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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 801.691 - SP (2005/0200144-0)


RELATOR : MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
RECORRENTE : HOSPITAL ANA COSTA S/A
ADVOGADO : JOSÉ PAULO FERNANDES FREIRE E OUTRO(S)
RECORRIDO : JOSENILTON DA SILVA SANTOS E OUTRO
ADVOGADO : JOSÉ EDGARD DA SILVA JUNIOR E OUTRO(S)
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. DENUNCIAÇÃO À LIDE. MÉDICA PLANTONISTA QUE
ATENDEU MENOR QUE FALECEU NO DIA SEGUINTE. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO
CONTRA O HOSPITAL. DENUNCIAÇÃO DA MÉDICA À LIDE. IMPOSSIBILIDADE.
SERVIÇO DE EMERGÊNCIA. RELAÇÃO DE PREPOSIÇÃO DO MÉDICO COM O
HOSPITAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO HOSPITAL. PRODUÇÃO DE
PROVAS QUE NÃO INTERESSAM AO PACIENTE. CULPA DA MÉDICA. ÔNUS
DESNECESSÁRIO.
1. A responsabilidade do hospital é objetiva quanto à atividade do profissional
plantonista, havendo relação de preposição entre o médico plantonista e o
hospital. Precedentes.
2. O resultado da demanda indenizatória envolvendo o paciente e o hospital nada
influenciará na ação de regresso eventualmente ajuizada pelo hospital contra o
médico, porque naquela não se discute a culpa do profissional.
3. Qualquer ampliação da controvérsia que signifique produção de provas
desnecessárias à lide principal vai de encontro ao princípio da celeridade e da
economia processual. Especialmente em casos que envolvam direito do
consumidor, admitir a produção de provas que não interessam ao hipossuficiente
resultaria em um ônus que não pode ser suportado por ele. Essa é a ratio do
Código de Defesa do Consumidor quando proíbe, no art. 88, a denunciação à
lide.
4. A culpa do médico plantonista não interessa ao paciente (consumidor) porque
o hospital tem responsabilidade objetiva pelos danos causados por seu preposto;
por isso, é inviável que no mesmo processo se produzam provas para averiguar a
responsabilidade subjetiva do médico, o que deve ser feito em eventual ação de
regresso proposta pelo hospital.
5. A conduta do médico só interessa ao hospital, porquanto ressalvado seu direito
de regresso contra o profissional que age com culpa. De tal maneira, a delonga
do processo para que se produzam as provas relativas à conduta do profissional
não pode ser suportada pelo paciente.
6. Recurso especial conhecido e não provido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a
Terceira Turma, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto
do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Massami Uyeda e Sidnei
Beneti votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Paulo de
Tarso Sanseverino.
Brasília (DF), 06 de dezembro de 2011(Data do Julgamento)

Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Relator

Documento: 1112444 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/12/2011 Página 1 de 4
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RECURSO ESPECIAL Nº 801.691 - SP (2005/0200144-0) (f)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA (Relator):

Trata-se de recurso especial interposto por Hospital Ana Costa S.A. ("Hospital") com
fulcro no art. 105, inciso III, alínea "a", da Constituição Federal, no qual se alega violação do art. 70,
inciso III, do Código de Processo Civil.

Noticiam os autos que, na origem, Josenilton da Silva Santos e Maria Eloísa Rodrigues
Santos ajuizaram ação de indenização contra o Hospital pela morte de seu filho, Leonardo Rodrigues
Santos, ocorrida em 16/3/2003, aos 7 (sete) anos de idade. Os autores alegam que no dia 15/3/2003
levaram o filho Leonardo à unidade do Hospital, pois ele apresentava dificuldades para respirar.
Leonardo foi atendido pela médica pediatra Ana Maria, que diagnosticou pneumonia, receitando
inalação e outros medicamentos. A seguir, o paciente foi liberado. No dia seguinte, o estado de saúde
do menor agravou-se, e novamente foi levado pelos pais ao Hospital. Lá, diagnosticou-se insuficiência
respiratória grave, seguida de parada cardíaca, que levou Leonardo à morte.

O Hospital, em contestação, denunciou a lide à médica responsável pelo atendimento de


Leonardo, Ana Maria Haytzmann, o que foi negado pela juíza de primeiro grau, com o seguinte
fundamento:

" (...)
Indefiro a denunciação à lide da médica pediatra, que cabe para
preservar o direito de regresso do denunciante contra o denunciado, o que é
possível quando ausente a solidariedade passiva, de modo que não haja relação
de direito material entre o denunciado e o autor.
Assim, reconhecida a solidariedade passiva, a ré denunciante
poderia chamar ao processo sua preposta, ora denunciada, porquanto os
chamados devem ao devedor comum e não a quem chama, o qual possui, todavia,
o direito de reembolso, total ou parcial contra aqueles.
Assim agindo, a ré poderia obter, se procedente a ação, título
executivo contra sua preposta nos exatos termos do art. 80 do CPC" (fl. 7).

Irresignado, o HOSPITAL interpôs agravo de instrumento, alegando manifesto equívoco


de fundamentação da decisão interlocutória. Aduz não existir solidariedade entre ele, Hospital, e a
médica denunciada, motivo pelo qual eventual sentença de condenação não valeria como título
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executivo contra ela. Afirmou, ainda, que, em respeito à economia processual, seria pertinente dar à
denunciada oportunidade de demonstrar a ausência da incúria médica imputada a ela pelos autores da
ação.

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo negou provimento ao agravo de


instrumento em acórdão assim ementado:

"INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - Pedido de denunciação da lide


formulada pelo réu, ora agravante - Indeferimento pelo juízo 'a quo' - Decisório
que merece subsistir - Hipótese em que se busca a responsabilização de
fornecedor de serviços, por prestação inadequada nas circunstâncias, tendo
então aplicação na espécie o CDC, que sujeita a indenização, em princípio, ao
regime da responsabilidade objetiva - Incidência, no particular, do disposto no
art. 88 do citado Código, que veda referida modalidade de intervenção de
terceiros" (fl. 164).

Inconformado, o Hospital sustenta, em seu recurso especial, ser inequívoca a obrigação


da denunciada em reembolsar o recorrente do que este vier a despender com a hipotética procedência
da ação de indenização.

Admitido o recurso na origem, subiu para julgamento.

Em decisão monocrática, o Ministro Ari Pargendler negou seguimento ao recurso


especial, entendendo que "a denunciação da lide é inadmissível quando está em causa de relação
de consumo" (fl. 228).

Após agravo regimental do Hospital, o Ministro reconsiderou a decisão monocrática,


determinando o retorno dos autos para submeter o recurso especial a novo julgamento pela Terceira
Turma deste Superior Tribunal de Justiça.

É o relatório.

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RECURSO ESPECIAL Nº 801.691 - SP (2005/0200144-0) (f)

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA (Relator):

Cinge-se a controvérsia a saber se é possível a denunciação à lide do médico


plantonista, preposto do hospital, em caso de ação de indenização ajuizada contra hospital por morte de
um paciente.

Na hipótese dos autos, a médica denunciada, Ana Maria, era plantonista do Hospital
recorrente à época dos fatos. Os autores, ora recorridos, levaram seu filho ao serviço de emergência
do Hospital, que escolheu a médica denunciada aleatoriamente entre seus pediatras plantonistas. Não
houve, portanto, escolha do paciente ou de seus pais por aquela determinada profissional.

Embora haja entendimento em sentido contrário, esta Corte Superior já decidiu, em


diversas oportunidades, que a responsabilidade do hospital é objetiva quanto à atividade do profissional
plantonista, pois, em tais ocasiões, o paciente não busca um médico específico para executar
determinada intervenção. Diferentemente do que sucede em alguns procedimentos médicos, como as
cirurgias plásticas, por exemplo, nas quais o médico é escolhido pelo paciente, mas se utiliza do hospital
como instrumento e local de trabalho, no serviço emergencial, o paciente se dirige ao hospital e este,
sim, indica - por lista ou especialidade - um dos médicos que contratou para o atendimento.

Nesse sentido, colacionam-se os seguintes julgados:

"RECURSO ESPECIAL: 1) RESPONSABILIDADE CIVIL - ERRO DE


DIAGNÓSTICO EM PLANTÃO, POR MÉDICO INTEGRANTE DO CORPO
CLÍNICO DO HOSPITAL - RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO HOSPITAL; 2)
CULPA RECONHECIDA PELO TRIBUNAL DE ORIGEM - 3) TEORIA DA PERDA
DA CHANCE - 4) IMPOSSIBILIDADE DE REAPRECIAÇÃO DA PROVA PELO STJ
- SÚMULA 7/STJ 1.- A responsabilidade do hospital é objetiva quanto à atividade
de seu profissional plantonista (CDC, art. 14), de modo que dispensada
demonstração da culpa do hospital relativamente a atos lesivos decorrentes de
culpa de médico integrante de seu corpo clínico no atendimento.
2.- A responsabilidade de médico atendente em hospital é subjetiva, a verificação
da culpa pelo evento danoso e a aplicação da Teoria da perda da chance
demanda necessariamente o revolvimento do conjunto fático-probatório da causa,
de modo que não pode ser objeto de análise por este Tribunal (Súmula 7/STJ).
3.- Recurso Especial do hospital improvido."
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(REsp 1.184.128/MS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado
em 08/06/2010, DJe 01/07/2010)

"RECURSO ESPECIAL: 1) RESPONSABILIDADE CIVIL - HOSPITAL - DANOS


MATERIAIS E MORAIS - ERRO DE DIAGNÓSTICO DE SEU PLANTONISTA -
OMISSÃO DE DILIGÊNCIA DO ATENDENTE - APLICABILIDADE DO CÓDIGO
DE DEFESA DO CONSUMIDOR; 2) HOSPITAL - RESPONSABILIDADE -
CULPA DE PLANTONISTA ATENDENTE, INTEGRANTE DO CORPO CLÍNICO -
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO HOSPITAL ANTE A CULPA DE SEU
PROFISSIONAL; 3) MÉDICO - ERRO DE DIAGNÓSTICO EM PLANTÃO -
CULPA SUBJETIVA - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA APLICÁVEL - 4)
ACÓRDÃO QUE RECONHECE CULPA DIANTE DA ANÁLISE DA PROVA -
IMPOSSIBILIDADE DE REAPRECIAÇÃO POR ESTE TRIBUNAL - SÚMULA
7/STJ.
1.- Serviços de atendimento médico-hospitalar em hospital de emergência são
sujeitos ao Código de Defesa do Consumidor.
2.- A responsabilidade do hospital é objetiva quanto à atividade de seu profissional
plantonista (CDC, art. 14), de modo que dispensada demonstração da culpa do
hospital relativamente a atos lesivos decorrentes de culpa de médico integrante de
seu corpo clínico no atendimento.
3.- A responsabilidade de médico atendente em hospital é subjetiva, necessitando
de demonstração pelo lesado, mas aplicável a regra de inversão do ônus da
prova (CDC. art. 6º, VIII).
4.- A verificação da culpa de médico demanda necessariamente o revolvimento do
conjunto fático-probatório da causa, de modo que não pode ser objeto de análise
por este Tribunal (Súmula 7/STJ).
5.- Recurso Especial do hospital improvido."
(REsp 696.284/RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em
03/12/2009, DJe 18/12/2009)

"RESPONSABILIDADE CIVIL. CONTRATAÇÃO DO HOSPITAL EM VISTA DE


SUA ESPECIALIDADE. DENUNCIAÇÃO DA LIDE AO MÉDICO.
IMPOSSIBILIDADE. NEXO DE CAUSALIDADE. SÚMULA 07/STJ. DANOS
MORAIS. FIXAÇÃO EM VALOR RAZOÁVEL. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO
CONFIGURADO. AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA.
1. Conforme consignado no aresto recorrido, o hospital foi procurado pelo
paciente em vista de sua especialidade - ortopedia. Em hipóteses desse jaez, na
qual o profissional de saúde não interfere na escolha do nosocômio, não há
possibilidade de se instaurar lide secundária. Precedentes.
(...)
5. Recurso especial não conhecido."
(REsp 883.685/DF, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA,
julgado em 05/03/2009, DJe 16/03/2009)

"Responsabilidade civil. Atendimento hospitalar.

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1. Quando o paciente procura o hospital para tratamento, principalmente
naqueles casos de emergência, e recebe atendimento do médico que se encontra
em serviço no local, a responsabilidade em razão das conseqüências danosas da
terapia pertence ao hospital. Em tal situação, pouco releva a circunstância de ser
o médico empregado do hospital, porquanto ele se encontrava vinculado ao
serviço de emergência oferecido. Se o profissional estava de serviço no plantão,
tanto que cuidou do paciente, o mínimo que se pode admitir é que estava
credenciado para assim proceder. O fato de não ser assalariado nesse cenário
não repercute na identificação da responsabilidade do hospital.
2. Recurso especial conhecido e provido."
(REsp 400.843/RS, Rel. MIN. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO,
TERCEIRA TURMA, julgado em 17/02/2005, DJ 18/04/2005, p. 304)

"DIREITO CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. HOSPITAL. FALECIMENTO DE


PACIENTE. ATENDIMENTO POR PLANTONISTA. EMPRESA PREPONENTE
COMO RÉ.
CULPA DOS PREPOSTOS. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR. DANOS MORAIS.
QUANTIFICAÇÃO. CONTROLE PELA INSTÂNCIA ESPECIAL. POSSIBILIDADE.
VALOR. CASO CONCRETO. INOCORRÊNCIA DE ABUSO OU EXAGERO.
RECURSO DESACOLHIDO.
I - Nos termos do enunciado nº 341 da súmula/STF, 'é presumida a culpa do
patrão ou do comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto'.
II - Comprovada a culpa dos prepostos da ré, presente a obrigação desta de
indenizar.
III - O valor da indenização por dano moral sujeita-se ao controle do Superior
Tribunal de Justiça, recomendando-se que, na fixação da indenização a esse
título, o arbitramento seja feito com moderação, proporcionalmente ao grau de
culpa, ao nível sócio-econômico da parte autora e, ainda, ao porte econômico da
ré, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela
jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom
senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso.
IV - No caso, diante de suas circunstâncias, o valor fixado a título de danos
morais mostrou-se razoável."
(REsp 259.816/RJ, Rel. MIN. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA
TURMA, julgado em 22/08/2000, DJ 27/11/2000, p. 171)

Em consequência, demonstrando-se o nexo causal entre a conduta e o dano, por um


lado, e a relação de preposição entre o hospital e o médico, por outro, não há perquirir por culpa no
proceder do profissional. Integrando o médico o corpo clínico do hospital, a responsabilidade deste é
objetiva, não cabendo, na ação indenizatória principal, discutir a ocorrência de culpa, cuja prova apenas
retardaria a prestação jurisdicional, em evidente prejuízo do hipossuficiente.

Por conseguinte, o resultado da demanda indenizatória principal, envolvendo o paciente


e o hospital, nada influenciará na ação de regresso eventualmente ajuizada pelo hospital contra o
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médico. Assim, não pode ser admitida a denunciação à lide.

A propósito:

"PROCESSO CIVIL. AÇÃO PROPOSTA CONTRA CLÍNICA. DENUNCIAÇÃO DA


LIDE AO PROFISSIONAL RESPONSÁVEL PELO TRATAMENTO MÉDICO. A
denunciação da lide, nos casos previstos no art. 70, inc. III, do Código de
Processo Civil, supõe que o resultado da demanda principal se reflita
automaticamente no desfecho da ação secundária; tema que amplie a
controvérsia inicial ou demande outras provas não pode ser embutido no
processo. Recurso especial conhecido e provido."
(REsp 673.258/RS, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado
em 28/06/2006, DJ 04/09/2006, p. 262)

Como se vê, qualquer ampliação da controvérsia, que signifique produção de provas


desnecessárias à lide principal, vai de encontro ao princípio da celeridade e da economia processual.
Especialmente em casos que envolvam direito do consumidor, admitir a produção de provas que não
interessam ao hipossuficiente resultaria em um ônus que não pode ser suportado por ele. Essa é a ratio
do Código de Defesa do Consumidor quando proíbe, no art. 88, a denunciação à lide.

Desse modo, se a culpa do médico plantonista não interessa ao paciente (consumidor)


porque o hospital tem responsabilidade objetiva pelos danos causados por seu preposto, inviável permitir
que no mesmo processo sejam produzidas provas para averiguar a responsabilidade subjetiva do
médico.

O hospital, obviamente, tem assegurado o direito de regresso, em ação própria, contra o


profissional que age com culpa. O que é inadmissível é que se imponha ao paciente ou a quem mais foi
prejudicado pelo proceder do médico preposto a desnecessária delonga do processo que decorreria
inevitavelmente da produção de provas relativas à conduta culposa do profissional (perícia,
testemunhos, documentos, etc), demora esta que não pode ser suportada pelo hipossuficiente, que tem
direito a uma resposta rápida do Estado.

Veja-se, nesse sentido, excerto de voto da lavra do Ministro Aldir Passarinho Junior:

"(...)
Se um paciente seleciona e contrata um médico da sua confiança, e paralelamente
escolhe o hospital, que se limitará a fornecer, por exemplo, apartamento e sala de
cirurgia, em havendo lesões decorrentes da operação, poder-se-ia admitir, aí, a
denunciação à lide, já que foi pessoal a indicação, e o nosocômio apenas
limitou-se a fornecer a infra-estrutura respectiva.
Mas se a cirurgia é contratada com um hospital, cuja própria equipe opera o
paciente, a ação deve ser direcionada exclusivamente contra a instituição,
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possível o direito de regresso, mas em lide diversa.
No caso dos autos, ao que se depreende dos elementos fáticos colhidos na fase
instrutória, a escolha do hospital se deu em face de plano de saúde do pai do
menor, e o atendimento realizado pela própria equipe de médicos integrada à
estrutura do nosocômio, por ele ou contratada, ou credenciada, ou autorizada a
atuar em suas instalações.
(...)
Em tais circunstâncias, que não podem ser aqui revolvidas em face do óbice da
Súmula n. 7 do STJ, tenho que a relação jurídica se instaurou, no que pertine ao
autor, apenas com vinculação ao hospital réu, de sorte que a pretensão de
denunciação à lide, quer do médico anestesista, quer da sociedade comercial da
qual este participa ou por conta da qual atua, importa em desvio do
direcionamento da demanda, uma controvérsia nova, que não tem razão para ser
aqui instaurada em prejuízo do interesse do ora recorrido, que faz jus ao célere
andamento processual, que restaria irremediavelmente retardado pela discussão
de questões paralelas, que não lhe dizem respeito." (REsp 445.845/SP, Rel. MIN.
ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 09/09/2003, DJ
13/10/2003, p. 367)

É o que também se encontra em voto do Ministro Fernando Gonçalves:

"(...)
De outra parte, no que respeita à denunciação à lide, resta
consignado no aresto recorrido, na parte que reproduz trecho da sentença, ter o
paciente se dirigido ao hospital em virtude da especialidade de seus serviços e
não com a finalidade de ser atendido por profissional determinado.
(...)
Em hipóteses dessa natureza, já decidiu esta Corte pela
impossibilidade de se instaurar lide secundária, sob pena de retardamento do
processo, em detrimento dos interesses do autor.
(...)
Não fosse isso, a responsabilidade do hospital e a do médico tem
fundamentos diversos, o que denota a impropriedade da denunciação à lide
nessas circunstâncias, dada a necessária ampliação da controvérsia inicial.
A propósito:

'PROCESSO CIVIL. AÇÃO PROPOSTA CONTRA CLÍNICA.


DENUNCIAÇÃO DA LIDE AO PROFISSIONAL RESPONSÁVEL PELO
TRATAMENTO MÉDICO.
A denunciação da lide, nos casos previstos no art. 70, inc. III, do
Código de Processo Civil, supõe que o resultado da demanda principal se reflita
automaticamente no desfecho da ação secundária; tema que amplie a
controvérsia inicial ou demande outras provas não pode ser embutido no
processo. Recurso especial conhecido e provido.' (REsp 673.258/ RS, Rel.
Ministro ARI PARGENDLER, Terceira Turma, julgado em 28/06/2006, DJ
04/09/2006 p. 262)
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Cumpre ressaltar, de todo modo, que não há prejuízo para o


recorrente que sempre poderá postular ressarcimento em ação própria." (REsp
883.685/DF, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado
em 05/03/2009, DJe 16/03/2009)

No caso dos autos, o hospital, ora recorrente, contratou a plantonista Ana Maria para
prestar serviços de pediatria na emergência. A médica não foi escolhida pelos recorridos. Não há
dúvida de que a responsabilidade da instituição perante os pais do menor falecido é objetiva. Vale dizer:
o desfecho da ação indenizatória movida pelos recorridos contra a instituição hospitalar em nada
influenciará na eventual ação de regresso desta contra a médica Ana Maria.

Portanto, denunciar à lide a médica necessariamente implicaria a produção de provas e,


com isso, o retardamento da prestação jurisdicional. Tal ônus seria suportado pelos recorridos.

Correta, dessa forma, a solução dada pelo Tribunal de origem ao indeferir a


denunciação à lide, ressalvado o direito de regresso do hospital, a ser eventualmente apurado em ação
própria.

Ante o exposto, conheço do recurso especial, mas nego-lhe provimento.

É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2005/0200144-0 REsp 801.691 / SP

Números Origem: 3917654 4352004

PAUTA: 06/12/2011 JULGADO: 06/12/2011

Relator
Exmo. Sr. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : HOSPITAL ANA COSTA S/A
ADVOGADO : JOSÉ PAULO FERNANDES FREIRE E OUTRO(S)
RECORRIDO : JOSENILTON DA SILVA SANTOS E OUTRO
ADVOGADO : JOSÉ EDGARD DA SILVA JUNIOR E OUTRO(S)

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Responsabilidade Civil

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto
do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Massami Uyeda e Sidnei
Beneti votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Paulo de
Tarso Sanseverino.

Documento: 1112444 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/12/2011 Página 10 de 4

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