani
Universidade Federal da Bahia
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA UFBA

CENTRO DE PESQUISA EM GEOFÍSICA E GEOLOGIA

PRINCIPAIS MÉTODOS GEOFÍSICOS PARA

PROSPECÇÃO MINERAL, DE PETRÓLEO,

DE ÁGUA-SUBTERRÂNEA E

ESTUDOS GEOTÉCNICOS.

Prof. Dr. Milton J. Porsani

Outubro de 1994
Índice

1 O Método Gravimétrico 1

1.1 Densidade das rochas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

1.2 Levantamento Gravimétrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

1.3 O princı́pio de funcionamento do gravı́metro . . . . . . . . . . . . 5

1.3.1 “Drift” do gravı́metro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

1.4 Correções nas medidas gravimétricas . . . . . . . . . . . . . . . . 7

1.4.1 Correção de maré . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

1.4.2 Correção de latitude . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

1.4.3 Correção de ar-livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

1.4.4 Correção Bouguer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

1.4.5 Correção de terreno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

1.4.6 Correção isostática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

1.5 Representação dos dados gravimétricos . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.6 Aplicação da Gravimetria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

1.7 Dificuldades na interpretação gravimétrica . . . . . . . . . . . . . 12

2 O Método Magnetométrico 15

2.1 A propriedade fı́sica responsável pela magnetização . . . . . . . . 16

i
ii ÍNDICE

2.2 Levantamento magnetométrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2.3 Princı́pios de funcionamento do magnetômetro . . . . . . . . . . 18

2.3.1 Magnetômetro Schmidt . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2.3.2 Magnetômetro Flux-Gate . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2.3.3 Magnetômetro de ressonância nuclear (tipo próton) . . . . 19

2.3.4 Magneto-gradiômetros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

2.4 Correções nas medidas magnetométricas . . . . . . . . . . . . . . 21

2.4.1 Variação diária solar do campo geomagnético . . . . . . . 22

2.4.2 Correção da variação diária solar . . . . . . . . . . . . . . 22

2.5 Representação dos dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

2.6 Aplicações da magnetometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

3 Método Sı́smico de Refração 27

3.1 Conceitos básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3.2 A sı́smica de refração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

3.3 Procedimento de campo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

3.4 Situações favoráveis à aplicação da sı́smica de reflexão . . . . . . 34

4 O Método Sı́smico de Reflexão 47

4.1 Correções aplicadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

4.2 Levantamento sı́smico de reflexão . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

4.3 Situações favoráveis ao emprego da sı́smica de reflexão . . . . . . 50

4.4 Vantagens e limitações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

5 O Método da Eletroresistividade 53

5.1 Propriedade fı́sica envolvida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

5.2 Fundamentos do método . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55


ÍNDICE iii

5.3 Modalidade de utilização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

5.3.1 Caminhamentos elétricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

5.3.2 Sondagens elétricas verticais . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

5.3.3 Prática de SEV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

5.3.4 Situações favoráveis para a prática da SEV . . . . . . . . 61

5.3.5 Programação do trabalho de campo . . . . . . . . . . . . 61

5.3.6 Interpretação de SEVs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

5.3.7 Aplicações mais difundidas das SEVs . . . . . . . . . . . . 64

6 O Método Eletromagnético 65

6.1 Propriedades fı́sicas envolvidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

6.2 Princı́pios fı́sicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

6.2.1 Amplitude e fase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

6.2.2 Ângulo de fase e diagrama vetorial . . . . . . . . . . . . . 67

6.3 Profundidade de investigação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

6.4 Modalidades de utilização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

6.4.1 Sondagem eletromagnética . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

6.4.2 Perfilagem horizontal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

6.4.3 Levantamentos aéreos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

6.4.4 Levantamentos terrestres . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

6.5 Situações favoráveis para aplicação do método EM . . . . . . . . 71

6.6 Vantagens e limitações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

6.7 Interpretação qualitativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

6.8 Interpretação quantitativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

6.9 Procedimento de escritório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73


iv ÍNDICE

7 O Método da Polarização Induzida 75

7.1 A medida do fenômeno de PI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

7.1.1 PI no domı́nio do tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

7.1.2 PI no domı́nio da freqüência . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

7.2 Propriedade fı́sica responsável pelo fenômeno de PI . . . . . . . . 77

7.2.1 Polarização de eletrodo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

7.2.2 Polarização de membrana . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

7.3 Sondagens e caminhamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

7.4 Situações favoráveis para aplicação do método de PI . . . . . . . 80

7.5 Vantagens e limitações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

7.6 Representação dos dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

7.7 Interpretação qualitativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

7.8 Interpretação quantitativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

7.9 Aplicações geológicas do método de PI . . . . . . . . . . . . . . . 83

7.10 Procedimento de campo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

7.11 Procedimento de escritório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84

8 Bibliografia 85
Lista de Figuras

1.1 Representação esquemática mostrando o contraste lateral de den-


sidades resultantes da deformação estrutural em quatro camadas
horizontais (Sharma, 1982) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

1.2 Variação da densidade volumétrica para alguns tipos de rochas


(Grant e West, 1965). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

1.3 Princı́pio de funcionamento dos gravı́metros (Griffths e King, 1972). 5

1.4 Correção da deriva do gravı́metro. As diferenças gAB, gAC e


gAD são as diferenças verdadeiras de gravidade entre a estação
base e as estações B;C e D (Griffths e King, 1972). . . . . . . . . 7

1.5 Correção Bouguer e de terreno. A correção Bouguer se refere aos


efeitos de gravidade devidos à camada entre a estação P e o nı́vel
de base B. A correção de terreno toma em consideração os efeitos
dos baixos e altos topográficos (pontos 2, 3 e 4) (Sharma, 1982). 9

1.6 Procedimento para a determinação da densidade dos materiais


através das medidas gravimétricas. A densidade de d=1.9 g/cm3
corresponde ao valor dos materiais de subsuperfı́cie uma vez que
elimina o efeito da topografia (Sharma, 1982). . . . . . . . . . . . 10

1.7 Deflexão do fio de prumo na presença de uma montanha. A rep-


resenta a de deflexão teórica que deveria ser causada pela massa
da montanha. B representa a deflexão observada (sensivelmente
menor devida a influência da raiz da montanha). C representa a
direção do fio de prumo na ausência da montanha (Sharma, 1982). 10

1.8 Método gráfico para separação da anomalia gravimétrica local da


regional (Sharma, 1982). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

v
vi LISTA DE FIGURAS

1.9 Mapa de anomalia Bouguer (figura superior) e mapa da derivada


segunda (figura inferior) (Sharma, 1982). . . . . . . . . . . . . . . 12

1.10 A ambiguidade na interpretação de dados gravimétricos. Uma


dada anomalia gravimétrica pode ser explicada por uma var-
iedade (um número teoricamente infinito) de diferentes distribuições
de massa a diferentes profundidades . . . . . . . . . . . . . . . . 13

2.1 Componentes vertical e horizontal da intensidade do campo geo-


magnético (Sharma, 1982). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

2.2 Mapa de intensidade total do campo magnético terrestre em 1980.


Interva lo de contorno de 2000◦ . A localização de 4 regiões com
máxima intensidade sugere uma configuração de 2 dipolos ou 1
quadripolo (Sharma, 1982). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

2.3 Representação esquemática do magnetômetro de campo vertical


do tipo Schmidt. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2.4 Representação esquemática do magnetômetro Flux-Gate. P bobina


primária. C núcleo com material de alta susceptibilidade magnética.
S bobina secundária. (Griffths e King, 1972). . . . . . . . . . . . 19

2.5 Medidas do gradiente vertical realçam anomalias locais (devidas


a fontes superficiais) e suprimem os efeitos regionais (devidos a
fontes distantes). ∆t representa a anomalia de campo magnético
total (Sharma, 1982). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

2.6 A anomalia de campo magnético total. F representa o campo


geomagnético; T representa a perturbação (campo anomalo); FR
é o campo resultante da composição dos campos F e T; TF rep-
resenta a anomalia de campo total na direção do campo da terra
(Sharma, 1982). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

2.7 Variação diária do campo geomagnético no Observatório Kakioka,


Japão (Takeuchi et al, 1974) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

2.8 Representação da curva de variação diurna do campo geomagnético


utilizada na correção das medidas de campo . . . . . . . . . . . . 23

2.9 Mapa da anomalia de intensidade total do campo geomagnético


na Elevação do Pacı́fico Leste. A unidade é 10− 5 gauss. As
setas indicam os movimentos ao longo da falha. Curvas com lin-
has contı́nuas indicam anomalias positivas e linhas pontilhadas,
anomalias negativas (Takeuchi et al, 1974). . . . . . . . . . . . . 25
LISTA DE FIGURAS vii

3.1 Curvas de tempo de trânsito para ondas diretas, refratadas após


o ângulo crı́tico e ondas refletidas (Sharma, 1982). . . . . . . . . 28

3.2 Distribuição das velocidades nas rochas, (velocidades em m/s) . . 29

3.3 Representação simplificada de um geofone do tipo eletromagnético.


No presente caso, a bobina é fixa ao corpo do geofone enquanto
que o imã é preso através de molas (Sharma, 1982). . . . . . . . 30

3.4 Representação esquemática mostrando um sismograma (parte su-


perior) associado a um modelo de camadas plana horizontais com
3 horizontes refletores (Sharma, 1982). . . . . . . . . . . . . . . . 30

3.5 Movimento das partı́culas em ondas sı́smicas longitudinais (de


Sharma, 1976). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

3.6 Movimento das partı́culas em ondas sı́smicas transversais (de


Sharma, 1976). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

3.7 Tipos comuns de deformações elásticas (Sharma, 1982). . . . . . 38

3.8 Reflexão e refração de uma onda longitudinal incidente numa in-


terface separando dois meios com diferentes velocidades (Sharma,
1982). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

3.9 Ilustração do princı́pio de Huygens para a refração . . . . . . . . 39

3.10 Ilustração utilizada na derivação da Lei de Snell . . . . . . . . . . 39

3.11 Raios incidentes e refratados em função do ângulo de incidência


em uma interface plana, V1 < V2 (Adaptada de João C. Dourado). 40

3.12 Raio incidente e raios refratados segundo o ângulo crı́tico, V1 <


V2 (Adaptada de João C. Dourado). . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

3.13 Gráfico do tempo de percurso das ondas diretas e refratada sobre


uma camada horizontal de espessura h e velocidade V1 sobreposta
ao substrato de velocidade V2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

3.14 Curvas de tempo de trânsito para as ondas direta e refratadas em


uma interface plana com ângulo de mergulho φ (Sharma, 1982). . 42

3.15 Camada de baixa velocidade (V2 ) entre camadas de maior ve-


locidade. O método sı́smico de refração não pode determinar V2
(Sharma, 1982). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
viii LISTA DE FIGURAS

3.16 Curva de tempo de trânsito demonstrando o efeito da espessura


da segunda camada (h2 ) sobre os tempos de primeiras chegadas.
As linhas contı́nuas representam as primeiras chegadas. As lin-
has tracejadas correspondem às chegadas secundárias ou extrap-
olações baseadas nas primeiras chegadas (Ward, 1990). . . . . . . 44

3.17 O rejeito da falha é responsável pelo deslocamento ∆t na curva


de refração (Sharma, 1982). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

4.1 A parte superior da figura mostra o gráfico do tempo de reflexão


versus a distância entre o ponto de tiro e o geofone. A parte infe-
rior da figura mostra o modelo de duas camadas com velocidade
V1 e V2 e profundidade h1 do refletor. As setas indicam o cam-
inho dos raios para o geofone nas posições S, G e G’ (Sharma,
1982). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

4.2 Sismograma de campo com a presença de ruı́do coerente (A)


(ground roll) e efeitos da superfı́cie que causam distorções nas
reflexões ao lado direito da figura (B, C, D e E). . . . . . . . . . 49

4.3 A geometria considerada para a correção de NMO para um refle-


tor único. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

4.4 Antes da correção de NMO em (a) e depois da correção de NMO


em (b) (Yilmaz, 1988). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

4.5 Representação esquemático do sistema de levantamento sı́smico


marinho (Sharma, 1982). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

4.6 Seção sı́smica de reflexão e sua correspondente seção geológica


interpretada (de Sharma, 1986). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

5.1 Distribuição das resistividade elétrica nas rochas (de Griffths e


King, 1972). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

5.2 Configuração dos eletrodos de potencial (P1, P2) e de corrente


(C1, C2) para o arranjo Wenner (Grant e West, 1965). . . . . . . 54

5.3 Representação esquemática das linhas de corrente (linhas trace-


jadas) e das superfı́cies de potencial (linhas contı́nuas) entre dois
eletrodos de corrente (C1 e C2) no terreno. (A) Distribuição
dos potenciais e correntes em um terreno homogêneo. (B) Per-
turbação causada pela presença de um corpo condutor (Sharma,
1982). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

5.4 Arranjos com eletrodos de corrente fixos. . . . . . . . . . . . . . . 57


LISTA DE FIGURAS ix

5.5 Arranjos com eletrodos de corrente e de potencial móveis . . . . 58

5.6 Perfil de resistividade aparente obtido com o arranjo Wenner


através de um canal (Grant e West, 1965). . . . . . . . . . . . . . 58

5.7 Arranjos comuns utilizados em sondagens elétricas verticais. . . . 59

5.8 Arranjos dipolares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

5.9 Curva tı́pica para modelo de quatro camadas de sondagem elétrica


vertical obtida com o arranjo Schlumberger. A figura ilustra o
recurso utilizado no campo denominado de ”embreagem”(Ward,
1990), que possibilita aumentar o valor da diferença de poten-
cial medido nos eletrodos MN, conferindo maior estabilidade e
confiabilidade às medias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

5.10 Exemplo de interpretação de curvas de campo (linha tracejada


com X) através do acasalamento da curva de campo com curvas
padrão para modelo de 2 camadas (Sharma, 1982). . . . . . . . . 63

5.11 Ilustração do princı́pio da equivalência para uma camada condu-


tiva confinada entre duas resistivas. As duas curvas de resistivi-
dade são praticamente as mesmas para as duas situações: (i) a
camada do meio com resistividade de 15 ohm m e espessura de 50
m, e (ii) resistividade 20 ohm m e espessura 66m (Sharma, 1982). 63

6.1 Representação esquemática do sistema de prospecção com o método


eletromagnético (Sharma, 1982) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

6.2 Diagrama vetorial representando as relações de fase entre o campo


primário (P), o campo secundário (S) e o campo resultante (R)
(Sharma, 1982). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

6.3 Angulo de inclinação do campo eletromagnético na presença de


uma anomalia EM. O campo primário é horizontal. A resultante
entre o campo primário (P) e o secundário (S) é representada
por R, cuja inclinação a partir da horizontal é representada por
T (Sharma, 1982). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

6.4 Bobinas horizontas, componentes em-fase e fora de fase (quadratura)


do campo EM (Grant e West, 1965). . . . . . . . . . . . . . . . . 70

6.5 Uma das disposições de bobinas empregadas na prospecção eletro-


magnética aérea (Griffths e King, 1972). . . . . . . . . . . . . . . 70
x LISTA DE FIGURAS

7.1 Formas do sinal transmitido e recebido no domı́nio do tempo


(Ward, 1990). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

7.2 Representação esquemática do fenômeno da polarização de eletrodo


mostrando a distribuição anômala de ı́ons próxima à interface
sólido-lı́quido (Ward, 1990). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

7.3 Representação esquemática do fenomeno da polarização de mem-


brana em uma rocha contendo minerais de argila. (a) antes da
aplicação do campo elétrico. (b) depois da aplicação do campo
elétrico (Ward, 1990). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

7.4 Arranjo gradiente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

7.5 Arranjo polo-dipolo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

7.6 Arranjo dipolo-dipolo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

7.7 Método para representar os dados obtidos com o arranjo dipolo-


dipolo na forma de uma pseudo-seção (Ward, 1990). . . . . . . . 82

7.8 Pseudo sec ao associada ao arranjo dipolo-dipolo. . . . . . . . . 82

7.9 O efeito de um vale sobre a pseudo-seção de resistividade com o


arranjo dipolo-dipolo (Ward, 1990). . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
LISTA DE FIGURAS xi

Apresentação

Estas notas subsidiaram o curso Introdução aos Principais Métodos Geofı́sicos


promovido pela Sociedade Brasileira de Geofı́sica e ministrado por mim nos
dias 21 e 22 de outubro de 1994, como parte das atividades do 38o Congresso
Brasileiro da Sociedade Brasileira de Geofı́sica em Camburiu, Santa Catarina.
O texto foi preparado com o objetivo de apresentar de forma simples as car-
acterı́sticas fundamentais dos principais métodos geofı́sicos de exploração. O
texto foi elaborado com base em alguns livros básicos de geofı́sica de exploração
(Grant & West, e outros) e em notas de aulas colecionadas e em parte elabo-
radas nos cursos de graduação e pós-graduação em geofı́sica, nas universidades
de São Paulo, Pará e Bahia. Crı́ticas e sugestões serão bem vindas.

Milton Porsani
Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Geofı́sica
Instituto de Geociências
Rua Caetano Moura 123
Universidade Federal da Bahia
CEP-40.210-340 Salvador, Bahia, Brasil.
e-mail: porsani@cpgg.ufba.br
xii LISTA DE FIGURAS

Introdução

A geofı́sica de exploração é uma atividade tecnológica relativamente nova. Sua


origem data do inı́cio do século, estando em pleno desenvolvimento. A prospecção
geofı́sica, é a primeira vista um conjunto de técnicas fı́sicas e matemáticas apli-
cadas a exploração do subsolo para a busca e estudo de jazimentos de substâncias
úteis, por meio de observações efetuadas na superfı́cie da Terra. A geofı́sica pura
se vale dos mesmos métodos para o estudo das questões referentes a zonas pro-
fundas da Terra sólida.

A prospecção geofı́sica também é útil ao estudo de fundação para a engenharia


civil, localização de sı́tios arqueológicos, localização de galerias subterrâneas,
navios afundados, etc. Em todas estas investigações, os corpos ou estruturas
procuradas podem ser detectadas se possuirem alguma propriedade fı́sica dis-
crepante com relação ao ambiente hospedeiro, isto é, com relação aos materiais
que o rodeia. A prospecção geofı́sica está intimamente relacionada com a Fı́sica
e com a Geologia e resolve graças à Fı́sica, problemas colocados em termos
geológicos. Os métodos de prospecção utilizam as leis e instrumentos de quase
todos os ramos da fı́sica.

As principais propriedades exibidas pelas rochas são: densidade, magnetismo,


elasticidade e condutividade elétrica, as quais se relacionam aos quatro maiores
métodos geofı́sicos: gravitacional, magnético, sı́smico e elétrico. O tipo de
método geofı́sico é escolhido como sendo aquele que é mais caracterı́stico da
propriedade fı́sica associada ao alvo prospectado, ou ao ambiente geológico ao
qual ele está associado. Além das questões logı́sticas e operacionais, em linhas
gerais, a escolha dos parâmetros de campo é determinada de forma a permitir
que as medidas geofı́sicas discriminem as anomalias.

Os métodos geofı́sicos caem em 2 grandes grupos: aqueles nos quais se observa


a propagação do campo com o tempo, e aqueles onde são medidas as carac-
terı́sticas de um campo estacionário ou quase estacionário. A sı́smica e métodos
elétricos de um modo geral, caem no primeiro grupo, enquanto que a gravime-
tria, magnetometria, potencial espontâneo caem no segundo grupo.
Capı́tulo 1

O Método Gravimétrico

Os corpos materiais se atraem e a constatação visual desse fenômeno faz parte


do nosso dia-a-dia. Qualquer objeto (mais pesado que o ar) quando solto cai
para nı́vel mais baixo. Esta propriedade universal da matéria foi primeiramente
estudada por Newton, e tem importantes aplicações nos estudos astronômicos e
geofı́sicos. De forma bastante genérica e abstrata podemos dizer que os corpos
materiais têm associados a si um ambiente gravimétrico que na sua vizinhança
é correspondido por qualquer outro corpo material. No caso do planeta Terra,
esse ambiente é chamado de potencial geogravitacional e a força que é sentida
por um corpo de prova de massa unitária é chamada de aceleração da gravidade
ou campo geogravitacional.

Um dos desafios e objetivos dos geocientistas que estudam o campo geogravita-


cional é conhecer as propriedades e estruturas internas causativas do ambiente
geogravitacional sob estudo. Tanto o problema pode estar em escala planetária
onde o estudo é conduzido através de satélites ou de levantamentos terrestres
de escala continental, ou em escala regional ou mesmo local, conforme é o caso
dos trabalhos de prospecção de petróleo e prospecção mineral.

O método gravimétrico, denominado gravimetria, consiste em medir e analisar


as diminutas variações do campo geogravitacional, com o objetivo de determinar
a distribuição em subsuperfı́cie das rochas de diferentes densidades que causam
essas variações. Diferentes tipos de rochas têm diferentes densidades, daı́a in-
fluência dessas densidades no campo geogravitacional na superfı́cie da Terra. As
observações dessas variações são normalmente feitas na superfı́cie do terreno ou
em navios. Levantamentos aéreos e subterrâneos também podem ser efetuados,
porém com menor freqüência. A gravimetria é utilizada na fase preliminar dos
trabalhos de prospecção de petróleo para o reconhecimento estrutural de bacias
sedimentares pouco conhecidas geologicamente, na locação e mapeamento de
domos de sal, e ocasionalmente na prospecção de minerais densos como cromita

1
2 CAPÍTULO 1. O MÉTODO GRAVIMÉTRICO

(d = 4, 6 g/cm3 ).

O objetivo da prospecção gravimétrica é detectar estruturas de subsuperfı́cie


através das variações que estas estruturas impõem ao campo geogravitacional.
Este método geofı́sico tem aplicação limitada na prospecção mineral, porém
algumas vezes pode apresentar bons resultados na delimitação de mineralizações
associadas a minerais de alta densidade.

Todas as anomalias gravimétricas são decorrentes de variações horizontais na


densidade dos materiais de subsuperfı́cie. Se os materiais terrestres estivessem
distribuidos segundo camadas horizontais com densidade uniforme não existiria
anomalia gravimétrica. Se as camadas com diferentes densidades são pertur-
badas por qualquer evento geológico, então são produzidas anomalias de massa
que podem ser detectadas pela gravimetria. A Figura 1.1 ilustra uma anomalia
gravimétrica decorrente da deformação estrutural em camadas horizontais.

Figura 1.1: Representação esquemática mostrando o contraste lateral de den-


sidades resultantes da deformação estrutural em quatro camadas horizontais
(Sharma, 1982)

O campo geogravitacional depende fundamentalmente de vários fatores, dos


quais o volume e a forma da Terra e seus materiais constituintes são os mais
importantes. Na verdade, a magnitude do campo geogravitacional na superfı́cie
da Terra depende da latitude, topografia, marés e variações de densidade nos
materiais de subsuperfı́cie. Este último fator é o único de importância na
prospecção gravimétrica e seu efeito é muito menor que o outros juntos. A
forma da Terra é ligeiramente esférica com um pequeno achatamento nos po-
los. A elipsidade é ≈ 1/298 e o campo gravimétrico pode matematicamente ser
aproximado como sendo aquele devido à um elipsóide. Porém nos trabalhos de
prospecção gravimétrica o que é medido são as diferenças de gravidade de um
local para outro do terreno, e que são devidos a variação lateral da densidade
das diferentes geologias presentes na área em estudo. O estudo dessa variação
através das ligeiras flutuações do campo gravitacional terrestre é o objeto de
1.1. DENSIDADE DAS ROCHAS 3

estudo do método gravimétrico de exploração.

1.1 Densidade das rochas

Densidade é uma propriedade fı́sica que varia significativamente de um tipo de


rocha para outro. Do mesmo modo a susceptibilidade e a magnetização natural
constituem propriedades úteis para a prospecção geofı́sica. O conhecimento da
distribuição dessas propriedades fı́sicas no subsolo fornece informações valiosas
para estudar a geologia de subsuprefı́cie de uma determinada área. Cada uma
dessas propriedades fı́sicas mencionadas é fonte de um campo potencial. Esta é a
razão pela qual os métodos gravimétrico e magnetométrico serem denominados
de métodos potenciais. Matematicamente ambos são tratados através da mesma
teoria.

A densidade é a propriedade fı́sica utilizada no método gravimétrico. Esta


propriedade varia bastante de um tipo de rocha para outro. Em geral não é
possı́vel estabelecer uma relação entre um determinado tipo de rocha e a sua
densidade. Por exemplo, isto significa que é possı́vel existir mais de um tipo
de arenito com densidades iguais. Mesmo assim, é possı́vel observar alguma
correspondência entre os tipos de rochas e suas densidades. Por exemplo, as
rochas sedimentares são, em geral, menos densas que as rochas cristalinas (ı́gneas
e metamórficas).

No caso das rochas sedimentares a sua composição, idade, porosidade, profun-


didade de onde ela se encontra, etc., são fatores importantes que influenciam a
densidade. Por exemplo, em geral o calcário é mais denso que um conglomerado.
A composição, textura, mineralização e fraturas determinam em geral o valor
da densidade das rochas ı́gneas. As rochas metamórficas, em geral, são mais
densas quanto maior for o grau de metamorfismo. As rochas metamórficas são
bastantes irregulares com respeito a densidade.

1.2 Levantamento Gravimétrico

As leituras no gravı́metro são de fato, muito simples. Porém a arquitetura do


levantamento deve ser previamente planejada. A decisão mais importante é
relacionada com a distribuição das estações no terreno. O número de estações
depende do problema geológico a ser estudado e do acesso no terreno. Durante
o levantamento gravimétrico sempre é necessário fazer simultaneamente (caso
já não exista) o levantamento topográfico da área prospectada. Geralmente o
trabalho de topografia é mais caro do que o gravimétrico, e portanto para o caso
de levantamentos de grandes áreas é possı́vel utilizar altı́metros, um na base e
4 CAPÍTULO 1. O MÉTODO GRAVIMÉTRICO

Figura 1.2: Variação da densidade volumétrica para alguns tipos de rochas


(Grant e West, 1965).

o outro medindo a altitude nas estações de gravimetria. Um erro de 25 cm na


elevação de uma estação pode influenciar o valor de ∆g aproximadamente de
0, 07 mgal.

Levantamentos de grande escala cobrindo centenas de quilômetros quadrados


e executados com o objetivo de revelar grandes estruturas possuem não mais
que poucas estações por quilômetros quadrados. As estações são escolhidas de
forma a dar uma cobertura razoavelmente uniforme. No quadro abaixo estão
mostradas as caracterı́sticas dos diferentes tipos de levantamento gravimétrico.

Tipo de Levantamento Caracterı́stica


Reconhecimento menos de 0,2 estações por km2
Semi-detalhe 0,2 a 0,5 estações por km2
Detalhe mais do que 0,5 estações por km2

Quando da realização de qualquer tipo de levantamento se faz necessário o


estabelecimento de bases gravimétricas. Um ponto no qual o valor da gravi-
1.3. O PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DO GRAVÍMETRO 5

dade é conhecido é denominado de base gravimétrica, ou ponto de amarração


se ele for usado como ponto de referência para outras medições de gravidade.
As bases gravimétricas podem ser estações cujos valores absolutos de gravi-
dade foram observados, (normalmente localizadas em Instituições cientı́ficas),
ou estações interligadas a redes gravimétricas mundiais, ou a redes regionais
que estão amarradas aos valores absolutos observados.

As estações de campo são levantadas em conjunto de estações que começam


e acabam em uma base local. A distribuição e o número de bases locais de-
pendem da distância que pode ser percorrida dentro do “drift” do gravı́metro.
O gravı́metro deve ser transportado sempre em posição vertical, não pode ser
sujeito a vibrações, golpes, etc., e não pode ser exposto a variações rápidas e
intensas de temperatura.

1.3 O princı́pio de funcionamento do gravı́metro

O campo geogravitacional tem um valor médio ≈ 980gal (1 gal = 1cm/seg 2 )


com uma variação de 5 gal (±5%) entre os valores no equador e nos polos. A
flutuação do campo gravitacional devido as estruturas geológicas de interesse
na prospecção de petróleo e mineral, é muito diminuta, e não excede alguns
miligals, isto é, uma parte em um milhão. Portanto, para se obter informações
associadas apenas às variações laterais de densidade nos materiais geológicos
dentro da área prospectada, é necessário dados com precisão de 0, 01 mgal.

Ainda não existem equipamentos para medir g com tal precisão, porém existem
instrumentos que podem medir a variação de g com precisão até maior do que
0, 01 mgal. Isto pode ser obtido medindo as variações diminutas do peso de
uma massa muito pequena quando deslocada de uma posição para outra. Os
instrumentos com essa finalidade são denominados de gravı́metros. Os mais im-
portantes são: o gravı́metro LACOSTE-ROMBERG e o gravı́metro WORDEN.

O equipamento é excencialmente uma balança de mola extremamente sensı́vel.


O princı́pio básico de funcionamento consiste na compensação da força gravita-
cional pela elasticidade de uma mola, de acordo com a lei de Hooke. Todas as
medidas de gravidades com objetivos de prospecção são feitas com gravı́metros.
Estes equipamentos são projetados para medir diretamente pequenas diferenças
na intensidade gravitacional. São instrumentos portáteis de rápida operação
e com sensibilidade inteiramente adequada para levantamentos gravimétricos.
Uma das modalidades de gravı́metro, basicamente consiste de uma haste aproxi-
madamente horizontal presa numa das extremidades, sustentando um peso como
mostra a Figura 1.3.

A haste está conectada à mola principal, a qual está conectada no extremo supe-
rior ao suporte logo acima do engate da haste. O momento, M, que a mola exerce
6 CAPÍTULO 1. O MÉTODO GRAVIMÉTRICO

Figura 1.3: Princı́pio de funcionamento dos gravı́metros (Griffths e King, 1972).

na haste é igual ao produto da força restauradora, F, da mola pela distância, a,


até o suporte, M=Fa. Isto compensa o momento gravitacional, mglcosθ, onde
θ é o pequeno ângulo que a haste faz com a horizontal. Se a gravidade au-
menta, a haste defletirá para baixo até atingir uma nova posição de equilı́brio.
Isto irá provocar um aumento no comprimento e na força restauradora, F, mas a
distância, a, irá diminuir. É possı́vel, então, pela seleção apropriada do ponto de
ligação obter pequenos aumentos no momento restaurador, M, com o aumento
da gravidade. Utilizando esse princı́pio é possı́vel produzir um instrumento com
uma resposta linear em um grande intervalo de medida.

Na prática torna-se mais satisfatório empregar uma força conhecida para trazer
a haste para sua posição de equilı́brio inicial, quando for defletida por alguma
variação de gravidade. O meio usual de se fazer isto é prender o extremo superior
da mola principal á cabeça de um micrômetro e medir o deslocamento necessário
para restaurar a haste à posição inicial em termos da leitura no micrômetro. No
gravı́metro WORDEN, a mola principal é acoplada no seu extremo superior às
duas molas subsidiárias e cada uma delas é presa a um micrômetro.

Grandes deflexões podem ser produzidas pelo efeito de variações de temperatura


na mola e por isto a maioria dos instrumentos têm de ser mantidos a temperatura
constante. Isto é feito por meio de uma bobina de aquecimento ligada a uma
bateria e um termostato.
1.3. O PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DO GRAVÍMETRO 7

1.3.1 “Drift” do gravı́metro

Variação nas leituras devidas apenas ao equipamento são denominadas de “drift”


do gravı́metro e dependem das variações de pressão e temperatura e do manu-
seio do gravı́metro. Tais variações dependem de cada equipamento e seu efeito
precisa ser removido da leitura. Existem vários procedimentos utilizados nos
levantamentos para tal finalidade. O mais comum consiste em retornar de ho-
ras em horas à estação de referência.

As leituras de um gravı́metro em qualquer ponto depende da escala escolhida e


não guarda nenhuma relação com o valor absoluto da gravidade naquele ponto.
Se o gravı́metro é transportado por algumas horas, ou mesmo deixado em uma
mesma posição e novamente lido no mesmo lugar, notar-se-á uma variação na
leitura. Isto é provocado principalmente por uma distensão muito lenta da
mola, muito embora as variações de pressão e temperatura contribuam para a
distensão. O efeito é conhecido como “drift” e tem de ser corrigido.

A correção do “drift” é muitas vezes feita para um conjunto de medidas de forma


que elas começam e terminam numa mesma estação de medida. Anotando-se o
tempo em que foram tomadas as medidas, o “drift” poderá ser assumido linear,
e será igual a diferença entre as medidas para a estação que foi repetida. O
procedimento para remoção do “drift” está representado na Figura 1.4.

Figura 1.4: Correção da deriva do gravı́metro. As diferenças gAB, gAC e gAD


são as diferenças verdadeiras de gravidade entre a estação base e as estações
B;C e D (Griffths e King, 1972).

A “drift” pode variar um pouco de dia para dia e mesmo durante o curso de um
mesmo dia, razão pela qual deve-se repetir a medida na estação de referência
com a freqüência de algumas horas.
8 CAPÍTULO 1. O MÉTODO GRAVIMÉTRICO

1.4 Correções nas medidas gravimétricas

Para que as medidas gravimétricas estejam afetadas apenas pelas variações de


densidade das rochas de subsuperfı́cie, elas precisam ser corrigidas de vários
efeitos, descritos a seguir.

1.4.1 Correção de maré

É devida às deformações periódicas que a Terra sofre em conseqüência do movi-


mento de rotação na presença do campo gravitacional do Sol e da Lua. Da
mesma forma que os oceanos, as superfı́cies dos continentes são submetidos ao
fenômeno das marés. Tais deformações periódicas da Terra sólida, chamada de
maré terrestre, é conseqüência do campo gravitacional do Sol e da Lua. A pe-
riodicidade é excencialmente devida à rotação da Terra no campo gravitacional
Lunar e Solar.

1.4.2 Correção de latitude

É devida à rotação e a forma da Terra (achatada nos polos). Em levantamentos


sobre extensas áreas continentais as medidas gravimétricas são influenciadas
pela forma e rotação da Terra. O valor de gravidade no polo é 5,2 miligal maior
que no equador. Para correção é usada a fórmula
g = ge (1 + 0.0052884sen2 φ − 0.0000059sen2 2φ) e a correção a ser somada ou
subtraı́da é dada por,

1 dg
∆gL = ≈ 0.8119sen2φ
r dφ

Esta correção é subtraı́da das medidas gravimétricas de latitudes maiores, com


relação a latitude da estação base, e somada às medidas nas estações de latitudes
menores.

1.4.3 Correção de ar-livre

É aplicada com o objetivo de trazer todas as medidas para uma mesma altitude
de referência. É realizada com o objetivo de eliminar o efeito da altitude das
estações de medidas, reduzindo todas as medidas a um mesmo nı́vel altimétrico.
Estações acima desse nı́vel apresentam medidas menores. Porque estão mais
distantes do centro de massa da Terra, precisam ser acrescidas de algum valor
para trazer as medidas como se tivessem sido feitas na altitude de referência, e
vice-versa para estações abaixo da altitude de referência.
1.4. CORREÇÕES NAS MEDIDAS GRAVIMÉTRICAS 9

Considerando o caso de uma esfera homogenea,


GM
go =
R2
2h 3h2 4h3
 
GM GM
g= = 2 1− + 2 − 3 + ...
(R + h)2 R R R R
desprezando-se os termos de ordem maior que 2, resulta
GM 2h 2h
go − g = ∆g = = go
R2 R R

substituindo os valores de G, M e deixando R igual ao raio médio da Terra,


resulta ,
∆g = 0, 3086h mgal/m
Esta correção leva em conta apenas a altitude da estação de medida, indepen-
dentemente dos materiais na vizinhança. Esta é a razão do nome de correção
de ar-livre.

1.4.4 Correção Bouguer

Aplicada com a finalidade de compensar a atração dos materiais terrestres en-


tre a estação de observação e o “datum” de referência. Esta correção tem a
finalidade de compensar a atração dos materiais terrestres entre a estação de
observação e o “datum” de referência, conforme ilustrado na Figura 1.5.

Figura 1.5: Correção Bouguer e de terreno. A correção Bouguer se refere aos


efeitos de gravidade devidos à camada entre a estação P e o nı́vel de base
B. A correção de terreno toma em consideração os efeitos dos baixos e altos
topográficos (pontos 2, 3 e 4) (Sharma, 1982).

O valor dessa correção é igual ao da atração de uma camada horizontal infinita


com espessura h e densidade ρ, dada por,
g mgal
∆g = 2πGρh = 0, 04193ρh
cm3 m
10 CAPÍTULO 1. O MÉTODO GRAVIMÉTRICO

Se a estação está acima do “datum” de referência, a medida de g foi acrescida


do efeito da camada infinita, compreendida entre o ponto de observação e o
“datum”, então a medida precisa ser subtraı́da desse efeito, e vice-versa.

1.4.5 Correção de terreno

Aplicada com a finalidade de eliminar os efeitos devidos à atração por aci-


dentes topográficos, como montanhas e vales, nas proximidades da estação de
observação. Massas acima do nı́vel da estação atenuam o valor real que seria
obtido na ausência da elevação. Da mesma forma, os valores abaixo da estação
também diminuem o valor da medida que seria obtida no caso dos vales estarem
preenchidos, isto é, caso não existissem vales na circunvizinhança. Deste modo a
correção será sempre positiva e portanto sempre adicionada aos valores medidos.

A Figura 1.6 mostra um procedimento para obtenção da densidade a ser uti-


lizado na correção Bouguer.

Figura 1.6: Procedimento para a determinação da densidade dos materiais


através das medidas gravimétricas. A densidade de d=1.9 g/cm3 corresponde ao
valor dos materiais de subsuperfı́cie uma vez que elimina o efeito da topografia
(Sharma, 1982).
1.4. CORREÇÕES NAS MEDIDAS GRAVIMÉTRICAS 11

Esta correção é aplicada a cada ponto de observação e o valor a ser adicionado é


calculado graficamente por meio de mapas topográficos, nos quais é computada
a atração correspondente ao volume de todas as colinas e vales circunvizinhos à
estação.

1.4.6 Correção isostática

Aplicada em levantamentos de escala continental com o objetivo de eliminar o


efeito gravitacional devido à atração de grandes massas continentais. A Figura
1.7 mostra a influência de uma cadeia de montanhas nas medidas gravimétricas.

Figura 1.7: Deflexão do fio de prumo na presença de uma montanha. A rep-


resenta a de deflexão teórica que deveria ser causada pela massa da montanha.
B representa a deflexão observada (sensivelmente menor devida a influência da
raiz da montanha). C representa a direção do fio de prumo na ausência da
montanha (Sharma, 1982).

Isostasia é o termo geológico para o fenômeno da flutuação dos materiais conti-


nentais sobre o manto. A diferença entre a direção esperada e aquela observada
no fio de prumo nas proximidades de uma montanha é uma evidência de que a
massa em excesso na montanha deve ser equilibrada ou compensada pela estru-
tura subjacente. Este tipo de correção se aplica a levantamentos gravimétricos
de escala continental. As rochas continentais possem menor densidade que as
rochas oceânicas. A massa de uma montanha é compensada por uma deficiência
de massa abaixo dela e a correção isostática segue o mesmo princı́pio da correção
topográfica.
12 CAPÍTULO 1. O MÉTODO GRAVIMÉTRICO

1.5 Representação dos dados gravimétricos

Após realização das correções necessárias, o valor da gravidade é denominado de


gravidade Bouguer, a qual representa de um modo geral variação de densidade
das rochas do subsolo que, por sua vez refletem variações geológicas nos mate-
riais de subsuperfı́cie. Os dados de gravidade Bouguer podem ser representados
em perfis e mapas.

A Figura 1.8 ilustra o método gráfico para separação da anomalia local da


regional. Os mapas consistem na representação em planta por meio de curvas

Figura 1.8: Método gráfico para separação da anomalia gravimétrica local da


regional (Sharma, 1982).

de iguais valores Bouguer, e assemelham-se aos mapas de contornos topográficos.


A depender da escala do levantamento gravimétrico, estes mapas apresentam
feições com diferentes padrões gravimétricos que podem corresponder a áreas
de bacias sedimentares, falhamentos, intrusões, mineralizações.

A Figura 1.9 mostra um mapa de anomalia Bouguer e o mapa da segunda


derivada, correspondente. É possı́vel, meramente por inspeção do mapa Bouguer,
fazer uma interpretação qualitativa. A análise do mapas Bouguer permitem in-
ferir modelos para as estruturas geológicas e são utilizados com a finalidade de
interpretação das distribuições de rochas de diferentes densidades.

Os valores altos de gravidade podem ocorrer associados a anticlinais ou com altos


estruturais, ou com a presença de intrusões básicas densas. Reciprocamente,
bacias sedimentares e intrusões ácidas, normalmente correspondem a baixos
gravimétricos. As faixas de gradientes elevados são produzidos por contatos
verticais entre rochas de diferentes densidades, como é possı́vel ocorrer em planos
de falhas.
1.6. APLICAÇÃO DA GRAVIMETRIA 13

Figura 1.9: Mapa de anomalia Bouguer (figura superior) e mapa da derivada


segunda (figura inferior) (Sharma, 1982).

1.6 Aplicação da Gravimetria

Como já foi dito no inı́cio dessa seção, a gravimetria é um método para reconhec-
imento das grandes traços estruturais de uma bacia sedimentar. Na prospecção
do petróleo, a gravimetria é provavelmente o primeiro método geofı́sico a ser
empregado em uma região onde se sabe muito pouco sobre a geologia de subsu-
perfı́cie.

A gravimetria também é utilizada na prospecção de metais básicos como um


método auxiliar. É possı́vel, por exemplo, através dos métodos eletromagnéticos
distinguir corpos de sulfetos daqueles corpos contendo grafite. A gravimetria,
em geral, pode distinguir a grafite que tem baixa densidade dos depósitos de
sulfetos que em geral, têm altas densidades.

1.7 Dificuldades na interpretação gravimétrica


14 CAPÍTULO 1. O MÉTODO GRAVIMÉTRICO

Figura 1.10: A ambiguidade na interpretação de dados gravimétricos. Uma


dada anomalia gravimétrica pode ser explicada por uma variedade (um número
teoricamente infinito) de diferentes distribuições de massa a diferentes profun-
didades
Capı́tulo 2

O Método Magnetométrico

O método magnetométrico de exploração geofı́sica, ou simplesmente magne-


tometria, consiste em medir e analisar as variações do campo geomagnético com
a finalidade de determinar na subsuperfı́cie do terreno a distribuição das rochas
de diferentes susceptibilidades magnéticas, que causam essas variações. As ob-
servações das variações do campo magnético são normalmente feitas por meio de
instrumentos especializados denominados de magnetômetros. Elas podem ser
realizadas na superfı́cie do terreno, na superfı́cie dos mares ou em levantamentos
aéreos.

A Figura 2.1 mostra os principais elementos do campo geomagnético.

O método magnético tem grande semelhança com o método gravimétrico, pois


ambos se baseiam na teoria do potencial Newtoniano, e por conseguinte são
denominados de métodos potenciais. No método magnético empregam-se fun-
damentalmente as mesmas técnicas de interpretação utilizadas na gravimetria.
Entretanto, devido a natureza dipolar dos efeitos magnéticos, a magnetometria
apresenta situação mais complexa do que a gravimetria. Na gravimetria temos
apenas atração, enquanto que em magnetometria tem-se atração e repulsão.

A Figura 2.2 mostra o mapa de intensidade total do campo magnético terrestre.

2.1 A propriedade fı́sica responsável pela mag-


netização

Muitos tipos de rochas possuem susceptibilidade ferromagnética, isto é, quando


expostas a um campo magnético, como o da Terra, adquirem uma magnetização

15
16 CAPÍTULO 2. O MÉTODO MAGNETOMÉTRICO

Figura 2.1: Componentes vertical e horizontal da intensidade do campo geo-


magnético (Sharma, 1982).

elevada. Outras rochas, já tem magnetização permanente, independente do


campo magnético terrestre. Algumas vezes, esta magnetização permanente di-
ficulta a interpretação dos dados de magnetometria.

A variação da susceptibilidade das rochas é maior do que a da densidade,


e portanto torna-se difı́cil a identificação de uma rocha por meio de dados
de magnetometria. Dependendo do modo como as substâncias respondem ao
campo magnético elas podem ser agrupadas, basicamente, em 3 categorias:
diamagnéticas (susceptibilidade magnética negativa), paramagnética (suscep-
tibilidade magnética positiva, porém fraca), e ferromagnéticas (susceptibilidade
magnética positiva e forte).

A tabela seguinte mostra os valores da intensidade da força magnética adquirida


por algumas substâncias na presença de um mesmo campo magnético indutor,
à 20◦ de temperatura.
2.1. A PROPRIEDADE FÍSICA RESPONSÁVEL PELA MAGNETIZAÇÃO17

Figura 2.2: Mapa de intensidade total do campo magnético terrestre em 1980.


Interva lo de contorno de 2000◦ . A localização de 4 regiões com máxima inten-
sidade sugere uma configuração de 2 dipolos ou 1 quadripolo (Sharma, 1982).

Amostra Força (dinas) Propriedade


água -2,2 diamagnética
cobre -2,6 diamagnética
chumbo -3,7 diamagnética
grafita -110 diamagnética
quartzo -16 diamagnética
alumı́nio +17 paramagnética
cloreto de sódio +280 paramagnética
sulfato de nı́quel +930 ferromagnética
ferro +400000 ferromagnética
magnetita +120000 ferromagnética
18 CAPÍTULO 2. O MÉTODO MAGNETOMÉTRICO

2.2 Levantamento magnetométrico

A prospecção magnética ou magnetometria pode ser executada através de aviões,


navios ou em terra. Aproximadamente 80% dos levantamentos são aéreos e mar-
inhos. Os levantamentos terrestre são bastante parecidos com os levantamentos
gravimétricos. A dimensão da malha de trabalho depende do objetivo da cam-
panha.

Quando a área para a investigação magnética já foi selecionada, é então im-
plantada uma linha base, paralelamente à direção da estrutura que se deseja
investigar. E as medidas são feitas em intervalos regulares ao longo de travessas
perpendiculares à linha base. É escolhido um ponto de referência e os valores do
levantamento corresponderão às diferenças positivas ou negativas com relação
à estação de referência. Este ponto deverá estar situado longe da influência de
perturbações artificiais, tais como linhas de alta tensão, antenas retransmissoras,
etc. O ponto de referência pode ser qualquer ponto dentro da área levantada,
porém é conveniente escolhê-lo tão perto quanto possı́vel ou ao lado dela.

Certas precausões precisam ser tomadas na obtenção das medidas mag-


néticas. Objetos magnéticos usados pelo operador do equipamento, tais como
chaves, relógios, botões metálicos, etc., podem introduzir erros nas observações,
impossı́veis de serem removidos, e que obviamente prejudicarão a qualidade dos
dados. Pela mesma razão deve-se evitar tomada de medidas nas vizinhanças de
objetos metálicos tais como cercas, pontes, carros, etc..

Se o retorno à estação base pode ser feito a intervalos curtos (1, 2 ou 3 horas) não
é necessário deixar o magnetômetro fixo numa estação base e o levantamento
pode ser realizado com um único equipamento.

2.3 Princı́pios de funcionamento do magnetô-


metro

Instrumentos destinados a medir as componentes (ou variações) do campo geo-


magnético são denominados magnetômetros. Existem vários tipos de magnetô-
metros. Os mais comuns são: tipo Schimidt ou de balança horizontal e vertical,
Flux-Gate e Proton (ou Ressonância nuclear).

2.3.1 Magnetômetro Schmidt

Este instrumento consiste de uma haste imantada presa a um pivô numa posição
fora de seu centro de massa, conforme ilustrado na Figura 2.3.
2.3. PRINCÍPIOS DE FUNCIONAMENTO DO MAGNETÔMETRO 19

Figura 2.3: Representação esquemática do magnetômetro de campo vertical do


tipo Schmidt.

O campo magnético terrestre provoca uma rotação da haste no sentido contrário


do campo geogravitacional. O ângulo φ de equilı́brio do sistema é proporcional
a magnitude do campo magnético. Este tipo de instrumento não mede o valor
absoluto do campo, mas sim as variações das componentes vertical ou horizon-
tal. Para cada componente tem-se uma balança especı́fica. Por exemplo, para
a balança da componente vertical, a haste é horizontal e dever ser orientada
perpendicularmente ao meridiano magnético para que não haja influência da
componente horizontal. A balança da componente horizontal é fixa na posição
vertical. A precisão desse tipo de instrumento é aproximadamente 1 gama.

2.3.2 Magnetômetro Flux-Gate

Este tipo de instrumento consiste de dois núcleos de um material ferromagnético


de alta permeabilidade magnética, envolvidos por duas bobinas (uma denomi-
nada de primária e outra secundária). A componente vertical do campo magnético
é superposta a um campo magnético alternado produzido eletromagneticamente
nas bobinas. Cada núcleo tem uma curva de magnetização do tipo histerese.
Estes núcleos são alinhados na posição vertical com seus eixos na direção da
componente vertical do campo magnético terrestre. As bobinas primárias em
série magnetizam os dois núcleos com a mesma densidade de fluxo magnético,
porém com sentido contrário.

A componente vertical do campo geomagnético soma-se ao campo em uma


bobina e se opõe ao campo da outra bobina. Uma diferença de potencial será
mantida nas bobinas secundária e a diferença entre ambas é registrada num
20 CAPÍTULO 2. O MÉTODO MAGNETOMÉTRICO

voltı́metro. A Figura 2.4 mostra os elementos básicos desse equipamento.

Figura 2.4: Representação esquemática do magnetômetro Flux-Gate. P bobina


primária. C núcleo com material de alta susceptibilidade magnética. S bobina
secundária. (Griffths e King, 1972).

A precisão desse tipo de magnetômetro varia entre (0,5 – 10,0) gamas. Os


equipamentos para levantamentos terrestre são destinados a medir a componente
vertical do campo geomagnético, embora que em princı́pio se poderia medir
qualquer componente. Os equipamentos usados em levantamentos aéreos ou
marinhos, medem o campo total. O limite de leitura desse tipo de magnetômetro
varia entre (0 - 100.000) gamas.

2.3.3 Magnetômetro de ressonância nuclear (tipo próton)

A maioria dos elementos quı́micos tem momento magnético próprio. O núcleo


desses elementos podem ser vistos como um diminuto imã em forma de uma
esfera que gira em torno do seu eixo magnético. Quando se aplica um campo
magnético artificial, essas esferas se orientam ora paralelamente ora perpendicu-
larmente à direção desse campo, dependendo do nı́vel de energia de cada núcleo.
O núcleo mais simples que tem esta propriedade é o núcleo de hidrogênio.

Do ponto de vista do fenomeno de ressonância nuclear, uma amostra dágua


pode ser vista como “um pacote de prótons” porque o oxigênio não apresenta
momento magnético algum. Esta propriedade da água (ou querosene) é impor-
tante para a construção de magnetômetros tipo “próton”. De fato, o princı́pio
do magnetômetro nuclear consiste de uma garrafa de água exposta a um campo
magnético artificial de magnitude muito maior do que a do campo magnético
terrestre (100 ou mais vezes). Antes de se aplicar este campo magnético artifi-
cial, a orientação dos momentos magnéticos dos prótons (núcleo de hidrogênio)
é a mesma do campo magnético terrestre, porém, quando se aplica o campo
magnético artificial, os prótons orientam-se na direção da resultante entre esse
campo e o campo geomagnético terrestre.
2.3. PRINCÍPIOS DE FUNCIONAMENTO DO MAGNETÔMETRO 21

Quando o campo magnético artificial é bruscamente removido, os momentos


magnéticos dos prótons voltam à sua posição original (na direção do campo
geomagnético) precessionando em torno do campo geomagnético. A velocidade
angular de precessão é proporcional ao campo magnético. A freqüência de
precessão para o próton na presença do campo geomagnético é aproximadamente
2000 Hz.

Na mesma bobina onde foi criado o campo magnético artificial surgirá uma
diferença de potencial devida a precessão dos prótons. O valor do campo geo-
magnético torna-se proporcional à freqüência de precessão. Esta freqüência pode
ser medida com bastante exatidão. A precisão desse tipo de magnetômetro pode
alcançar 0,5 gamas. Este tipo de magnetômetro mede os valores absoluto do
campo geomagnético.

2.3.4 Magneto-gradiômetros

Pode ser considerado um magnetômetro diferencial, no qual o espaçamento entre


dois sensores do mesmo tipo é fixo e pequeno com respeito a distância às fontes
de anomalias. A diferença na intensidade do campo dividida pela distância
vertical dos sensores é tomada como sendo o gradiente no ponto médio entre
os sensores. As medidas são livres de ruı́dos tais como as variações temporais
do campo geomatnético. A Figura 2.5 ilustra as medidas do gradiente vertical
versus as anomalias de campo total.

Figura 2.5: Medidas do gradiente vertical realçam anomalias locais (devidas a


fontes superficiais) e suprimem os efeitos regionais (devidos a fontes distantes).
∆t representa a anomalia de campo magnético total (Sharma, 1982).
22 CAPÍTULO 2. O MÉTODO MAGNETOMÉTRICO

2.4 Correções nas medidas magnetométricas

As anomalias geomagnéticas de interesse na prospecção possuem amplitude con-


sideravelmente maiores, relativas à força do campo geomagnético, do que as
anomalias geogravimétricas. A Figura 2.6 ilustra comparativamente os vetores
correspondentes ao campo magnético total e ao campo anomalo.

Figura 2.6: A anomalia de campo magnético total. F representa o campo ge-


omagnético; T representa a perturbação (campo anomalo); FR é o campo re-
sultante da composição dos campos F e T; TF representa a anomalia de campo
total na direção do campo da terra (Sharma, 1982).

Enquanto que na gravimetria a precisão requerida é de 1:10.000.000, na mag-


netometria a precisão de 1:50.000 é suficiente. Por esta razão os levantamentos
magnetométricos dispensam as correções equivalentes à correção de ar-livre,
Bouguer, altitude, etc., porque seus efeitos não são significativos. Na magne-
tometria temos basicamente o efeito da variação diurna do campo geomagnético
e o procedimento segue a mesma idéia usada na gravimetria. Contudo, nas
pesquisas em áreas de tamanhos consideráveis, os dados precisam ser corrigidos
do efeito da mudança do campo geomagnético com a latitude e longitude. Este
tipo de correção é feito usando-se mapas e tabelas que fornecem o campo como
função das coordenadas geográficas.

É muito comum nos trabalhos de magnetometria se usar um magnetômetro fixo


a uma estação, a fim de registrar as variações do campo geomagnético. Durante
todo o tempo do levantamento são tomadas medidas nessa estação a intervalos
regulares de 10, 15 ou 20 minutos. Deste modo se conhece o comportamento do
campo geomagnético no local da pesquisa, e consequentemente podemos corrigir
as medidas do levantamento de suas variações.

Se os valores do campo terrestre foi aumentando durante o levantamento, então


as medidas realizadas nesse intervalo de tempo precisam ser diminuidas de al-
guma quantidade, de modo a refletirem apenas variações devidas aos materiais
de subsuperfı́cie. E vice-versa, no caso em que os valores do campo geomagnético
estão diminuindo. A correção é feita subtraindo ou aumentando do valor me-
dido a quantidade de variação obtida na estação fixa, no instante da leitura da
estação que se deseja corrigir. Este procedimento permite eliminar os efeitos de
2.4. CORREÇÕES NAS MEDIDAS MAGNETOMÉTRICAS 23

variação diurna do campo geomagnético.

2.4.1 Variação diária solar do campo geomagnético

Possuem um padrão similar sobre grandes áreas. Dependem principalmente


da latitude e hora local e não dependem da longitude. A Figura 2.7 ilustra a
variação do campo magnético terrestre nas componentes horizontal, vertical e
na declinação.

Figura 2.7: Variação diária do campo geomagnético no Observatório Kakioka,


Japão (Takeuchi et al, 1974)

A variação diária solar é maior e mais rápida durante as horas do dia do que
a noite. Há um fato adicional significante que indica a estreita conexão com o
Sol. A amplitude deste tipo de variação é desde 50 até 100% maior em anos
de manchas solares máximo, do que em anos de mı́nima atividade das manchas
solares.
24 CAPÍTULO 2. O MÉTODO MAGNETOMÉTRICO

2.4.2 Correção da variação diária solar

A Figura 2.8 mostra a curva de variação diurna, na qual é assumido que o campo
varia linearmente no intervalo entre duas observações consecutivas.

Figura 2.8: Representação da curva de variação diurna do campo geomagnético


utilizada na correção das medidas de campo

Para uma medida magnetométrica que tenha sido obtida no instante tl , a quan-
tidade, ∆H que deverá ser somada ou subtraı́da será dada por:

∆H = (tl − ti ) × αi + Fi

onde:
Ti+1 − Ti ∆Ti
αi = =
ti+1 − ti ∆ti
corresponde à taxa de variação do campo no intervalo ti+1 − ti .

tl é o tempo em que foi feita a medida a ser corrigida.

2.5 Representação dos dados

Após terem sido corrigidos, os dados serão representados em perfis ou mapas


de contorno, semelhante à gravimetria. A escala horizontal, vertical (no caso
de perfis) e intervalos de contorno dependem da escala do levantamento e do
detalhamento requerido.
2.6. APLICAÇÕES DA MAGNETOMETRIA 25

Em áreas sedimentares, estes mapas assemelham-se aos mapas Bouguer, com a


diferença de apresentar anomalias magnéticas mais numerosas e mais intensas.
Em geral, em região de rochas ı́gneas e metamórficas, tais mapas são consider-
avelmente mais complexos, apresentando anomalias de diferentes tipos e formas.
Os efeitos magnéticos das rochas podem ser grandemente influenciados por pe-
quenos traços de certos minerais ferromagnéticos.

No caso da gravimetria, os efeitos gravitacionais são originados principalmente a


partir dos constituintes primários da rocha fazendo com que os mapas Bouguer
apresentem predominantemente anomalias regionais, devidas a efeitos regionais.
Já, o grande intervalo de variação da susceptibilidade magnética nas rocha, faz
com que os mapas magnetométricos apresentam uma diversificada multiplici-
dade de anomalias proveniente de efeitos locais.

A inspeção dos mapas magnetométricos permite separar os diferentes domı́nios


magnéticos correspondentes a diferentes comportamento magnético, que por
sua vez corresponderão a diferentes litologias. De um modo geral as regiões
metamórficas tem um padrão geomagnético consideravelmente mais complexo
do que as áreas de bacias sedimentares. As intrusões básicas e formações
ferrı́feras serão fortemente evidenciadas. Nas áreas sedimentares o mapa magnético
refletirá, basicamente, as irregularidades do embasamento colocando em evidência
eventuais intrusões de rochas básicas, como também os locais onde o embasa-
mento é menos profundo.

Os alinhamentos magnéticos podem estar associados a falhamentos ou estru-


turas geológicas magnetizadas. As áreas sedimentares são mais monótonas do
ponto de vista magnético e seu contato com áreas metamórficas ou ı́gneas é
facilmente delimitado.

Algumas técnicas modernas de tratamento dos dados, usadas tanto na gravime-


tria quanto na magnetometria, permitem separar as anomalias devidas a fontes
rasas daquelas devidas a fontes profundas. Outras técnicas de filtragem per-
mitem realçar lineamentos estruturais e mesmo permitem inferir a extensão
lateral do corpo anômalo.

2.6 Aplicações da magnetometria

A magnetometria é utilizada na exploração mineral na prospecção direta de


minerais magnéticos, como também na pesquisa de depósitos minerais de in-
teresse econômico que ocorrem associados a minerais magnéticos. Com menor
freqüência pode ser utilizado em trabalhos geotécnicos, por exemplo no mapea-
mento de diques básicos encaixados em depósitos calcários, com o objetivo de
orientar as frentes de lavras. O método também teve extensiva aplicação nos
trabalhos de mapeamento magnético do assoalho oceânico, de interesse para a
26 CAPÍTULO 2. O MÉTODO MAGNETOMÉTRICO

teoria de tectônica de placas, conforme ilustra a Figura 2.9.

Figura 2.9: Mapa da anomalia de intensidade total do campo geomagnético


na Elevação do Pacı́fico Leste. A unidade é 10− 5 gauss. As setas indicam os
movimentos ao longo da falha. Curvas com linhas contı́nuas indicam anomalias
positivas e linhas pontilhadas, anomalias negativas (Takeuchi et al, 1974).
Capı́tulo 3

Método Sı́smico de
Refração

3.1 Conceitos básicos

Os métodos sı́smicos compreendem o estudo das estruturas geológicas de sub-


superfı́cie através do comportamento das ondas sı́smicas provocadas por fontes
sı́smicos artificiais, normalmente efetuados e detectados na superfı́cie da Terra
ou dos oceanos. Este método é subdividido em método sı́smico de refração e
método sı́smico de reflexão, dependendo do tipo das ondas sı́smicas, refratadas
ou refletidas que são utilizadas.

A Figura 3.1 ilustra as curvas de tempo de chegada das ondas diretas, refratadas
e refletidas.

Ambos métodos, (refração e reflexão), têm importantes aplicações nos trabalhos


de prospecção de petróleo, sendo que o método sı́smico de reflexão é responsável
por cerca de 95% de todos os trabalhos de geofı́sica aplicados à exploração de
petróleo. O método sı́smico de refração é também utilizado com freqüência na
prospecção de água subterrânea.

O procedimento básico consiste na geração de ondas sı́smicas e na medição do


tempo requerido para que estas ondas se propaguem da fonte até um conjunto
de sensores dispostos, geralmente em linha reta, ao longo de um perfil. A partir
do conhecimento dos tempos de trânsito e das velocidades das ondas, pode-se
obter informações geológico-estruturais dos materiais de subsuperfı́cie.

O tempo de chegada das ondas sı́smicas depende da velocidade com que elas

27
28 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO DE REFRAÇÃO

Figura 3.1: Curvas de tempo de trânsito para ondas diretas, refratadas após o
ângulo crı́tico e ondas refletidas (Sharma, 1982).

se propagam nos materiais terrestres, que por sua vez está relacionada com a
densidade e as propriedades elásticas dos materiais.

A Figura 3.2 mostra valores de velocidade de algumas rochas e materiais mais


comuns.

Embora velocidades extremas possam ir de (300 − 8000) m/s, a grande maio-


ria de velocidades encontradas são da ordem de (1200 − 6800) m/s. Normal-
mente, a velocidade em rochas sedimentares aumenta com a profundidade. Isto
é chamado de variação vertical de velocidade. A velocidade pode variar horizon-
talmente também. Isto é chamado variação horizontal ou lateral de velocidade
e algumas vezes estas variações são bastante drásticas.

Os dispositivos de recepção do sinal sı́smico em mar chamam-se hidrofones e em


terra chamam-se geofones. A Figura 3.3 ilustra os dispositı́vos básicos presentes
em um geofone. Os geofones convertem o movimento do solo em uma força
3.1. CONCEITOS BÁSICOS 29

Figura 3.2: Distribuição das velocidades nas rochas, (velocidades em m/s)

eletro-motriz, (f.e.m.), que é induzida, que por sua vez dá origem a uma corrente
elétrica que circulará até o aparelho registrador que é o sismógrafo.

O registro recebido em vários geofones associados a um experimento sı́smico é


denominado de sismograma, conforme ilustra a Figura 3.4.

O tempo de chegada das ondas depende das velocidades da onda sı́smica, que
está relacionada com a densidade e as propriedades elásticas dos materiais.

As propriedades elásticas são descritas por certas constantes elásticas:


(E, K, µ, σ), respectivamente módulo de Young (caracterı́stico de cada material
e também denominado de módulo de elasticidade), módulo de Volume ou de In-
compressibilidade, módulo de Rigidez e razão de Poisson. Estas constantes
especificam quantitativamente a relação entre diferentes tipos de “stress” e
“strain”. “stress” é a medida da força por unidade de área, associada com a
deformação elástica. “strain” é a medida da deformação resultante. É expressa
por unidade de comprimento, ou unidade de volume. Quando um “stress”
é subitamente aplicado a um corpo elástico, ou quando o corpo submetido a
“stress” é subitamente aliviado por fraturamento, a correspondente deformação
(“strain”) se propaga na forma de onda elástica. Dependendo da deformação
ser compressional ou cisalhante, decorre a existência das ondas do tipo P ou S,
respectivamente, conforme ilustram as Figuras 3.5 e 3.6.
30 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO DE REFRAÇÃO

Figura 3.3: Representação simplificada de um geofone do tipo eletromagnético.


No presente caso, a bobina é fixa ao corpo do geofone enquanto que o imã é
preso através de molas (Sharma, 1982).

A Figura 3.7 mostra os tipos mais comuns de deformações elásticas que ocorrem
nos materiais terrestres.

As velocidades de propagação das ondas sı́smicas de corpo (ondas longitudinais


(P) e transversais (S)) são diretamente proporcionais aos parâmetros elásticos
dos materiais e inversamente proposcionais às densidades. Matematicamente
esta relação é difinida pelas equações:
3.1. CONCEITOS BÁSICOS 31

Figura 3.4: Representação esquemática mostrando um sismograma (parte su-


perior) associado a um modelo de camadas plana horizontais com 3 horizontes
refletores (Sharma, 1982).

s s
E(1 − σ) K + 43 µ
Vp = =
ρ(1 + σ)(1 − 2σ) ρ

r s
µ E (1 + σ)
Vs = =
ρ ρ 2
onde:
Vp − velocidade da onda longitudinal
Vs − velocidade da onda transversal
E − módulo de Young ou de Elasticidade
µ − Múdulo de Rigidez ou de Cizalhamento
K − módulo de Volume ou de Incompressibilidade
σ − coeficiente de Poisson
ρ − densidade
32 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO DE REFRAÇÃO

Outras expressões podem ser derivadas, relacionando os parâmetros elásticos


(Coeficiente de Poisson, Módulo de Young ou de Elasticidade, Módulo de Rigidez
ou de Cizalhamento e Módulo de volume ou de Incompressibilidade com as
velocidades Vp , Vs e a densidade ρ.

Os métodos sı́smicos dependem basicamente da propagação de ondas nos meios


elásticos. Ao considerarmos as propriedades elásticas das rochas assumimos
que as rochas são homogeneas e isotrópicas. A teoria de propagação da onda
sı́smica está baseada na Lei de Snell de refração, e no princı́pio de Fermat que
postula que a energia sı́smica segue o caminho que lhe permite atingir o receptor
ao menor tempo. Quando uma onda incide sobre um meio de diferentes pro-
priedades elásticas, a energia é parcialmente refletida e parcialmente transmitida
(refratada). O ângulo de refração é dado pela lei de Snell.

Lei de Snell: (Willebroad Snell, 1591 – 1626) descobriu a lei da refração e da


reflexão empiricamente (ou experimentalmente).“O seno do ângulo entre o raio
e a normal à superfı́cie (no ponto de incidência) dividido pela velocidade do
raio do meio incidente é igual ao seno do ângulo de qualquer raio resultante
(com respeito à normal) dividido pela velocidade do raio“. A Lei de Snell é
aplicável às ondas sı́smicas como na ótica. Os ângulos de reflexão e refração
estão relacionados ao ângulo de incidência pelas velocidades de ondas Vp e Vs
das ondas P e S nos meios 1 e 2.

A Figura 3.8 representa os raios incidentes, refletidos e refratados para as ondas


compressionais e cisalhantes.

sen ip sen Rp sen Rs sen rp sen rs


= = = =
Vp1 Vp1 Vs1 Vp2 Vs2

As leis de reflexão ou refração são provenientes da teoria do raio numa analogia


muito próxima da ótica geométrica. Equações similares podem ser escritas pelo
estudo de reflexões e refrações de um raio P incidente ou para um raio SH.

A lei de Snell pode ser vista como uma conseqüência da necessidade que uma
onda que cruza uma interface, tenha a componente da sua velocidade paralela a
interface tenha o mesmo valor em ambos os lados da interface. O movimento de
uma onda P é longitudinal de maneira que não existe polarização de uma onda
P. Entretanto, ondas S, que são transversas, são polarizadas e isto é necessário
para distinguir polarizações verticais e horizontais, denominadas ondas SV e
SH.

Estas ondas se comportam de maneira diferente em interfaces horizontais. O


movimento horizontal de uma onda S é transferido através de uma interface
como uma simples refração com alguma reflexão, mas uma onda SV, que tem
um componente de movimento normal à interface, gera ondas P em adição às
ondas SV refratadas e refletidas conforme ilustrado na Figura 3.8.
3.1. CONCEITOS BÁSICOS 33

Em geral uma onda S pode ter tanto componentes SV quanto SH, e a polarização
se torna próxima a da SH, posto que o componente SV é diminuido na geração
da onda P. Por outro lado, ondas P geram SV mas não SH em uma interface.

Princı́pio de Fermat: (Pierre Fermat, 1601 – 1665, fı́sico francês). “O caminho


tomado por um raio ao ir de um ponto a outro em qualquer meio não homogeneo
ou anisotrópico, em primeira aproximação tem um igual tempo de percurso de
outro raio imediatamente adjacente”. O princı́pio de Fermat, ou princı́pio do
tempo mı́nimo, que é central a esta teoria, postula que o verdadeiro caminho da
luz ou de uma onda sı́smica entre dois pontos é menor em tempo do que qualquer
caminho hipotético imediatamente vizinho, ou seja, o raio toma o caminho mais
rápido.

Princı́pio de Huygens: (Christian Huygens , 1629 – 1695, astrônomo alemão).


“Cada ponto de uma frente de onda atua como se ele próprio fosse o centro de
perturbação, emitindo pequenas ondas a partir dele mesmo, sempre se afastando
da fonte. O efeito coletivo constitui uma nova frente de onda”. Seguindo a
construção de Huygens para a refração de uma onda sı́smica numa interface,
cada ponto desta pode ser considerado como uma nova fonte de ondas cujo
envelope é a frente de uma onda refratada, conforme ilustra a Figura 3.9. O
intervalo de tempo é ∆t entre as posições de uma frente de onda indicada pelas
linhas sólida e pontilhada.

Lei de Snell × Princı́pio de Fermat: A Lei de Snell, embora inicialmente derivada


experimentalmente, pode ser derivada usando o princı́pio de Fermat. Considere
um raio viajando a partir da fonte S, até o receptor, T, com reflexão na interface
entre os meios 1 e 2, conforme ilustrado na Figura 10.

Deixemos T (S, R) representar o tempo de trânsito do raio, dado por,


s1 s2
T (S, R) = +
v1 v1

1 n 2 −1/2  −1/2 o
= x + h2 + (D − x)2 + h2
v1
Derivando T (S, R) com relação a variável x que controla o ponto de reflexão, e
igualando a zero, obtem-se,
dT (S, R) x D−x
=0= √ − p
dx 2
v1 x + h 2 v1 (d − x)2 + h2

como
x
√ = senθi
x2+ h2
e
D−x
p = senθr
(D − x)2 + h2
34 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO DE REFRAÇÃO

resulta imediatamente na Lei de Snell.

senθi senθr
=
vi vi

As demais relações da Lei de Snell para ondas refletidas, refratadas e convertidas,


podem ser derivadas de forma análoga.

3.2 A sı́smica de refração

O método sı́smico de refração consiste em: a) registrar os tempos de chegada


das ondas refratadas, b) relacionar estes tempos de chegada com a profundidade
dos horizontes refratores e c) traduzir estes dados em termos da geológia de
subsuperfı́cie.

A refração sı́smica é um fenômeno que causa um desvio na direção de propagação


da onda quando ela passa de um meio para outro, onde a velocidade de propagação
seja diferente. Esse desvio no ângulo do raio tomado com relação à normal ao
ponto de incidência pode ser calculado pela Lei de Snell,

sen(i) V1
=
sen(r) V2

A refração total ou crı́tica vai ocorrer quando a razão entre as velocidades dos
meios for tal que o ângulo do raio refratado for igual a 90◦ . Neste caso o ângulo
de incidência é denominado de ângulo crı́tico, conforme ilustra a Figura 3.2.

A onda ao sofrer refração total, propaga-se na interface entre os meios 1 e 2 com


relocidade do meio 2. De acordo com o princı́pio de Huygens as partı́culas da
interface vão gerar novas frentes de onda, cujos raios vão retornar à superfı́cie
formando ângulo crı́tico com a normal, conforme ilustra a Figura 3.2.

Considerando a Figura 3.2 demonstre que a espessura h pode ser obtida a partir
da equação,

r
xc V2 − V 1
h=
2 V2 + V 1
3.3. PROCEDIMENTO DE CAMPO 35

3.3 Procedimento de campo

Com base nos objetivos da pesquisa a área de trabalho de campo é selecionada


e preparada, sendo implantada a linha base com perfis transversais, sendo es-
taqueadas a posição dos geofones. O espaçamento entre geofones será escolhido
fazendo-se uma estimativa das velocidades e profundidade dos estratos que se de-
seja mapear. O espaçamento entre geofones deve ser apropriado à determinação
das velocidades associadas às camadas de interesse. O cabo de geofones é es-
tendido sobre o terreno no qual são conectados os geofones. Os geofones são
fixados ao solo por meio dos ponteiros de fixação, de modo a ficar livre de qual-
quer perturbação (vento, ramos de árvore, etc.). O levantamento pode ser feito
com o tiro direto e o tiro reverso, além dos tiros externos ao arranjo de geofones.
A Figura 3.3 representa as curvas tempo × distância para tiros direto e reverso
para uma interface refratora mergulhando.

3.4 Situações favoráveis à aplicação da sı́smica


de reflexão

O método fornece melhores resultados quando o subsolo é estratificado em ca-


madas com velocidades crescentes com a profundidade, com pequena inclinação.
As áreas sedimentares reproduzem melhor essas caracterı́sticas. É particular-
mente desejável quando o alvo de interesse apresenta uma superfı́cie de alta
velocidade sı́smica tal como o embasamento cristalino de uma bacia sedimentar,
ou uma lente de calcário presente juntamente a outros sedimentos. Em resumo,
o método fornece melhores resultados em regiões tectonicamente estáveis com
superfı́cies de contato plana entre as formações, e também quando existem con-
trastes de velocidade entre os suscessivos estratos do subsolo.

O método é impróprio para detalhar estruturas, que mesmo presentes em am-


biente sedimentar, apresentem os flancos com grandes inclinações. Nesse caso,
na melhor das hipóteses o método fornecerá um modelo de estratos acamados
que poderá ser uma simplificação grosseira de uma estrutura complicada.

O método é completamente cego para detectar uma camada de baixa velocidade


(v2 ) intercalada entre uma camada superior (v1 ) e uma inferior (v3 ) de maior
velocidade que (v1 ). A existência de uma camada de baixa velocidade resultará
em superestimar a profundidade do refrator, conforme ilustra a Figura 3.4

A Figura 3.4 mostra o efeito da espessura da segunda camada nas curvas de


tempo de trânsito.

A sı́smica de reflexão tem importante aplicação nos estudos da estrutura interna


da Terra, no mapeamento de estratos geológicos, na localização de domos de sal,
36 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO DE REFRAÇÃO

e também na solução de problemas geotécnicos relacionado com fundações de


barragens, edifı́cios, determinação do capeamento intempérico de pedreiras para
orientação das frentes de lavras, etc.

Nas décadas recentes se tornou uma poderosa ferramenta para a investigação


da estrutura crustal, onde explosões nucleares controladas tem sido usadas para
obtenção de informações sobre a estrutura interna da Terra. Já em 1912, Gutem-
berg fazendo uso desta técnica, relaciona as velocidades dos materiais do interior
da Terra com a profundidade e descobre assim que o núcleo da Terra situa-se
a uma profundidade de cerca de 3000 km. Da mesma forma foi possı́vel desco-
brir a descontinuidade de Mohorovicic que separa a crosta do manto. Também
permitiu mostrar que a crosta oceânica é fundamentalmente diferente da crosta
continental.

Na geologia propriamente dita, o método pode ser empregado: a) na deter-


minação da profundidade e forma de uma bacia sedimentar quando os sedi-
mentos de um modo geral apresentam velocidades menores que as rochas do
embasamento, b) no mapeamento de lentes de calcário, evaporitos, carvão, etc.,
c) em circunstâncias favoráveis, permite a determinação do rejeito de falhamen-
tos geológicos, conforme ilustra a Figura 3.17.

Na prospecção de petróleo foi bastante usado no México na localização de domos


de sal rasos, uma vez que estas estruturas apresentam maior velocidade que as
formações adjacentes e podem muitas vezes estar associadas a petróleo.

Nos problemas geotécnicos para: estudar o capeamento intempérico ao longo


dos eixos de estradas e túneis, b) nas fundações de barragens, c) na orientação
das frentes de lavras em pedreiras, etc..

Na prospecção de água subterrânea, quando existe aqüı́feros associados ou rela-


cionados a formações refratoras detectáveis ou a estruturas tais como paleo-
canais, falhamentos, etc.. O método pode ser aplicado numa dada área em
curto espaço de tempo, o que lhe confere vantagens econômicas relativamente
a outros métodos. Permite uma boa correlação com a geologia, uma vez que
as velocidades tem uma faixa de variação pequena para cada tipo de rocha. É
portanto bastante útil para o reconhecimento de áreas pouco conhecidas geologi-
camente, e apresenta boa resolução no posicionamento das interfaces refratoras.
3.4. SITUAÇÕES FAVORÁVEIS À APLICAÇÃO DA SÍSMICA DE REFLEXÃO37

Figura 3.5: Movimento das partı́culas em ondas sı́smicas longitudinais (de


Sharma, 1976).

Figura 3.6: Movimento das partı́culas em ondas sı́smicas transversais (de


Sharma, 1976).
38 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO DE REFRAÇÃO

Figura 3.7: Tipos comuns de deformações elásticas (Sharma, 1982).

Figura 3.8: Reflexão e refração de uma onda longitudinal incidente numa inter-
face separando dois meios com diferentes velocidades (Sharma, 1982).
3.4. SITUAÇÕES FAVORÁVEIS À APLICAÇÃO DA SÍSMICA DE REFLEXÃO39

Figura 3.9: Ilustração do princı́pio de Huygens para a refração

Figura 3.10: Ilustração utilizada na derivação da Lei de Snell


40 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO DE REFRAÇÃO

Figura 3.11: Raios incidentes e refratados em função do ângulo de incidência


em uma interface plana, V1 < V2 (Adaptada de João C. Dourado).

Figura 3.12: Raio incidente e raios refratados segundo o ângulo crı́tico, V1 <
V2 (Adaptada de João C. Dourado).
3.4. SITUAÇÕES FAVORÁVEIS À APLICAÇÃO DA SÍSMICA DE REFLEXÃO41

Figura 3.13: Gráfico do tempo de percurso das ondas diretas e refratada sobre
uma camada horizontal de espessura h e velocidade V1 sobreposta ao substrato
de velocidade V2 .
42 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO DE REFRAÇÃO

Figura 3.14: Curvas de tempo de trânsito para as ondas direta e refratadas em


uma interface plana com ângulo de mergulho φ (Sharma, 1982).
3.4. SITUAÇÕES FAVORÁVEIS À APLICAÇÃO DA SÍSMICA DE REFLEXÃO43

Figura 3.15: Camada de baixa velocidade (V2 ) entre camadas de maior veloci-
dade. O método sı́smico de refração não pode determinar V2 (Sharma, 1982).
44 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO DE REFRAÇÃO

Figura 3.16: Curva de tempo de trânsito demonstrando o efeito da espessura


da segunda camada (h2 ) sobre os tempos de primeiras chegadas. As linhas
contı́nuas representam as primeiras chegadas. As linhas tracejadas correspon-
dem às chegadas secundárias ou extrapolações baseadas nas primeiras chegadas
(Ward, 1990).
3.4. SITUAÇÕES FAVORÁVEIS À APLICAÇÃO DA SÍSMICA DE REFLEXÃO45

Figura 3.17: O rejeito da falha é responsável pelo deslocamento ∆t na curva de


refração (Sharma, 1982).
46 CAPÍTULO 3. MÉTODO SÍSMICO DE REFRAÇÃO
Capı́tulo 4

O Método Sı́smico de
Reflexão

O método sı́smico de reflexão consiste basicamente: a) no registro das ondas


sı́smicas geradas a pequena profundidade, após sofrerem reflexão nas interfaces
dos estrados geológicos de subsuperfı́cie, b) na conversão dos dados sı́smicos
de reflexão em informações sobre a profundidade e propriedades elásticas dos
materiais de subsuperfı́cie. A Figura 4.1 mostra a curva de reflexão para o
modelo de uma camada plana e horizontal.

4.1 Correções aplicadas

Os dados sı́smicos de reflexão obtidos nos trabalhos geofı́sicos, são normalmente


submetidos aos seguintes tipos de correções.

a) estática para corrigir as variações nos tempos de chegada das reflexões de-
vidos à topografia e à presença da camada de baixa velocidade associada
ao manto de intemperismo (este tipo de correção não se aplica aos levan-
tamentos marinhos).
b) Normal “moveout” (NMO) utilizada para corrigir o atraso no tempo de
chegada das reflexões (t(x)), relativas ao tempo de incidência normal
(t(0)).

A Figura 4.2 mostra um sismograma de campo no qual estão presentes ruı́dos


bem como os efeitos de superfı́cie que precisam ser eliminados através da correção
estática.

47
48 CAPÍTULO 4. O MÉTODO SÍSMICO DE REFLEXÃO

Figura 4.1: A parte superior da figura mostra o gráfico do tempo de reflexão


versus a distância entre o ponto de tiro e o geofone. A parte inferior da figura
mostra o modelo de duas camadas com velocidade V1 e V2 e profundidade h1
do refletor. As setas indicam o caminho dos raios para o geofone nas posições
S, G e G’ (Sharma, 1982).

A Figura 4.3 mostra o caso de uma camada com um único refletor plano.

Utilizando o teorema de Pitágoras a equação para o tempo de percurso, t(x)


como função do afastamento entre a fonte e o receptor, x, é dado pela equação,
x2
t2 (x) = t2 (0) +
v2
onde v é a velocidade do meio acima da interface refletora. A diferença entre o
tempo duplo de percurso t(x), numa dada posição x, e o tempo duplo na posição
na qual a fonte coincide com o refletor (incidência normal), é denominada de
NMO. A correção de NMO é dada pela diferença entre t(x) e t(0):
∆tN M O = t(x) − t(0)
( )
 2 1/2
x
= t(0) 1 + vN M O t(0) −1 .

Uma vez estimada a velocidade NMO, os tempos de chegada das reflexões po-
dem ser corrigidos de forma a remover os efeitos do afastamento fonte-receptor,
4.2. LEVANTAMENTO SÍSMICO DE REFLEXÃO 49

Figura 4.2: Sismograma de campo com a presença de ruı́do coerente (A) (ground
roll) e efeitos da superfı́cie que causam distorções nas reflexões ao lado direito
da figura (B, C, D e E).

conforme mostra a Figura 4.4.

4.2 Levantamento sı́smico de reflexão

Os levantamentos podem ser terrestres e marinhos. Nos levantamentos terrestres


as fontes de energia sı́smica, normalmente são fontes explosivas e os geofones
medem a componente vertical do movimento. Já nos levantamentos marinhos a
fonte é um canhão de ar comprimido, denominado de “airgun” e os geofones são
denominados de hidrofones e são sensı́veis às variações de pressão hidrostática.
A Figura 4.5 mostra o dispositivo básico utilizado nos levantamentos sı́smicos
marinhos.
50 CAPÍTULO 4. O MÉTODO SÍSMICO DE REFLEXÃO

Figura 4.3: A geometria considerada para a correção de NMO para um refletor


único.

4.3 Situações favoráveis ao emprego da sı́smica


de reflexão

a) Nas regiões tectonicamente estáveis com superfı́cies de contato plana ou


quase planas entre as formações.

b) Quando existem contrastes de velocidade entre os sucessivos estratos do


subsolo.

A primeira destas condições não se verifica na maioria das vezes na prospecção


de minerais associados a mineralizações em rochas ı́gneas ou metamórficas. Os
métodos sı́smicos são úteis geralmente na prospecção de jazimentos minerais
associados a sedimentares ou a regiões pouco dobradas.

O método é o mais amplamente usado de todos os métodos geofı́sicos. Ele


permite mapear as formações de subsuperfı́cie através do registro das ondas
refletidas. Um único experimento sı́smico pode trazer informações de profun-
didades de alguns quilômetros de modo que torna-se possı́vel a determinação
de estruturas geológicas presentes nas bacias sedimentares. Nos últimos anos
os dados de reflexão sı́smica tem sido usados para identificação das litologias, e
para a detecção de hidrocarbonetos (diretamente com base na amplitude das re-
flexões). A Figura 4.6 mostra uma seção sı́smica de reflexão e sua interpretação
geológica.
4.3. SITUAÇÕES FAVORÁVEIS AO EMPREGO DA SÍSMICA DE REFLEXÃO51

Figura 4.4: Antes da correção de NMO em (a) e depois da correção de NMO


em (b) (Yilmaz, 1988).

O método de reflexão sı́smica fornece uma melhor resolução para as feições


estruturais de subsuperfı́cie do que qualquer outra técnica de prospecção. É um
método de detalhe. As seções sı́smicas são bastante similares na aparência a
seções geológicas. Os horizontes que apresentam reflexão não podem por si só
serem identificados se não existir uma informação geológica independente que
poderia ser obtida através dos furos.

Os dados de reflexão podem ser usados para determinar a velocidade média, que
podem dar uma indicação da litologia. Esse método permite localizar e mapear
feições tais como anticlinais, falhas, domos de sal e recifes, sendo que muitas
destas estruturas podem estar associadas com a acumulação de petróleo e gás.
O método é pouco adequado a estudos crustais profundos e sua aplicabilidade
ótima está confinada a estudos de profundidade entre algumas centenas e poucos
milhares de metros.

O método de reflexão sı́smica é amplamente usado na prospecção do petróleo a


quem deve o extraordinário desenvolvimento a que chegou nos dias atuais. Na
prospecção mineral tem um emprego normalmente limitado a casos particulares,
já que as condições geológicas de jazimento na maioria das vezes contrariam
fortemente as condições ideais para a aplicação do método.
52 CAPÍTULO 4. O MÉTODO SÍSMICO DE REFLEXÃO

Figura 4.5: Representação esquemático do sistema de levantamento sı́smico


marinho (Sharma, 1982).

4.4 Vantagens e limitações

O método tem um grande poder de penetração. Quando usado em ambiente


sedimentar pode registrar reflexões que provém de até 7 ou 8 km de profun-
didade. Esse método trás informações úteis de qualquer profundidade, com a
mesma precisão para todas as profundidades. Neste ponto êle se diferencia do
restante dos métodos geofı́sicos nos quais a precisão diminui notavelmente com
a profundidade. A precisão com que este método situa os diversos estratos em
profundidade só é comparada com as sondagens mecânicas. Nas zonas onde se
conhece a velocidade de propagação das ondas sı́smicas, o erro na determinação
da profundidade pode ser da ordem de 3%. As seções sı́smicas são bastante
similares na aparência às seções geológicas.

Geralmente não fornecem bons resultados no imageamento de interfaces com


forte inclinação. Em geral fornece bons resultados quando a inclinação entre os
contatos é inferior a 30◦ . O custo bastante alto do seu emprego faz com que
seja precedido de outros métodos (magnetometria e gravimetria) que indicam
as áreas melhores.
4.4. VANTAGENS E LIMITAÇÕES 53

Figura 4.6: Seção sı́smica de reflexão e sua correspondente seção geológica in-
terpretada (de Sharma, 1986).
54 CAPÍTULO 4. O MÉTODO SÍSMICO DE REFLEXÃO
Capı́tulo 5

O Método da
Eletroresistividade

Existem uma grande diversidade nos métodos elétricos. Um critério usado para
classificá-los é segundo a natureza artificial ou natural do campo eletromagnético
utilizado no método. Outro critério é se a investigação é pontual sobre o ter-
reno (conhecidos como sondagém elétrica ou eletromagnética) ou é horizontal
(neste caso caminhamentos elétricos ou eletromagnético). Outra possibilidade
de classificação desses métodos diz respeito às freqüências envolvidas. Quando
os campo eletro-magnético (c.e.m.) é constante (corrente continua) o método
é denominado “método elétrico”, e quando o campo é variável, método eletro-
magnético. Abaixo apresentamos os mais importantes métodos elétricos classi-
ficados segundo a natureza artificial ou natural dos campos.

a) Métodos de campo natural: Potencial espontâneo (denominado de SP),


magnetotelúrico, AFMAG.

b) Métodos de campo artificial constante: sondagem ou caminhamento elétrico.

c) Métodos de campo artificial variável: Slingran, Turan, Dip-angle, Input.

d) Método de Polarização Induzida.

A condutividade elétrica é a propriedade da qual se vale os métodos elétricos.


O potencial elétrico num ponto qualquer do terreno depende diretamente da
resistividade , ρ = K × 1/σ, que por sua vez depende de um número grande
de fatores de modo que não é possı́vel atribuir-lhe um único valor para cada
tipo de rocha. Influem as condições locais de conteúdo de água, condutividade
da água, tamanho dos grãos, porosidade, metamorfismo, efeitos tectônicos. De

55
56 CAPÍTULO 5. O MÉTODO DA ELETRORESISTIVIDADE

Figura 5.1: Distribuição das resistividade elétrica nas rochas (de Griffths e King,
1972).

um modo geral existe uma faixa de valores de resistividade para cada tipo de
material terrestre. A Figura 5.1 mostra as resistividades para diferentes tipos
de materiais.

O método da eletroresistividade consiste: a) na medida da diferença de potencial


elétrico entre dois eletrodos M e N, criada pela emissão de corrente elétrica
(contı́nua ou de baixa freqüência ) no terreno, b) na consequente tradução dessas
medidas em termos de resistividade dos materiais do subsolo e c) na adequada
tradução desses resultados em termos de geologia de subsuperfı́cie.

A corrente elétrica é enviada ao terreno por meio de 2 eletrodos de corrente


A e B. A diferença de potencial criada por essa corrente entre dois pontos do
terreno é registrada por dois eletrodos de potencial M e N. O dispositivo de
medida consiste do quadripolo AMNB representado na Figura 5.2.

A corrente que circula entre AB é registrada em um miliamperı́metro e a


diferença de potencial criada entre os eletrodos MN é registrada em um mili-
voltı́metro de alta impedância de entrada. A d.d.p. entre MN que não é devida
à corrente (por exemplo, potenciais devido a correntes naturais ou industriais)
é eliminada por meio de um conpensador que torna igual a zero a diferença de
potencial entre MN (antes da emissão da corrente entre A e B).
5.1. PROPRIEDADE FÍSICA ENVOLVIDA 57

Figura 5.2: Configuração dos eletrodos de potencial (P1, P2) e de corrente (C1,
C2) para o arranjo Wenner (Grant e West, 1965).

5.1 Propriedade fı́sica envolvida

A propriedade fı́sica que influencia diretamente as observações é a resistividade.


O potencial elétrico num ponto qualquer do terreno depende diretamente da
resistividade. Esta, por sua vez depende de um número grande de fatores de
modo que não é possı́vel atribuir-se a cada tipo de rocha um único valor de
resistividade, nem sequer uma margem pequena de variação. Ainda que a na-
tureza da rocha seja a mesma, influem as condições locais de conteúdo de água,
condutividade da agua, tamanho dos grãos, porosidade, metamorfismo, efeitos
tectônicos, etc..Quer dizer que, dado um valor de resistividade não podemos
identificá-lo como correspondente a um só tipo de rocha. De um modo geral,
existe uma faixa de valores de resistividade para cada tipo de material terrestre.

5.2 Fundamentos do método

O método baseia-se na aplicação da lei de Ohm (U = Ri), onde o condutor


que será submetido à diferença de potencial é todo o semi-espaço compreendido
entre os dois eletrodos de corrente A e B. A Figura 5.3 representa a distribuição
das linhas de corrente e de potencial quando o semiespaco é submetido à uma
diferença de potencial.

Uma corrente elétrica enviada ao terreno cria potencial elétrico. Interessa-nos


particularmente o potencial criado na superfı́cie, que é o local onde na maioria
das vezes realizamos as medidas. A diferença de potencial obtida entre os eletro-
dos M e N é resultante da superposição das diferenças de potenciais originadas
por A e B, entre os eletrodos M e N. Interessa-nos traduzir as diferenças de
potencial em resistividades, já que este é o parâmetro a ser utilizado.
58 CAPÍTULO 5. O MÉTODO DA ELETRORESISTIVIDADE

Figura 5.3: Representação esquemática das linhas de corrente (linhas tracejadas)


e das superfı́cies de potencial (linhas contı́nuas) entre dois eletrodos de corrente
(C1 e C2) no terreno. (A) Distribuição dos potenciais e correntes em um terreno
homogêneo. (B) Perturbação causada pela presença de um corpo condutor
(Sharma, 1982).
5.2. FUNDAMENTOS DO MÉTODO 59

Para um condutor homogêneo de forma cilı́ndrica, de comprimento l e seção


transversal s, e resistividade ρ, a resistência que oferece à passagem da corrente é
dada pela expressão: R = ρl/s. No caso do semi-espaço homogêneo e isotrópico,
a resistência do terreno é dada por: R = ρr/2πr2 , de forma que podemos
escrever o potencial em um ponto do terreno, criado por uma fonte pontual de
corrente a uma distância r como:
ρ I
U= ,
2π r

onde,

ρ é a resistividade do semiespaço ,

I é a corrente elétrica ,

r é a distância entre a fonte e o ponto considerado.

A expressão acima permite calcular o potencial elétrico num ponto qualquer da


superfı́cie, devida por uma fonte pontual de corrente. Podemos obter a diferença
de potencial entre os eletrodos M e N devidas ao eletrodo A, e da mesma forma
devidas ao eletrodo B. Superpondo as duas diferença de potencial obtemos a
diferença de potencial entre M e N devidas a corrente que circulará por A e B,
conforme mostra a seguir,
 
A ρI 1 1
UM N = + −
2π AM AN
 
B ρI 1 1
UM N = − −
2π BM BN
A B
UM N e UM N são a diferença de potencial criada em MN devida a fonte pontual
de corrente A e B, respectivamente. Somando as duas contribuições, isto é,
superpondo as diferenças de potenciais, resulta:
 
A B ρI 1 1 1 1
∆UM N = UM N − UM N = − − +
2π AM AN BM BN
Explicitando ρ na expressão acima, obtemos a expressão para a resistividade
como uma função da diferença de potencial medida entre MN, devida à corrente
emitida por AB, e do termo que depende apenas da geometria do quadripolo
AMNB, e que por sua vez é denominado de “fator geométrico”, K, .
∆V
ρ= K
I

onde K é dado por:


 −1
1 1 1 1
k = 2π − − +
AM AN BM BN
60 CAPÍTULO 5. O MÉTODO DA ELETRORESISTIVIDADE

No caso do ambiente investigado ser homogêneo e isotrópico, a resistividade


obtida será sempre a mesma para qualquer geometria do quadripolo AMNB e
neste caso ρ será igual a resistividade verdadeira do subsolo. Na prática esta
condição quase nunca se verifica e portanto o que é na verdade obtido será uma
resistividade aparente ρa .

5.3 Modalidade de utilização

Com as medidas realizadas na superfı́cie, existem duas modalidades básica de


utilização do método: a) aquela destinada a exploração horizontal, conhecida
como caminhamento elétrico e b) aquela destinada a investigação vertical, con-
hecida como sondagem elétrica vertical, SEV. No caso da SEV existem os ar-
ranjos: Schlumberger, Wenner e arranjos dipolares.

5.3.1 Caminhamentos elétricos

A exploração horizontal do subsolo pelo método da eletroresistividade é real-


izada por meio de caminhamentos elétricos onde o arranjo é deslocado sobre o
terreno, com tomadas de observações a distâncias regularmente espaçadas. É
pois um método de investigação horizontal a profundidade aproximadamente
constante. É bastante adequada para detectar contatos geológicos, variações
faciológicas, diques e outros corpos ou estruturas que apresentam heterogenei-
dades laterais de resistividade.

Existe uma variedade muito grande de arranjos de eletrodos para realização dos
caminhamentos elétricos. Dentro de um primeiro grupo, os eletrodos de corrente
permanecem fixos enquanto que o levantamento é realizado com os eletrodos de
potencial, conforme mostra a Figura 5.4.

Outro grupo, reune aqueles dispositivos, onde os quatro eletrodos se deslocam


conjuntamente, sendo conservadas fixas as separações entre eletrodos, conforme
ilustrado na Figura 5.5.

A Figura 5.6 ilustra um perfil de caminhamento elétrico obtido com o arranjo


Wenner sobre um modelo de um canal menos resistivo que as rochas encaixantes.

5.3.2 Sondagens elétricas verticais

Chama-se sondagem elétrica vertical a uma série de determinações de resistivi-


dade aparente, efetuadas como mesmo tipo de dispositivo e separação crescente
entre os eletrodos de emissão e recepção. O conjunto de valores de resistividade
5.3. MODALIDADE DE UTILIZAÇÃO 61

Figura 5.4: Arranjos com eletrodos de corrente fixos.

Figura 5.5: Arranjos com eletrodos de corrente e de potencial móveis


62 CAPÍTULO 5. O MÉTODO DA ELETRORESISTIVIDADE

Figura 5.6: Perfil de resistividade aparente obtido com o arranjo Wenner através
de um canal (Grant e West, 1965).

aparente compoem as medidas de uma SEV. Tanto o arranjo Schlumberger


quanto o Wenner têm em comum o fato de possuı́rem todos eletrodos alinhados
e simétricos em relação ao centro do dispositivo. A Figura 5.7 ilustra os dois
arranjos.

Em ambos arranjos os eletrodos de corrente são regular e simetricamente ex-


pandidos com relação ao ponto investigado. Diferenciam-se com relação a dis-
posição dos eletrodos de potencial que no caso, Schlumberger, são mantidos
fixos por ocasião de um certo número de medidas, enquanto que no dispositivo
Wenner, os eletrodos de potencial também têm sua posição modificada a cada

Figura 5.7: Arranjos comuns utilizados em sondagens elétricas verticais.


5.3. MODALIDADE DE UTILIZAÇÃO 63

Figura 5.8: Arranjos dipolares.

estação mantendo-se iguais as distâncias AM, MN e NB.

A simetria desses dispositivos simplificam o fator geométrico de modo que o


arranjo Wenner, k = 2πa e para o arranjo Schlumberger, K = π/(1/AM −
1/AN ). O arranjo Wenner permite que se obtenham maiores valores em MN
relativamente ao Schlumberger de modo que as leituras são mais estáveis. Por
outro lado é mais susceptı́vel de influência devidas a heterogeneidades laterais
do terreno, uma vez que a cada medida é modificada a posição dos eletrodos de
potencial. Outra limitação prática do arranjo Wenner para sondagens elétricas
é que requer maior número de pessoas envolvidas com a obtenção dos dados de
campo.

Nas sondagens elétricas dipolares, os eletrodos de potencial não estão confina-


dos entre os eletrodos de corrente e o centro dos arranjos estão a uma distância
relativamente grande comparada à separação entre MN e AB. Dependendo da
disposição de MN com relação a AB são subdividas em radial, azimutal, per-
pendicular e paralela, conforme mostrado na Figura 5.8.

Nessa modalidade, o transmissor e o receptor são separados e este fato lhe


confere grande vantagens sobre os demais arranjos quando de investigações pro-
fundas, uma vez que dispensam a necessidade de se usar grandes linhas como é
o caso dos dispositivos Wenner ou Schlumberger.

Os dados de uma SEV são representados por meio de uma curva em função
da distância entre os eletrodos. As resistividades aparentes corresponderão às
ordenadas e às distâncias AB/2, as abcissas. As escalas em ambos os eixos
são logarı́timicas. A curva assim obtida se denomina curvas de SEV, curva de
campo ou curva de resistividade aparente.

A Figura 5.9 ilustra uma curva de SEV correspondente a um modelo de 4 ca-


madas. Os pontos replicados para mesmos valores de AB/2 correspondem a
pontos finais ou iniciais dos segmentos da curva de resistividade aparente. Nes-
sas medidas, a distância entre os eletrodos de potencial foi aumentada para
64 CAPÍTULO 5. O MÉTODO DA ELETRORESISTIVIDADE

Figura 5.9: Curva tı́pica para modelo de quatro camadas de sondagem elétrica
vertical obtida com o arranjo Schlumberger. A figura ilustra o recurso utilizado
no campo denominado de ”embreagem”(Ward, 1990), que possibilita aumentar
o valor da diferença de potencial medido nos eletrodos MN, conferindo maior
estabilidade e confiabilidade às medias.

obtenção de maiores diferenças de potencial entre os eletrodos MN e conse-


quentemente valores mais estáveis para as resistividades.

A finalidade da SEV é averiguar a distribuição vertical das resitividades abaixo


do ponto investigado. O problema que enfrenta o geofı́sico intérprete, é o de
deduzir a distribuição vertical de resistividades no ponto investigado, partindo
da curva de resistividade aparente representada pela SEV. A solução deste prob-
lema que é chamado de problema inverso, exige a prévia solução e estudo do
problema direto, isto é, o de determinar a curva de resistividade aparente que
se obtém sobre um terreno cuja distribuição da resistividade é conhecida.

Na solução do problema direto, precisamos conhecer a distribuição do potencial


elétrico produzido na superfı́cie de um terreno estratificado devido a uma fonte
pontual de corrente, também situada na superfı́cie. Resolvido este problema,
obtemos a diferença de potencial teórica que deveremos encontrar entre MN
para uma dada distribuição dos eletrodos AB. Desta maneira será possı́vel saber
quais resistividades aparentes seriam obtidas (para um conjunto de observações)
sobre o terreno, cujas espessuras e resistividades se conhece.
5.3. MODALIDADE DE UTILIZAÇÃO 65

5.3.3 Prática de SEV

Uma vez definido o problema e compilado os dados geológicos e demais in-


formações acerca da área onde será executado os trabalhos de campo, é escol-
hido o método bem como sua modalidade de emprego como função dos objetivos
e das circunstâncias. O problema deve ser claramente colocado, por exemplo,
em uma campanha com finalidade hidrogeológica, o problema proposto pode
ser o de localizar intercalações arenosas em uma espessa formação argilosa, ou
o de seguir a continuidade do topo de uma camada calcária ou o de buscar o
substrato impermeável abaixo de rochas permeáveis. Em qualquer caso, não
obteremos nenhuma informação se não existir contraste de resistividade entre a
formação que se deseja estudar e as demais formações.

A topografia também tem grande importância. O relevo acentuado não somente


dificulta a aplicação do método como também prejudica sua qualidade. Em
certas condições é preferı́vel não realizar a investigação a realizá-la e obter dados
duvidosos.

5.3.4 Situações favoráveis para a prática da SEV

O método de SEV é aplicável quando a) o alvo tem posição mais ou menos hor-
izontal e cuja extensão é grande relativamente a abertura dos eletrodos AB, b)
a topografia do terreno é relativamente suave, principalmente para alvos pouco
profundos e c) quando as formações geológicas apresentam-se com razoável ho-
mogeneidade lateral. As SEVs não são pois recomendáveis para investigações
de filões mineralizados, diques, fraturas ou falhas com grandes inclinações.
Também é pouco útil para localizar corpos de pequena extensão lateral como
alvos com forma de bolsões. Por estes motivos, o método tem pouca aplicação
na prospecção mineral associada a rochas metamórficas ou cristalinas.

5.3.5 Programação do trabalho de campo

Além da organização logı́stica, a programação inclui a escolha da densidade das


medições, a separação máxima dos eletrodos de corrente, tanto quanto o azimute
(direção) em que será distendido os cabos. O espaçamento entre os centros
das SEVs depende tanto do grau de detalhe pretendido quanto da estrutura
geológica investigada. Em geral, os centros das SEVs devem formar uma malha
quadrada ou retangular, cujo lado menor não deve ser superior ao dobro da
profundidade a que se espera encontrar o alvo pesquisado, para assegurar boa
correlação entre os resultados de SEVs adjacentes.

Nas regiões tectonicamente estáveis, como também nos casos onde as variações
laterais são suaves, pode-se diminuir a densidade e deve-se aumentar em caso
66 CAPÍTULO 5. O MÉTODO DA ELETRORESISTIVIDADE

contrário. A distribuição dos centros das SEVs e a orientação das linhas AB,
devem ser escolhidas de modo a permitir a melhor aproximação a condições de
homogeneidade lateral e relevo plano, evitando passar com os eletrodos A ou B
sobre falhas ou contatos geológicos aflorantes.

Quanto a definição da abertura máxima dos eletrodos de corrente, não é possı́vel


determiná-la a priori. Porém, se conhecermos a resistividade dos materiais
de subsolo e suas espessuras prováveis, pode-se obter curvas teóricas de re-
sistividade aparente e tomá-las como referencial para determinar as distâncias
máximas AB. Outra maneira seria realizar algumas SEVs em pontos estratégicos
da área para dar a conhecer a que espaçamento AB/2 da SEV teremos in-
formação de interesse para os objetivos da pesquisa.

No programa de trabalho deve ser incluı́do medições de apoio á interpretação,


tais como SEV paramétricas, realizadas sobre afloramentos com o objetivo de
obter a resistividade verdadeira da formação, e sondagens de aferimento real-
izadas sobre perfurações nas quais se conhece o perfil geológico. Estas últimas
serão importantes pois com base na interpretação quantitativa, permitem saber
a resistividade das formações.

5.3.6 Interpretação de SEVs

Atualmente os dados de SEVs tanto quanto os de perfis de resistividade aparente


podem ser interpretados em micro-computadores. Vários programas e subroti-
nas estão disponı́veis para tal fim. O método de interpretação pode ser interativo
ou automático. No primeiro caso o modelo é fornecido e reformulado até que os
valores de resistividade aparente calculados se ajustem aos dados observados.

No procedimento de interpretação automático o interprete define um modelo


inicial com um certo número de camadas e o programa reformula esse modelo
automaticamente até que o ajuste se dê dentro de algum critério previamente
definido pelo interprete. Em qualquer um dos casos é necessário um bom modelo
inicial para reduzir o número de interações e mesmo porque, caso o modelo
inicial não seja próximo do verdadeiro, os métodos automáticos podem divergir.
Para obtenção do modelo inicial podemos utilizar famı́lias de curvas teóricas
previamente calculadas.

A Figura 5.10 ilustra o procedimento de interpretação gráfica para o caso simples


de um modelo de duas camadas.

A Figura 5.11 ilustra um dos problemas na interpretação quantitativa de SEVs


que decorre do princı́pio da equivalência entre camadas condutoras que possuem
espessuras e resistividades diferentes e respondem praticamente da mesma forma
nos valores de resistividade aparente.
5.3. MODALIDADE DE UTILIZAÇÃO 67

Figura 5.10: Exemplo de interpretação de curvas de campo (linha tracejada com


X) através do acasalamento da curva de campo com curvas padrão para modelo
de 2 camadas (Sharma, 1982).
68 CAPÍTULO 5. O MÉTODO DA ELETRORESISTIVIDADE

Figura 5.11: Ilustração do princı́pio da equivalência para uma camada condutiva


confinada entre duas resistivas. As duas curvas de resistividade são praticamente
as mesmas para as duas situações: (i) a camada do meio com resistividade de
15 ohm m e espessura de 50 m, e (ii) resistividade 20 ohm m e espessura 66m
(Sharma, 1982).

5.3.7 Aplicações mais difundidas das SEVs


a) Investigações do relevo do embasamento e outros estudos tectônicos para a
prospecção de estruturas promissoras para petróleo.
b) Estudos hidrogeológicos, mediante a determinação da espessura e profun-
didade dos materiais permeáveis ou impermeáveis ou para determinar as
zonas de influência marinha.
c) Estudos e delimitações de depósitos carbonı́feros.
d)Estudos geotécnicos que incluem: determinação da profundidade da rocha
sã para fundações, estradas, canais, túneis, para orientar frentes de lavra
em pedreiras, etc..
d) Estudos a pequena profundidade para detecção de objetos e edificações
enterradas (estudos arqueológicos).
e) Investigações geotérmicas, relacionadas com estudos de geofı́sica global, in-
vestigando profundidades da ordem de centenas de quilômetros.
Capı́tulo 6

O Método Eletromagnético

A aplicação do método eletromagnético, (EM), tem por finalidade dar a con-


hecer a distribuição dos materiais de subsuperfı́cie com diferentes propriedades
elétricas, através da resposta que os mesmos oferecem quando excitados por
um campo eletromagnético. O método eletromagnético se vale basicamente, da
propriedade que os condutores metálicos possuem de gerarem um campo se-
cundário quando excitados por um campo eletromagnético exterior (primário).
Já com emprego mais limitado, o método EM também pode se valer da pro-
priedade que os condutores não metálicos tem de dissipar ou absorver a energia
eletromagnética e ser utilizado com o objetivo de discriminar ambientes de com-
portamento geoelétrico distintos, por exemplo, areia de argila.

6.1 Propriedades fı́sicas envolvidas

Na superfı́cie se tem a superposição do campo primário com o secundário que


chamamos de campo total. O método mede as diferentes caracterı́sticas do
campo total quanto também do campo secundário (amplitude, defasagem (fase),
inclinação). A medida é feita numa bobina receptora, conectada a um voltı́metro
que medirá a voltagem induzida. A medida da amplitude e fase exige uma
conexão com o dispositivo emissor do campo primário. Estas grandezas são
obtidas através das componentes em fase (real) e fora de fase (imaginária ou
quadratura). A medida da inclinação não necessita do campo primário. Se
busca o ângulo que é necessário inclinar o receptor, RX, para que a corrente
seja máxima ou mı́nima.

Os métodos EMs, respondem às propriedades elétricas do subsolo. A pro-


priedade elétrica mais importante é a condutividade. Estão em jogo , ν, ρ que

69
70 CAPÍTULO 6. O MÉTODO ELETROMAGNÉTICO

são respectivamente, permeabilidade elétrica, magnética e resistividade.

6.2 Princı́pios fı́sicos

Um campo magnético alternado induz uma corrente elétrica num corpo condutor
que por sua vez gera um campo magnético secundário, conforme ilustrado na
Figura 6.1.

Figura 6.1: Representação esquemática do sistema de prospecção com o método


eletromagnético (Sharma, 1982)

O campo EM primário pode ser de origem natural ou criado artificialmente por


uma corrente alternada que se introduz no terreno tanto diretamente (por meio
de eletrodos) ou por indução (por meio de bobinas). A freqüência da corrente
indutora normalmente está compreendida entre 100 Hz e 5000 Hz. O campo
magnético oscilante se propaga como ondas que são atenuadas a uma taxa que
depende da freqüência e das propriedades elétricas dos materiais.

Quando as ondas passam através de um corpo condutivo, elas induzem correntes


elétricas alternadas que tornam-se fontes de novas ondas eletromagnéticas que
podem ser captadas na superfı́cie do terreno. A força da corrente induzida no
subsolo depende da resistividade elétrica do condutor e da freqüência do campo
indutor. As correntes são mais fortes quanto menor for a resistividade elétrica
e maior a freqüência. A voltagem induzida na bobina receptora é proporcional
a componente do campo EM. perpendicular à bobina.
6.2. PRINCÍPIOS FÍSICOS 71

Quando a bobina RX está na presença de um campo criado por um cabo ou um


“loop”, o sinal recebido será máximo quando o plano da bobina for perpendicular
ao vetor campo. Por outro lado, nenhum sinal é captado quando o vetor campo
EM está contido no plano da bobina, uma vez que nenhum campo magnético
atravessará a bobina e consequentemente induzirá voltagem nula.

A corrente que aparece no corpo, produz um campo magnético que se opõe ao


campo primário. O campo resultante em qualquer ponto é obtido pela com-
binação do campo primário e secundário. Se o condutor é muito bom, o vetor
resultante é quase coincidente como eixo maior da elipse de polarização, que é o
resultado da combinação dos dois campos magnéticos que oscilam com mesma
freqüência porem defasados.

6.2.1 Amplitude e fase

Qualquer componente do campo EM é caracterizada primeiramente pela sua


amplitude e secundariamewnte pela sua fase com respeito ao campo primário.
Amplitude é o valor máximo que o campo tem no ponto de observação onde ele
oscila. Esta amplitude é alterada pela existência de um campo secundário. O
campo primário na superfı́cie do condutor, embora não tenha a mesma ampli-
tude que possui na fonte, ele estará em fase com a fonte. O intervalo de tempo
entre dois máximos sucessivos é o perı́odo cujo inverso é a freqüência .

Quando um condutor está sujeito a um campo magnético alternado, ele apre-


sentará uma f.e.m. na mesma freqüência, porém atrasada de 1/4 do perı́odo. A
corrente no condutor, que possui uma resistência e uma indutância (tendência
de se opor a mudança do campo magnético) estará atrasada em relação a volt-
agem induzida, e consequentemente estará mais ainda atrasada com relação ao
campo primário. O campo magnético secundário produzido pela corrente in-
duzida, estando em fase com a corrente, também estará atrasado com relação
ao campo primário. A soma do campo primário com o secundário darão como
resultado o campo resultante que estará atrasado de uma fração de perı́odo com
relação ao campo primário.

6.2.2 Ângulo de fase e diagrama vetorial

Uma outra maneira de representar o fenômeno é utilizando o diagrama vetorial,


ilustrado na Figura 6.2.

A força f.e.m., induzida está atrasada de 90◦ , portanto representada a 90◦ de


OA. O campo secundário, atrasado de φ com relação a f.e.m.. Se o condutor é
muito bom, φ ≈ 90◦ e o campo secundário fica defasado de ≈ 180◦ do campo
primário. Se o condutor é pobre, φ ≈ 0◦ e o campo secundário fica atrasado de
72 CAPÍTULO 6. O MÉTODO ELETROMAGNÉTICO

Figura 6.2: Diagrama vetorial representando as relações de fase entre o campo


primário (P), o campo secundário (S) e o campo resultante (R) (Sharma, 1982).

≈ 90◦ . A fase do campo secundário, é portanto uma medida da condutividade.


Quanto mais próxima de 180◦ , melhor o condutor.

A Figura 6.3 mostra a variação na inclinação do campo EM na presença de um


corpo condutor.

6.3 Profundidade de investigação

Depende da distância TX-RX e da freqüência . A potência das correntes induzi-


das aumenta com a freqüência da corrente indutora. Se a rocha encaixante é de
baixa resistividade, o campo primário penetra tanto mais quanto mais baixa a
freqüência. Quando uma onda EM se propaga através da Terra, sua energia é
continuamente absorvida pelas rochas em função da sua condutividade elétrica.
De modo que cada vez menos energia estará disponı́vel para excitar o corpo a
medida que ele esteja mais e mais profundo. Acontece o mesmo com o campo
secundário na medida que vem do corpo para a superfı́cie. Quanto mais baixa
for a resistividade das rochas ou maior a freqüência das ondas, maior a absorção
de energia e menor a profundidade de penetração do campo EM. Freqüências
maiores que cerca de (3000-4000) Hz não podem ser aproveitavelmente empre-
gadas.
6.4. MODALIDADES DE UTILIZAÇÃO 73

Figura 6.3: Angulo de inclinação do campo eletromagnético na presença de


uma anomalia EM. O campo primário é horizontal. A resultante entre o campo
primário (P) e o secundário (S) é representada por R, cuja inclinação a partir
da horizontal é representada por T (Sharma, 1982).

6.4 Modalidades de utilização

Como em corrente contı́nua, precisamos dispor de um circuito de emissão TX


e outro de recepção RX. Existem quatro tipos: a) dipolo elétrico horizontal, b)
cabo horizontal longo, c) dipolo magnético vertical, d) dipolo magnético horizon-
tal. Tanto RX como TX pode ser qualquer um desses quatro tipos de circuitos.
Também pode ser aplicado simultaneamente várias freqüências combinadas em
um único impulso, sendo registrado em RX o transiente correspondente.

6.4.1 Sondagem eletromagnética

Pode ser executada variando-se a freqüência ou o espaçamento TX-RX. É pre-


ferı́vel variar a freqüência uma vez que qualquer mudança na topografia pode
introduzir efeitos indesejáveis. Um longo fio pode usualmente ser considerado
como uma fonte linear. Um “loop” retangular bastante grande também pode
simular uma fonte linear se o RX está muito mais perto de um lado do “loop”
que de outro. A teoria pela qual são interpretados os dados de sondagem ver-
tical não é difı́cil de ser aplicada quando o modelo é simples. A profundidade
até a base de uma camada condutora disposta sobre outra infinitamente resis-
tiva pode ser detectada a partir da razão de amplitude dos campos magnéticos
horizontais e verticais observados na superfı́cie.
74 CAPÍTULO 6. O MÉTODO ELETROMAGNÉTICO

6.4.2 Perfilagem horizontal

A maioria das pesquisas com métodos EMs são executadas mais com o objetivo
de localizar as posições dos corpos condutores do que determinar suas profundi-
dades. São empregadas tanto fontes fixas, quanto móveis. Os métodos de fontes
fixas são idealizados de modo que o TX fica fixo numa única posição, enquanto o
RX se desloca sobre a área pesquizada. Os métodos de fontes móveis envolvem o
deslocamento tanto do TX quanto do RX. Nestes métodos o acoplamento entre
a fonte e o condutor é variável, o que pode causar a variação na resposta que não
estão associados ao condutor de subsuperfı́cie e que dificultam a interpretação.

Alguns métodos são destinados a medir apenas a direção do campo induzido.


Eles são bastante sensı́veis e não requerem instrumentos complicados. Dispen-
sam a necessidade de um sinal de referência porque independem da amplitude
do sinal da fonte. A razão do campo observado em 2 posições, ou a razão de 2
componente para o mesmo lugar podem oferecer informações da resistividade.

Embora que em princı́pio, poder-se-ia utilizar um número variado de com-


binações entre 4 diferentes circuitos de TX e RX, na prática só se realizam
caminhamentos EM com RX em forma de bobinas, enquanto os TX utilizados
como bobinas são grandes “loops” de cabos extendidos no solo, ou grandes cabos
dispostos linearmente e conectados à Terra nos extremos.

A Figura 6.4 ilustra as componentes em fase e fora de fase do campo EM obtido


com bobinas horizontais sobre um condutor.

6.4.3 Levantamentos aéreos

A maioria dos métodos EM aéreos derivam dos métodos terrestres. A menos


que se use dois aviões, ou o campo EM natural, a distância necessariamente lim-
itada entre TX e RX faz com que a profundidade de investigação seja pequena,
geralmente inferior a uma centena de metros. O método Input foi idealizado
especialmente para sua aplicação aérea.

O objetivo principal da maior parte das pesquisas EM aéreas é a localização


de depósitos de sulfetos. Uma modalidade de sistemas são empregados nas
operações: a) TX e RX em asas diferentes, TX no avião e RX dependurado, TX e
RX em planos paralelos, etc. Os principais fatores que influem na profundidade
de penetração do sistema são: sensibilidade do registrador, separação entre
bobinas, altura de vôo, freqüência , efeitos próximos a superfı́cie, geometria e
condutividade do alvo. A profundidade de penetração é maior se a sensibilidade
é maior. É também maior se é maior a separação entre bobinas. É maior
para menores alturas de vôo. Quanto maior a freqüência maior é o efeito de
condutores superficiais. Quanto menor a freqüência maior a profundidade de
6.4. MODALIDADES DE UTILIZAÇÃO 75

Figura 6.4: Bobinas horizontas, componentes em-fase e fora de fase (quadratura)


do campo EM (Grant e West, 1965).

penetração.

A Figura 6.5 ilustra o sistema de levantamento geofı́sico eletromagnético aéreo.

6.4.4 Levantamentos terrestres

Segue normalmente os passos: colocação do problema, escolha do método,


preparação da área e execução do levantamento. A execução do levantamento
propriamente dita pressupõe que:

a) O problema a ser estudado tenha sido claramente colocado em termos


geológicos, isto é, quais as rochas presente na região, quais suas pro-
priedades, quais suas atitudes, a que tipo de rocha está associada a min-
eralização, como é a topografia da área, manto de intemperismo, etc.,

b) O método a ser aplicado tanto quanto a modalidade de sua utilização tenha


sido escolhida de modo a se obter as melhores respostas do alvo prospec-
tado. Se a topografia é acidentada ou existe manto de intemperismo, o
76 CAPÍTULO 6. O MÉTODO ELETROMAGNÉTICO

Figura 6.5: Uma das disposições de bobinas empregadas na prospecção eletro-


magnética aérea (Griffths e King, 1972).

sistema de bobinas coplanares verticais é melhor adaptado uma vez que


dispensará a necessidade de correção topográfica, além de suprimir o efeito
das camadas mais próximas á superfı́cie.

c) a área esteja preparada isto é, no caso do levantamento terrestre, que estejam
previamente abertas picadas e amarradas a uma linha base (normalmente
paralela ao “strike” e coincidente com a posição esperada para as anoma-
lias) as quais estarão piqueteadas na posição em que serão obtidas as
medidas (este procedimento poderá ser dispensado caso este seja o único
método a ser aplicado). O espaçamento entre os perfis, tanto quanto entre
os pontos de observação, dependem do grau de detalhe pretendido como
também do sistema que será aplicado. No caso das bobinas coplanares
verticais, o TX precisa estar paralelo ao “strike” (de modo que as linhas
de força cortem o plano que contém o presumı́vel depósito) o que fará
com que as observações sejam tomadas a intervalos relativamente maiores
ao longo dos perfis do que a separação entre perfis. No caso do Turam,
o cabo ficará extendido paralelamente ao “strike” e o levantamento será
realizado perpendicularmente.

No caso do levantamento ser realizado com duas bobinas (por exemplo, Slin-
gram), o espaçamento entre elas e a freqüência precisam ser escolhidos de modo
a assegurar as melhores respostas. Como as freqüências (geralmente em número
pequeno) são fixas resta o recurso de variar a distância entre as bobinas.
6.5. SITUAÇÕES FAVORÁVEIS PARA APLICAÇÃO DO MÉTODO EM77

6.5 Situações favoráveis para aplicação do método


EM

O método EM fornece melhores resultados sempre que existir bons contrastes de


condutividade entre o alvo prospectado e o ambiente geológico onde se encontra.
Também quando a topografia é plana ou quase plana, uma vez que ela pode
distorcer ou mesmo produzir anomalias.

A presença de linhas de alta tensão, de telefone, canos d´água, estradas de


rodagem, etc., introduzem ruı́dos nas medidas EM. A presença de grafita, que
possui baixa resistividade, mesmo não tendo interesse econômico, absorve ondas
EMs e pode mascarar fortemente qualquer depósito na sua vizinhança. Quando
o alvo prospectado estiver associado à mineralizações de materiais com alta
permeabilidade magnética (magnetita e pirrotita), estes trarão uma influência
adicional na anomalia uma vez que o campo magnético detectado em RX é
consequentemente a soma do campo devido a corrente elétrica secundária na
superfı́cie do condutor e aquele devido à intensidade de magnetização.

Os métodos EMs respondem às propriedades elétricas do subsolo. A maior


parte dos sulfetos existentes na natureza tem boa condutividade enquanto que as
encaixantes são isolantes. Isto faz com que o método tenha ótima aplicabilidade
na prospecção de mineralizações associadas a sulfetos.

São bons condutores a grafita, pirrotita, pirita, calcopirita, galena e magnetita,


e são portanto bons alvos para prospecção EM. Já a hematita, zinco, bromita
e cromita são quase isolantes e poderão ser detectados pelo método EM apenas
se contiverem suficiente quantidade de minerais acessórios de baixa resistivi-
dade. Por exemplo, blenda pode frequentemente conter disseminação de pirita
ou galena.

Anomalias eletromagnéticas também podem ser causadas por falhas, fratura-


mentos no embasamento, zonas de fraqueza e movimento, e fissuras com água
condutiva, finos veios condutores, etc.

O método pode além de sua aplicação à prospecção mineral, também ser apli-
cado à prospeção de água subterrânea e nesse caso pode ser empregado no ma-
peamento de fraturamentos em regiões cristalinas como também no mapeamento
de estruturas resistivas encaixadas em ambientes condutores, ex: paleocanais em
meio argiloso.
78 CAPÍTULO 6. O MÉTODO ELETROMAGNÉTICO

6.6 Vantagens e limitações

O sistema é bastante versátil no que diz respeito aos diferentes arranjos entre
RX, TX, freqüência e espaçamento entre TX-RX. Os equipamentos geofı́sicos
EMs possuem grande portabilidade e e são adaptáveis a levantamentos terrestres
e aéreos.

À exceção do método magneto-telúrico, os demais tem sua aplicabilidade ótima


confinada a estudos pouco profundos situados até cerca de 1 a 2 centenas de
metros. Outra limitação, também comum a outros métodos geofı́sicos, é que os
métodos EMs não permitem discriminar os minerais responsáveis pelas anoma-
lias EMs.

6.7 Interpretação qualitativa

De um modo geral a interpretação é apenas qualitativa. Quando o levantamento


é feito ao longo de perfis, (caminhamentos EM), a interpretação consiste na
busca de anomalias bem como no posicionamento em planta dos locais de sua
ocorrência. As anomalias separadas nos diversos perfis são levadas ao mapa de
trabalho, donde se unem aquelas que ocorrem em perfis contiguos. A maior das
dificuldades na interpretação dos dados EM, obtidos em perfilagens horizontais,
é o efeito da cobertura condutora ou da encaixante condutiva quando for o caso.
A forma das anomalias dependem da configuração de bobinas e da componente
que está sendo plotada.

6.8 Interpretação quantitativa

É feita com base em modelamentos numérico ou analógico de modelos ho-


mogêneos com forma geométrica simples. Exige o cumprimento de condições
tais como uma razoável homogeneidade do meio encaixante. Um procedimento
simples e preliminar para a interpretação quantitativa, pode ser obtido com
base em diagramas e curvas tóricas pré-computadas que nos permitem obter as
relações entre d/a (profundidade do corpo e e separação entre bobinas) e λ/a
onde λ = 107 ρ/vt onde ρ = resistividade, t = espessura e v = freqüência ) de
modo que sendo conhecidos a e v torna-se possı́vel estimar ρ/t. A determinação
da forma aproximada, inclinação, profundidade e resistividade podem ser obti-
das a partir dos diagramas e curvas teóricas especialmente preparadas para
tais fins. Atualmente a interpretação pode ser conduzida a partir de modernas
técnicas de modelamento numérico eletromagnético que utilizam o computador.
6.9. PROCEDIMENTO DE ESCRITÓRIO 79

6.9 Procedimento de escritório

Os dados brutos, recém obtidos no levantamento, correspondem geralmente às


porcentagens do campo secundário com relação ao primário, ou à direção e
inclinações do campo EM resultante, ou à diferença de inclinação entre o campo
EM tomado em dois pontos com RX e TX alternando-se (shootback), ou na
amostragem no decaimento do potencial secundário induzido em RX (Input), ou
na razão de amplitude e diferença de fase entre dois campos EM em duas bobinas
a separação constante (Turam). Os parâmetros obtidos de um modo geral,
podem ser corrigidos de efeitos topográficos (ex.: Slingram bobinas coplanares
horizontais, ou coaxial) ou corrigidos da razão normal (Turam) etc.).

Após o tratamento prévio citado acima, os dados serão representados tanto em


perfis quanto em mapas de contorno para os parâmetros levantados. O mapa
de contorno indicará as áreas de ocorrência anômala.

A interpretação dos vários perfis justapostos contendo a posição aproximada


do corpo condutor permitirá esboçar seu traçado em planta. Quando o corpo
pode ser aproximado por uma fina folha condutora, estarão disponı́veis para a
interpretação diagramas previamente preparados para tal fim. Os parâmetros
geométricos e fı́sicos, profundidade, inclinação, largura, resistividade, podem
ser obtidos a partir da interpretação individual de cada perfil. Porém quando o
corpo não possui forma geométrica simples a interpretação quantitativa torna-se
bastante difı́cil e somente poderá ser realizada através das técnicas de mode-
lamento numérico que fazem uso do computador. Qualquer que seja a técnica
empregada na interpretação, o modelo obtido só terá validade se for coerente
com a geologia.
80 CAPÍTULO 6. O MÉTODO ELETROMAGNÉTICO
Capı́tulo 7

O Método da Polarização
Induzida

Este método consiste na medida da polarização induzida no terreno pela emissão


de corrente por meio de dois eletrodos A e B. Se a corrente enviada por A e
B é interrompida bruscamente, pode observar-se a existência de uma d.d.p.
decrescente entre dois eletrodos de potencial M e N. Esta d.d.p., na ausência
de fenomenos indutivos apresenta a polarização que foi induzida no terreno
pela corrente enviada por AB. Essa d.d.p. se dissipa rapidamente, porém sua
anulação requer sempre algumas dezenas de segundos se a duração da corrente
de excitação é de vários minutos.

A Figura 7.1 ilustra o fenômeno da polarização induzida.

7.1 A medida do fenômeno de PI

Em um tipo de detector, mede o decaimento da voltagem com tempo. Esta


modalidade é conhecida como PI no domı́nio do tempo. Como a resistividade
aparente varia na razão inversa da freqüência, então pode também ser medida
a resistividade aparente para duas ou mais freqüências (geralmente < 10 Hz) e
este procedimento constitui outra modalidade de detecção do efeito de PI que
é conhecido como PI no domı́nio da freqüência. Durante o perı́odo de carga do
PI – Domı́nio do tempo, ou na medição para baixa freqüência do PI – Domı́nio
da freqüência, se obtém a resistividade aparente do terreno, o que equivale dizer
que o levantamento de PI permite obter também a resistividade aparente.

81
82 CAPÍTULO 7. O MÉTODO DA POLARIZAÇÃO INDUZIDA

Figura 7.1: Formas do sinal transmitido e recebido no domı́nio do tempo (Ward,


1990).

7.1.1 PI no domı́nio do tempo


a) A maneira mais simples de medir o efeito PI é comparar a voltagem residual
a um instante t após o corte da corrente, V (t), com a voltagem V c no
instante do corte. Como V (t) <<< V c, a razão V (t)/V c é expressa
em mV /V ou em porcentagem (V (t)/V c) × 100 quando ambos em mV .
É denominado de Polarizabilidade a relação: P = V (t)/V c. Os dados
de campo expressam polarizabilidades aparentes que so coincidem com a
verdadeira quando o terreno é homogêneo.
b) Outra maneira é integrar V (t) dentro de um intervalo e compará-lo com a
voltagem de corte. Os equipamentos comerciais usam este procedimento
e a integração é feita mediante o carregamento de um condensador no
intervalo t2 − t1 . Este parâmetro é definido como cargabilidade (M), que
tem a unidade de tempo.
Z t2
1
M= V (t)dt
Vc t1

7.1.2 PI no domı́nio da freqüência

A idéia básica desta modalidade é que os fenomenos de polarização requerem


certo tempo para se produzirem, de modo que: a) ocorrerá uma defazagem na
tensão captada entre M e N quando se aplica uma corrente senoidal a um terreno
7.2. PROPRIEDADE FÍSICA RESPONSÁVEL PELO FENÔMENO DE PI83

polarizável e b) se observará uma diminuição da impedância com a freqüência.


Isto pode ser visualizado grosseiramente imaginando-se que os fenomenos de
polarização se opõe a passagem da corrente, porém se a corrente se inverte,
estes efeitos tem menos tempo para se estabelecerem o que fará com que a
oposição tenda a diminuir com o aumento da freqüência. A variação da resis-
tividade aparente, ρ, com respeito ao aumento da freqüência se denomina efeito
de freqüência (EF).

ρb − ρa ρb − ρa
EF = ou × 100
ρb ρb

outro parâmetro é o chamado Fator Metálico (FM)

EF
FM = × 2π × 105 = 2π × 105 (σa − σb )
ρa

que nada mais é que a diferença de condutividade.

7.2 Propriedade fı́sica responsável pelo fenômeno


de PI

O método estuda as variações que ocorrem na resistividade elétrica ou na con-


stante dielétrica a baixa freqüência. Estas variações não podem ser explanadas
em termos de estrutura atômica ou molecular do material, mas sim da textura
ou macro-textura das rochas.

Dois fenômenos dão lugar a Polarização Induzida, PI, com intensidade suficiente
para ser detectada sobre o terreno.

a) A acumulação de cargas elétricas ao redor de partı́culas metálicas dispersas


em um eletrólito, quando este é atravessado por uma corrente elétrica
(chamado de sobretensão).

b) A retenção de cargas elétricas nas paredes dos poros em meio a um eletrólito,


na ausência de corrente elétrica.

O corte brusco na corrente de excitação origina a aparição da PI que decorrerá da


dispersão das cargas elétricas no primeiro caso e a sua acumulação no segundo
caso. Os dois fenomenos acima também são conhecidos como polarização de
eletrodo e polarizção de membrana.
84 CAPÍTULO 7. O MÉTODO DA POLARIZAÇÃO INDUZIDA

Figura 7.2: Representação esquemática do fenômeno da polarização de eletrodo


mostrando a distribuição anômala de ı́ons próxima à interface sólido-lı́quido
(Ward, 1990).

7.2.1 Polarização de eletrodo

Quando uma rocha contendo minerais metálicos é submetida a uma d.d.p. a


corrente flui em seu interior tanto na forma eletrolı́tica quanto eletrônica. Nas
interfaces mineral × solução ocorrerão reações quı́micas. A presença do mineral
metálico tendo junto à superfı́cie cargas de sinais opostos sobre cada face, resulta
na acumulação de ı́ons no eletrólito adjacente às faces polarizadas. Dessa forma
ocorre uma reação eletrolı́tica havendo troca de elétrons entre o metal e os
ı́ons da solução. Quando a corrente é interrompida, a voltagem residual decai
com o retorno dos ı́ons difusos a suas posições originais e o restabelecimento do
equilı́brio eletrolı́tico do meio.

A Figura 7.2 ilustra o fenômeno de polarização de eletrodo.

7.2.2 Polarização de membrana

O segundo fenômeno, denominado polarização de membrana ou efeito normal de


PI, também é responsável pelo efeito de PI. Pode ocorrer na ausência de minerais
metálicos. A condução eletrolı́tica é o fator predominante na maioria das rochas
e é a única forma de condução de corrente quando não estão presentes minerais
metálicos e a freqüência é baixa. A maioria das rochas tem cargas negativas
nas paredes dos poros, consequentemente aprisionam ı́ons positivos e repelem
ı́ons negativos. A concentração de ı́ons positivos pode ser suficientemente grande
para impedir o fluxo da corrente. Quando a corrente é desligada os ı́ons retornam
7.3. SONDAGENS E CAMINHAMENTOS 85

Figura 7.3: Representação esquemática do fenomeno da polarização de mem-


brana em uma rocha contendo minerais de argila. (a) antes da aplicação do
campo elétrico. (b) depois da aplicação do campo elétrico (Ward, 1990).

a suas posições originais. Este efeito é mais pronunciado na presença de minerais


de argila nos quais os poros são particularmente pequenos.

A magnitude da polarização de eletrodo depende da intensidade e freqüência da


corrente bem como das caracterı́sticas do meio tais como concentração, porosi-
dade, tamanho dos grãos minerais, capacidade de troca ionica, etc. Como é um
fenomeno que depende da superfı́cie exposta dos minerais, ele será maior quando
o mineral está disseminado do que quando é maciço. Para uma dada concen-
tração a polarização diminui com o aumento da porosidade, também diminui
com o aumento da freqüência.

O fenômeno de polarização de membrana está ilustrado na Figura 7.3.

7.3 Sondagens e caminhamentos

As medições de PI se efetuam de modo bastante semelhante a de resistividade


aparente em corrente contı́nua. Podem ser empregadas tanto para investigar
as mudanças na polarizabilidade do subsolo no sentido vertical (sondagens de
PI) quanto no sentido horizontal, a profundidade aproximadamente constante
(caminhamento de PI). Independentemente da modalidade que se emprega,
será necessário o uso de eletrodos de corrente e de potencial. Os dispositivos
86 CAPÍTULO 7. O MÉTODO DA POLARIZAÇÃO INDUZIDA

Figura 7.4: Arranjo gradiente.

Figura 7.5: Arranjo polo-dipolo.

mais utilizados nos caminhamentos de PI são: a) dispositivos de gradientes, b)


trieletródico (médio Schlumberger), c) dipolar axial, e d) dispositivo Wenner.

Gradiente: Se destaca pela facilidade do trabalho de campo e pela elevada


produtividade que permitem e que pode ser aumentada mediante o emprego
simultâneo de vários receptores para um mesmo emissor. É uma modificação do
arranjo Schlumberger. Os eletrodos de potencial movem-se sobre o 1/3 central
da distância entre os eletrodos de corrente, onde o campo é mais uniforme e é
possı́vel detectar mais facilmente as variações laterais de resistividade. Nesse
caso a penetração não é constante sendo máxima quando MN está no centro. São
pouco sensı́veis a efeitos superficiais e não são recomendados para as medições
no domı́nio da freqüência devido ao problema de acoplamento. Também não
são adequados para detecção de corpos estreitos quando horizontais. As leituras
são atribuidas ao ponto médio da distância entre MN.

Polo-dipolo: Um eletrodo de corrente é colocado bastante distante dos demais


enquanto o outro e os de potencial movem-se pelo perfil. Fazendo-se variar
n obtem-se uma combinação de caminhamento com sondagem. É sensı́vel aos
efeitos superficiais e pode ser utilizado tanto para o domı́nio do tempo quanto
para o das freqüências. Normalmente é feita a atribuição da medida ao ponto
médio do segmento MN no domı́nio do tempo e ao ponto médio do segmento
AO no domı́nio da freqüência. Fator geométrico é dado por K = 2πn(n + 1)a.

Dipolar axial (dipolo-dipolo). Todos eletrodos são móveis. Fazendo-se


variar n de 1 a 10 (em geral ≤ 6) obtem-se uma combinação de caminhamento
7.4. SITUAÇÕES FAVORÁVEIS PARA APLICAÇÃO DO MÉTODO DE PI87

Figura 7.6: Arranjo dipolo-dipolo

(variação lateral) com sondagem (variação vertical). As leituras são atribuidas


ao ponto médio do arranjo. É utilizado principalmente no domı́nio da freqüência
por causa do reduzido acoplamento entre transmissor, TX, e receptor RX. Fator
geométrico é dado por K = π(n + 1)(n + 2)a.

Os arranjos Wenner e Schlumberger descritos no método da eletroresistividade


também podem ser utilizados nos levantamentos com o método da Polarização
Induzida.

7.4 Situações favoráveis para aplicação do método


de PI
a) Nas áreas com topografia plana ou quase plana, uma vez que a topografia
pode distorcer as anomalias devidas a metalizações e inclusive produzir
outras anomalias causadas exclusivamente pelo relevo.

b) Quando os minerais metálicos estão disseminados.

c) Nas áreas de bons contatos, sem ruı́do de fundo, com altas resistividades
nas camadas superficiais.

7.5 Vantagens e limitações

É um método capaz de determinar mineralização de corpos de sulfetos dis-


seminados que poderiam passar desapercebidas quando do emprego de outros
métodos.

É um método caro e lento com relação a outros métodos elétricos e eletro-


magnéticos. Se observam anomalias produzidas por argilas, talco, sericita,
88 CAPÍTULO 7. O MÉTODO DA POLARIZAÇÃO INDUZIDA

Figura 7.7: Método para representar os dados obtidos com o arranjo dipolo-
dipolo na forma de uma pseudo-seção (Ward, 1990).

serpentina, etc., que não podem ser diferenciadas das anomalias originadas
por mineralizações metálicas. Não permite saber qual o mineral metálico re-
sponsável pela anomalia. O fenômeno de polarização de membrana impede que
os efeitos de PI possam ser considerados como prova inequı́voca da presença de
minerais com condução eletrônica.

7.6 Representação dos dados

O levantamento polo-dipolo e o dipolo-dipolo são comumente utilizados nas


pesquisas de variações laterais de resistividade.

A Figura 7.7 mostra a forma usual de representar os dados de resistividade


aparente.

A seção obtida com o traçado dos contorno dos valores de resistividade é denom-
inada de pseudo-seção. Esta por sua vez não é uma verdadeira representação da
distribuição de resistividades em subsuperfı́cie, contudo nos permite saber so-
bre a distribuição relativa das resistividades dos materiais do subsolo, conforme
ilustra a Figura 7.8.
7.7. INTERPRETAÇÃO QUALITATIVA 89

Figura 7.8: Pseudo sec ao associada ao arranjo dipolo-dipolo.

7.7 Interpretação qualitativa

Consiste na busca de anomalias, isto é, das regiões onde o parâmetro represen-
tativo do fenômeno de PI, toma valores que superam em 2 ou 3 vezes ao menos o
valor normal ou de fundo observado na área. As anomalias separadas nos diver-
sos perfis são levadas ao mapa de trabalho, donde se unem aquelas que ocorrem
em perfı́s contiguos. A escolha das anomalias mais promissoras deve levar em
conta a intensidade e a extensão das anomalias e também as informações decor-
rentes da aplicação de outros métodos geofı́sicos e da geologia.

7.8 Interpretação quantitativa

A determinação da forma aproximada, inclinação e profundidade do corpo po-


dem ser obtidos por comparação com curvas teóricas, obedecendo-se algumas
regras práticas para tal fim. Técnicas mais modernas de modelamento numérico,
usando o computador também podem ser empregadas.

A presença de um baixo topográfico será responsável por valores de baixa resis-


tividade aparente na pseudo-seção, conforme ilustra a Figura 7.9.

7.9 Aplicações geológicas do método de PI

O método de PI é o método mais apropriado para a prospecção de sulfetos


disseminados. Em menor escala é utilizado na busca de corpos de sulfetos
maciços, depósitos de caolim e bentonita, na prospecção de água subterrânea e
na prospecção de petróleo.
90 CAPÍTULO 7. O MÉTODO DA POLARIZAÇÃO INDUZIDA

Figura 7.9: O efeito de um vale sobre a pseudo-seção de resistividade com o


arranjo dipolo-dipolo (Ward, 1990).

a)Na prospecção de minerais metálicos. Os minerais que tem condutividade


eletrônica e que apresentam forte efeito de PI são: pirita, pirrotita, cal-
copirita, grafita, galena, magnetita e piroluzita.

b)Na prospecção de água subterrânea. As particulas de argila podem atuar


como uma membrana eletronegativa e impedir o fluxo do eletrólito. A
interpretação adequada dos dados de PI poderão indicar a profundidade
na qual ocorre esses efeitos e consequentemente indicar os horizontes aqüif-
eros.

7.10 Procedimento de campo

Uma vez selecionada a área, a escolha do dispositivo de medida bem como do


espaçamento de eletrodos será função da profundidade de investigação desejada
bem como do grau de detalhe pretendido. É implantada uma linha base de
direção que se pressume possuir o corpo investigado, o qual será seccionada por
perfis perpendiculares. Estes serão demarcados por piquetes a distâncias iguais
(em geral a=20, 30, 40 ou 50 metros).

O transmissor será colocado num ponto do perfil, protegido do sol e chuva, que
7.11. PROCEDIMENTO DE ESCRITÓRIO 91

permita a economia de fio juntamente com a maior comodidade do trabalho. O


gerador será instalado a cerca de 15-20 metros. De acordo com o arranjo escol-
hido são dispostos os eletrodos de corrente nas estações devidamente espaçadas
entre si da distância “ a ”.

Os eletrodos de corrente precisam ser preparados de modo a diminuir ao máximo


as resistências de contato, sendo usado para tanto um ou mais telas metálicas
enterradas como eletrodos, além do recurso da água salgada.

Os eletrodos de potencial que serão não polarizáveis precisarão estar equilibra-


dos e com bom contato entre suas bases porosas e o solo. A calibração do
equipamento precede o inı́cio dos trabalhos de medição e tem por objetivo per-
mitir a comparação de dados de PI obtidos com diferentes equipamentos em
diferentes áreas, além de permitir o controle de eventuais derivas instrumentais.
Esta calibração é feita passando uma corrente conhecida sobre uma resistência
oferecida pelo receptor também conhecida.

7.11 Procedimento de escritório

Os dados de campo são representados em perfis, mapas de contorno e/ou pseudo-


seçẽos para os parâmetros: cargabilidade, resistividade, fator metálico e efeito
de freqüência, dependendo da modalidade do método de PI utilizado. Após o
que, procede-se à interpretação qualitativa e quantitativa dos perfis e mapas.
92 CAPÍTULO 7. O MÉTODO DA POLARIZAÇÃO INDUZIDA
Capı́tulo 8

Bibliografia

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93
94 CAPÍTULO 8. BIBLIOGRAFIA

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