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DIREITO, SOCIEDADE E CIDADANIA

OTÁVIO RIBEIRO PEDRAL SAMPAIO


RESUMO

Nos últimos tempos assuntos relacionados a cidadania tem sido bem


corriqueiros e ganhado importância. Mas para falar sobre o assunto é necessário
compreender o seu significado e qual sua importância para a vida em sociedade.
Por isso nesse artigo será feita uma breve Revisão de Literatura, buscando
compreender o conceito e evolução de direito e cidadania. Com o passar das
décadas percebeu-se que a cidadania, alterava seu conceito conforme o regime e o
tipo de Estado que predominava no local. Assim, como a cidadania, seu principal
objeto, o cidadão foi sendo ampliado e foi ganhando destaque com o passar dos
anos até que esse ganhou mais destaque na sociedade, com isso o Estado passa a
ter como objetivo o bem estar de seus cidadãos. Junto com a cidadania, também
evoluía os direitos humanos que são essenciais para a garantia da atuação do
indivíduo como cidadão, assim como a cidadania esse também passou por
evoluções, até chegar ao seu maior marco, a Declaração dos Direitos Humanos, que
passava então a documentar e influenciar a garantia de direitos essenciais.

Palavras-chave: Cidadania. Direito. Estado. Garantia. Sociedade.


ABSTRACT

In recent times, issues related to citizenship have been very common and have
gained importance. But to talk about the subject, it is necessary to understand its
meaning and its importance for life in society. Therefore, in this article, a brief
Literature Review will be made, seeking to understand the concept and evolution of
law and citizenship. Over the decades, it was noticed that citizenship changed its
concept according to the regime and the type of State that prevailed in the place.
Thus, as citizenship, its main object, the citizen has been enlarged and has been
gaining prominence over the years until it has gained more prominence in society,
with this the State has as its objective the welfare of its citizens. Along with
citizenship, human rights also evolved, which are essential to guarantee the
performance of the individual as a citizen, just as citizenship has also undergone
evolutions, until reaching its greatest milestone, the Declaration of Human Rights,
which then became document and influence the guarantee of essential rights.

Keywords: Citizenship. Right. State. Warranty. Society.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................................5

1 DIREITO E CIDADANIA.............................................................................................6

1.1 EVOLUÇÃO DA CIDADANIA..................................................................................6

1.2 A CIDADANIA PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988..................................9

2 CIDADANIA DIREITOS E DEVERES......................................................................10

3 EVOLUÇÃO E CONCEITO DE DIREITO................................................................13

REFERÊNCIAS...........................................................................................................17
INTRODUÇÃO

Nunca se falou tanto em Direito e Cidadania como nos últimos tempos.


Mesmo assim, ainda é ignorado o real significado dessas duas palavras e as
implicações dessas para a vida cotidiana. Assim como a sociedade evolui a
cada dia, junto com ela o direito e a cidadania tiveram a evolução dos seus
conceitos com o passar dos anos, direito não era a mesma coisa, não era
atribuído a todas as pessoas antigamente como é hoje, da mesma forma que
cidadania não cabia a todos. Portanto o Direito e a Cidadania foram ampliados
e passaram a ser aplicados em diversos segmentos da comunidade que antes
não eram contemplados e muitas vezes ignorados em seus direitos
fundamentais (FERREIRA, 2004).

Cidadania pode ser entendido como o pertencimento pleno a uma


comunidade, ou seja, implica na participação dos indivíduos na determinação
das condições de sua própria associação. A cidadania é um status que garante
aos indivíduos iguais direitos e deveres, liberdades e restrições, poderes e
responsabilidades. Mesmo quando não existia um princípio universal que
determine quais deverão ser, exatamente, os direitos e deveres de um cidadão,
as sociedades nas quais a cidadania era considerada, tentava-se chegar a uma
cidadania ideal (HELD; BARBOSA; ROSA E SILVA, 1999).

Com a evolução da cidadania e sua significância mudando durante as


épocas, vão surgindo os direitos civis e políticos, e em um segundo momento
os direitos sociais. Os direitos civis, conquistados no século XVIII,
correspondem aos direitos individuais de liberdade, igualdade, propriedade, de
ir e vir, direito à vida, segurança, dentre outros, são os direitos que embasam a
concepção liberal clássica. Já os direitos políticos foram conquistados com o
passar dos anos, onde novas classes eram consideradas parte da cidadania,
alcançados no século XIX. Já os direitos sociais foram alcançados somente no
éculo XX e os direitos humanos que regem todos esses direitos só foram
verdadeiramente discutidos, no século XXI em 1978 (VIEIRA, 1999).

Tanto o Direito quanto à Cidadania não podem ser definidos de uma


única forma, pois ambos carregam consigo finalidades e características
condizentes com a época em que foram elaborados. Por isso para definir tais
termos é preciso entender sobre a evolução do Direito e Cidadania,
compreender o que significa cada um desses é preciso entender como surgiu a
ideia de cidadania e como ela foi se modificando ao longo dos anos, quando
surgiu o Direito, se existem mais de uma conceituação para essa palavra e
qual a sua relação com a cidadania.

1 DIREITO E CIDADANIA

Para estudar Direito e Cidadania faz-se necessário dissocia-los e


entende-los separadamente, pois durante muito tempo esses conceitos não
eram diretamente ligados um ao outro, portanto a seguir serão apresentados os
conceitos e evolução de Cidadania e Direito, buscando entrelaçar seus
significados e definições mais à frente.

1.1 EVOLUÇÃO DA CIDADANIA

O termo cidadania pode ser definido tradicionalmente como “a qualidade


ou estado de um cidadão”, e cidadão por sua vez pode ser definido como “o
indivíduo no no gozo dos direitos civis ou políticos de um Estado, ou no
desempenho de seus deveres para com este”. Dessa forma, fica claro que a
cidadania está ligada a ideia de participação, o atuar, o agir com a finalidade de
construir o destino próprio, de contribuir com a comunidade em que está
inserido. No entanto conceituar cidadania não é tão simples, pois durante a
evolução da civilização o seu significado alterava-se de acordo com os graus e
as formas de participação dos indivíduos e sua abrangência social (SIQUEIRA;
LOPES, 2014).

Em sua etimologia, a palavra cidadania, assim como o termo cidade, tem


origem na palavra latina civitatem, que por sua vez é a tradução latina da
palavra grega polis. Polis remete a vida em sociedade, viver em comunidade
de forma civilizada, o que tem relação direta com o conceito tradicional
conhecido de cidadania. Na Grécia Antiga, local onde acredita-se que surgiu a
primeira ideia de cidadania, os gregos consideravam cidadãos, ou seja,
aqueles que podiam exercer cidadania, aqueles que nasceram em terras
gregas, os quais poderiam usufruir de todos os direitos políticos. Por outro lado,
os estrangeiros, os quais não podiam gozar de nenhum direito político, ficavam
encarregados apenas das atividades mercantis (TEIXEIRA, 2016).

Da mesma forma acontecia em Roma, ser cidadão não era algo natural
a todos os indivíduos que compunham a comunidade, sendo restringida
apenas aos nascidos romanos de descendência nobre, os considerados
homens livres, portanto, mulheres, crianças, escravos, apátridas e os
estrangeiros eram excluídos do gozo de qualquer tipo de direito ou capacidade
jurídica, mostrando discrepância entre o discurso teórico de cidadania e a
aplicação prática na sociedade (MELO, 2013).

Com a queda do Império Romano, inaugurou-se uma nova fase na


história, mas conhecida como a Idade Média, essa era caracterizada pelo
feudalismo, onde a maioria dos indivíduos eram submetidos à condição de
súditos e predominava o sistema monárquico absolutista de governo que eram
sustentados pelos senhores feudais, ou seja, os detentores de terra. Com isso,
mesmo que o conceito romano de cidadania não fosse o ideal, na Idade Média
houve retrocesso nesse campo e não existia praticamente nenhuma ordem
jurídica pública, não havendo nenhuma forma de atuação da cidadania pelos
indivíduos. A ideia tradicional de cidadania só passa a ser aplicada novamente
no final da Idade Média, com a criação dos estados nacionais, reaparecendo a
noção de estado centralizado (PINTO, 2006).

Com o fim da Idade Média, surgiria então a Idade Moderna a partir da


Revolução Americana de 1776, a Francesa ocorrida em 1789, que teve como
consequência importantes movimentos culturais históricos, como o
Renascimento e o Iluminismo, com grande espírito de reforma e a busca pelo
direito de todos. Essas revoluções tinham como principal objetivo, se opor ao
sistema de produção dominantes e de governo, que faziam com que o
interesse do Estado Monarca se sobreposse ao da Cidadania que naquela
época nem era considerada. Com as revoluções o interesse do Estado passa a
ser o interesse da Cidadania, existe uma ampliação de novos cidadãos nas
questões de interesse público, mas ainda prevalecia como nível de importância
a vinculação à posse e/ou propriedade de algum bem econômico (OLIVEIRA;
COSTA, 2013).

Na Idade Moderna o Estado passa a ter novamente deveres como


aponta Marshall (apud DIAS, 2015):

o Estado tem a responsabilidade social de dar a seus cidadãos um


mínimo bem-estar e segurança econômica, além do pleno direito ao
patrimônio social e a uma vida civilizada segundo os padrões vigentes
na sociedade em questão.

De acordo com o filósofo Adorno (apud DIAS, 2015): Em que ele diz,
que esse caminho para construir uma coletividade voltada para o bem comum,
um processo que levasse a uma mudança social positiva. Então entendia-se
que mesmo não sendo baseada nos termos corretos, a cidadania evoluía para
chegar ao seu melhor significado.

Mesmo com a cidadania não sendo exercida da forma ideal, com a


Idade Moderna, essa passa a ter o significado cada vez mais discutido e toda a
sociedade, independente do nível social do indivíduo passava a reivindicar
seus direitos como cidadão. O Brasil também viveu momentos de
ressignificação dos direitos dos cidadãos, pois esses definidos pelas
Constituições Federais (CF), vem sofrendo mudanças desde 1824. Antes o
conceito de cidadania ainda era muito parecido com os conhecidos pela Grécia
e Roma, só que os cidadãos não eram os nativos brasileiros, mas sim os
nativos Portugueses, pois o país ainda se tratava de uma Colônia. Com a
independência do Brasil em 1822, passa-se a surgir a necessidade de definir
melhor direitos e deveres dos indivíduos, definindo a cidadania, a primeira CF
foi publicada no Brasil Império em 1824, portanto a cidadania era moldada
pelos interesses do Império. Em 1891, a segunda CF e a primeira do Brasil
República, mas pouco ainda era discutido sobre cidadania, mas sim sobre o
novo modelo de governo. Contando com a atual CF foram elaboradas mais
cinco versões, nos anos de 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988. Onde o país
passou por períodos com o Regime Militar até chegar à chamada Constituição
Cidadão, que finalmente, mesmo com falhas, discutia mais profundamente os
direitos e deveres da cidadania (SENADO FEDERAL, 2013).
1.2 A CIDADANIA PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Com as Constituição da República Federativo do Brasil de 1988. Foi


delineado os direitos e deveres do cidadão. No Art. 1º a cidadania já é citada:

Art.1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui
-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamento:

(...) II - A cidadania (BRASIL, 1988).

Então a cidadania a partir da CF de 1988 é considerada um fundamento


para a Constituição do Estado democrático de Direito e, portanto, tem seus
direitos sociais definidos pelo Art. 6º:

art.6º - São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o


trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e a à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL, 1988).

Encontra também mais sobre o direito à cidadania, no artigo 5º da carta


magna, em que se fala assim:

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo – se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguinte:
LXXVII – são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data e,
na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania.”
Podemos encontrar como forma mais explicativa, clara e de fácil
interpretação o que é cidadania na lei nº 9.265/1996 assim:
Art.1º - “São gratuitos os atos necessários ao exercício da cidadania,
assim considerado:
I – Os que capacitam o cidadão ao exercício da soberania popular, a
que se reporta no art.14 da Constituição;
II – Aqueles referentes ao alistamento militar;
III – os pedidos de informações ao poder público, em todos os seus
âmbitos, objetivando a instrução de defesa ou a denúncia de
irregularidades administrativas na órbita pública;
IV – As ações de impugnação de mandato eletivo por abuso de poder
econômico, corrupção ou fraude;
V – Quaisquer requerimentos ou petições que visem as garantias
individuais e a defesa do interesse público;
VI – O registro civil de nascimento e o assento de óbito, bem como a
primeira certidão respectiva (BRASIL, 1988).
Um dos direitos mais importantes conquistados por todos os indivíduos,
se refere à cidadania citada acima, sendo descrita pelo Art. 14:

Art.14 – A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e


pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos
da lei, mediante:
I – Plebiscito;
II – Referendo;
III – iniciativa popular (BRASIL, 1988).

2 CIDADANIA DIREITOS E DEVERES

A cidadania e seus direitos estão ligados a uma determinada ordem


jurídico-política de um país, de um Estado, no qual a Constituição vigente
daquele local irá definir e garantir quem é o cidadão, quais os direitos e
deveres ele terá em função de uma série de variáveis, como: idade, o estado
civil, a condição de sanidade física e mental, o fato de estar ou não em dívida
com a justiça penal, a justiça eleitoral, etc. Como já visto a cidadania não é um
conceito universal, que tem o mesmo significado com o passar das épocas,
portanto, da mesma forma os direitos e deveres da cidadania não são
universais, assim como o cidadão também não. Portanto, identifica-se cidadãos
brasileiros, argentinos, norte-americanos, assim como os direitos e deveres
serão discriminados de acordo com o seu papel na sociedade e governo que
está inserido (BENEVIDES, 2013).

De acordo com resumo feito pelo Senado Federal (2020), com base na
CF/1988, as principais garantias previstas, essenciais para o exercício da
cidadania, são:

Igualdade -Todas as pessoas são iguais perante a lei, sem distinção


de qualquer natureza. Os brasileiros e os estrangeiros residentes no
país têm a garantia de proteção ao direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade.
Igualdade de gênero - Homens e mulheres são iguais em direitos e
obrigações.
Princípio da legalidade - Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
Integridade - Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento
desumano ou degradante.
Liberdade de opinião e expressão - É livre a manifestação do
pensamento e a expressão da atividade intelectual, artística, científica
e de comunicação, independentemente de censura ou licença, sendo
vedado o anonimato.
Liberdade e assistência religiosa - É garantida a liberdade de
consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
cultos religiosos e mantida, na forma da lei, a proteção aos locais de
culto e a suas liturgias. É assegurada, nos termos da lei, a prestação
de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação
coletiva.
Direito à intimidade e à inviolabilidade do domicílio - São protegidas a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas. A casa é
abrigo inviolável do indivíduo; ninguém pode nela penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial.
Sigilo das comunicações - É inviolável o sigilo da correspondência e
das comunicações telegráficas, de dados e telefônicas, exceto, no
último caso, por ordem judicial.
Liberdade de informação - É assegurado a todos o acesso à
informação, resguardando-se o sigilo da fonte, quando necessário ao
exercício profissional.
Direito de reunião e associação - Todos podem reunir-se
pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público. É plena a
liberdade de associação para fins lícitos. Ninguém pode ser obrigado
a associar-se ou a permanecer associado.
Direito de propriedade - É garantido o direito de propriedade, que
atenda à sua função social. A lei estabelecerá o procedimento para
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, mediante justa
e prévia indenização.
Direito de informação e petição - Todos têm direito a receber dos
órgãos públicos informações de seu interesse. São assegurados,
independentemente do pagamento de taxas, o direito de petição aos
poderes públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou
abuso de poder, e a obtenção de certidões em repartições públicas,
para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse
pessoal.
Estado de direito - A lei não pode prejudicar o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada. É reconhecida a instituição do júri,
assegurando-se a plenitude de defesa; o sigilo das votações; a
soberania dos veredictos e a competência para o julgamento dos
crimes dolosos contra a vida. Não há crime sem lei anterior que o
defina, nem pena sem prévia determinação legal. A lei penal não
pode retroagir, salvo para beneficiar o réu.
Racismo - Constitui crime inafiançável e imprescritível.
Crimes hediondos - A lei considerará crimes inafiançáveis e
insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os
que, podendo evitá-los, se omitirem.
Delitos e penas - Não haverá penas de morte, de caráter perpétuo, de
trabalhos forçados, de banimento e cruéis. A pena é cumprida em
estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a
idade e o sexo do condenado. É assegurado aos presos o respeito à
integridade física e moral. Serão asseguradas às presidiárias
condições para que possam permanecer com seus filhos durante a
amamentação.
Extradição - Nenhum brasileiro nato será extraditado. Não será
concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião.
Garantias processuais - Ninguém será privado da liberdade ou de
seus bens sem o devido processo legal. É assegurada a todos a
ampla defesa. São inadmissíveis as provas obtidas por meios ilícitos.
Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória. Ninguém será preso senão em
flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária. O preso será informado de seus direitos, entre os quais o
de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família
e de advogado. A prisão ilegal será imediatamente relaxada pela
autoridade judiciária. Ninguém será levado à prisão ou nela mantido
quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança.
Habeas corpus e Habeas data - É concedido habeas corpus sempre
que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou
coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de
poder. Também se concede habeas data para assegurar o
conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público; para a retificação de dados,
quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou
administrativo.
Mandado de segurança - É concedido para proteger direito líquido e
certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública
ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder
público.
Ação popular - Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
popular que vise anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao
meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor,
salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e custas do
processo.
Defensoria pública - O Estado prestará assistência jurídica integral e
gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos.
Erro judiciário - O Estado indenizará o condenado por erro judiciário,
assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença.
Gratuidade das certidões - São gratuitos para os reconhecidamente
pobres o registro civil de nascimento e a certidão de óbito.
Gratuidade de ações judiciais - São gratuitas as ações de habeas
corpus e habeas data e os atos necessários ao exercício da
cidadania.
Aplicabilidade - As normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata.

A partir desse conjunto de direitos e deveres apresentados pela CF/1988


e o Senado Federal, como essenciais para o exercício da cidadania, percebe-
se que o cidadão, além de ser alguém que exerce direitos, cumpre seus
deveres ou goza de liberdades em relação ao Estado, esse é também titular,
mesmo que parcialmente, de uma função do poder público. Ou seja, a antiga e
persistente distinção entre o Estado e a Sociedade Civil se perde, pois na
cidadania ideal um defende os direitos, deveres e liberdades do outro. Além
disso, a partir do momento que há a possibilidade de participação direta no
exercício do poder político, confirma-se a soberania popular, já citada na
análise da cidadania na CF/1988, que se torna elemento essencial da
democracia. Por último é reforçada a necessidade de serem somados os
direitos políticos aos direitos sociais, pois os direitos políticos irão favorecer a
organização para que possam ser reclamados e discutidos os direitos sociais
(BENEVIDES, 1994).

3 EVOLUÇÃO E CONCEITO DE DIREITO

Quando se trata de direito, a palavra pode ter sentidos diferentes a


depender se é utilizada com letra minúscula ou maiúscula. O Direito pode ser
definido como a ciência que estuda as normas jurídicas de um país, os direitos.
Já o direito é o conjunto de prerrogativas legais que são atribuídos e garantidos
aos cidadãos de um determinado país (FIA, 2020).

Assim que no início do artigo começou-se a citar a cidadania e a


evolução de seu significado ao longo das décadas, juntamente com essa ideia
surge o direito, ser cidadão na Grécia por exemplo era um direito somente dos
nativos da Nação, em Roma o direito de ser cidadão era restrito aos homens
livres, então ser cidadão, praticar a cidadania é em si um direito.

Portanto, o direito surge com a necessidade da garantia de itens


materiais ou não fundamentais para a sua existência na sociedade. A conquista
e o reconhecimento dos direitos fundamentais do homem vêm de um passado
muito próximo, na medida em que evoluía a civilização, o significado da
cidadania, novos direitos iam somando àqueles já reconhecidos e declarados.
Por muito tempo os instrumentos legislativos que consolidavam o direito não
estabeleciam prerrogativas para os indivíduos, mas criavam obrigações para
esses. Esse fato está muito ligado a relação tradicional entre os direitos dos
governantes e as obrigações dos súditos, que era o que ocorria durante
governos autoritários, onde o bem-estar da cidadania, da população não era o
principal objetivo do Estado. Com o tempo e as mudanças na concepção de
cidadania, essas concepções passam a ser invertidas e começa a era das
declarações de direito. Com isso, pouco a pouco, as declarações de direito
passam a conseguir inverter essa relação, pois o próprio conceito de
democracia, o governo onde a população exerce a soberania, é inseparável
dos conceitos de direito do homem (SALADINI, 2010).

Na época da Idade Média por exemplo, os direitos eram baseados nos


direitos naturais, pois naquela época ser cidadão era um direito natural, algo
que o indivíduo possuía ou não, a depender de suas posses, sua naturalidade,
sua descendência, classe social ele teria ou não direitos.

A fonte formal principal que garante o direito da Cidadania nos tempos


atuais é a Constituição, portanto sendo a Cidadania um dos elementos do
Estado, deve ser estabelecido a sua composição, deveres, direitos e
instrumentos de proteção. A constituição é a Lei máxima do Estado, é a partir
dela que será elaborada Leis, Normas e Decretos, estabelecendo sua
composição, estrutura, organização e funcionamento, não podendo deixar de
proteger os seus associados, os cidadãos, na linguagem atual, a sua
cidadania, sob a pena de não ser considerada uma Constituição, pois deve
declarar os deveres e os direitos da Cidadania separados dos do Estado
(PINTO, 2006).

Quando o Estado passa a ter o dever de garantir condutas positivas e


negativas, que dão ao indivíduo o poder de participação, implementando
direitos fundamentais individuais e sociais, através de uma Constituição, a
cidadania passa a ser ligada aos direitos humanos. Esses direitos andam
juntamente e evolui com a cidadania, pois esses são os direitos fundamentais à
pessoa humana, são necessários como forma de garantia a participação plena
da vida social. Se considerar essa premissa, pode-se dizer que o direito nasce
junto com a ideia de cidadania, pois a cidadania é o direito de participação na
sociedade e que para seu exercícios deve o cidadão ser resguardado de
direitos básicos, tais como a vida, a moradia, a educação, a informação, dentre
outros e considerando que esses são direitos básicos, o não garantimento
desses culmina no rompimento do exercício da cidadania (MELO, 2013).
O reconhecimento dos direitos humanos, como direito fundamental para
exercer a cidadania e consequentemente viver em sociedade, foi um marco
muito importante para a delimitação dos direitos essenciais do ser humano, E
apesar da luta para garantir o direito à cidadania, somente em 1948 foi
proclamada a Declaração Universal dos Direitos Humanos que iria embasar
dessa data para frente, todas as leis e normativas referentes aos direitos
humanos em todo o mundo. Apesar de parecer uma garantia básica, eventos
como a Segunda Guerra Mundial, provaram que era necessário deixar
documentados os direitos que qualquer ser humano goza, independente de sua
raça, cor, etnia, crença, cultura, opinião política e nível social. Por isso o
Preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, diz:

Preâmbulo
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os
membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é
o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos
resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da
humanidade e que o advento de um mundo em que mulheres e
homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de
viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a
mais alta aspiração do ser humano comum;
Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam
protegidos pelo império da lei, para que o ser humano não seja
compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a
opressão;
Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações
amistosas entre as nações;
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram,
na Carta, sua fé nos direitos fundamentais do ser humano, na
dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos do
homem e da mulher e que decidiram promover o progresso social e
melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla;
Considerando que os Países-Membros se comprometeram a
promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito
universal aos direitos e liberdades fundamentais do ser humano e a
observância desses direitos e liberdades;
Considerando que uma compreensão comum desses direitos e
liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento
desse compromisso;
Agora portanto a Assembleia Geral proclama a presente Declaração
Universal dos Direitos Humanos como o ideal comum a ser atingido
por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada
indivíduo e cada órgão da sociedade tendo sempre em mente esta
Declaração, esforce-se, por meio do ensino e da educação, por
promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de
medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por
assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e
efetivos, tanto entre os povos dos próprios Países-Membros quanto
entre os povos dos territórios sob sua jurisdição (UNESCO, 1948,
p.1).

Com a garantia dos Direitos Humanos, com o passar dos anos surgem
outras modalidades de direito que buscam garantir esses que são
fundamentais. Por ser recente e por mudar sua finalidade e significância dia
após dia, os direitos humanos estão em constante evolução. Quanto as áreas
do direito que buscam a garantia dos direitos humanos, podem ser citados:
Direito Civil; Direito Penal; Direito Tributário; Direito Trabalhista; Direito
Contratual; Direito Ambiental; Direito Empresarial; Direito do Consumidor;
Direito do Estado; Direito Eleitoral; Direito da Tecnologia da Informação; Direito
da Propriedade Intelectual.

4. CONCLUSÃO

Com a elaboração do presente artigo compreendeu-se que a cidadania


assim como a civilização, passou ao longo dos anos por diversas mudanças,
ressignificando seu conceito. Com a evolução das populações, a depender do
tipo de Estado e o regime em que o país se encontrava, o conceito de
cidadania também mudava e em alguns momentos, como na Idade Média até
perdia importância.

Juntamente com a evolução da cidadania percebeu-se que crescia uma


ideia de direito, nesse contexto o direito na medida em que a cidadania
passava a assumir a importância dentro de uma Nação, onde o Estado deveria
presar belo bem-estar da sua população, os direitos humanos passam a ser
essenciais para garantir que todos os seres humanos gozem de seus direitos.

Por último, vê-se que entender o direito e a cidadania é parte


fundamental para compreender qualquer área do direito, seja essa tradicional
ou uma modalidade moderna. Pois é através da concepção do conceito de
cidadania e consequentemente dos direitos humanos que se enxerga
necessária a criação de mecanismos que garantam o mínimo aos seres
humanos, fazendo-se necessário até mesmo o Direito, que irá estudar as
jurisdições de uma país e determinar se ela é suficiente para garantir os
direitos.
REFERÊNCIAS

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https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
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