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Documento: 1112444 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/12/2011 Página 1 de 4
Superior Tribunal de Justiça
RELATÓRIO
Trata-se de recurso especial interposto por Hospital Ana Costa S.A. ("Hospital") com
fulcro no art. 105, inciso III, alínea "a", da Constituição Federal, no qual se alega violação do art. 70,
inciso III, do Código de Processo Civil.
Noticiam os autos que, na origem, Josenilton da Silva Santos e Maria Eloísa Rodrigues
Santos ajuizaram ação de indenização contra o Hospital pela morte de seu filho, Leonardo Rodrigues
Santos, ocorrida em 16/3/2003, aos 7 (sete) anos de idade. Os autores alegam que no dia 15/3/2003
levaram o filho Leonardo à unidade do Hospital, pois ele apresentava dificuldades para respirar.
Leonardo foi atendido pela médica pediatra Ana Maria, que diagnosticou pneumonia, receitando
inalação e outros medicamentos. A seguir, o paciente foi liberado. No dia seguinte, o estado de saúde
do menor agravou-se, e novamente foi levado pelos pais ao Hospital. Lá, diagnosticou-se insuficiência
respiratória grave, seguida de parada cardíaca, que levou Leonardo à morte.
" (...)
Indefiro a denunciação à lide da médica pediatra, que cabe para
preservar o direito de regresso do denunciante contra o denunciado, o que é
possível quando ausente a solidariedade passiva, de modo que não haja relação
de direito material entre o denunciado e o autor.
Assim, reconhecida a solidariedade passiva, a ré denunciante
poderia chamar ao processo sua preposta, ora denunciada, porquanto os
chamados devem ao devedor comum e não a quem chama, o qual possui, todavia,
o direito de reembolso, total ou parcial contra aqueles.
Assim agindo, a ré poderia obter, se procedente a ação, título
executivo contra sua preposta nos exatos termos do art. 80 do CPC" (fl. 7).
É o relatório.
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Superior Tribunal de Justiça
VOTO
Na hipótese dos autos, a médica denunciada, Ana Maria, era plantonista do Hospital
recorrente à época dos fatos. Os autores, ora recorridos, levaram seu filho ao serviço de emergência
do Hospital, que escolheu a médica denunciada aleatoriamente entre seus pediatras plantonistas. Não
houve, portanto, escolha do paciente ou de seus pais por aquela determinada profissional.
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Superior Tribunal de Justiça
1. Quando o paciente procura o hospital para tratamento, principalmente
naqueles casos de emergência, e recebe atendimento do médico que se encontra
em serviço no local, a responsabilidade em razão das conseqüências danosas da
terapia pertence ao hospital. Em tal situação, pouco releva a circunstância de ser
o médico empregado do hospital, porquanto ele se encontrava vinculado ao
serviço de emergência oferecido. Se o profissional estava de serviço no plantão,
tanto que cuidou do paciente, o mínimo que se pode admitir é que estava
credenciado para assim proceder. O fato de não ser assalariado nesse cenário
não repercute na identificação da responsabilidade do hospital.
2. Recurso especial conhecido e provido."
(REsp 400.843/RS, Rel. MIN. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO,
TERCEIRA TURMA, julgado em 17/02/2005, DJ 18/04/2005, p. 304)
A propósito:
Veja-se, nesse sentido, excerto de voto da lavra do Ministro Aldir Passarinho Junior:
"(...)
Se um paciente seleciona e contrata um médico da sua confiança, e paralelamente
escolhe o hospital, que se limitará a fornecer, por exemplo, apartamento e sala de
cirurgia, em havendo lesões decorrentes da operação, poder-se-ia admitir, aí, a
denunciação à lide, já que foi pessoal a indicação, e o nosocômio apenas
limitou-se a fornecer a infra-estrutura respectiva.
Mas se a cirurgia é contratada com um hospital, cuja própria equipe opera o
paciente, a ação deve ser direcionada exclusivamente contra a instituição,
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possível o direito de regresso, mas em lide diversa.
No caso dos autos, ao que se depreende dos elementos fáticos colhidos na fase
instrutória, a escolha do hospital se deu em face de plano de saúde do pai do
menor, e o atendimento realizado pela própria equipe de médicos integrada à
estrutura do nosocômio, por ele ou contratada, ou credenciada, ou autorizada a
atuar em suas instalações.
(...)
Em tais circunstâncias, que não podem ser aqui revolvidas em face do óbice da
Súmula n. 7 do STJ, tenho que a relação jurídica se instaurou, no que pertine ao
autor, apenas com vinculação ao hospital réu, de sorte que a pretensão de
denunciação à lide, quer do médico anestesista, quer da sociedade comercial da
qual este participa ou por conta da qual atua, importa em desvio do
direcionamento da demanda, uma controvérsia nova, que não tem razão para ser
aqui instaurada em prejuízo do interesse do ora recorrido, que faz jus ao célere
andamento processual, que restaria irremediavelmente retardado pela discussão
de questões paralelas, que não lhe dizem respeito." (REsp 445.845/SP, Rel. MIN.
ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 09/09/2003, DJ
13/10/2003, p. 367)
"(...)
De outra parte, no que respeita à denunciação à lide, resta
consignado no aresto recorrido, na parte que reproduz trecho da sentença, ter o
paciente se dirigido ao hospital em virtude da especialidade de seus serviços e
não com a finalidade de ser atendido por profissional determinado.
(...)
Em hipóteses dessa natureza, já decidiu esta Corte pela
impossibilidade de se instaurar lide secundária, sob pena de retardamento do
processo, em detrimento dos interesses do autor.
(...)
Não fosse isso, a responsabilidade do hospital e a do médico tem
fundamentos diversos, o que denota a impropriedade da denunciação à lide
nessas circunstâncias, dada a necessária ampliação da controvérsia inicial.
A propósito:
No caso dos autos, o hospital, ora recorrente, contratou a plantonista Ana Maria para
prestar serviços de pediatria na emergência. A médica não foi escolhida pelos recorridos. Não há
dúvida de que a responsabilidade da instituição perante os pais do menor falecido é objetiva. Vale dizer:
o desfecho da ação indenizatória movida pelos recorridos contra a instituição hospitalar em nada
influenciará na eventual ação de regresso desta contra a médica Ana Maria.
É como voto.
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : HOSPITAL ANA COSTA S/A
ADVOGADO : JOSÉ PAULO FERNANDES FREIRE E OUTRO(S)
RECORRIDO : JOSENILTON DA SILVA SANTOS E OUTRO
ADVOGADO : JOSÉ EDGARD DA SILVA JUNIOR E OUTRO(S)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto
do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Massami Uyeda e Sidnei
Beneti votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Paulo de
Tarso Sanseverino.
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