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Capítulo 05 - Deslocamento de perfis.

doc

5 DESLOCAMENTO DE PERFIS

Uma das grandes vantagens do perfil evolvente é a possibilidade de deslocamento do


perfil, sem modificação da conjugação. Esse deslocamento consiste em separar a linha de
referência da cremalheira geradora da circunferência primitiva original da engrenagem de forma
que estas não mais se tangenciem. A utilização do deslocamento de perfis apresenta as
vantagens de:
• obtenção de maior ou menor razão de condução;
• melhorar a resistência à flexão;
• eliminação do recorte;
• melhorar o rendimento;
• diminuir o ruído.
Anteriormente, foi afirmado que uma engrenagem de perfil evolvente não tem definido o
diâmetro da circunferência primitiva até que os perfis entrem em contato, portanto,
teoricamente, qualquer distância entre centros permitiria o engrenamento.
Na figura 5.1, a engrenagem ao ser gerada foi afastada da cremalheira geradora de uma
distância ‘v’, mas satisfazendo ainda as condições de conjugação.

linha primitiva da
cremalheira ou
linha de referência
α
L0
linha primitiva de
v geração
L1

circunferência
primitiva

Figura 5.1 – Deslocamento de perfil

A distância ‘v’ é expressa em termos do módulo e de um valor ‘x’:

v = m.x (5.1)

O ‘x’ é o coeficiente de deslocamento de perfil e seu valor, por convenção, é positivo (+x)
se a linha de referência da cremalheira geradora (Lo) se afasta do centro da engrenagem.

A distância entre centros


Capítulo 05 - Deslocamento de perfis.doc 35

A distância da linha de referência da cremalheira ao centro da engrenagem é então:

z
ac = r + x.m = m + x.m (5.2)
2

A espessura do dente

A espessura do dente gerado com deslocamento de perfil positivo, medida sobre a


circunferência primitiva de geração aumenta de 2.x.m.tgα:

π .m
s= + 2.m.x.tgα (5.3)
2

A altura do dente

A nova altura de adendo é:

ha = m + v = m.(1+x) (5.4)

A nova altura de dedendo:

hf = m.(1+c) – v = m.(1 + c – x) (5.5)

O fator de deslocamento de perfil

A aplicação mais necessária do deslocamento de perfis é a eliminação do problema do


recorte na geração de engrenagens com número de dentes menor do que zmín. Pode-se deduzir
uma equação para o valor de “x” que elimine o problema do recorte. Tomando o contrário da
condição (4.49), vista no capítulo anterior, deduz-se que a condição para ocorrer recorte é:

hac > r sen2α (5.6)

Logo, se for dado, durante a geração, um afastamento “v” da linha de referência da


cremalheira geradora à linha primitiva de geração no mínimo igual a:

v = hac – r sen2α (5.7)

o problema de recorte dos dentes de pinhões deixa de ocorrer.

Substituindo (5.1) e (3.10) em (4.2), obtém-se a expressão para “x”:

m⋅ z
x⋅m = k ⋅m− sen 2 α (5.8)
2

z
x = k − sen 2 α (5.9)
2

Esta equação determina o fator de deslocamento de perfil mínimo positivo para que não
ocorra recorte em pinhões com z < zmín.
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A mesma equação pode ser utilizada para determinar o maior deslocamento de perfil
negativo que pode ser especificado para a engrenagem com z > zmín , sem que ocorra o problema
de recorte. Note que se o perfil é deslocado negativamente em uma engrenagem que não
apresenta problemas de recorte, pode-se gerar o recorte na engrenagem, intencionalmente.
É interessante notar, que se for feito x = 0 na equação 5.9, isto é, não há deslocamento de
perfil, a equação permite determinar o número mínimo de dentes que uma engrenagem
fabricada por geração deve possuir sem ter o problema de recorte. Assim, retorna-se ao
resultado já demonstrado anteriormente, a equação (3.10).

Figura 5.2 – engrenamento com perfil deslocado.

5.1 Duração do Contato ou razão de condução (εεα)

Um dos fatores mais importantes no projeto de engrenagens para transmitir potência é


proporcionado pela duração do contato. A duração de contado ou razão de condução (alguns
autores também chamam de grau de recobrimento) representa o número de pares de dentes que
ficam em contato durante uma condução, ou a ação de uma engrenagem sobre a outra.
A quantidade mínima de contato adequada depende de várias condições e pode ser
estabelecida por experiência ou por experimentação nos casos críticos.
A razão de condução informa ao projetista quantos pares de dentes se encontram acoplados
em uma engrenagem. Por exemplo, uma razão de condução igual a 1,5 informa ao projetista que
durante uma determinada condução, tem-se permanentemente um par de dentes em contato e
em 50% do tempo de condução tem-se dois pares de dentes engrenados. Os dois pares de dentes
estão em contato na seguinte situação: quando um novo par (par 1) inicia o contato, o que já
estava na condução (par 2) ainda está conduzindo. Quando o par 1 que iniciou o contato vai se
aproximando do ponto primitivo, o par 2 deixa de estar em contato. Nesta situação tem-se
apenas um único par de dentes engrenado na condução.
FAZER FIGURA
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ra2
r2
rb2
O2


α gs
T2
x ga
a v
I
α y
T1
α
ω1

O1 rb1
r1
ra1

Figura 5.1 – Razão de condução

Na figura acima, a linha T1T2 é a linha de contato. Os pontos x e y são definidos pela
interseção das linhas de contato com as circunferências de adendo ra1, ra2. Então a linha xy é
onde a ação efetivamente ocorre e é chamada de linha de ação. A parte da linha de ação xy que
é interceptada pelas duas circunferências de adendo do par de engrenagens representa o lugar
geométrico de todos os pontos de contato durante todo o engrenamento de um par de dentes (do
contato à separação total), ou seja, o arco de ação, gα, como definido no segundo capítulo. Já
foi visto que um ponto genérico de contato de duas evolventes se desloca sobre a linha de ação
(que é sempre normal às superfícies, no ponto de contato) com uma velocidade:

vn = v.cosα (5.10)

Por definição, o grau de recobrimento é a relação entre o tempo que o par de dentes
permanece engrenado e o tempo entre dois inícios de engrenamentos sucessivos. Isso pode ser
expresso por:

Tempo entre o início e o fim do contato do ponto de contato


εα =
Tempo entre dois inícios de engrenamentos sucessivos

Chamando t1 o tempo dado pelo numerador e t2 o tempo dado pelo denominador, temos:


t1 = (5.11)
vn
Capítulo 05 - Deslocamento de perfis.doc 38

p
t2 = (5.12)
v

Como a distância entre dois dentes sucessivos é o passo, este deve ser divido pela
velocidade na circunferência primitiva para se ter o tempo necessário para que o dente seguinte
encontre a posição onde entra em contato. Então:

t1 gα .v gα
εα = = = (5.13)
t2 vn.p pcosα
portanto,

εα = (5.14)
pb

O número de dentes em contato ou a razão de condução, εα, é a razão entre o arco de ação
e o arco entre dentes sucessivos medido sobre a circunferência de base, o passo de base pb .

Dedução de εα

Nomenclatura:
• ga = arco de aproximação
• gs = arco de afastamento
• φa = ângulo de aproximação
• φs = ângulo de separação
• ra1 = raio de adendo da engrenagem 1
• ra2 = raio de adendo da engrenagem 2

Equações simples podem ser desenvolvidas para os ângulos de aproximação e afastamento


utilizando os vários triângulos retângulos da figura:

T2I = r2.senα (5.15)

T 2Y = ra 2 2 − rb 2 2 (5.16)

Arco de aproximação ga = IY = T2Y – T2I = ra 2 2 − rb 2 2 − r 2.sen α (5.17)

Arco de afastamento gs = IX = T1X − T1I = ra12 − rb12 − r1.senα (5.18)

O ângulo de aproximação φa é dado pela diferença T2Y menos T2I dividido pelo raio de
base rb1

ra 2 2 − rb 2 2 − r 2. sen α
φa = (5.19)
rb1

O ângulo de afastamento é dado pela distância XI dividida pelo raio de base rb1
Capítulo 05 - Deslocamento de perfis.doc 39

ra12 − rb12 − r1. sen α


φs = (5.20)
rb1

O comprimento da linha de contato XY = gα é igual ao arco de ação

gα = φa.rb1 + φs.rb1 (5.21)

gα = ra1 2 − rb1 2 + ra2 2 − rb2 2 − a.senα (5.22)

gα ra12 − rb12 + ra2 2 − rb2 2 − a.senα


εα = = (5.23)
pb pb

Onde
2πrb1 2πrb2
pb = = (5.24)
z1 z2

A razão de condução não pode ser menor que 1 para que não haja choques e garantir
continuidade de movimento. Quanto maior o valor de εα maior é a suavidade de movimento da
engrenagem, contudo geralmente εα é menor que 2.

5.2 Razão de Condução entre Pinhão e Cremalheira

α gα

linha primitiva x
ra
I
y ha
α
rb
ω O rb
r
ra

Figura 5.1 – Razão de condução entre pinhão e cremalheira


ha = altura de adendo da cremalheira

ha
ga = = IY (5.25)
sen α
Capítulo 05 - Deslocamento de perfis.doc 40

gs = ra 2 − rb 2 − r. sen α = XI (5.26)

Com (4.30):

εα =
(ha / sen α ) + ra 2 − rb 2 − r. sen α
(5.27)
pb

5.3 Interferência e Recorte – Limitação da Ação conjugada

A curva evolvente tem seu começo na circunferência de base, então não é recomendável
haver contato entre os dentes abaixo dessa circunferência. Se houver contato entre os perfis dos
dentes abaixo da circunferência de base, poderá ocorrer recorte ou interferência entre os perfis
em contato. O recorte ocorre quando o contato é feito entre a cremalheira de corte (ferramenta
geradora) e a engrenagem. Neste caso, se o processo de fabricação for por geração, a
cremalheira retira material além da curva evolvental, proporcionado pelo giro da cabeça do
perfil do dente da ferramenta no fundo do dente da engrenagem. A curva traçada pelo perfil do
dente (da ferramenta) é chamada de trocóide. A intersecção da trocóide com a evolvente gera o
recorte do dente, ou seja, recorta a evolvente.
Se uma cremalheira com cantos agudos atua contra a evolvente e seu topo se situa bastante
abaixo da circunferência de base, ocorrerá interferência a menos que o dente seja recortado. Se
engrenarmos duas engrenagens com interferência, ocorre engripamento, ruptura ou desgaste das
superfícies dos dentes. Se, pelos processos de geração do perfil evolvente, o dente for recortado
há o adelgaçamento do pé do dente diminuindo sua resistência.
A interferência é um processo que ocorre entre os dentes de duas engrenagens (pinhão /
coroa) em operação. Este evento só é possível de ocorrer entre as engrenagens fabricadas por
processos que não sejam os de geração. Por exemplo, fresa módulo. Evidentemente, a mesma
premissa é válida aqui. O contato que gera interferência é proporcionado pela cabeça do dente
da curva que atinge o ponto limite L, no fundo do dente do pinhão.
A curva em laço representa a trajetória do canto agudo do dente da cremalheira quando ele
entra e sai do engrenamento e é chamada trocóide. Esta trajetória não apenas recorta o dente
abaixo da circunferência de base, mas também remove a parte mais baixa do perfil evolvente
situada entre a circunferência primitiva e a de base.
Capítulo 05 - Deslocamento de perfis.doc 41

trocóide

circunferência
primitiva
Linha de referência
primitiva
α

circunferência
de base
h ac

origem da trocóide

Figura 5.1 – Trocóide

A equação da trocóide em coordenadas polares com origem no laço da curva é dada por:
(ver melhor)

5.4 Condição para que não ocorra recorte

Recorte é denominado à retirada de material no pé do dente da engrenagem fabricada por


qualquer processo de geração de dentes, afetando assim, a espessura do dente na região do pé do
dente. Isso acontece quando o gume de corte da cremalheira, penetra além do ponto limite L
(figura 5.5). Este ponto L é definido traçando uma linha paralela a linha de referência a partir do
ponto de tangência T, definido pela linha de ação sobre a circunferência de base.
Esta condição é aplicável a geração de engrenagens por cremalheira ou fresa helicoidal
equivalente.
Para evitar o recorte do dente da engrenagem gerada por cremalheira, o topo dos dentes da
cremalheira geradora ou da fresa equivalente não pode ultrapassar a linha paralela à linha que
passa no ponto limite de interferência T. O ponto T e a distância IL servirão de auxílio para a
dedução da condição de não ocorrência de recorte.(Figura 5.1)
Capítulo 05 - Deslocamento de perfis.doc 42

Linha de ação

Linha de referência

h ac
α
T

α
linha de adendo Rl
da cremalheira r rb

Figura 5.1 – Limite de interferência

r = raio primitivo
rb = raio de base
rl = raio limite para não haver recorte
α = ângulo de pressão
I = ponto primitivo
T = ponto de tangência
L = ponto limite
hac = altura de adendo do dente da cremalheira de corte

rl=rb.cosα (5.28)

mas rb = r.cosα , logo,


rl = r.cos2α (5.29)

Para que não ocorra recorte:

IL ≥ hac (5.30)
e
IL = r – rl (5.31)

Utilizando (4.45):

IL = r – r.cos2α = r.(1 – cos2α) = r.sen2α (5.32)

Pela condição (4.46):

r.sen2α ≥ hac (5.33)

Agora, define-se o número mínimo de dentes do pinhão, gerado por cremalheira, para que
não ocorra recorte. Sabendo que hac é igual a:
Capítulo 05 - Deslocamento de perfis.doc 43

hac = k.m (5.34)

substituindo (5.34) em (5.33), obtém-se:

r.sen2α ≥ k.m (5.35)

m.z
sen 2 α ≥ k .m (5.36)
2
logo,
2k
z≥ (5.37)
sen 2α

2k
zmín = (5.38)
sen 2 α

Desta forma, o recorte será tanto maior quanto menor o número de dentes. Como indica a
fórmula, o número de dentes mínimo depende do ângulo de pressão e do fator k. Os valores de
“k” para cremalheira geradora podem ser:

• k = (1+c) (geração com folga de fundo – NORMA ISO R53)


• k = 1 (geração sem folga de fundo)

Se c=0,25*m, k=1,25;
c=1,167*m, k=1,167;
c=0,00, k=1,000.

Exemplo dos números mínimos de dentes:

• α = 20° , k = 1,25 → zmín = 22


• α = 14,5° , k = 1,25 → zmín = 40
• α = 25° , k = 1,25 → zmín = 14

Na prática o número de dentes das engrenagens pode ser menor que os calculados. Há
vários em termos práticos para por duas razões:
1) A cremalheira tem um pequeno desbaste na cabeça do dente...
2) Através de deslocamento de perfil.

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