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Brendon da Silva Gomes

Nº USP: 11842042

1. Descreva brevemente as quatro causas e explique a conexão que elas têm com o
conhecimento. Em seguida, faça uma conexão entre as causas, ou algumas delas, e a noção
aristotélica de ousia (traduzida como ‘essência’ ou ‘substância’).

Nos livros da Metafisica, Aristóteles nos apresenta sua noção do que é ter conhecimento
dos seres e como isso tem relação com suas causas primeiras. Aristóteles afirma que ter o
conhecimento sobre as coisas significa conhecer seus princípios e suas causas, que segundo ele
são definidas em quatro partes: a causa eficiente, a causa material, a causa formal e a causa
final. A causa formal seria a definição de um ser, ou seja, aquilo que o ser é, por exemplo, uma
estátua; a causa material seria aquilo que subjaz o ser, isto é, do que ele seria feito, no mesmo
exemplo da estátua digamos que seja feita de madeira; a causa eficiente seria movente do ser,
aquilo que de onde vem o movimento, no caso da estátua o escultor que a fez seria sua causa
eficiente, e, por fim, a causa final seria a finalidade do ser, a estátua seria feita para decoração.
Diante disso, Aristóteles afirma que podemos conhecer a “ousia” de um ser, ou seja,
sua essência, sendo essa a primeira definição do que o ser é. A exemplo disso, uma forma bem
simples de entender o que o filosofo propõe é a seguinte: imaginemos que somos crianças e
que nossa mãe nos manda ir ao mercado comprar cinco para comer no café da manhã, a
primeira pergunta que deveríamos fazer seria: cinco o que? Veja que a definição do que
devemos comprar é necessária, caso contrário não saberíamos o que fazer no mercado,
portanto, mesmo que tenhamos outros elementos, a essência do ser é primordial. Continuando
nosso exemplo, agora nossa mãe nos pede para ir ao mercado comprar cinco pães para tomar
no café da manhã, com a definição entendemos que a essência do que devemos comprar é o
pão. Nesse mesmo exemplo, voltando a pensar nas quatro causas do ser, o pão é a definição do
nosso ser, ou seja, sua causa formal e, simultaneamente, sua essência e sua finalidade ou causa
final é para comer no café da manhã.
Dessa forma, conseguimos entender melhor qual a relação estabelecida entre as quatro
causas e o conhecimento para Aristóteles. Como para o autor a metafisica é ciência do ser
enquanto ser, para conseguir distinguir todos eles, precisamos especificar por meio de suas
causas, porque elas nos dão conhecimento sobre algo, quais são suas definições, formas,
finalidades e quem os fez.
2. Escreva uma análise da seguinte passagem, extraída do Resumo das Meditações, de autoria
do próprio Descartes: “o espírito que, usando de sua própria liberdade, supõe que todas as
coisas, de cuja existência haja a menor dúvida, não existem, reconhece que é absolutamente
impossível, no entanto, que ele próprio não exista.”

Nas Meditações concernentes à primeira filosofia, Descartes apresenta uma análise da


cadeia de razões para duvidar sistematicamente de seus antigos juízos, a partir do uso da dúvida
metódica, supondo que tudo uma vez já dado como verdadeiro seja falso. Para explicar o
porquê dessa suposição, Descartes utiliza de três argumentos principais: O erro dos sentidos,
pelo qual ele seria enganado ao confiar nas coisas do mundo sensível, o sonho, onde não saberia
distinguir se está vivendo no mundo dos sonhos ou no mundo real, e o Deus enganador/ Gênio
maligno, no qual uma entidade seria responsável por enganar o espírito em suas repostas a
caminho das certezas.
Em relação a primeira das razões, Descartes afirma que os sentidos podem nos enganar
em busca das certezas, uma vez que eles já o enganaram antes, portanto, não podem ser
confiados, principalmente quando se trata das coisas pouco sensíveis e muito distantes.
Entretanto, Descartes admite que existem coisas que, mesmo que conhecidas através dos
sentidos, não se podem simplesmente duvidar:

Mas, ainda que os sentidos nos enganem às vezes, no que se refere as coisas
pouco sensíveis e muito distantes, encontramos talvez muitas outras das quais
não se pode razoavelmente duvidar, embora as conhecêssemos por intermédio
deles: por exemplo, que eu esteja aqui, sentado junto ao fogo, vestido com um
chambre, tendo este papel entre as mãos e outras coisas desta natureza. E como
poderia eu negar que estas mãos e este corpo são meus? (DESCARTES, 1983,
p.94)

Diante disso, Descartes volta sua atenção agora para pensar sobre os sonhos, enquanto
dormimos não sabemos a diferença entre o mundo onírico e o mundo real. Durante os sonhos,
reconhece o autor, representações do mundo real aparecem, talvez não com tanta nitidez ou
verossimilhança quanto a realidade. Entretanto o que garante que os sentidos não estão nos
enganando novamente? Ele poderia estar sonhando que está sentado ao fogo, vestido com um
chambre, com papel nas mãos. Como saber se está sonhando ou não? Descartes não consegue
encontrar uma resposta que concluiria uma distinção clara entre o mundo dos sonhos e a
realidade. Em seguida, dando continuidade ao argumento do sonho, o autor assume que
estamos sonhando e, mesmo que os sentidos o e o seu corpo sejam projeções de um sonho,
afirma que ainda há coisas que são verdadeiras e existentes, as naturezas simples, ou seja, sua
forma, quantidade, espaço, entre outros. Aqui, portanto, Descartes encontra o limite para o
argumento dos sonhos. Inicialmente, a verdade sobre as naturezas simples parece ser
inquestionável, entretanto Descartes se pergunta se Deus não poderia o estar enganando quanto
a isso:

Ora, quem me poderá assegurar que esse Deus não tenha feito com que não
haja nenhuma terra, nenhum céu, nenhum corpo extenso, nenhuma figura,
nenhuma grandeza, nenhum lugar e que, não obstante, eu tenha os sentimentos
de essas todas as coisas e que tudo isso não me pareça existir de maneira
diferente daquela que eu vejo? (DESCARTES, 1983, p.95)

A existência de um Deus enganador, entidade que teria o foco em enganar o espirito,


não parece ser o ponto de Descartes, porque Deus é considerado bom. Ao invés disso, Descartes
supõe, para a dar seguimento a cadeia de razões, a existência de um gênio maligno, este tão
poderoso e astuto quanto Deus. Supondo também que todas as coisas que sabe são falsas e que
não tem sentidos, se perguntando se não haveria nada de que não se possa ter a menor dúvida?
O que poderia, a partir disso, ser verdadeiro? Para responder tal questão, Descartes coloca o
espirito de volta a pensar em si mesmo dizendo que ele seria capaz de produzir pensamentos
sobre isso, mas se ele é capaz de produzir pensamento, não seria ele alguma coisa? Mesmo
negada a existência de todas as coisas, o espírito nunca negou sua existência, ainda que os
sentidos e seu corpo fossem produtos de um gênio maligno, o espirito é capaz de pensar e,
portanto, existia.

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