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Andrea Gozetto
Fundação Getulio Vargas
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Doutora em Ciências Sociais
pela Unicamp e mestre em
Sociologia Política pela
Unesp-Araraquara,
pós-doutorada em
Administração Pública
e Governo na Escola
de Administração de
Empresas de São Paulo,
da Fundação Getulio
Vargas. É coordenadora
acadêmica executiva do
MBA em Economia e Gestão
– Relações Governamentais
e do curso Advocacy e
Políticas Públicas: Teoria
e Prática, do Programa de
Educação Continuada (PEC)
da Fundação Getulio Vargas.
Introdução
c o m u n i c aç ão e r e l aç õ e s g ov e r na m e n ta i s / i n s t i t u c i o na i s
a área de Relações Governamentais tem apresentado um crescimento
exponencial na última década. A deflagração da Operação Lava Jato, em
2014, foi bastante impactante para esse crescimento, pois, ao desvendar uma
intrincada rede de corrupção envolvendo empreiteiras, funcionários da Pe-
trobras, operadores financeiros e agentes políticos1, incentivou os atores que
empreendem esforços para influenciar as decisões governamentais de forma
lícita a profissionalizar ainda mais sua atuação. Afinal, as relações entre os se-
tores público e privado estavam definitivamente sob suspeita e a legalidade
e a legitimidade da área de Relações Institucionais e Governamentais passa-
ram a ser questionadas duramente pela opinião púbica.
No entanto, uma série de iniciativas muito benéficas já estava em cur-
so, como, por exemplo, as Conferências Aberje. Tendo início em 2013, tais
conferências propiciaram um importante espaço de interlocução em que
os participantes discutiram os desafios enfrentados em meio ao turbilhão
fomentado pelas investigações da Operação Lava Jato, compartilharam ca-
sos de sucesso e de fracasso e, sobretudo, refletiram sobre a necessidade de
qualificar-se e capacitar-se cada vez mais para o exercício da atividade. Aten-
tos a essa tendência, Insper e Aberje lançaram cursos de curta duração es-
pecialmente voltados ao tema e produziram conhecimento extremamente
relevante para nortear as discussões acerca das relações entre atores estatais
e não estatais.
Em um movimento extremamente oportuno, os profissionais da área
revitalizaram a Abrig (Associação Brasileira de Relações Institucionais e
1 Para mais informações, consultar: http://www.mpf.mp.br/para-o-cidadao/caso-lava-jato/
entenda-o-caso. Acessado em: 17/08/2018.
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Esses fatores, que a literatura designa como sistêmicos2 são ainda mais im-
pactantes devido ao grau de regulação que o Estado brasileiro exerce sobre
a sociedade civil e o mercado. Dessa forma, os empresários estão sempre às
voltas com os seguintes questionamentos: como manter-se competitivo em
um ambiente de negócios pouco favorável? É legítimo empreender esforços
com vistas a auxiliar os tomadores de decisão a construir um ambiente de
negócios cada vez mais adequado ao desenvolvimento econômico do país?
Se tais esforços são legítimos, como influenciar o processo decisório estatal
com o intuito de gerar vantagem competitiva e, ao mesmo tempo, respeitar
os princípios éticos e os valores republicanos?
As respostas a esses questionamentos não são triviais. No entanto, um
primeiro passo importante é ter em mente que, em ambiente democrático,
todos os atores sociais, o que inclui empresas privadas e suas entidades repre-
sentativas, podem e devem participar do processo decisório que envolve a de-
finição da agenda, a formulação, a implementação e a avaliação das políticas
públicas. Esse direito está expresso na Constituição Federal de 1988, tanto em
seu artigo 1º, parágrafo único, quanto em diversos incisos do parágrafo 5º3.
A participação política é um direito, e como tal se constitui como
um elemento essencial da democracia. Sendo assim, é crucial que a
interface entre governo, cidadãos, empresas privadas e organizações
da sociedade civil seja intensificada, pois a construção de um canal de
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O arrefecimento desse estigma é possível desde que haja uma dissocia-
ção sistemática por parte dos profissionais de relações governamentais, da
mídia e da academia entre a atividade de lobby e atividades ilícitas como cor-
rupção e tráfico de influência. Cabe aos profissionais levar ao conhecimento
da opinião pública casos de sucesso e disseminar boas práticas de lobby.
Os acadêmicos, como já visto anteriormente, têm dado sua contribui-
ção trazendo maior rigor conceitual ao debate e desvendando as estratégias
e táticas empregadas pelos grupos de interesse. Assim, conceituar lobby
como defesa de interesses junto a membros do poder público que podem
tomar decisões referentes às políticas públicas (MANCUSO & GOZET-
TO, 2013) é afirmar sua neutralidade. Significa sustentar que a atividade de
lobby pode ser realizada de forma lícita ou ilícita e que, quando realizada de
forma lícita, é legal e legítima, estando presente em todo o ciclo de políticas
públicas. Rigor científico e análise isenta com certeza poderão incentivar a
construção de uma narrativa mais adequada em que o termo lobby esteja
associado a democracia e transparência, por exemplo.
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ção acadêmica, destaca-se a alta qualificação: 61% possuem pós-graduação
lato sensu e 22,4% possuem pós-graduação stricto sensu. Quanto à área
de formação, a diversificação é a regra, mas a formação em Direito ainda
é a mais frequente, como pesquisas anteriores já mostraram (OLIVEIRA,
2004). Segundo os autores, “essa diversificação pode ser vista como uma
evidência da profissionalização da atividade, pois indica que o mercado
de trabalho valoriza diferentes especialidades” (SANTOS, RESENDE e
GALVÃO, 2017:16).
Os resultados dessa pesquisa trazem fortes evidências que deno-
tam a crescente profissionalização da área: a) 58,6% dos entrevistados
afirmaram fazer parte do quadro de funcionários das organizações que
representam; b) 63,4% afirmaram se dedicar exclusivamente a essa ativi-
dade; c) 76,8% dos respondentes afirmaram que a atividade na empresa/
organização para a qual trabalham é profissionalizada; d) 70,6% afirma-
ram que existe um setor dedicado à atividade de relações institucionais
e governamentais em suas organizações e que esse setor está em nível
estratégico,; e) 65,9% afirmaram haver equipe especializada em políticas
públicas e governo internamente para subsidiar as atividades de relações
institucionais; e f ) 71,4% declararam que suas organizações possuem
uma equipe especializada.
Já a pesquisa de SANTOS ET AL. (2017) teve como objetivo anali-
sar os dados de um levantamento de survey realizada com assessores par-
lamentares que atuam na Câmara dos Deputados. Os autores utilizaram os
dados do cadastro da Primeira Secretaria da Câmara dos Deputados que,
para o biênio 2011-2012, contava com 179 organizações credenciadas jun-
to à Mesa Diretora da Câmara. Essas organizações foram classificadas em
quatro grupos: representantes do mundo do capital e do trabalho (52,5%),
setor público (44,1%), ONGs (2,2%) e duas organizações que não puderam
ser classificadas (1,1%).
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(Aberje), Relações Governamentais no Brasil (Insper), Relações Institucio-
nais e Governamentais (ABRIG/IEL), Comunicação e Gestão de Crises
(ABRIG/Sagres), Relações Governamentais – Estratégias de Comuni-
cação com o Governo (Faculdade Cásper Líbero), MBA em Economia e
Gestão – Relações Governamentais (FGV/IDE5), MBA em Direito e Re-
lações Governamentais (UniCeub), MBA em Ciência Política – Relações
Governamentais (UDF), MBA em Relações Institucionais (Ibmec) e MBA
em Relações Institucionais e Governamentais (Mackenzie).
Diferentemente das pesquisas citadas anteriormente, a realizada por
GALVÃO & MEDEIROS (2018), em sua primeira fase, teve como obje-
tivo mensurar o tamanho da área. Utilizando-se da descrição da ocupação
contida na C.B.O.6, da definição oferecida pelo Projeto de Lei nº 1202/2007
e da literatura especializada, eles consideraram em sua amostra todos os
profissionais que atuam, de maneira remunerada ou não, no relacionamento
com os poderes públicos para defesa de interesses em políticas públicas, seja
para análise, sugestão, formulação ou fiscalização. Os autores optaram por
contemplar apenas as associações de classe e as entidades sindicais como
organizações de defesa de interesses. Para isso, somaram todas aquelas cujas
atividades incluíam organização sindical, associação de defesa de direitos
sociais e organização associativa patronal e empresarial. Importante notar
que não fazem parte da amostra profissionais que atuam em empresas priva-
das, organizações não governamentais, consultorias e organismos interna-
cionais, devido ao fato de não haver dados consistentes a ser coletados.
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todo esse universo, recentemente comemorou ter aumentado em 532% o
número de seus filiados em dois anos, saindo de 79 para 422 sócios (COU-
TINHO, 2018). As razões para essa discrepância ainda carecem de investi-
gação, constituindo-se em uma interessante agenda de pesquisa.
A inexistência de uma base de dados abrangente com informações
confiáveis e passíveis de generalização também torna desafiador traçar o
perfil do profissional de Relações Institucionais e Governamentais.
Algumas evidências, contudo, deixam ver que transformações profun-
das quanto ao perfil e ao papel dos profissionais de Relações Institucionais e
Governamentais vêm ocorrendo, como aponta CURY NETO (2018).
Alguns fatores auxiliam a compreender as razões dessas transforma-
ções. Se, de um lado, as empresas privadas se viram obrigadas a potenciali-
zar suas estruturas de compliance e a desenvolver uma cultura de integri-
dade devido ao aprimoramento de um arcabouço jurídico anticorrupção
internacional e nacional mais rigoroso e abrangente, de outro, a Operação
Lava Jato redefiniu a forma como elas enxergam seu relacionamento com
o governo. Ademais, há uma compreensão mais clara de sua parte sobre a
relevância das relações institucionais e governamentais para alavancagem
dos negócios (FLEISHER E HARRIS, 2017). Devido a esses fatores, e à
disponibilidade crescente de aprimoramento profissional via educação for-
mal (GOZETTO & THOMAS, 2017; GOZETTO & MACHADO,
2018), empresas privadas e associações setoriais, sobretudo as extracorpo-
rativistas8, têm buscado no mercado executivos sêniores de Relações Ins-
titucionais e Governamentais completamente alinhados com as regras de
compliance, detentores de uma forte perspectiva de negócios e capazes de
implementar ações de defesa de interesses de forma planejada e estratégica.
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Bibliografia
c o m u n i c aç ão e r e l aç õ e s g ov e r na m e n ta i s / i n s t i t u c i o na i s
da transparência: o possível impacto da Lei de Acesso a Informações Públicas
no debate sobre a regulamentação do lobby no Brasil. Revista de Informação
Legislativa, v. 53, n. 212.
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