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DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

1º ANO / 1º Semestre
2020/2021

Licenciatura em Solicitadoria e Administração

Mariana Marques
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Índice
Parte I – História da União Europeia
1. As organizações euroatlânticas.................................................................3
2. O Conselho da Europa e a OSCE.................................................................5
3. A União Europeia.......................................................................................5
4. Estados-Membros da União Europeia…………………………………………………..7
5. Tratados da União Europeia………………………………………………………………….8
6. Tratados da União Europeia atualmente em vigor………………………………10
7. Uma Constituição Europeia………………………………………………………………..11
8. As instituições da União Europeia...........................................................11
Parte II – Direito da União Europeia
1. Princípios e Valores da União Europeia...................................................27
2. Carta dos Direitos Fundamentais………………………………………………………..32
3. A Cidadania da União Europeia……………………………………………………………35
4. As competências da União Europeia……………………………………………………35
5. As fontes jurídicas do direito da União Europeia………………………………….38
6. O processo legislativo jurídico da União Europeia……………………………….43
7. Flexibilidade na tomada de decisões na União Europeia……………………..47
8. O primado do direito europeu…………………………………………………………….50
9. O efeito direto do direito europeu………………………………………………………51

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Parte I – História da União Europeia
Até pouco depois do fim da Segunda Guerra Mundial, o funcionamento do Estado e a
vida política dos nossos países assentavam ainda, quase exclusivamente, nas
constituições e leis nacionais. Foi nesta base que se criaram regras de conduta
vinculativas, não apenas para os cidadãos e para os partidos nos nossos estados
democráticos, mas também para o Estado e para os seus órgãos.
Na sua globalidade, os esforços de unificação europeia criaram uma mistura
desconcertante de organizações complexas e difíceis de apreender. Assim, coexistem
sem grandes ligações entre si organizações como a OCDE, a NATO, o Conselho da
Europa e a União Europeia.
Estas organizações podem ser divididas em três grupos principais.
As organizações euroatlânticas
As organizações euroatlânticas resultam da aliança concluída após a Segunda Guerra
Mundial entre os Estados Unidos da América e a Europa.
Convenção de Haia – 7 de maio de 1948, Haia
Sob a égide do comité de coordenação internacional dos movimentos para a unificação
da Europa, reúne-se em Haia, Países Baixos, o Congresso Europeu. Presidido por
Winston Churchill e na presença de 800 delegados, os participantes recomendam a
criação de uma Assembleia deliberativa europeia e de um Conselho europeu especial
encarregues de preparar a integração económica e política dos países europeus.
Preconizam igualmente a adoção de uma carta dos direitos do homem e a criação de
um Tribunal de Justiça com vista a assegurar a sua aplicação.
• OECE – Organização Europeia de Cooperação Económica
Fundação: 1948
Objetivos: administrar os recursos disponibilizados pelo Plano Marshall para a
reconstrução da Europa no pós-guerra; promover a cooperação entre países
europeus; discutir uniões aduaneiras e zonas de livre comércio no continente para
promover o desenvolvimento económico
Países: Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Islândia, Itália,
Luxemburgo, Noruega, Portugal, Reino Unido, Suécia, Suíça, Turquia e Alemanha
Ocidental
DEPOIS
OCDE – Organização de Cooperação e de
Económicos
Fundação: 1961
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Países: Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Islândia, Itália,
Luxemburgo, Noruega, Portugal, Reino Unido, Suécia, Suíça, Turquia e Alemanha
Ocidental, Austrália, Alemanha (reunificada), Canadá, Chile, Coreia do Sul, Espanha,
EUA, Estónia, Eslovênia, Eslováquia, Finlândia, Hungria, Israel, Japão, Letónia,
Lituânia (5 de julho de 2018), México, Nova Zelândia, Polónia, Portugal, República
Checa
• NATO – Organização do Tratado do Atlântico
Norte (OTAN)
Fundação: 1949
Objetivos: garantir a segurança, a liberdade e
a independência dos seus estados membros; promover os princípios democráticos
e o desenvolvimento de instituições democráticas na zona do Atlântico Norte;
exercer influências nas decisões geopolíticas da região
Países: 28 países membros, sendo eles 22 Estados-Membros da UE (não incluídos
a Áustria, Chipre, Finlândia, Irlanda, Malta e Suécia), Albânia, Canadá, Estados
Unidos, Islândia, Noruega e Turquia
• UEO – União da Europa Ocidental
Fundação: 1954-2011
Objetivos: reforçar a colaboração em matéria de
política de segurança entre os países europeus
Países: Reino Unido, França, Bélgica, Luxemburgo,
Holanda, RFA, Itália, Portugal, Espanha, Grécia
Comunidade Europeia de Defesa
A Comunidade Europeia de Defesa foi um mecanismo estabelecido no Tratado de
Paris de 1951 que iria coordenar as forças armadas de toda a Europa, na sequência
duma proposta dos Estados Unidos no sentido do rearmamento da Alemanha
Ocidental.
Esta instituição nunca foi ratificada, devido a um voto contrário da
maioria gaulista no parlamento francês, que temia assim perder a sua soberania; a
iniciativa foi abandonada em agosto de 1954.
Atualmente, a NATO, a União Europeia e a União da Europa Ocidental cumprem –
embora com uma visão diferente da de há 50 anos – as funções daquela abortada
organização.

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O Conselho da Europa e a OSCE
As organizações europeias que integram o segundo grupo caracterizam-se por uma
estrutura que possibilita a cooperação do maior número possível de países, tendo sido
deliberadamente acordado que estas organizações não iriam mais além da cooperação
tradicional entre Estados.
• Conselho da Europa
Fundação: 1949
Objetivos: a defesa dos Direitos Humanos; o
desenvolvimento democrático; a estabilidade político-
social na Europa
Países: 47 membros, incluindo todos os atuais Estados-Membros da UE
Nota: Criação da Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos do Homem e
das Liberdades Fundamentais (CEDH), assinada em 1950.
• OSCE – Organização para a Segurança e a
Cooperação na Europa
Fundação: 1994
Objetivos: promoção de medidas geradoras de
confiança entre os países europeus; criação de uma “rede de segurança” para a
resolução pacífica dos conflitos
Países: 57 estados participantes
A União Europeia
O terceiro grupo de organizações europeias é constituído pela União Europeia (UE). A
UE distingue-se das tradicionais associações entre estados por um aspeto fundamental:
reúne países que renunciaram a uma parte da respetiva soberania em favor da UE,
tendo conferido a esta última poderes próprios e independentes dos Estados-
Membros. O exercício destes poderes confere à UE competências para adotar
legislação europeia de efeito equivalente aos atos nacionais.
Declaração Schumann – 9 de maio de 1950
A Declaração Schuman foi proferida pelo ministro francês dos Negócios Estrangeiros,
Robert Schuman, a 9 de maio de 1950. Nela se propunha a criação da Comunidade
Europeia do Carvão e do Aço (CECA) com vista a instituir um mercado comum do
carvão e do aço entre os países fundadores.

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• CECA – Comunidade Europeia do Carvão e do
Aço
Fundação: 1951/52 – 2002
Objetivos: criar um mercado comum no setor da
indústria pesada; adoção de medidas comerciais em
comum para o mercado de carvão e aço; estabelecimento de preços de mercado
em comum; abolição de taxas alfandegárias no comércio de aço e carvão entre os
países membros
Países: Bélgica, França, Itália, Luxemburgo, Países Baixos e RFA
• CEE – Comunidade Económica Europeia
Fundação: 1958 – 1993
Objetivos: estabelecida uma união aduaneira; política unificada de
regulamentação de circulação de capital, bens, produtos e serviços
Países: Bélgica, França, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Reino Unido (deu saída
em 2020), Irlanda, Dinamarca, Grécia, Portugal e Espanha
DEPOIS
UE – União Europeia
Fundação: 1992
Objetivos: desenvolvimento de um mercado financeiro
europeu; desenvolvimento económico e social dos
países; união aduaneira entre países-membros;
unidade política e económica entre os países-membros; livre circulação de pessoas,
bens e mercadorias; aumentar a qualidade de vida, saúde e trabalho dos cidadãos
europeus; reduzir as desigualdades sociais e económicas
Países: Estados-Membros da CEE, Alemanha (reunificada), Áustria, Bulgária, Chipre,
Croácia, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Finlândia, Hungria, Letónia, Lituânia, Malta,
Polónia, República Checa, Roménia, Suécia
• CEEA – Comunidade Europeu da Energia
Atómica
Fundação: 1957
Objetivos: controlar e fomentar o estabelecimento e o
crescimento de indústrias nucleares no espaço da
União Europeia

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Países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Croácia, Dinamarca,
Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda,
Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos, Polónia, República
Checa, Romênia e Suécia
Estados – Membros da União Europeia
• 1957 – Fundadores
o Alemanha (a 3 de outubro de 1990, a RDA juntou-se à RFA)
o Bélgica
o França
o Itália
o Luxemburgo
o Holanda/Países Baixos
• 1973 – 1º alargamento
o Dinamarca
o Irlanda
o Reino unido (saiu da UE em 31 de janeiro de 2020)
• 1981 – 2º alargamento
o Grécia
• 1986 – 3º alargamento
o Portugal
o Espanha
• 1995 – 4º alargamento
o Áustria
o Finlândia
o Suécia
• 2004 – 5º alargamento
o Chipre
o República Checa
o Estónia
o Hungria
o Letónia
o Lituânia
o Malta
o Polónia
o Eslovénia
o Eslováquia

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• 2007 – 6º alargamento
o Bulgária
o Roménia
• 2013 – 7º alargamento
o Croácia
A UE mostra-se aberta à adesão de outros países, desde que estes cumpram os
critérios de adesão formulados pelo Conselho Europeu de Copenhaga em 1993:
• Critérios políticos: a estabilidade das instituições que garantem a democracia, o
Estado de direito, os direitos humanos e o respeito pelas minorias e sua proteção;
• Critérios económicos: a existência de uma economia de mercado que funcione
efetivamente e a capacidade de fazer face à pressão concorrencial e às forças de
mercado da UE;
• Critérios jurídicos: a capacidade para assumir as obrigações decorrentes da adesão
à UE, incluindo a aceitação dos objetivos de união política, económica e monetária.
Tratados da União Europeia
Tratado que institui a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço
Assinatura: 18 de abril de 1951
Entrada em vigor: 23 de julho de 1952
Termo de vigência: 23 de julho de 2002
Finalidade: tornar os setores do carvão e do aço interdependentes para que um país
deixasse de poder mobilizar as suas forças armadas sem que os restantes tivessem
conhecimento, dissipando assim a desconfiança e a tensão existentes entre os países
europeus depois da Segunda Guerra Mundial; o Tratado CECA atingiu o termo de
vigência em 2002
Tratado de Roma – Tratado CEE e EURATOM
Assinatura: 25 de março de 1957
Entrada em vigor: 1 de janeiro de 1958
Finalidade: instituir a Comunidade Económica Europeia (CEE) e a Comunidade
Europeia da Energia Atómica (Euratom)
Principais mudanças: aprofundamento da integração europeia, que passa a abranger
a cooperação económica
Tratado de Fusão – Tratado de Bruxelas
Assinatura: 8 de abril de 1965
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Entrada em vigor: 1 de julho de 1967
Finalidade: simplificar o funcionamento das instituições europeias
Principais mudanças: criação de uma Comissão única e de um Conselho único para as
três Comunidades Europeias (CEE, Euratom, CECA); revogado pelo Tratado de
Amesterdão
Ato Único Europeu
Assinatura: 17 de fevereiro de 1986 (Luxemburgo)/28 de fevereiro de 1986 (Haia)
Entrada em vigor: 1 de julho de 1987
Finalidade: proceder à reforma das instituições para preparar a adesão de Portugal e
de Espanha e simplificar a tomada de decisões na perspetiva do mercado único
Principais mudanças: extensão da votação por maioria qualificada no Conselho
(tornando assim mais difícil que um único país possa vetar uma proposta legislativa),
introdução de processos de cooperação e de comum acordo que conferiram maior
peso ao Parlamento
Tratado da União Europeia – Tratado de Maastricht
Assinatura: 7 de fevereiro de 1992
Entrada em vigor: 1 de novembro de 1993
Finalidade: preparar a União Monetária Europeia e introduzir elementos para uma
união política (cidadania, política comum em matéria de relações externas e assuntos
internos)
Principais mudanças: criação da União Europeia e introdução do procedimento de
codecisão, que confere mais peso ao Parlamento no processo de tomada de decisão;
novas formas de cooperação entre os governos dos países da UE, nomeadamente no
quadro da defesa, da justiça e dos assuntos internos
Tratado de Amesterdão
Assinatura: 2 de outubro de 1997
Entrada em vigor: 1 de maio de 1999
Finalidade: proceder à reforma das instituições para preparar a adesão de mais países
à UE
Principais mudanças: alteração, renumeração dos artigos e consolidação dos Tratados
UE e CEE, reforço da transparência do processo de tomada de decisão (utilização mais
frequente do processo legislativo ordinário)
Tratado de Nice

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Assinatura: 26 de fevereiro de 2001
Entrada em vigor: 1 de fevereiro de 2003
Finalidade: proceder à reforma das instituições de forma a que a UE pudesse continuar
a funcionar eficazmente após o seu alargamento a 25 países
Principais mudanças: métodos para alterar a composição da Comissão e redefinição
do sistema de votação do Conselho
Tratado de Lisboa
Assinatura: 13 de dezembro de 2007
Entrada em vigor: 1 de dezembro de 2009
Finalidade: tornar a UE mais democrática e eficaz e mais apta a fazer face a problemas
mundiais, como as alterações climáticas, permitindo-lhe falar a uma só voz
Principais mudanças: reforço dos poderes do Parlamento Europeu, alteração dos
processos de votação no Conselho, introdução da iniciativa de cidadania europeia,
criação dos cargos de Presidente do Conselho Europeu e de Alto Representante para
os Negócios Estrangeiros e a Política e Segurança, bem como de um novo serviço
diplomático da UE
O Tratado de Lisboa clarifica a repartição de competências:
• Competências da UE
• Competências dos países da UE
• Competências partilhadas
Os objetivos e valores da UE estão consagrados no Tratado de Lisboa e na Carta dos
Direitos Fundamentais da UE.
Tratados da União Europeia atualmente em vigor
Tratado da União Europeia
O Tratado da União Europeia (Tratado UE ou «TUE») está dividido em seis títulos:
“Disposições comuns” (I), “Disposições relativas aos princípios democráticos” (II),
“Disposições relativas às instituições” (III), “Disposições relativas às cooperações
reforçadas” (IV), “Disposições gerais relativas à ação externa da União e disposições
específicas relativas à política externa e de segurança comum” (V) e “Disposições finais”
(VI).
Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia
O Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (Tratado FUE ou TFUE) resulta
do Tratado que institui a Comunidade Europeia. Segue essencialmente a estrutura do
Tratado CE. As mudanças fulcrais são a ação externa da UE e a introdução de novos

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capítulos, sobretudo relativos à política energética, cooperação entre autoridades
policiais e judiciárias em matéria penal, viagens aeroespaciais ou desporto e turismo.
Tratado que institui a Comunidade Europeia da Energia Atómica
O Tratado que institui a Comunidade Europeia da Energia Atómica (Tratado CEEA) foi
apenas modificado pontualmente. As modificações específicas foram incluídas nos
protocolos inseridos em anexo no Tratado de Lisboa.
Nota: Os tratados estabelecem os objetivos da União Europeia, as regras de
funcionamento das suas instituições, o processo de tomada de decisões e a relação
entre a UE e os países que a constituem. Os tratados foram alterados em várias
ocasiões para introduzir reformas nas instituições europeias e atribuir novos domínios
de competência à UE, bem como para permitir a adesão de novos países.
Os tratados são negociados e aprovados por todos os países da UE e, em seguida,
ratificados pelos respetivos Parlamentos nacionais, por vezes, na sequência de um
referendo.
Uma Constituição Europeia
A proposta final do tratado constitucional para a União Europeia, a Constituição
Europeia (oficialmente, Tratado que Estabelece uma Constituição para a Europa) foi
publicada pelo Presidium, da Convenção para o Futuro da Europa, em 18 de
julho de 2003. Após longas negociações, foi acordado – com algumas alterações –
pelo Conselho Europeu em 18 de junho de 2004 em Bruxelas. Foi assinado a 29 de
outubro de 2004, em Roma.
Os objetivos do projeto de Constituição são, sobretudo, simplificar as séries de
sobreposições de Tratados e protocolos que providenciam atualmente a constituição
legal da Europa, e melhorar o funcionamento da União após a entrada de 10 novos
países da Europa de Leste, que se juntaram aos 15 estados-membros da União antes
de 1 de maio de 2004.
As instituições da União Europeia
Artigo 13º
1. A União dispõe de um quadro institucional que visa promover os seus valores,
prosseguir os seus objetivos, servir os seus interesses, os dos seus cidadãos e os dos
Estados-Membros, bem como assegurar a coerência, a eficácia e a continuidade das
suas políticas e das suas ações.
As instituições da União são:
• O Parlamento Europeu
• O Conselho Europeu
• O Conselho
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• A Comissão Europeia (adiante designada "Comissão")
• O Tribunal de Justiça da União Europeia
• O Banco Central Europeu
• O Tribunal de Contas

• Parlamento Europeu (artigo 14º do TUE)


Em síntese:
• Funções: órgão da UE diretamente eleito, com responsabilidades legislativas,
orçamentais e de supervisão
• Membros: 705 deputados (membros do Parlamento Europeu)
• Presidente: David-Maria Sassoli
• Criado: 1952 como Assembleia Comum da Comunidade Europeia do Carvão
e do Aço; 1962 como Parlamento Europeu, primeiras eleições diretas em
1979
• Sede: Estrasburgo (França), Bruxelas (Bélgica), Luxemburgo (Luxemburgo)

O Parlamento Europeu é o órgão legislativo da UE. É diretamente eleito pelos


cidadãos europeus de cinco em cinco anos. As últimas eleições tiveram lugar em
maio de 2019.
o Eleições
As eleições na União Europeia ocorrem a cada cinco anos por sufrágio
universal. Os eurodeputados são eleitos para o Parlamento Europeu, que é
eleito diretamente desde 1979.
o O que faz o Parlamento?
O Parlamento tem três tipos principais de poderes:
▪ Poderes legislativos
⎯ Adota legislação, juntamente com o Conselho da UE, com base em
propostas da Comissão Europeia
⎯ Decide sobre os acordos internacionais
⎯ Decide sobre os alargamentos
⎯ Analisa o programa de trabalho da Comissão e convida-o a propor
legislação
▪ Poderes de supervisão
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⎯ Exerce o controlo democrático de todas as instituições da UE
⎯ Elege o Presidente da Comissão e aprova a Comissão no seu todo; pode
votar uma moção de censura, obrigando a Comissão a demitir-se
⎯ Concede quitação, isto é, aprova a forma como o orçamento da UE é
gasto
⎯ Examina as petições dos cidadãos e abre inquéritos
⎯ Debate a política monetária com o Banco Central Europeu
⎯ Interroga a Comissão e o Conselho
⎯ Realiza observações eleitorais
▪ Poderes orçamentais
⎯ Define o orçamento da UE, juntamente com o Conselho
⎯ Aprova o quadro financeiro plurianual da UE
o Composição
O número de deputados por país é aproximadamente proporcional à
população de cada país. Trata-se de uma proporcionalidade degressiva:
nenhum país pode ter menos de 6 nem mais de 96 deputados e o número total
de deputados não pode exceder 705 (704 mais o Presidente). Os
eurodeputados estão agrupados por filiação política e não por nacionalidade.
O Presidente representa o Parlamento junto das outras instituições europeias
e no exterior e dá a aprovação final ao orçamento da UE.
o A quantos assentos no Parlamento Europeu tem direito cada país?
O número de eurodeputados de cada país foi atualizado, depois da saída do
Reino Unido da União Europeia, no final de janeiro de 2020
Alemanha – 96; França – 79; Itália – 76; Espanha – 59; Polónia – 52; Roménia –
33; Países Baixos – 29; Bélgica – 21; República Checa – 21; Grécia – 21; Hungria
– 21; Portugal – 21; Suécia – 21; Áustria – 19; Bulgária – 17; Dinamarca – 14;
Eslováquia – 14; Finlândia – 14; Irlanda – 13; Croácia – 12; Lituânia – 11; Letónia
– 8; Eslovénia –8; Estónia – 7; Chipre – 6; Luxemburgo – 6; Malta – 6
o Como funciona o Parlamento?
O trabalho do Parlamento comporta duas etapas principais:
▪ Comissões parlamentares – preparação da legislação
O Parlamento conta com 20 comissões e duas subcomissões, todas
responsáveis por um domínio político específico. As comissões examinam

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as propostas de legislação e os deputados e os grupos políticos podem
apresentar alterações ou rejeitar a proposta. Estas questões são
igualmente debatidas nos grupos políticos.
▪ Sessões plenárias – aprovação da legislação
É na sessão plenária que todos os deputados se reúnem no hemiciclo para
proceder à votação final do projeto de legislação e das alterações
propostas. Normalmente, estas sessões têm lugar em Estrasburgo, durante
quatro dias por mês, mas, por vezes, são realizadas sessões adicionais em
Bruxelas.
• Conselho Europeu (artigo 15º do TUE)
Em síntese:
• Funções: define as orientações e prioridades políticas gerais da União
Europeia
• Membros: Chefes de Estado ou de Governo dos países da UE, Presidente do
Conselho Europeu, Presidente da Comissão Europeia
• Presidente: Charles Michel
• Instituído: 1974 (instância informal), 1992 (estatuto formal), 2009
(instituição da UE)
• Sede: Bruxelas (Bélgica)

O Conselho Europeu reúne os Chefes de Estado e de Governo dos Estados-


Membros para definir a agenda política da UE. Representa o nível mais elevado de
cooperação política entre os países da UE.
O Conselho Europeu, que é uma das sete instituições oficiais da UE, reveste a forma
de cimeiras dos dirigentes da UE (geralmente trimestrais), que são presididas por
um presidente permanente.
o O que faz o Conselho Europeu?
▪ Decide sobre as orientações gerais e as prioridades políticas, mas não
aprova legislação
▪ Trata de questões complexas e sensíveis que não podem ser resolvidas a
níveis inferiores de cooperação intergovernamental
▪ Define a política externa e de segurança comum da UE, tendo em conta os
interesses estratégicos e as implicações em termos de defesa

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▪ Designa e nomeia candidatos a determinados altos cargos nas instituições
da UE, como a presidência do Banco Central Europeu e da Comissão
Em relação a cada questão agendada, o Conselho Europeu pode:
▪ Instar a Comissão Europeia a elaborar uma proposta
▪ Transmitir a questão ao Conselho da UE
o Composição
O Conselho Europeu é composto pelos Chefes de Estado ou de Governo de
todos os países da UE, pelo Presidente do Conselho Europeu e pelo Presidente
da Comissão Europeia.
O Presidente do Conselho Europeu, eleito pelo próprio Conselho Europeu com
um mandato renovável de dois anos e meio, convoca e preside às reuniões.
Entre outras funções, o Presidente do Conselho Europeu representa a UE
no exterior.
o Como funciona o Conselho Europeu?
O Conselho reúne geralmente quatro vezes por ano – mas o Presidente pode
convocar reuniões extraordinárias para discutir questões urgentes.
As decisões são geralmente tomadas por consenso e, em certos casos,
por unanimidade ou maioria qualificada. Só os Chefes de Estado ou de
Governo têm direito de voto.
• Conselho (artigo 16º do TUE)
Em síntese:
• Funções: voz dos governos dos países UE, aprova a legislação e coordena as
políticas
• Membros: ministros dos governos de cada país da UE, em função da matéria
agendada
• Presidente: a presidência é exercida rotativamente pelos países da UE, por
períodos de 6 meses
• Instituído: 1958 (como Conselho da Comunidade Económica Europeia)
• Sede: Bruxelas (Bélgica)

No Conselho da UE, também conhecido informalmente como Conselho, os


ministros dos governos de cada país da UE reúnem-se para debater, alterar e
aprovar legislação, bem como para coordenar políticas. Os ministros estão

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habilitados a assumir compromissos em nome dos respetivos governos em relação
às medidas aprovadas nas reuniões.
O Conselho da UE é, juntamente com o Parlamento Europeu, o principal órgão de
decisão da UE.
Não confundir esta instituição com:
• Conselho Europeu – uma cimeira trimestral que reúne os Chefes de Estado e
de Governo da UE para fixar as grandes linhas da política da UE
• Conselho da Europa – não é uma instituição da UE
o O que faz o Conselho?
▪ Negoceia e adota a legislação europeia, juntamente com o Parlamento
Europeu, com base em propostas da Comissão Europeia
▪ Coordena as políticas dos países da UE
▪ Define a política externa e de segurança, com base nas orientações
do Conselho Europeu
▪ Celebra acordos entre a UE e outros países ou organizações internacionais
▪ Aprova o orçamento da UE em conjunto com o Parlamento Europeu
o Composição
O Conselho não tem membros fixos, reunindo-se com 10 formações
diferentes em função da área política agendada. Cada país envia um ministro
de tutela da área em questão.
Por exemplo, quando o Conselho se reúne para debater assuntos económicos
e financeiros (o «Conselho ECOFIN»), é o Ministro das Finanças de cada país
que estará presente.
▪ Quem preside às reuniões
O Conselho em que se reúnem os Ministros dos Negócios Estrangeiros é
sempre presidido pelo Alto-Representante para os Negócios Estrangeiros e
a Política de Segurança. Todas as outras reuniões do Conselho são
presididas pelo ministro competente do país que exerce a presidência
rotativa da UE.
Por exemplo, qualquer reunião do Conselho Ambiente que decorra durante
o período em que Portugal assume a Presidência é presidida pelo Ministro
português responsável pela pasta do ambiente.
A coerência dos trabalhos é garantida pelo Conselho Assuntos Gerais, que
é apoiado pelo do comité dos representantes permanentes, composto

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pelos Representantes Permanentes dos Estados-Membros junto da UE,
que têm o estatuto de embaixadores.
▪ Países de zona euro
Os países da zona euro coordenam as respetivas políticas económicas no
âmbito do Eurogrupo, composto pelos ministros da economia e das
finanças. O Eurogrupo reúne na véspera das reuniões do Conselho ECOFIN.
Os acordos alcançados nas reuniões do Eurogrupo são objeto de uma
decisão oficial no Conselho ECOFIN do dia seguinte, sendo votados
unicamente pelos ministros dos países do Eurogrupo.
o Como funciona o Conselho?
▪ Os ministros da UE reúnem-se em sessão pública para debater ou votar
projetos de atos legislativos.
▪ Para serem aprovadas, as decisões requerem geralmente maioria
qualificada :
⎯ 55% dos países (o que, com os atuais 27 Estados-Membros, equivale
a 15 países)
⎯ que representem, pelo menos, 65% da população total da UE
▪ Pode assistir em direto às sessões públicas do Conselho em todas as línguas
da UE. Quando uma sessão do Conselho é pública, as
respetivas atas e resultados das votações também são públicos.
Para bloquear uma decisão são precisos, pelo menos, 4 países (que
representem, pelo menos, 35% da população total da UE).
▪ Exceção – assuntos sensíveis, como a política externa e a fiscalidade exigem
a unanimidade (votos favoráveis de todos os países)
▪ A maioria simples é suficiente quando se vota sobre questões processuais
e administrativas
COREPER I
O COREPER é a principal instância preparatória do Conselho.
O COREPER I é composto pelos representantes permanentes adjuntos de cada país.
As reuniões do COREPER I são presididas pelo representante permanente adjunto
do país que exerce a presidência do Conselho dos Assuntos Gerais.
Papel
O COREPER I prepara os trabalhos de seis formações do Conselho:
• Agricultura e Pescas (apenas questões financeiras ou medidas técnicas sobre
legislação veterinária, fitossanitária ou alimentar)
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• Competitividade
• Educação, Juventude, Cultura e Desporto
• Emprego, Política Social, Saúde e Consumidores
• Ambiente
• Transportes, Telecomunicações e Energia
Os trabalhos do COREPER I são preparados pelo "Grupo Mertens". Este grupo
informal ajuda a esboçar uma primeira ideia das posições que as delegações dos
vários Estados-Membros irão assumir na reunião do COREPER.
O que é o COREPER?
"COREPER" é o acrónimo de "Comité de Representantes Permanentes dos
Governos dos Estados-Membros da União Europeia". O papel e as diferentes
formações do COPERER estão explicados no artigo 240º, nº 1, do TFUE.
O COREPER é a principal instância preparatória do Conselho. Todos os pontos da
ordem do dia do Conselho (exceto algumas matérias agrícolas) têm de ser
analisados primeiro pelo COREPER, salvo decisão em contrário do Conselho.
O COREPER não é um órgão de decisão da UE e qualquer acordo por ele alcançado
pode ser posto em causa pelo Conselho, que é o único a poder tomar decisões.
Principais funções
• Coordena e prepara os trabalhos das diversas formações do Conselho
• Assegura a coerência das políticas da UE
• Negoceia acordos e compromissos que são seguidamente apresentados ao
Conselho, para adoção
Composição e formações
O COREPER é composto pelos "representantes permanentes" de cada Estado-
Membro, que são, na realidade, os embaixadores de cada um destes países junto
da UE. Cada membro do COREPER exprime a posição do seu governo.
As duas formações do COREPER (COREPER I e COREPER II) reúnem-se todas as
semanas.
• Comissão Europeia (artigo 17º do TUE)
Em síntese:
• Funções: defende os interesses gerais da UE, mediante a apresentação de
propostas legislativas e a execução da legislação, das políticas e do
orçamento da UE
• Membros: uma equipa (“colégio”) de Comissários, um por cada país da UE

18
• Presidente: Ursula von der Leyen
• Instituída: 1958
• Sede: Bruxelas (Bélgica)

A Comissão Europeia é o órgão executivo da UE, sendo politicamente


independente. É responsável pela elaboração de propostas de novos atos
legislativos europeus e pela execução das decisões do Parlamento Europeu e do
Conselho da UE.
o O que faz a Comissão?
▪ Propõe novas leis
A Comissão é a única instituição da UE que apresenta legislação para
adoção pelo Parlamento e pelo Conselho com o objetivo de:
⎯ Proteger os interesses da UE e dos seus cidadãos em questões que
podem ser tratadas com maior eficácia ao nível europeu do que ao nível
nacional
⎯ Resolver questões técnicas específicas mediante consulta de peritos e
do púbico em geral
▪ Gere as políticas europeias e distribui os fundos da UE
⎯ Define as prioridades de despesa da UE juntamente com o Conselho e
o Parlamento
⎯ Elabora orçamentos anuais que devem ser aprovados pelo Parlamento
e pelo Conselho
⎯ Controla as despesas, que são verificadas pelo Tribunal de Contas
▪ Zela pelo cumprimento do direito europeu
⎯ Juntamente com o Tribunal de Justiça, garante a aplicação da legislação
da UE em todos os Estados-Membros
▪ Representa a UE a nível internacional
⎯ É a voz de todos os países da UE nas instâncias internacionais,
designadamente nas áreas da política comercial e da ajuda humanitária
⎯ Negoceia acordos internacionais em nome da UE
o Composição

19
A direção política é exercida por uma equipa de 27 Comissários (um de cada
país da UE), liderada pelo Presidente da Comissão, que decide da repartição
das pastas políticas pelos Comissários.
O Colégio de Comissários é constituído pelo presidente da Comissão, oito vice-
presidentes, incluindo três vice-presidentes executivos e o alto representante
da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, e 18
comissários, cada um responsável por um pelouro específico.
A gestão quotidiana da Comissão é assegurada pelo respetivo pessoal (juristas,
economistas, etc.) organizado em direções-gerais (DG), responsáveis por áreas
políticas específicas.
▪ Nomeação do Presidente
O candidato é apresentado pelos Chefes de Estado e de Governo reunidos
no Conselho Europeu, tendo em conta os resultados das eleições para o
Parlamento Europeu. Para ser eleito, o Presidente precisa do apoio da
maioria dos deputados do Parlamento Europeu.
▪ Escolha da equipa
O candidato a Presidente seleciona potenciais Vice-Presidentes e
Comissários com base em propostas dos países da UE. A lista dos
selecionados tem de ser aprovada pelos Chefes de Estado e de Governo no
âmbito do Conselho Europeu.
Cada um dos selecionados faz uma exposição perante o Parlamento
Europeu e responde às perguntas dos deputados. A equipa de Comissários
é depois submetida à votação do Parlamento Europeu. Por fim, o Conselho
Europeu, deliberando por maioria qualificada, procede à nomeação.
O mandato da atual Comissão termina em 31 de outubro de 2024.
o Como funciona a Comissão?
▪ Planeamento estratégico
O Presidente define as grandes orientações políticas da Comissão que
depois permitem aos Comissários delinear objetivos estratégicos e elaborar
o programa de trabalho anual.
▪ Processo de decisão colegial
As decisões são tomadas com base na responsabilidade coletiva. Todos os
Comissários estão em pé de igualdade no processo de decisão e respondem
coletivamente pelas decisões tomadas. Não têm poderes para tomar
decisões individualmente, salvo quando especificamente autorizados, em
determinadas situações.
20
Os Vice-Presidentes representam o Presidente e coordenam o trabalho nas
respetivas áreas de competência, juntamente com vários Comissários. São
definidos projetos prioritários sobre os quais os Comissários trabalham em
conjunto, embora com flexibilidade.
Os Comissários apoiam os Vice-Presidentes na apresentação de propostas
ao Colégio. Em geral, as decisões são tomadas por consenso, mas também
se pode proceder a votações. Quando assim acontece, as decisões são
tomadas por maioria simples, dispondo cada Comissário de um voto.
O assunto em questão é remetido para a Direção-Geral competente, cujo
diretor-geral presta contas ao comissário responsável. O processo dá
geralmente origem a projetos de propostas legislativas.
Tais projetos são apresentados aos Comissários nas suas reuniões
semanais, após o que se tornam propostas oficiais, sendo então enviadas
ao Conselho e ao Parlamento para o passo seguinte do processo legislativo
da UE.
• Tribunal de Justiça da União Europeia (artigo 19º do TUE)
Em síntese:
• Missão: velar para que o direito europeu seja interpretado e aplicado da
mesma forma em todos os países da UE e garantir que as instituições e os
países da UE respeitam o direito europeu
• Membros:
o Tribunal de Justiça: um juiz de cada país da UE e 11 advogados-gerais
o Tribunal Geral: dois juízes por cada país da UE
• Criado: 1952
• Sede: Luxemburgo

O Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) interpreta o direito europeu para


garantir que este é aplicado da mesma forma em todos os países da UE e delibera
sobre diferendos jurídicos entre governos nacionais e instituições europeias.
Em determinadas circunstâncias, os particulares, empresas ou organizações que
considerem que os seus direitos foram violados por uma instituição europeia
também podem recorrer ao TJUE.
o O que faz o TJUE?
O TJUE pronuncia-se sobre os processos que são submetidos à sua apreciação.
São os seguintes os tipos de processos mais comuns:
21
▪ Interpretação da legislação (decisões prejudicais) – os tribunais nacionais
dos países da UE devem velar pela correta aplicação da legislação da UE,
mas esta pode ser interpretada de maneira diferente consoante o país. Se
uma jurisdição tem dúvidas sobre a interpretação ou a validade de um ato
legislativo europeu, pode pedir esclarecimentos ao Tribunal. O mesmo
mecanismo pode ser utilizado para determinar se uma dada lei ou prática
nacional é compatível com o direito europeu.
▪ Aplicação da legislação (ações por incumprimento) – processo
desencadeado quando um país da UE não respeita o direito europeu. Este
tipo de ação pode ser iniciado pela Comissão Europeia ou por um país da
UE. Se o incumprimento é constatado, o país deve imediatamente corrigir
a situação, caso contrário corre o risco de lhe ser intentada uma segunda
ação e de lhe ser imposta uma multa.
▪ Anulação de atos legislativos europeus (recurso de anulação) – se
considerarem que um ato legislativo viola os tratados da UE ou os direitos
fundamentais, o Conselho da UE, a Comissão Europeia ou, em certos casos,
o Parlamento Europeu, podem solicitar ao Tribunal a anulação do ato em
questão.
Um particular pode também solicitar ao Tribunal a anulação de um ato da
UE que lhe diga diretamente respeito.
▪ Obrigação de ação (ações por omissão) – o Parlamento, o Conselho e a
Comissão são instados a agir em determinadas circunstâncias. Se não o
fizerem, os governos nacionais, as outras instituições europeias ou (em
certos casos) os particulares podem recorrer ao Tribunal.
▪ Aplicação de sanções às instituições europeias (ações por indemnização) –
qualquer pessoa ou empresa cujos interesses tenham sido lesados na
sequência de ação ou inação da UE ou do seu pessoal pode recorrer ao
Tribunal.
o Composição
O Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) é composto por 2 jurisdições:
▪ O Tribunal de Justiça, que trata dos pedidos de decisões a título prejudicial
proveniente das jurisdições nacionais, bem como de certas ações de
anulação e de recursos.
▪ O Tribunal Geral, que trata dos recursos de anulação interpostos por
particulares, empresas e, em certos casos, governos nacionais. Na prática,
isto significa que este tribunal trata essencialmente processos relacionados

22
com direito da concorrência, auxílios estatais, comércio, agricultura e
marcas registadas.
Os juízes e os advogados-gerais são nomeados pelos governos dos países da
UE por períodos renováveis de seis anos. Em cada uma das jurisdições, os juízes
escolhem um Presidente que é investido no cargo por um período renovável
de três anos.
o Como funciona o TJUE?
No Tribunal de Justiça, para cada processo é designado um juiz (juiz-relator) e
um advogado-geral. Os processos são tratados em duas fases:
▪ Fase escrita
⎯ As partes envolvidas começam por entregar uma declaração escrita ao
Tribunal, podendo as observações ser também remetidas às
autoridades nacionais, às instituições europeias e por vezes aos
cidadãos individualmente.
⎯ Todas estas informações são reunidas e resumidas pelo juiz-relator e
analisadas durante a sessão plenária do Tribunal que decide:
→ O número de juízes que irão tratar do processo e que será de três,
cinco ou 15 (todo o Tribunal), consoante a importância e a
complexidade do assunto. A maior parte dos processos são
entregues a cinco juízes, sendo raras as situações em que um
processo é tratado por todo o Tribunal.
→ Da necessidade de uma audição (fase oral) e do parecer do
advogado-geral.
▪ Fase escrita – audição pública
⎯ Durante a audição, os advogados de ambas as partes apresentam as
suas alegações aos juízes e ao advogado-geral, que podem fazer as
perguntas que entenderem pertinentes.
⎯ Quando o Tribunal considera que é necessário o parecer do advogado-
geral, o mesmo é emitido algumas semanas após a audição.
⎯ Os juízes deliberam e pronunciam a sentença.
▪ As audiências do Tribunal Geral processam-se de forma semelhante, salvo
que a maior parte dos processos são entregues a três juízes e não há
intervenção de um advogado-geral.
• Banco Central Europeu (artigos 129º e 130º do TFUE)

23
Em síntese:
• Funções: gerir o euro, assegurar a estabilidade dos preços e conduzir a
política económica e monetária da UE
• Presidente: Christine Lagarde
• Membros: Presidente e Vice-Presidente do BCE e governadores dos bancos
centrais de todos os países da UE
• Criado: 1998
• Sede: Frankfurt (Alemanha)

• Tribunal de Contas (artigos 285º e 286º do TFUE)


Em síntese:
• Funções: controlar a cobrança e a utilização dos fundos da UE e ajudar a
melhorar a gestão financeira da UE
• Presidente: Klaus-Heiner Lehne
• Membros: 1 de cada país da UE
• Criado: 1977
• Sede: Luxemburgo

NÃO SÃO INSTITUIÇÕES DA UE


• Serviço Europeu de Ação Externa (SEAE) (artigo 18º do TFUE)
Em síntese:
• Funções: gestão das relações diplomáticas da UE com os países não
pertencentes à UE e condução da política externa e de segurança europeia
• Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de
Segurança: Josep Borrell
• Criado: 2011
• Sede: Bruxelas (Bélgica)

O Serviço Europeu para a Ação Externa (SEAE) é o serviço diplomático da UE. O seu
objetivo é garantir uma maior coerência e eficácia da política externa europeia e,
assim, reforçar a influência da Europa a nível mundial.

24
o O que faz o SEAE?
▪ Apoia o Alto Representante da UE na condução da política externa e de
segurança da UE
▪ Gere as relações diplomáticas e as parcerias estratégicas com países que
não pertencem à UE
▪ Colabora com os serviços diplomáticos nacionais dos países da UE, as
Nações Unidas e outras potências mundiais
Exemplos práticos da ação do SEAE:
▪ Promove a paz através de apoio político, económico e prático
▪ Garante a segurança ao abrigo da política comum de segurança e defesa
▪ Mantém boas relações com os países vizinhos mais próximos da UE no
quadro da política europeia de vizinhança
▪ Presta ajuda ao desenvolvimento e ajuda humanitária e dá resposta a
situações de crise
▪ Contribui para a luta contra as alterações climáticas e trata questões
relacionadas com os direitos humanos
o Composição
O Serviço Europeu para a Ação Externa é dirigido pelo responsável pela política
externa da UE ou Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros
e a Política de Segurança. É composto:
▪ em Bruxelas, por pessoal especializado transferido do Conselho da UE,
da Comissão Europeia e dos serviços diplomáticos dos países da UE
▪ em todo o mundo, por uma rede de delegações da UE, que funcionam
como uma espécie de embaixada da UE.
o Como funciona o SEAE?
O Alto Representante é também Vice-Presidente da Comissão Europeia.
Representa a política externa e de segurança da UE em todo o mundo,
coordena o trabalho da Comissão Europeia em matéria de relações externas
da UE e preside às reuniões dos ministros dos negócios estrangeiros, da defesa
e do desenvolvimento. O Alto Representante/Vice-Presidente é responsável
pela execução da política externa e de segurança da UE, em colaboração com
os países da UE e utilizando recursos nacionais e europeus, contribuindo para
garantir a coerência da política externa da UE.

25
No exterior das suas fronteiras, a UE é representada por gabinetes nos
diferentes países – as delegações da UE – que têm um papel semelhante ao de
uma embaixada.
• Comité das Regiões (artigo 305º do TFUE)
Em síntese:
• Função: órgão consultivo que representa as autoridades locais e regionais
europeias
• Presidente: Apostolos Tzitzikostas
• Criado: 1994
• Sede: Bruxelas (Bélgica)

• O Banco Europeu de Investimento (artigo 308º do TFUE)


Em síntese:
• Funções: financiamento de projetos que contribuam para a realização dos
objetivos da UE, tanto dentro como fora da UE
• Presidente: Werner Hoyer
• Conselho de Administração: composto por um membro de cada país da
União Europeia, mais um da Comissão Europeia
• Criado: 1958
• Sede: Luxemburgo

26
Parte II – Direito da União Europeia
Artigo 2º do TUE (valores da União)
A União funda-se nos valores do respeito pela dignidade humana, da liberdade, da democracia, da
igualdade, do Estado de direito e do respeito pelos direitos do Homem, incluindo os direitos das
pessoas pertencentes a minorias. Estes valores são comuns aos Estados-Membros, numa
sociedade caracterizada pelo pluralismo, a não discriminação, a tolerância, a justiça, a
solidariedade e a igualdade entre homens e mulheres.
Artigo 3º do TUE (objetivos da União)
1. A União tem por objetivo promover a paz, os seus valores e o bem-estar dos seus povos.
2. A União proporciona aos seus cidadãos um espaço de liberdade, segurança e justiça sem
fronteiras internas, em que seja assegurada a livre circulação de pessoas, em conjugação com
medidas adequadas em matéria de controlos na fronteira externa, de asilo e imigração, bem como
de prevenção da criminalidade e combate a este fenómeno.
3. A União estabelece um mercado interno. Empenha-se no desenvolvimento sustentável da
Europa, assente num crescimento económico equilibrado e na estabilidade dos preços, numa
economia social de mercado altamente competitiva que tenha como meta o pleno emprego e o
progresso social, e num elevado nível de proteção e de melhoramento da qualidade do ambiente.
A União fomenta o progresso científico e tecnológico.
A União combate a exclusão social e as discriminações e promove a justiça e a proteção sociais, a
igualdade entre homens e mulheres, a solidariedade entre as gerações e a proteção dos direitos
da criança.
A União promove a coesão económica, social e territorial, e a solidariedade entre os Estados-
Membros.
A União respeita a riqueza da sua diversidade cultural e linguística e vela pela salvaguarda e pelo
desenvolvimento do património cultural europeu.
4. A União estabelece uma união económica e monetária cuja moeda é o euro.
5. Nas suas relações com o resto do mundo, a União afirma e promove os seus valores e interesses
e contribui para a proteção dos seus cidadãos. Contribui para a paz, a segurança, o
desenvolvimento sustentável do planeta, a solidariedade e o respeito mútuo entre os povos, o
comércio livre e equitativo, a erradicação da pobreza e a proteção dos direitos do Homem, em
especial os da criança, bem como para a rigorosa observância e o desenvolvimento do direito
internacional, incluindo o respeito dos princípios da Carta das Nações Unidas.

Princípios e Valores da União Europeia


Os Princípios e Valores da União Europeia não devem ser vistos apenas como produto
de uma abstração normativista. Eles não são apenas princípios, são verdadeiros valores.
São princípios estruturantes do conjunto da União e do seu sistema jurídico. Formam
o núcleo da Constituição Material da União Europeia (são os princípios que dão corpo
às opções fundamentais da União e aos valores que ela escolheu para regerem a sua
existência e a sua atividade). Fazem parte da ordem pública comunitária e por isso,
27
ocupam o lugar cimeiro entre as fontes do Direito Comunitário e constituem
autênticos limites materiais à revisão dos tratados. Portanto, eles concentram uma
força jurídica muito grande.
Os Princípios são:
• Princípio da Integração
O Princípio da Integração é o mais importante princípio constitucional da União.
Isto por que a União e a sua Ordem Jurídica têm por objetivo primordial fomentar
a criação de interesses comuns entre os Estados, valorizá-los e ampliá-los. Visa
assim, a criação entre os Estados (e entre eles e os indivíduos) uma margem tão
ampla quanto possível de solidariedade que impõe a criação de um poder
integrado.
Este princípio leva ao surgimento de outros dois princípios como expressões dessa
integração, são eles o Princípio da Efetividade (ele postula que o Direito da União
Europeia seja aplicado de modo eficaz, com respeito pelas características próprias
de cada Estado) e o Princípio da Uniformidade (este impõe que a Ordem Jurídica
da União seja interpretada e aplicada de modo uniforme no espaço comunitário e
na ordem interna de todos os Estados membros).
• Princípio do Respeito pela Identidade Nacional dos Estados-Membros
O Princípio do Respeito pela Identidade Nacional dos Estados-Membros tem
estado presente na integração europeia desde o seu início. Jean Monnet afirmava
que “a Europa não se fará sem os Estados e muito menos contra os Estados”. Este
princípio quer então dizer que no processo evolutivo da integração será preservada
e respeitada a identidade própria de cada Estado.
“Identidade Nacional” significa identidade política, jurídica e cultural. Sendo assim,
a União deve respeitar o direito de cada Estado membro definindo a sua
organização política e administrativa interna, e a especificidade dos Direitos
nacionais dos Estados membros e a língua, a História, as tradições e a cultura de
cada um.
Os princípios de Integração e Respeito pela Identidade Nacional dos Estados-
Membros completam-se. Embora os dois aparentem à primeira vista ideias opostas,
o motor de integração europeia reside, exatamente, na constante tensão dialética
entre a integração e a interestadualidade, isto é, uma relação de integração e
cooperação.
• Princípio do Respeito pela Diversidade Cultural dos Povos Europeus
O Princípio do Respeito pela Diversidade Cultural dos Povos Europeus, em parte,
concretiza o princípio do Respeito pela Identidade Nacional dos Estados membros,

28
mas refere-se mais especificamente aos “povos europeus” e não aos Estados
membros, e portanto tem um valor acrescido. Ao falar em “povos” e não em
Estados, quer-se dizer que a União Europeia pretende preservar a cultura própria,
não apenas dos Estados, como também dos outros grupos dentro dos Estados.
Este princípio quer dizer que a União não se fará sobre a unicidade cultural dos
diversos povos europeus, mas sobre o seu pluralismo. Ou seja, a União respeitará
a especificidade das culturas dos seus povos e, portanto, a sua diversidade.
Este princípio pretende, então, que haja uma união não só de Estados, mas de
Estados e de povos, todos eles devidamente respeitados quanto à sua
especificidade histórica e cultural e reconhecidos os seus direitos a preservarem a
sua diversidade.
• Princípio da Solidariedade
O Princípio da Solidariedade constitui um corolário do princípio de integração.
Constituem, simultaneamente, a razão de ser e a característica determinante da
União e do seu sistema jurídico.
A solidariedade referida aqui é a solidariedade entre os Estados e entre estes e a
União. Quer dizer que existe um interesse geral, ou seja, um interesse global da
União que não deve ser confundido com a soma dos interesses individuais dos
Estados membros, e que este deve prevalecer sobre esses interesses particulares.
Os Estados membros devem aceitar esse contrato social, segundo o qual, o
interesse da União sobrepõe aos interesses específicos dos Estados, sendo esses
“sacrifícios” compensados pelas vantagens que daí advêm o interesse de todos.
• Princípio da Lealdade Comunitária
O Princípio da Lealdade Comunitária consagra a obrigação de lealdade, fidelidade
ou boa-fé comunitária análoga que deve vigorar nos Estados membros. Ele está
intimamente ligado ao princípio de solidariedade.
Este princípio assume importância vital na definição das relações entre a União,
por um lado, as Comunidades e por outro, os Estados membros.
Impõe uma obrigação negativa, quando proíbe que os Estados ponham em perigo
a realização dos objetivos dos Tratados, e uma dupla obrigação positiva, que se
desdobra numa obrigação de resultados (a obrigação dos Estados de tomar todas
as medidas gerais ou especiais capazes de assegurar o cumprimento das
obrigações decorrentes dos Tratados ou resultantes de atos das Instituições das
Comunidades) e na obrigação de meio (os Estados devem facilitar à Comunidade
o cumprimento da sua missão).
• Princípio do Gradualismo
29
O Princípio de Gradualismo diz que o processo de integração deve ser paulatino e
progressivo, ou seja, deve ser por etapas de modo a não pôr em risco todo o
processo de integração, e por outro lado que este processo não deve ser
interrompido.
Uma outra vertente do princípio de gradualismo estabelece que o processo de
integração, dado que está consumada a integração económica, deverá ser
completada por um grau análogo de integração política. Mas, não deixa claro até
que nível esta integração política deve alcançar.
• Princípio do Respeito pelo Adquirido Comunitário
O Princípio do Respeito pelo Adquirido Comunitário decorre do princípio de
lealdade comunitária, do princípio de gradualismo e do carácter dinâmico e
evolutivo que este segundo impõe à União.
Postula que o processo de integração deve ser considerado, a todo o momento,
como definitivamente consolidado e, portanto, tem de ser encarado como jurídica
e politicamente irreversível. Ou seja, pode-se progredir na integração, mas não
pode regredir nela.
• Princípio da Democracia
O Princípio da Democracia enforma toda a União e a sua Ordem Jurídica.
Este princípio aparece dividido em várias ideias-motoras: a Democracia
propriamente dita, a liberdade, o respeito pelos direitos fundamentais e o Estado
de Direito.
A ideia de democracia quer dizer, na integração europeia, paz. Mas este princípio
também quer dizer que a União defende uma Democracia política, económica e
social.
• Princípio da Subsidiariedade
O Princípio da Subsidiariedade vem fundamentalmente disciplinar o exercício das
atribuições concorrentes (aquelas que tanto podem ser exercidas por ela como
pelos Estados membros), dizendo que a União só pode exercer essas atribuições
se demonstrar que os Estados não são capazes de as exercer de modo suficiente e
que a União é capaz de o fazer melhor a fim de alcançar os objetivos dos Tratados.
Assim, este principio dá aos Estados a oportunidade de manter e reforçar a sua
especificidade e, concretamente, a especificidade do seu ordenamento jurídico e
dos princípios e valores que o regem.
É um princípio jurídico com grande alcance político pois adota uma filosofia
descentralizadora nas relações entre a União e os Estados, ampliando a sua
soberania. Este princípio também relativiza o âmbito da soberania que cada Estado
30
membro vai conservando no processo de integração europeia (ele guardará mais
soberania quanto mais capaz for de exercer sozinho as atribuições concorrentes e
assim puder dispensar a intervenção da Comunidade).
Importância: é uma das vias mais importantes para a preservação e a defesa da
identidade nacional dos Estados membros; vem fazer da Comunidade uma União
de Estados, de povos e de cidadãos.
• Princípio da Proporcionalidade
O Princípio da Proporcionalidade, de acordo com Miguel Gorjão Henriques, “está
consagrado expressamente no Tratado da Comunidade Europeia como o princípio
limitativo da ação desta, através dos seus órgãos - Artigo 5º/3: ‘A Ação da
comunidade não deve exceder o necessário para atingir os objetivos do presente
Tratado.’ E esteve, desde muito cedo, presente na jurisprudência do Tribunal de
Justiça como o princípio geral do direito comunitário.”
A ideia de proporcionalidade aqui é, simultaneamente, de necessidade de medida
e proibição do seu excesso.
• Princípio da Integração Diferenciada
O Princípio da Integração Diferenciada permite que alguns Estados possam avançar
na integração mais depressa que outros.
O problema levantado por esse princípio: com os sucessivos alargamentos da
União, aumentou o fosso que separa os Estados no grau do seu desenvolvimento,
pois nem todos eles estão em condições de manter o mesmo ritmo de integração.
É necessário que se atenuem os inconvenientes da diferenciação da integração
para a coesão económica e social no seio da União e para a aplicação do princípio
da uniformidade da Ordem Jurídica Comunitária.
• Princípio do Equilíbrio Institucional
O Princípio do Equilíbrio Institucional pretende significar que os Tratados devem
manter uma relação de pesos e contrapesos (sistema que pretende respeitar nas
relações entre os vários órgãos um equilíbrio entre os vários interesses em
presença) e, por conseguinte, os órgãos devem respeitar reciprocamente a sua
competência e a relação que entre eles se estabelece por via dos Tratados no
processo de decisão na União.
• Princípio da Transparência
O Princípio de Transparência postula que na União as decisões deverão ser
tomadas de uma forma tão aberta quanto possível.

31
Este princípio, assim enunciado, ultrapassa bastante as matérias específicas da
informação e do acesso a documentos para englobar o conjunto global do exercício
do poder político na União. Por isso à quem o chame de “princípio da abertura”.
• Princípio da Economia Social de Mercado
O Princípio da Economia Social de Mercado apresenta como corolários a livre
circulação e a concorrência.
Na União Europeia, a Economia Social de Mercado é marcada pela sua
componente social pelos limites colocados às quatro liberdades e pelos
mecanismos previstos para se evitar que se falseie a concorrência.
• Princípio da Não-Discriminação
O Princípio de Não-Discriminação diz que, salvo razões objetivamente
demonstradas, situações idênticas ou análogas não podem ser tratadas de modo
diferente.
Aqui prefere-se dizer “não-discriminação” no lugar de “igualdade”, já que os
Estados não estão em pé de igualdade no Direito Comunitário.
Carta dos Direitos Fundamentais
Importância do Conteúdo da Carta
Constitui o mais ambicioso e elaborado texto jurídico sobre Direitos Internacionais do
Homem no plano Internacional. Sendo o primeiro texto que compila simultaneamente
direitos civis, políticos, sociais, culturais e económicos. O que leva a vantagem de
amplitude dos direitos reconhecidos pela Carta e afirmação da incindibilidade desses
direitos.
A Carta demonstra, assim, a sua superioridade em relação aos outros textos clássicos
do Direito Internacional sobre o Direito do Homem. Ela sozinha representa o somatório
da Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948) e dos Pactos das Nações
Unidas (1966), com a vantagem de atualizar a formulação, o conteúdo e o alcance dos
direitos elencados nesses textos e completa-os com “novos direitos”. Ela também,
sozinha, vai muito além da Convenção Europeia dos Direitos do Homem e dos seus
Protocolos (estes não abrangem os direitos de forma tão completa quanto a Carta –
apenas direitos civis e políticos – e também tem falhas quanto à atualização).
O arrolamento dos direitos pela Carta encontra-se valorizado pelo facto dos direitos
fundamentais serem apresentados como emanação de valores-chave, cada um deles
vertidos numa única palavra e de forma muito expressiva. Mais do que um modo de
agrupar e aglutinar os direitos, esses valores têm de passar a ser considerados valores
constitucionais básicos de todo o ordenamento jurídico da União.

32
A Carta afirma a sua função codificadora e enuncia até as fontes onde foi buscar os
direitos por ela reconhecidos. Significa que a Carta nasceu com um intuito muito
ambicioso de codificar os direitos consagrados nos referidos textos (das Nações Unidas,
na CEDH e nos seus Protocolos, nos Tratados Comunitários, na jurisprudência quer no
TJ, quer no TEDH, e nas tradições constitucionais dos Estados membros).
Nesta função codificadora, a Carta fornece resposta às exigências atuais dos Direitos
do Homem, ao acolher, ao lado dos direitos clássicos, os direitos novos e até os
novíssimos. Ou seja, trata-se de um texto moderno elaborado para o século XXI.
A Carta não reconhece direitos apenas aos nacionais dos Estados Membros, mas sim,
a todas as pessoas sujeitas à sua jurisdição.
Os Direitos reconhecidos pela Carta são:
• Dignidade
o Dignidade do ser humano
o Direito à vida
o Direito à integridade do ser humano
o Proibição da tortura e dos maus
tratos ou penas desumanas ou
degradantes
o Proibição da escravidão e do
trabalho forçado
• Liberdades
o Direito à liberdade e à segurança
o Respeito pela vida privada e familiar
o Proteção de dados pessoais
o Direito de contrair casamento e de constituir família
o Liberdade de pensamento, de consciência e de religião
o Liberdade de expressão e de informação
o Liberdade de reunião e de associação
o Liberdade das artes e das ciências
o Direito à educação
o Liberdade profissional e direito de
trabalhar
o Liberdade de empresa
o Direito de propriedade
o Direito de asilo
o Proteção em caso de afastamento,
expulsão ou extradição

33
• Igualdade
o Igualdade perante a lei
o Não discriminação
o Diversidade cultural, religiosa e
linguística
o Igualdade entre homens e mulheres
o Direitos das pessoas idosas
o Integração das pessoas com
deficiência
• Solidariedade
o Direito à informação e à consulta dos trabalhadores na empresa
o Direito de negociação e de ação coletiva
o Direito de acesso aos serviços de emprego
o Proteção em caso de despedimento
sem justa causa
o Condições de trabalho justas e
equitativas
o Proibição do trabalho infantil e
proteção dos jovens no trabalho
o Vida familiar e vida profissional
o Segurança social e assistência social
o Proteção da saúde
o Acesso a serviços de interesse económico geral
o Proteção do ambiente
o Defesa dos consumidores
• Cidadania
o Direito de eleger e de ser eleito nas eleições para o Parlamento Europeu
o Direito de eleger e de ser eleito nas eleições municipais
o Direito a uma boa administração
o Direito de acesso aos documentos
o Provedor de Justiça
o Direito de petição
o Liberdade de circulação e de
permanência
o Proteção diplomática e consular

34
• Justiça
o Direito à ação e a um tribunal imparcial
o Presunção de inocência e direitos
de defesa
o Princípios da legalidade e da
proporcionalidade dos delitos e das
penas
o Direito a não ser julgado ou punido
penalmente mais do que uma vez
pelo mesmo delito
o Âmbito de aplicação
o Proibição do abuso de direito
A Cidadania da União Europeia
"É cidadão da União qualquer pessoa que tenha a nacionalidade de um Estado-
Membro" (artigo 9º TUE e artigo 20º TFUE). A cidadania da União é complementar da
cidadania nacional e não a substitui. A nacionalidade dos/as cidadãos/ãs dos Estados-
Membros é inteiramente da competência desses Estados que estabelecem as
condições de aquisição e perda da nacionalidade, ou seja, é regulada pelo Direito
nacional. A cidadania da União não pode ser adquirida nem perdida sem a aquisição
ou a perda da nacionalidade de um Estado-Membro. Representa, sobretudo, um novo
estatuto decorrente do direito europeu.
A cidadania da União conferida aos nacionais de todos os Estados-Membros destina-
se a tornar o processo de integração europeia mais relevante para os cidadãos,
incrementando a sua participação, reforçando a proteção dos seus direitos e
promovendo a ideia de uma identidade europeia.
Através da cidadania europeia pretende-se estabelecer um vínculo direto entre os
cidadãos dos Estados-Membros e a própria União Europeia, procurando construir, a
esse nível, uma relação idêntica à existente entre os cidadãos e o seu Estado nacional.
Desse modo reforça-se a legitimidade democrática da União (já dotada de um
Parlamento eleito e com poderes alargados) e melhora-se a participação e interesses
dos cidadãos no controlo democrático das atividades e decisões das instituições
europeias.
As competências da União Europeia
A União Europeia dispõe apenas das competências que lhe são atribuídas pelos
Tratados (princípio de atribuição). Ao abrigo deste princípio, a UE só pode atuar dentro
dos limites das competências que os países da União lhe tenham atribuído nos
Tratados para alcançar os objetivos fixados por estes últimos. As competências que
não sejam atribuídas à UE nos Tratados pertencem aos países da União. O Tratado de
35
Lisboa clarifica a repartição de competências entre a União Europeia e os países da
União. Estas competências estão divididas em três categorias principais:
• Competências exclusivas (artigo 3o do TFUE)
Domínios nos quais a UE é a única a poder legislar e adotar atos vinculativos. Os
países da União só podem fazê-lo se habilitados pela UE para darem execução a
esses atos. A União Europeia dispõe de competência exclusiva nos seguintes
domínios:
o União aduaneira;
o Estabelecimento das regras de concorrência necessárias ao funcionamento do
mercado interno;
o Política monetária para os países da área do euro;
o Conservação dos recursos biológicos do mar, no âmbito da política comum das
pescas;
o Política comercial comum;
o Celebração de acordos internacionais em determinadas condições.
• Competências partilhadas (artigo 4º do TFUE)
A UE e os países da União estão habilitados a legislar e a adotar atos juridicamente
vinculativos. Os países da UE exercem a sua competência na medida em que a
União Europeia não tenha exercido a sua ou tenha decidido não o fazer. As
competências partilhadas entre a UE e os países da União aplicam-se nos seguintes
domínios:
o Mercado interno;
o Política social, mas apenas no que se refere aos aspetos especificamente
definidos no Tratado;
o Coesão económica, social e territorial (política regional);
o Agricultura e pescas (exceto a conservação dos recursos biológicos do mar);
o Ambiente;
o Defesa dos consumidores;
o Transportes;
o Redes transeuropeias;
o Energia;
o Espaço de liberdade, segurança e justiça;
o Problemas comuns de segurança em matéria de saúde pública, circunscritos
aos aspetos definidos no TFUE;
o Investigação, desenvolvimento tecnológico, espaço;
o Cooperação para o desenvolvimento e ajuda humanitária.
• Competências de apoio (artigo 6º do TFUE)

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A UE só pode intervir para apoiar, coordenar ou completar a ação dos países da
União. Os atos juridicamente vinculativos da UE não devem exigir a harmonização
das disposições legislativas ou regulamentares dos países da União. As
competências de apoio dizem respeito aos seguintes domínios de intervenção:
o Proteção e melhoria da saúde humana;
o Indústria;
o Cultura;
o Turismo;
o Educação, formação profissional, juventude e desporto;
o Proteção civil;
o Cooperação administrativa.
Competências particulares
A UE pode tomar medidas para garantir que os países da UE coordenam as suas
políticas económicas, sociais e de emprego a nível da UE.
A política externa e de segurança comum da UE apresenta características institucionais
específicas como a participação limitada da Comissão Europeia e do Parlamento
Europeu no processo de tomada de decisão e a exclusão de qualquer atividade de
legislação. Esta política é definida e aplicada pelo Conselho Europeu (composto pelos
chefes de Estado e de Governo dos países da UE) e pelo Conselho (composto por um
representante ministerial de cada país da UE). O presidente do Conselho Europeu e
o alto-representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de
Segurança representam a UE nas matérias relacionadas com a Política Externa e de
Segurança Comum.
O exercício das competências
O exercício das competências da UE está sujeito a dois princípios fundamentais
previstos no artigo 5º do TUE:
• Proporcionalidade: o conteúdo e o âmbito de ação da UE não devem exceder o
necessário para alcançar os objetivos dos tratados;
• Subsidiariedade: no âmbito das suas competências não exclusivas, a UE intervém
apenas se — e na medida em que — o objetivo de uma ação considerada não puder
ser suficientemente alcançado pelos países da UE, podendo, contudo, ser mais
bem alcançado ao nível da União Europeia.
As competências europeias são as competências atribuídas pelos países da UE à União
Europeia (UE) em domínios determinados.
De acordo com o sistema de atribuição, existem 3 tipos de competências:
• Competências explícitas: as que são claramente indicadas nos artigos específicos
dos Tratados.
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• Competências implícitas: de acordo com a teoria das competências implícitas, a
competência externa decorre da existência de uma competência explícita no plano
interno. Assim, a partir do momento em que os Tratados reconhecem à UE
competências explícitas num determinado domínio (por exemplo, os transportes),
a UE deve dispor de competências análogas para, nesse mesmo domínio, celebrar
acordos com países não pertencentes à UE (princípio do paralelismo entre as
competências internas e externas).
• Competências subsidiárias: quando não existe competência explícita ou implícita
para atingir um dos objetivos do Tratado associados ao mercado único, o artigo
352º do TFUE confere ao Conselho a possibilidade de adotar por unanimidade as
medidas que considerar úteis.
As fontes jurídicas do direito da União Europeia
O conceito de “fonte de direito” tem uma aceção dupla: o sentido inicial do termo
aponta para a razão do nascimento do direito, isto é, a motivação na essência do
direito. Assim, a fonte do direito da União foi a vontade de preservar a paz e de
construir uma Europa mais próspera pela via da integração económica, as duas pedras
basilares a que se deve a existência da União Europeia. Em linguagem jurídica, em
contrapartida, o conceito de “fonte de direito” consubstancia a origem e a
fundamentação do direito.
Fontes Primárias
O que significa direito primário?
• É a fonte suprema do direito da UE. Inclui, no essencial, os tratados fundadores,
nomeadamente o Tratado de Roma (que evoluiu do Tratado sobre o
Funcionamento da União Europeia) e do Tratado de Maastricht (que evoluiu
do Tratado da União Europeia).
• O direito primário fixa a repartição de poderes e de responsabilidades entre a UE
e os países da UE. Estabelece o contexto jurídico no qual as instituições da UE
formulam e aplicam políticas.
Direito Primário
Tratados da UE:
• Tratados fundadores:
o Tratado de Paris (CECA)
o Tratado de Roma (CEE/CEEA)
o Tratado de Maastricht (UE)
• Tratados modificativos:
o Ato Único Europeu
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o Tratado de Amesterdão
o Tratado de Nice
o Tratado de Lisboa
• Tratados de adesão:
o Dinamarca, Irlanda, Reino Unido (saiu), Grécia, Espanha, Portugal, Áustria,
Finlândia, Suécia, República Checa, Chipre, Estónia, Hungria, Letónia,
Lituânia, Malta, Polónia, Eslováquia e Eslovénia
• Protocolos anexos aos referidos tratados
• Tratados complementares que introduzem alterações em secções específicas
dos tratados fundadores:
o Tratado de Fusão (instituições)
o Tratado (disposições orçamentais)
o Tratado de Bruxelas (disposições financeiras/Tribunal de Contas)
o Ato (eleição dos representantes ao PE por sufrágio universal direto)
Carta dos Direitos Fundamentais (desde a adoção ao Tratado de Lisboa)
Princípios Gerais estabelecidos pelo TJUE
O Tribunal pode interpretar os tratados, mas não pode pronunciar-se sobre a sua
validade.

Fontes Derivadas
Direito Derivado
Atos legislativos
Nos termos do artigo 288o do TFUE, as instituições europeias podem adotar cinco
tipos de atos jurídicos:
• Regulamentos – atos jurídicos que se aplicam de forma automática e uniforme
em todos os países da UE a partir do momento em que entram em vigor, sem
terem de ser incorporados no direito nacional. Os regulamentos são
vinculativos em todos os seus elementos em todos os países da UE.
• Diretivas – exigem que os países da UE atinjam um determinado resultado,
deixando-os escolher a forma de o fazer. Os países da UE têm de adotar
medidas para incorporar as diretivas no direito nacional (transposição) a fim de
atingir os objetivos fixados nas mesmas. As autoridades nacionais devem
comunicar essas medidas à Comissão Europeia.

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A transposição para o direito nacional deve ser feita no prazo fixado quando da
adoção da diretiva (geralmente, no prazo de 2 anos). Quando um país não
transpõe uma diretiva, a Comissão pode dar início a um processo por infração.
• Decisões – atos jurídicos vinculativos aplicáveis a um ou vários países da UE,
empresas ou particulares. O destinatário deve ser notificado e a decisão produz
efeitos mediante essa notificação. As decisões não precisam de ser transpostas
para o direito nacional.
• Recomendação – permitem às instituições europeias dar a conhecer os seus
pontos de vista e sugerir uma linha de conduta sem impor uma obrigação legal
aos seus destinatários. Não são, portanto, vinculativas.
• Parecer – instrumento que permite às instituições europeias fazer uma
declaração sem impor qualquer obrigação jurídica sobre o tema do parecer. Os
pareceres não têm força vinculativa.
O regulamento, a diretiva e a decisão são atos jurídicos vinculativos, ao passo que a
recomendação e o parecer não são juridicamente vinculativos.
Atos delegados
Os atos delegados são atos juridicamente vinculativos que permitem à Comissão
completar ou alterar elementos não fundamentais de atos legislativos da UE, por
exemplo, a fim de definir medidas pormenorizadas.
A Comissão adota o ato delegado e, se o Parlamento e o Conselho não formularem
objeções, este entra em vigor.
Atos de execução
Os atos de execução são atos juridicamente vinculativos que permitem à Comissão
- sob a supervisão de comités compostos por representantes dos países da UE -
estabelecer condições que garantem que a legislação da UE é aplicada de forma
uniforme.

Destinatários Efeitos
Regulamentos Todos os Estados-Membros e Diretamente aplicáveis e
pessoas singulares e coletivas vinculativos em todas as
suas partes
Diretivas Todos ou determinados Estados- Vinculativa relativamente
Membros aos resultados.
Diretamente aplicáveis

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apenas em condições
especiais
Decisões I Que especificam os destinatários: Diretamente aplicáveis e
• Todos ou determinados vinculativas em todas as
suas partes
• Determinadas pessoas
singulares ou coletivas
Decisões II Que não especificam os Vinculativas em todas as
destinatários suas partes
Recomendações Todos os determinados Estados- Não vinculativas
Membros, outras instituições da
UE, pessoas singulares
Pareceres Todos ou determinados Não vinculativos

Direito subsidiário
O que significa direito subsidiário?
• O direito subsidiário reúne as fonte do direito da UE não escritas, por oposição às
fontes primárias e derivadas.
• Estas fontes são essencialmente utilizadas pelo TJUE como normas jurídicas em
caso de lacuna do direito primário e derivado.

Direito Subsidiário
Jurisprudência do TJUE – as leis estabelecidas a partir da conclusão de
processos anteriores
• Na interpretação do direito da UE, o TJUE tem, muitas vezes, de ser criativo
para colmatar as lacunas do direito primário e/ou direito derivado
• Os seus acórdãos conferem uma interpretação oficial e juridicamente
vinculativa do direito da UE, sendo, por esse motivo, referidos como fontes de
direito (incluindo pelo próprio TJUE)
Direito Internacional – o conjunto de regras que regem as relações jurídicas
entre Estados ou nações
• O direito internacional (incluindo os acordos internacionais celebrados pela UE
e pelos países da UE) é utilizado pelo TJUE na elaboração da sua jurisprudência,
contanto que as suas regras sejam aplicáveis à UE e não sejam incompatíveis
com a estrutura específica da UE

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• Para além dos compromissos jurídicos da UE e dos países da UE, o direito
internacional é também uma fonte de inspiração para o TJUE na redação dos
princípios gerais de direito
Os princípios gerais de direito
• Resultantes da jurisprudência do TJUE, os princípios gerais permitiram que o
Tribunal fixasse regras em diversos domínios relativamente aos quais os
Tratados nada preveem
• Os princípios gerais do direito da UE podem ser comuns a todos os sistemas
jurídicos nacionais dos países da UE e compatíveis com os objetivos da UE; ou
específicos da UE, ainda que inspirados em princípios consagrados apenas em
determinados sistemas jurídicos nacionais

Direitos fundamentais
Os direitos fundamentais (artigo 6º do TUE) são uma categoria especial de fonte de
direito:
• Parcialmente primária — o artigo 6º, nº 1, do TUE reconhece a Carta dos Direitos
Fundamentais da União Europeia como tendo o mesmo valor jurídico que os
Tratados;
• Parcialmente subsidiária — o artigo 6º, nº3, do TUE reconhece expressamente
como princípios gerais do direito da UE “os direitos fundamentais tal como os
garante a Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos do Homem e das
Liberdades Fundamentais e tal como resultam das tradições constitucionais
comuns aos Estados-Membros”.
Hierarquia das fontes
• Tratados e princípios gerais (direito primário)
• Com entrada em vigor do Tratado de Lisboa foi reconhecido valor idêntico à Carta
dos Direitos Fundamentais
• Acordos internacionais
• O direito derivado, cuja validade depende da compatibilidade com os atos e os
acordos hierarquicamente superiores

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O processo legislativo jurídico da União Europeia

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Fase 1: Proposta legislativa
O processo inicia-se quando a Comissão Europeia apresenta uma proposta legislativa
ao Conselho e ao Parlamento Europeu. Simultaneamente, envia a proposta aos
parlamentos nacionais e, nalguns casos, ao Comité das Regiões e ao Comité Económico
e Social para que a examinem.
As propostas legislativas são adotadas pelo colégio dos membros da Comissão, quer
por processo escrito (isto é, o texto não é debatido), quer por processo oral (com
debate). Se for necessário proceder a votação, a Comissão decide por maioria simples.
Direito de iniciativa
A Comissão é a única instituição da UE habilitada a lançar atos jurídicos da UE.
Apresenta propostas de atos jurídicos da UE por sua própria iniciativa, a pedido de
outras instituições da UE ou na sequência de uma iniciativa de cidadania.
O Conselho (por maioria simples dos seus membros) pode solicitar à Comissão que
realize estudos e apresente propostas legislativas adequadas.
O Parlamento (por maioria dos membros que o compõem) também pode solicitar à
Comissão que apresente propostas legislativas.
Em casos específicos, definidos nos tratados, o processo legislativo ordinário pode ser
acionado:
• Por iniciativa de um quarto dos Estados-Membros (quando a proposta diz respeito
à cooperação judiciária em matéria penal ou à cooperação policial)
• Por recomendação do Banco Central Europeu (sobre propostas relativas aos
estatutos do Sistema Europeu de Bancos Centrais e do Banco Central Europeu)
• A pedido do Tribunal de Justiça da UE (sobre matérias relativas ao estatuto do
Tribunal, à criação de tribunais especializados adstritos ao Tribunal Geral, etc.)
• A pedido do Banco Europeu de Investimento
Fase 2: Primeira leitura
Etapas intermédias que precedem uma posição em primeira leitura
Antes do Parlamento Europeu emitir o seu parecer, o Conselho pode adotar
uma "orientação geral". O Conselho utiliza esse documento para dar ao Parlamento
uma ideia da sua posição sobre a proposta legislativa da Comissão. Uma orientação
geral pode acelerar o processo legislativo e facilitar a obtenção de um acordo entre
o Parlamento e o Conselho.
O Conselho, o Parlamento e a Comissão podem também organizar reuniões
informais a nível interinstitucional, conhecidas por "trílogos", a fim de os ajudar a

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chegar a acordo. Participam nestas reuniões representantes do Parlamento, do
Conselho e da Comissão.
Não existem regras definidas quanto ao conteúdo dos trílogos, que podem, por
conseguinte, variar entre discussões técnicas e debates políticos com a participação
de ministros e comissários. Os trílogos podem ainda servir para a obtenção de um
acordo entre o Parlamento e o Conselho sobre alterações legislativas. No entanto, o
acordo daí resultante é informal e tem de ser aprovado em conformidade com o
Regimento do Parlamento e com o Regulamento Interno do Conselho.

O Parlamento Europeu examina a proposta da Comissão e pode:


• Adotá-la ou nela introduzir alterações
Depois disso, o Conselho pode:
• Decidir aceitar a posição do Parlamento: nesse caso, o ato legislativo é adotado
• Alterar a posição do Parlamento: a proposta é reenviada ao Parlamento para
segunda leitura
Prazo: não há nenhum prazo para a primeira leitura no Parlamento e no Conselho
Documentos elaborados:
• Ato legislativo – regulamento (obrigatório em todos os seus elementos e
diretamente aplicável em todos os Estados-Membros), diretiva (vinculativa quanto
ao resultado a alcançar, os destinatários podem ser todos ou apenas alguns
Estados-Membros e os Estados-Membros têm liberdade para escolher a forma e
os meios de execução da diretiva) ou decisão (obrigatória em todos os seus
elementos para os seus destinatários) do Parlamento e do Conselho
• Posição do Conselho em primeira leitura, se o Conselho decidir alterar a posição
do Parlamento
• Orientação geral – acordo político a nível do Conselho que pode ser adotado na
pendência da posição do Parlamento em primeira leitura
Fase 3: Segunda leitura
O Parlamento Europeu examina a posição do Conselho e:
• Aprova-a: o ato é adotado
• Rejeita-a: o ato não entrará em vigor e todo o processo termina
• Propõe alterações e reenvia a proposta ao Conselho para segunda leitura
O Conselho examina a posição do Parlamento em segunda leitura e:

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• Aprova todas as alterações do Parlamento: o ato é adotado
• Não aprova todas as alterações: é convocado o Comité de Conciliação
O Conselho vota por maioria qualificada as alterações do Parlamento sobre as quais a
Comissão tenha dado parecer positivo. Vota por unanimidade as alterações do
Parlamento sobre as quais a Comissão tenha dado parecer negativo. O Conselho
apenas pode reagir às alterações do Parlamento.
Prazo: 3 meses para cada instituição, com possibilidade de prorrogação por 1 mês.
Documentos elaborados:
• Resolução legislativa do Parlamento Europeu sobre a posição do Conselho em
primeira leitura, se o Parlamento aprovar a posição do Conselho (nesse caso o ato
legislativo é adotado e publicado sob a forma de diretiva, regulamento ou decisão
do Parlamento e do Conselho)
• Posição do Parlamento Europeu adotada em segunda leitura, se o Parlamento
Europeu votar para introduzir alterações na posição do Conselho
• Se o Conselho aprovar a posição do Parlamento em segunda leitura, o ato
legislativo é adotado. Nesse caso, o ato legislativo é subsequentemente publicado
sob a forma de diretiva, regulamento ou decisão do Parlamento e do Conselho
• Se o Conselho não aprovar a posição do Parlamento em segunda leitura, não
há nenhum documento oficial
Fase 4: Conciliação
É convocado um comité de conciliação se o Conselho não aprovar todas as alterações
do Parlamento em segunda leitura. O comité de conciliação é constituído por igual
número de membros do Parlamento e de representantes do Conselho. Tem de chegar
a acordo sobre um texto que seja aceitável para ambas as instituições.
Se o comité:
• Não chegar a acordo sobre o projeto comum, o ato legislativo não é adotado e o
processo termina
• Chegar a acordo sobre o projeto comum, esse projeto é transmitido ao Parlamento
e ao Conselho para uma terceira leitura
Votação no comité de conciliação:
A delegação do Parlamento no Comité de Conciliação aprova o projeto comum por
maioria absoluta de votos.
Os representantes do Conselho votam geralmente por maioria qualificada (nalguns
casos é necessária a unanimidade).

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Prazo: O comité de conciliação tem de ser convocado no prazo de 6 semanas, com
possibilidade de prorrogação para 8 semanas. O comité dispõe então de 6 semanas
para chegar a acordo sobre o projeto comum.
Documentos elaborados:
• Projeto comum aprovado pelo comité de conciliação, se for alcançado um acordo.
A redação do projeto comum não pode ser alterada pelas duas instituições.
Fase 5: Terceira leitura
O Parlamento Europeu examina o projeto comum. Pode:
• Rejeitá-lo ou não deliberar sobre ele: a proposta não é adotada e o processo
termina
• Aprovar o texto: se o Conselho também o fizer, o ato legislativo é adotado
O Parlamento aprova o projeto comum por maioria simples dos votos expressos.
O Conselho examina o projeto comum. Se
• o rejeitar ou não deliberar sobre ele, a proposta não entrará em vigor e o processo
termina
• aprovar o texto e o Parlamento também o fizer, o ato legislativo é adotado
O Conselho aprova o projeto comum por maioria qualificada.
Prazo: tanto o Parlamento como o Conselho têm de deliberar no prazo de seis semanas
a contar da data em que o projeto comum foi aprovado.
Documentos elaborados:
• O Parlamento adota uma resolução legislativa sobre o projeto comum aprovado
pelo Comité de Conciliação na qual aprova ou rejeita o projeto comum.
• Se o projeto comum for aprovado por ambas as instituições, o ato legislativo é
publicado sob a forma de diretiva, regulamento ou decisão do Parlamento e do
Conselho.
Rejeição da proposta
Se uma proposta legislativa for rejeitada em qualquer fase do processo, ou se o
Parlamento e o Conselho não conseguirem chegar a um compromisso, a proposta não
é adotada e o processo termina.
Só pode ser iniciado um novo processo através de uma nova proposta da Comissão.
Flexibilidade na tomada de decisões na União Europeia
O Tratado de Lisboa alargou o âmbito do processo legislativo ordinário e da votação
por maioria qualificada a um grande número de domínios políticos. O objetivo é o de
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contribuir para a integração da UE, tornando a tomada de decisão mais eficiente:
no processo legislativo ordinário, os países da UE não dispõem do direito de veto e as
possibilidades de chegar a um acordo são mais numerosas.
No entanto, os países da UE nem sempre estão dispostos a abdicar de uma parte do
seu poder de oposição em determinados domínios políticos. Estes domínios são
considerados como sendo os mais «sensíveis», nos quais o peso das soberanias
nacionais é significativo, incluindo a política externa, a imigração ou a justiça. Nestes
domínios, um processo legislativo especial ou a votação por unanimidade são
frequentemente mantidos.
O Tratado de Lisboa introduz vários tipos de cláusulas institucionais que oferecem
mecanismos institucionais que são diferentes mas que prosseguem um objetivo
comum. Tal visa facilitar a integração da UE nos domínios «sensíveis» se os países da
UE o pretenderem.
Desta forma, o Tratado de Lisboa introduz três tipos de cláusulas:
• As “cláusulas-ponte”
• As “cláusulas-travão”
• As “cláusulas-acelerador”
As Cláusulas-Ponte
As cláusulas-ponte permitem uma derrogação do processo legislativo inicialmente
previsto nos tratados. Em determinadas condições, permitem:
• “passar” de um processo legislativo especial para um processo legislativo ordinário
para a adoção de um ato num determinado domínio;
• “passar” de uma votação por unanimidade para uma votação por maioria
qualificada para a adoção de um ato num determinado domínio.
A ativação de uma cláusula-ponte depende sempre de uma decisão aprovada por
unanimidade pelo Conselho ou pelo Conselho Europeu. Assim, em todos os casos,
todos os países da UE devem estar de acordo antes de poderem ativar essa cláusula.
Além disso, o artigo 48o do TUE introduz uma cláusula-ponte geral aplicável a todas as
políticas europeias. Existem ainda 6 outras cláusulas-ponte específicas aplicáveis a
determinadas políticas europeias e que apresentam algumas particularidades
processuais.
As Cláusulas-Travão
As cláusulas-travão dizem respeito a 3 domínios:
• As medidas de coordenação dos sistemas de segurança social dos trabalhadores
migrantes (artigo 48o do TFUE);

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• A cooperação judiciária em matéria penal (artigo 82o do TFUE);
• O estabelecimento de regras comuns para determinadas infrações penais (artigo
83º do TFUE).
As cláusulas-travão foram criadas para permitir a aplicação do processo legislativo
ordinário a estes 3 domínios políticos. O processo legislativo ordinário é assim
atenuado com um mecanismo de “travão”: um país da UE pode recorrer ao Conselho
Europeu se considerar que os princípios fundamentais do seu sistema de segurança
social ou do seu sistema de justiça penal são postos em causa pelo projeto legislativo
em fase de adoção. Neste caso, o processo é suspenso e o Conselho Europeu pode:
• Devolver o projeto ao Conselho que dá seguimento ao processo tendo em conta
as observações formuladas; ou
• Pôr definitivamente termo ao processo e solicitar, se necessário, uma nova
proposta à Comissão Europeia.
Desta forma, o interesse das cláusulas-travão não reside apenas no mecanismo
proposto, mas também no facto de permitirem o alargamento do âmbito do processo
legislativo ordinário às políticas em causa. Com efeito, a introdução deste mecanismo
no processo de decisão permitiu convencer os países da UE mais relutantes a aplicar o
processo legislativo ordinário a determinadas políticas às quais se aplicava até agora a
regra do voto por unanimidade.
As Cláusulas-Acelerador
As cláusulas-acelerador «aceleram» a integração entre determinados países da UE ao
facilitar a aplicação de cooperações reforçadas em determinados domínios.
Estas cláusulas permitem uma derrogação do processo de instituição das cooperações
reforçadas. Assim, graças a estas cláusulas, uma cooperação reforçada é considerada
autorizada quando reúne, pelo menos, 9 países da UE. O Conselho, o Parlamento e a
Comissão são assim simplesmente informados da vontade dos países participantes de
estabelecer uma cooperação reforçada.
Estas cláusulas dizem respeito a 4 domínios:
• A cooperação judiciária em matéria penal (artigo 82o do TFUE);
• O estabelecimento de regras comuns para determinadas infrações
penais (artigo 83o do TFUE);
• A criação da Procuradoria Europeia (artigo 86º do TFUE);
• A cooperação policial (artigo 87o do TFUE).
É de salientar que as cláusulas-acelerador relativas à cooperação e às infrações em
matéria penal resultam diretamente da ativação das cláusulas-travão existentes para
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estes 2 domínios. Com efeito, sempre que isso acontece e o processo legislativo é
interrompido, os países podem ativar uma cláusula-acelerador e continuar e concluir
o processo legislativo entre si, no âmbito de uma cooperação reforçada.
O primado do direito europeu
Segundo o princípio do primado, o direito europeu tem um valor superior ao dos
direitos nacionais dos Estados-Membros. O princípio do primado aplica-se a todos os
actos europeus com força vinculativa. Assim, os Estados-Membros não podem aplicar
uma regra nacional contrária ao direito europeu.
O princípio do primado garante a superioridade do direito europeu sobre os direitos
nacionais. É um princípio fundamental do direito europeu. Tal como o princípio do
efeito direto, não está consignado nos Tratados, tendo sim sido consagrado pelo
Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE).
Definição
O TJUE consagrou o princípio do primado no acórdão Costa contra Enel de 15 de Julho
de 1964. Neste acórdão, o Tribunal declara que o direito proveniente das instituições
europeias se integra nos sistemas jurídicos dos Estados-Membros, sendo estes
obrigados a respeitá-lo. O direito europeu tem assim o primado sobre os direitos
nacionais. Deste modo, se uma regra nacional for contrária a uma disposição europeia,
as autoridades dos Estados-Membros devem aplicar a disposição europeia. O direito
nacional não é nem anulado nem alterado, mas a sua força vinculativa é suspensa.
Posteriormente, o Tribunal especificou que o primado do direito europeu se aplica a
todos os actos nacionais, quer tenham sido adotados antes ou após o ato europeu em
questão.
Na medida em que o direito europeu passa a prevalecer sobre o direito nacional, o
princípio do primado garante assim uma proteção uniforme dos cidadãos em todo o
território da UE, através do direito europeu.
Alcance do princípio
O primado do direito europeu sobre os direitos nacionais é absoluto. Assim, todos os
actos europeus com força vinculativa beneficiam deste primado, quer sejam
provenientes do direito primário ou do direito derivado.
De igual modo, todos os actos nacionais estão sujeitos a este princípio, seja qual for a
sua natureza: lei, regulamento, portaria, despacho, circular, etc., independentemente
de se tratar de diplomas emitidos pelo poder executivo ou legislativo dos Estados-
Membros. O poder judicial está igualmente sujeito ao princípio do primado. Na
verdade, o direito que produz, a jurisprudência, deve respeitar o da União.

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O Tribunal de Justiça considerou que as constituições nacionais estão também sujeitas
ao princípio do primado. Compete assim ao juiz nacional não aplicar as disposições de
uma constituição contrária ao direito europeu.
Responsáveis pelo cumprimento do princípio
A exemplo do princípio do efeito directo, o Tribunal de Justiça exerce o controlo da
boa aplicação do princípio do primado. Pune os Estados-Membros que não o respeitam
através das suas decisões decorrentes dos fundamentos das diferentes acções judiciais
previstas pelos tratados fundadores, designadamente as acções por incumprimento.
Compete também aos juízes nacionais fazer respeitar o princípio do primado. Estes
podem, se necessário, recorrer à decisão prejudicial em caso de dúvida sobre a
aplicação do princípio. Num acórdão de 19 de Junho de 1990 (Factortame), o Tribunal
de Justiça declarou que um órgão jurisdicional nacional, no âmbito de uma questão
prejudicial sobre a validade de uma norma nacional, deve suspender de imediato a
aplicação da referida norma, na pendência da solução preconizada pelo Tribunal de
Justiça, bem como da sentença que o órgão jurisdicional proferir sobre a questão
quanto ao mérito.
O efeito direto do direito europeu
O princípio do efeito direto permite aos particulares invocarem diretamente uma
norma europeia perante uma jurisdição nacional ou europeia. Este princípio diz apenas
respeito a determinados atos europeus, estando aliás sujeito a várias condições.
O efeito direto do direito europeu constitui, juntamente com o princípio do primado,
um princípio fundamental do direito europeu. Foi consagrado pelo Tribunal de Justiça
da União Europeia (TJUE) e permite aos particulares invocarem diretamente o direito
europeu perante os tribunais, independentemente da existência de textos
provenientes do direito nacional.
O princípio do efeito direto garante assim a aplicabilidade e eficácia do direito europeu
nos países da UE. No entanto, o TJUE define várias condições para que um ato jurídico
europeu seja diretamente aplicável. O efeito direto de um ato pode, igualmente,
aplicar-se apenas às relações entre um particular e um país da UE ou ser alargado às
relações entre todos os particulares.
Definição
O efeito direto do direito europeu foi consagrado pelo Tribunal de Justiça no acórdão
Van Gend en Loos de 5 de fevereiro de 1963. Neste acórdão, o Tribunal afirma que o
direito europeu acarreta obrigações para os países da UE, mas também direitos para
os particulares. Os particulares podem assim prevalecer-se destes direitos e invocar
diretamente normas europeias perante jurisdições nacionais e europeias. Assim, não

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é necessário que o país da UE integre a norma europeia em questão na sua ordem
jurídica interna.
Efeito direto horizontal e vertical
O efeito direto assume dois aspetos: um efeito vertical e um efeito horizontal.
O efeito direto vertical exerce-se nas relações entre os particulares e o país, o que
significa que os particulares podem invocar uma norma europeia em relação ao país.
O efeito direto horizontal exerce-se nas relações entre os particulares, o que significa
que um particular pode invocar uma norma europeia em relação a outro particular.
Segundo o tipo de ato em questão, o Tribunal de Justiça aceitou quer um efeito direto
completo (isto é, um efeito direto horizontal e um efeito direto vertical), quer
um efeito direto parcial (limitado ao efeito direto vertical).
Efeito direto e direito primário
No que diz respeito ao direito primário, ou seja, aos textos de base da ordem jurídica
europeia, o Tribunal de Justiça estabeleceu no acórdão Van Gend en Loos o princípio
do efeito direto. Não obstante, indicou como condição que as obrigações devem
ser precisas, claras, incondicionais e não devem requerer medidas complementares,
de carácter nacional ou europeu.
No acórdão Becker (acórdão de 19 de janeiro de 1982), o Tribunal de Justiça rejeita o
efeito direto quando os países possuam uma margem de manobra em relação à
aplicação da disposição em causa (acórdão de 12 de dezembro de 1990, Kaefer e
Procacci), por mais reduzida que possa ser essa margem.
Efeito direto e direito derivado
O princípio do efeito direto diz também respeito aos atos provenientes do direito
derivado, ou seja, adotados pelas instituições com base nos tratados fundadores. No
entanto, o alcance do efeito direto depende do tipo de ato:
• O regulamento: os regulamentos têm sempre um efeito direto. O artigo 288.o do
Tratado sobre o Funcionamento da UE precisa que os regulamentos são
diretamente aplicáveis nos países da UE. O Tribunal de Justiça especifica no
acórdão Politi de 14 de dezembro de 1971 que se trata de um efeito direto
completo;
• A diretiva: a diretiva é um ato destinado aos países da UE, devendo ser transposta
por estes últimos para os seus direitos nacionais. No entanto, o Tribunal de Justiça
reconhece-lhes, em determinadas situações, um efeito direto para proteger os
direitos dos particulares. Assim, o Tribunal estabeleceu na sua jurisprudência que
uma diretiva tem um efeito direto quando as suas disposições são incondicionais e
suficientemente claras e precisas, e quando o país da UE não tiver transposto a
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diretiva no prazo previsto (acórdão de 4 de dezembro de 1974, Van Duyn). No
entanto, o efeito direto só pode ser vertical; os países da UE têm a obrigação de
aplicar as diretivas, mas não podem invocá-las contra os particulares (acórdão de
5 de abril de 1979, Ratti);
• A decisão: as decisões podem ter um efeito direto quando designam um país da
UE como destinatário. O Tribunal de Justiça reconhece um efeito direto apenas
vertical (acórdão de 10 de novembro de 1992, Hansa Fleisch);
• Os acordos internacionais: no acórdão Demirel de 30 de setembro de 1987, o
Tribunal de Justiça reconheceu um efeito direto para determinados acordos,
segundo os mesmos critérios aplicados no acórdão Van Gend en Loos;
• Os pareceres e recomendações: os pareceres e recomendações não têm força
jurídica vinculativa. Por conseguinte, não têm efeito direto.

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