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O PESADELO DA RACIONALIDADE FASCISTA

CAMINHOS PARA UM POSSÍVEL DESPERTAR

Carlos Oliveira Jacques Neto1

“Se o medo e a destrutividade são as principais fontes emocionais


do fascismo, eros pertence principalmente à democracia.”2

INTRODUÇÃO
Neste trabalho abordaremos o tema da Personalidade fascista3, o pesadelo que ronda e
ameaça à Democracia no mundo. Tomaremos como suporte investigativo os conceitos
filosóficos da teoria crítica, em especial a obra de Theodor Adorno “Estudos sobre a
Personalidade Autoritária”4, fruto de pesquisas desenvolvidas na década de quarenta nos
Estados Unidos na Universidade de Bekerley, no intuito de apurar a potencialidade do fascismo
criar corpo na sociedade norte-americana.
Adotaremos como problema filosófico a ser investigado a questão do avanço da
ideologia fascista e de uma possível resistência efetiva que reforce os valores republicanos e
democráticos, bem como aponte para os caminhos que possam superar o atual modelo social.
A preocupação filosófica se justifica face ao desenvolvimento na sociedade brasileira de uma
mentalidade acrítica, anticiência e simpática às práticas autoritárias. Logo, estamos a lidar com
um pesadelo que insiste em perverter o pensamento e jogá-lo em um eterno torpor totalitário5.
Será que podemos acionar as aspirações utópicas de um despertar através da filosofia crítica e

1
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais (PUCRS). Graduando em Filosofia (UFPEL-RS). Graduando em
Especialização no Ensino de Filosofia (UFPEL-RS). Mestrando em Filosofia (PUCRS). E-mail:
carjacques3@gmail.com
2
ADORNO, Theodoro. Estudos sobre a Personalidade Autoritária, UNESP, 2019, p. 70. Grifo nosso.
3
ADORNO, define o que seja o fascismo em seu estudo: “O termo ‘fascista’(distinto do pseudodemocrático, que
seria potencial fascista é usado aqui para caracterizar qualquer um que expresse hostilidade aberta em relação a
grupos de minorias e endosse o uso da força quando ‘necessário’ para suprimir tais grupos; e que defende
explicitamente um governo ‘forte’ para proteger o poder dos negócios contra demandas de sindicatos e grupos
políticos progressistas – até o ponto de suprimi-los pela força.” 2019, p. 65/66.
4
ADORNO, Theodoro. Estudos sobre a Personalidade Autoritária, São Paulo, UNESP, 2019. O autor explica o
entendimento da personalidade como “uma organização de forças mais ou menos duradoura no interior do
indivíduo. Essas forças persistentes da personalidade ajudam a determinar a resposta em várias situações e,
portanto, é em grande medida a elas que se deve atribuir a consistência do comportamento – seja verbal ou físico.”
P. 78.
5
ARENDT, Hannah. As Origens do Totalitarismo Antissemitismo, imperialismo, totalitarismo. 2018. A autora
refere-se aos perigos dos regimes totalitários: “A tentativa totalitária da conquista global e do domínio total
constitui a resposta destrutiva encontrada para todos os impasses. Mas a vitória totalitária pode coincidir com a
destruição da humanidade, pois onde quer que tenha imperado, minou a essência do homem. Assim, de nada serve
ignorar as forças destrutivas de nosso século.” P. 13.
1
re/ativar o desejo da emancipação humana?
Adorno era integrante da primeira geração da Escola de Frankfurt, os estudos visavam
a construção de uma sólida base teórica centradas na filosofia crítica e na psicanálise freudiana.
Pensadores que buscavam uma filosofia que ultrapassasse os limites do discurso, para tanto
adotaram a interdisciplinaridade das ciências sociais, principalmente, os fundamentos da práxis
de Marx e Freud. Os pensadores da teoria crítica apontavam para o movimento dialético de um
saber que ambiciona revolucionar o mundo.”6 A teoria crítica toma o movimento histórico e a
filosofia da práxis como as ferramentas da libertação de uma ideologia alienante imposta pelo
modo de produção capitalista, o qual, na sua missão de aceleração e acumulação do capital,
jamais descartou o braço armado do fascismo como aliado para a manutenção e a reprodução
da organização socioeconômica centrada na mercadoria e na exploração do trabalho
assalariado.
Os estudos e as pesquisas sobre “The Authoritarian Personality” iniciaram-se em 1944,
a obra foi publicada em 1950, nos Estados Unidos, os autores como Adorno, Else Frenkel-
Brunsvik, Daniel Levinson e Nevitt Sanford, indagavam sobre a racionalidade autoritária e a
sua potencialidade na propensão da ideologia fascista conquistar adeptos na sociedade norte-
americana. Os estudos basearam-se em questionários e entrevistas, cujos temas eram o
Antissemitismo, o Etnocentrismo, o Conservadorismo político econômico e o fascismo. No
trabalho atual, nos deteremos sobre o tema específico da personalidade fascista.
A metodologia das pesquisas apresentou um esquema de pontuações a fim de
categorizar os entrevistados em uma escala de alto ou baixo escore a fim de apurar o grau de
preconceito e a potencialidade de vulnerabilidade à ideologia fascista. O público da pesquisa,
inicialmente, foram os universitários, mas, em etapas posteriores, estenderam-se para fora do
mundo da academia.
Horkheimer no prefácio da obra de Adorno salienta:
“O tema central do trabalho é um conceito relativamente novo – o surgimento de uma
espécie ‘antropológica’ que chamamos de tipo autoritário de homem. Em contraste
com o fanático [bigot] do estilo antigo, ele parece combinar ideias e habilidades típicas
de uma sociedade altamente industrializada com crenças irracionais ou antirracionais.
Ele é ao mesmo tempo esclarecido e supersticioso, orgulhoso de ser um individualista
e com medo constante de não ser como todos os outros, zeloso em sua independência
e inclinado a se submeter cegamente ao poder e à autoridade.” (ADORNO, 2019,
p.29)

6
MARX, Karl. Teses sobre Feuerbach, Tese III, Filosofia da práxis, conceito utilizado por Marx para referir-se a
uma Filosofia que pretenda revolucionar o mundo. Fonte http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/feuerbach.pdf
2
Precisamos esclarecer que os estudos de Adorno, apesar de abordar o problema sob uma
análise freudiana, não afasta a perspectiva filosófica e sociológica, um entendimento de que os
fatos sociais são frutos de uma produção histórica, representam uma materialidade do modo de
ser na dialética entre sujeitos, a natureza e a sociedade. Logo, o pensamento crítico desta
investigação segue os conceitos da filosofia prática, ou seja, constitui-se em um movimento
dialético entre o real - o pensar, o compreender, o analisar - e um retorno ao real - no sentido
de contribuir com um constructo teórico para atuar na superação das contradições sociais e ao
aprimoramento de um saber que possa contrapor, cientificamente, o avanço da racionalidade
fascista. Estabelecido o tema a ser examinado, dada a problematização e a metodologia,
passamos a estabelecer as premissas principais de Adorno.
DESENVOLVIMENTO
Adorno trabalha as observações da pesquisa, as quais foram centradas a partir da
classificação dos grupos. Estes grupos foram selecionados pela alta pontuação em temas que
expressam preconceitos, no caso do nosso estudo, a tabela F. Os denominados como ingroup,
membros de uma mesma coletividade que exercem preconceitos e agressividades aos “fora do
grupo,” os outgroup, as minorias sociais, minoria não entendida no sentido quantitativo, mas
qualitativo, representando as pessoas em desigualdades sociais, tais como: judeus, negros,
imigrantes, pobres, homossexuais etc. Apesar da intolerância e dos ataques constituírem-se
como latentes, estas forças reprimidas estão prontas a emergir em falas e atos destrutivos: “em
situações sociais de crise, os sujeitos podem vir a assumir uma faceta antidemocrática de apoio
a atos de violência contra grupos de minorias.”7
Os estudos de Adorno na investigação da mentalidade autoritária buscam encontrar um
certo padrão.8 A psicanálise oferece os elementos conceituais que possibilitam uma topografia
da personalidade autoritária, eis que nas observações de Levinson “um indivíduo, ao identificar-
se socialmente, está determinando não somente sua ideologia, mas também quem ele é como
pessoa.”9
Logo, o conjunto de juízos no modo de ser capitalista, sempre direcionados para uma
vida de aquisição de mercadorias, eis que o maior pavor nesta cultura é ficar fora do circuito
consumista. Neste modelo social, o ser realiza os seus desejos e constitui-se como ser integrado

7
ADORNO, Theodoro. Estudos sobre a Personalidade Autoritária, UNESP, 2019, p. 40
8
ADORNO, 2019, “A pesquisa que será relatada neste volume foi orientada pela seguinte hipótese maior: a de
que as convicções políticas, econômicas e sociais de um indivíduo frequentemente formam um padrão amplo e
coerente, como se unidas por uma ‘mentalidade’ ou um ‘espírito’, e que esse padrão é uma expressão de tendências
profundas em sua personalidade.” P. 71.
9
ADORNO, Theodoro. Estudos sobre a Personalidade Autoritária, UNESP, 2019, p. 47
3
ao seu meio de acordo com a sua capacidade de compra de bens ofertados no mercado. As
relações de produção e trocas comerciais são transpostas para o espaço das relações subjetivas,
elas se dão no patamar da propriedade privada, mercadorias são correlacionadas aos objetos
dos desejos pulsionais, são topicamente inseridas em um prolongamento das energias desejantes
dos sujeitos.
Os objetos iniciais de relação e de inserção do ser no mundo, as figuras da família
constituem-se como formadores da personalidade. Portanto, a qualidade destas ligações é
primordial para os modos como este ser entenderá o mundo e se relacionará com os seus pares
na sociedade. Conforme os estudos de Adorno, os sujeitos diante de pais autoritários e
disciplinadores estão mais resignados, estão mais inclinados a uma submissão perante as figuras
da autoridade externa, abrindo um caminho para a identificação com os líderes dogmáticos,
tornam-se idealizadores dos personagens que estabelecem uma relação de disciplina-punição.
A belicosidade como potência emerge diante da figura familiar autoritária. A agressividade,
implanta-se como mal resolvida na personalidade do sujeito, fica recalcada no inconsciente e
pronta a deslocar-se na forma da admiração ao líder totalitário e como ataques aos grupos
minoritários.
Neste processo de formação de mentes acríticas e submetidas às lideranças autoritárias,
há uma fissura na internalização do superego, ele mostra-se “externalizado” no grupo dos
sujeitos preconceituosos, caracterizam-se como altos pontuadores na escala F, classificação que
apura os indivíduos como possíveis simpatizantes do fascismo. Estes sujeitos dotados da
latência fascista revelam traços de personalidade, qual seja, “o cumprimento de normas e
disciplinas meramente formais, medo da autoridade, agressividade inconsciente em relação aos
pais e a não aceitação de traços relacionados a fraqueza em si e na alteridade.”10
As marcas no inconsciente dos entrevistados com baixa pontuação nas tabelas que
aferiram uma inclinação aos preconceitos e simpatia ao modo de vida fascista, expressaram:
“a possibilidade de compreensão das normas em seus conteúdos e significados, a ausência de
medo no enfrentamento da autoridade e dos valores convencionais, a aceitação consciente de
defeitos dos pais e o reconhecimento de problemas e conflitos em si mesmo.”
Os estudos indicaram que os selecionados como solícitos ao fascismo não escondem
um sentimento de ódio e nem possíveis agressões aos princípios de igualdade e, não está
descartado o extermínio das minorias e do regime democrático, caso surjam as condições

10
ADORNO, Theodoro. Estudos sobre a Personalidade Autoritária, UNESP, 2019, p. 56

4
materiais e sociais, tais como as situações de crises no capitalismo. A estrutura do superego
nos sujeitos com a animação ao fascismo está externalizada, ou seja, diverge de uma forma
racional e equilibrada da internalização desta instância da personalidade.
O manejo das relações entre os componentes da personalidade, nos superegos
externalizados, nos tipos de alta dependência de figuras que expressam o poder, elas seguem,
como regra, desejos orientados pelo princípio do prazer em afronta ao princípio de realidade. A
fragilidade em si não é admitida, mascara-se como uma proteção antidebilidade compulsiva. A
ausência de responsabilidade assume uma variável da alienação, torna-se um hipócrita grosseiro
ou como vislumbramos na sociedade do espetáculo, a arrogância da ignorância.
Or, en quoi consiste l'aliénation du travail?11
Le caractère étranger du travail apparaît nettement dans le fait que, dès qu'il n'existe
pas de contrainte physique ou autre, le travail est fui comme la peste. Le travail
extérieur, le travail dans lequel l'homme s'aliène, est un travail de sacrifice de soi, de
mortification. Enfin, le caractère extérieur à l'ouvrier du travail apparaît dans le fait
qu'il n'est pas son bien propre, mais celui d'un autre, qu'il ne lui appartient pas, que
dans le travail l'ouvrier ne s'appartient pas lui-même, mais appartient à un autre. De
même que, dans la religion, l'activité propre de l'imagination humaine, du cerveau
humain et du coeur humain, agit sur l'individu indépendamment de lui, c'est-à-dire
comme une activité étrangère divine ou diabolique, de même l'activité de l'ouvrier
n'est pas son activité propre. Elle appartient à un autre, elle est la perte de soi-même.
On en vient donc à ce résultat que l'homme (l'ouvrier) ne se sent plus librement actif
que dans ses fonctions animales, manger, boire et procréer, tout au plus encore dans
l'habitation, qu'animal. Le bestial devient l'humain et l'humain devient le bestial.
(MARX)

Uma das importantes sinalizações da pesquisa indicam que os sujeitos que estão
propensos a aceitação acrítica da ideologia fascista compartilham muitos traços, segundo
Adorno “eles exibem numerosas características que juntas formam uma ‘síndrome,’” já os que
estão no campo oposto, os investigados que menos pontuaram na escala F, são de
particularidades bem variadas. Aqui temos a unidade do fascismo versus a pluralidade da
democracia. Outra questão a ser examinada é entender de que maneira a ideologia12 é captada
na forma acrítica pelos sujeitos com tendências a desenvolver uma personalidade autoritária.
Entende-se que este modo de ver a vida e o mundo refletem as contradições materiais da
sociedade mercantilizada na subjetividade dos indivíduos, eis que, no mundo da divisão e da
fragmentação do trabalho germina a alienação, o sujeito apartado de si mesmo e dos seus pares,
é a materialização da coisificação a corroer o espírito humano, nas palavras de Marx, conforme
citação acima: “o trabalhador não pertence a si mesmo.”

11
MARX, Karl. Manuscrits de 1844 (économie politique & philosophie), p. 30/31, edition électronique (MIA):
https://inventin.lautre.net/livres/Marx-Manuscrits-de-1844.pdf
12
ADORNO, 2019, “O termo ‘ideologia’ é usado neste livro, como é comum na literatura atual, para representar
uma organização de opiniões, atitudes e valores – um modo de pensar sobre o homem e a sociedade.” P. 73.
5
Da lei geral da acumulação capitalista13 elucidada por Marx na sua obra “O Capital,”
apurou que, quanto mais riquezas o trabalhador produz, mais misérias cava para a sua vida de
alienação. Esta é a contradição suprema da sociedade presente, germinou as impossibilidades
de correções, a criatura tomou vida própria, visto que, da racionalidade instrumental, da
globalização e da concentração do capital está determinada a crescente indigência da classe
trabalhadora. Logo, a leitura do trabalho de Adorno nos prescreve a confirmação de que a
ideologia fascista é o braço armado, é a produção histórica e social do próprio capitalismo.
Certo que a pesquisa assinala a necessidade de não reduzirmos o fenômeno do fascismo aos
aspectos estritamente psicológicos, mas sim, como salientamos na introdução, a construção
teórica da filosofia crítica necessita de uma metodologia que interligue as ferramentas
conceituais das diversas ciências, transponha dialeticamente os múltiplos saberes, questões
históricas, sociais, psicológicas, econômicas, éticas, estéticas...
O exame do material apurado pela pesquisa centrou-se no objeto das opiniões, atitudes
e valores dos pesquisados. Daqueles selecionados como altos pontuadores na escala F, estes
desvelam as potencialidades à mentalidade fascista. A predisposição fascista evidenciou-se nas
entrevistas com os pesquisados selecionados. A potencialidade fascista é exposta nos discursos
de modo latente, assim, este potencial precisa ser avaliado com o cruzamento dos afetos e
sentimentos do grupo em relação às minorias e a própria concepção de democracia, tais forças
em latência podem acionar os comportamentos agressivos contra as minorias. Segundo Adorno
“as forças de personalidade não são respostas, mas prontidão para resposta;” A estrutura da
personalidade construída pela teoria freudiana toma as forças da personalidade como
“necessidades (pulsões, desejos, impulsos emocionais), as quais variam de um indivíduo para
outro em sua qualidade e intensidade.”
As peculiaridades estudadas a fim de objetivar as potencialidades do desenvolvimento
de personalidades autoritárias, as quais podem passar do puro preconceito à ação violenta contra
os grupos minoritários e a própria democracia serão especificadas a seguir, bem como
descrevemos os elementos destacados na pesquisa a fim de aferir os graus de preconceitos dos
sujeitos com franca disposição à ideologia fascista.
O primeiro tema é o convencionalismo. Este assunto revela a aderência aos valores e
ao modo peculiar de pensar o mundo das classes médias. O fascismo como sendo um

13
MARX, Karl. O Capital Livro I, São Paulo, Boitempo, 2011. “a acumulação de riqueza num polo é, ao mesmo
tempo, a acumulação de miséria, o suplício do trabalho, a escravidão, a ignorância, a brutalização e a degradação
moral no polo oposto, isto é, do lado da classe que produz seu próprio produto como capital” p. 472.

6
movimento de massa, encontra na classe média a parcela da sociedade mais inclinada a cultuar
uma personalidade autoritária. Gramsci, filósofo e político revolucionário Italiano, sofreu nos
cárceres do regime fascista, acabou morrendo em 1937. Na obra escrita em de 1926, antes de
ser preso, “a questão meridional”14 relata como o fascismo começou a ganhar força na Itália:
“Por que, na Itália, a crise das classes médias teve consequências mais radicais que nos outros
países e fez nascer e levou ao poder o de Estado o fascismo?” Ele responde:
“A forma do período que chamamos precisamente de ‘fascista’. Por quê? Porque o
fascismo surgiu e se desenvolveu no terreno dessa crise em sua fase incipiente, porque
o fascismo lutou contra o proletariado e chegou ao poder explorando e organizando a
inconsciência e a cordeirice da pequena burguesia ébria de ódio contra a classe
operária, que conseguia, graças a força de sua organização, atenuar os contragolpes
da crise capitalista em sua direção.” (GRAMSCI, 1987, p. 94)
A relação entre fascismo e a classe média denota que esta ideologia ultrapassa as
questões de uma disposição psíquica, não pode ser resolvida no âmbito individual, mas
necessita da questão histórica e social para ser entendida na sua totalidade. Gramsci captou a
genealogia do fascismo e a sua incorporação pelas classes médias face à crise do capitalismo
na década de vinte, bem como a grande diferença econômica e social entre as regiões norte e
sul da Itália. A crise levou a uma derrocada dos pequenos e médio comerciantes, jogou-os em
uma grande falência.
Diante dos fatos, esta camada social aderiu à propaganda fascista, a qual apresentava-
se como sendo contra o “sistema” e prometia resgatar os valores perdidos pelas classes médias.
Deste modo, o conservadorismo e a falta de crítica desta classe, impede que reconheça no
próprio sistema econômico as causas da sua derrocada. Não é capaz de constatar no fascismo
uma extensão postiça do capitalismo. O apego ao convencionalismo denota uma ligação aos
sentimentos de preconceitos, pois impedidos pela alienação e a falta de capacidade crítica, não
observam na lógica capitalista as causas da sua crescente pauperização. E, certamente, não será
o fascismo, o braço armado do capital, que afastará a classe média do crescente
empobrecimento, ou seja, as mesmas sequelas enfrentadas pela classe trabalhadora.
O segundo tópico em destaque da tabela F é a submissão à autoridade. “A submissão
à autoridade, o desejo de um líder forte, a subserviência do indivíduo ao Estado” é, segundo
Adorno, um componente dos programas totalitários, o nazismo e o fascismo. Os sujeitos com
alta pontuação nesta questão expressaram comportamentos de subjugação: “A submissão
autoritária foi concebida como uma atitude muito geral que seria evocada em relação a uma

14
GRAMSCI, Antonio. A Questão Meridional, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
7
variedade de figuras de autoridade – pais, pessoas mais velhas, líderes, poder sobrenatural.”15
Desta forma, a análise psicológica deste tema da submissão expõe a personalidade
destes sujeitos como carentes de uma internalização da autoridade. Estes indivíduos revelam
um “sentimento de ambivalência” no tópico da autoridade, conflitam pulsões agressivas com
as pulsões insurgentes aliadas ao componente do medo. Adorno frisa que “a submissão
autoritária por si só contribui em grande parte para o potencial antidemocrático ao tornar o
indivíduo particularmente receptivo à manipulação pelos poderes externos mais fortes.” Logo,
a agressividade reprimida contra a figura autoritária familiar é projetada nos outgroups, estes
associados como portadores de “ditadura, plutocracia, desejo de controle.” Este potencial
fascista estará bastante interligado ao próximo tema em destaque da pesquisa, a agressão
autoritária.
A agressão autoritária é o terceiro elemento, caracterizando-se pelas vivências
marcantes desde a infância de uma vida regrada pelo controle excessivo, o sujeito submetido a
este fardo psicológico revela uma personalidade “sobrecarregada” e irá procurar um objeto
deslocado de si “em que possa descarregar” e acusar de ser o portador referencial da autoridade.
Dois componentes atuam em conjunto aqui, o sadismo e o masoquismo. Pela impossibilidade
da crítica sensata e lógica, esta pessoa dominada pelo convencionalismo projeta a sua agressão
para os grupos acusados pela potência de mando a que está submetido. Assim, terá uma forte
tendência para “condenar, rejeitar e punir aqueles que violam os valores” priorizados pelos
agentes do fascismo. Entre os objetos da agressão autoritária estão as minorias: os imigrantes,
os negros, os comunistas, os homossexuais, entendidos como transgressores da moralidade
convencional.
O sujeito com a aptidão agressiva fascista evidencia a incapacidade de discernir os seus
conflitos internos, é precário em lidar com as causas das suas frustrações, escolhe o outro, os
grupos minoritários, como objeto para arremeter as suas hostilidades. Acusa no outro o seu
embate internalizado e abafado, “os próprios impulsos inaceitáveis do indivíduo são projetados
em outros indivíduos e grupos, que são rejeitados.”16 Os estudos psicanalíticos expressaram que
a marca maior da estrutura destas personalidades é “a falta de integração entre as agências
[agencies] morais através dos quais o sujeito vive e o resto da sua personalidade.”
A dinâmica entre os componentes estruturais da personalidade, nestes sujeitos, “o superego está
incompletamente integrado ao self ou ao eu.” A organização da personalidade na concepção

15
ADORNO, Theodor. 2020, p. 141.
16
Adorno, 2020, p. 145.
8
freudiana elenca as instâncias: id, ego e superego.
Neste ensaio, esboçaremos uma breve síntese da dinâmica entre as esferas da
personalidade. Freud compreende o ego, como norteado pelo princípio de realidade, atua na
forma de um gerenciador, um mediador das pulsões inconscientes. Já o id, é visto como o
componente mais primitivo, instância das pulsões, orientado pelo princípio do prazer. O
superego está mais próximo das questões morais, absorve os valores da cultura através da
inserção no mundo pela educação da família, a qual repassa os valores da sociedade. O
superego, este constituinte é o portador da censura a incidir sobre o ego. Logo, as três instâncias
e as suas energias, o id, representante das demandas do desejo coloca-se em uma dimensão mais
inconsciente. O ego, o elemento gestor da personalidade, está em contato com a realidade e a
parte consciente da personalidade. O ego atua como uma unidade que visa adiar, adaptar ou
retardar as demandas do id na sua conflitualidade com a esfera repressora.
O superego é a estrutura que se constitui a partir da moralidade da sociedade através da
relação inicial com a família, é o disciplinador das pulsões energéticas do id. A formação da
personalidade estará dependente dos encadeamentos e das imposições do corpo social, bem
como a forma como os primeiros objetos (os pais e a família) interagem qualitativamente com
o sujeito em formação.
O quarto aspecto valorizado pelos sujeitos com alta pontuação na escala F, é a Anti-
intracepção. Para Adorno a “intracepção é um termo introduzido por Murray17para exprimir ‘a
predominância de sentimentos, fantasias, especulações, aspirações – um perfil humano
imaginativo e subjetivo.” Vislumbramos que este elemento é uma manifestação do exercício
filosófico, do trabalho do pensamento, envolve a criatividade, a expressão verbal, a capacidade
reflexiva e crítica com suportes lógicos e realísticos. Em contraste com a intracepção estão os
modos tendentes as “condições físicas concretas, claramente observáveis, fatos tangíveis e
objetivos.” Adorno aponta uma característica chave entre os contrários ao pensamento:
“O indivíduo extremamente anti-intraceptivo tem medo de pensar sobre os fenômenos
humanos porque poderia, por assim dizer, pensar os pensamentos errados; ele tem
medo de sentimentos genuínos porque suas emoções podem ficar fora de controle...ele
tem medo do que poderia ser revelado.” (Adorno, 2020, p. 148)
Outro ponto que revela o pânico ao pensamento é o fato de que a propaganda nazista
denegria “tudo que tendia a tornar o indivíduo consciente de si mesmo e de seus problemas...a
psicanálise judia foi rapidamente eliminada.” Episódios da vida fascista que denotam um
profundo desprezo pela vida e pelo humano, mas há “uma sobrevalorização do objeto físico;

17
MURRAY, Henry. (1893-1988) psicólogo norte-americano, diretor da clínica psicológica de Harvard.
9
quando é extrema, os seres humanos são vistos como se fossem objetos físicos a serem
friamente manipulados.”
O quinto tema em destaque da escala F é a “Superstição e estereotipia”, a qual revela
credos “místicos ou fantásticos”, retirando a historicidade das mãos do indivíduo para jogá-la
no acaso e na fatalidade. Este modo de enfrentar a vida anuncia a fixação aos preconceitos e a
justificação dos fatos em uma redução simplista, este proceder afasta o que seja uma
emotividade, uma empatia ao outro. Aqui, mais uma vez, apenas a psicologia não resolve o
problema pela concepção da clínica freudiana, mas exige a análise na amplitude aos contextos
sociais e econômicos, pois o capitalismo nos ditames da divisão do trabalho e da lógica da
mercadoria como fonte permanente da acumulação do capital, tornou os sujeitos em coisas
negociáveis, em mercadorias. Logo, os efeitos da reificação e da alienação tornam o indivíduo
apartado da sua produção e da sua singularidade, perde totalmente o controle sobre a sua vida,
fato que o aproxima de uma sublimação pela superstição e pela crença de uma vida plena,
somente após a sua morte.
O sexto elemento em destaque da escala F, “Poder e dureza” neste componente ocorre
o que Adorno chama de “complexo do poder”, o qual ele explica: “existe uma disposição a ver
todas as relações entre as pessoas em termos de categorias como forte-fraco, dominante-
submisso, líder-seguidor, ’martelo-bigorna.’”18 Aqui a interpretação dos autores da pesquisa é
no sentido de que estes sujeitos desejam estar próximos do poder, mas, “ao mesmo tempo tem
medo de conquista-lo e exercê-lo.” Há uma certa dualidade emocional, admira o poder e
desenvolve uma inclinação em obedecer, no entanto revela um desprezo pelo sentimento, eis
que revela uma fraqueza, já que ele pensa estar no polo da força. A marca deste item é “o
complexo de poder contém elementos que são essencialmente contraditórios e devemos esperar
que às vezes uma característica, às vezes outra, predomine no nível superficial.” O certo é de
que a essência está na proximidade do sujeito às figuras que representam o poder e, ao exercer
a sua submissão ao poder, o sentimento é de ser um integrante do poder. Neste ponto, temos
uma expressão bem típica da realidade brasileira, é a figura do “capitão-do-mato,” geralmente
era o lacaio dos senhores de terra, os grandes proprietários do Brasil colonial, que buscavam,
torturavam e matavam os escravos fugitivos para sustentarem o regime escravocrata.
O sétimo componente é a “Destrutividade e cinismo,” composição psíquica e
comportamental dos indivíduos antidemocráticos que explicita os seus ataques aos integrantes
dos outgroups, eis que “por ter tido que aceitar numerosas restrições impostas externamente

18
ADORNO, 2020, p. 152.
10
sobre a satisfação de suas necessidades, abriga fortes impulsos agressivos subjacentes.” A nossa
cultura não tolera a demonstração aberta da agressividade, mas o cinismo advindo do modo
capitalista de ser, principalmente quando encontra figuras autoritárias no poder que cultuam a
violência, há uma certa amenização, uma tolerância impune aos agressores dos grupos
minoritários, já que há uma certa desculpa-razão para estes atos agressivos. Logo, toda a
violência institucionalizada contra as classes trabalhadoras, jovens, pobres, negros, recebe uma
“outorga” do poder, eis que estes são integrantes dos outgroups, estão desajustados e
“ameaçam” a estabilidade e a harmonia da sociedade mercantil.
O oitavo item em destaque da escala F é a “Projetividade,” é um conceito da psicologia
freudiana e está vinculada a “agressão autoritária.” De acordo com Adorno, a projetividade
expressa “os impulsos suprimidos do caráter autoritário tende a ser projetados em outras
pessoas que são, então, culpadas sem que nem se pense a respeito.”19 A projeção das patologias
psíquicas não resolvidas são deslocadas, em forma de agressão, ao outro. Diante da recusa pela
instância egóica aos anseios pulsionais, esta energia é projetada aos outgroups, é uma pífia
tentativa de legitimar a não resolução de um desejo amordaçado, mas não calado, apenas
abafado.
A projeção revela uma predileção e cabe indagar o porquê deste alvo, no caso do ódio
aos grupos LGTB (lésbicas, gays, transgêneros, bissexuais), o que estes grupos têm que
incomodam os pretensos “protetores da propriedade, da família tradicional, da moral e dos
costumes?” A psicanálise entende que o contrário do amor não é o ódio, mas sim, a indiferença.
O objeto do ódio mantém uma ligação, é alimentado por cargas de energias psíquicas que
consomem a mente do agressor frustrado. O ódio apresenta-se como um amor “mal resolvido,”
mas tenta escapar pela ação patológica da ira e a agressão ao objeto de desejo, o qual não é
suportado pelas instâncias de censura e realidade, superego e ego. Já a indiferença, não porta
qualquer quantidade de energia, eis que afastada da percepção de “eros”20 do sujeito.
“Freud apresenta as pulsões sexuais e as de auto conservação como representantes de
Eros, e o ódio como o representante da pulsão de morte. O teórico descreve, ainda,
como muitas vezes a pulsão de vida faz uso da pulsão de morte a fim de preservar a
vida e de conseguir a realização do desejo; como a ambivalência amor e ódio pode
unir, assim como pode ser usado a fim de dominar e até mesmo aniquilar o outro.”
(LEMOS, 2019, p. 10)

ADORNO, 2020, p. 156.


19
20
BRANDÃO, Junito de Souza. “Eros é o amor personificado”, “o desejo incoercível dos sentidos”, Mitologia
Grega, vol. II, Petrópolis, RJ, Vozes, 2012, p. 219.
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A nona e última variável da tabela F é “Sexo” e, para Adorno:
“A preocupação com a sexualidade desprendida está representada na escala F por quatro itens,
dois dos quais aparecem em conexão com a agressão autoritária e um outro como uma
expressão de projetividade.”21 Nas personalidades tendenciosas ao modo de vida fascista, a
questão sexual apresenta-se como extremamente recalcada, re/contida em suas instâncias
psíquicas, há um eterno medo de perda do domínio sobre estas pulsões irresolvidas. Logo, estas
energias jogam-se na punição do outro, dos grupos minoritários, sempre vistos como
“transgressores dos costumes sexuais,” a repreensão dá-se pela projeção, a qual segundo
Adorno: “pode ser um indicativo de uma tendência geral a distorcer a realidade por meio da
projeção, mas o conteúdo sexual dificilmente seria projetado a menos que o sujeito tivesse
impulsos dessa mesma espécie que estariam inconscientes e fortemente ativos.”22
Portanto, o conjunto dos nove componentes da escala F revelam as características
sintomáticas do modo de ser fascista. Sintoma, entendido como a vazão da denúncia dos desejos
não resolvidos e podem, a qualquer momento, eclodir em discursos e atos de ataques às
minorias. As expressões em destaque das personalidades altamente preconceituosas, tornam
estes sujeitos presas fáceis dos agentes políticos do fascismo para agirem como milícias
portadoras do ódio em relação aos grupos minoritários, fator que pode desestruturar e minar os
regimes democráticos. Assim, conhecer estes dados científicos realizados pelos estudos da
equipe de Adorno proporcionam ao filósofo da teoria crítica fortes argumentos conceituais para
a construção de uma resistência que não se limita aos muros da academia, mas que possa ganhar
uma ação prática e efetiva na defesa das liberdades e da democracia.
A ênfase no estudo da psicanálise para compreendermos a mente preconceituosa e
portadora de negações do pensamento e da ciência são essenciais, mas não podemos desvincular
das questões socioeconômicas, sob o risco de adotarmos uma visão positivista e redutora, cujos
sintomas dos comportamentos fascistas cairiam em uma concepção comportamental e
estritamente individualizada, perdendo o seu componente histórico, social e econômico.
Apresentada a pesquisa e as principais linhas da investigação de Adorno sobre a
personalidade fascista, passamos a enfrentar a problematização proposta na abertura deste
estudo. A questão do avanço da ideologia fascista e de uma possível resistência efetiva que
reforce os valores republicanos e democráticos, bem como aponte para caminhos que possam
superar o atual modelo de sociedade.

21
ADORNO, 2020, p. 158.
22
ADORNO, 2020, p. 158
12
Analisada a obra de Adorno, “Estudos sobre a personalidade fascista,” podemos
compreender que o fenômeno social do fascismo não se resume no diagnóstico e tratamento da
conflitualidade dos indivíduos, eis que elas reproduzem nas subjetividades as contradições da
sociedade da acumulação de capital. A visão do filósofo da teoria crítica ultrapassa a questão
situacional, amplia a análise para uma concepção histórica e antropológica da sociedade e do
indivíduo como um ser assujeitado pelo sistema em que foi moldada a sua estrutura de
personalidade.
Logo, respondemos ao problema proposto, como enfrentar o avanço da racionalidade
fascista, de que a questão não é um acidente pessoal ocorrido no percurso socializador da
pessoa, mas é a repetição das contradições inerentes ao modo de ser na sociedade capitalista.
No atual modelo social, não há como remediar, mas sim trabalhar com os conceitos da filosofia
crítica para a superação das antinomias do sistema social da propriedade privada, a qual elege
a mercadoria como sujeito primordial e coloca a pessoa no destino da coisificação e da
bestialidade, germes e ninhos do ser autoritário e fascista. A questão que se põe na atualidade é
a continuidade do caos reinante rumo à eliminação da vida ou a ousadia de, pelas vias do
pensamento crítico, revolucionar o modelo social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise psicanalítica aliada à crítica dos seguidores da escola de Frankfurt indicam
que os efeitos da alienação e da reificação, modo de ser do capitalismo, atestam que o
paradigma social vigente não consegue mais dar respostas satisfatórias para a superação das
suas contradições, pelo contrário, a tendência das crises do capital é de jogar a humanidade em
uma rota de colisão com o fim da espécie humana. Aqui, entra a ação da filosofia crítica para,
além de denunciar e evidenciar as contradições do modelo econômico, apontar para uma
superação dialética que propicie a emancipação subjetiva e material da humanidade.
A psicanálise freudiana nos proporcionou os conceitos e as ferramentas para
compreendermos os conflitos psíquicos dos sujeitos. A teoria crítica é a ação prática para
entendermos que a democracia burguesa está ameaçada pelos totalitarismos da extrema direita,
mas a sua causa irresolúvel aponta que as promessas de igualdade e liberdade tornaram-se meras
formalidades, ou seja, o sistema cavou o seu próprio sepulcro, mas o dilema é que, caso reine a
passividade e a reação apenas discursiva, seremos enterrados vivos pelo coveiro fascista.
Dos estudos apresentados aprendemos como a pulsão de morte é a marca do fascismo,
eis que ele é contrário ao que seja vida, afronta a inteligência e o pensamento, limita-se a frieza
da concretude medíocre, detesta a imaginação e a criatividade, odeia os que realizam os seus

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desejos fora dos ditames da moral vigente.
A resistência passa pelas questões éticas e políticas, a superação necessita tomar a
potencialidade do pensamento da filosofia crítica e sair do conforto da academia para ganhar as
ruas e as praças. Assim como o artista, o intelectual deve estar ao lado do trabalhador, eis que
esta classe carrega a competência revolucionária e o desejo de dotar o homem da sua
humanidade para inverter a lógica da sociedade de mercado, colocar a técnica e a ciência a
serviço das reais necessidades da humanidade. Necessitamos de trabalho, sonhos, amores e
utopias, eis que “tudo vale se a alma não é pequena.” (PESSOA, 2019, p. 230)

Porto Alegre, 18 de novembro de 2020. Carlos Oliveira Jacques Neto

REFERÊNCIAS
ADORNO, Theodor. Estudos sobre a personalidade autoritária, São Paulo, UNESP, 2019.
ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo, ed. Cia de Bolso, 2018.
BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega, vol. II, Petrópolis, RJ, Vozes, 2012.
COUTINHO, Nelson. De Rousseau a Gramsci, ed. Boitempo, 2001.
DELEUZE, Gilles.GUATTARI, Félix, “Qu’est-ce que la philosophie? Ed. De Minuit, 2005,
edição eletrônica.
DUARTE, Rodrigo. COSTA, Virginia H.F. da. ZAMORA, José A. BIANCHI, Alvaro. Dossie:
A Personalidade Autoritária Hoje, São Paulo, Cult # 259, 2020.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I, A vontade do saber, ed. Graal, 1979.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir, ed. Vozes, 2019.
LEMOS, Joelma Galão de. O que Sigmund Freud nos fala sobre o ódio? Psicanálise & Barroco
em revista | v.17, n. 3 | dezembro de 2019
LUKÁCS, György. História e Consciência de Classe, ed. Martins Fontes, 2003.
FREUD, Sigmund. Obras completas, vol.12, Cia das Letras, 2010.
GRAMSCI, Antonio. A Questão Meridional, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
MARX, Karl. Engels, Frederick. O Capital, Livro I, ed. Boitempo, 2011
MARX, Karl. Crítica da Filosofia do direito de Hegel, ed. Boitempo, 2010
MARX, Karl Manuscrits de 1844 (économie politique & philosophie), edition électronique
(MIA): https://inventin.lautre.net/livres/Marx-Manuscrits-de-1844.pdf
MARX, Karl. Teses sobre Feuerbach Fonte
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/feuerbach.pdf
PESSOA, Fernando. Pessoa Mensagem, São Paulo, Via Leitura, Livro Eletrônico, 2019.
SILVA, Alberto Costa. Fascismo: Benito Mussolini e Leon Trótski, Rio de Janeiro, Nova
Fronteira Participações S.A., 2019.

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