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ABOTA CA E A POLITICA
IMPERIAL:
a introdução e a domesticação
de plantas no Brasil
WarrenDean
P,cu
lo,Hisl«icos. Rio deJ.dr� Yà. 4, D." 1991, p. 216-228
A IlOTÁNlCA EA POÚ11CAIMPER1AL 217
nia brasileira (despovoada por causa da péia. Teria sido economicamente muito
destruição da população indígena com a proveitosa para o reino a lransferência das
introdução de doenças também exóticas) especiarias asiáticas para o Brasil: assim
foi a possibilidade de basear a subsislência leria sido reduzida a dispendiosa ad minis
e até o comércio no extrativismo. Uma tração e transporte, para não falar do custo
parte considerável do consumo da colônia em vidas! - uma oportunidade perdida ra
não era cultivada, e sim caçada e coletada. ramente comentada nas histórias do impé
Os materiais de construção e os combustí rio asiático português. De fato, parece que
veis provinham de árvores silvestres. A ao longo do século XVI sementes destas
proteína que acompanhava o milho e a plantas chegaram ao Brasil várias vezes. A
mandioca no regime brasileiro vinha prin sua plantação, porém, foi proibida, para
cipalmente da caça, e não de animais do manter o monopólio dos mercadores inte
mesticados. A pesca, a caça e a coleta de ress ados nas feitorias asiáticas. Por outro
plantas silvestres como goiaba, caju, ma lado, do Brasil foram transferidos para Goa
mão e palmito forneciam boa parte da dieta o mamão, a mandioca, a pitanga e o caju, e
popular, inclusive dos habitantes das cida para a África, a mandioca, o cará e a batata
des. O país, afinal, foi batizado com o doce. Como compensação parcial, o Brasil
nome de uma árvore da qual se extraía tinta receheu o dendezeiro e o i nhame , sob aus
e que nunca chegou a ser plantada. Ocacau pícios incertos, mas possivelmente via São
s
e o algodão também eram, nos primeiros Tomé.
séculos da colonização, produtos coleta A invasão do Nordeste pelos holandeses
dos e não plantados. Exportavam-se tam marcou um segundo surto na dominação
bém madeiras de lei, óleos de tartaruga e colonial do meio ambiente brasileiro. Os
peixe - que se misturavam com o breu na bolandeses trouxeram especialistas talento
construção naval -, animais vivos, peles e sos que produziram trabalhos sistemáticos
penas de vários animais e pássaros, esto e detalhados de história natural. O maior
pas, cordagem, graxas, óleos e "drogas" - golpe da Companlúa das Índias Ocidentais,
quer dizer, plantas e essências medicinais, além de transferir técnicas avançadas de
. . . .
especlanas, ervas aromatlcas, resmas, go-
,
neficiamento do açúcar para as ilhas do das outras especiarias asiáticas foi rec0-
Caribe e pela perda do comércio asiático mendada em 1675, por Duarte Ribeiro de
de especiarias levou os portugueses a in Macedo, o embaixador português em Pa
vestigar, depois de 1670, a conveniência de ris. Ele foi avisado pelos ingleses de que
cultivar alguns dos produtos brasileiros até eles já seguiam esta estratégia na Vuginia.
aquele momento simplesmente coletados. As investigações de Macedo o levaram a
O cultivo do cacau, nativo da Amazônia, acreditar que não existia nenhum obstácu
foi introduzido no Maranhão pelo jesuíta lo à aclimação no Brasil de espécies asiá
Bettendorff em 1674. O regente dom Pe tiOls. É a ele que devemos a primeira
dro tomou nota desta iniciativa, e também notícia de que o café já tinha chegado ao
do plantio da baunilha, e recomendou mais Brasil, bem antes de uma suposta transfe
esforços nesse sentido. Os governadores, rência em 1727. E o jesuíta Antônio Viei
nos anos seguintes, montaram expedições ra, amigo e de Macedo,
para localizar e plantar especiarias, coran reclamou contra as proibições ao plantio
tes e plantas medicinais nativas. Houve destas plantas no Brasil. Estes conselhos
uma expectativa de que apareceriam plan tiveram seu efeito. A perspectiva deJucrar
tas nativas com as mesmas qualidades das com esta transferência e de arruinar o co
asiáticas, um engano botânico da época mércio dos rivais holandeses foi suficien
muito difundido, aliás? temente atraente para justificar os custos e
Já em 1671 el-rei sentiu-se suficiente os perigos. Desse modo, o príncipe regen
mente seguro para encetar uma política te, em 1677, ordenou ao governador de
vigorosa em relação às especiarias asiáti Goa o envio de sementes de cravo, canela,
cas, até aquele momento formalmente pimenta, noz mascada, e - curiosamente
proibidas no Brasil. A concorrência dos gengibre.9
comerciantes portugueses nas s"as poucas OJidadosas remessas de sementes fo
colônias orientais caíra a níveis ínrunos, e ram feitas nos anos seguintes a tndas as
a ameaça dos bolandeses não causava mais capi tanias do Brasil e a Angola, Cabo Ver
espanto. Baixou-se um édito permitindo de e São Tomé. Esta nova política ficou
aos brasileiros enviar à metrópole o gengi mais prática quando a coroa permitiu esca
bre, reconhecendo-se assim implicitamen las da frota asiática em Salvador, a partir
te um fato consurnado - a existência da de 1671. A canela foi especialmente difícil
planta proibida na colônia. O gengibre, de conseguir, porque os holandeses manti
um rizoma subterrâneo que, ao que parece, nham com desvelo o seu monopólio no
se aclimatou tão bem no Brasil que se Ceilão. Em 1661 eles mandaram uma ex
tomou quase silvestre, teria sido impossí pedição à costa de Malabar, para destruir
vel de erradicar, e era muito comum na todas as plantas dos seus concorrentes. No
colônia. Aliás, não existia um monopólio Ceilão, rnantinham o preço alto, via limi
do produto, uma vez que os espanhóis já o tação da colheita. O cravo, nativo das Ilhas
haviam introduzido e comercializado na Molucas, foi impossível de conseguir, lá
Jamaica entre 1525 e 1547. Quando o os holandeses eram por demais receosos.
governador c a Câmara Municipal do Rio No Brasil, os jesuítas receberam estas se
de Janeiro receberam a notícia da liberação mentes, e mais as sementes de jaqueiras,
do gengibre, pois, foram diretamente à ma lnangueiras e açafrão. O cultivo da canela,
triz, para dar graças a Deus.8 permitido finalmente a particulares em
É provável que o gengibre tenha sido a 1692, foi difícil de iniciar. De fato, o as
única especiaria que sobreviveu à antiga sunto não er. fácil para o governador de
proibição. Uma política de transferência Goa resolver. Lá a canela não era cultiva-
220 ESTUDOS I-DSTóRJC )S - 1991J1
da, mas oolet,da, como também o era no tentativas de aproveilCJ( mais racionalmen
Ceilão na época em que os portugueses o te os recursos botânicos do império, desta
,,,,,trolavam. Foram os holandeses que vez com o apoio da ciência. Na segunda
rrtl"Íonalizaram o cultivo, melhorando as� metade do século xvrn era forte a pene
sim II produto. Alguns goenses suposta tração em Portugal dos valores científicos
mente especialistas no ramo mandados à da llustração francesa, especialmente nas
Bahia não ajudaram muito. Uma tentativa ciências naturais. Em 1764 o hábil botâni
de contrabandear um cingalês especiali7JI co paduano Domenico Vandelli foi contra
do no ramo, empreendida por um padre tado pela Universidade de Coimbra, onde
ilegalmente residente na ilha, fracassou. começou a formar a próxima geração de
Dessa forma, não foi Il'.alizado o objetivo naturalistas, na sua maioria brasileiros.
principal da conquista do comércio de es Passou a dirigir o Real Jardim e o Gabinete
peciarias. Os morosos esforços das auto de História Natural d'Ajuda. Entrou em
ridades coloniais para transferir especia correspondência com amadores nas colô
rias gradativamente se perderam com o nias e com Linnaeus e outros botânicos na
descobrimento do ouro no Brasil. Uma Europa, e estimulou a organização de ex
carta régia de 1731 oferecia isenção de pedições botânicas e zoológicas. O traba
direitos alfandegários, mas não está claro lho de Vandelli ganhou força institucional
se houve alguma produção comerciali2li com a formação, em 1 n9, da Real Acade
!O
vel n. época. mia das Ciências de Lisboa. Foram orga
O começo do século XVlll, porém, foi nizados no Brasil alguns hortos ou jardins
marcado pela emergência de novos e pode botânicos - no Rio de Janeiro, em 1772,
rosos instrumentos de intercâmbio de espé ligado a uma sociedade científica patroci
cies tropicais: o jardim botânico colonial e nada pelo vice-rei Lavradio; em São Paulo,
o hcrbário. O herbário pemútiu o estudo em 1779, mas este "não teve andamento'",
comparAtivo na Europa de espécimens se em Belém, em 1796, e em Salvado r e Ouro
cos enviados de cada canto do mundo tro Preto depois de 1802. Infelizmente, os
pical. Os jardins botânicos, formados em planos de estabelecer jardins em Macau e
redes centradas nas respectivas metrópoles, Goa não foram concretizados. A socieda
facilitaram o intercâmbio de plantas entre de carioca promoveu o cultivo do bicho
colônias tropicais e a sua aclimatação. Os da-seda, cocbonilha e índigo, e o Jardim
holandeses estabeleceram um jardim no Botânico de Belém conseguiu da faunda
cabo da Boa Esperança em 1694, e os fran colonial La GabrieUe, na Guiana Francesa,
ceses fiuram o mesmo na ilha de Mauritius re messas de pimenta, canela, fruta-pão, do
em 1735 e na Guiana Francesa. A possibi muito desejado cravo, e possivelmente da
lidade de gerar informações a respeito das cana taitiana descoberta por Bougainville
novas plantas para acompanhar as transfe e apelidada "caiena" no Brasil.12
rências com técilicas culturais testadas au Em 1786, Baltasar da Silva Lisboa, um
mentou consideravelmente, como também aluno brasileim de Vandelli, aprEsentou
aumentou a capacidade de disseminar estas uma memória sobre "a frlosofra natural por
informações entre os faundeiros poten tuguesa'" rom "algumas reflexões" sobre o
ciais. Além disso, a investigação foi assim Brasil, na qual recomendava o envio de
colocada numa base científica, com maior rraturalistas à colônia e aconselhava que
potencialidade de acumulação e sistemati- eles aprendessem com os índios, que c0-
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.11
zação das informações nheciam plantas I1teis. Em 1789, um e_io
Em Portuga� sob o enérgico ministério de Manuel Ferreira da Câmara, editado pela
do marquês de Pombal, recomeçaram as Academia de Usboa, revelou os conselhos
A BOTÁNICA EA POÚ1lCA IMPEIUAL 221
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222 FSruDOS msTÓRlOOS -1991A
chegou a ser considerada inferior na medi maio, um francês que depois se tomou
da em que a conquista dos seus habitantes diretor do Janlim Botânico de Olinda. Pa
tomou- se mais sangrenta. Arruda Câmara rece que o chi chegou ao Janlim Botânico
apresentou uma lista de espécies exótiOls do Rio deJaneim em 1812, enviado porum
que seria útil transferir. A finalidade dos amigo de 1uiz d' Abreu que em senador em
janlins não era promover o meramente Macau. Como não havia nenhuma infor
agradivel; "o seu principal fim é o útil". mação a respeito do seu cultivo, o diretor
Possivelmente influenciado por este docu do janlim, general Carlos Antônio Napion,
.!-ento, el·rei ordenou mais urnjardim, em procurou janlineiros chi,,= parn tomar
Pernambuco, em 1811. Para conseguir se conta das plantas. Um grupo deles chegou
m"ntes e espécimens para estas novas ins dois anos depois?!
tituições científicas, o governo oferecia às Os diretores do Janlim Botânico do Rio
pessoas que as remetessem prêmios, me de Janeiro anima0'8m-se a conseguir espé
dalhas e isenção de impostos e de serviço cimens de plantas de potencial valor CC(}
militar. Aparentemente, uma medida pro nômico: aparentemente contratamm cole
visória, talvez porque as comuniOlções tores itinemntes e publicamm, parn sua
com as colônias asiitiOls e africanas se orientação, conselhos sobre os métodos
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encontrassem enfraquecidas. adequados de embrulhar e despachar re
A primeira rellKssa importante foi, II0'-SS8S e instruções sobre os relatórios que
aliás, aleatória. Chegou ao Rio em 1809 deviam emitir. Estavam extremanw:nte in
um oficiai de Marinha, Luiz d' Abreu Viei teressados em locali711r uma fonte douVs
ra e Silva. Captumdo pelos franceses nu tiOl de quina, ou ciochona, a planta que
. . . 22
ma viagem pelo Oceano fndico, fom leva smtehza qUlruna.
•
do para a ilha Maurícia. Solto, conseguiu A fuga da familia real pam o Rio de
obter sementes de virias espécies, inclusi Janeiro, a chegada de diplomatas ueden
ve de noz mosca da, diofo ra, manga,lichia, ciados à Corte e a abertum dos portos
abaOlte, e da palmeirn que viria a ser o trouxeram como conseqüência o apareci
ornamento mais distintivo do Janlim Bo mento na colônia, pela primeirn vez, de
tânico do Rio de Janeiro. O abacate é uma naturalistas estrangeiros. Em contraste
espécie centro-americana e é curioso que dramitico com a polltiOl praticada ante
tenha chegado ao Brnsil via uma ilha do riormente, de sigilo e exclusão, v4rios
Oceano fndico -se éque esta foi realmente cientistas fomm admitidos, associados a
a sua primeim introdução. Outro grnnde missões diplomitiOls inglesas, austríaOls,
momento foi a ocupação, em 1809, da e, depois do término das guerras napoleô
Guiana Fmncesa , em represilia à invasão niOlS, até francesas. As realizações destes
da metrópole. Souza Coutinbo, agora con naturalistas eram real"w:nte impressionan
de de Linbares e ministro da Guerra e tes. O botânico Auguste de Saint-Hilaire,
Relações Exteriores, estava decidido a pro por exemplo, durante sete anos de viagens
mover a "ruína total" daquela colônia mes penosas e constantes por todo o sul e su
quinha; Arruda amara, porém, achou que deste do Brnsil, colecionou perto de mil
o seu janlim de aclimação em de grande plantas, 2 mil pãssaros, e 6 mil insetos.
valor e devia ser preservado. De li os Saint-Hilaire, entre todos os "viajantes" o
portugueses trouxeram novamente a cana mais interessado em botânica aplicada, pu
caiena, a noz moscada, o cravo, a fruta blicou, entre outros estudos, uma lista de
pão, e quiçá a cammbola e a fruta-do-con plantas úteis, de potencial valor coflw:rcial,
de. É interessante que uma das remessas e sugeriu o cultivo de virias espécies sil
tenha sido acompanhada por Paul Ger- vestres. Parcialmente em resposta a este
224 ES1lJDOS lDS1ÚRIros - 199111
implantado pela primeira vez (ora da Chi não era economiCJlmente atraente. O inte
na e do Japão, (oi ensaiado por vários resse na introdução de nOvas variedades
fazendeiros no sudeste do Brasil, mais no não se apagou, porém: por volta de 1850
tadame/lte por José Aroucbe de Toledo chegou de Java olltra variedade de CJlna, a
Rendon, que publicou um memorial sobre risCJlda ou batava. Curiosamente, o produ
o seu beneficiamento em 1834. Este pro to mais importante na pauta de exportaÇÕes
duto, infeliwlente, não conseguiu aceita do novo império - o café - não (oi objeto
ção no merCJldo externo. Não se pode de grandes cuidados oficiais. O café foi
alegar neste CJlSQ a concorrência de fazen transferido para o Nordeste bem antes de
deuos coloniais dentro dos impérios euro qualquer iniciativa real, e durante muito
peus: o chá só veio a ser cultivado em Java tempo foi um produto vendido à metrópole
um pouco antes de 1839 e na índia em em pequena escala. O seu peso no comér
1848. A imagem dos velozes veleiros cio começou a aumentar somente depois
da épGCJl, os famosos clippers, da chegada da planta ao Rio de Janeiro, nos
dobrando Cabo Frio numa busCJl desvaira meados do século XVII1, mas ainda assim
da do chá da China, quando era possível demorou muitos anos a ser aceito pelos
conseguir o mesmo produto muito mais lavradores. Há notícia da captura pela ma
convenientemente, é realmente estranha. rinha portuguesa, em certa OCJlsião, de se
Durante certo tempo pelo menos algumas mentes de café mOCJl, mas não é certo se
das especiarias - gengibre, noz mosCJlda e esta remessa chegou a ser plantada. O
cravo - chegaram a ser exportadas. O sucesso que o café começou a experimen
índigo sumiu da lista de exportaÇÕes, pos tar nos mercados europeu e americano evi
sivelmente por CJlusa do aparecimento de dentemente compensou em grande parte
uma doença, noticiada na épGCJl -sempre os fracassos com os outros cultivos, mas o
houve o perigo da explosão de algum fim Brasil estava mais uma vez a caminho de
25
go C<Hlvoluído nos cultivos nativos, ou uma monocultura arriscada.
devido a muitas adulterações, que o gover Os jardins hotâniros, depois da partida
no não sabia suprimir. Oauril A1den enfa dos portugueses, viraram rapidamente me
tiza, porém, a enorme dificuldade que os ros passeios públicos, ainda que ao lado da
brasileiros experimentaram em manter os lagoa Rodrigo de Freitas os jardineircl
seus novos merCJldos depois da paz de chineses continuassem por alguns anos
Viena, que normalizou as rotas comerciais, cuidando do seu chá. Estes exilados, coi
e depois da decisão da Companhia das tados, nunca conseguiam beneficiar as fo
Índias Orientais de investir muito capital lhas corretamente-provavelmente não era
na expansão da sua produção de índigo, este o seu ofício Já na China. O diretor do
el iminando assim todos os produtores no Jardim, porém, os acusou de ter fingido
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hemisfério Oeste. ignorar o segredo, por motivos de patrio-
A BOTÃN1CA E A POÚllCA lMPERlAL 225
tismo saudosista. Este diretor, Leandro do tais como o chá-mate, o guaraná, e ainda
Sacramento, é mais conhecido pelo embe experimentalmente, a seringueira. A intro
lezamento do terreno do que por suas ini dução e a domesticação de cada nova es
ciativas científicas, ainda que tenha pro pécie ou variedade representa uma mudan
movido alguns intercâmbios importantes ça, não somente na balança comercial do
de st:illentes, ioclusive a introdução do eu pais, mas também no balanço dos elell",n
calipto. O museu de história natural, agora tos que compõem os ecossistemas e a pro..
chamado Museu Nacional, passou a ser pria sociedade.
durante este período um gabinete de curio
sidades. Os seus diretores aplicavam o seu
minúsculo orçamento no estudo da mine
ralogia?6
Parece que, com o desligamento do Notas
Brasil do projeto imperial mercantilista
português, o motivo do desenvolvimento 1. G. Foster, Cu/fure and conqut:St (New
botânico também sumiu. Em todo caso, a York, 1960). O autor agradea: à 10hn Corter
Browo Library pela boi .. de esludos que facili
possibilidade de formação de uma nova
tou este estudo.
geração cientrfica ficou muito mais proble
2. A. Crosby, Ecological imperialirm; IM
nútica. Alguns poucos brasileiros que iam
biologiCDI aponsiOll ofEuropa, 900·1900(New
estudar na França conseguiam este tipo de York, 1986). Veja lambém B . H. SliàJer VID
fonnação, mas não em número suficiente Bath, "De kolonisatie van hei milieu: europese
para revivificar os estudos botânicos, um flora en fauna in Latijns-Amerika", in Slicber
processo que se iniciou principalmente via van 68th eA. C. van Oss, Geschiedenis van
contratação de europeus e americanos no moolschappij o. cultuur (o. p. 1978), p. 194-
fmal do século XIX. 207.
A transferencia de espécies exóticas e a 3. Sobre esta perspectiva, veja H. G. Bater,
domesticação de espécies nativas são evi Pia",. ond civilizoli
para o sucesso ou insucesso de certos ra comércio colo.iol (São Paulo, 1980), p. 479-80,
mos de desenvolvimento agropecuário e 484·5,613.
industrial e demonstram a complexidade 5. Edgar Valles, "lolrOdução da alllura das
do relacionamento do bomem com o resto plantas de especiarias do Oriente no Brasil".
do mundo biótico. O surto de transferen Garcia da Orla, 6 (1958), p. 712. Em coolraste,
cias da época de dom Jnão não foi o último parece que a ooroa fez mais esforços para apren
•
226 ESruDOS IIISTÓRlCOS - 199""
veja A. R. Disney. Twilighl oflM �pper empire 13. Silva üsboa, Discurso histórico, político
(Cambridge, MA, 1978). L. Ferrand de Almeida, e econâmico dos progressos, e estado aClual da
•Aclimatação de plantas do Oriente no Brasil philosophia natural portuguesa acompanhado
durante os séculos XVU e XVIII", Revista Por de algumas reflexões sobre o estado do Brasil
tuguesa deHist6ria, I5 (1975), 337-8. L. Brock (Lisboa, 1786), p. 42, 67; amara, "Ensaio·, p.
way,Science and colonial upansion: lhe role of 304-80; Vandelli, "Memória sobre algumas pro
lhe BriJish Royal Botanic Gardens (New York, duçoeos naturaes das oonquistas", Mem6rias
1979), p. 53-4. J. R. do Amaral Lapa, "O Brasil Econômicas, 1 (1789), 187-206. Há velSÕeS des
e 8S drogas do Oriente", Studia, 18 (agoslo tes artigos em manuscrito na Biblioteca Nacio
1966), 18. nal, Rio de Janeiro [daqui em diante BN.RJ].
8. M. J. Nogueira da Gama, Memória sobre 14. Almeida, "Aclimatação", p. 404; J. Cor
a Ioureira cillllamomo 'Vulgo caneleira de Cey·
rêa de Serra, "Cartas de... a um destinatário não
100 . . para acompanhar a remessa das plantas
declarado fRodrigo de Souza Coutinho?], refe
.
1973 [1834]), 4:247. A. Fernandes Brandão, no cil1fJmomo (Usboa. 1797); Memória sobre a ca
seu Diálogo das grandezas do Brasil (Lisboa, nel/eira, para acompaMar a remessa das plan
1618) já tinha sugerido a transferencia de espe tas que o Príncipe, n. senhor manda transportar
ciarias; veja AJmeida, "Adimatação", p. 354. J. pora o Brasil (Lisboa, s.d.); Costa Pereira, "Me
M. Purseglove, Tropical crops: mOnDCOIyledons
mória sobre a viagem aos Estados Unidos",
(Harlow, Essex , 1988), p. 534.
RlHGB, 21 (1858), n' 3, p. 351, 365. Sobre a
9. A. de Lima Junior, Notícias hist6ricas de teca: Amaral Lapa, A Bahia, p. 27n; Valles,
norte a sul (Rio de Janeiro, 1953), p. 9·24; "Introduçáo·, p. 713. Rodrigo de Souza Couti
Almeida, "Aclimatação', p. 358- 9. nho a Fernando Jo5t de Portugal, Queluz, 10
10. Nogueira da Gama, Memória, p. 4; AJ· junho 1799, ms.-BN-RJ. Veja também "Catálo
meida, "Aclimalaçiio', p. 387, 391-2; Amaral go de vários gêneros do Brazil, e mais oolOnias
Lapa, "O Brasil e as drogas·, 18-25, 36n. E. porluguesas que ainda não estão no ordinário
Valles, "Introdução da cultura das plantas de comércio· s.d. [entre 1798-1805?J, ms.-BN-RJ.
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dade dos jardins boIânicos a respeito da agri· Idem. "The growth and decline", p. 4O-51� Idem,
A BOTÁNlCA E A POI1"nCA IMPERIAL 227
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mento, Memória ecorlÔm.;ca sobre a plantação, a história da introdução do car�, veja: [D.J B[oc
ges de Barros], "Memória sobre o caf�, sua
cultura e p�paração do cNi (lUa de Janeiro,
1825); ToIedo Rendon, "Pe<juena memória de história, cultura e amanhos",O Patriota (maio, '
plantação e cultura de cb'", Auxiliador da IndCls 1813), p. 11; e Freire Alemão, M.",ória.
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1834), 179-85; C. I. Fox Bunbury, "Narrativa de livros 1 a 9, referente aos anos 1810-1869, de
viagem de um naturalista inglês ao Rio deJaneiro monstra uma preocupação quase exclusiva oom
e Minas Gerais (1833-1835)",Ana" da Bibli",< as minas. Sobre a decadência do Jardim Boti
ea Nacional, 62 (1940), 26; A. Caldcieugh, Tra nioo e do cullivo do chá, veja Heusser e Oaraz,
vels in Sou/h America during lhe years "Dez prinàpaux produits," p. 183-189, 1900 .
1819-20-21 (London, 1825), 1:27-9, 30; Samuel
BaII,AII account o/lhe cu!t;1.IQIÜHt and manufac
lIue of I<a in China (London, 1848), p. 36()'1,
368. O aJltivo do chá roi tentado sem SIJCeSSO na
Carolina do Sul por voltade 1813; veja William
Saunders, Tea-cubure as Q probable American
iMUJ1Ty (Washington, 1879), p. 5. Alden, Wa rren Dean � professor do Depa rtamenlo
"Growtb and productivity," p. 58-60. de História da New York University.