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Instituto Superior de Gestão e Empreendedorismo de Gwaza Muthini

CURSO DE ANÁLISES CLÍNICAS E LABORATORIAIS


CADEIRA DE ANTROPOLOGIA

NOME: Catarina Alberto Muando


CÓDIGO: 20200399

Ficha de leitura

Obra(s) Artigo científico

Os estudos de antropologia da saúde/doença no Brasil na década de 19901;

Antropologia, saúde e doença: uma introdução ao conceito de cultura aplicado às


ciências da saúde2;

Antropologia Médica: Elementos Conceituais e Metodológicos para uma Abordagem


Título(s) da Saúde e da Doença3;

Indivíduo e pessoa na experiência da saúde


e da doença4;

Saúde e Doença em Moçambique5.


1
Ana Maria Canesqui ( Departamento de Medicina Preventiva e Social, Faculdade de
Ciências Médicas, Unicamp);
2
Esther Jean Langdon (Antropóloga, Doutor em Antropologia, Professor Titular,
Universidade Federal de Santa Catarina, SC, Brasil) & Flávio Braune Wiik (Cientista
Social, Doutor em Antropologia, Professor Adjunto, Universidade Estadual de
Londrina, PR, Brasil);
3
Elizabeth Uchôa (Centro de Pesquisas René Rachou, Fundação Oswaldo Cruz. Av.
Autor(es ) Augusto de Lima, 1715, Belo Horizonte, MG, 30190-002, Brasil ) & Jean Michel
Vidal (Unité de Recherche Psychosociale, Centre de Recherche de l’Hôpital Douglas.
6875 Bd. La Salle, Montréal, Canada);
4
Luiz Fernando Dias Duart ( Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Quinta da Boa Vista);
5
Paulo Granjo ( Doutor em Antropologia Social. Investigador Auxiliar, Instituto de
Ciências Sociais da Universidade de Lisboa).

Apresentaçã Os estudos de antropologia da saúde/doença no Brasil na década de 19901


o dos textos Dos estudos feitos, uma parcela aprofundou conceitos e metodologias, enquanto outros
se valeram de procedimentos etnográficos ou apenas do emprego de técnicas
qualitativas para estudar o tema.

Representações: conceitos e metodologia


Na antropologia, Marcel Mauss enfatizou o quanto a atividade do pensamento coletivo é
mais simbólica do que a do pensamento individual e as condutas individuais não são
simbólicas em si mesmas e ganham sentido em relação a uma dada sociedade.
No estudo sobre a magia mago é o indivíduo que conduz a magia, mesmo que não seja
um profissional. Com o autor aprendemos que as representações mágicas não se
restringem ao pensamento ou às idéias exclusivamente. Elas se expressam nos atos
mágicos e se geram nos vários campos da vida social, incluindo os sistemas filosóficos
esotéricos. Para desvendar as primeiras categorias lógicas utilizadas pelo pensamento
humano, tanto Mauss quanto Durkheim voltaram-se para a análise da organização social
das sociedades primitivas. A questão de saúde na antropologia esta também ligada ao
mundo da magia, guiada por símbolos que vão além do entendimento normal humano
variando de grupo e civilizações diferentes.
Da observação dos vários estudos internacionais sobre as representações de saúde e
doença, Adam & Herzlich (2000) apontam que, na interpretação dos fenômenos
orgânicos, as pessoas se apóiam em conceitos, símbolos e estruturas interiorizadas,
conforme os grupos sociais a que pertencem.
No marxismo as representações remetem à ideologia e a autora toma as vertentes que
não a concebem como mero reflexo das estruturas. A representação social de indivíduos
e grupos, nas palavras da autora, está pensada em relação às bases materiais que a
engendram: de um lado temos o homem que é produto de seu produto: as estruturas da
sociedade criam o seu ponto de partida; de outro, temos que este homem constrói a
história dentro das condições recebidas ultrapassando-as e inscreve sua significação
sobre toda a parte, em todo o tempo e a ordem das coisas(Minayo, 1992).
Queiroz (2000) afirma que as representações sociais são, portanto, conceitos
culturalmente carregados, que adquirem sentido e significado pleno no contexto
sociocultural e situacional onde manifestam. Cardoso & Gomes (2000) advertem sobre
o risco da incorporação acrítica, pelos estudos sociais em saúde, do conceito de
representações sociais. Afirmam que o seu emprego não pode ignorar o já estabelecido
por vários autores ligados à psicologia social e à sociologia no campo da saúde.
O resgate da historicidade dos sentidos ou significados das doenças, no longo alcance, é
bastante plausível de ser tentada, retirando dos estudos o seu carácter meramente
sincrônico e o atrelamento exclusivo às perspectivas dos adoecidos, desde que são
múltiplas as fontes produtoras de representações sobre saúde e doença na sociedade. A
história cultural das doenças abre um leque muito fértil às pesquisas, que não se
restringem aos saberes eruditos
Alves & Rabelo (1998) reconhecem a contribuição dos estudos de representações e prá-
ticas de saúde e doença para o entendimento dematrizes culturais dos grupos sociais, que
permitem ultrapassar a objetividade dos estudosepidemiológicos e apontam as
limitações de seu uso.

Representações sobre doenças específicas


As representações sobre a tuberculose centram-se no “destino” e na percepção do corpo
fragilizado, cujas causas incluem o desgaste físico, provocado pela exposição
prolongada ao frio e ao trabalho, o enfraquecimento físico-moral, os efeitos da
contaminação ambiental e da hereditariedade (Gonçalves, 1998).
Diferenças de gênero, na percepção de doenças ou de suas causas, fazem-se na
hanseníase: as mulheres se preocupam mais com a aparência corporal e com as
deformidades físicas que a doença pode acarretar.
Vários estudos antropológicos, enquadrados no tema representações sobre a Aids, se
aproximaram dos adoecidos, dos soropositivos, das clientelas de serviços de saúde; de
segmentos populacionais diversificados ou das classes trabalhadoras urbanas.
Ao rever a literatura socioantropológica norte-americana sobre a questão da
enfermidade, Alves (1993) sugere que a compreensão da enfermidade prende-se à
experiência, contrapondo-se aos estudos de representações e às perspectivas sistêmica,
estrutural ou histórico estrutural de análise. Portanto, a enfermidade pressupõe, em
parte, um processo subjetivo que é apreendido a partir de um conjunto de sensações
corporais, sendo o corpo a matéria do mundo sensível e do próprio conhecimento e, pela
construção do(s) significado(s) para o(s) outro(s), orienta-se nas relações sociais no
mundo da vida cotidiana, naquele sentido dado por Schutz ao senso comum.
Antropologia, saúde e doença: uma introdução ao conceito de cultura aplicado às
ciências da saúde2
Cultura, sociedade e saúde
Ao se partir do pressuposto de que a cultura é um fenômeno total e que, portanto, provê
uma visão de mundo às pessoas que a compartilha, orientando, dessa forma, os seus
conhecimentos, práticas e atitudes, a questão da saúde e da doença está contida nessa
visão do mundo e práxis social.
Cada grupo organiza-se coletivamente – através de meios materiais, pensamento e
elementos culturais – para compreender e desenvolver técnicas em resposta às
experiências, ou episódios de doença e infortúnios, sejam eles individuais ou coletivos.
Com esse intuito, cada e todas as sociedades desenvolvem conhecimentos, práticas e
instituições particulares, que se pode denominar sistema de atenção à saúde. O sistema
de atenção à saúde engloba todos os componentes presentes em uma sociedade
relacionados à saúde, incluindo os conhecimentos sobre as origens, causas e tratamentos
das enfermidades, as técnicas terapêuticas, seus praticantes, os papéis, padrões e agentes
em ação nesse “cenário”. O sistema de atenção à saúde é um modelo conceitual e
analítico, não uma realidade em si para os grupos sociais com os quais se convive ou se
estuda. Porém, ele auxilia a sistematização e compreensão de um complexo conjunto de
elementos e fatores experimentados no cotidiano, de maneira fragmentada e subjetiva,
seja em nossa própria sociedade e cultura ou diante de outras não familiares.
O sistema cultural de saúde ressalta a dimensão simbólica do entendimento que se tem
sobre saúde e inclui os conhecimentos, percepções e cognições utilizadas para definir,
classificar, perceber e explicar a doença.
Cada e todas as culturas possuem conceitos sobre o que é ser doente ou saudável, a
cultura oferece teorias etiológicas baseadas na visão do mundo de determinado grupo, as
quais, frequentemente, apontam causas múltiplas para as enfermidades.

O sistema social de saúde


O sistema de atenção à saúde é tanto um sistema cultural quanto um sistema social de
saúde. Comumente, essa dimensão do sistema de atenção à saúde também inclui
especialistas não reconhecidos pela biomedicina, tais como benzedeiras, curandeiros,
xamãs, pajés, massoterapeutas, pais de santo, pastores e padres, dentre outros.

Antropologia Médica: Elementos Conceituais e Metodológicos para uma


Abordagem da Saúde e da Doença3
Doença e cultura: maneiras de pensar e maneiras de agir
Estudos recentes demonstram a grande influência que exercem os universos social e
cultural sobre a adoção de comportamentos de prevenção ou de risco e sobre a utilização
dos serviços de saúde. Os programas de saúde partem do pressuposto de que a
informação gera uma transformação automática dos comportamentos das populações
frente às doenças. Essa abordagem negligencia os diferentes fatores sociais e culturais
que intervêm na adoção desses comportamentos.
Diversos autores ressaltam a grande influência que exercem a semiologia popular e as
concepçôes culturais de causalidade sobre os comportamentos adotados frente às
doença. Um bom exemplo dessa influência é fornecido pelo estudo de Agyepong
(1992), que investigou as percepções e práticas frente à malária em uma comunidade de
Gana. Esse autor mostrou: (1) que a palavra malária não era popularmente conhecida e
que uma categoria conhecida era “asra”; que muitos membros da comunidade não
conectavam o vetor à doença; (2) a população acreditava que o “asra” era causado por
contato prolongado com o calor excessivo. Essa concepção etiológica eliminava quase
toda possibilidade de prevenção, pois o sol está sempre presente e não há como evitá-lo.
Hielscher & Sommerfield (1985) discutem a relação entre as concepções culturais das
doenças e a utilização de recursos médicos em uma comunidade rural do Mali.
Todos esses estudos revelam que os comportamentos de uma população frente a seus
problemas de saúde, incluindo a utilização dos serviços médicos disponíveis, são
construídos a partir de universos sócio-culturais específicos. Eles apontam a necessidade
de enraizarem-se os programas de educação e o planejamento em saúde em
conhecimento prévio das formas características de pensar e agir predominantes nas
populações junto às quais se quer intervir.
No modelo médico - cultural a doença é ora vista como um problema físico ou mental,
ora como biológico ou psicossocial, mas raramente como fenômeno multidimensional.
A fragmentação do objeto gera a fragmentação das abordagens. Com o desenvolvimento
da corrente interpretativa em antropologia, surge uma nova concepção da relação entre
indivíduo e cultura e tornase possível uma verdadeira integração da dimensão contextual
na abordagem dos problemas de saúde. A distinção paradigmática estabelecida por
Eisenberg (1977) entre a “doença processo” (disease) e a “doença experiência” (illness)
é o elemento-chave desse grupo de estudos. A “doença processo” (disease) refere-se às
anormalidades de estrutura ou funcionamento de orgãos ou sistemas, e a “doença
experiêcia” (illness), à experiência subjetiva do mal-estar sentido pelo doente. Nessa
perspectiva, a experiência da doença não é vista como simples reflexo do processo
patológico no sentido biomédico do termo. Considera-se que ela conjuga normas,
valores e expectativas, tanto individuais como coletivas, e se expressa em formas
específicas de pensar e agir.

Indivíduo e pessoa na experiência da saúde e da doença4;


A questão da determinação social ou cultural das representações de “pessoa” já se podia
entrever no pensamento dos pais fundadores das ciências humanas no século 19.
O primeiro texto explícito sobre o que se pode chamar hoje de “construção social da
pessoa” é o de Marcel Mauss sobre a “noção de pessoa”, publicado em 1938 (Mauss,
1973)
Radcliffe-Brown, um dos expoentes da antropologia social britânica, expôs com muita
nitidez a forma mais simples da oposição entre as categorias “pessoa” e “indivíduo” em
1940, em um artigo sobre “a estrutura social” ao afirmar que #todo ser humano vivendo
em sociedade tem dois aspectos: ele é indivíduo, mas também pessoa. Como indivíduo,
ele é um organismo biológico, um conjunto muito vasto de moléculas organizadas em
uma estrutura complexa em que se manifestam, enquanto ele persiste, ações e reações
fisiológicas e psicológicas, processos e mudanças. (...) O ser humano como pessoa é um
complexo de relações sociais ( Radcliffe-Brown, 1973)#. Muitas doenças “físicas”
apresentam, por outro lado, características vivenciais suficientemente intensas ou
prolongadas para merecerem a atenção integrada a que se procura referir o conceito de
“perturbação físico-moral” (Ferreira, 1998).
Hoje em dia, a soropositividade e a Aids certamente ocupam um lugar de relevo nesse
quadro, por colocarem em jogo dimensões vivenciais muito críticas, em função de sua
associação com a sexualidade, com a moralidade e com a responsabilidade individual
sobre a Aids.
O fio central da argumentação repousa justamente na demonstração do nervoso como
“perturbação físico-moral” estruturante nesses meios culturais, expressiva de uma ordem
relacional, hierárquica, resistente ao diversos mecanismos de indução à adoção do
modelo do “indivíduo” prevalecente nos meios letrados e dominantes de nossa
sociedade.
O processo de constituição da identidade da biomedicina é assim visto como uma longa
marcha em direção à transparência da natureza, perturbada aqui e ali pelas resistências
da ignorância ou do obscurantismo.A categoria “experiência” no título deste ar-tigo não
deve fazer supor uma continuidadecom os estudos hoje explicitamente dedicadosà
“experiência de saúde/doença”. A experiênciadas perturbações é – para mim –
certamenteuma dimensão crucial de sua realidade, sem lheconceder, porém, privilégio
ontológico ou gno-seológico sobre o “sentido” ou “significação”.Há hoje, todavia, uma
amplamente dissemina-da disposição em privilegiar a “ação”, a “práti-ca” ou a
“agência” no jogo social, em detrimen-to das análises que partem das idéias, represen-
tações ou categorias de pensamento.

Saúde e Doença em Moçambique5


Olhando a partir de um hospital ou de um gabinete burocrático, aceita-se com facilidade
que a maioria das plantas utilizadas pelos tinyanga poderão possuir “princípios activos”
com eficácia curativa, à luz dos critérios farmacológicos da biomedicina. Entre os
tinyanga, por seu lado, é evidente o desejo, expresso em termos individuais ou
associativos, de que as suas práticas sejam reconhecidas e legitimadas por parte dos
poderes político e científico.
No quadro conceptual e cognitivo em que se insere a sua actividade, um nyanga não se
limita, nem pode limitar, a tratar os sintomas e a doença, tendo também que resolver as
razões sociais que lhe subjazam e terão proporcionado o seu aparecimento.
Entender as práticas e o papel social dos tinyanga implica, antes de mais, que
compreendamos dois pontos de partida fundamentais do sistema de interpretação do
infortúnio, da saúde e da doença que é predominante entre a população moçambicana.
Em consequência do que foi dito, algumas doenças são catalogadas pelos tinyanga como
«de hospital», por os tratamentos biomédicos serem considerados mais eficazes ou por
desconhecerem a sua etiologia, ao mesmo tempo que é desenvolvido um contínuo
esforço de teorização acerca das causas materiais das doenças com que são confrontados
na sua actividade profissional.
Por um lado, é atribuído aos espíritos um comportamento caprichoso e obstinado,
semelhante ao das crianças (Honwana, 2002), pelo que não se espera que desistam das
suas queixas ou tentativa de comunicação mas que, pelo contrário, vão propiciando
problemas cada vez mais graves até serem atendidos. Por outro, esses problemas
poderão não atingir apenas o visado, mas também as pessoas que lhe são próximas. Por
fim, um indivíduo pode ser vítima de infortúnios resultantes de omissões ou actos que
não sejam da sua responsabilidade directa, mas herdados de parentes seus que,
entretanto, morreram e já não os podem remediar.
Conforme seria de esperar pelo que anteriormente ficou exposto, Também se pode,
então, ser vítima de doença devido a incapacidade ou incúria do próprio, devido a
feitiçaria, ou devido à acção ou inacção dos antepassados. A segunda destas hipóteses
veio a constituir a base lógica para a realização de rituais de limpeza pós guerra, A
primeira está no cerne da reprodução dos tinyanga enquanto grupo, seguindo os
princípios de culto de aflição (Turner, 1968) detectados em diversos locais da África
austral e central. Por muito física que seja a manifestação de uma doença, ela pressupõe
a existência de um desequilíbrio mental ou espiritual que afecta o paciente e esse
desequilíbrio pressupõe, por sua vez, a existência de causas sociais.
A situação mais habitual, contudo, é que a exigência de trabalho por parte dos espíritos
assuma a forma da «doença de chamamento» que já mencionei e que, a par de sintomas
individualizados, se caracterizará por uma fraqueza geral e fortes dores, para as quais a
biomedicina não encontrará aparente explicação. podemos dizer que, se todos os
espíritos são antepassados de alguém (desde que lhes tenham sobrevivido descendentes),
poucos antepassados se tornam espíritos.
Embora um espírito não possua o corpo da pessoa de forma contínua, tanto ele quanto o
indivíduo possuído deixarão de ser as entidades separadas e independentes que antes
eram, para se tornarem num ser simbiótico, com uma identidade nova e comum. Cada
um influencia o comportamento e a identidade do outro, adaptando-se a essa
coexistência durante o seu processo de preparação para se tornarem um nyanga.
As Terapias
Como se compreenderá, o quadro de práticas terapêuticas desenvolvidas pelos tinyanga
é demasiado vasto e diversificado para poder ser exposto num artigo desta natureza. O
primeiro passo é o diagnóstico, feito neste caso por adivinhação. O objectivo que a
adivinhação assume no processo terapêutico é, de facto, triplo: (1) descobrir qual o
problema do paciente, seja ele uma doença ou não; (2) descobrir a causa subjacente a
esse problema e, se esta for de carácter espiritual, quem a provocou e o que deseja; (3)
definir a terapia a aplicar. Espera-se da adivinhação, por um lado, que detecte a
posteriori as razões subjacentes aos acontecimentos passados e, ao fazê-lo, torne esses
acontecimentos compreensíveis e permita uma reacção eficaz, através da correcção das
suas causas mais profundas ou da protecção contra elas.
Segundo os tinyanga, há doenças que só os hospitais curam e doenças que só eles
curam. Reclamam entre estas últimas a epilepsia, a asma, a recuperação de tromboses e
alguns tipos de infertilidade e impotência. É habitual ouvir-se que o recurso da
população moçambicana aos vários tipos de curandeiros deriva da insuficiência de
médicos, ou da falta de dinheiro das famílias. Se um tratamento com um nyanga não é
necessariamente mais barato do que o recurso à biomedicina, podendo até tornar-se bem
mais dispendioso, é uma triste verdade que a cobertura médica é muito insuficiente ou
mesmo inexistente em vastas áreas do país. Ir ao nyanga não é uma opção fácil, dado o
receio que inspiram os seus esperados poderes. É uma opção que, apesar disso, os
pacientes e seus familiares tomam porque, precisamente, ela lhes fornece uma mais-
valia de significado e de reintegração social, uma possibilidade consensual de expressar
e gerir não apenas a enfermidade presente, mas também as relações de solidariedade e
conflito em que estão inseridos.

“Cada sociedade ou grupo social dispõe demaneiras específicas de conceber e lidar com
ocorpo, sendo que o saber biomédico contri-buiu, ao longo da história, na difusão de
Citações
suanaturalização, tida como universal.”
importantes
“No estudo sobre a magia mago é o indivíduo que conduz a magia, mesmo que não seja
um profissional.”

Comentários A questão de saúde na antropologia esta também ligada ao mundo da magia, guiada por
símbolos que vão além do entendimento normal humano variando de grupo e
civilizações diferentes. A enfermidade pressupõe, em parte, um processo subjetivo que é
apreendido a partir de um conjunto de sensações corporais, sendo o corpo a matéria do
mundo sensível e do próprio conhecimento e, pela construção do(s) significado(s) para
o(s) outro(s), orienta-se nas relações sociais no mundo da vida cotidiana, naquele
sentido dado por Schutz ao senso comum
Em síntese, pode-se dizer que os estudos examinados nos falam menos da doença em si
e mais de sua articulação simbólica na construção das identidades sociais, relações de
gênero e inserção nos parâmetros simbólicos estruturantes da cultura. Quando resgatam
as práticas sociais são capazes de vislumbrar estratégias e maiores dissonâncias entre
pensamento, normas e a ação social ou ainda, percorrendo as experiências e o senso
prático exclusivamente, colocam em evidência os adoecidos, suas ações e a construção
dos significados diante da doença e na busca da resolução de seus problemas de saúde,
ocultando as regularidades sociais ou os padrões estruturantes, sejam os sociais e
políticos, sejam os culturais e simbólicos.
Para Paulo Granjo5 ( 2009) algumas doencas decorrentes em moçambique como em
outro canto do mundo tem tido sucesso curativo à luz das plantas utilizadas pelos
tinyanga e que provavelmente não seria possível a sua cura somente com a intervenção
hospitalar tornando-se evidente o papel dos tinyanga em problemas de saúde e doença
em Mocambique.
Por um lado, atribui-se certas doenças aos espiritos que vão propiciando certos
comportamentos que com a intervenção biomédica não seria possível solucionar, pois,
entende-se que problemas espirituais necessitam de uma intervenção espiritual o que
segundo o autor pode estar ligado feitiçaria, acção ou inacção dos antepassados.
Tanto na biomedicina quanto nos tinyanga há uma intercessão no que diz respeito a
terapia das doenças e saúde em Moçambique, embora os tinyanga optam pela
adivinhação e a biomedicina por algo científico e há sempre um reconhecimento dos
tinyanga quanto à cura exclusiva das doenças nos hospitais

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