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Sciences Po 2010
! “O Brasil não é um pais subdesenvolvido e pobre mas um pais injusto. Minhas prioridades
de governo visam todas a buscar corrigir as desigualdades históricas que marcaram a formação
deste pais” disse o Presidente Fernando Henrique Cardoso em 1995 em Brasilia1.
Plano de trabalho
Problemática: De que forma se organizou a busca de uma estrutura agraria mais justa e
igualitária, e quais foram as suas manifestações e consequências face a uma repartição territorial
arcaica e desigual?
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! A Lei de Terras, estrutura agraria arcaica herdada dos tempos coloniais, constitui um dos
primeiros elementos de reivindicação e conflito no território brasileiro já que as relações de
produção no campo são marcadas pela concentração fundiária e pela dominação dos grandes
proprietários. Muitos são os historiadores que indicam que entre 1850 e 1940 se dá a primeira
fase de conflitos agrários no Brasil, usualmente qualificada como “fase messiânica”. Face à
declaração da independência e à desigualdade da repartição do território, reflexo da penetração
de modernidade no pais, muitos foram os brasileiros que ficaram abandonados ao seu próprio
destino e que procuram refugio nos movimentos extremistas ou na religião.
! A partir da década de 1930 e sobretudo da década de 1940, observa-se uma segunda fase
dos conflitos pela terra, não mais associada ao messianismo e bastante mais violentos. Se antes
falamos de desamparo das populações, nesta fase, elas estão mais organizadas, e sobretudo
com mais consciência de classe e dos seus objectivos. São então formadas as “lutas radicais
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localizadas”. Se no período messiânico, havia sobretudo esperanças, nesta fase, o povo reclama
realidades concretas. Nasce um novo movimento de contestação no mundo rural, influenciado em
parte pelo Partido Comunista do Brasil, fundado em 1922, que dará origem as ligas camponesas.
A principal contestação deste movimento é a reforma agraria, definida por João Pedro Stédile e
Douglas Estevam como “o conjunto de medidas que visem a promover melhor distribuição da
terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de
justiça social e ao aumento de produtividade.” Em outras palavras, este movimento social luta pela
distribuição dos latifúndios improdutivos pelos trabalhadores rurais sem terra.
3Extraido dos Anais do 3° Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais de 21 a 25 de maio de 1979,
Brasilia-D.F. CONTAG - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, pp 154-168
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! Eleito em 1995, Fernando Henrique Cardoso, FHC, foi confrontado com as pressões dos
movimentos sociais que defendiam o direito a terra, e nomeadamente com as acções do MST. O
momento mais importante marcado sem duvida pela marcha do MST até Brasilia no dia 17 de
abril de 1996. Rapidamente, o tema da terra entrou no seu programa político e FHC comprometeu
o seu governo a distribuir 280 000 títulos de propriedade em quatro anos, e efectivamente, a
4 Valores tirados do livro de Bartolomé Bennassar e Richard Marin, “Histoire du Brésil”, Fayard, 2000, Paris
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distribuição foi levada a cabo com sucesso. De acordo com o INCRA, mais de 348 000 famílias
beneficiaram de títulos entre 1995 e 1999. No entanto, e apesar de algumas melhorias a questão
da terra permaneceu um assunto inacabado dos dois governos aqui evocados.
! Luis Inácio Lula da Silva é o primeiro presidente eleito do Partido dos Trabalhadores, PT.
Fundado em 1980, o PT foi o partido que mais deu importância aos movimentos camponeses,
unindo-se inclusive ao MST. A vitorio de Lula representou portanto uma vaga de esperança em
todo o pais, e nomeadamente para os membros dos movimentos de contestação social. No
programa de um presidente eleito, estava pela primeira vez a promessa de uma verdadeira
reforma agraria. Os movimentos camponeses participaram pela primeira vez nas indicações de
nomes para cargos do governo e tiveram uma grande influência na nomeação de cargos no
INCRA e no ministério da Agricultura. No inicio do seu governo, o INCRA tentou construir um
projecto de reforma agraria, mas rapidamente este foi afastado do jogo político. Gilmar Mauro,
membro do MST, afirma “Lula não fez reforma agraria, mas somente política de assentamentos.
(...) Evidentemente, houve conquistas importantes da classe trabalhadora, mas não podemos
chamar isso de reforma agrária.” Quanto a presidente eleita Dilma Rousseff, numa entrevista do
dia 3 de novembro de 2010, a presidente afirmou que não compactuará com ilegalidades
nomeadamente no que diz respeito a invasões de propriedades privadas produtivas, mas que no
seu governo não irá tolerar “El Dorado dos Carajás 5” e que considera que a reforma agraria tem
de ser continuada.
CONCLUSÃO
! A terra no Brasil constitui um problema desde o momento da fundação do pais. Vitima de
uma divisão desigual desde as capitanias portuguesas, aos latifúndios do império, às grandes
fazendas do século XX, uma grande parte da população não tem acesso a terra e vive na miséria.
Muitos foram os movimentos de contestação desde o século XIX até aos dias de hoje e observou-
se uma institucionalização da luta. O papel da Igreja foi fundamental nos primeiros conflitos e no
apoio das primeiras reivindicações. Por outro lado, com o desenvolvimento do MST, um exemplo
de movimento contestatario, observou-se um aumento da importância do tema da terra na política
interna brasileira. A pressão destas reivindicações notou-se nas acções do governo de José
Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva. No entanto, nenhum dos
governos conseguiu desenvolver uma verdadeira reforma agraria e como disse Dilma na sua
entrevista no dia 3 de novembro de 2010, a luta continua. No entanto, segundo José Souza
Martins, a questão agraria acaba por ter consequências negativas no pais, já que divide o povo,
separa os partidos e afasta os brasileiros da construção de uma identidade nacional.
BIBLIOGRAFIA
EM ORDEM DE RELEVÂNCIA
BENNASSAR Bartolomé, MARIN Richard, “Histoire du Brésil 1500-2000”, Fayard, 2000, Paris
DE SOUZA MARTINS, José, Reforma agraria: o impossível dialogo, edUSP, 2000, São Paulo -
disponível em www.books.google.com.br
KOSHIBA Luiz, MANZI FRAYRE PEREIRA Denise, Historia do Brasil, Atual Editora, 7° edição,
São Paulo
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STÉDILE João Pedro, A questão agraria no Brasil: programas da reforma agraria, 1946-2003,
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ESTEVAM, Douglas, Mouvement des sans-terre du Brésil: une histoire séculaire de la lutte pour la
terre, La Découverte, Mouvements 2009/4 - N°60 pages 37 à 44
www.planalto.gov.br
www.contag.org.br