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oimpactoeconômico

dos25anosdoMcDonald’s
noBrasil
Um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas
01 Sumário Executivo

02 McOnomics no Brasil

03 O Mercado

04 A Empresa e o Negócio do Hambúrguer

06 A Cadeia Produtiva do Hambúrguer

10 A Geração de Renda, Emprego e Salários

14 A Contribuição para o Crescimento

16 A Participação no Mercado de Trabalho

17 Arrecadação de Impostos e Contribuições Sociais

18 A Contribuição ao Desenvolvimento Regional

21 A Exportação de Produtos para o McDonald’s de Outros Países

22 Anexo Metodológico

28 Anexo Estatístico

Equipe de Consultores
Prof. Fernando Garcia
Prof. Rogério César de Souza
Rainer Hartman
Euclides Pedrozo
sumárioexecutivo

O presente relatório, desenvolvido pela Fundação Getúlio Vargas, busca avaliar a contribuição do McDonald’s ao
desenvolvimento econômico e social do Brasil nos últimos 25 anos. Fundamentado em uma análise rigorosa das
informações quantitativas e qualitativas da empresa e de seus fornecedores ao longo da cadeia produtiva, o relatório
quantifica o valor da produção, o valor adicionado, o consumo intermediário de insumos, os empregos, a renda, os
investimentos, os impostos e as exportações gerados pelas atividades do McDonald’s e os compara com os da
economia brasileira e do segmento de bares e restaurantes. Também são analisadas as informações referentes à
qualidade do emprego, à responsabilidade social e à contribuição para o desenvolvimento regional.
Destacam-se os seguintes aspectos associados às atividades do McDonald’s: 1
• participação de 9% nas vendas do mercado brasileiro de bares e restaurantes;
• geração de empregos de qualidade: a remuneração é 20% superior à média de mercado e a oferta de trabalho é
voltada para a inclusão das mulheres e dos jovens no mercado de trabalho;
• arrecadação de R$ 243 milhões (a preços de 2000) em impostos e contribuições, o que corresponde a uma carga
tributária de 30,2% sobre o valor adicionado;
• produtividade 50% maior que a média da economia brasileira e cinco vezes maior que a do setor de bares e restaurantes;
• investimentos em capital fixo e humano que propiciaram expansão de 13,5% ao ano nos últimos 13 anos;
• exportações de produtos brasileiros (carnes e sucos, em especial), estimuladas pelas atividades do McDonald’s no mundo.
McOnomicsnoBrasil
Do primeiro restaurante, inaugurado no verão de 1979, na "McOnomics" e descreve as atividades de uma empresa
Praia de Copacabana, até o início de 2004, o McDonald’s inserida num contexto econômico mais amplo de produção,
apresentou grande expansão no mercado brasileiro. Hoje, consumo e bem-estar.
são quase 1.200 pontos-de-venda, dos quais em torno de Em primeiro lugar, foi feito um dimensionamento da empresa
550 são restaurantes, espalhados por 149 cidades de 22 e do mercado em que ela está inserida. Depois, foram
unidades da Federação, que atendem a mais de 1,5 milhão apresentadas todas as relações econômicas que estão por
de pessoas por dia. A cadeia McDonald’s responde por trás da venda de seus produtos. Então, concluiu-se com a
parcela expressiva do mercado brasileiro de alimentação, é presença do McDonald’s na vida social e econômica do Brasil.
responsável por volume importante de empregos diretos e No decorrer deste relatório, foram utilizados dados fornecidos
indiretos e se tornou uma grande consumidora de alimentos pelo McDonald’s, os quais constam de seus Balanços
in natura e industrializados. Sociais de 2002 e 2003, e informações obtidas de seus
À Fundação Getúlio Vargas coube, neste aniversário de 25 fornecedores. Além disso, foram empregados dados de
anos do McDonald’s no Brasil, expressar em números seu várias pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de
papel no desenvolvimento do País, seja como empresa que Geografia e Estatística (IBGE), entre as quais se destacam o
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contribui para a geração de empregos, renda e impostos, Censo Demográfico de 2000, o Cadastro Nacional de
seja como organização comprometida com a responsabilidade Empresas (CNE) de 2000, a Pesquisa Agrícola Municipal
social, a segurança alimentar e a qualidade de vida. Logo de (PAM) de 2000-2002, a Pesquisa Anual dos Serviços (PAS)
início, a tarefa de mensurar a importância econômica do dos anos de 1999 a 2001 e as Contas Nacionais (SNC) de
McDonald’s mostrou-se bastante complexa e abrangente. 2000. Também foram fundamentais para a obtenção de
As atividades da rede perceptíveis à visão, como restaurantes vários indicadores os dados do Relatório Anual de
e quiosques instalados nas ruas e em centros comerciais, Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e
revelaram-se arraigadas na extensa cadeia produtiva da Emprego (MTE), e de Arrecadação Municipal, da Receita
alimentação. E, ao se estender o já amplo campo de visão da Federal. Muitos dados se referem ao ano de 2003, o mais
produção e do consumo para abranger aspectos relacionados próximo da data de elaboração desta pesquisa, mas há
à tecnologia, ao desenvolvimento de negócios, à segurança várias informações que tomam por referência o ano de 2000.
alimentar e à responsabilidade social, apareceu a verdadeira A escolha deste ano como base de comparação deveu-se a
extensão de sua contribuição para o País. uma razão simples: 2000 é o ano no qual estão disponíveis
Para descrever esse papel, a GVconsult lançou um nome informações completas e mais detalhadas sobre o País e,
próprio, que expressa melhor o conceito formulado após portanto, aquele em que se pode avaliar com maior precisão
algumas análises preliminares e conversas com profissionais a participação do McDonald’s na economia brasileira.
da rede e de várias empresas fornecedoras. O nome é
omercado
A análise da atividade econômica do McDonald’s no Brasil, renda média das famílias que habitam essas regiões é cerca
aqui chamada de McOnomics, se inicia por uma das pontas de de duas vezes maior que a dos municípios em que a rede
sua extensa cadeia produtiva: seus quase 1.200 restaurantes não está presente.
e quiosques. Instalados em ruas e em centros comerciais, Figura 1. Onde estão os restaurantes
esses pontos-de-venda da rede McDonald’s atenderam a quase e quiosques do McDonald’s?
1,5 milhão de pessoas por dia em 2003. Isso corresponde a
cerca de 45 milhões de clientes por mês e a mais de meio
bilhão por ano. Se todo habitante do País tivesse acesso aos
restaurantes e quiosques da rede, cada um dos 175 milhões
de brasileiros iria ao menos três vezes a um McDonald’s ao
longo de um ano.
Os pontos-de-venda da rede McDonald’s estão instalados
em 149 municípios, localizados em 21 Estados e no Distrito
Federal. É interessante notar na figura 1 a localização dos
restaurantes. Pela própria natureza da atividade e pela
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tecnologia de serviços de alimentação desenvolvida pelo
McDonald’s, os pontos-de-venda estão instalados, em sua
grande maioria, em cidades com população relativamente
elevada – mais de 150 mil habitantes1 – ou que atendem
a um grande público sazonal, tais como estâncias turísticas e
pequenas localidades situadas às margens de importantes rodovias.
A população dessas cidades soma cerca de 73,5 milhões de
habitantes, com um público potencial – definido pelo poder
aquisitivo e pela faixa etária – de cerca de 45,6 milhões de
pessoas. Assim, se cada brasileiro que vive nas cidades com
McDonald’s e tem renda suficiente para tanto fosse a um de
seus pontos-de-venda, comeria ali quase uma vez por mês.
O segundo mapa traz outra ilustração importante: as cidades
do McOnomics são aquelas onde se concentra a renda
brasileira. Os dados do Censo Demográfico de 2000 indicam
que esses municípios têm, em seu conjunto, mais de 60% da
renda das famílias brasileiras. E isso se dá por dois motivos:
nesses municípios está a maior parte da população, e a
1 No Brasil, segundo o Censo Demográfico de 2000, eram cerca de 148 Fonte: McDonald’s e IBGE (2002).
cidades com população maior ou igual a 150 mil habitantes.
aempresaeonegóciodohambúrguer
Em 2003, cada um dos 500 milhões de clientes brasileiros Para ter uma idéia do que esse valor representa, pode-se
do McDonald’s consumiu produtos no valor médio de R$ 3,20. levar em conta que o total de transações da economia
O valor de cada transação não é elevado, mas o volume é brasileira em 2003 atingiu a cifra de R$ 2,7 trilhões, aí incluídos
grande. O faturamento diário atingiu R$ 4,6 milhões em todo todos os negócios realizados no País e os do País com o
o País, o que resultou em vendas mensais de R$ 141 milhões, resto do mundo. Ou seja, o faturamento do McDonald’s
na média do ano, e num negócio de aproximadamente representou cerca de 0,06% das transações da economia
R$ 1,7 bilhão em 2003. O box 1 traz um resumo das atividades brasileira, a nona maior do mundo. Esse faturamento representou
do McDonald’s no Brasil no ano de 2003. 0,13% da renda nacional e 0,20% de todas as despesas
com bens de consumo e serviços realizadas pelas famílias
Box 1. 25 anos do McDonald’s no Brasil:
os números de 2003 brasileiras, estimadas em R$ 832 bilhões em 2003.
Quando suas vendas são comparadas com o total de
Pessoas despesas com alimentos realizadas pelas famílias brasileiras,
• 500 milhões de consumidores no ano tem-se uma melhor dimensão do peso do McDonald’s.
• 36 mil funcionários Estima-se que em 2003 cada família tenha despendido algo em
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• 30 mil empregos indiretos torno de R$ 413,00 por mês com alimentos2. Desse valor,
Valores R$ 378,00 referem-se à aquisição de alimentos in natura e
• R$ 1,7 bilhão de faturamento industrializados, realizada em supermercados, feiras, mercearias,
• R$ 933 milhões de valor adicionado padarias, etc., para consumo nas residências. Os demais
• R$ 255 milhões em salários e contribuições sociais R$ 35,00 são despesas com alimentação fora de casa.
• R$ 767 milhões em compras de matérias-primas No total do País, essa despesa somou R$ 224,2 bilhões em
Quantidades 25 anos 2003, sendo 91,6% de produtos in natura e industrializados
• 60 milhões de sanduíches Big Mac vendidos para consumo em casa e 8,4% despendidos em bares,
• 21 milhões de McSundaes consumidos lanchonetes, restaurantes e quiosques. Dessa forma, calcula-se
• 200 milhões de McFritas vendidos que o McDonald’s detenha, no Brasil, cerca de 0,75% do
• 19 mil toneladas de carne bovina e 4,5 mil toneladas mercado de alimentos e quase 9% do mercado de bares,
de carne de aves restaurantes e lanchonetes.
• 222.654 mil dúzias de pães Além disso, destaca-se o enorme contingente humano
• 20 milhões de litros de sucos envolvido nesse empreendimento. Cada restaurante McDonald’s
emprega em média 65 funcionários, o que resulta numa força

Fonte: McDonald’s, fornecedores e estimativas GVconsult. de trabalho que superou 36 mil trabalhadores em 2003.

2 Nesse valor não estão incluídas as despesas com refeições realizadas em cantinas de empresas, escolas, hospitais, etc.
acadeiaprodutivadohambúrguer
As atividades do McDonald’s têm impactos em diversas outras na indústria; a alface exige dos produtores agrícolas a compra
atividades econômicas. Os restaurantes, os quiosques e os de sementes selecionadas e beneficiadas em algum dos elos
drive thru contribuem para movimentar toda uma cadeia de da agroindústria. Ademais, em um Big Mac, além do pão, da
produção. O que pode parecer a simples venda de um carne, do queijo e da alface, também há algum tipo de
hambúrguer está, na verdade, acionando um grande número molho. Os componentes desse molho também são elos
de trabalhadores, máquinas e tecnologias. É isso que está diferentes de uma cadeia produtiva. Mesmo que o exame se
sendo designado de McOnomics: todas as relações restrinja aos principais elementos de um Big Mac – o pão, a
econômicas necessárias para que a produção do carne, o queijo e a alface –, deve-se notar que em sua
McDonald’s seja realizada. elaboração estão envolvidos trabalhadores com diversas
Para instalar um restaurante McDonald’s são necessários: qualificações, máquinas e equipamentos dos mais diversos
compra do terreno, construção do estabelecimento, tipos e tecnologias das mais comuns às mais sofisticadas.
aquisição de máquinas, contratação de funcionários, compra Mas num McDonald’s vários outros tipos de alimento podem
de carnes, bebidas e outros produtos alimentícios, etc. ser escolhidos: sanduíches de frango e de peixe, bebidas
Mesmo que a análise se restrinja às atividades que se desen- (água, milk shakes, sucos e refrigerantes); acompanhamentos,
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rolam na cadeia de alimentos, ainda assim ela revelará um como batatas fritas, saladas, sobremesas (como sorvete ou
grande número de atores, ações e negócios. torta). Toda essa variedade envolve um grande número de
Por exemplo: cada um dos 60 milhões de Big Macs vendidos etapas de produção, as quais seguem elos diferentes e, ao
anualmente no Brasil demanda diversos produtos manufaturados, serem agrupadas, configuram uma mesma cadeia – a cadeia
ou seja, que passam por algum tipo de elaboração anterior. de alimentos, que começa na agropecuária, atravessa a
O pão foi produzido com algum tipo de farinha de trigo, que indústria manufatureira e chega ao setor de serviços, na figura,
por sua vez é o produto do beneficiamento do trigo in natura, por exemplo, dos restaurantes McDonald’s.
que, por fim, é o resultado do plantio do trigo. Esse percurso A figura 4 apresenta a cadeia de alimentos na qual o
reverso – do pão pronto para ser consumido à plantação do McDonald’s está inserido. Pode-se observar que tal cadeia
trigo – permite imaginar quantas relações econômicas podem não está fechada em si mesma. Ela gera atividades
estar envolvidas em sua produção. econômicas em outras cadeias: da indústria química vem o
No entanto, ele é apenas um elo das atividades econômicas adubo necessário para o cultivo do trigo, da cana-de-açúcar, da
que estão por trás de um Big Mac: a carne começa com a soja e do milho; da indústria do petróleo vêm os combustíveis
criação de bovinos, passa pelo abate do gado e a conser- que põem em funcionamento as máquinas que aram a terra;
vação nos frigoríficos e chega à industrialização do hambúrguer; da indústria de veículos vêm os tratores que preparam o
o queijo tem como insumo básico o leite produzido nas terreno e fazem a colheita; da indústria têxtil vêm os artigos de
fazendas, que é levado para um processo de beneficiamento vestuário de todos os empregados da extensa cadeia produtiva;
da indústria de papel vêm o papelão para transporte e vêm a água, os serviços rede de esgotos e a energia elétrica.
embalagem e o papel para guardanapos; da indústria de Em suma, todos os elos da cadeia de alimentos se relacionam
plásticos vem a matéria-prima para copos, canudos, talheres com atividades que, por sua natureza, estão inseridas em
e parte das embalagens; dos serviços de utilidade pública outras cadeias de produção.

Figura 4. A cadeia produtiva do hambúrguer

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Essas relações econômicas ao longo da cadeia produtiva despesa de R$ 56,5 milhões. O gasto maior ficou por conta
podem ser mensuradas, o que possibilita levantar a participação da compra de batatas: R$ 74,6 milhões. Ao acrescentar
direta do McDonald’s na vida econômica do Brasil. No ano de a todas essas despesas os gastos com sorvetes, carnes
2000, todas os restaurantes McDonald’s gastaram, em de frango e peixe, queijos, alfaces, tomates, molhos, papéis
conjunto, mais de R$ 30 milhões somente em pães3, e materiais plásticos e vestuário, o McDonald’s despendeu
o equivalente a uma quantidade superior a 23,5 mil dúzias aproximadamente R$ 301 milhões em 2000 – veja a figura
de pães. Com refrigerantes e sucos, foram gastos cerca 5. Para adquirir todos esses bens, o McDonald’s pagou mais
de R$ 34,6 milhões. A carne bovina correspondeu a uma de R$ 50 milhões somente em ICMS.

Figura 5. O custo direto do Big Mac (em R$ mil) 2000

3 Os valores apresentados neste parágrafo estão a preços correntes. Empregamos os dados de 2000 para poder comparar os números do McDonald’s com
os de pesquisas agregadas do IBGE, que avaliam a economia como um todo, o setor de serviços e o segmento de alimentação.
Além desses gastos, no ano de 2000, as atividades do Portanto, a soma de tudo o que o McDonald’s comprou de
McDonald’s renderam a outras atividades mais de R$ 300 milhões: outras empresas chega a aproximadamente R$ 661 milhões.
R$ 61,4 milhões foram gastos com serviços de terceiros; Esse é o chamado consumo intermediário da empresa
outros R$ 50,1 milhões com aluguéis; as despesas com McDonald’s: representa o valor total que ela consumiu de
energia elétrica, água, esgoto, telefone e combustíveis bens e serviços de outras atividades econômicas. Isso dá
alcançaram R$ 66 milhões; e R$ 131,1 milhões foram uma dimensão do efeito das atividades do McDonald’s sobre
despendidos em seguros, comunicação, outras despesas a economia brasileira. Mas o McDonald’s também cria (ou
operacionais e não-operacionais – veja a figura 6. adiciona) valor para a economia brasileira.

Figura 6. Outros custos do Big Mac (em R$ mil) 2000

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Ageraçãoderenda,empregoesalários
A contribuição de qualquer atividade para a economia de um representava o valor adicionado pelo McDonald’s à economia
país é determinada pela quantidade de bens ou serviços que brasileira, ou seja, o que o McDonald’s acrescentava na forma de
ela acrescenta ao total de bens e serviços produzidos em pagamento de salários, de impostos e a remuneração da
toda a economia. Em 2000, a contribuição do McDonald’s, empresa, um valor ainda maior do que o consumido em insumos.
em valores, para a economia brasileira atingiu quase R$ 805 A tabela 1 apresenta os dados do McDonald’s, do segmento
milhões. Esse valor adicionado também pode ser visto pelo de bares e restaurantes3 e da economia brasileira no ano de
enfoque da renda. Sob esse aspecto, o McDonald’s contribuiu 2000. Com relação ao faturamento, observa-se que o valor
com R$ 221 milhões em salários e encargos sociais e com adicionado pelo McDonald’s (54,9%) está acima do da
cerca de R$ 563 milhões em excedente operacional4. economia brasileira (49,0%) e do segmento de bares e
Somando-se o valor adicionado ao consumo intermediário restaurantes (42,8%), o que indica a elevada produtividade
(visto na seção anterior), obtém-se o faturamento de R$ 1,465 da empresa. De tudo o que foi produzido no Brasil em 2000,
bilhão do McDonald’s em 2000. as atividades do McDonald’s foram responsáveis por 0,08%.
Quando se toma como exemplo um Big Mac, que custava Do valor adicionado do segmento de bares e restaurantes, a
R$ 3,40 em 2000, havia nesse valor R$ 1,53 de despesas produção do McDonald’s representou 4,6%, percentual bastante
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em que o McDonald’s incorrera com alimentos e todos os expressivo. No que diz respeito ao faturamento total desse
bens e serviços para produzir o sanduíche. O restante – R$ 1,87 – segmento, o McDonald’s participou com 3,6%.

Tabela 1. O McDonald’s e a economia brasileira, 2000*

Contas McDonald's Bares & restaurantes Economia brasileira


R$ mil % no VP R$ mil % no VP R$ mil % no VP
Valor adicionado 804.603 54,9 17.405.197 42,8 981.861.104 49,0
Remunerações 220.533 15,0% 9.985.430 24,6 417.071.718 20,8
Salários 143.380 9,8% 7.441.537 18,3 295.228.917 14,7
Contribuições sociais 77.153 5,3% 2.543.893 6,3 65.952.133 3,3
Excedente operacional bruto 563.928 38,5% 7.419.767 18,2 506.108.046 25,3
Outros impostos sobre a produção** 20.142 1,4% 495.073 1,2 62.503.203 3,1
Consumo intermediário 660.923 45,1 22.761.497 56,0 1.020.019.310 51,0
Valor da produção 1.465.526 100,0 40.661.767 100,0 2.001.880.414 100,0
Empregados 35.360 3.836.995 65.151.100
Fonte: IBGE (2004) e MTE (2003). * Estimativas da GVconsult. ** Inclui IPTU, IPVA e taxas municipais.
4 No excedente operacional da produção estão incluídos os custos indiretos com a produção e a comercialização da empresa, a remuneração de profissionais
autônomos, os impostos diretos e indiretos arrecadados por ela, o investimento e a remuneração de seu capital.
5 Estão incluídos neste segmento todos os serviços de alimentação prestados a famílias, tais como restaurantes, bares, lanchonetes, quiosques, etc.
Os cerca de R$ 805 milhões não são a única renda gerada outras empresas na cadeia do hambúrguer. Nessa etapa
pelo McDonald’s. As empresas que vendem produtos e produtiva são criados outros R$ 216 milhões de renda.
serviços diretamente a ele também pagam salários, impostos No total da economia brasileira, das fazendas aos restaurantes
e obtêm lucros. Estima-se6 que, em 2000, para cada real de do McDonald’s, passando por diversas atividades laterais da
valor adicionado pelo McDonald’s, tenham sido gerados R$ 0,36 cadeia, as vendas dos restaurantes da rede geraram de
por seus fornecedores diretos. Isso significa que foram criados forma direta e indireta pouco mais de R$ 1,3 bilhão em 2000.
R$ 287 milhões a mais na economia brasileira. A tabela 2 mostra a distribuição desses valores por item de despesa
Como se mostrou na seção que descreveu a cadeia do do McDonald’s7. Essa renda, somada à que o próprio
hambúrguer, essas empresas também adquirem insumos de McDonald’s gerou, correspondeu a 0,13% do PIB brasileiro em 2000.

Tabela 2. A renda indireta (em R$) gerada pelas atividades do McDonald’s, 2000*
Item de despesa Fornecedores diretos Demais elos da cadeia Soma
Alimentos, vestuário e embalagens
McFritas 20.177.225,44 35.101.124,53 55.278.349,97
Carne bovina 7.250.795,53 36.622.255,43 43.873.050,96 11
Refrigerantes e sucos 9.353.072,00 16.270.985,62 25.624.057,62
Mix sorvete 5.837.075,88 17.295.153,79 23.132.229,67
Pães 8.290.173,76 14.421.924,48 22.712.098,24
Papel 6.645.942,36 7.704.346,10 14.350.288,46
Frango 1.866.370,00 9.426.645,50 11.293.015,51
Queijo fatiado 2.800.435,24 8.297.640,66 11.098.075,90
Alface 4.947.582,44 2.427.068,11 7.374.650,54
Molhos, ketchup, mostarda 1.973.336,00 3.432.895,81 5.406.231,81
Peixe 608.657,46 3.074.201,85 3.682.859,31
Vestuário e uniformes 897.355,75 824.149,88 1.721.505,62
Tomate 966.954,22 474.345,56 1.441.299,78
Materiais Plásticos 730.466,86 404.465,42 1.134.932,28
Outros itens de despesa
Outras despesas operacionais 81.195.183,37 22.944.288,85 104.139.472,22
Aluguel 47.714.724,02 1.807.430,03 49.522.154,06
Serviços de terceiros 39.515.510,77 14.738.760,40 54.254.271,17
Energia elétrica 18.594.337,80 10.302.034,31 28.896.372,11
Combustíveis 15.197.922,85 8.014.525,10 23.212.447,96
Serviços de comunicação 8.108.986,43 1.265.046,90 9.374.033,34
Despesas não-operacionais 2.646.087,06 747.736,30 3.393.823,36
Seguros 1.395.861,77 570.685,14 1.966.546,91
Total 286.714.057,02 216.167.709,78 502.881.766,79
Fonte: IBGE (2002). * Estimativas da GVconsult.

6 O anexo metodológico traz a metodologia e as estimativas de multiplicadores de renda e emprego feitas pela GVconsult a partir
da matriz insumo-produto brasileira de 2000.
7 O anexo estatístico traz os coeficientes de renda e emprego para os 42 setores de atividades da economia brasileira, com base nos quais
as estimativas deste relatório foram realizadas.
As atividades do McDonald’s também geram empregos diretos Estima-se que as empresas que vendem diretamente bens e
e indiretos ao longo de toda a cadeia produtiva do hambúrguer. serviços ao McDonald’s tenham empregado, em média,
Como ilustra a tabela 1, em 2000 havia mais de 35 mil pouco mais de 13 mil pessoas. A demanda dessas empresas
empregados nos restaurantes e na administração. Assim como por matérias-primas ao longo da cadeia produtiva gerou,
a renda, as atividades do McDonald’s fazem surgir empregos por sua vez, outros 17,5 mil postos de trabalho. No total,
nas empresas que lhe fornecem matéria-prima diretamente, considera-se que as atividades do McDonald’s tenham
assim como as encomendas feitas por essas empresas a seus sustentado cerca de 66 mil empregos em 2000, o que
fornecedores geram outros postos de trabalho em toda a economia. corresponde a 0,1% da força de trabalho brasileira.

Tabela 3. O emprego direto gerado pelas atividades do McDonald’s, 2000*


Item de despesa Fornecedores diretos Demais elos da cadeia Soma
Alimentos, vestuário e embalagens
McFritas 1.253 3.201 4.454
12 Alface 990 265 1.255
Refrigerantes prontos para beber 581 1.484 2.065
Pães 515 1.315 1.830
Carne bovina 455 5.382 5.837
Vestuário e uniformes 320 53 373
Papel 202 329 531
Tomate 193 52 245
Mix sorvete 149 - 149
Molhos, ketchup, mostarda 123 313 436
Frango 117 1.385 1.502
Queijo fatiado 71 - 71
Peixe 38 452 490
Materiais plásticos 38 14 52
Outros itens de despesa
Outras despesas operacionais 2.889 1.705 4.594
Serviços de terceiros 2.688 641 3.330
Combustíveis 2.119 340 2.459
Aluguel 115 77 192
Energia elétrica 112 260 372
Despesas não-operacionais 94 56 150
Serviços de comunicação 49 62 111
Seguros 19 31 49
Total 13.129 17.418 30.547
Fonte: IBGE (2002). * Estimativas da GVconsult.
A participação do McDonald’s na geração de salários e
contribuições sociais também foi importante. A massa de
salários paga pelo McDonald’s no ano de 2000 atingiu
R$ 143,4 milhões, aos quais se somaram outros R$ 77,2 milhões
de contribuições trabalhistas, totalizando uma despesa de
R$ 221 milhões com a mão-de-obra.
Além desse valor, os salários pagos pelas empresas que
fornecem bens e serviços diretamente ao McDonald’s atingiram
a cifra de R$ 86,2 milhões em 2000. Se a esse valor forem
somados os salários pagos pelos fornecedores de matérias-
primas ao longo da cadeia, no valor estimado de R$ 65 milhões,
atinge-se um total de R$ 151,2 milhões de salários associados
à atividade do McDonald’s. Os encargos trabalhistas vinculados
somam R$ 64,2 milhões, totalizando uma despesa indireta 13
com mão-de-obra de R$ 215,4 milhões. Assim, o resultado
absoluto de salários e encargos trabalhistas pagos pela
cadeia do hambúrguer atingiu a cifra de R$ 436 milhões
em 2000, ou seja, cerca de 0,1% de todos os salários e
encargos pagos no País.
acontribuiçãoparaocrescimento
Crescimento econômico é um fenômeno que pode ser resumido total na economia brasileira cresceu a uma taxa bastante reduzida,
em três palavras: investimento, emprego e produtividade. O de apenas 0,8% ao ano. Assim, os novos postos de trabalho
McDonald’s tem contribuído para o crescimento brasileiro nesses abertos pelo McDonald’s representaram 0,5% dos 6,5 milhões
três aspectos. O número de restaurantes passou de 29 em 1990 de postos de trabalho abertos no País desde 1990.
para 550 em 2003, o que correspondeu a um crescimento médio Cada funcionário do McDonald’s gerou, no ano de 2000,
anual de 27%. Em termos monetários, essa expansão significou R$ 22.754,60 de valor adicionado, o equivalente a R$ 9,48 por
investimentos diretos da ordem de R$ 900 milhões, a preços hora trabalhada10. Quando se comparam esses números com os da
de 2003, ou R$ 65 milhões por ano. Estima-se que tais economia brasileira, e com os do setor de bares e restaurantes,
inversões tenham originado, ao longo da cadeia produtiva do tem-se uma idéia da contribuição do McDonald’s para a
hambúrguer, cerca de outros R$ 262 milhões de investimento produtividade. Em média, um trabalhador brasileiro adicionou cerca
por ano, totalizando investimentos médios anuais próximos de R$ 15.070,52 em 2000 ou, ainda, R$ 6,28 por hora trabalhada.
a R$ 326 milhões. Esse montante correspondeu a 0,23% de Isso significa que um empregado do McDonald’s é cerca de 50%
todo o investimento em capital fixo8 realizado no Brasil em 2000. mais produtivo do que um trabalhador médio brasileiro – aí incluídos
Considerando o valor adicionado pela cadeia do hambúrguer em empregados de setores industriais, cuja produtividade é também
14
2000, estimado em R$ 1,3 bilhão, chega-se a uma taxa de bastante elevada. Tomando-se apenas o segmento de bares e
investimento de 25%, valor 15 pontos percentuais superior ao restaurantes, o contraste é ainda maior: um empregado desse
realizado pela média da economia brasileira. setor gerou R$ 4.536,15 em 2000, ou R$ 1,90 por hora trabalhada.
Tomando por referência o trabalho de Pires e Garcia (2004)9, que Comparado a um empregado desse segmento, um funcionário
analisa, entre outros temas, a influência dos investimentos sobre do McDonald’s é cinco vezes mais produtivo. Em outros termos,
a economia brasileira, pode-se dizer que o PIB brasileiro seria para produzir o que um funcionário do McDonald’s produz
0,02% menor caso o McDonald’s não tivesse investido aquele em um ano, um empregado médio do setor de bares e
volume de recursos no Brasil, o que equivale a um ganho de restaurantes tem de trabalhar cinco anos.
bem-estar pela presença da empresa no País na ordem de Essa performance do McDonald’s é, em boa medida, resultado
R$ 265 milhões por ano. Essa é a contribuição do McDonald’s de altos investimentos em tecnologia. Desde sua entrada no
para o primeiro aspecto do crescimento econômico brasileiro. Brasil, o McDonald’s vem contribuindo, sobretudo, com o
Quanto ao segundo aspecto, o McDonald’s contribuiu com a desenvolvimento de matérias-primas e da logística. A alface-
criação de mais de 35 mil novos postos de trabalho ao longo da americana, hoje popularizada na mesa do brasileiro, é um
cadeia do hambúrguer no período de 1990 a 2003. Isso exemplo de inovação de produto introduzida pelo McDonald’s.
correspondeu a uma taxa de expansão da força de trabalho Da introdução de um produto veio o desenvolvimento de um
empregada na rede McDonald’s de 25,3% ao ano, o que é negócio que hoje está a cargo da empresa Refricon, responsável
particularmente importante, visto que nesse período a ocupação pelo beneficiamento de 160 toneladas de alface-americana,
8 Esse valor exclui investimentos em residências. Considerando os investimentos habitacionais, a contribuição média do McDonald’s foi de 0,15% da formação
bruta de capital brasileira.
9 Jorge Oliveira Pires e Fernando Garcia (2004). The Productivity of Nations: a stochastic frontier approach to TFP de-composition. Asia and Pacific Productivity
Congress, Queensland, Australia. July 2004, forthcoming.
10 Considerou-se que, em média, um empregado brasileiro trabalhou 2.400 horas por ano.
65 toneladas de cebola, 100 toneladas de tomate e 40 contínuo incremento da produtividade têm como resultado
toneladas de salada (alface-romana e americana, cenoura, um crescimento do valor adicionado pelo McDonald’s maior
repolho e radicchio), em 2003. que o da economia brasileira. Entre 1990 e 2003, estima-se
A logística de distribuição dos produtos McDonald’s para sua que o valor adicionado pelo McDonald’s cresceu cerca de
rede de restaurantes é outro exemplo: o transporte, a cargo 13,5% ao ano, enquanto que tal valor, na média de todas as
da Martin-Brower, é feito hoje por uma frota de apenas 133 empresas brasileiras, aumentou 3,7% ao ano. A figura 7 ilustra
veículos, que mantém abastecidos todos os pontos-de- a evolução do valor adicionado per capita do McDonald’s e o
venda no Brasil. Em 2003, as entregas foram feitas com mais da economia brasileira.
de 96% de pontualidade e quase 100% de confiabilidade. Chama a atenção o fato de que, mesmo após três anos de
Também vale mencionar a elevada produtividade dos pequeno crescimento ou de retração de suas atividades
fornecedores ao longo da cadeia: as indústrias de pães, de (anos de 2001 a 2003), período em que as vendas do
beneficiamento de carnes, de sucos e de batatas, apenas McDonald’s acompanharam a evolução desfavorável da
para citar quatro, detêm elevada tecnologia no ramo de alimentos. renda das famílias, os investimentos mantiveram-se no
Os investimentos, a ampliação dos postos de trabalho e o mesmo patamar observado na década de 90.
15
Figura 7. O crescimento do valor adicionado (em R$ de 2003) por habitante, 1990 a 2003
aparticipaçãonomercadodetrabalho
Diferentemente do que ocorre com a média de todas as McDonald’s se deve aos investimentos realizados em tecnologia.
empresas do Brasil, o McDonald’s tem em seu corpo de Mas há um outro fator importante: a formação de seus
funcionários um número ligeiramente maior de mulheres funcionários. Em 1997, o McDonald’s inaugurou no Brasil a
(55%) do que de homens (45%). De fato, na economia Universidade do Hambúrguer (existente em apenas outros cinco
brasileira, de cada 100 empregados com relação formal de países do mundo, além dos Estados Unidos). O investimento
trabalho11, há em média 61 homens e 39 mulheres. O McDonald’s em capital fixo de R$ 7 milhões ali realizado tem como objetivo,
também se diferencia do segmento de bares e restaurantes, entre outros, coordenar centros de treinamento regionais e
cujos funcionários são 54% homens e 46% mulheres. programas de desenvolvimento de funcionários. Em 2003, as
Outra característica marcante dos funcionários do McDonald’s inversões totais do McDonald’s em treinamento atingiram
é a idade: 87% têm entre 16 e 21 anos. Na economia brasileira, R$ 22 milhões, cerca de 1,3% do faturamento total da
a maior parcela de empregados com carteira assinada (69%) empresa ou, ainda, 3,7% de seu excedente operacional.
se concentra na faixa etária de 25 a 49 anos. Os jovens (de Em suma, em termos de qualidade de emprego, o McDonald’s
15 a 24 anos) representam apenas cerca de 20%. No segmento contribui para a inserção da mulher e do jovem no mercado
de bares e restaurantes, os empregados com 15 a 24 anos de trabalho. Dá oportunidades para pessoas de instrução
16
representam 34% e os com 25 a 49 anos, 60%. A baixa faixa média e investe em sua qualificação profissional. E, com isso,
etária média dos funcionários do McDonald’s é uma característica obtém uma maior produtividade, revertida em melhores
marcante, pois sua oferta de trabalho está relacionada ao salários. Em comparação com a média dos empregados em
primeiro emprego do jovem brasileiro. todo o Brasil, um funcionário do McDonald’s tem salário cerca de
Evidentemente, a pouca idade implica escolaridade não 20% superior. Esse salário é quase três vezes maior que o
muito elevada para a maioria dos funcionários do salário médio recebido pelos empregados em bares
McDonald’s: 96% têm o Ensino Médio completo ou em e restaurantes.
curso, enquanto 4% já estão cursando o Ensino Superior ou
já o completaram. No entanto, relativamente à média das
empresas do Brasil, a mão-de-obra do McDonald’s tem
escolaridade mais elevada: os empregados cursando o
Ensino Médio ou com grau de escolaridade superior são
cerca de 49% do total do País. Relativamente ao segmento
de bares e restaurantes, os funcionários do McDonald’s têm
grau de instrução mais alto: naquele segmento, somente
30% dos funcionários cursam o Ensino Médio ou Superior.
Como já foi mencionado, a elevada produtividade do
11 Dados obtidos da RAIS 2000, Ministério do Trabalho e Emprego.
arrecadaçãodeimpostosecontribuiçõessociais
Parte da renda gerada pelas atividades do McDonald’s é mais de R$ 45 milhões para instituições beneficentes desde
transferida ao governo na forma de impostos e contribuições 1988, ano em que foi iniciado. Em 2000, ele arrecadou
sociais. Em 2000, o McDonald’s coletou impostos no valor R$ 5,6 milhões, correspondente a 0,7% do valor adicionado
de aproximadamente R$ 100 milhões. Esse não é o valor pelo McDonald’s no ano 13. Outras atividades dessa
total da contribuição fiscal da empresa. Considerando-se natureza são os programas McLanche Feliz Solidário, o Dia
todos os impostos diretos e indiretos que estão presentes Mundial das Crianças, a Campanha de Vacinação Infantil e
nos produtos vendidos pelo McDonald’s, independentemente a Campanha de Combate à Dengue. E aos programas se
de terem sido arrecadados pela empresa ou por algum de somam as ações institucionais voltadas à saúde (Casa
seus fornecedores, estima-se que em 2000 tenham sido Ronald McDonald), à educação e aos esportes.
coletados R$ 154,1 milhões aos cofres municipais, estaduais
Tabela 4. A carga tributária
e federal. Na tabela 4 vê-se a distribuição dessa carga tributária do McDonald’s, 2000*
entre diferentes impostos e contribuições, em que se destacam
Itens R$ mil % do VA
o ICMS, correspondente a 10,5% do valor adicionado pela Impostos 154.100 19,2%
empresa, e os outros impostos sobre a produção12. ICMS 84.161 10,5%
IPI/ISS 27.276 3,4% 17
Além desses valores, há as contribuições sociais, que
Importação 3.782 0,5%
abrangem a Contribuição Provisória sobre Movimentações Outros impostos 1.287 0,2%
Financeiras (CPMF), as contribuições ao sistema previdenciário Outros impostos sobre a produção 20.142 2,5%
IPTU 1.126 0,1%
(INSS), os depósitos no Fundo de Garantia por Tempo de IPVA 322 0,0%
Serviço (FGTS) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido IRPJ 16.012 2,0%
(CSLL). Somadas, totalizaram R$ 88,8 milhões em 2000, a Contribuições 112.309 14,0%
CPMF 4.828 0,6%
maior parte concentrada nas contribuições trabalhistas, que Previdência e FGTS 100.642 12,5%
representaram 11,0% do valor adicionado pelo McDonald’s. CSLL 6.839 0,9%
Carga tributária bruta 266.417 33,1%
O total da carga tributária sobre as atividades do McDonald’s
Fonte: IBGE (2002). * Estimativas da GVconsult.
foi de cerca de 30,2% de seu valor adicionado no ano de
2000, somando uma contribuição de R$ 242,9 milhões.
Em termos relativos, vale mencionar que essa contribuição
está acima da realizada pela média das empresas
brasileiras, a qual foi de 22,5% do PIB, e do segmento de
bares e restaurantes, de 28,7% de seu valor adicionado.
A contribuição social da empresa vai além da arrecadação
de impostos. Apenas o programa social McDia Feliz já destinou
12 Nesses impostos estão incluídos COFINS e o PIS/PASEP.
13 Se fizermos as contas na ponta do lápis, vamos ver que o McDia Feliz, apesar de ser realizado
um dia ao ano, representou, na verdade, dois dias e meio da produção anual da empresa.
acontribuiçãoaodesenvolvimentoregional
As atividades do McDonald’s no Brasil também podem ser Figura 8. A contribuição do McDonald’s
avaliadas do ponto de vista regional. Em alguns municípios, a na geração de empregos, 2000
participação do McDonald’s no emprego formal é bastante
significativa. Nas cidades de Itupeva (SP), Aparecida (SP),
Porto Seguro (BA), São Pedro da Aldeia (RJ) e Barueri (SP), em
2000, mais de 1% dos trabalhadores estava empregado nos
restaurantes e quiosques e na administração da rede McDonald’s.
A geração de empregos pelo McDonald’s também é elevada
em outras tantas localidades do País, como as cidades de
Caraguatatuba (SP), Brasília (DF), Itu (SP), São Bernardo do
Campo (SP), Cotia (SP), São Paulo (SP), Lauro de Freitas
(BA), Santana de Parnaíba (SP), Praia Grande (SP), São José
(SC), Santos (SP), Rio de Janeiro (RJ), Ribeirão Preto (SP),
Santo André (SP) e Itapevi (SP). Nessas localidades, a participação
18 do McDonald’s no emprego formal girava entre 0,5% e 1%
em 2000. A figura 8 mostra a presença relativa do
McDonald’s no mercado de trabalho das regiões onde estão
instalados seus restaurantes e quiosques.
Como foi dito antes, a oferta de trabalho do McDonald’s está
voltada para o jovem brasileiro. Esse fato torna-se evidente
quando se avalia sua participação na geração de empregos
para a faixa da população com idade entre 15 e 24 anos.
Para 43 das 121 cidades em que a rede tinha estabelecimentos
instalados em 2000, a participação de sua oferta de postos
de trabalho no total do emprego formal desse grupo etário
superava 1%. Além das cidades acima mencionadas, vale
destacar vários municípios da Baixada Fluminense, uma
região do Estado do Rio de Janeiro em que boa parte dos
jovens com emprego formal estava trabalhando no McDonald’s.
Entre eles destacamos Belford Roxo, Nilópolis, Itaboraí,
Duque de Caxias, São Gonçalo, São João de Meriti e Nova Iguaçu. Fonte: McDonald’s e MTE (2002).
Figura 9. A contribuição do McDonald’s A presença regional do McDonald’s também está na geração
na geração de impostos e renda, 2000 de salários e impostos. No que diz respeito a esse aspecto,
a participação do McDonald’s na arrecadação de impostos
municipais superava 1% para 12 dos 121 municípios em que
a rede operava em 2000. Para outros 42 desses municípios,
essa participação era superior a 0,5%. Esses dados estão
ilustrados na figura 914. No total, as 121 prefeituras municipais
arrecadaram cerca de R$ 55,5 milhões originados nas atividades
do McDonald’s em 2000 ou, ainda, 0,5% dos R$ 11,7 bilhões
de impostos e taxas municipais arrecadados por essas cidades.

19

Fonte: McDonald’s, IBGE e Secretaria do Tesouro Nacional (2002).

14 Acompanha esse relatório uma planilha com dados municipais.


Na descrição da cadeia produtiva do hambúrguer, ficou claro Maranhão, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul,
que as atividades do McDonald’s estimulam um grande São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul15.
número de outros empreendimentos econômicos. Na venda Esses municípios aparecem em amarelo na figura 10, que
de um Big Mac, um milk shake ou um suco está implícita a sobrepõe essas cidades àquelas em que há restaurantes ou
produção de vários bens do setor agrícola e da pecuária, quiosques da rede. Somando-se os municípios em que há
assim como de produtos industriais. É possível mapear os restaurantes McDonald’s e aqueles em que há produção
efeitos econômicos do McDonald’s na cadeia de produção agropecuária destinada ao McDonald’s, chega-se a uma
de alimentos. estimativa de 314 cidades envolvidas no negócio McDonald’s.
Estima-se que, entre 2000 e 2003, o McDonald’s e seus 210 Tais cidades acomodavam 76 milhões de habitantes (45%
fornecedores diretos compraram insumos agropecuários em da população brasileira) e geraram massa salarial de
174 municípios distribuídos em nove Estados brasileiros: R$ 195 bilhões em 2000 (66% da renda nacional de salários).

Figura 10. Onde está o McOnomics no Brasil?

20

15 Ocasionalmente, os fornecedores do McDonald’s adquirem insumos de Fonte: McDonald’s e IBGE (2003).


outros municípios situados em outras unidades da Federação.
aexportaçãodeprodutos
paraoMcDonald’sdeoutrospaíses
Muito embora o McDonald’s não seja um exportador McDonald’s, compram sucos brasileiros, em especial
direto de produtos e serviços, seus 210 fornecedores de laranja. Calcula-se que as exportações brasileiras
ao longo da cadeia do hambúrguer no Brasil exportam de suco de laranja tenham atingido cerca de US$ 1 bilhão
uma série de bens in natura e processados para diversos em 2003. A Cargill e a Minute Maid / Coca-Cola, dois
países em que a rede atua. Isto é, o McDonald’s internacional dos fornecedores de suco de laranja para o McDonald’s
importa do Brasil grande parte de seus insumos. A OSI, no mundo, foram responsáveis por 20% daquele valor,
por exemplo, empresa de processamento de carnes o que corresponde a US$ 200 milhões ou ao embarque
vermelhas, aves e peixes exportou cerca de US$ 100 de mais de 160 mil toneladas de suco no ano. A rede
milhões no ano de 2003 para o sistema McDonald’s McDonald’s na Europa, no Oriente Médio e na Ásia
no mundo. Outro exemplo é a Cargill brasileira, que é responsável por quase 10% desse valor, totalizando
exporta para o sistema McDonald’s da Europa cerca de US$ 19 milhões, estimativamente.
7,8 mil toneladas de peito de frango, ou o equivalente a As aquisições feitas pelo McDonald’s no mundo, que
US$ 32 milhões por ano. hoje se aproximam de US$ 200 milhões, representam
21
Os processadores brasileiros de sucos, que fornecem um potencial de mercado para os produtores
esses insumos para os restaurantes da rede no Brasil, brasileiros, segundo a percepção dos entrevistados.
também são grandes exportadores para o sistema O crescimento desse mercado, que foi elevado
mundial McDonald’s. Praticamente todos os países que nos últimos anos, pode ser ainda maior, a depender
aparecem na figura 11, onde estão os restaurantes de providências legais que facilitem a exportação.

Figura 11. Para aonde vai o suco de laranja brasileiro comprado pelo McDonald’s?

Fonte: McDonald’s.
anexometodológico
A.1. A teoria de Leontief: o modelo aberto
A chamada tabela de insumo-produto tem o aspecto típico descrito na figura A.1. Nela estão representadas as diversas
transações intersetoriais realizadas numa determinada economia durante um certo período de tempo (um ano, digamos).
São m setores produtivos, ou atividades, que participam do fluxo de insumos e de produtos. As principais variáveis sobre as quais
são definidas as relações de insumo-produto são:
• Xij : a quantidade de insumo, em valor monetário, produzido pelo setor i e adquirido pelo setor j;
• Xi : o valor monetário da produção total do setor i;
• Di : o valor monetário da demanda final pelo insumo do setor i, que corresponde à soma do consumo familiar deste insumo
Ci, com o investimento privado Ii, o dispêndio governamental Gi e as exportações Ei;
• Vj : o valor adicionado pelo setor j.
Na linha i estão, portanto, as vendas do setor i para cada um dos demais setores da economia, de forma que podemos escrever:
m m
Xi = ∑ Xij + (Ci + Ii + Gi + Ei) ou ainda: Xi = ∑ Xij + Di
j=i j=i

Os dois componentes da demanda total, que se iguala ao valor da produção do setor, são a demanda final, realizada pelos
22
consumidores, investidores e governo, e a demanda intermediária, ou consumo intermediário. Na demanda final está incluído o
consumo das famílias, o que indica que o modelo é aberto, visto que essa parte importante da demanda é determinada, por
hipótese, de forma exógena.
A hipótese fundamental do modelo de insumo-produto assume que a quantidade de insumo do setor i consumida pelo
setor j (Xij) é proporcional à produção total do próprio setor j (Xj), isto é, que:

Xij = aij Xj
em que aij é uma constante. Isso equivale a dizer que o consumo por parte do setor j de insumos do setor i (Xij) é uma
função linear de sua própria produção (Xji). Para produzir um total de Xj, o setor j necessita de aij Xj = Xij em insumos de i.
Percebe-se que esta relação é uma característica da tecnologia de produção do setor j: para dobrar sua produção e
chegar a 2 Xj, por exemplo, o setor j necessitará obter do setor i um total de aij(2 Xj) = 2 Xij em insumos.
A matriz A = (aij) que pode ser assim construída é conhecida por matriz de tecnologia e seus elementos “aij” são chamados
coeficientes técnicos de insumos diretos. A hipótese feita se baseia no fato de ser lento o ritmo de avanço tecnológico por
parte das diversas indústrias de uma economia, o que implica a validade da relação acima para períodos imediatamente
anteriores e posteriores. Supõe-se também que os preços são fixos no período em que se fez a análise, já que na prática
as quantidades dadas da figura A.1 estão em alguma unidade monetária, e não na unidade física correspondente do produto,
o que seria mais adequado para o cálculo das relações tecnológicas.
23
A partir dessas relações, obtém-se um sistema linear de m equações e m incógnitas:
m m
Xi = ∑ Xij + Di = ∑ aijXj + Di i = 1,2,...,m
j=i j=i
ou seja:
ai1X1 + ai2X2 + ... + ainXn + Di = Xi i = 1, 2, 3, ...,m
Na forma matricial, este sistema pode ser escrito como:

AX + D = X ou ainda: (I – A)X = D
Aqui, A é a matriz de tecnologia quadrada m x m; X é o vetor-coluna m x 1 cujos elementos são os valores das produções
dos diversos setores; D é o vetor-coluna m x 1, correspondente à demanda final, e I é a matriz-identidade m x m.
O passo final para a construção do modelo de I-P pode ser garantido ao se perceber que, em geral, o consumo
intermediário de um setor não ultrapassa o total de sua produção, isto é:
m
Xj = ∑ Xij j = 1,2, 3,...,m
j=i
o que equivale a:
m
1 > ∑ aij j = 1,2, 3,...,m
j=i
Essas desigualdades garantem a existência da inversa da matriz (I – A). Assim, o sistema anterior pode ser resolvido para X:

X = (I – A)-1 D = L.D (1)

A matriz L = (I – A)-1 é chamada de matriz inversa de Leontief. O sistema (1) mostra o quanto a economia deverá produzir de
cada mercadoria e serviço para atender à demanda total D. Assim a j-ésima coluna de L representa a produção necessária de
todos os setores produtivos para atender à demanda de uma única unidade de produto do setor j, como é possível verificar ao
se fazer o vetor D igual ao vetor-coluna composto apenas por zeros, á exceção de seu j-ésimo elemento, que deve ser 1.
A fim de mensurar impactos econômicos utilizando-se a matriz de insumo-produto, são construídos multiplicadores de emprego
e de renda. Na literatura especializada não há um consenso geral sobre o significado desses multiplicadores e diversas definições
distintas podem ser encontradas. Neste texto, serão empregadas duas delas, uma função da outra, e o valor associado àquela mais
importante será denominado coeficiente de emprego ou de renda, conforme o caso.
O coeficiente de emprego direto CEDj, j = (1, 2, ...), m é aquele obtido pela divisão do número de trabalhadores de cada setor j
de atividade (Nj) pelo respectivo valor da produção (Xj). Compondo um vetor-linha (1 x m) com esses quocientes, chega-se a:

CED = (N1/X1 N2/X2 ...Nm/Xm) (2)

Isto é, para produzir uma unidade de produto do setor j, serão necessários CEDj pessoas ocupadas no próprio setor j, seguindo a

24 hipótese de relações lineares de Leontief. Ou ainda: se houver uma demanda por uma unidade de j, diretamente empenhada em
sua produção, estarão CEDj pessoas no setor j.
Entretanto, há o efeito indireto de geração de emprego em toda a economia, visto que este setor deve consumir produtos
provenientes dos demais. Para calcular este efeito, lembremos que, dado um vetor-coluna D (m x 1) representando a
demanda pelos produtos das m atividades, a produção que a satisfaz é dada por Z = L.D. Para produzir Z, serão
necessários, portanto:
m
E = ∑ CEDjZj
j=1
pessoas ocupadas, isto é, E = CED.Z = (CED.L).D = CEDI.D.
O vetor-linha CEDI (1 x m), é igual a CED.L, é conhecido como o vetor de coeficientes de emprego direto e indireto, pois seu
j-ésimo elemento, o coeficiente CEDIj, representa o total de pessoas ocupadas necessárias para que toda a economia atenda à
demanda de um único bem do setor j.

CEDI = CED.L (3)

A outra noção de multiplicador de emprego, também utilizada na literatura, relaciona o coeficiente de emprego direto com o indireto:

CEDIj
KEj = j = 1,2,...,m (4)
CEDj
Essa relação nos diz que, se a produção de um valor determinado do setor j empregar diretamente n trabalhadores do setor j,
então o número de empregos diretos e indiretos gerados na economia correspondente será de KEj.n.
De maneira análoga, é possível também calcular os coeficientes de renda direta a partir da linha "Valor Adicionado" da figura A.1:

CRD = (V1/X1 V2/X2 ...Vm/Xm) (5)

e, em seguida, os coeficientes de renda direta e indireta:

CRDI = CRD.L (6)


que tem como j-ésimo elemento a renda total da economia advinda da produção requerida para atender à demanda de uma
unidade do produto do setor j. Assim, dada uma demanda genérica D, a renda total Y obtida em sua produção pode ser calculada
por Y = CRDI.D. E, da mesma forma, os multiplicadores de renda são calculados por:

CRDIj
KRj = j = 1,2,...,m (7)
CRDj
Para efeito de simulações, os coeficientes definidos pelas expressões (2) e (3) nos permitem inferir quanto ao número de empregos
diretos e indiretos que seriam gerados pelo aumento do dispêndio agregado no setor j, mantidas as relações tecnológicas.
As equações (5) e (6), por sua vez, fornecem elementos para se estimar o total de renda que seria gerado por esse dispêndio
adicional. Já as relações (4) e (7) apenas revelam o poder de encadeamento dos m setores de atividade da economia: quanto
25
maior essa relação, maior a quantidade de empregados, ou de renda, que será gerada nos setores fornecedores de insumo para
um emprego, ou unidade de renda, que é gerada diretamente.

A.2. A matriz insumo-produto do IBGE


A matriz de insumo-produto brasileira gerada pelo IBGE para o ano de 2000 foi construída a partir das tabelas de produção e de
consumo intermediário das atividades econômicas, utilizando-se uma metodologia que permitiu agregar 80 diferentes produtos em
42 setores produtivos. Os dados primários foram coletados e resumidos em basicamente duas tabelas:
1 - a tabela de produção, correspondente a uma matriz V (42 x 80), em que Vij representa a quantidade do bem j produzido pelo
setor i no ano considerado;
2 - a tabela de consumo intermediário, correspondente a uma matriz Un (80 x 42), cujo elemento Unij representa a quantidade do
bem i consumido pelo setor j.
Nas matrizes brasileiras são adotadas as seguintes definições:
• qj = a produção total do bem j na economia no período de um ano, para j = 1, 2,..., 80;
• gj = a produção total do setor j, para j = 1, 2,...,42 (nos itens acima, foi utilizado Xj para denotar este mesmo valor);
• r = (1, 1, 1,...,1)t o vetor-coluna (42 x 1), tal que todos os seus elementos são iguais a 1;
• s = (1, 1, 1,...,1)t o vetor-coluna (80 x 1), tal que também todos os seus elementos são iguais a 1;
• qd = a matriz diagonal (80 x 80), tal que qdjj = qj, j =1, 2,..., 80;
• gd = a matriz diagonal (42 x 42), tal que gdjj = gj, j =1, 2,..., 42.
Observa-se que:
80 80
gi = ∑ Vij = ∑ Vij.1 i = 1,2,...,42 Isto é:
j=i j=i

g = Vs (1)

De maneira análoga,
42 42
qj = ∑ Vij = ∑ 1.Vij j = 1,2,...,80
i=j i=j

Esse sistema pode ser escrito na forma matricial como qt = rt V, ou ainda:

q = Vt r (2)

As operações feitas em (1) e em (2) mostram que multiplicar uma matriz por um vetor do tipo r ou s composto apenas por valores
unitários equivale a formar um vetor cujo i-ésimo elemento é igual à soma de todos os elementos da linha i da matriz. Por esta
razão, valem ainda os resultados:
q = (qd) se g = (gd) r (3)

São definidas ainda a matriz de market-share D como Dij = Vij / qj, i = 1, 2,...,42; j = 1, 2, ...,80; e a matriz de consumo nacional
26 B como, Bij = Unij / gj, i = 1, 2,...,80; j = 1, 2, ...,42, as quais podem ser escritas concisamente como:

D = V.qd-1 e B = Un.gd-1 (4)

Segundo essas definições, como Vij é a quantidade do bem j produzido pelo setor i, o número Dij fornece a fração do total do
bem j proveniente do setor i. E, ainda, como Unij é a quantidade do bem i produzido nacionalmente e consumido pelo setor j, Bij
representa a participação do consumo do produto i no dispêndio total gj do setor j.
Seja um vetor de demanda final por produto En (80 x 1). Conforme o modelo aberto:

q = Un.r + En
De (4) tem-se que Un = B.gd e V = D.qd. E daí:

q = (B.gd).r + En = B(gd.r) + En = Bg +En


Multiplicando-se ambos os lados desta equação por D, e trocando sua ordem, obtém-se DBg + D.En = Dq = D(qd.s), a qual
pode ser expressa da seguinte forma:
(D.qd).s = Vs = g (5)
A matriz A = DB (42 x 42) é a matriz de tecnologia do modelo aberto de insumo-produto. A matriz D de market-share é a ferramenta
de agregação das informações relativas a produtos em setores de atividades, tarefa necessária pelo fato de as matrizes V e Un
não serem quadradas. Por exemplo, o vetor Dn = D.En pode ser visto como o vetor de demanda por setor de atividades: o número
Dij Enj é uma estimativa para a quantidade do produto j que foi produzida pelo setor i e que se destinou à demanda final. Assim, a
demanda total por produtos provenientes do setor i deve ser dada por:
80
Dni = ∑ DijEnj
j=i

Pode-se, finalmente, reescrever (5) conforme o modelo aberto de Leontief, sendo aqui g o vetor de produção por setor:

g = (I – A)-1 Dn (6)

O IBGE também traz a matriz consumo por produtos importados, Um (80 x 42), a qual apresenta para cada atividade os valores
dos produtos importados consumidos. A matriz Bm, que mostra a relação entre a produção por atividade e o respectivo consumo
intermediário de produtos importados, é definida como:

Bm = Um.gd-1 (7)

A partir dessa matriz, calcula-se a matriz M de coeficientes de importação por produto:

M = Bm.L (8) 27

a qual, multiplicada pela demanda Dn, fornece a importação por produto realizada pela economia:

Imp = M.Dn (9)

isto é, Impj = a quantidade do produto j, j = 1, 2, ..., 80, importado pelo País durante o exercício.
Analogamente, há sete matrizes Tp de impostos que, para gerar coeficientes de impostos, recebem o mesmo tratamento dado
em (2.21), (2.22) e (2.23) para Um, a matriz de importados. Para os anos de 1990 a 1996, as matrizes Un e V foram disponibilizadas
pelo IBGE já prontas para a aplicação da metodologia acima descrita. Para os anos de 1997 a 2000, no lugar do consumo
intermediário nacional – matriz Un – se encontra dada a matriz U com consumo intermediário total, que corresponde à matriz Un
adicionada a todas as matrizes de impostos, mais a de importação, mais as de margem de comércio e de transporte. A fim de
estender a análise de insumo-produto para esses períodos, estimou-se a matriz Un, reproduzindo a relação entre Un(96) e U(96).
A expressão a seguir nos dá a fórmula empregada para essa adaptação.

Unij(96)
Unij = Uij(t),t = 1997,...,2000
Uj(96)
anexoestatístico
Tabela A.1. Coeficientes Tabela A.2. Coeficientes e multiplicadores
e multiplicadores de emprego, 2000* de renda, 2000*
CED CEDI KE CRD CRDI KR
Agropecuária 107 136 1,3 Agropecuária 537,20 800,72 1,5
Extrativa Mineral 20 36 1,8 Extrativa Mineral 351,64 745,01 2,1
Extração de Petróleo e Gás 1 8 5,3 Extração de Petróleo e Gás 784,44 935,78 1,2
Minerais não-Metálicos 18 34 1,9 Minerais não-Metálicos 383,39 762,32 2,0
Siderurgia 2 20 12,3 Siderurgia 245,65 755,24 3,1
Metalúrgia não-Ferrosos 3 17 6,2 Metalúrgia não-Ferrosos 210,02 678,61 3,2
Outros Metalúrgicos 21 36 1,7 Outros Metalúrgicos 297,98 768,74 2,6
Máquinas e Tratores 10 20 2,0 Máquinas e Tratores 581,43 843,11 1,5
Material Elétrico 6 22 3,4 Material Elétrico 221,60 671,78 3,0
Equipamentos Eletrônicos 6 16 2,6 Equipamentos Eletrônicos 385,85 633,28 1,6
Automóveis, Caminhões e Ônibus 3 17 6,5 Automóveis, Caminhões e Ônibus 255,32 658,88 2,6
Outros Veículos e Peças 7 24 3,2 Outros Veículos e Peças 295,74 751,66 2,5
Madeira e Mobiliário 47 83 1,8 Madeira e Mobiliário 387,92 770,94 2,0
Papel e Gráfica 11 28 2,6 Papel e Gráfica 349,79 755,28 2,2
Indústria da Borracha 4 20 4,6 Indústria da Borracha 257,77 556,30 2,2
Elementos Químicos 3 34 12,7 Elementos Químicos 451,62 812,31 1,8
Refino do Petróleo 0 0 11,9 Refino do Petróleo 26,75 49,92 1,9
28 Químicos Diversos 5 18 3,4 Químicos Diversos 255,91 541,88 2,1
Farmacêutica e Perfumaria 6 21 3,3 Farmacêutica e Perfumaria 415,65 679,48 1,6
Artigos de Plástico 16 22 1,4 Artigos de Plástico 304,36 472,89 1,6
Indústria Têxtil 10 40 3,8 Indústria Têxtil 185,38 568,97 3,1
Artigos do Vestuário 132 154 1,2 Artigos do Vestuário 370,81 711,37 1,9
Fabricação de Calçados 50 79 1,6 Fabricação de Calçados 327,19 697,71 2,1
Indústria do Café 6 86 14,6 Indústria do Café 259,55 836,17 3,2
Beneficiamento de Prod. Vegetais 12 82 6,7 Beneficiamento de Prod. Vegetais 235,65 749,55 3,2
Abate de Animais 8 103 12,8 Abate de Animais 128,25 775,99 6,1
Indústria de Laticínios 5 83 16,3 Indústria de Laticínios 200,17 793,29 4,0
Indústria de Açúcar 8 58 7,0 Indústria de Açúcar 290,14 801,83 2,8
Fabricação de Óleos Vegetais 2 74 38,8 Fabricação de Óleos Vegetais 163,36 744,54 4,6
Outros Produtos Alimentares 17 60 3,6 Outros Produtos Alimentares 270,32 740,58 2,7
Indústrias Diversas 24 42 1,8 Indústrias Diversas 388,95 756,72 1,9
S.I.U.P. 3 11 3,3 S.I.U.P. 541,20 841,04 1,6
Construção Civil 26 37 1,4 Construção Civil 561,54 781,04 1,4
Comércio 67 78 1,2 Comércio 479,17 731,86 1,5
Transportes 36 47 1,3 Transportes 357,75 570,86 1,6
Comunicações 5 11 2,3 Comunicações 791,77 915,29 1,2
Instituições Financeiras 9 23 2,6 Instituições Financeiras 657,84 926,80 1,4
Serv. Prest. às Famílias 95 112 1,2 Serv. Prest. às Famílias 515,55 760,11 1,5
Serv. Prest. às Empresas 44 54 1,2 Serv. Prest. às Empresas 642,81 882,57 1,4
Aluguel de Imóveis 2 4 1,7 Aluguel de Imóveis 952,46 988,54 1,0
Administração Pública 25 40 1,6 Administração Pública 706,25 905,82 1,3
Serv. Priv. não-Mercantis 449 452 1,0 Serv. Priv. não-Mercantis 918,68 970,47 1,1
*Os coeficientes CED, CEDI e CEDII são expressos em R$ por Os coeficientes CRD, CRDI e CRDII são expressos em R$ por
R$ 1.000,00 de demanda. R$ 1.000,00 de demanda.
Fonte: IBGE (2002). Cálculos próprios. Fonte: IBGE (2002). Cálculos próprios.

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